P/1 – Nina, boa tarde.
R – Oi.
P/1 – Primeiro eu gostaria de agradecer de você ter aceitado o convite para esta entrevista. E pra gente começar eu queria que você falasse pra gente o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Nina Franco Lins. Eu nasci em Nova York, no dia três de outubro de 1994.
P/1 – Nina, fala pra gente também o nome dos seus pais.
R – Minha mãe chama Vera Franco e meu pai Ricardo Brandão Estellita Lins.
P/1 – E fala pra gente da origem do seu nome. O que você sabe dele?
R – Então, meus pais são brasileiros, mas eles se conheceram em Nova York e eles moravam lá na época em que eu nasci. Eles queriam um nome simples, que ninguém se confundisse muito, que desse pra falar tanto em inglês quanto em português e aí tiveram em Nina.
P/1 – E fala pra gente a atividade deles.
R – Minha mãe é jornalista, nessa época ela trabalhava em imprensa, mas agora ela faz mais assessoria e meu pai é designer gráfico.
P/1 – E você sabe como eles se encontraram em Nova York, o que eles foram fazer lá de primeira?
R – Ah, os dois foram trabalhar. Minha mãe foi como correspondente, eu não lembro agora se foi do JB, eu acho que foi do JB. E meu pai já estava morando fora há algum tempo e aí ele acabou indo pra lá, também pra trabalhar.
P/1 – E você sabe como eles se conheceram?
R – Foi através de amigos brasileiros, acho que foi numa exposição de artistas latinoamericanos, eles tinham amigos em comum e se conheceram lá.
P/1 – E seus avós? Conta pra gente sobre eles.
R – Meus avós? Eu conheci muito pouco o meu avô materno, ele faleceu quando eu era pequena e minha avó materna eu não conheci. Mas eu tenho mais contato com meus avós paternos, eu sempre ia passar férias lá, eles moram no Rio. Eu tinha uma relação muito boa com eles, era uma relação mais de férias, passava dois meses no Rio, ficava com eles. E minha avó, sou muito próxima dela. Quando eu nasci meu avô já era aposentado e minha avó não trabalhava
P/1 – E você tem irmãos, Nina?
R – Não.
P/1 – Quantos anos você tinha enquanto vocês moravam nos Estados Unidos?
R – Até dez meses.
P/1 – Então você se lembra já aqui no Brasil.
R – É, não lembro de lá.
P/1 – E onde que vocês foram morar, conta um pouquinho pra gente da sua infância aqui no Brasil.
R – Então, a gente veio pra São Paulo, eu acho que a gente passou um ano aqui, aí meus pais se separaram e eu fui morar no Rio com a minha mãe por um ano também, mais ou menos. E depois a gente voltou pra São Paulo.
P/1 – E conta de quando você começa a se lembrar, de quando você era bem pequena. Quais são suas primeiras lembranças da infância?
R – Hum, deixa eu ver. Putz, primeira lembrança eu não sei, mas acho que as coisas começam a ter uma ordem cronológica quando eu tinha uns sete, oito anos, por aí.
P/1 – Que você já estava aqui em São Paulo.
R – Que eu já estava aqui em São Paulo.
P/1 – Conta um pouco pra gente dessa casa onde você morava aqui em São Paulo, onde ela ficava.
R – Eu moro até hoje com a minha mãe nessa mesma casa, um apartamento ali na Avenida Angélica, e eu ia sempre pra casa do meu pai, que mora na mesma casa até hoje também. Ele trabalha em casa, tem um estúdio no andar de baixo e mora no andar de cima. E, sei lá, eu sempre ia lá uma vez por semana, aquela divisão de pais separados, um final de semana sim, outro não.
P/1 – E das brincadeiras? Fala pra gente do que você gostava de brincar.
R – De boneca eu brincava bastante. Acho que em casa mais essas coisas de filha única (risos), porque eu não tinha como brincar de esconde-esconde, essas brincadeiras com mais gente. Mas na escola sim, na escola esconde-esconde, pular corda.
P/1 – E nessa sua meninice, o que você queria ser quando crescesse?
R – O que eu queria ser? Putz, eu fazia ginástica olímpica, então eu queria ser ginasta. Eu fiz por sete anos e aí eu quis por um bom tempo ser ginasta.
P/1 – E da escola, o que você se lembra de começar a ir pra escola?
R – De começar a ir pra escola? Não sei, minha mãe fala que no começo eu não gostava muito, mas eu estudei numa escola muito pequena, até a oitava série eu estudei basicamente com as mesmas pessoas, então eu lembro mais disso, eu acho. Era acolhedor.
P/1 – E como era essa escola que você falou pequena, acolhedora? Mas a relação com as amigas, os amigos, os professores?
R – Ah, eu tinha duas super amigas e minha mãe também era um pouco amiga das mães delas. E não sei, eu vivia na casa delas, elas viviam em casa. A Alice que é uma super amiga, eu passava muito tempo na casa dela. Ela tem mais quatro irmãos, acabava convivendo com os irmãos dela também, que também eram da escola.
P/1 – E o que era uma coisa que vocês sempre faziam quando estavam juntas?
R – A gente brincava de fantasia, de boneca, mais isso.
