Projeto comemorativo dos 50 anos da Ponte Rio-Niterói
Entrevista de Cristiana Marçal
Entrevistada por Paula Ribeiro
Niterói, 04 de abril de 2024
Entrevista PRN_TM001
Revisão: Paula Ribeiro e Nataniel Torres
P - Bom dia, Cristina. Muito obrigada pela sua participação aqui no projeto comemorativo dos 50 anos da Ponte Rio-Niterói, nos concedendo um depoimento, sua história de vida, trajetória e experiência na Ponte Rio-Niterói como enfermeira. Bom, vamos começar do começo, me diga por favor, nos de seu nome completo, local e data de nascimento, por favor.
R - Sou Cristiana Marçal, nasci em 27/03/1974, em São Gonçalo, aqui no Rio de Janeiro.
P - Do mês e do ano da Ponte, né Cristiana?
R - Isso, nascemos juntas.
P - Aniversário junto com a Ponte. Cristiana, gostaria do nome dos seus pais, por favor, e trabalho deles, por favor?
R - O nome da minha mãe é Raimunda Rodrigues, ela é do lar, e Valter Jesus Marçal, o meu pai era mecânico.
P - Não, não precisava ficar nervosa, estamos indo muito bem. E os avós? Você conheceu? Lembra dos avós?
R - Mecânico hidraulico, eu esqueci que é diferente, mecânico hidráulico, tem isso? Ele era… Não lembro, agora não lembro o que era.
P - Não, fica tranquila, tá?
R - Mexia com máquinas grandes, não sei como seria isso, como que fala…
P - Mecânico, tá… Então vamos, em relação aos avós, você conheceu os avós, pode dizer o nome, por favor?
R - Sim, conheci. A minha avó era Maria e o meu avô João, eram os pais da minha mãe, eles são do Ceará. E a minha mãe veio de lá, para conhecer o meu pai aqui, o Valter. E a minha avó Brasilina, o meu avô não conheci. Mas a minha avó eu conheci.
P - Você pode contar um pouquinho dessas suas memórias com os avós?
R - São muito boas. As minhas duas avós são muito, eram muito carinhosas. Muito boas, e uma bem rústica. Em questão de conhecimento, que é a que veio do Ceará, mas aquela mãe de todos, e a outra aqui...
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Entrevista de Cristiana Marçal
Entrevistada por Paula Ribeiro
Niterói, 04 de abril de 2024
Entrevista PRN_TM001
Revisão: Paula Ribeiro e Nataniel Torres
P - Bom dia, Cristina. Muito obrigada pela sua participação aqui no projeto comemorativo dos 50 anos da Ponte Rio-Niterói, nos concedendo um depoimento, sua história de vida, trajetória e experiência na Ponte Rio-Niterói como enfermeira. Bom, vamos começar do começo, me diga por favor, nos de seu nome completo, local e data de nascimento, por favor.
R - Sou Cristiana Marçal, nasci em 27/03/1974, em São Gonçalo, aqui no Rio de Janeiro.
P - Do mês e do ano da Ponte, né Cristiana?
R - Isso, nascemos juntas.
P - Aniversário junto com a Ponte. Cristiana, gostaria do nome dos seus pais, por favor, e trabalho deles, por favor?
R - O nome da minha mãe é Raimunda Rodrigues, ela é do lar, e Valter Jesus Marçal, o meu pai era mecânico.
P - Não, não precisava ficar nervosa, estamos indo muito bem. E os avós? Você conheceu? Lembra dos avós?
R - Mecânico hidraulico, eu esqueci que é diferente, mecânico hidráulico, tem isso? Ele era… Não lembro, agora não lembro o que era.
P - Não, fica tranquila, tá?
R - Mexia com máquinas grandes, não sei como seria isso, como que fala…
P - Mecânico, tá… Então vamos, em relação aos avós, você conheceu os avós, pode dizer o nome, por favor?
R - Sim, conheci. A minha avó era Maria e o meu avô João, eram os pais da minha mãe, eles são do Ceará. E a minha mãe veio de lá, para conhecer o meu pai aqui, o Valter. E a minha avó Brasilina, o meu avô não conheci. Mas a minha avó eu conheci.
P - Você pode contar um pouquinho dessas suas memórias com os avós?
R - São muito boas. As minhas duas avós são muito, eram muito carinhosas. Muito boas, e uma bem rústica. Em questão de conhecimento, que é a que veio do Ceará, mas aquela mãe de todos, e a outra aqui do Rio, que é a Brasilina. A mãe do meu pai, muito conhecedora de tudo, muito sábia. E ensinava muito a gente, então a gente passava horas juntas, jogando, brincando, fazendo brincadeiras com os netos, ela sempre gostou disso. E a outra já parte de cozinha, de cuidado. Então, elas eram assim, né?
P - Você sabe o porquê que eles vieram do Ceará para o Rio? Em que época mais ou menos? Você saberia dizer? Sua mãe nasceu em que ano, você sabe?
R - A minha mãe em 32…
P - A sua mãe é de?
R - 32…
P - 32… Mas, a sua mãe já nasceu no Rio?
R - Não, nasceram lá, veio para cá…
P - Desculpa, sua mãe nasceu no Ceará…
R - Quando ela veio para cá…
P - Desculpa, você já comentou…
R - Quando ela veio para cá ela já veio com uma filha, que era de lá, a Fátima, que já… Aí veio com ela para cá, com a família, tentar, como muitos que tentam a vida aqui no Rio de Janeiro. E vieram para cá, mas ela nasceu lá, e aqui ela conheceu meu pai.
