Tenho três irmãos, dois irmãos homens e uma irmã caçula. Eu fui filha caçula e filha única durante sete anos, porque a minha irmã é temporona. E eu tive uma infância muito boa, infância de interior muito boa, a gente brincava muito e a gente sempre foi uma família muito de atleta, família que gostava de esportes. Então, todo mundo era da equipe de natação do clube. Sempre quando eu falo “todo mundo” são os três primeiros, minha irmã era temporona, ela nunca participou muito e, depois, a gente jogava basquete, então a gente esteve sempre muito envolvida com o esporte na infância. E nessa minha infância, meus pais resolveram hospedar um estudante estrangeiro em casa que era uma coisa assim, meio fora, na década de [19]70. A família foi se abrindo para o mundo acho que a partir daí.
Eu tinha uns dez anos, por aí, eu era bem criança. Ele veio para ficar um ano em casa, que seria companheiro do meu irmão mais velho mas, mesmo assim, ele era um pouco mais velho ainda que o meu irmão. E foi uma experiência incrível, deu muito certo, ele comenta até hoje que ele é parte da família e foi num ano muito interessante que foi no ano de [19]70, que o Brasil foi tricampeão mundial de futebol. Ele tinha ascendência italiana, então, a gente fazia aposta, ele não sabia se ele torcia para o Brasil ou… Ele torcia para o Brasil, mas a família dele torcia para a Itália e foi muito interessante conviver assim. Eu não convivi muito, ele era muito mais velho, era um rapaz, eu era uma menina, uma criança ainda, mas depois, a gente continuou esse contato, ele voltou para cá muitas vezes, eu já visitei, meu irmão já visitou, até a vó dele já teve aqui. Então, foi uma relação que começou e não acabou ainda.
Eu me lembro que depois de muitos anos, o Davis que morou em casa em 70 contava que ele chegou aqui e a primeira refeição foi arroz com feijão. No dia seguinte, arroz com feijão. Ele falou: “Deve ter feito...
Continuar leituraTenho três irmãos, dois irmãos homens e uma irmã caçula. Eu fui filha caçula e filha única durante sete anos, porque a minha irmã é temporona. E eu tive uma infância muito boa, infância de interior muito boa, a gente brincava muito e a gente sempre foi uma família muito de atleta, família que gostava de esportes. Então, todo mundo era da equipe de natação do clube. Sempre quando eu falo “todo mundo” são os três primeiros, minha irmã era temporona, ela nunca participou muito e, depois, a gente jogava basquete, então a gente esteve sempre muito envolvida com o esporte na infância. E nessa minha infância, meus pais resolveram hospedar um estudante estrangeiro em casa que era uma coisa assim, meio fora, na década de [19]70. A família foi se abrindo para o mundo acho que a partir daí.
Eu tinha uns dez anos, por aí, eu era bem criança. Ele veio para ficar um ano em casa, que seria companheiro do meu irmão mais velho mas, mesmo assim, ele era um pouco mais velho ainda que o meu irmão. E foi uma experiência incrível, deu muito certo, ele comenta até hoje que ele é parte da família e foi num ano muito interessante que foi no ano de [19]70, que o Brasil foi tricampeão mundial de futebol. Ele tinha ascendência italiana, então, a gente fazia aposta, ele não sabia se ele torcia para o Brasil ou… Ele torcia para o Brasil, mas a família dele torcia para a Itália e foi muito interessante conviver assim. Eu não convivi muito, ele era muito mais velho, era um rapaz, eu era uma menina, uma criança ainda, mas depois, a gente continuou esse contato, ele voltou para cá muitas vezes, eu já visitei, meu irmão já visitou, até a vó dele já teve aqui. Então, foi uma relação que começou e não acabou ainda.
Eu me lembro que depois de muitos anos, o Davis que morou em casa em 70 contava que ele chegou aqui e a primeira refeição foi arroz com feijão. No dia seguinte, arroz com feijão. Ele falou: “Deve ter feito bastante e sobrou, né?”, mas aí no outro dia, arroz com feijão, até ele ver o que mudava era o que se colocava junto, o tipo de proteína, a salada, mas ele foi contar isso pra gente depois de muitos anos. Acho que ele ficou até constrangido, eu acho que as mudanças são sempre positivas, enriquecedoras no sentido de tolerância, no sentido de aceitar o diferente, aceitar o próximo e acho que a gente tá precisando tanto disso hoje, né?
Eu que fui a primeira intercambista da família, meus irmãos mais velhos não foram e fui para os Estados Unidos… Primeiro [a gente] passava alguns dias, uma semana, uns cinco dias fazendo uma orientação numa universidade e o Davis foi me encontrar nessa universidade, foi muito legal, só que eu morei bem distante da casa dele, ele morava na costa leste, eu morei no centro-oeste, mas eu fui passar o ano novo com a família dele e a gente se vê periodicamente, agora nem tanto. Ele esteve aqui acho que a última vez em 2006, já faz algum tempo, mas em 2001, eu recebi uma intercambista do Japão na minha casa e nesse mesmo ano, meu filho foi fazer intercâmbio na Austrália, então a gente ainda continuou com essa história de intercâmbio.
Assis sempre foi uma cidade que teve essa cultura de intercâmbio, tanto de sair, como de receber. Eu tenho uma amiga que hoje trabalha com o AFS e ela vem de uma outra cidade maior que Assis, lá próximo a Assis e ela falou: “Isso é uma característica de Assis, Assis tem muito isso, tem uma cultura de intercâmbio tanto de sair, como de receber”, e os intercambista adoram Assis.
Assis é um comitê bastante antigo do AFS, o AFS do Brasil vai fazer 60 anos, oito anos mais jovem. E Assis foi o primeiro comitê que mandou um intercambiário que era brasileiro não nato, ele não tinha nascido no Brasil, ele era imigrante e ele foi e foi um problema, porque: “Não pode, tem que ser brasileiro”, então a gente teve que fazer bastante coisa, mas ele foi do comitê de Assis. Assis foi o primeiro comitê que mandou um intercambiário que morava em orfanato, não tinha família, ele foi para Jamaica e também foi um problema, a gente teve muita satisfação com isso. Ele voltou numa idade em que o orfanato não iria mais aceitá-lo, não tinha mais a idade para continuar no orfanato, ele ia ter que mudar de casa. Então, a família da Jamaica o adotou. Ele foi adotado, foi muito lindo! Então são dois exemplos que eu tô lembrando agora que foram muito importantes para Assis, fomos os pioneiros. Então, o primeiro não nato e o primeiro órfão, menino de orfanato, ele foi abandonado pela família, ele e o irmão e ele mora na Jamaica até hoje. A família adotou.
P/1 – Primeiro, eu gostaria de agradecer a sua presença aqui, de ter aceitado o convite de vir para essa entrevista e, para começar, eu queria que você falasse pra gente o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Maria do Rosário Gomes Lima da Silva, nasci em Assis, Estado de São Paulo, em oito de janeiro de 59.