P/2 – E como era passar férias no Rio?
R – Eu não tenho primos da minha idade e eu passava com meus avós, fazia vários programas com eles. A gente ia pra Sepetiba, que é uma casa que eles têm lá, perto do Rio.
P/1 – Tinha alguma coisa que você gostava de fazer com eles nesse período de férias, nessa cidade perto do Rio?
R – A gente ia pro centro de Sepetiba, às vezes, comprar peixe. No Rio mesmo a gente ia pra pracinha, minha avó me levava na pracinha. A gente ia ao cinema, fazia esses programas. Ah! Eu lembro que teve umas férias que comecei a fazer miçanga, aí a gente ia em todas as lojas de miçangas pra ver o que tinha de pedrinha, fio de nylon (risos), foi a maior produção de miçangas. Mas eu convivia muito com adulto nessas férias. Eu tinha primos mais novos que eu via às vezes mas ficava mais com meus avós.
P/1 – E conta pra gente ainda da escola, como surgiu a história de começar a fazer ginástica olímpica, como é que foram esses primeiros contatos com esse esporte?
R – Minha mãe trabalhava muito quando eu era pequena e quem meio que me criou um pouco foi a Quitéria, que era uma moça que trabalhava em casa. E aí, sei lá, em São Paulo não tinha tanta opção. No Rio tinha praia, tinha mil coisas pra fazer, em São Paulo a gente acabou frequentando um clube e eu fazia natação, balé, ginástica olímpica, tudo. E eu comecei a fazer ginástica olímpica com essas amigas que também eram da escola e eu fiquei sete anos. Balé e natação não gostava tanto.
P/1 – E qual das modalidades na ginástica olímpica que você gostava mais de fazer, se dava melhor?
R – Eu fazia mais solo, que era o que eu mais gostava e era o que mais tinha lá também (risos).
P/1 – E você lembra de algum campeonato, alguma apresentação sua que tenha ficado marcada, que você gostou mais de fazer ou que ensaiou mais, ou que a roupa era mais legal?
R – A gente participou de uma competição, acho que eu tinha uns dez anos na época. Foi num clube, nem lembro que clube era, mas tinha duas modalidades solo e salto. E foi uma preparação porque a gente nunca participava de nada, essa primeira foi uma super novidade. E eu acabei ganhando prata, foi bom. Mas eu não continuei mais depois disso, acho que eu parei logo em seguida, nem sei por quê.
P/1 – E conta como é que foi que aconteceu quando chegou na oitava série, hora de mudar de escola, como é que foi esse período pra você?
R – Eu estudava nessa escola pequena e que ia até a oitava série e eu estava lá desde que eu vim pra São Paulo. Ela foi ficando cada vez menor porque a minha sala quando era menor tinha 30 pessoas, depois foi pra 20 e no último ano, na oitava série, tinha oito pessoas. Era uma coisa muito fechada, tipo, a gente passou dois anos com oito pessoas, era uma escola super acolhedora, estava quase em casa. Mas foi bom ter mudado de escola, ter ido para uma escola maior. Eu fiquei bem animada na época.
P/1 – E o que você sentiu no primeiro dia de aula do colegial? De estar grande, de ter mais responsabilidades, de estar numa escola maior.
R – Não lembro muito bem, eu lembro que eu estava viajando e cheguei atrasada na primeira semana. Eu acho que eu estava mais preocupada com isso, de chegar atrasada na escola nova, do que com a escola em si, com essas mudanças.
P/2 – Como foi escolher a escola que você ia depois de ter passado tanto tempo na mesma, como foi isso?
R – Foi difícil porque tinha umas provas, sei lá, eu prestei umas provas que eu acho bem absurda essa ideia de ter quase um vestibular para uma criança, adolescente de oitava série. Mas aí eu prestei essas provas e tinha outras escolas mais tranquilas e eu acabei indo para uma escola que tinha o perfil um pouco parecido com a que eu estudava, que era uma coisa mais construtivista, era uma linha mais parecida. Mas eu fui sozinha, nenhuma das minhas amigas foi para essa escola. Foi mais por isso, a escola foi mais através disso.
P/1 – E qual é a sua relação com os Estados Unidos, com o inglês, de ter nascido lá?
R – Putz, não tenho muita relação. Eu fui pra lá uma vez com meu pai quando eu tinha uns 12 anos e a gente passou um mês lá, tipo a gente ficou na casa de um amigo dele, brasileiro, que estava no Brasil na mesma época. Acho que ele até ficou na casa do meu pai também, rolou uma troca. Mas não sei, eu não tenho muita relação. Inglês eu falo, mas não é nada de tão excepcional e não é uma relação muito grande, não.
P/1 – E como que foi chegando, à medida que iam sendo desenvolvidos os anos na escola, do colegial, que veio essa ideia do intercâmbio, como que isso aconteceu pra você?
R – Eu fui pra essa escola, eu acho que eu imaginava uma outra coisa. E no começo foi meio difícil, eu não estava gostando tanto. Eu tinha amigos, fazia programas, tinha várias coisas, mas não tinha uma ligação tão grande. Acho que isso foi bem mais fácil pra mim, porque eu passei um ano e meio nessa escola, foi legal, mas... Ah, não tinha tanto vínculo assim pra deixar de ir, sabe? Eu acho que o vínculo que eu tinha com escola, amigo, essa coisa mais forte foi da oitava série nessa outra escola.
