Era uma vez....
Lembro-me daquelas batidinhas do coraçãozinho ainda na minha barriga, ansiosa, contando os minutos, segundos, para ver seu rostinho. De repente fui adormecendo devagarzinho e logo depois sendo despertada por um chorinho manhoso. Senti uma emoção indescritível e todas as sensações de alegria, amor, realização que um ser humano pode ter, senti-me completa, parecia que só faltava a chegada daquele serzinho no mundo. Já imaginava seu quartinho todo decoradinho, suas roupinhas na gavetinha, tudo mágico, parecia que nunca havia passado por aquele momento, cada filho uma nova emoção, uma história, um presente divino!
Contava as horas para sair daquele hospital e levá-lo para seu cantinho mágico!
Um dia se passou e ele não veio, o desespero bateu, queria saber o que estava acontecendo e a enfermeira me disse que a médica falaria comigo no horário da visita, aquela noite parecia interminável!
Esperei ansiosa pela sua chegada logo pela manhã e nada. Alguns momentos depois a médica adentra pela porta e um nó se formou na minha garganta. Ela falou sobre minha recuperação, dos pontos, cirurgia ótima e que eu poderia já ter alta........
Queria saber era do meu filho.
Ela disse que ele não poderia ter alta junto comigo que precisava de mais um tempo naquela incubadora, com a bombinha a enfermeira ia coletar o leite para alimentá-lo. Ele estava com uma disfunção e que precisava de alguns cuidados para que não fosse preciso passar por uma transfusão sanguínea e não acarretasse outros problemas mais graves de anemia e prejudicar seu sistema nervoso. Entrei em desespero e disse não ir embora enquanto meu filho estivesse ali, não teve jeito, precisei deixá- lo. Senti-me impotente naquela hora, incapaz, a pior mãe do mundo, sensação de ter deixado meu filho sozinho naquele seu momento mais difícil. Orava por ele e tinha a certeza da sua recuperação. Como me doía, como um amor daqueles e um sentimento tão...
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Era uma vez....
Lembro-me daquelas batidinhas do coraçãozinho ainda na minha barriga, ansiosa, contando os minutos, segundos, para ver seu rostinho. De repente fui adormecendo devagarzinho e logo depois sendo despertada por um chorinho manhoso. Senti uma emoção indescritível e todas as sensações de alegria, amor, realização que um ser humano pode ter, senti-me completa, parecia que só faltava a chegada daquele serzinho no mundo. Já imaginava seu quartinho todo decoradinho, suas roupinhas na gavetinha, tudo mágico, parecia que nunca havia passado por aquele momento, cada filho uma nova emoção, uma história, um presente divino!
Contava as horas para sair daquele hospital e levá-lo para seu cantinho mágico!
Um dia se passou e ele não veio, o desespero bateu, queria saber o que estava acontecendo e a enfermeira me disse que a médica falaria comigo no horário da visita, aquela noite parecia interminável!
Esperei ansiosa pela sua chegada logo pela manhã e nada. Alguns momentos depois a médica adentra pela porta e um nó se formou na minha garganta. Ela falou sobre minha recuperação, dos pontos, cirurgia ótima e que eu poderia já ter alta........
Queria saber era do meu filho.
Ela disse que ele não poderia ter alta junto comigo que precisava de mais um tempo naquela incubadora, com a bombinha a enfermeira ia coletar o leite para alimentá-lo. Ele estava com uma disfunção e que precisava de alguns cuidados para que não fosse preciso passar por uma transfusão sanguínea e não acarretasse outros problemas mais graves de anemia e prejudicar seu sistema nervoso. Entrei em desespero e disse não ir embora enquanto meu filho estivesse ali, não teve jeito, precisei deixá- lo. Senti-me impotente naquela hora, incapaz, a pior mãe do mundo, sensação de ter deixado meu filho sozinho naquele seu momento mais difícil. Orava por ele e tinha a certeza da sua recuperação. Como me doía, como um amor daqueles e um sentimento tão grande por aquela criança que tinha acabado de vir ao mundo. Amor que vinha da alma, eterno!
Não tem explicação: O relacionamento simbiótico entre uma criança e seus pais é algo diferente de tudo.
Até que o dia mais esperado havia chegado......