P/1 – Fala pra gente o nome dos seus pais.
R – Sou filha de Ofélia Gomes Lima e Onofre Meira Lima.
P/1 – E fala um pouquinho da ascendência da sua família, o que você sabe da origem dela? Da sua avó…?
R – Do meu pai, da família do meu pai, eu não sei muita coisa. Meu pai ficou órfão muito novo, com dez anos de idade, menos, ele já era órfão de pai e mãe. Então, a gente acabou não tendo muito contato. Da minha mãe, o pai dela veio da Espanha e veio pra cá, conheceu minha avó, casou com ela e ficou morando aqui, eram de São João da Boa Vista, foram para Assis e a gente nasceu em Assis, foi criado em Assis, eu saí e acabei voltando para lá.
P/1 – E qual é a atividade dos seus pais? O que eles faziam?
R – Minha mãe foi professora, depois se aposentou como diretora de escola estadual e o meu pai era cartorário, ele tinha Cartório de Notas.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho três irmãos, dois irmãos homens, um deles mora aqui em São Paulo, trabalha com tecnologia, meu irmão mais velho é advogado, professor de Educação Física aposentado e uma irmã caçula, que agora fez 50 anos.
P/1 – E aí, você tá em que lugar nessa escadinha? É a terceira?
R – Eu sou a terceira.
P/1 – Conta pra gente então, um pouquinho da sua infância, o que você se lembra da sua casa, como é que era ser a terceira, então ter dois irmãos mais velhos e depois uma…
R – É, pois é, e aí, eu[FP1] fui filha caçula e filha única durante sete anos, porque a minha irmã é temporona. E eu tive uma infância muito boa, infância de interior muito boa, a gente brincava muito e a gente sempre foi uma família muito de atleta, família que gostava de esportes. Então, todo mundo era da equipe de natação do clube. Sempre quando eu falo “todo mundo” são os três primeiros, minha irmã era temporona, ela nunca participou muito e, depois, a gente jogava basquete, então a gente esteve sempre muito envolvida com o esporte na infância. E nessa minha infância, meus pais resolveram hospedar um estudante estrangeiro em casa que era uma coisa assim, meio fora, na década de 70, meu pai, principalmente uma pessoa que nem muito estudo teve e aí, a gente foi se abrindo… A família foi se abrindo para o mundo acho que a partir daí.
P/1 – E como foi isso? Quantos anos você tinha mais ou menos quando aconteceu?
R – Eu tinha uns dez anos, por aí, eu era bem criança. Ele veio para ficar um ano em casa, que seria companheiro do meu irmão mais velho, mas mesmo assim, ele era um pouco mais velho ainda que o meu irmão. E foi uma experiência incrível, deu muito certo, ele comenta até hoje que ele é parte da família e foi num ano muito interessante que foi no ano de [19]70, que o Brasil foi tricampeão mundial de futebol. Ele tinha ascendência italiana, então, a gente fazia aposta, ele não sabia se ele torcia para o Brasil ou… Ele torcia para o Brasil, mas a família dele torcia para a Itália e foi muito interessante conviver assim. Eu não convivi muito, ele era muito mais velho, era um rapaz, eu era uma menina, uma criança ainda, mas depois, a gente continuou esse contato, ele voltou para cá muitas vezes, eu já visitei, meu irmão já visitou, até a vó dele já teve aqui. Então, foi uma relação que começou e não acabou ainda.
P/1 – E o nome dele? Ele era de onde?
R – Davis, ele era de Connecticut, nos Estados Unidos e depois, ele morou no Peru, morou em Portugal, porque ele estudou Ciências Políticas, então ele viajou muito estudando, fazendo pós-graduação fora.
P/1 – E voltando para a sua infância, qual que era uma das suas brincadeiras favoritas?
R – Eu gostava de brincar de escolinha, eu acho que eu sempre dizia, pensava comigo que eu queria ser professora e acabei sendo professora (risos). E de brincar na rua, brincar de pique, brincar de bola e praticar esporte. Eu era muito moleca, eu nunca fui uma menininha, nunca fui muito feminina, acho que porque eu tinha os irmãos homens, a maioria dos vizinhos eram homens, então, eu vivia uma menina moleca na rua, era pique e bola.
P/1 – E como era a sua casa lá em Assis? Onde que ela ficava?
R – Minha casa era no centro da cidade, uma cidade pequena, a gente morava no centro, então fazia muita coisa a pé, quando não era a pé, era de bicicleta. Na minha casa tinha uma coisa mais ou menos assim, acho que quando a gente fazia 12 anos, a gente ganhava uma bicicleta, sabe, que naquele tempo podia ter independência e ir para qualquer lugar. Era uma casa assim, muito bem localizada, chegava muita gente, muita gente passava por lá. Numa época em que você não precisava trancar a casa, então, a casa estava sempre aberta, as pessoas só entravam: “Ô de casa?”, né? Parece que… É, foi no século passado! (risos)
P/1 – E vocês tinham algum hábito familiar ou costume que era preservado, alguma atividade?
R – Como uma vida de interior, a gente sempre fazia as refeições juntos, o almoço, principalmente. O almoço era sentado à mesa com a família toda. Meu pai muitas vezes conseguia vir do trabalho à tarde para tomar um café em casa, passava na padaria, trazia biscoitos. A gente viajava muito pouco naquela época, então a gente era bem de reunir com a família, ir na casa da vó. Eu tinha um tio que tinha uma sorveteria na cidade. A gente ia, que morava junto com a vó, então ia visitar a vó e ia tomar um sorvete na sorveteria do tio. Uma coisa bem de interior, mesmo.
P/1 – E na escola, quais são as suas primeiras lembranças?
R – Olha, foi muito interessante a minha primeira ida à escola, porque como eu era a filha caçula, todo mundo ia para a escola e eu não e a escola era na frente da minha casa. Então, os meus irmãos, os dois irmãos meus e o filho de uma empregada também, iam e eu não ia, eu não tinha idade. Aí, eu ia pra escola num horário que eu sabia que tava perto deles saírem e ia lá para esperar eles saírem e sentava, Minha mãe trabalhava naquela escola, então eu ficava sozinha, saía todo mundo. Aí, eu sentava na escada da escola até que um dia a diretora me pôs para dentro, só que a minha mãe era muito brava e eu tinha muito medo da minha mãe e ela falou: “Eu vou te pôr para assistir aula no pré-primário” e a hora que eu passei perto da sala da minha mãe, eu me escondi porque a minha mãe não queria que eu fosse, meus irmãos ainda tiram sarro de mim até hoje, eles falam: ‘Você repetiu o pré-primário, você teve que fazer duas vezes”, que eu não tinha idade para ir. E depois, eu fui para um colégio de freiras, fiz um ano num semi-internato, eu ia de manhã e voltava só à tarde. Depois que esse colégio fechou, eu fui para a escola pública que foi uma escola muito legal, porque era uma escola que valorizava muito o esporte, tinha um time forte tanto de basquete, como de natação, então aí eu me envolvi muito com o esporte nessa escola.