P - Você sabe que bairro eles se estabeleceram quando vieram do Ceará?
R - Eles foram aquele Maricá, que eles ficaram no primeiro momento, que eu lembre acho que foi isso.
P - Você tem irmãos?
R - Tenho, 7 (risos)... Tenho bastante, 7 do relacionamento da minha mãe e do meu pai, e o meu pai já tinha 3 filhos aqui no Rio. Por ele ser carioca aqui do Rio, ele teve um relacionamento aqui, no primeiro momento, esses 3 filhos. Aqui em Jacarepaguá, a família dele veio toda, ele é de Niterói, de São Francisco, e aí a minha mãe veio a conhecer ele aqui em Niterói, se conheceram aqui.
P - Você conhece um pouquinho a história do casal? Da mãe e do pai, quando eles começaram a viver juntos, como é que era um pouco dessa vida? Começo da vida do casal…
R - O que eu sei, assim, eu não lembro, eles nunca comentaram do início do relacionamento, eu lembro das histórias de família. eles juntos. O meu pai trabalhando muito, e sustentava a família inteira. Veio essa minha irmã que ele acolheu. Acolheu os netos, a casa era sempre muito cheia, e a família muito… Recebendo os sobrinhos, minha família era muito gostosa, minha casa, porque imagina, eram 4 meninas, no caso 5 com a Fátima, 4 do meu pai, a Fátima, e aí tinha meu primo que minha avó, da parte do meu pai, assumiu, e tinha os sobrinhos, porque a família muito grande da minha mãe, muitas irmãs, então todos viviam ali na mesma casa, juntos. Sempre estavam juntos. Minha mãe acolhia, a casa lá sempre estava cheia, com a minha família também, as irmãs do meu pai e a minha avó sempre fez questão, ficavam todas juntas, minha vó Maria. Então, a gente conseguiu ser criados sempre juntos, criados juntos. E viver juntos ali, aquela família, tal. Natal era sempre muito gostoso. Meu pai…
P - Como é que era? Conta uma memória de natal, por favor, Cristiana.
R - Nossa, que delicia, começava já dias antes preparar o pernil, preparar aquela, porque meu pai que fazia a comida, ele que preparava tudo, ajuntava e de manhã dia 24, vamos preparar a salada, preparar as rabanadas famosas do seu Valter.
P - Boas memórias…
R - Nossa, maravilhosas…
P - Essa vida familiar…
R - Muito boa. A gente cresceu sempre, como se diz, as histórias, família, o Natal, a Páscoa, como teve agora. Então a gente tinha toda aquela preparação. A comida une muito. A família, então a lembrança que a gente tem, porque nós somos de uma época que em volta da mesa se fazia melhor. Era onde se confraternizava. A questão de presente não era tão relevante para a família, unir, botar uma mesa farta, fazer aquela comida, que hoje a gente consegue sentir o sabor só de lembrar nossa, é muito bom.
P - E como é que era o cotidiano ali na infância? Brincadeiras, vocês moravam em casa? Em que bairro vocês moravam?
R - Casa, casa, eu, aí eu vim para, a gente veio morar, meu pai comprou uma casa. Aqui em Tribobó, em São Gonçalo. Ali ele, no primeiro momento a casa, quando ele comprou era bem humilde, aí ele conseguiu construir uma casa bem grande, com quartos, que era o quarto das meninas, o quarto dos meninos, o quarto dos pais, copa… Aquela, a casa ficou bem grande. Eu não sei como ele trabalhando sozinho conseguia isso tudo, porque, é o que eu digo, comida a gente tinha fartura e carinho. A tecnologia não era tão relevante, porque brincava-se muito na rua, então a gente tinha aquela… Em frente da casa, as brincadeiras, que ficava a até tarde brincando nas férias, os pais sentados ali no portão, e a gente brincando com os primos, aí vinha os primos, sentava-se ali, e ficava ali a noite brincando. Fresquinho…
P - Você falou em Páscoa e Natal, em termos de religiosidade, as avós eram religiosas, tinham alguma tradição…
R - Todos católicos. Aí tinha que participar das comemorações na igreja. A gente começava no Domingo de Ramos até a Páscoa, a minha mãe fazia questão que a gente participasse disso tudo na igreja, e parte a parte até chegar o domingo de Páscoa, mas tinha que participar de tudo. Era muito bom.
P - Em relação à escolaridade? Como era a escola, você começou a estudar onde? Você tem essas memórias iniciais, do período de escola?
R - Sim, a gente estudou aqui em Niterói, sempre na mesma escola. Tinha até a família Marçal, que era conhecida como Família Marçal na escola. Minha mãe trazia e todos os filhos estudando aqui em Niterói no Raul Vidal. E ali a gente, foram todos, se formando ali na escola, escola estadual aqui em Niterói. Depois vim a me formar e fazer a faculdade, e me formar enfermeira
P - Vamos voltar um pouquinho no período da escola, vocês continuavam morando em Tribobó?
R - Em Tribobó e descíamos para Niterói, né?
P - Como é que era esse trajeto?
R - Então, meu pai, a minha mãe, quando, um certo momento, vinha trazer, depois meu pai vinha trabalhar… Porque minhas irmãs mais velhas foram se formando, e a gente veio, foram terminando a escola e veio, meu pai também quando vinha para o trabalho, porque ele trabalhava no Rio, uma empresa, trabalhava como mecânico hidráulico, eu não lembro direito como se chama a profissão, como chamava aquela profissão aquela época, então ele vinha, deixava a gente na escola, até ali, pegava as barcas e ia para o Rio, na rua de Santana, eu lembro disso, ele ia para lá, trabalhar nessa empresa, até se aposentar.
