O meu nome completo é Leondras José de Moura, eu nasci em Minas Gerais em Caratinga no dia 07 de março de 1958. Aliás, o Brasil só foi campeão depois que eu nasci. Eu moro na rua Gomes Lopes, nº 84, casa 2. Chegada ao Rio Nós viemos para o Rio de Janeiro no ano de 66 na chuva, chegamos em janeiro na época da chuva. E da famosa enchente que aconteceu na cidade. Tinha muitas dificuldades na época que a gente chegou, muita gente estava em colégios, em abrigos. Viemos numa época difícil, mais por necessidade. Meu pai veio antes, a gente ficou lá; aí minha mãe resolveu vir atrás e a gente veio com a cara e com a coragem. O Rio de Janeiro me lembrava assim, uma coisa... porque onde eu morava quase não passava carro, luz elétrica era muito difícil e logo que eu cheguei no Rio de Janeiro eu vi aquilo tudo claro, um carro pra lá, um carro pra cá, já foi uma impressão assim brutal. Morro dos Prazeres Chegada no morro Chegamos aqui no Morro dos Prazeres e no Escondidinho porque sempre teve gente de Minas morando lá. Era o Pedro Ribeiro que é um dos mais antigos, e que hoje não mora mais aqui; o Zé Mineiro que é vendeiro também aqui, igual o Pedro Ribeiro, mas já morreu também. A gente chegou a procura deles e fomos acolhidos aqui pelos outros mineiros. Aqui no Morro dos Prazeres era mato puro eu lembrei lá da roça, porque quando eu cheguei aqui era tudo mato, era uma trilhazinha de mato pra sair ali da barreira, dali debaixo da matinha. Pra sair ali da rua Mamelópis até aqui na rua Alexandrino era uma trilha de mato, e muita gente foi assaltada ali naquela época, porque os assaltantes se escondiam atrás nos capins e ficavam esperando o pessoal passar. Muitas histórias inclusive a de uma pessoa que não era mineiro, o seu Antônio Hoje e Amanhã que era daquela época. Ele foi uma das pessoas que teve uma briga com assaltantes nessa trilha de mato. Ele tinha uma tendinha, foi buscar pão de madrugada e os caras foram...
Continuar leituraO meu nome completo é Leondras José de Moura, eu nasci em Minas Gerais em Caratinga no dia 07 de março de 1958. Aliás, o Brasil só foi campeão depois que eu nasci. Eu moro na rua Gomes Lopes, nº 84, casa 2. Chegada ao Rio Nós viemos para o Rio de Janeiro no ano de 66 na chuva, chegamos em janeiro na época da chuva. E da famosa enchente que aconteceu na cidade. Tinha muitas dificuldades na época que a gente chegou, muita gente estava em colégios, em abrigos. Viemos numa época difícil, mais por necessidade. Meu pai veio antes, a gente ficou lá; aí minha mãe resolveu vir atrás e a gente veio com a cara e com a coragem. O Rio de Janeiro me lembrava assim, uma coisa... porque onde eu morava quase não passava carro, luz elétrica era muito difícil e logo que eu cheguei no Rio de Janeiro eu vi aquilo tudo claro, um carro pra lá, um carro pra cá, já foi uma impressão assim brutal. Morro dos Prazeres Chegada no morro Chegamos aqui no Morro dos Prazeres e no Escondidinho porque sempre teve gente de Minas morando lá. Era o Pedro Ribeiro que é um dos mais antigos, e que hoje não mora mais aqui; o Zé Mineiro que é vendeiro também aqui, igual o Pedro Ribeiro, mas já morreu também. A gente chegou a procura deles e fomos acolhidos aqui pelos outros mineiros. Aqui no Morro dos Prazeres era mato puro eu lembrei lá da roça, porque quando eu cheguei aqui era tudo mato, era uma trilhazinha de mato pra sair ali da barreira, dali debaixo da matinha. Pra sair ali da rua Mamelópis até aqui na rua Alexandrino era uma trilha de mato, e muita gente foi assaltada ali naquela época, porque os assaltantes se escondiam atrás nos capins e ficavam esperando o pessoal passar. Muitas histórias inclusive a de uma pessoa que não era mineiro, o seu Antônio Hoje e Amanhã que era daquela época. Ele foi uma das pessoas que teve uma briga com assaltantes nessa trilha de mato. Ele tinha uma tendinha, foi buscar pão de madrugada e os caras foram assaltar. Ele teve uma briga, e eu acho que ele esfaqueou um e baleou outro. O nome dele era Antônio e o apelido “Hoje e Amanhã” Casas do Morro Casas assim de alvenaria, de tijolos