P/1 – E você tinha alguma matéria favorita, algum professor que marcou?
R – Olha, acho que minha disciplina favorita era Língua Portuguesa, depois eu tive um professor que me marcou com a Língua Inglesa. Eu gostava muito dele, ele acabou virando meu professor na universidade que eu fiz Letras, ele foi meu orientador de doutorado e acabei sendo professora linguista e professora de Língua Inglesa.
P/1 – Então vamos falar assim, depois do Davis, vocês acabaram recebendo algum outro intercambista?
R – Não. Ele esteve em casa no ano de 70, aí em 76, eu que fui a primeira intercambista da família, meus irmãos mais velhos não foram e fui para os Estados Unidos e assim que eu cheguei lá… Primeiro [a gente] passava alguns dias, uma semana, uns cinco dias fazendo uma orientação numa universidade e o Davis foi me encontrar nessa universidade, foi muito legal, só que eu morei bem distante da casa dele, ele morava na costa leste, eu morei no centro-oeste, mas depois eu fui passar o ano novo com a família dele e a gente se vê periodicamente, agora nem tanto. Ele esteve aqui acho que a última vez em 2006, já faz algum tempo, mas em 2001, eu recebi uma intercambista do Japão na minha casa e nesse mesmo ano, meu filho foi fazer intercâmbio na Austrália, então a gente ainda continuou com essa história de intercâmbio.
P/1 – Antes de falar como foi a sua viagem, como foi surgindo essa vontade, indo atrás, procurando saber para ir você fazer lá em 76?
R – Então, numa cidade pequena como Assis, a gente era amigo, tanto que eu acho que até foi isso, a pessoa que coordenava o AFS em Assis na época era amiga pessoal dos meus pais por causa de clube de serviço, eles pertenciam ao Lions Clube e a gente sempre teve contato com as pessoas que o AFS era um programa muito forte em Assis na década de 70. A gente não tinha mais outros programas. Então assim, eu cresci naquele, vendo o estudante chegando, vendo amigos fazendo intercâmbio. Parecia que aquilo já iria fazer parte da minha vida: “Quando eu chegar na idade ‘x’, vai ser a minha vez” e comecei a gostar de língua estrangeira e aí foi assim, era quase que uma coisa natural: “Olha, agora tá na hora de se candidatar para fazer um programa de intercâmbio”. Mas no começo foi sofrido, era uma época em que a gente não tinha comunicação, era muito difícil se comunicar, eu fiquei um ano fora sem nunca falar com a minha família, nem por telefone. Difícil, mas foi muito bom.
P/1 – E como e que foi quando você foi aceita no programa, e arrumar mala para ir, e a mãe e o pai, de fato, perceberem que você estava indo?
R – Parece que foi uma coisa assim tão natural, parece que os meus pais também queriam muito aquilo pra mim, sabe? Parece[FP2] que era uma etapa que a gente fazia naturalmente como qualquer uma outra, sabe? “Agora vai debutar porque fez 15 anos”, “Agora vai para o colégio”, parece que era uma coisa bastante natural, embora naquela época fosse uma viagem internacional sem condições de comunicação e correu tudo bem. Claro, houve problema? Houve problema, você vai morar numa outra casa, com outros costumes, existe problema de ciúmes de irmãos, mas a gente tem que computar só… E eu[FP3] escrevia muita carta, que era o sistema de comunicação na época. Era Correios, era carta. E eu escrevia cartas diariamente, mas não postava diariamente. Então, eu escrevia, parava, aí continuava no dia seguinte, mudava a data, parava, às vezes, tinha uma carta lá de uma semana. Aí depois eu postava essa carta. Quando eu cheguei aqui de volta, depois de um ano, a minha mãe tinha feito um diário que ela mandou encadernar as cartas por ordem cronológica, eu tenho até hoje isso encadernado.
P/1 – Com toda a experiência de…
R – É, às vezes, um problema, uma coisa que eu pus lá um problemão, o problema se diluía no tempo, porque o problema era hoje, eu mandava a carta dali três dias, aí a carta levava uma semana para chegar aqui, quer dizer, quando a minha mãe sabia do problema, o problema já tinha sido solucionado! (risos)
P/1 – E para onde que você foi? Estados Unidos, né, mas como foi escolher os Estados Unidos? A cidade? Como é esse processo?
R – Você[FP4] vai dando uma série de informações sobre onde você mora, que tipo de vida você leva, como é a sua família. Então, eles tentam cruzar esses dados e te colocar num local, numa família o mais próximo possível do contexto de onde você vem. Eu morei numa família que tinham três filhos, uma menina mais velha que já estava na universidade, uma da minha idade e um menino de dez anos e eu também tinha aqui uma irmãzinha de dez anos. Eles gostavam muito de esporte, eu gostava muito de esporte. Eu vivia aqui numa região de agricultura, que Assis é uma região essencialmente agrícola, principalmente de soja e milho, meu morei numa região lá essencialmente agrícola no meio do campo de soja e de milho (risos) com uma única diferença de que o inverno lá era muito rigoroso. Eu morei no que eles chamam de midwest no Estado de Illinois, ao sul de Chicago, mas uma cidade bastante pequena, bem pequena, assim, era coisa de três mil habitantes.
P/1 – E como foi a viagem? Você começar a se ligar que estava indo mesmo, né, então, sair de Assis até pegar o avião e…
R – Pois é! Naquela[FP5] época, a gente embarcava no Rio de Janeiro, então, você imagina que a gente fez uma viagem de carro de Assis ao Rio de Janeiro, cerca de mil quilômetros para embarcar. Eu não tenho boas recordações dessa viagem, eu não sei se porque eu tava muito nervosa, muito assustada, muito emocionada, eu me lembro de ter passado mal a viagem toda (risos), até hoje eu não gosto muito de viajar de avião, eu passo mal, não sei se foi isso. E chegar lá eu achei assim, tudo muito estranho, ainda tava passando mal da viagem de avião… Quando esse intercambista que morou com a gente, o Davis foi me visitar, nesse mesmo dia, embora eu estudasse língua estrangeira, eu não tinha fluência nenhuma e eu me lembro que eu tava lá no quarto ainda me arrumando e aí, entrou uma pessoa e falou uma série de coisa e a única coisa que eu entendi que ela falou foi Davis, aí eu falei: “Ah, o Davis está aqui!”, aí desci lá, a gente se abraçou, curtiu uma saudade, foi muito legal. Depois, teve mais uma viagem, me parece que foi de ônibus até eu ir para conhecer a minha família. Aí como você já recebe fotos da família, então mais ou menos, você já sabe quem você vai receber, mas o começo é bastante difícil, porque é tudo muito diferente. Eu acho que hoje não é tão diferente, porque eu acho que hoje o mundo tá bastante globalizado e a comunicação é mais intensa, então o jovem hoje, ele tá azedo de conhecer como é que o jovem norte-americano vive, mora, estuda, seja por filme, enfim, mas em 70, a gente não tinha acesso a essa informação e a diferença, mesmo de consumo, de acesso às coisas era muito grande, os americanos tinham muita coisa que a gente não tinha. Então, era bastante diferente, hoje eu acho que é mais fácil.