P/1 – E como você ficou sabendo do intercâmbio que tinha, o que te fez querer ir?
R – Então, uma super amiga, a Alice, que eu comentei, ela ia fazer intercâmbio também e ela ia pra Alemanha. E ela falou desse programa do AFS, ela já tinha decidido em novembro, eu comecei a ver no começo do ano, no começo de 2011. Eu achei super legal a ideia da organização ser completamente voluntária e de você poder escolher, essa ideia de ter os países e você não cair num lugar específico também e eu comecei a ir atrás disso. Mas eu fui um pouco depois, comecei a ver em fevereiro, março. A minha primeira opção era França, mas acabei indo pra Alemanha também (risos). Eu até encontrei a Alice na Alemanha quando eu estava lá, a gente foi no mesmo período, só que ela passou seis meses e eu fiquei um ano.
P/1 – E como foi chegar e contar isso pra sua mãe, de que você estava a fim de ir pro intercâmbio?
R – Acho que foi tranquilo. Eu comentei, ela achou super interessante a ideia de fazer um intercâmbio e meu pai também. E como eu estava super atrasada, eles super me ajudaram a ir atrás de tudo pra conseguir logo, pra conseguir ir em agosto. Não teve nenhum impedimento nesse sentido.
P/1 – E conta como é que foi o processo de começar o preenchimento das fichas, ver se vai ou não vai, como é que foi esse processo de seleção, de lugar, tudo isso?
R – Eu tinha um prazo muito apertado, eu tive que preencher eu acho que em três semanas, um negócio assim. E tinha ficha de saúde, tinha recomendação de professor, eu acho que essa recomendação de professor eu não lembro direito o que era, mas tinha alguma coisa, eu acho que pra ver o nível de inglês, alguma coisa assim. E essas coisas que foram mais complicadas de ir atrás com tão pouco tempo. Tomar vacina, estar com tudo preenchidinho. Mas de resto foi tranquilo, depois disso eu acho que eu recebi a resposta umas duas semanas depois e aí já com o país, já com a Alemanha.
P/1 – E o que aconteceu quando você ficou sabendo que era para a Alemanha que você estava indo?
R – Eu fiquei um pouco assustada, mas eu gostei da ideia em seguida. É porque eu já falava um pouquinho de francês, por isso que eu tinha colocado França como primeira opção. Eu fiquei interessada, mas sabia muito pouca coisa da Alemanha, não sabia falar alemão, não sabia nada disso. Aí fui atrás de tudo, comecei a fazer aula particular, depois fui pro Goethe. Mas assim, dava pra falar as coisas mais básicas, de resto acabei correndo atrás no intercâmbio mesmo.
P/1 – E como é que foram as suas orientações antes de ir, você participou de alguns encontros?
R – Participei de dois encontros. O primeiro encontro foi logo em seguida da resposta do país, eu falei que ia para a Alemanha. Ah não, teve uma primeira reunião que foi acho que no primeiro andar de um prédio e eles apresentavam o projeto do AFS, tinha um voluntário que explicava tudo, era o Guto. Isso eu acho que foi antes de eu preencher as fichas. Depois teve o primeiro acampamento que foi acho que em Atibaia e tinha pessoas que eu já conhecia desse primeiro encontro, mas cada um ia para um lugar diferente, tinha muita gente que ia pros Estados Unidos, tinha gente que ia pra França, não lembro os outros países, mas pra Alemanha tinha só uma menina, que acabei até encontrando lá também. E depois teve um outro intercâmbio na véspera, quer dizer, um mês antes da gente ir, que foi mais pra dar as orientações de como seria a viagem. Não sei, tinha atividades de interação e pra preparar mesmo. A gente tinha que escrever uma carta pra daqui um ano a gente abrir no acampamento de volta.
P/2 – E o que você sabia da sua família antes de você viajar?
R – Eu demorei muito pra descobrir quem era a família porque quando eu fui eu acho que muita gente foi pra Alemanha também e estava com falta de família (risos). Minha viagem era para eu ter ido em setembro, tipo, no meio de setembro, e acabei indo no meio de outubro porque não tinha família. Mas não sei, nesse meio tempo eu fiquei super ansiosa (risos) porque a gente mandava um perfil com as fotos, o que a gente gostava e a família é que decide quem ela quer receber. E não tinha resposta nenhuma, e a data da viagem estava chegando e eu não sabia muito pra onde eu ia, pra que cidade eu ia. Mas acho que dez dias antes de eu ir eu recebi um e-mail da família super fofo. Que eles moravam numa cidade bem pequena. Então tem isso, né? Isso de você não saber onde você vai cair, você pode cair numa cidade grande ou numa cidade minúscula. A Alice, essa minha amiga, caiu em Hamburgo. E conheço outras pessoas também que caíram em lugares completamente diferentes. Essa cidade que eu fiquei era Mettmann. E foi isso, acho que eu troquei dois e-mails antes de ir e fui.
P/1 – E o que você sentiu quando viu ali, um e-mail diferente, as explicações deles, um pouco apresentação de quem eles eram?