eram raríssimas. Quem tinha casa de tijolos aqui morava em palacete. As casas geralmente eram de tábua, e um pouquinho melhorado de estuque. Os telhados de zinco, alguns Brasilit e os de tijolos dificilmente você encontrava. Era quase impossível você encontrar uma casa embolsada. Infância no morro A minha infância aqui foi muito boa, eu brinquei muito. Eu tenho até pena das crianças de hoje porque elas não brincam como eu brinquei. Eu brinquei inclusive até os 16 de idade. Eu levava a namorada em casa e voltava pra brincar de pique bandeira à noite, no dia de domingo e sábado. A gente brincava muito lá em cima e aqui embaixo. Na minha infância eu estudei no colégio São Francisco de Assis que era um colégio particular da igreja católica, lá no Rio Comprido, mas eu fui atropelado e minha mãe me botou pra cá. Eu vim estudar aqui no Julia Lopes de Almeida e a gente brincava na escola e brincava aqui. As brincadeiras eram brincadeiras sadias, pipa e bola de gude como sempre teve, mas pique muitas coisas, mamar na burra, carniça, muitas brincadeiras... Mamar na burra era um tipo de brincadeira que botava a pessoa abaixada e tapava os olhos do menino que era o chefe. Eu geralmente era o chefe porque eu só brincava sendo o chefe. Tapava os olhos e os outros se escondiam e ele ia procurar. O primeiro que ele achasse, ele tinha que ir ali como se fosse bater ponto. Ele vinha batia o ponto ali e aquele menino passava a ser agora o que ia ficar mamar na burra. Só que na hora que a gente tapava os olhos, a gente cantava a musica: mamar na burra, na catiburra, piriquita um, dois, três. Mas aí batia nas costas e ninguém queria ser se não doía. Carnaval no Morro dos Prazeres Nós fundamos um bloco e eu fui um dos fundadores. Quando fundamos o bloco, eu tinha 20 anos, então são 24 anos atrás porque eu estou com 44. Nós fundamos o bloco juntamente com o Guido que foi o primeiro Presidente, o irmão Luiz Carlos que foi o primeiro Presidente da ala dos compositores que já não está entre nós, o Brinja, o Getulio. Aquele pessoal que pegou de frente.Constituímos esse bloco porque nós tínhamos outro bloco lá embaixo, o Independente da Barão que depois passou a ser Unidos da Rio Comprido. Ele ficava lá no fim da rua do Escondidinho, e o pessoal daqui pra ir pro bloco tinha que descer pra lá. Então havia sempre a idéia, a vontade de fazer um bloco aqui em cima, pra que não ter que descer lá pra beira da rua. Já tinha tido um bloco aqui que chamavam de bloco de Embalo, mas não tinha vingado porque não tinha consistência. O bloco que nós fundamos pegou por causa daquela força jovem, daquele pessoal jovem: eu, por exemplo, era bem jovem, E a maioria era bem jovem também. O bloco foi um sucesso. Teve sete anos de existência, tinha as cores azul e branco, e eu ganhei quatro sambas. Tinha uma Federação de blocos do Estado do Rio de Janeiro e o nosso bloco era registrado, tudo direitinho. Seu Mário era o Presidente lá da Federação. Tinha um nome, eu não me lembro agora qual era, a verba que era dada pro bloco, pro bloco inteirar nas suas. Igual ao que dão pras escolas aí: o Estado, a Prefeitura dão uma grana pra escola montar o seu trabalho. Então o bloco tinha isso também da Federação. A gente escrevia as pessoas, o pessoal colocava as alas, se formavam as alas e aí tinha o dia dos desfiles no lugar marcado. Conforme ia ganhando entrava no ultimo grupo e conforme ia ganhando ia descendo, e só subia o primeiro e o segundo. No nosso primeiro ano nós já subimos. A gente ficou em segundo lugar e perdeu pro bloco Dragão de Nilópolis que chegou a ser escola. A gente ensaiava aqui nessa quadra, porque naquele tempo não tinha essa mordomia de uma quadra bonita. Era ao ar livre, chão mesmo de terra. Depois a gente juntou, uniu as forças pra fazer um piso de cimento, pra não levantar tanta poeira porque o pessoal voltava com a roupa impregnada de poeira de tanto dançar e sambar. Aí levamos lá pra dentro da ASSAMP e quando levava pra dentro da ASSAMP o povo não cabia porque era muito grande o povo e pequeno o espaço ali da Associação. A