P/1 – E a escola, como era? Que diferença que você mais sentiu?
R – Então, a escola… A diferença era primeiro, que a gente tinha que escolher as disciplinas que a gente iria fazer. Aqui, você já tem um currículo engessado, disciplinas obrigatórias, né? A gente passava o dia todo na escola. Quer dizer, a vida do americano, do jovem americano, eu acho que ainda é em torno da escola. Ele passa o dia todo na escola, a vida social dele é a escola e eu entrei para o esporte da escola, eu entrei para o time de basquete da escola e quando entrou a temporada, eu ficava mais tempo, só voltava à noite para casa, porque depois do tempo escolar, a gente ficava lá treinando, mas foi uma coisa muito legal que eu fiz porque eu viajei muito com a escola para jogar em jogos interescolares lá, foi bastante legal. Uma outra coisa em que eu me envolvi lá também que aqui eu não tinha envolvimento quase que nenhum, eles tinham muito envolvimento com a igreja. A igreja da minha família, eles eram presbiterianos, eles faziam um trabalho. A igreja fazia um trabalho social anualmente, então, eles viajavam, pegavam grupos de jovens da Igreja e viajavam para um lugar mais carente para ajudar a construir, a limpar, a fazer alguma ajuda na comunidade de igreja carente e no ano em que eu fui foi muito bom. E durante o ano, você tem que ir trabalhando para você amortizar aquele valor da viagem, então, a gente pintou acampamento de escoteiros, lavava a parede da igreja e aí, você ia ganhando dinheiro que eles iam debitando. E aquele ano, a viagem ia ser para uma comunidade carente – hoje eu fico pensando que não devia ser só carente, devia ter sido muito violento, mas eu não tinha essa noção na época – na periferia de Los Angeles, mas o que eu gostei foi que a gente foi acampando, a gente foi de carro, então a gente foi acampando e era um acampamento super precário, era jogar um colchão no chão e dormir olhando para as estrelas, só que nós fizemos isso no Grand Canyon, depois a gente teve a oportunidade de ir para a Disney, já que tava lá e foi muito legal e lá, a gente ajudou essa igreja a reconstruir, a pintar, a motivar os jovens. Uma coisa que não tinha muito aqui na época, agora, também tem mais.
P/1 – E como foi voltar, depois de ir construindo as relações e se acostumando, vivendo…
R – Aí você não quer voltar (risos), ninguém quer voltar! Você tem muitas saudades, mas assim, em dois segundos, você mata as saudades no aeroporto, né? “Oi, tudo bem?”, pronto! E aí, você tem que voltar e é muito interessante, porque em um ano aqui, um jovem de 17 anos não muda muito. Agora, um jovem de 17 anos fora do seu ambiente e sem ter tido contato, a gente muda bastante, você amadurece, você vê o mundo de outra forma. Então, também é outra adaptação, a gente tem que se adaptar quando chega lá, mas também tem que se adaptar de volta, quando chega aqui com os amigos… A gente [pensa]:”Será que eu era tão bobinha assim?” Eu gostava tanto dos meus amigos e agora, eles são bobos? E a família também, você estava longe e é outro tipo de adaptação. E aí, você tá terminando o Segundo Grau, o que a gente chama de Ensino Médio e tendo que tomar uma decisão de ir para a universidade, né? E eu era meio perdida, não sabia muito o que eu queria, não.
P/1 – E assim, o que você acha, fora a maturidade, o que de mudança marcou em você que você pode perceber quando chegou? Então, já estava mais madura e teve um processo de adaptação, mas…
R – Ah, eu[FP6] acho que você ganha em independência, em tolerância com o diferente, em aceitar o diferente, em perceber que não existe melhor e nem pior, são diferentes, são culturas diferentes, ninguém é melhor, ninguém é pior. Então, eu acho que a gente ganha… Para mim, é um divisor de águas, a pessoa que faz intercâmbio, você vai dividir a sua vida entre o antes e o depois daquilo. Tanto que no ano seguinte, eu comecei a trabalhar como voluntária para o programa AFS. Eu comecei orientando estudantes que iam viajar, intercambiários estrangeiros que estavam em Assis, depois, eu assumi a presidência do comitê de Assis por muito tempo. Depois, eu fui orientadora de toda região do interior de São Paulo, interior oeste de São Paulo e Mato Grosso do Sul e isso durou cerca de quase 20 anos que eu fiquei em contato com esses estudantes e ajudando, assessorando, fazendo a ponte entre as famílias hospedeiras e os estudantes estrangeiros, as escolas que recebiam. Eu continuei envolvida nesse mundo de intercambiários, intercâmbio, famílias, porque eu achei que eu tinha bastante a contribuir.
P/1 – E o que te motivou todos esses anos ou essa contribuição durante todo esse período como voluntária e ajudando as pessoas nesse trânsito, nessa troca?
R – Olha, eu tive uma experiência tão positiva, que eu queria que outras pessoas também tivessem, que fossem fazer intercâmbio. E tive depoimentos de gente que disse que só foi fazer intercâmbio por causa de mim. E também de ter contato com esses estrangeiros aqui e poder ajudá-los quando eles vinham com problema, falar: “Gente, não é o fim do mundo, vamos fazer assim” e com as famílias, porque é uma coisa… desde o primeiro que a gente recebeu que a gente continuou tendo esse vínculo, eu acho que isso é muito importante e[FP7] o AFS nasceu, diferente de outros programas de intercâmbio, ele nasceu com uma missão de paz no mundo. Hoje chama Intercultura Brasil, mas a sigla é American Field Service, que era o Serviço de Campo Norte-Americano na Primeira Guerra e o motorista da ambulância que resolveu se reunir e fazer um intercâmbio para promover a paz. Então, eu acho que o AFS tinha muito disso, sabe, de unir essas diferenças e ter um mundo mais tolerante e aceitar mais as diferenças, então eu acho que foi isso. E eu gostava muito, sabe, de jovens, de conhecer também porque aí, você recebe gente de todo lugar. Tivemos muitos problemas, tivemos estudantes que aqui em Assis, nos causaram muitos problemas, estudantes que precisaram ser mandados embora, mas eu acho que a hora em que você faz uma conta final, é o positivo que prevalece. Eu tive problema no meu intercâmbio, minha mãe deve ter tido problemas com o Davis em casa, provavelmente. Eu tive problemas com os estudantes que vieram para cá que eu tentava acertar, mas tem hora que no frigir dos ovos… Tem uma passagem do Davis em casa que eu acho que é muito interessante lembrar. Minha irmã era muito pequena quando ele veio, ela devia ter uns três anos, por aí, era praticamente um bebê, uns quatro anos. E uma vez, ele foi queixar para minha mãe que ela tinha mexido nas coisas dele. E aí, minha mãe falou assim: “Você é um homem, se você guardar assuas coisas, ela é uma criança, então, ela não vai mexer”, ele falou: “Aquele dia eu senti que eu não era hóspede, que eu era filho”(risos). E assim, isso é legal de você contribuir com outras famílias, né?