R – Ah, foi bem fofo o e-mail. Foi grande. Eu lembro que eu demorei muito tempo pra conseguir entender tudo (risos) porque estava em alemão. Depois eu expliquei que eu ainda não falava muito bem alemão, tal, eles mandaram em inglês. Mas assim, eu fui quase no inverno, então eles falaram: “Ah, quando você chegar a gente vai comprar roupa de frio, aqui ainda não está muito frio, mas vai ficar daqui a pouco”. Eles foram super atenciosos no e-mail.
P/1 – E como foi o processo de você arrumar as coisas pra ir? De repente comprar um presentinho pra levar, ou colocar as suas coisas na mala, ver que de fato estava chegando perto, o momento de ir embora.
R – Foi um pouco isso. Eu não levei muita coisa de roupa porque eu não tinha muita roupa de frio para o frio que ia estar lá. Isso dos presentes foi um pouco mais difícil porque não sei, eu queria levar alguma coisa que fosse típico daqui, mas que não fosse um estereótipo. Sei lá, levar um livro de fotos, mas que não fosse um livro de praia com coqueiro só e samba. Eu lembro que eu fui numa livraria procurar e foi bem difícil, eu vi uns três livros, aí fiquei meio em dúvida se era isso mesmo que eu queria mostrar ou não (risos). Eu acabei levando doce de leite, levei um CD do Caetano, levei um CD de Chorinho também e levei acho que um do Gil, não sei, eu levei alguns CDs na verdade, eu lembro desses três. E aí não sei se eu dei livro, eu não lembro agora. Mas levei mais essas coisinhas. Levei, é, acho que isso, mais CD.
P/1 – E como foi o momento de despedida dos seus pais, a hora de embarcar mesmo e começar a pensar sobre a experiência que você ia ter em seguida?
R – Eu acho que foi tranquilo porque eu queria muito ir, eu já estava atrasada um mês, então não teve tanto drama assim. Acho que a ficha caiu quando eu cheguei lá. Não quando eu cheguei, quando eu cheguei ainda estava ok, mas acho que no segundo, terceiro mês acho que a ficha começou a cair que ainda tinha mais seis meses (risos). Mas de despedida foi tranquilo, sem muito drama.
P/1 – E chegar lá? Como é que foi encarar essa nova família, chegar na casa deles, descobrir tanto a cada como a rotina?
R – Ah, foi bem diferente. Porque eu cheguei de manhã no aeroporto, que era em Frankfurt, aí um voluntário do AFS, acho que tinha eu e mais seis brasileiros chegando, acho que tinha três voluntários e cada um levou duas pessoas pras cidades. E eu fui com ele até uma estação de trem, ficava próxima da cidade, de Dassel e encontrei a família hospedeira lá, os quatro foram me buscar. Eles foram simpáticos. No começo eu não tinha muito, falava um pouco mais em inglês, mas... ah, eles me mostraram a cidade. O Thobias, que é o pai dessa família, ele é guarda florestal, e eu lembro que no primeiro dia ele me levou na floresta pra conhecer. E era um lugar completamente diferente daqui e do que eu imaginava também (risos). E na escola eu comecei acho que uns dois dias depois que eu tinha chegado, em seguida eu tive férias de duas semanas e na volta eu acabei indo falar com as pessoas um pouco mais.
P/1 – E como é que era essa escola?
R – A escola era muito grande porque essa cidade era a maior ali na região. Quer dizer, na região mais ou menos, na região pequena, porque do lado só tinham vilarejos, então as pessoas que moravam nesses vilarejos iam para essa escola. E na Alemanha eles têm uma separação das escolas que é diferente porque eles têm o Gymnasium, que são pra pessoas que querem fazer vestibular e ir pra faculdade. Aí tem a outra que é a Realschule, que é uma escola que vai até, não sei ao que corresponderia aqui, acho que até a oitava série, mais ou menos, não sei, pode ser que não seja, mas é pra curso técnico depois. E aí tem uma outra escola. E nessa cidade tinham essas duas. E essa decisão é feita pelos professores quando as crianças estão na quinta série, mais ou menos. É meio injusto assim. Eu acabei indo para o Gymnasium, que era a escola que as duas irmãs frequentavam também.
P/1 – E como é que eram essas duas irmãs? Elas tinham mais ou menos a sua idade, eram mais novas? Como era o relacionamento com elas?
R –Eu fui com 17 anos. Na época a mais nova tinha 11 e a mais velha tinha 13. Eu era mais próxima da mais nova, mas depois fui ficando próxima das duas. Mas elas eram fofas.
P/1 – E como é que foi ir descobrindo as coisas em alemão durante o processo do intercâmbio? Ter esse começo que usava bastante o inglês pra depois ver que você já estava se virando sozinha e já estava conseguindo se virar mais tranquilamente e seguramente no alemão?
