Identificação/Família Qual é seu nome, local e data de nascimento? Robson Carlos da Silva, Teresina/PI, 26/11/1964 Quais os nomes dos pais? Raimundo Dídio da Silva e Antonieta Alves dos Santos e Silva O que os seus pais faziam? Funcionário Público Federal (INCRA) e Costureira Como você descr...Continuar leitura
Identificação/Família Qual é seu nome, local e data de nascimento? Robson Carlos da Silva, Teresina/PI, 26/11/1964 Quais os nomes dos pais? Raimundo Dídio da Silva e Antonieta Alves dos Santos e Silva O que os seus pais faziam? Funcionário Público Federal (INCRA) e Costureira Como você descreveria seu pai e sua mãe? Pessoas medianas, de classe média, trabalhadoras e empenhadas na criação dos filhos. Havia, em ambos, uma preocupação central com nossa educação escolar e formação moral. Meu pai era bastante boêmio, gostava de farras e encontros com os amigos para jogar baralho, comer e beber em casa mesmo. Chegou a fundar, com amigos, uma Escola de Samba, Unidos da Palmeirinha, nos anos de 1970, desfilando no carnaval de Teresina até por volta de 1977. Minha mãe sempre foi a dona de casa conforme os padrões da época, ou seja, aquela que cuidava da casa, fazia a comida e cuidado de nós, enquanto nosso pai ia ao trabalho. Ele teve formação até o Ensino Médio, com curso técnico em Contabilidade e ela estudou somente até o ginasial, porém conseguiu formar todos os filhos. Ele, falecido, e ela formavam uma típica família de classe media teresinense, sempre alugando morando de aluguel, vindo adquirir uma casa somente no inicio da década de 1980. Onde minha mão, viúva, avive hoje. - Quais eram os principais costumes da sua família? Tomar café, almoçar e jantar juntos, todos da família; assistir TV; nas férias escolares íamos para Monsenhor Gil, cidade natal de minha mãe, no interior do Piauí; tinha o costume da Escola de Samba, em que minha mãe era costureira e meu pai Diretor, então todos se envolviam; no São João, sempre era feita uma grande fogueira na calçada da frente da casa, soltávamos bombas e comíamos comidas típicas, principalmente milho assado; Natal, montávamos a árvore, sempre, e acordávamos com os presentes embaixo das redes e camas; basicamente era isso. - Você gostava de ouvir histórias? Quem te contava? Sim. Várias pessoas de nossa família, meus avós, meus tios, pais, meu irmão mais velho, pessoas que moravam conosco, dentre outros - Você sabe a origem da sua da família? Minha avó materna era de Monsenhor Gil e meu Avô vaqueiros e roceiro; meu avô paterno General reformado e meinha avó paterna era descendente de povos indígenas. Minha mãe nasceu e foi criada no interior, vindo morar, estudar e trabalhar em Teresina, meu paia nasceu em Teresina, se conheceram e se casaram; Meus avós paternos, também, se conheceram e se casaram em Teresina.
- Você tem irmãos? Quantos sãos? Sim. Três, todos homens
Infância - Você lembra da casa onde passou sua infância? Como era?
Sim. Casa de meus avós paternos, onde morava, mas sempre ia à casa de meus avós maternos, em Monsenhor
Gil. De Teresina, era um casa muito grande, com quintais enormes, vários quartos, cozinha, sala de jantar, sala de estar, jardim na entrada da casa, corredores interno e externo. Brincávamos muito no quintal de bola e triângulo, tinha muitos bichos de estimação, gatos, cachorros, papagaio, gato maracajá, passarinhos, jabutis. Em Monsenhor Gil era maior ainda, com quintais a perder de vista, riachos, a casa enorme e ampla, com várias redes espalhadas, forno de barro, era, feitos muitos leilões e minha avó fazia muitos bolos e comidas típicas, andávamos muito para apanhar pequi, guabiraba e outras frutas. Foi bastante marcante e rico em experiências. - E o bairro e a cidade? Morávamos no centro de Teresina. A cidade era pequena e muito calma. Nosso bairro, Palmeirinha, ficava bem próximo de tudo, pois a cidade, basicamente cresceu para o centro. Era um bairro calmo e tranquilo, todos se conheciam, se encontravam e se cumprimentavam, se visitavam sempre, se vivia em verdadeira comunidade. - Quais eram as suas brincadeiras favoritas? Você tinha muitos amigos? Bola, triângulo, brincadeiras de esconde-esconde, carros de rolimã, mas predominavam brincadeiras de correr, fugir, estas coisas. Tinha muito amigos, de rua e da escola. - O que você queria ser quando crescesse? Nada especificamente. Não me recordo de ter este sonho - O que você mais gostava de fazer quando era criança? Ir para Monsenhor Gil, para banhar nos riachos e jogar bola.