P/1 – E aí voltando para a sua história, conta pra gente como foi o período de faculdade, então você voltou, falou um pouco desse processo de adaptação dessa volta num momento já de escolhas, de definições, então, como é que você escolheu o seu curso, como é que foi esse primeiro período acadêmico, né?
R – Então, eu pensei em fazer alguma coisa relacionada a línguas, vim para São Paulo, fiz cursinho aqui em São Paulo, fiz vestibular aqui para o curso de tradutor e interprete e acabei fazendo vestibular em Assis na UNESP [Univrsidade Estadual Paulista] para Letras. Acabei ficando por lá. Então, voltei para a casa dos pais e, como eu tava lá, eu me envolvi mais ainda com o AFS, estudando línguas estrangeiras, mas no terceiro ano de faculdade, depois de dois anos, eu falei: “Gente, não é isso que eu quero”, aí eu fiz um ano sabático na minha vida (risos). Eu parei e fui para a Europa e fiquei um ano na Europa. Viajei, estudei na Inglaterra dois meses, depois conheci umas pessoas, viajamos durante dois meses por toda Europa, meio mochileira e isso foi em 1980. Depois, trabalhei de babá numa casa na Suíça, depois voltei para cá. Aí acabei voltando para a faculdade, terminei a faculdade e acho que isso também quer dizer, tive mais contato com outros países, com outras culturas, então isso eu acho que sempre me motivou a trabalhar, então, voltei de novo para o AFS tentando ajudar com a minha experiência. Aí, terminei a faculdade e fui… Não, durante a faculdade, eu já dava aula de língua inglesa e depois, fui fazer mestrado, fiz doutorado na área de linguística, sempre trabalhando com língua estrangeira, sempre em contato com outras culturas e outras línguas.
P/1 – E aí, como foi a sua vida profissional, então, você falou de algumas aulas que você dava durante a faculdade…
R – Então, dava aula já na faculdade, depois, eu dei aula em institutos de idiomas, dei aula em escola da rede pública, Ensino Fundamental e Médio e, depois, eu fiz concurso na universidade, entrei na universidade, dei aula no curso de Letras, então, sempre trabalhando com língua estrangeira, trabalhando com estrangeiros, porque na faculdade também a gente tem projetos com estrangeiros, que no curso de Letras, a gente tem muitos projetos com estrangeiros, recebe estrangeiros, projeto de Teletandem, que a gente conversa com muito estrangeiro, vai a muito a congresso no exterior. Mas aí nessa época que eu já entrei para o Ensino Superior, eu já não tava mais dando assessoria para o AFS, porque daí já não cabia na minha agenda, eu já tava com filho precisando mais de mim, eu tenho um filho só. E acho que eu fui convencendo o meu filho também que quando ele chegasse com seus 16, 17 anos, que eu achava que ele tinha que fazer intercâmbio, o que de fato, aconteceu. Ele também foi intercambista.
P/1 – Bom, vamos indo aos poucos. Então, pra gente falar do seu filho, né, como é que foi para você ser mãe? Como é que foi a história da chegada dele?
R – Não foi nada planejado (risos). Foi uma gravidez, sem planos. No começo, foi muito difícil. Eu trabalhava muito, já trabalhava bastante e aí, tinha que trabalhar mais porque aí vem filhos, vem encargos financeiros mas, no interior, sempre é mais fácil, eu tinha a aminha mãe para me ajudar, mas eu nunca parei de trabalhar para cuidar… Foi tão traumático, eu achei traumático porque não foi planejado e eu tive uma gravidez muito difícil. Então, só fiquei nesse filho. E nunca parei de trabalhar, foi aí que fui começando a deixar um pouco o AFS, mas mais pra frente, um pouco, porque eu me lembro uma vez que eu fui participar de uma seleção para intercambista viajarem e eu tive que levá-lo para amamentar junto, porque a gente ia passar o dia numa escola. E aí, a minha vida profissional foi sendo bolada junto com criação de filho, mas que no interior, eu acho que é um pouco mais fácil.
P/1 – E conta pra gente também como você conheceu o seu marido? E como foi o casamento?
R – Então (risos), uma amiga minha me convidou uma vez para sair, eu tava num evento com o meu pai e ela foi lá e falou: “A gente precisa ir numa balada”, era uma discoteca que tinha na cidade: “Você tem que ir lá hoje porque eu preciso te apresentar um cara”, era o cara (risos). A gente se conheceu, começamos a namorar e em um ano, a gente tava casado e depois em seguida, já nasceu o Bruno.
P/1 – E aí, como foi acompanhar ele crescendo, né, seguindo com os trabalhos?
R – Foi muito legal, porque ele é até hoje um filho super companheiro que gosta do que a gente gosta, gosta da família, gosta de esporte. Até hoje pra mim, ele é um companheirão. Já tá com 31 anos (risos) e ainda é meu companheirão, de longe, que ele mora hoje em Brasília. Mas foi muito legal, acabamos que eu tinha amigas, assim, contemporâneas minhas que tiveram filhos também na mesma época, então a gente viveu juntas assim, tendo filhos juntas e os filhos ficaram amigos também. Acho que eu tive filho na época certa.
P/1 – E como foi para você quando chegou a vez dele ir, de incentivar bastante, mas aí ficar do outro lado dessa vez?
R – Olha, pra mim foi bastante natural. Obviamente[FP8] que você sente saudades, você quer assessorar, e ele dizia assim: “Eu quero fazer intercâmbio, eu quero ir para a Austrália, eu quero morar em Melbourne”, eu acho que ele falava tanto aquilo, ele mentalizou tanto aquilo, que ele foi para a Austrália e morou em Melbourne e a Austrália é muito longe, um fuso horário, em determinado momento do ano, de 14 horas de diferença. Mas ele já foi numa época em que a gente já tinha internet, né, a comunicação era muito mais… Você usava o MSN para se comunicar, tinha uma comunicação, você tinha vídeo… Então, ameniza um pouco a saudade e eu fiquei muito feliz por ele de estar participando. Ele teve também alguns problemas, mas superou. Com toda a minha experiência, eu pude ajudá-lo, né? E foi outra família que foi outro vínculo que se criou e que não se rompeu, ele foi em 2001, em 2007, os pais dele vieram para o Brasil, ficaram aqui 15 dias conosco e o ano passado, eu fui para um congresso na Austrália e depois, nos encontramos com eles e ficamos 15 dias também viajando com eles. Então assim, eu acho que o AFS, ele cria laços que são difíceis de se desfazer. Eles vão ficando cada vez mais sólidos.