Meu filho com alta do hospital pôde sentir seu quartinho e sua família toda em sua volta emocionados com sua chegada, sua irmãzinha querendo pegar no colo e encher de beijinho, do jeitinho dela.... rsrs
Os anos foram passando e aquele bebezinho virou um menino, adolescente e não sei por que e não conseguia entender, que algo diferente tinha naquela criança. Era um jovem igual a todos os outros, fazia arte, respondia me tirava do sério algumas vezes, mas ele parecia ter pressa em viver, era um autodidata e tudo que aprendia gostava de ensinar aqueles que não tinham condições de pagar por um curso, sempre procurando ser voluntário em alguma ONG ou projeto social, amava ajudar o próximo. Certa vez tive uma sensação muito estranha quando olhei para ele. Lembrei-me de uma igrejinha muito humilde que fui convidada a visitar no município de Mendes. Lá uma senhorinha muito humilde pediu para orar por mim. Com certeza imediatamente aceitei e ela me disse que aquela criança que estava no meu ventre tinha uma missão muito especial aqui na terra e que era um escolhido de Deus. Nossa, depois de tantos anos, quando o olhei ali no quarto da minha casa dando aula para aquelas crianças, me veio à tona aquela revelação daquela senhorinha.
O tempo passando e eu trabalhando duramente para cuidar também dos meus avós adoentados por quem fui criada. Minha filha estudando, o Léo todo feliz que havia conseguido seu primeiro emprego no Mac Donalds ( como a maioria dos jovens que conseguem seu primeiro emprego no Mac Donalds), sempre premiado como melhor atendente, quadrinho na parede e os prêmios, tudo era mágico.
Certo dia, lembro-me que havia saído bem cedo e ao chegar em casa me deparei com o Léo, claro, ele mesmo, aproveitando a sua folga, o encontrei na cozinha. A mesa cheia de quentinhas, e ele com toquinha na cabeça sentindo um “super chef”. Perguntei o que estava acontecendo, a resposta foi imediata: Tive a grande ideia de fazer para os moradores de rua e eu mesmo vou fazer e entregar nas minhas folgas. E a pergunta também veio de imediato e claro já estimulando minha resposta positiva. Não achou fantástica a ideia, mãe?
Tentei mostrar a ele nossas dificuldades naquele período, que já levava as pessoas lá para casa para dar reforço nos estudos e voluntariava em uma ONG e me respondeu: Mãe, todos nós viemos ao mundo para uma missão: ajudar, amar, compartilhar. Arrastei o meu olhar até o chão e senti-me a pessoa mais insensível do mundo. Ele se aproxima de mim, pega em minhas mãos e diz: Tudo isso aprendi com você! Passou na minha mente um filme rápido daquilo que ensinava aos meus filhos desde pequeninos: a importância de ser solidário, bondoso, amigo, compartilhar, ser empático.... Nossa! Meu coração encheu-se de alegria e nele a esperança de um mundo melhor.
Os dias se passaram e tínhamos muitos compromissos, eu na escola onde coordenava e também na secretaria da prefeitura em que também trabalhava. O Léo na correria na faculdade, no trabalho onde era gerente de um posto de gasolina. A preocupação em relação aos assaltos frequentes no posto não conseguia tirar dele o desejo de montar uma instituição filantrópica com o objetivo de desenvolver ações assistenciais e sociais nas áreas da saúde, educação, esporte, cultura etc..
Muitas coisas já eram realizadas, mas a formalização, a documentação precisava existir isso na cabecinha dele para que conseguíssemos chegar a tudo aquilo que sempre desejou.
Não imaginaria que lá na frente às coisas já estariam traçadas e lembrei-me do que havia lido há um tempo: A vida é um ciclo e esse ciclo gira sem parar..... não adianta entender os motivos da vida, isso é um mistério e cabe somente a Deus entendê—los.... não tem como explicar que realmente a vida tem suas surpresas e mistérios....
Não sei o porquê, mas perdi o sono naquela noite, algo me incomodava, vinha em meus pensamentos de que para entender a vida, talvez fosse preciso entender primeiro a nossa missão e como realizá-la. E mesmo que as repostas não chegassem, precisaríamos nos esforçar ao máximo para entender tudo isso e aceitar que o acaso é mera consequência dos caminhos da vida.
Os trabalhos e as ações não paravam......