P - E esse trajeto que ele fazia, fazia de barcas?
R - De barcas. Deixava a gente na escola, que era no centro de Niterói mesmo, aqui em Niterói, deixava ali no centro, e pegava as barcas para trabalhar.
P - Porque naquela época você acha que, quer dizer, um trabalhador usava mais a barca do que a ponte? Você tem alguma memória dessa época para comentar sobre o trajeto que ele fazia de Niterói? Porque você está falando do que: anos 80, final dos anos 70, anos 80, né?
R - 80, por aí. Eu lembro que ele pegava as barcas, eu me lembro que ele ia até o centro para pegar, isso aí.
P - Porque a rua de Santana também, uma vez no centro…
R - É, era mais próximo, né?
P - Você lembra por acaso, na sua juventude de vocês irem ao Rio fazer algum tipo de passeio no Rio, como é que era esse trajeto? Ou não se ia muito ao Rio.
R - Então, ia-se muito na Quinta da Boa Vista porque era um passeio que no dia primeiro de maio, a família ia para Quinta, então levava toda uma comida, fazia um piquenique lá na quinta. Na quinta da boa vista, na Primeiro de Maio, isso aí eu me lembro bastante, era o passeio. São Cristóvão, né?
P - E vocês iam como?
R - A gente ia pela Ponte, isso eu lembro, a gente não ia de barca, pegava a Ponte, de ônibus para a Ponte.
P - Conta então um pouquinho o período seu da sua escola, já no colégio você começou por acaso a despertar algum interesse profissional? Alguma matéria que você gostava mais ou gostava menos? A escola já foi um momento onde se pensava um pouco sobre o que fazer? Sobre trabalho? Como era?
R - Eu, no primeiro momento, na realidade, eu queria ser professora. Eu comecei a me formar na escola, eu pensava muito nisso, eu acho que ver as professoras dando aula, a gente acaba despertando essa vontade também, de fazer. A questão da saúde veio bem depois.
P - Então, conta um pouquinho, como é que foi a escola, e conta como é que foi esse final de, antigamente, não sei se se falava assim, cientifico, ensino médio, como é que foi essa tua formatura, como é que nesse momento da sua vida, com seus 17, 18 anos, como é que era um pouco essa juventude?
R - Então, fiz o primeiro ano, que se chamava primeiro grau, todo nesse colégio, Raul Vidal, depois de um certo momento eu fui estudar lá em Tribobó mesmo em uma escola que era técnica, aí fiz Técnico em Contabilidade, lembro disso, fiz Técnico em Contabilidade, aí achei que iria para essa área, depois que vi que não ia ser professora, apesar de ter dado algumas aulas no bairro ali pequenininho… Para reforço. Montei escolinha para criança, para ajudar ali no bairro porque tinham muitas mães que não podiam pagar colégio fora. Aí eu fui na casa da minha avó, depois que minha avó faleceu, a gente montou na escola dela, na casa dela, uma escolinha pequenininha com uma amiga e comecei a dar aula, aí tinha criança. Até hoje eu encontro algumas crianças lá que falam que, quando eu vou lá, que eu vejo enorme, eu falo assim: “Jesus, a criança passou por mim ali. ” Então, eu montei essa escolinha, e depois aí eu fui para essa escola técnica em Tribobó, fiz Técnico em Contabilidade, e depois com o tempo, aí depois que eu terminei o segundo grau eu parei, casei. Fui, casei, fiquei 10 anos casada, e aí depois que veio o interesse pela saúde mesmo.
P - No casamento, você teve filhos?
R - Então, tive um filho, no meu casamento de 10 anos, que é o Cristiano. E ele hoje está com 27 anos. Um casamento que foi desde a juventude. Bem, participou de toda, é porque, namoro de bairro, a gente vai desde novinha conhecendo e tive esse primeiro namorado, aí casei e fui para o casamento. Aí casei e parei. A gente para um tempo, começa a se dedicar a família, aí que eu vi, comecei a… Minha sobrinha, a Fernanda, ela começou a fazer instrumentação no e me convidou para trabalhar no hospital, lá em São Gonçalo, e eu comecei a trabalhar lá como instrumentadora cirúrgica, fiz o curso de auxiliar, na época, de Enfermagem, fiz o curso, fiz instrumentação e fui trabalhar nesse hospital em São Gonçalo, que é o pronto socorro central de São Gonçalo, e fiquei trabalhando lá um tempo como instrumentadora cirúrgica. E ali a gente teve a ideia, eu e minha sobrinha, de fazer faculdade, que foi a de Nutrição, que eu comecei a Nutrição e fiz até o terceiro período de Nutrição, foi quando eu me separei, e falei assim: “Acho que a enfermagem vai ser o caminho mais rápido da minha independência, por a área ser maior de emprego”, aí eu fui para a enfermagem.
P - Então, conta um pouquinho essa sua primeira experiência na área da saúde, como é que foi essa sua primeira experiência?
R - A primeira experiência foi como instrumentadora.
P - Como é que foi essa tua primeira experiência? Qual era o hospital?
R - Hospital Central de São Gonçalo. Mas, comecei mesmo fazendo instrumentação particular, com o doutor Mônaco, que era um cirurgião de São Gonçalo, Niterói, muito conhecido, e ele por trabalhar com a minha sobrinha, aí eles me ofereceram para participar dessa equipe médica, eu comecei a participar da equipe médica, fazendo a instrumentação. Participava de parto, era uma equipe de obstetrícia, e a gente começou a fazer, eu comecei a acompanhar as equipes, e eu como um “peixe piloto”. Participava, e isso era uma forma também de ter uma… Eu queria trabalhar, eu falei assim: “Vamos lá, preciso trabalhar”. E ela falou assim: “Não, vamos lá, vamos comigo, participa”. Foi quando a gente teve a ideia, comecei a pensar em me formar. Então, a formação veio bem depois, você vê que passaram vários, eu já estava com meu filho, meu filho tinha o quê? Uns 8 anos de idade, não, era 7 para 8 anos, ele era bem novinho quando eu vim a me formar, a pensar em entrar na faculdade.