P/1 – Eu queria que agora, você contasse um pouco pra gente sobre esse seu trabalho do colégio com o AFS. Como que o colégio de Assis se estabeleceu nessa parceria com o AFS?
R – Eu acho que eu tive um pouco de facilidade porque você precisa[FP9] encontrar uma família que queira hospedar um estudante estrangeiro e a escola também precisa aceitar esse estudante. A escola pública e a escola particular também. Na escola particular, a gente pedia inclusive, que esse estudante fosse isento das mensalidades para que a família não arcasse com essa despesa. E como eu dei aula em escolas públicas e dei aula durante muitos anos numa grande escola particular na cidade, eu tinha um trânsito fácil com diretores e também vinha de uma família [onde] minha mãe também era professora, foi diretora de escola, então eu tinha um trânsito fácil nas escolas. Então eu primeiro fazia esse contato de colocar o aluno, porque o que a gente desejava era que o aluno fosse na mesma escola onde os filhos que a família hospedasse também fosse, mas não necessariamente, podia ir para outra. Ou ficasse, por exemplo, um casal sem filhos hospedou uma menina, então para onde vai? Vai para a escola mais próxima? Então, você tem que fazer essa ponte, tem a parte burocrática dessa matrícula, porque depois, esse aluno precisa carregar esse histórico para o seu país para validar esse estudo. Como eu trabalhava em escolas, eu era professora, então isso me facilitou o trânsito com diretores, com professores. Se houvesse algum problema, eu podia… eles tinham facilidade de me chamar para tentar resolver e ver o que precisava ser feito, então, a gente não jogava o aluno lá, eu podia sempre estar assessorando de alguma forma, né, quando fosse requisitado.
P/1 – E aí, isso era tanto para os alunos do colégio que estavam indo quanto os alunos que estavam chegando para…?
R – É, para os alunos que estavam chegando, de fora, né? Porque o aluno, quando ele sai que ele vai fazer o intercâmbio, e se ele tem que retornar para a escola, daí ele resolvia isso sozinho, o brasileiro. Aí, ele ia cuidar dessa parte sozinho. O[FP10] que eu fazia era fazer a ponte de procurar uma família que quisesse hospedar e depois, com essa família, fazer a ponte com a escola: “Onde é que nós vamos matricular esse estrangeiro? Na escola dos seus filhos? Numa outra escola? Como é que vai ser? Como seus filhos vão para a escola? Como o estrangeiro vai?” Sempre foi muito positivo, porque a escola sempre gostou de receber. A única coisa é que Assis é uma cidade relativamente pequena, nós temos hoje quase 100 mil habitantes e hoje a gente tem até mais escolas de Ensino Médio, mas naquela época eram poucas. E teve uma época que o AFS foi muito popular na cidade, teve uma época que a gente teve muitos estudantes. Então, a cidade acho que chegou a ter mais de dez estrangeiros na cidade e coincidiu que muitos foram para a mesma escola. Quer dizer, poderia ter sido muito positivo para a escola cheia de estudantes estrangeiros, mas eles acabavam fazendo suas panelinhas e se envolvendo pouco, interagindo pouco com os brasileiros. Então, muitas vezes, a gente tinha que intervir nesse sentido, né?
P/1 – Qual é o retorno, então, dessa experiência de ter intercambista para um colégio brasileiro, né? Como você vê essa aceitação do colégio, de propor atividades, de ficar de olho nessas panelinhas?
R – Ah, eu[FP11] acho que ganha todo mundo. Ganha a escola porque promove a diferença, ganha o aluno que tá na escola que vai conhecer uma outra cultura sem sair de casa, sem sair do colégio, ele vai se beneficiar. Bom, o próprio estudante estrangeiro se beneficia na escola, porque ele vai fazer muitas amizades ali que não só da casa. Se beneficia o professor de algumas disciplinas que se ele souber, ele pode usar das informações que esse aluno estrangeiro pode enriquecer na aula. É sempre muito enriquecedor. Acho que para todo mundo: para o colega, para o professor, para o diretor, pra parte social da escola. Eu acho que é só positivo, eu acho que só enriquece.
P/1 – E esses jovens estrangeiros que vêm para o Brasil, para as escolas brasileiras vêm já com alguma coisa de português?
R – Quase nada. O[FP12] português é uma língua muito excêntrica, nem ninguém aprende português. Agora, existe um interesse maior. Quando o Brasil cresceu economicamente alguns anos atrás, o português passou a ser muito procurado em alguns países, mas ainda é muito pouco. Essa menina japonesa que eu recebi, ela veio para a minha casa… Ela ia ficar numa outra família e, de repente, essa família não podia mais e eu me propus a receber, só que não deu tempo dela… Ela já tinha saído do Japão, foi meio em cima da hora, porque ela fez uma viagem grande, ela foi para a Califórnia, ficou lá para depois até chegar aqui, então, não deu tempo de mandar essas informações. E ela chegou num ônibus. Ela chegou em São Paulo, aqui puseram ela dentro de um ônibus, ela foi para Assis, chegou à noite em Assis, fui recepcioná-la na rodoviária, ela não reconheceu nem a mim e nem ao meu marido pelas características que ela tinha lá e ela falava japonês e ponto. Nem inglês. Ela vinha do interior do Japão, ela não falava nem inglês, ela só falava japonês. Então, o começo é muito sofrido, né? Mas depois, é muito interessante porque eles saem daqui fluentes. Eu tive que no dia seguinte sair correndo atrás de alguém falando japonês para me ajudar! Eu acho que o jovem brasileiro ou o brasileiro é muito receptivo e ele é muito solícito, então, ele ajuda muito e eles vão aprendendo naturalmente a língua, mas é praticamente do zero. Isso é um problema, alguns aprendem com mais facilidade, outros um pouco menos.
P/1 – E os colégios que eles vão são os colégios normais? Não é nenhum colégio estrangeiro?
R – Não, em Assis nós nem temos isso, então, eles[FP13] vão fazer todas as disciplinas que o curso regular oferece: Física, Química, Matemática, Biologia, Língua Portuguesa, Literatura, Inglês, Espanhol, que são as línguas estrangeiras que a gente oferece e eles têm que se virar e aí, cada um tem a sua peculiaridade, porque tem estrangeiro que vem e isso tudo depende da convenção do seu país ou da escola ou que o ensino dele aqui não vai valer, ele vai ter que repetir lá, entendeu? Então, alguns dão uma importância maior, outros nem tanto, mas eles dão muita importância para a questão social da escola, né, ali eles vão enfrentar amigos, fazer outros amigos, mas eles têm que frequentar normalmente, ter frequência, fazer provas.