R – Não sei, eu acho que eu não lia muito lá, no começo não tinha muito. Eu lia algumas coisas, mas eles até me emprestaram livros mais fáceis pra começar a ler. Eu lembro que eu começava a anotar mais, tipo, gíria, ou, não sei, tinha uma mania de falar, pra tudo que estava ok eles falavam genau, que é exatamente. Essas coisas que são muito frequentes eu começava a anotar mais do que, sei lá, construção gramatical, sabe? E aí, aos poucos dava para fazer as associações, tipo, sei lá, estava na mesa jantando e aí alguém falava: “Ah, me passa o leite”. Eu já sabia que o leite era aquilo, ou tipo, como eles falavam pra passar o leite. Mas acho que foi mais no dia a dia, fazendo essas associações e perguntando.
P/1 – E qual foi uma das coisas de choque cultural que você sentiu, que eles faziam e era muito diferente do que você estava acostumada, ou alguma outra, por outro lado, que era muito parecia?
R – Hum, deixa eu ver. Ai, agora eu não sei. Tinha coisas pequenas de jeito. Eu lembro que a primeira vez que eu saí com uma amiga da escola, ela me chamou pra sair duas semanas antes. E isso eu achava muito estranho, tipo, ela já tinha marcado pra duas semanas e eu nem sabia o que ia fazer no dia seguinte (risos). E eles tinham essas coisas de deixar bem explicadinho o que vai ser, o que vai fazer. E isso eu demorei um pouco pra, não sei, me sentir à vontade. Acho que isso foi mais diferente.
P/1 – E dessa experiência toda o que mais te chamou a atenção? Alguma coisa que aconteceu? De repente uma atitude, sei lá, uma amizade.
R – Ah não sei, eu acho que tudo em geral, a experiência toda. Porque eu acho que eles foram super atenciosos, sei lá, receber uma pessoa que eles não conheciam por um ano em casa, me levaram pra viajar, a gente teve uma relação bem legal, a gente tem uma relação legal até hoje. E acho que foi bem importante ter conhecido eles. Deixa eu ver... Eu acho que em geral, sei lá, nunca tinha pensado em morar numa cidade tão pequena por tanto tempo. E não sei, acho que é bom também ter essa noção do tempo, acho que isso foi importante porque, sei lá, lá tinha muito tempo pra fazer tudo, o tempo não passava (risos). E tinha tempo pra ler, pra desenhar, pra passear com cachorro, fazer mil coisas que aqui não dá muito tempo de fazer. E acho que essa noção do tempo foi importante, foi diferente .
P/1 – E qual foi uma que você considera dificuldade dessa experiência, desse período de intercâmbio?
R – Eu acho que um pouco isso também, porque isso teve um lado bom de começar a fazer mais coisa, mas isso do tempo às vezes não passar, não sei. Ou de você ver que você está em janeiro e só vai embora em julho, tipo, é legal que você ainda tem seis meses, mas dá um pouco de aflição de ver. E aí, às vezes eu ficava meio ansiosa com isso, eu comia muito (risos), lá eu engordei muito também. Acho que essas coisas foram as mais difíceis.
P/1 – E o contato com a sua família aqui como é que era nessa fase? Porque como eu te falei, a gente conversou com bastante gente que foi de intercâmbio em épocas que não tinham todas essas facilidades de comunicação, de tecnologia, de viagens, tudo isso. Como é que foi pra você esse processo de comunicar-se com a sua família aqui ou do contato com eles aqui?
R – Eu não falava tanto. Eu levei o computador, eu tinha internet, tinha tudo, mas a gente meio que combinou de se falar uma vez por semana, uma vez a cada duas semanas, sem uma regra concreta, mas a gente não se falava todo dia. E quando a gente se falava, a gente se falava mesmo, era por Skype, falava por meia hora, uma hora.
P/1 – E o que você sentia quando via a sua mãe ou o seu pai ali do outro lado do computador?
R – Ah, era uma sensação boa de ver que eles estavam bem, falar com eles, falar em português, mas não sei, eu não tinha vontade de voltar imediatamente. Tipo, eu não ficava tão mexida assim.
P/2 – E alguma história peculiar, alguma confusão de língua, de se perder, que tenha acontecido com você?
R – Ah, teve uma vez que eu fui passear com o cachorro. Nessa cidade tinha uma livraria e eu acabei ficando amiga do dono da livraria, eu passava lá, conversava um pouco com ele. E foi a primeira vez que eu fui passear com o cachorro, eu nunca tive cachorro na vida (risos). E a Helen, que é a mãe dessa família, sempre que passava em algum lugar amarrava o cachorro no poste e entrava no lugar. E nesse dia eu fiz isso, eu amarrei o cachorro no poste, fiquei cinco minutos dentro da livraria, eu saí e o cachorro não estava lá. Eu fiquei desesperada, eu estava lá há três meses, eu acho, não sabia o que fazer. Eu: “Puta, perdi o cachorro. E agora, como eu vou voltar pra casa?”. Aí eu liguei pra eles, desesperada, a irmã mais nova veio e falou que a mais velha estava com o cachorro, que ela estava chegando em casa. Acho que foi a única vez. Não, não sei se foi a única, mas rolou um desentendimento aí.
P/1 – E você voltou a sair com o cachorro depois dessa?
R – Ah não (risos). Depois dessa não.
P/1 – E como foi pra você lidar com o clima lá e ver a neve, ver o frio, ver a transformação da cidade?