P - Qual é a data de nascimento do Cristiano?
R - O Cristiano é de 6 de fevereiro de 1997.
P - Qual é o nome todo dele?
R - Cristiano Marçal Fernandes de Matos.
P - Então, e o nome da sobrinha?
R - Fernanda Marçal.
P - Bom, então me conta um pouquinho… Primeiro, o que quer dizer ser um “peixe piloto”?
R - É, isso, eu ia só acompanhando a equipe, aquele gruda e vai. Vai junto, acompanhar a equipe, e ali fui tomando independência, aprendendo a instrumentação cirúrgica.
P - Como é que foi esse começo de lidar com doenças?
R - Primeiro momento é assustador, porque você, principalmente porque era uma sala de cirurgia com o paciente. Você participa mesmo de todo o processo cirúrgico. Então, o primeiro momento foi assustador. Você não conhece nada, não sabe nada, mas foi já fazendo o curso, fui pegando, fui aproveitando essa oportunidade que foi dada de ver acontecer ali a cirurgia. E aí foi surgindo, todo final de semana tinha, e fui embora, participei um bom tempo.
P - E a Nutrição? Por que o interesse pela nutrição? Qual foi a faculdade que você foi cursar?
R - Eu comecei na UNIP, que é a faculdade do colégio Plínio Leite, aqui em Niterói, e achei muito legal a parte da nutrição por um certo momento, algo que eu vi, que eu não me recordo agora, que eu fui para a nutrição, mas não lembro, para ver como não era o meu foco. Fui…
P - Isso acontece…
R - É, isso acontece…
P - E que bom que aconteceu.
R - Não, que bom, realmente, eu gosto muito da enfermagem…
P - Uma trajetória linda profissional…
R - E aí fiz esse período de 3 meses, 3 semestres, desculpa, 3 semestres de Nutrição, já não estava gostando tanto, porque não era o que eu esperava da saúde… Acho que por eu ter atuado como instrumentadora, a nutrição não entra tanto no campo de meter a mão mesmo na massa, que é o que eu gosto, que eu faço. E aí eu via, como eu falei, o momento que eu me separei, e vi que também seria uma forma de conseguir a minha independência mais rápido, porque como eu era muito dependente, aquele casamento, que teve todo, era totalmente sustentada, eu falei: “Pera aí, vou para enfermagem, que na enfermagem eu acho que eu vou conseguir”, conversei com algumas pessoas que me alertaram, até professores mesmo, que realmente a enfermagem seria mais fácil, e aí foi uma descoberta maravilhosa, a enfermagem é maravilhosa, uma atuação muito boa, não tão valorizada como deveria ser, mas é muito bom.
P - E na universidade alguma área específica te interessava mais? Algum professor que tenha te marcado mais?
R - Obstetrícia. Tem a [Marcele Verdes], que é uma professora que despertou muito, é uma área que eu gosto muito, que é a parte da obstetrícia, que é maravilhosa, e a parte da emergência que você atua naquele primeiro momento, você se faz tão necessária naquele primeiro momento do atendimento. Então, gosto também muito, tanto que eu vim fazer a pós de Urgência e Emergência, que eu vi que é muito bom.
P - A pós-graduação chama de “Urgência e Emergência”?
R - Isso, “Urgência e Emergência”.
P - Onde é que você fez? Que ano foi?
R - Foi em 2019, na Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, aí já é para o outro lado.
P - Então, você pode contar um pouquinho como é que foi o início da vida profissional como enfermeira? Que é uma profissão de muita ralação, vários pratinhos que eu sei que você roda.
R - É, porque, assim, foi um caminho bem longo e um caminho que não foi fácil, porque primeiro que eu estava separada, eu tinha o meu filho que eu precisava dar atenção também. Então, eu tive que me dividir naqueles dois ali. Eu sempre dizia assim: “a época da prova era a mesma, ele fazia prova, eu também”. Então, eu vinha trabalhar, receber proposta de trabalhar na Central de Regulação do SAMU 192, que é a Central que recebe os telefonemas, o nome do SAMU 192 que recebe aquele primeiro, como é que se diz? Que entra os chamados para atendimento, então eu fui convidada para trabalhar no SAMU 192, na central de regulação aqui de Niterói, ela fica em Niterói, mas é a Região Metropolitana II que atende os 7 municípios aqui dessa região, e aí eu vim a trabalhar, foi uma forma, eu trabalhei então, tomava conta do meu filho, trabalhava nessa central que era 6 horas por dia, com 1 folga por semana, e tinha que ficar com meu filho, com o Cristiano, e também fazia faculdade. Então, tinha momentos que eles me trocavam de escala, eu trabalhava de 6h00 da manhã a meio dia, aí eu tinha que fazer faculdade de tarde, quando eu troquei de nutrição, eu tinha que complementar a faculdade, as matérias que eu já tinha feito eles conseguiam…
P - Equivalência, né?