P/1 – E qual foi esse colégio no caso dos dez alunos, quer dizer, o colégio que mais recebeu…
R – Esse colégio até fechou recentemente, mas era um colégio muito grande, um colégio diocesano, era um colégio bastante grande e era o colégio que acho que mais recebia, porque não sei se era mais uma classe média que recebia esses intercambista e nessa época, anos [19]80, 90 esses filhos de classe média iam para a escola particular, até hoje ainda vão. Na minha infância, na minha adolescência, a gente ia para a escola pública, a maioria ia para a escola pública. Eu fui para a escola particular mas depois que eu fiz a escola pública. Então, a gente teve, pelo menos no tempo que eu trabalhei com o AFS em Assis, menos estudantes em escola pública, que eu acho que foi uma época em que a classe média foi mais para a escola particular. E hoje, praticamente, eu só estou vendo estudantes na escola particular, o que é uma pena porque enriquece também a escola pública, que já tá tão desvalorizada, eu acho.
P/1 – E como é o processo contrário, de incentivar os brasileiros a irem, onde que eles estão também, se espalhados por Assis? Como é esse movimento contrário, dos jovens que vão, se tem um grupo de encontro, ou sei lá, como ficam sabendo desse intercâmbio?
R – Nessa época em que eu trabalhava, porque já faz tempo que eu não tô, Assis[FP14] é uma cidade pequena, então, quer dizer, um conversa com o outro na escola, eles frequentam institutos de idiomas juntos e acabam conhecendo os intercambista. E parece que Assis sempre foi uma cidade que teve essa cultura de intercâmbio, tanto de sair, como de receber. Eu tenho uma amiga que hoje trabalha com o AFS e ela vem de uma outra cidade maior que Assis, lá próximo a Assis e ela falou: “Isso é uma característica de Assis, Assis tem muito isso, tem uma cultura de intercâmbio tanto de sair, como de receber”, e os intercambista adoram Assis. Hoje, eu tenho contato assim, por causa de filhos de amigos, então, eu sei de estudante que tá lá ou gente que tá saindo, mas eu já não trabalho mais direto com o intercâmbio, né?
P/1 – Conta um pouquinho mais de como foi, então, meio que no mesmo período em que o seu filho estava fora receber uma em casa, então, chegar a sua vez de também ser a mãe hospedeira?
R – Foi muito sem planejar, como eu te disse, né? Ela viria para uma outra casa, aí não deu certo, precisava de uma família urgente, eu me propus e aí, ela chegou, meu filho ainda estava em casa, mas logo em seguida, meu filho viajou. E ela já tava com uma matrícula numa escola, que não tinha sido eu que escolhi, era a escola onde ela já tinha feito os papeis, só que nós não tínhamos criança em casa, dois adultos que trabalhavam o dia inteiro e eu levava ela para a escola e ela foi se enturmando nessa escola e foi fazendo amizades e eu sei que depois de alguns meses, ela recebeu um convite de uma colega de classe para ir morar na casa da colega. Aí eu falei para ela: “Você se sinta à vontade, porque se você vai achar que você vai ter gente da sua idade para fazer”, porque muitas vezes, não tinha ninguém em casa o dia todo. E ela resolveu ir e ela foi, mas foi uma coisa muito bem resolvida, tanto que ela vinha, passava em casa toda semana, se a gente fosse fazer algum programa, a gente ligava para ela e aconteceu que essa família já tava com uma viagem programada para o final do ano, eles tinham parentes em outro Estado, no Mato Grosso, e era uma viagem longa e ela não ia poder ir. Ela voltou para a minha casa. Então, ela ficou alguns meses no início da temporada, ficou um miolo numa outra família com jovens e no final do ano, ela voltou, acabou voltando para a minha casa e para mim foi muito natural, foi como se eu tivesse mesmo uma filha ali e eu acho que por eu já ter tanta experiência com intercâmbio, eu não consegui enxergá-la como uma estrangeira. No começo, até talvez enxerguei, mas assim, no sentido de ajudar. Então, eu identifiquei tudo na casa com post-it com nome, então: geladeira, geladeira; janela, janela, fui pondo nome nas coisas para ela poder ir aprendendo mais rápido[FP15] .
P/1 – E por você ter passado por todas as possibilidades, vamos dizer assim, você foi intercambista, você mandou seu filho como intercambista, você recebeu uma intercambista sem contar todo o seu trabalho voluntário, então, como você enxerga essa experiência? Como você vê os aprendizados disso, de cada uma dessas fases que também pode ser que sejam aprendizados diferentes com algum sentido diferente…
R – Olha, foi como eu já disse para você, eu acho que é sempre enriquecedor. Há problemas? Há. Sempre pode haver alguma desavença, algum desentendimento, existem choques culturais, existe problema de comunicação, nem muito por questão da língua, por questões culturais, mesmo, mas que tudo pode ser resolvido. Eu me lembro que uma vez que eu voltei para os Estados Unidos e voltei para o casamento da minha irmã e houve um problema de voo lá e foi até uma pessoa do AFS que foi me buscar porque teve uma greve e depois, quando eu estava lá, ela me convidou para ir num evento do AFS e ela falou: “Que conselho que você dá para essas famílias?”, era uma reunião das famílias que iriam receber. E eu falei isso lá e falo ainda: “Não mudem, porque não adianta você querer porque chegou um intercambista, paparicar, ser assim, ser assado. Você vai conseguir ser assim durante um ano? Então, não mudem. Sejam do jeito que vocês são. O estudante que vem, ele é que tem que se adaptar”. Então, a mesma coisa eu diria para o estudante daqui que vai: “Você vai encontrar o diferente, você vai ter que se adaptar”. E essas famílias, o que eu digo para elas também é que você não pode tratar o seu filho de uma maneira e o estudante de outra. Então, se você tiver que chamar a atenção, chama a atenção dos dois. E o que eu percebi, principalmente, fazendo orientação dos estudantes, eles, às vezes, eu ficava ouvindo um conversar com o outro, porque muitas coisas, eles não compartilhavam com a gente. Eles diziam isso, que eles gostavam de ser chamados a atenção se eles fizessem alguma coisa errada e fossem chamados a atenção e muitas vezes, eu sentia que eles faziam isso de teste, porque eles se sentiam amados, eles se sentiam acolhidos, eles se sentiam parte da família. Eu já vi estudante se queixando: “Eu fiz a mesma coisa que a minha irmã, ela ficou de castigo e eu não”, e eles não gostaram disso. Então, até hoje, quando tenho amigos que vão receber, eu falou: “Seja duro, se precisar ser, seja, porque você vai ser com o seu filho, você vai ter que ser com ele também, porque é filho do mesmo jeito”. E eu acho que é muito enriquecedor, você aprende uma cultura de uma outra forma e você vê que as pessoas são iguais no mundo inteiro, independente de suas crenças, de sua etnia, da sua cor de pele, da língua que fala, do nível socioeconômico que tem. No íntimo, o ser humano é muito parecido, é amor, é raiva, é angústia e as coisas culturais, as diferenças culturais você vai aprendendo a conviver com isso[FP16] .