R – É bem diferente, não sei, parece que as pessoas mudam também com o clima. Tipo, no inverno todo mundo era bem mais sério, você não via muita gente. E no verão você começa a ver mais gente. Parece até que as pessoas ficam mais simpáticas, bem diferente. Eu não sei, eu nunca tinha visto neve, então no começo do inverno achei incrível, mas aí depois fui ficando meio cansada de tanto frio (risos).
P/1 – E conta pra gente como é que foi descobrir a Alemanha, esse país que você não conhecia antes e poder chegar lá e ver as pessoas, encontrar lugares também, descobrir comidas, descobrir climas, descobrir paisagens?
R – Ah, foi diferente. É que eu acabei conhecendo vários lugares diferentes da Alemanha. Assim que eu cheguei eu fui com eles para um lugar de montanha que ficava perto da cidade que eu fiquei. Depois a gente foi pro sul da Alemanha no réveillon, pros alpes. Eles me levaram pra vários lugares diferentes dali. Tipo, então não sei, era Alemanha, mas era completamente diferente do lugar que eu estava. Acho que isso foi legal, ter visto um pouco mais assim. E eu passei duas semanas em Berlim também, o que foi ótimo porque foi no meio do intercâmbio e acho que foi o lugar mais próximo de São Paulo que eu estive lá, foi bom passar um tempo na cidade grande fazendo outras coisas.
P/1 – Você contou que você foi pra Berlim pra fazer o estágio da escola. Conta como é que foi isso, as atividades, o que você escolheu pra fazer.
R – Então, eu fui porque na época eu queria fazer Cinema e uma amiga da minha mãe mora em Berlim e ela disse que eu podia ficar na casa dela e que tinha uma amiga dela que trabalhava com filme Super 8, fotografia analógica e que eu podia acompanhar, que eles tinham um... Nossa, era um lugar muito legal! Era uma piscina abandonada com um prédio gigantesco e era uma ocupação e as pessoas tinham vários ateliês. E o ateliê dela, que ela dividia com mais umas dez pessoas ficava nesse prédio. E as exposições mesmo aconteciam na piscina. Eram exposições coletivas, era um esquema muito legal. E eu acompanhei um pouco o que ela fazia lá, eles tinham as máquinas super antigas de filme Super 8 pra revelar e eles revelavam mesmo, tinha os químicos, editavam depois, tinha uma telinha, eles iam passando, um negócio completamente manual, eles cortavam filme, colavam. Foi legal ver. Ela trabalhava lá e em outro lugar, a gente ficava umas três, quatro horas lá e depois ela ia trabalhar.
P/1 – E o que você aprendeu com isso tudo de acompanhar ela, de ver esse tipo de trabalho?
R – Não sei, eu fiquei super interessada na época e agora estou estudando Artes Visuais, acho que tem um pouco a ver. Não. Acho que eu comecei a ter mais interesse, não só pelo cinema, mas pela coisa mesmo, de ver sendo feito. E tipo, deles fazerem, de duas pessoas conseguirem fazer um curta ou uma animação. Eu acho que eu fiquei interessada nisso, de não depender de tanta gente pra conseguir fazer um projeto, e tem um pouco a ver. E comecei a pensar nessas coisas depois dessa viagem, essa viagem foi bem importante.
P/1 – E conta como é que foi o processo de perceber que estava chegando no fim a experiência do intercâmbio, que já estava verão, já estava quente, que já estava quase na hora de voltar.
R – No verão parece que tudo fica bem mais fácil (risos). E é estranho isso, de que você já está se adaptando a tudo, você já tem mais amigos, você já está numa relação mais íntima com a família, já está falando melhor alemão. E voltar é meio estranho, a ideia de voltar no começo parece ser meio estranha, voltar e começar a fazer tudo de novo aqui. Mas eu acho que tinha um lado que eu queria voltar pra ver meus pais, ver meus amigos, mas não sei, eu acho que foi um pouco difícil a volta. Acho que talvez mais aqui do que lá. Lá eu aproveitei bastante o final, mas aqui você chega e tipo, ah, não sei, é meio chato ter que entrar de novo na escola, ter que fazer amigos, prestar vestibular. Parece que as coisas mudaram mas não tanto assim também.
P/1 – Fala pra gente como é que foi encontrar com a Alice lá na Alemanha e também com a outra intercambista brasileira, ali, no meio da Alemanha mesmo.