No dia 27 de junho de 2013, meu filho me liga radiante e cheio de alegria. Havia já conversado com a avó sobre uma casa que se mantinha fechada por algum tempo e que poderia ser a sede da tão sonhada instituição. Tudo acertado, Leonardo correu, comprou alguns móveis, movimentamos algumas doações e a alegria tomava conta de todos nós.
O pensamento estava na festividade de inauguração.
Duas semanas depois o Léo e liga e diz: Mãe, daqui a alguns dias você terá que sair da escola onde trabalha para se dedicar de vez aos projetos da instituição, será a presidente e responsável por tudo. Naquele momento senti um arrepio que nunca havia sentido, medo, pânico, na verdade não saberia explicar. Só achava mesmo que meu filho era muito doido (risos..)
Ah, se eu conseguisse decifrar aquele arrepio naquele dia, ia pedir a Deus em oração para que o tempo parasse ali. Mas na verdade a vida não para e que cada um tem seu tempo e hora. Quando cumprimos nossa missão não tem jeito...temos que seguir caminho...
Só fui entender mesmo no dia 27 de julho de 2013
Dia 27 de julho de 2013 (sábado), exatamente naquela madrugada de sexta-feira para sábado fui despertada com uma dor tão forte no peito, a dor era tão violenta que parecia estavam abrindo meu peito à faca e arrancando o meu coração a unha. Dor que nunca saberei decifrar, pior dor da minha vida!
Senti angústia, dor, desespero, o coração sangrava de tanto que doía. Lembro-me tamanho era o desespero que desliguei o celular, meus sentimentos já me alertavam para uma notícia terrível e eu fugia dela. Pensei que tudo poderia ser coisa da minha cabeça, pesadelo e imediatamente liguei o telefone.
Mas o medo e pânico continuavam invadindo meu peito.
O telefone tocou e as mãos trêmulas não me deixavam segurar direito. Queria saber o que estava acontecendo comigo.
Um alô tão distante, notícia tão horrível, não queria ouvir, não queria saber. Só podia ser trote, maldade de alguém comigo. Não estava acontecendo! Meu filho, meu amado filho tinha morrido, vitima da maldade humana, ser humano cruel, que tira a vida do próximo para roubar e insatisfeito ainda tira a sua vida e destrói a de todos que ficam. Meu Deus e agora o que será daqui pra frente, sem aquele sorriso, carisma, bondade. Ai que falta! Que dor (Dor que não tem nome).
Recomeçar..........
Ressignificando a morte de um filho.
Cheguei a pensar em morte, entrega que valor tinha minha vida?
Eu mesma respondia: Nenhum valor
Perguntava-me: Pra que continuar vivendo com uma dor tão violenta que só aumenta a cada instante e não cabe mais no peito?
Estou a ponto de explodir! E era isso que queria mesmo, que explodisse, acabasse logo tudo.
Comecei a procurar entender mais sobre a vida, para assim entender a morte.
Quando se perde um ente querido, tudo fica confuso e sem perspectivas. A relação com a vida sofre um abalo e é daí que é preciso dar um novo significado a vida, uma nova configuração..
Uma semana depois...
Tive vontade de subir um monte bem alto e ali passar dias e dias....
A voz dele soava baixinho em meus ouvidos: Estou aqui, quero-te ver sorrindo, feliz.
Levanta daí, muitas pessoas precisarão de ti e ouvir sua história, seu testemunho de vida. As pessoas estão sofrendo suas dores, suas perdas, seus desempregos, estão tirando suas vidas, ansiosas demais, depressivas. Vá lá! Eu completei o meu ciclo e como havia dito você daria continuidade a essa história.
Minha fé salvou a minha vida
Naquela noite senti que Deus renovava as minhas forças, e naquele momento entendi que realmente precisava dar um novo significado a minha vida. Doei-me de corpo e alma a instituição e ao trabalho social. Tudo já estava preparado.
Quantas pessoas especiais passaram por ali e deixaram sua marca, voluntários dedicados, outros continuam marcando sua história conosco, como nosso querido amigo Psicanalista Anderson Pereira, Cisa da Matta, grande colaboradora, Elisabete Policarpo (Terapeuta), Rosangela Oliveira( artesã), Roger Flex ( DJ), Daniel, Jeferson Conceição, Paulo Vianna (Comunicador), Fernando (músico), Lúcia, Willians Tinocco, Demétrio, Super Rádio Tupi (1.340), Edson Oliveira, Jesuino Dias, Jose Carlos Rocha Comunicador, entre outros...
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