Educação - Qual a primeira lembrança que você tem da escola? Um lugar muito legal, pois entrei no Jardim da Infância e era muito divertido. Depois, já no primário era outro universo cheio de desafios e coisas interessantes. De modo geral, pensar na escola, me traz muitas lembranças boas e gratificantes, era um universo de sonhos e descobertas. Havia muito tempo e espaço para brincadeiras e a prática de esportes, havia muitos passeios, plantávamos, experienciávamos muitas coisas marcantes. - Você teve algum professor que te marcou? Vários e várias. Os que mais me marcaram foram os de Educação Física, pois eu gostava muito de esportes e tínhamos na década de 1970 muito esporte na escola. A Educação Física era importante e valorizada - Como você ia para a escola? Sempre a pé, pois sempre morava perto de nossas escolas. No começo, quando bem pequeno, minha mãe me levava, depois, já um pouco maior íamos a sós, os irmãos, pois sempre estudamos nas mesmas escolas.
Juventude - Qual foi o seu primeiro namoro? Já grande, por volta dos 16 anos. Uma garota num ensaio de uma Escola de Samba, o Sambão. - Quando e como você começou a sair sozinho ou com amigos? Tinha ido com amigos, pois já fazia Capoeira e íamos para fazer roda nestes ensaios, sob o som da bateria da Escola de Samba. Mas quando fui conversar com ela , estava só - O que vocês faziam? Conversando, jogando conversa fora, ai ela chegou e perguntou se eu queria namorar com ela.
- O que mudou em relação à sua infância? Muita coisa, experiências, interesses, comecei a ouvir música, sair para festas e outras coisas
Trabalho - Quando começou a trabalhar e qual foi seu primeiro trabalho? Ainda cedo, durante a apuração das eleições, quando ainda, se fazia apuração contando voto a voto e as informações eram fornecidas pela Telepisa. Fui contratado, com alguns amigos da Escola Técnica, por três meses, para, à noite, das 18 às 22h, ficar de plantão fornecendo estes dados a todas as cidades do interior do estado. Tinha uns 17 anos - O que você fazia com o dinheiro que ganhava? A primeira coisa que fiz, foi fazer umas compras de Supermercado para meus pais. Sem eles saberem, recebi meu salário, fui ao supermercado sozinho, fiz as compras e os entreguei. Eles estavam assistindo televisão. Ficaram felizes. Depois, usava para comprar coisas minhas mesmo, tênis, revistas em quadrinhos, camisa, perfume, lanches, dentre outras coisas - Que outros trabalhos você fez? Trabalhei como Auxiliar de Topografia. Viajando por construções de estradas, no Piauí e Maranhão. Depois, fui ser professor de Capoeira, inclusive assinando minha primeira Carteira de trabalho, pelo SESC, como professor de Capoeira. Depois, já em 2000, trabalhei em escola privada, como professor e depois gestor. Hoje sou professor de universidade pública.