R – A Alice morou em Hamburgo e eu fui passar um final de semana na casa dela, dos pais dela. E foi interessante passar dois dias lá pra ver como era a rotina, ver um pouco o que ela estava vivendo lá. E depois ela veio passar um final de semana também lá em Dassel. Então foi legal, conheci alguns amigos dela, ela tinha vários amigos intercambistas e acho que uns dois amigos alemães e aí eu acabei conhecendo. E os outros brasileiros eu encontrei mais nos acampamentos, que a gente teve três acampamentos e tinha uma viagem também de duas semanas, que a gente escolhia um projeto, tinha um projeto pra cada lugar diferente. Eu fui pra Colônia, era um projeto sobre imigração e tinha um workshop de dois dias e depois eu passei duas semanas na casa de uma família de lá. E foi o tempo que eu mais convivi com intercambista porque nessa mesma casa ficou a Vera, que é uma húngara. E era super difícil a comunicação no começo porque ela é húngara e ela estava morando no sul da Alemanha, que é um outro dialeto, não chega a ser um dialeto, mas é bem diferente. Ela falava esse alemão com sotaque húngaro e eu outro alemão com sotaque brasileiro (risos). Demorou pra gente conseguir se entender, depois a gente ficou amiga. Foi quando eu mais convivi com intercambista, o que era legal também porque tinha pessoas de vários países diferentes. Tinha uma italiana, que eu fiquei amiga, e uma russa. E nos acampamentos você acabava encontrando outros intercambista. Esse de Dassel não tinha muitos, então acabava encontrando só nos acampamentos. Mas era bom ver brasileiro às vezes, encontrar. Eu até tinha uma amiga da Bolívia que eu sempre encontrava nos acampamentos e não sei, era muito mais próximo do que um alemão (risos), parece que você tem mais relação com alguém que fala espanhol, tipo é até bom ouvir espanhol, você consegue entender muito melhor uma coisa, que flui muito mais. Era bom pra descansar, pra parar de falar alemão um pouco.
P/1 – E conta como foi o projeto que você desenvolveu nesse acampamento em Colônia.
R – Foi esse workshop que parecia com as atividades dos acampamentos mesmo, mas aí tinha uma relação com imigração, era a única diferença. Mas era essas atividades de fazer cartaz, essas coisas. Foi mais legal o tempo lá, acho que eu lembro mais do tempo lá do que as atividades mesmo.
P/1 – E conta dos amigos que você trouxe desse intercâmbio, como é que foi começar essas amizades, você falou um pouco da Vera, da boliviana. E quem mais que você trouxe com você depois dessa viagem.
R – Lá na escola que eu estudei, eu fiz amigos e tinha uma super amiga de lá que fez intercâmbio e foi pro Chile depois. Ela foi pro Chile em seguida, eu vim pro Brasil, uma semana depois ela foi pro Chile e passou um ano lá. E eu encontrei com ela no Chile em janeiro, eu passei uma semana na casa dos pais hospedeiros dela. Ela morou numa cidade pequena também lá no Chile, perto de... Não lembro o nome do lugar agora. A cidade chamava Los Angeles, mas era no Chile (risos). E a gente viajou também, a gente passou um fim de semana fora com a família hospedeira dela, a gente ficou um tempo lá. Eu ainda falo bastante com ela, com a minha família hospedeira eu falo bastante também. Com quem mais? Nessa viagem de Colônia eu fiz vários amigos que eu acabei não encontrando depois, mas eu falo às vezes no Facebook. Tinha um colombiano, tinha um outro brasileiro, quem mais? Tinha um italiano também e aí tinha a Iulia, que era a russa, e a Vera, que é a húngara.
P/1 – Você falou um pouco como é que foi o seu retorno, mas fala como é que foi terminar a escola, esse processo já aqui, da volta.
R – Foi muito corrido porque eu tive que mudar de escola. Eu fui pra Alemanha no segundo semestre do segundo ano e voltei pra acabar, pra fazer o último semestre do terceiro. E na escola que eu estava eu ia ter que repetir, eu não queria repetir e eu acabei mudando de escola pra fazer só o último semestre e prestar vestibular direto. Eu acabei indo pra uma escola nova, não conhecia ninguém. No começo eu estava com um pouco de preguiça de ter que fazer tudo de novo, conhecer todo mundo de novo. Mas foi ótimo, eles foram super receptivos. E nessa sala que eu fiquei, antes de eu chegar tinha um intercambista do AFS também que estava morando em São Paulo, que era um turco que eu nem cheguei a conhecer, mas ele foi embora e eu cheguei (risos). Eles eram super receptivos, foi bem tranquilo. Mas isso de chegar e ter que fazer vestibular é que foi mais chatinho, eu não estava na... Eu fiz, estudei um pouco, mas não estava, tinha uma pressão um pouco maior mas eu ainda não estava dentro disso tudo, eu acabei fazendo um ano de cursinho depois e foi tranquilo.
P/1 – E como é que foi esse ano de cursinho e escolher a carreira que ia fazer, prestar o vestibular depois desse um ano de estudo.
R – Eu prestei Ciências Sociais. Eu queria muito fazer cinema e de última hora eu comecei a ficar mais interessada em Ciências Sociais. Eu prestei, passei na primeira fase, mas não passei na segunda e aí comecei a fazer cursinho. Acho que Ciências Sociais foi uma ideia meio rápida, não durou muito tempo e eu acabei prestando, agora eu estou fazendo Artes Visuais que eu acabei prestando depois. Eu não sei, na época e eu ainda acho que é um pouco mais amplo do que Cinema e do que eu queria fazer com cinema. Eu estou gostando.
P/1 – E como foi passar na USP, estar lá na ECA [Escola de Comunicação e Artes] com um monte de gente diferente, com todas essas possibilidades da graduação, um pouco também das suas expectativas?
R – Foi ótimo. Depois de um ano de cursinho eu sair de lá era a melhor coisa possível (risos). E não sei, você começa a fazer cursinho e você entra naquele pique de ter que passar, ter que passar na ECA. E foi ótimo ter rolado. O bom de lá é que dá pra pegar matérias em Cinema ou na Cênicas, ou na FAU [Faculdade de Arquitetura e Urbanismo], FFLCH [Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas]. Enfim, eu acho que isso é o mais legal.