comunidade participava totalmente. Todo mundo descia. Se preparava, descia pra quadra, e fazia aquela bagunça. Quando fundou a primeira ala de compositores eu fiz parte. Eu tinha um compadre o Albertino, que era compositor da Vila Isabel, e ele me chamou pra ir pra lá. Tinha outro amigo nosso que era o Paulo César e ele era da Unidos da Tijuca. O Paulo César queria que eu fosse pra Unidos da Tijuca e o Albertino queria que eu fosse pra Vila Isabel. Eu fui pra Unidos da Tijuca fiquei um ano, depois fui pra Vila Isabel. Como a Unidos da Tijuca era bem menor que a Vila eu preferi ir pra Vila. A Vila era no América tinha o Martinho, aparecia mais, e o interesse de um artista quando está começando, é aparecer, é botar o nome dele na história, Por isso eu fui pra Vila Isabel. Nós ganhamos o samba enredo, mas eu não pude participar com o nome no samba porque eu não era compositor filiado da ala da escola.Não pude entrar no disco, mas o samba era meu também, meu e do Albertino, de parceria. O tempo que eu vivi aqui no Morro dos Prazeres, graças a Deus sempre tive amizade, o pessoal aqui sempre me deu muita força, nesse tempo que eu fui pra Vila inclusive nós ganhamos esse samba porque essa comunidade aqui foi essencial. O Presidente já falecido o Valdeci, Doutor Valdeci disse: “Olha, se vocês botarem um povo legal de torcida, vocês vão ganhar esse samba.” A gente colocou, essa comunidade todinha desceu, a gente andava dentro da Vila, a gente praticamente não via ninguém do Morro do Macaco lá, só do Morro dos Prazeres, tomando de assalto.Quando o Macaco chegou não tinha espaço pra ele, a gente já tava lá e aí ganhamos o samba. Meus apelidos Eu chamo de pseudônimo, mas são nomes artísticos. O meu primeiro pseudônimo foi Léo da Vila.Eu comecei a cantar lá na Vila Isabel e eles aí me colocaram o nome de Léo da Vila, falaram: “ah, você é o Léo, então vai ficar Léo da Vila”, então ficou Léo da Vila Como eu comecei a gravar no meio do ano, comecei a ser parceiro do Agepe, então eu queria tirar o nome “Vila”, e aí eu botei Léo Vinícius. Eu cheguei a usar uma vez que eu gravei , Prazeres no meu nome, eu botei Léo dos Prazeres. Tinha lá, naquela época do negócio do bloco o Heitor dos Prazeres que foi um dos fundadores da Portela. O Heitor dos Prazeres não tinha nada haver com o Morro dos Prazeres, inclusive nós tínhamos no bloco também um que se chamava Heitor que morava aqui e foi Presidente da Associação.Em um samba eu botei Léo dos Prazeres e quase que eu fico com esse nome. Prazeres é um nome maravilhoso, eu acho. Eu usei Léo Moura até que um dia eu me converti e passei a ser Léo de Jesus que não foi dado por mim. Quem deu foi apelido foi um grande compositor da musica brasileira que é o Paulinho Rezende, compositor do Meu Surdo, Vem de Lagrimas, de muito sucesso. Não dá pra falar nem um terço do sucesso dele aqui. Então o Paulinho Rezende quando eu cheguei na SICAM, ele falou: “Eu estou sabendo que agora você se converteu” - - porque a sogra dele é crente, então ele sabe também o que é - eu falei: “Eu me converti.” “Então você agora não é mais Léo da Vila agora é Léo de Jesus.” Eu falei; “Pode anotar aí agora que eu sou Léo de Jesus.” Pegou e deu sorte. Eu estou com quatro CDs gravados e dois vinis que vão transformar em CD e o próximo agora já está gravado, e falta só fabricar. Meus sambas Eu fui o primeiro compositor aqui desse morro a gravar. O primeiro compositor do Morro dos Prazeres que teve musica gravada e tocando no radio fui eu. Eu sou patrimônio histórico aqui dessa terra. Não é com orgulho que eu falo, mas é com prazer, porque eu sou do Morro dos Prazeres. Meu primeiro samba foi um enredo sobre a Portela, sobre a jaqueira da Portela, o lugar onde foi fundada a Portela. “O começo do samba: “viemos relembrar nessa passarela a famosa jaqueira da nossa querida Portela. Nas noitadas de sambas cuíca e cavaquinho, formava um lindo pagode com pandeiro e tamborim.” Só me lembro desse pedacinho. Aqui nos Prazeres também tinha uma jaqueira, mas a história da jaqueira era realmente da Portela. Quando desfilou