Faculdade/Especialização - Você fez faculdade? Qual? Por quê? Sim. Incentivado por minha sogra. Fiz pedagogia, pois, como eu lia muito e juntamente com ela participava de um círculo de livros, ela me falou de Paulo Freire. Acabei me interessando e fui fazer por isso - O mudou na sua vida nesse momento? Sim, muito, em criticidade, leitura de mundo, capacidade de analisar as coisas e forma mais ponderada. Universidade é fundamental. Todos devem fazer, passar por esta experiência. Sempre estudei em escolas e universidades públicas - Quais foram os momentos mais marcantes desse período? Quando descobri as teorias de Marx e que a história era construída, inventada e reinventada por nós. Quando cursei Filosofia I e II, foi muito marcante, mudou minha vida - Como isso te influenciou profissionalmente? Fazendo-me ter certeza de que queria seguir carreira universitária. Então, investi tudo nisso, todos os esforços
Casamento/Filhos - Como conheceu seu marido (esposa)? Na verdade, ela, juntamente com suas irmãs e primas foram em minha casa, nos convidar para fazermos parte de uma quadrilha junina. Aceitei e passei a frequentar a casa. Ai durante as festas juninas, exatamente no dia de São João, 24 de junho, começamos
a namorar, em 1983 e estamos juntos até hoje, 2018 - Você lembra do dia do teu casamento? Como foi? - Sim. Dia 16 de dezembro de 1997. Foi numa solenidade coletiva, feita por um Juiz, porém como eu tinha umas alunas de Capoeira cujo pai era Juiz e muito amigo meu, ele solicitou que o juiz, amigo dele, fizesse nosso casamente em separado. Foi muito legal. Depois fomos para um pequeno almoço na casa de meus pais. Simples e marcante - Vocês tiveram filhos? Quais os nomes dos filhos? Sim. Uma menina. Maria Clara, hoje com 19 anos - Como foi ser pai (mãe)? Especial. Muito bom e gratificante. Você vivencia cada momento do crescimento de outra pessoa, a qual, inexplicavelmente, você acaba amando acima de tudo. Ser pai foi e está sendo a coisa mais significativa da vida, pois sempre dividi todas as tarefas e afazeres com a mãe dela, jamais, em nenhum momento, me neguei a fazer todas as funções de companheiro e pai.
- O que você faz hoje? Sou professor e pesquisador universitário - Quais são as coisas mais importantes para você hoje? Viver feliz, simples e de forma plena, que implica fazer o que se gosta com ética e respeito às demais pessoas, animais e natureza. Para ser feliz, basta amar a vida, o mundo e as pessoas, e ser simples, aproveitando os momentos mais fugazes da vida e com pessoas do lado e ao redor - Quais os seus sonhos? Ver minha filha formada e independente financeiramente, além de feliz e realizada - Como foi contar a sua história?
Tranquilo e simples. Sempre gostei de trazer à tona reminiscências e toda vez que as trago à tona ressignifico minha vida
Sobre a Capoeira Como foi o seu primeiro contato com a Capoeira? Com meus irmãos mais velhos, Tucano e Chocolate O que o levou a praticar Capoeira? Eles dois, pois já treinavam e acabaram me levando O que a Capoeira significa na sua vida? Muitas coisas importantes, pois foi neste universo que eu aprendi a ser eu, que vi o quão poderia fazer coisas, me desafiar, além de ter sido minha profissão, minha luta, meu lazer, minhas alegrias. Capoeira é quase tudo em minha vida Quem são suas inspirações no mundo da Capoeira? O que mais me inspirou na Capoeira são os feitos dos Capoeiras antigos, do tempo da Capoeiragem, sua organização, resistência e a forma como dominaram e imperaram por muitos tempos nas cidades do Brasil imperial, adentrando a república. Como pessoas, das quais fui conhecendo, destaco muitos, Caio, Peixinho, Cobrinha Mansa, Camisa, Cobra, Di Mola, Capixaba, Edinho de Brasília, Canário do Ceará. Como você ver a Capoeira hoje? Em movimento, dinamicamente avançando, retrocedendo, porém estabilizada como prática pedagógica e rica, muito rica, em inovação, ocupando espaços e crescendo pelo mundo Por quais grupos de Capoeiras você passou? Fundamos o Palmares, depois Quilombo, ai nos filiamos ao
Senzala do RJ, com Mestre Camisa, que depois saiu e, juntos, fundamos o Abadá, depois sai e segui Mestre Edinho e Ralil no Raízes do Brasil, finalmente saindo e fundando minha Escola de Capoeira Mestre Bobby Como foi se tornar Mestre de Capoeira? Tudo que sempre quis e busquei. Fui sendo preparado e me preparei para este momento e, quando chegou, eu estava pronto e tranquilo. Ser Mestre de Capoeira significa, acima de tudo, responsabilidade, comprometimento e compromisso em difundir e manter esta arte forte e significativa.