R - Conseguiam anular, mas eu tinha que fazer algumas da Enfermagem que não tinham nos períodos que eu não tinha feito ainda, eu tinha que fazer a noite às vezes, às vezes era de 6h00 a meio dia, outras vezes eu trabalhava de meio dia às 06h00 da tarde, como eu trabalhei também de 6h00 da tarde a meia noite, então era uma loucura, porque nesse momento eu precisava de que? Apoio pro Cris. Aí eu pegava e botava, tinha uma vizinha, creche até um certo momento, e depois tinha a parte de uma vizinha, a Lúcia, que foi uma mãe, para tentar arrumar essa história, para poder conseguir fazer de tudo, e ia faculdade, filho na escola, estudar e trabalhar, e a gente se divide. Aí, eu lembro que algumas vezes eu chegava, o Cris ficava de manhã, eu deixava ele de manhã na creche, aí tinha que correndo deixar ele lá na creche, aí ele já estava, ou na escola, pedir a moça da escola para receber ele um pouquinho mais cedo, corria para a faculdade, pegava o carro correndo para a faculdade, para chegar na faculdade, aí ele saia da escola, o moço da _____ pegava ele, levava para a casa da vizinha, eu ia para o trabalho falava para professora: “Professora, eu tenho que sair 11h30, porque eu pego 12h00 no trabalho”. Saia correndo, ia para a faculdade, ia para o trabalho, trabalhava até as 6h00, chegava em casa fazia as coisas. “Cris, tem que estudar para prova, vamos embora”. Aí a gente estudava, eu tinha que sentar e estudar até de manhã, porque tinha prova, olha, uma correria, quando tinha horário, quando botava de 6h00 da tarde a meia noite, nossa, uma loucura, porque aí eu chegava em casa 1h00 da manhã, aí chegava, já botava o Cris, e ele: “Mãe, eu posso dormir em casa?”. Botava ele em casa para ele dormir ali, dormir, ele: “Mãe, eu quero em casa”. Era o mesmo corredor do prédio. Ela dava janta, botava ele, eu tinha que chegar e, já 1h00 hora da manhã, ele lá dormindo, respirava, porque 6h00 da manhã eu tinha que correr para a faculdade de novo, “vamo embora”, uma correria, isso tudo para tentar se formar como enfermeira. Eu consegui, lá na Central 192, foi onde me surgiu a oportunidade para ser enfermeira, entendeu? Aí recebi a proposta, a coordenadora, que é até hoje em Niterói, que é a Dora, mme ofereceu, me falou assim: “Eu vejo você aqui estudando, correndo, trabalhando, e eu quero te oferecer para ser enfermeira aqui na… Você faz, vai rodar um tempo como coringa, para ver, ver como é que você vai se adaptar”. E eu fui e peguei e aí comecei a conhecer a ambulância trabalhando na Central também, e sendo mãe e correndo, eu falei assim “beleza”, e comecei a conhecer a ambulância do SAMU, e a rodar como coringa, fazendo, e aí que vim a conhecer o APH, dentro da Central 192, a gente vai se apaixonando ali dentro, que você recebe vários chamados, ficava ali curiosa para passar para o outro lado. Foi onde eu passei para o outro lado dentro da ambulância, isso quando eu me formei em 2008, e em 2009, 2008 ela já começou a, foi em maio de, eu me formei em 2008 em junho, maio de 2009 ela me convidou para assumir uma ambulância mesmo.
P - Bom, Cristiana, você estava falando, então você foi convidada, o que significa “eu fui para o outro lado da ambulância”? O que foi? Como era esse trabalho? Quais eram os desafios até sua chegada e participação aqui no trabalho ligado à Ponte Rio-Niterói?
R - Então, eu sempre digo que eu conheci os dois lados do serviço do SAMU no caso, eu trabalhava dentro da Central, só ouvia o pedido de ajuda. Aí quando eu fui convidada para ir para a ambulância, foi o momento que eu conheci o APH.
P - O que é o APH?
R - O Atendimento Pré-Hospitalar, que a gente faz aquele, o primeiro atendimento a uma vítima, e eu, apesar de trabalhar muitas vezes dentro do atendimento hospitalar, que é aquele interno, a gente faz aquele primeiro, aquele que leva para a unidade hospitalar. Então, a gente faz aquele atendimento, muitas vezes a gente consegue até resolver no local, mas é o primeiro atendimento a uma vítima, é o APH.
P - E como é que foi esse início de trabalho na ambulância? Onde você trabalhava? Era na cidade de Niterói? Atendia que tipo de socorro? De manhã, de noite, como é que funcionava?