lá o pessoal chamou de Portelinha, porque botou uma arvore na frente e o símbolo da águia da escola. Mas aqui o Morro dos Prazeres pra mim sempre foi um lugar de muita inspiração, eu compus muitas musicas, às vezes quando eu queria ficar sozinho eu ia lá pro campinho ficava longe, sentava lá no meio do mato daquela grama, ficava olhando a cidade. Às vezes eu vinha pra colina e ficava assistindo o Corcovado, a zona sul, olhando lá de cima. Sempre dava inspiração, e eu sempre descia com alguma coisa escrita. Isso sem falar o que a gente fazia aqui no morro, os sambas de quadra.Teve uma musica que a gente fez aqui eu e o Davi do Bonde, sobre o Morro que a gente começava na colina e chegava lá embaixo, só que eu não lembro a letra. A gente falava o nome dos lugares, a gente falava que a gente subia, passava na matinha e ia até a colina, passava no Morro dos paraíbas e voltava até o Escondidinho chegava até lá na quadra do bloco Unidos do Rio Comprido. Eu sei que a gente começava assim: “saí da matinha passei pela linha, subi na colina e resolvi descer, passei pelo beco, passei pela escada.” Era um negócio mais ou menos assim, mas eu não lembro mesmo. O Morro para mim Tenho muitas amizades aqui no Morro dos Prazeres, e não tenho nem como contar porque eu vou até esquecer. Se eu falar nomes aqui eu esqueço de alguém e se eu esquecer de alguém pode reclamar depois. O Morro dos Prazeres pra mim significa muito.Se não tivesse o Morro dos Prazeres eu acho que não teria tido infância, não teria tido juventude, até a minha trajetória evangélica também dependeu do Morro dos Prazeres. Consegui tudo que eu tenho na minha vida de história, de caminhada, de amizade aqui no Morro dos Prazeres,. Até os artistas que eram meus amigos na época antes de eu me converter eles, faziam questão de vir aqui no Morro pra conhecer o Morro dos Prazeres, o Agepe as vezes eu dava uma canseira nele aqui, porque o Agepe já tava gordinho, já tava com 50, mas eu trazia ele pra cá. Ele dizia: “ah, rapaz não agüento mais não, to cansado.” Mas ele queria andar, o Agepe era muito elétrico não agüentava mais, mas queria andar. Ele falava: “rapaz esse morro aqui é muito bom”, porque na época o pessoal que tava aí, era tudo do nosso tempo, conhecido. Então tinha aquela liberdade total no meio, e o pessoal que vinha gostava muito. Era muito bem recebido. Não tenho como tirar o Morro dos Prazeres da minha vida. Casarão do Morro dos Prazeres Tive uma surpresa. Eu ainda não tinha visto o Casarão, só ouvi falar. A minha esposa me falou; “Você precisa ver como está bonito.” Eu não tinha vindo aqui, porque eu sou muito ocupado, eu viajo muito.Por um acaso eu estou aqui hoje num domingo, mas é muito difícil. Eu estaria em Campos, mas houve um desencontro na agenda e hoje eu estou aqui. Quando eu vi o Casarão tomei um susto porque ficou muito bonito, e eu até comentei o seguinte com a moça ali que estava preenchendo a ficha: “Santa Tereza sempre teve um Centro Cultural e a gente ia lá, participava, fazia coisa lá, mas só que o nosso Centro Cultural aqui dos Prazeres arrebentou o Centro Cultural de Santa Tereza. É muito lindo”. O Casarão no tempo de criança a gente tinha até medo. Naquele tempo era Casa dos Padres, aqueles homens de batina... Tinha até história de assombração, que aparecia um padre de 3 metros de altura. Mas isso era coisa de criança e a gente tinha até um pouco de medo de passar por aqui. Inclusive teve uma época que morreu um bandido aqui na frente do Casarão, que a policia matou. Aí ficava mais difícil pra gente passar aqui. Mesmo assim a gente passava só de dia porque de noite a criançada fugia daqui. Era um negocio tenebroso, meio sinistro. Projeto. Eu achei fantástico esse projeto, jamais eu poderia esperar que o Morro dos Prazeres tivesse um projeto assim um museu de histórias dele, guardasse uma lembrança do passado, de pessoas que começaram isso aqui, quando isso era mato puro. Jamais eu poderia imaginar. Então eu acho fantástico esse projeto, vocês estão de parabéns.
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