Há quanto tempo você pratica Capoeira? Desde 1979, então, em 2019 farei 40 anos de prática efetiva, sem nunca ter abandonado O que é a Escola de Capoeira? Uma filosofia de vida que pretende resgatar valores e costumes antigos e valorizar valores essenciais para a pessoa integral, que contribuam em suas vidas de forma positiva. Pretendemos resgatar o valor do local da roda de Capoeira enquanto espaço de realização de todos os seus ritos e fundamentos, tais como o Batizado e entrega de cordas, sempre sem ônus para os praticantes. Ensinar e praticar Capoeira sem rótulos e sem dogmas fechados, como Capoeira, cujo ritmo, forma de jogar e tudo o mais e determinado pela magia do Berimbau, cabendo aos capoeiristas serem detentores desta sabedoria. Proporcionar valores sobre a vida e educação por meio da Capoeira, tais como, a apreensão de seus fundamentos enquanto código, enquanto uma Pedagogia Social que lhe permite aflorar uma cosmovisão diferente da racionalidade técnica e capitalista. Uma racionalidade cooperativa, gentil e dialógica Qual a sua relação com os demais capoeiristas? Tranquila. Não imponho meus valores e nem aceito imposição de ninguém, assim, respeitando e sendo respeitado, vou transitando em todos os lugares E, sua família é envolvida com a Capoeira? Foi. Minha esposa sempre fez, até o nascimento de nossa filha. Deu uma parada, depois retornaram juntas, sempre íamos aos eventos, minha filha ainda treinou até grande. Depois teve de parar para se dedicar aos estudos. Hoje, às vezes, frequentam alguns eventos, porém sem se envolverem mais diretamente Como você avalia a evolução da Capoeira? Não preciso e nem gosto de avaliar isto, primeiro porque não acredito em evolução, mas sim em releitura, reinvento, experimento. Em segundo, porque acho presunção fazer análises neste sentido, pois acaba por se colocar ou tomar certos grupos e pessoas como parâmetros e isto não existe na Capoeira, ou não devia existir Na sua concepção, qual o papel da mulher na Capoeira? Seguir sendo mulher. Se pudermos falar em funções, diria as mesmas dos homens, sem distinção, porém sem ter que ficar provando, imitando e fazendo tudo igual aos homens, pois assim acabaria se tornando uma espécie de homem feminina, somente para ser aceita. A mulher deve ser mulher, da forma que cada mulher assim o entender
Como você conceituaria a Capoeira? Uma Pedagogia da Rebeldia, da resistência, um código humano e social de identidade do povo Como você ver a Capoeira no Piauí? Muito boa, sempre crescendo em números de praticantes e com bastante talentos. Diria que igual a todo lugar. O que muda são os formatos de sua prática, que são inesgotáveis Como a Capoeira contribui na sua vida profissional? De forma significativa e positiva. Até enquanto professor universitário e com formação em Doutorado, ainda me utilizo de competências e saberes que somente a Capoeira me permitiu obter Como você ver a relação da Capoeira com as universidades? Excelente. Existem muitos trabalhos práticos e muitos trabalhos teóricos. Hoje, 2018, não existem mais barreiras para a Capoeira nas Universidades, ela transita livre e efetivamente nestes espaços Quais os seus projetos com a capoeira atualmente? Pesquisar sempre e em muitas frentes a Capoeira, tais como, seu processo de escolarização, a mulher, a roda de rua, suas faces e interfaces como Pedagogia Social, história da Capoeiragem, aspectos da sua prática no mundo contemporâneo. Também, coordeno a escola de Capoeira enquanto Projeto de Extensão permanente na UESPI e trabalhos de alunos meus em espaços sociais, como ferramenta educacional.Recolher