P/1 – E conta como foi quando seus pais hospedeiros começaram a ter a ideia, ou o convite, de vir para o Brasil te visitar.
R – Eu já tinha convidado, mas é aquela coisa que eu não achei que fosse rolar tão rápido, mas foi ótimo. Eles passaram duas semanas aqui e pra eles foi um choque gigantesco também porque eles nunca tinham visto um prédio na vida. E eu moro do lado da Paulista, eles chegaram e já viram, saíram de casa, foram pra Paulista e tomaram um susto. Mas foi um pouco isso, tipo, eu não sabia muito bem pra onde levar eles. Eles queriam andar de metrô, a gente foi. Aí eu levei eles lá no Sesc Pompeia, que eles adoraram, levei no centro. E eles ficaram doentes aqui, os quatro. Primeiro as duas irmãs ficaram com dor de barriga e depois os pais, eu acho que a comida, não sei. Acho que tudo. Em São Paulo foi um pouco isso, um fica doente, o outro vai passear e o outro fica doente (risos). Aí eles ficaram em casa, na casa da minha mãe e eles foram na casa do meu pai também, viram um pouco onde eu moro. Aí conheceram meus pais. Minha mãe eles já tinham conhecido porque ela foi pra Alemanha quando eu estava lá. Ela foi nessa casa que eu estava, na casa deles, ela passou um dia lá. E depois a gente foi pro Rio e eles ficaram na casa dos meus avós e a gente acabou aproveitando pra fazer a festa junina enquanto eles estavam lá. É uma festa junina em Sepetiba e essa casa que minha avó tem que fica a uma hora do Rio. E aí tem fogueira, tem quadrilha, corrida do saco, tudo. Eles gostaram muito mais do Rio do que de São Paulo. No Rio eles foram à praia, no Jardim Botânico, eles preferiram.
P/1 – Conta pra gente como está a sua rotina hoje em dia.
R – Hoje em dia? Eu voltei a fazer alemão, eu comecei a fazer no semi-intensivo que eram seis horas por semana mas agora eu estou num esquema mais light, que é o extensivo, que são três horas. É que minha rotina vai mudar bastante agora. No semestre passado, o meu curso é integral, mas alguns dias eu tenho aula de manhã e outros dias eu tenho aula depois do almoço. Então eu ia pra aula de manhã, ou depois do almoço, daí segunda e quarta eu tinha alemão à noite, das oito e meia às dez. Eu estava fazendo um curso de gravura também no Sesc Pompeia, que era sexta-feira das duas às oito. E o que mais? Ah, eu fico bastante tempo na faculdade pra usar os ateliês, pra produzir. É meio essa a rotina.
P/1 – E quais são as coisas mais importantes pra você hoje?
R – As coisas mais importantes? Hummm. Ah, como assim? Muito difícil essa pergunta (risos).
P/1 – Ah, uma das coisas que você mais gosta de fazer ou que te importa mais.
R – Ah não sei, eu estou gostando da faculdade. Não sei, está tudo andando, caminhando.
P/2 – O que esse ano de Alemanha mudou em você, que você voltou diferente, personalidade, alguma coisa que você tenha aprendido lá e que você vai trazer para o resto da vida?
R – Não sei, eu acho que lá eu fiz várias coisas que eu não me imaginava fazendo, eu falaria não de cara. Eu acho que não sei, eu ainda falo, mas eu penso um pouco mais antes, eu acho. Eu acho que eu estou um pouco mais aberta do que quando eu fui.
P/1 – E do que você sente mais falta?
R – Do que eu sinto mais falta? Ah, acho que deles, da comida bastante também (risos). Acho que isso que eu falei também, de ter mais tempo. Acho que isso. E de estar num lugar novo que você não conhece tudo completamente, sai um pouco da rotina, do cotidiano. Isso era legal também.
P/1 – E quais são seus sonhos?
R – Meus sonhos? Ah, eu queria acabar de fazer alemão e traduzir coisas. Eu queria morar fora de novo, queria morar lá um tempo também. Acho que no momento esses.
P/1 – E o que você acha dessa iniciativa do AFS de contar a sua história dessa forma, pela trajetória de vida de pessoas diferentes que fazem parte da história deles?
R – Eu acho legal, acho interessante isso porque são histórias muito diferentes uma da outra. E não sei, acho o projeto do AFS interessante, de ser uma coisa voluntária, das pessoas receberem intercambistas porque estão a fim de receberem intercambistas. E vão mostrar coisas pra eles, vão ter uma relação com eles. Eu acho interessante.
P/1 – E você se imagina voltando pro AFS, fazendo alguma atividade outra com eles, de repente?
R – Eu queria receber alguém, mas por enquanto ainda não dá porque eu acho que eu estou com pouco tempo pra receber e dar toda essa atenção para um intercambista. Mas não sei, acho que quando eu morar sozinha talvez eu receba alguém.
P/1 – Tá certo. Então em nome do AFS e também do Museu da Pessoa, Nina, a gente agradece a sua entrevista, muito obrigada.
R – Obrigada.
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