R - Esse atendimento dentro dessa ambulância era, ele pode ser em 24 horas, direto, é um atendimento que você atende todo tipo de ocorrência, não tem, você nunca sabe o que vai atender, sempre digo isso, mesmo falando assim “é uma convulsão”, mas todas elas são diferentes, porque o paciente é diferente, o local é diferente, tudo é diferente, então a gente atende em locais que você muitas vezes, você não sabe onde você vai parar, o que você vai atender, aonde vai atender, o que vai atender, são coisas bem… Tem épocas em que fica mais arriscado, porque a gente vai em comunidades. Então você tem que atender sem diferença todo o tipo de público, rua, em estabelecimentos públicos, residência, do idoso à criança, não tem diferença. É muito bom. Eu estou há mais de 15 anos fazendo esse atendimento, então já vi todo tipo de atendimento, mas nenhum é igual, nunca será, sempre digo isso, sempre diferente, sempre. Eu nunca quero perder aquela emoção de ir atender, como acontece. Dentro do hospital, eu digo que a gente está em uma área segura, você está dentro do hospital você tem uma equipe enorme, você trabalha com segurança na porta, você trabalha dentro de um ambiente controlado, no APH você não trabalha com ambiente controlado, a gente que faz a cena, porque o primeiro mandamento do APH é “cena segura”, então a gente, quando chega a gente verifica toda essa cena, para que a gente possa, a gente prepara essa cena para que a gente possa atuar. Então, o APH ele é uma, eu digo que é uma cachaça, quer dizer, depois que começa é muito difícil você largar isso. Eu pelo menos não quero ainda não, quero continuar. E aí veio essa questão de eu estar no SAMU, conhecer uma pessoa que trabalhou lá, um técnico, coloquei ele lá. Porque no SAMU como eu falei, eu fui da parte de atendimento lá, da Central como enfermeira, e depois fui convidada para ser supervisora de enfermagem lá, e aí eu coloquei uma pessoa lá que me convidou, como ele era daqui, trabalhava aqui como supervisor, foi convidado para ser gerente, viu meu trabalho lá no SAMU e me convidou para ser supervisora aqui na Ponte, no serviço do APH da Ponte, e aí eu vim a ser supervisora aqui durante um tempo, foi um período pequeno, porque o que eu gosto mesmo é atuar dentro da ambulância. Aí eu fiquei, aí eu vi que, aí eu fiquei tomando conta até de uma outra rodovia também, do serviço da Enseg, porque a gente presta serviço para a Enseg, que é essa empresa que nos contratou. A Enseg me deu oportunidade de ser supervisora, fiquei durante um pequeno período, e aí saí, voltei de novo para, aí fiquei como, voltei para trabalhar em UPA, que eu trabalhei em serviço de UPA também, que é dentro de uma UPA, atendimento hospitalar interno, e aí novamente fui convidada para voltar para esse mundo aqui da Ponte, trabalhando também em conjunto com o SAMU e vim para cá, para a Ecoponte. Porque quando eu vim para supervisora, e via as equipes saindo eu falei: “Gente, meu lugar é ali, é na Ponte, é atuando”. Porque é muito bom, é muito…
P - Por que é tão bom? Por que?
R - Nossa, primeiro que é lindo, primeiro que é lindo.
P - Que ano foi que você entrou? Só para gente… Como supervisora.
R - Supervisora foi em 2016.
P - E o retorno?
R - O retorno foi agora, retornei a pouco tempo agora. Aí, quer dizer, primeiro que é linda, você trabalhar em um ambiente desse, muitas vezes a gente está andando para fazer o atendimento, principalmente no retorno do atendimento... Gente, você olha o céu, Jesus, você trabalha em cima do mar e com um céu maravilhoso, não tem explicação, a Ponte é muito linda de trabalhar, porque outros locais que eu trabalho, ou você trabalha dentro de um hospital, ou você trabalha dentro de local, de locais assim dentro da cidade, que a gente já está acostumado,agora você trabalhar aqui em cima, nossa, o dia que tiver a oportunidade, toda vez que puder passar aqui, é muito lindo, só que a gente para, as pessoas passam, você tem que passar, a gente para, então pelo menos a gente para e fica ali, coisa linda, é muito linda
P - Cristiana, você pode me dizer como é uma rotina da enfermeira na ambulância da Ponte Rio-Niterói? Como você começa o seu dia, como é que é a sua escala?
R - A enfermeira, a minha escala é 24 por 102, a gente trabalha 24 horas e folga 3 dias. E a enfermeira no serviço, é uma enfermeira por plantão, porque a gente aqui, são duas bases, aqui. A gente trabalha na Base Niterói e Base Rio, em cada ponta tem uma UTI. E aqui em Niterói, por ser o maior número de atendimento é nessa região aqui, devido pedágio, posto alfa que a gente chama, que é esse posto logo da entrada onde fica as ambulâncias, na subida da Ponte, vindo de Niterói, tem muito atendimento, o usuário para ali para atender. Então, no primeiro momento a enfermeira vê toda a equipe, passa escala, vê equipe completa, vamos lá, checklist, depois que eu vejo toda a equipe, passo as escalas para os setores, o CCO que é o nosso Centro de Comando, e aí a gente começa a fazer os checklists, checagem de todo o equipamento, da viatura.
P - Quais são os equipamentos que tem que ter?
R - A UTI, que é onde eu atuo, eu vou com médico, e um resgatista do meu lado, que é o condutor que leva a gente. Então, ele é resgatista. Então, eu vou com essa equipe, a UTI tem todo equipamento de uma UTI mesmo, cardioversor, ventilador pulmonar e todos os medicamentos avançados, e básicos para um atendimento, é onde fica, todo atendimento médico vai ser feito dentro dessa viatura. Aí nós temos dois resgates, e uma motolância, que é a TME 3, que é uma moto que vai com o resgatista, esse resgatista faz aquele, abre o fluxo para a gente, e tenta chegar um pouco mais rápido para atender, então a gente faz essa checagem. A resgate tem um equipamento que é, pega o, como é que se diz? Desencarcerar um carro, apagar fogo, essa equipe de resgate vai junto com a UTI para fazer esse atendimento de abordagem primeiro, para passar para a gente da UTI, e passa para a UTI, para que a UTI possa fazer a avaliação da vítima. Então, checasse todo esse equipamento para ver se está tudo ok para a gente pegar a pista. Muitas vezes a gente depende do colega passar essa viatura perfeita, porque a gente chega aqui já bradando, como a gente diz. Chegou bradando, bota o uniforme…
P - Bradando?
R - É, é um brado “vamo embora”, é o rádio de comunicação que fala com a gente, ”resgate 1, resgate 1”, todo mundo bota, já chega naquela correria, botou a roupa e sai do jeito que estava “vamos embora” , e aí você quer uma continuidade a passagem de plantão, e vamos…
P - E você então fica em uma base, você espera o chamado?
