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Por: Museu da Pessoa,

A comandante de 200 homens

Esta história contém:

A comandante de 200 homens

Mulher das antigas era só pra casar, ter filho, cuidar da casa e marido... Era isso aí. Eu sou mãe, pescadora e dona de restaurante, Ah, também tenho uns netos! Não fui lapidada, criei-me bruto. Sou pra serviço bruto!

As histórias que a gente viveu que não têm mais hoje... Isso me dói até o coração, por isso que eu tô sempre cantando. Isso dá saudade: antigamente, a praia era muito discriminada, era só pra homem e a mulher não podia nem passar por cima de uma corda, principalmente se tivesse menstruada ou grávida, ela tinha que ficar em casa quietinha. A comunidade era muito, muito, muito unida. Tinha umas 20 casas, muito simples, um ajudando o outro. Uma mãe ganhava um nenê, a filha da vizinha já ia ajudar. A mãe não saía da cama, 15 dias, era só na cama recebendo caldinho de galinha e cuidado. A gente ia buscar lenha no mato pra cozinhar, lavava-se na cachoeira, que até hoje continua a cachoeira, porque a cachoeira é um tipo Diário da Manhã, Diário Catarinense. Ali cria-se toda a história do Pântano. Duas coisa que não podem morrer no Pântano: é a cachoeira e a pesca da tainha. Se acabar isso, o Pântano está morto.

Meu pai era pescador e a minha mãe era doméstica... Então aprendi muita coisa de pesca! Sei fazer rede, tarrafa, sei pescar. Eu ajudava muito meu pai a torcer boia, porque naquele tempo era corda de cipó. A gente ia no mato tirar cipó pra fazer as cordas, não tinha náilon, não tinha nada. Hoje é tudo cortiça de isopor, é tudo de ferro, é tudo náilon, mas isso tudo a gente ia buscar no mato. Era tudo artesão. Tudo, tudo, tudo artesanato. Do mar eu adoro, eu não adoro avião. Se me mandar pros Estados Unidos de navio eu vou, de avião eu num quero é pra canto nenhum. De navio eu vou até o fim do mundo. De avião, não.

Eu sou a comandante de 200 homens. Sou a única mulher. “Pega essa cortiça pra esse peixe num fugir, rapaz! Corta a rede, corta, abre, abre, abre essa rede, abre,...

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Dados de acervo

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P/1 – Então, vamos começar. Eu queria que a senhora dissesse o nome completo primeiro.

R – Zenaide Maria de Souza. Pântano do Sul. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil

P/1 – E a senhora nasceu quando?

R – Eu nasci dia 17 de novembro de 1944.

P/1 – Mas, conta a história do registro?

R – Mas como naquela época, ah, pra registrar, pra não pagar multa, tinha que você registrado no dia do nascimento. Naquela época não havia dinheiro e os pais, meus pais era pescador. Então eles atrasaram. Então eu tenho duas data de nascimento. No registro está 03 de dezembro de 44.

P/1 – Qual o nome dos seus pais?

R – Meus pai era Benja, Ma... Estevan Benjamim da Lapa e a mãe é Maria de Souza da Lapa. A minha mãe nasceu na Lagoa da Conceição e o meu pai aqui na, em Pântano do Sul.

P/1 – A senhora é aqui em Pântano do Sul mesmo?

R – Na hora de nascer, fui pro no colo da vovó. A mamãe era o primeiro filho, não tinha experiência, eu nasci na Lagoa, com uma semana eu vim pra cá. Meu irmão já nasceu aqui.

P/1 – Conta o que seus pais faziam.

R – Meu pai era pescador e a minha mãe era doméstica... Então eu aprendi muita coisa de pesca e gosto muito de pescar com ele, porque sei fazer rede, tarrafa, sei pescar, pesco tainha. São 200 homens e eu que sou a comandante de 200 homens. Sou a única mulher, tainha... O Pântano, porque, antigamente, a praia era muito discriminada, era só pra homem, mulher não podia vim na praia nem passar por cima de uma corda, principalmente se tivesse menstruada ou grávida, ela tinha que ficar em casa quietinha. Mulher das antigas era só pra casar, ter filho, cuidar da casa e marido... Era isso aí.

P/1 – Conta um pouquinho como era na sua casa.

R – A minha casa era, a metade era feita com tijolos e a metade era feita com estuque de bambu com barro. Eu gostava muito quando dava esse Leste que deu hoje, agora, no momento, porque o Leste derrubava todo o barro e ficava só as (gritinhas?)...

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