R - Espera o chamado. A gente fica ali, aguardando o chamado no rádio. Comunicação, nossa central que faz esse monitoramento da via, e ele avisa qual é o chamado e o local do chamado.
P - E pela sua experiência, quais são os tipos de desastres, acidentes, que você tem que enfrentar? Quais são os desafios?
R - Aqui a gente tem muitas colisões. Moto bastante. Muitas são até pequenas, mas, e também temos algumas que são bem, que envolvem a via inteira e para a Ponte e aí começa. Porque muitas vezes não é só um carro, não são só dois carros colidindo, muitas vezes são 5 carros, é capotamento, têm isso. E aí, tem isso, tem o atendimento que é, a gente chama TO 12, que é um código que a gente usa, que é o atendimento clínico, que a gente faz o atendimento ao usuário que passa pela via, se sente mal, ou está… Para, aciona, quando a central vê que aquele usuário parou, ela já começa a monitorar, geralmente tem o guincho, alguém que está passando e solicita a gente, no pedágio também para muita gente pedindo ajuda do atendimento clínico, não está se sentindo bem, parada cardiorrespiratória a gente tem também, e tem que fazer essa abordagem. O usuário liga para o 0800, que a gente deixa sempre bem, em toda rodovia o 0800 para que ele possa entrar em contato, solicita através da nossa central, e a gente aciona a equipe e a equipe vai fazer a abordagem. E o atendimento TO 17, que é o atendimento que o paciente psiquiátrico que acessa a via, o andarilho, que a gente chama, porque tem muito acesso à via, que aqui é uma rodovia federal e muitos não entendem que você não pode acessar uma ponte andando, nem de bicicleta…
P - O andarilho…?
R - Eles acessam e dizem: “Eu vou para Vitória, vou para Bahia, eu quero passar”. Aí a gente vai, aborda, bota na viatura e leva até o outro lado da Ponte, para que ele não acesse a pé porque o risco é muito grande. E temos também as tentativas de suicídio, que acontecem também, é corriqueiro aqui. E que a gente recebe todo um treinamento para a abordagem dos “tentantes” que a gente chama, para que não chegue a um final trágico.
P - Vocês recebem capacitação aqui na Ponte? Tem cursos? Capacitação pela empresa Enseg ou pela Ecoponte?
R - Sim, recebe, então, eles trabalham em conjunto. Então, a gente tem os instrutores, os multiplicadores que fazem esse trabalho, junto com a Ecoponte, a Ecoponte e a Enseg fazem o cronograma anual de treinamento, tanto para a equipe, quanto para usuários também, que quiserem, para fazer o curso também podem. Então, têm específicos para as equipes, que ficam fechadas, porque a gente precisa sempre estar se atualizando, incêndio, os atendimentos clínicos, os tentantes, as tentativas de suicídio, então tem esses treinamentos com os multiplicadores. Um multiplicador que trabalha aqui bem conhecido…
P - Vamos falar desse multiplicador, por favor?
R - Que é o Horácio, e que ele faz, ele trabalha, como a gente falou, a gente é da Enseg e faz esse serviço na Ecoponte de multiplicação de educação, o ensino continuado da empresa, né?
P - Então, você poderia me contar um pouquinho como é que você conheceu o Horácio, que se tornou o seu companheiro. Por favor, como é que vocês se conheceram?
R - Então, em 2010 eu conheci o Horácio, lá no SAMU, foi até o ano que aconteceu o fatídico, aquela, o Bumba que veio a cair, que teve aquelas chuvas fortes. Foi mais ou menos a época que ele entrou no SAMU, e aí eu já era do SAMU, e aí ele como condutor da ambulância, a gente veio se conhecendo, conversando, e aí a gente veio a ter um relacionamento, e até hoje estamos juntos.
P - Como é que era a paquera ali no ambiente da ambulância? O que vocês conversavam?
R - No ambiente não dá muito para paquera porque a vida do SAMU é corrida, a vida do APH é muito corrida. Mas você vai se conhecendo, vai marcando. “Vamos se encontrar, vamos se conhecer”, marcamos um cappuccino, que é a nossa história, que a gente morre de rir com esse cappuccino, esse cappuccino foi histórico.
P - Qual é a história do cappuccino?
R - A gente parou para tomar esse cappuccino e acabou se conhecendo, “vamos tomar um cappuccino, vamos bater um papo”, que eu adoro, aí foi que a gente começou, aí que veio dizer que tinha o interesse. E aí a gente começou a namorar, através desse cappuccino.
P - Bom, pela sua narrativa, muito interessante a sua história, você tem uma memória muito boa e detalhada, vocês trabalham muito, como é isso? Vocês namoravam, casavam, era na escala de 24 por 72? Vocês se encontravam? Como é que funciona isso?
R - É bem corrido, porque a gente tem uma vida, acho que por trabalhar no mesmo ambiente a gente se entende, entende o cansaço do outro, entende que o tempo é precioso quando se está junto tem que aproveitar, e entende também quando o outro está cansado, precisa de um cantinho, então, e a gente faz uma escala onde a gente possa se encontrar. A gente já teve várias escalas, porque a gente pega uma escala aqui, pega uma escala ali, muda, vem, e vai tentando fazer com que a gente consiga se encontrar, e aproveitar o tempo que estamos juntos. Porque, como a gente tem 3 filhos, são dois dele, mais o meu, que a gente juntou. Os três tentam também encontrar esses 3. Juntar quando dá, tentar aproveitar um pouco esse momento quando dá para ficar junto, porque hoje eles já são adultos, tem a vida deles, têm as histórias deles, mas quando dá para juntar a gente junta, dentro da nossa vida que é corrida. As vezes fica dois dias fora. Aí a gente se encontra aonde? Na ponte (risos). A gente se encontra no trabalho, porque a gente conseguiu colocar uma escala onde estamos no mesmo dia de plantão aqui na Ponte, então, só que estamos em bases diferentes, até por questões éticas mesmo, eu aqui em Niterói, ele lá no Rio, mas quando tem um acidente que precisa da abordagem das duas equipes a gente se encontra, a gente se encontra lá em cima, e dá um oi “oi, e aí, quanto tempo!”. E dali bota a vítima, vamos embora, cada um para o seu lado, até encontrar de manhã de novo e ver, ou vai para casa ou vai para o outro. Mas tudo bem.
P - Você continua no SAMU? Você continua trabalhando no SAMU?
R - Continuo no SAMU e estou trabalhando em uma UPA também. No SAMU trabalho quarta-feira só, é fixo. Estou só quarta-feira, e na UPA é 24 por 120, é uma vez, é retroativo na semana, por isso que dá para respirar um pouquinho mais, e aqui que é 24 por 72.
P - Queria te fazer uma pergunta, a Ponte Rio-Niterói está fazendo 50 anos assim, como é que você prospecta, como é que você pensa a ponte daqui há 50 anos? Ou como usuária, ou como enfermeira, trabalhando na ponte?
R - É, como enfermeira eu acho meio difícil, mas como usuária eu acredito que cada vez ela está avançando mais. Todos os dias eles mostram aqui projetos novos, né? E acredito que vá avançar muito mais a tecnologia aqui. Do que eu comecei até hoje já mudou muito. A gente viu muita coisa acontecendo em questão de tecnologia, pedágio, cada vez mais eles estão aprimorando mais, para que seja mais rápido. A via, todos os dias, ela é até que muito bem cuidada, muito bonita, por isso que eu digo que eu trabalho em 13 km, que é o meu atendimento. 13 km e mais 13 voltando, mas que a minha área de atuação são 13 km, né? E ali ela é muito bem cuidada, ela é muito bem elaborada, todo o serviço daqui é muito ligadinho, isso é muito bonito atender, que é diferente de serviço como eu digo do SAMU, que é um serviço, você não tem como você prever muito onde você vai, aqui eu tenho como prever. E fora eu digo, você trabalha em um local bonito, um local que é maravilhoso, você trabalha em cima de uma ponte, fazendo o que você gosta, porque eu gosto muito de estar dentro de uma ambulância, lidar com o público é muito bom, é muito bom, eu gosto de pessoas, gosto muito de conversar, converso muito, sei muito da vida, digo que eu sempre faço uma entrevista com o paciente no trajeto, então eu sei de tudo, converso, a minha equipe sempre diz: “Nossa, você sabe de tudo”. Eu falo: “Sei de tudo, sei o que aconteceu na vida dele”. Eu acho que isso é gostoso. A gente não pode simplesmente atender e falar assim: “Pronto, fiz minha parte”... Eu gosto, é gente. Tem história.
P - E te aproxima e faz esse lidar ali com o acidente, com o ferimento, com a situação mais difícil ficar mais fácil quando você sente uma acolhida, quando você sente cuidado do outro, né?
R - O cuidar do outro, porque a gente aqui, a gente está em uma situação que a gente espera acontecer, como a gente diz, a gente está em uma base, bom que não aconteça? Ok. Melhor para o outro, mas quando acontece a gente tem que estar preparado para isso. Isso que eu tento fazer todos os dias, ler, me aprimorar, para estar preparada para esse momento, e quando a gente vai abordar a gente não pode abordar simplesmente dizer assim: “O carro que bateu”. Não foi o carro. Ali existe uma pessoa, e a gente gosta, é muito bom, muito bom lidar com o ser humano e conhecer as histórias do outro, e a gente vai sempre ter uma história, chega em casa sempre contando uma história, meu filho fala: “Nossa, já vem história mãe”. É, quando eu vejo um adolescente “já vai dizer que lembrou de mim”. “Com certeza, não pode fazer isso, isso, isso, carro é perigoso”. Então, é muito bom você levar, porque tem que ser isso, nesse momento, se a gente coloca o serviço frio, a gente, acho que não vale mais a pena. Então quando é um serviço que lida com pessoas, como eu disse, é diferente cada um, então tem que valer a pena, tem que ser bom.
P - Bom, eu te agradeço muito, gostaria de saber se você gostaria de colocar mais alguma coisa, te agradeço pelo compartilhar de história.
R - Não é, eu só tenho a agradecer por esse convite, pela Enseg me colocar, ter essa oportunidade de trabalhar na Ponte Rio-Niterói, porque isso é o sonho de muitos da APH, trabalhar aqui, nesse local.
P - Por que?
R - Porque você trabalha em um cartão postal maravilhoso, né? Você trabalha no setor que aqui acontece de tudo, tem histórias maravilhosas, aqui a Ponte, então você trabalhar em um local desse, fazendo o que gosta, não tem melhor, agradeço a Enseg por ter me colocado em um local desses, fazendo o que eu gosto, como enfermeira, e a Ecoponte por me acolher. Porque eles nos acolhem muito bem, eles cuidam do serviço, cuidam da gente, faz com que a gente consiga ter um local bom de trabalho.
P - E o mérito é seu, pela luta toda da tua vida, de casa, de filho, de estudo, de capacitação, parabéns. Muito obrigada então, Cristiana, pelo depoimento.
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