P/1 – E como é acompanhar essa diferença, né, quer dizer, o seu filho foi viajar, como foi a adaptação quando ele voltou? Como foi também ver a moça japonesa também no final do intercâmbio já diferente, talvez abrasileirada?
R – Muito[FP17] abrasileirada, ela tingiu muito o cabelo, ela tinha uma unha enorme e ela era tão consciente, ela falou assim: “Vou aproveitar porque vou chegar no Japão, vou ter que tirar tudo isso, senão eu não entro na escola. Ela tinha que voltar para a escola lá. Mas eu acho que eles vão fazendo isso com um pouco de maturidade, né? O meu filho, talvez, eu tenha sentido mais, porque eu cheguei aqui, ele fazia certas coisas, eu queria controlar, ele falou assim: “Mãe, você nem sabia o que eu fazia na Austrália, onde que eu tava”, mas é muito interessante ver que os estrangeiros vão se abrasileirando muito, porque nós somos muito informais e muito abertos, e eles chegam com uma formalidade, né? Embora eu acho que hoje – já falei isso no começo, eu repito – as diferenças diminuíram com essa globalização, somente no mundo ocidental, na cultura ocidental. A cultura oriental, talvez, ainda preserve algumas formalidades mas a cultura ocidental, hoje, eu acho que tá muito pasteurizada, muito homogênea, então as pessoas viajam mais, conhecem mais, então eu acho que já não tem tanto estranhamento, como acho que houve mais na década de [19]70, 80. Talvez o estranhamento seja em pequenas coisas. Eu me lembro que depois de muitos anos, o Davis que morou em casa em 70 contava que depois que ele chegou aqui, a primeira refeição foi arroz com feijão. No dia seguinte, arroz com feijão. Ele falou: “Deve ter feito bastante e sobrou, né?”, mas aí no outro dia, arroz com feijão (risos), até ele ver o que mudava era o que se colocava junto, o tipo de proteína, a salada, mas ele foi contar isso pra gente depois de muitos anos (risos). Acho que ele ficou até constrangido, mas eu acho assim, que as mudanças são sempre positivas, enriquecedoras no sentido de tolerância, no sentido de aceitar o diferente, aceitar o próximo e acho que a gente tá precisando tanto disso hoje, né?
P/1 – E qual o país mais diferente, assim, que você ou recebeu, ou ajudou a mandar, quer dizer, um que não era assim dos mais convencionais, tipo Estados Unidos ou Canadá, Austrália, Nova Zelândia?
R – Eu[FP18] acho assim, que a cultura tailandesa é bastante diferente, né? Então, tanto quem foi para Tailândia sentiu muito, embora, tenha depois se adaptado e tailandeses que vieram pra cá, mais até do que japoneses, acho que Tailândia, que eu me lembre, eles têm uma coisa assim… Brasileiro toca muito as pessoas para falar e pega, a gente é muito físico e eles têm muita restrição com o toque, assim para colocar a mão na cabeça, então, isso aí leva um tempo e pode gerar um problema mais sério, se não for bem conduzido. Eu acho que o segredo é que tudo pode ser um problema, é você saber conduzir isso, não gerar tanta expectativa em cima disso, não colocar tanta gravidade no problema, tentar relativizar um pouco com explicações culturais e o segredo também é sempre conversar, é sempre o diálogo, sempre! Com a família, com a escola, com o estudante, é sempre o diálogo, porque nessas diferenças culturais sempre pode haver um problema, porque ninguém é obrigado a saber como que você se comporta lá, como você se comporta aqui e isso não é porque é de um país para o outro, se você for na casa de um amigo aqui, você pode ter uma família com uma criação diferente, então, eu acho que tem que abrir para o diálogo.
P/1 – E pra gente ir encerrando, eu queria que você contasse pra gente como é que estão as suas atividades hoje, como é o seu dia a dia atualmente?
R – Olha, hoje eu tô entrando numa nova fase da minha vida. Em março, eu devo me aposentar, então, eu já tô tirando o pé do acelerador e esse ano, eu tô afastada desde maio das minhas atividades docentes e eu só estou como orientanda da pós-graduação, que deve encerrar também o ano que vem e, então, eu tô mais voltada para casa, para família, para cuidar de mim, para poder relaxar, que nos últimos anos, eu trabalhei muito, numa correria muito grande, com muitos projetos e agora, eu tô encerrando, então estou entrando numa nova fase que eu também não sei dizer como é que vai ser, mas tô feliz, tô muito feliz. Eu acho que o que eu fiz, eu fiz com amor, eu fiz bem feito, eu contribui, eu dei a minha contribuição, tanto profissional, como voluntária com o programa de intercâmbio e agora, eu vou ver como é que vai ser a minha vida de aposentada, sem ter que correr com hora, poder viajar, meu filho mora em Brasília, eu posso ir lá visitá-lo, sem correria, então, vou entrar numa nova fase.
P/1 – E aproveitando essa nova fase, o que você gosta de fazer em momentos de lazer, de tempo a mais?
R – Eu gosto muito de ler. Agora, eu comecei a fazer trilhas e nós temos um grupo de trilhas em Assis, eu tô me preparando para fazer umas trilhas maiores, fiz uma trilha com o meu filho na Chapada dos Veadeiros em outubro, queria fazer o caminho do sol, caminho de Santiago, sabe, essas são os meus planos, vamos ver se a saúde ainda há de me permitir (risos).
P/1 – E para a gente encerrar, num processo de avaliação, como você definiria o AFS, se você pudesse definir toda essa sua experiência e ligação com o AFS?
R – Olha, eu[FP19] acho que o AFS, ele é um programa de intercâmbio que difere dos demais porque ele tem essa coisa dessa missão que traz lá desde da sua origem, essa missão de promoção da paz e da amizade e da ligação entre os povos, de promover união e eu acho que o AFS tem essa rede de voluntários treinados para isso, para orientar famílias, estudantes e ensinar, incentivar essa coisa da promoção da paz e da união dos povos, eu acho que não é só aquele intercâmbio: “Vou lá, vou ficar e volto e até logo”. Eu acho que por isso que cria, depois, esse elo muito forte com as famílias. Quando eu estive na Austrália em agosto do ano passado, eu fui numa festa de aniversário de um conhecido da família e que todo mundo que tava lá era envolvido com o AFS, todo mundo da festa. Então, todos eles já tinham recebido e já tinham mandado filhos. Quando eu cheguei lá, a mãe do Bruno, eles queriam saber quem era, porque todo mundo perguntou, todos conheciam ele, queriam saber. Sabe, então é uma união muito grande, é uma promoção de paz mesmo, de entendimento entre pessoas e povos. Eu acho que isso que diferencia o AFS de tantos outros programas de intercâmbio que a gente tem por aí.
P/1 – E para finalizar, eu queria que você falasse o que você acha desse projeto do AFS resgatar e contar a sua história através da trajetória de vida de pessoas que estão diretamente ligadas a ele, né, que passaram, viveram essa experiência de alguma forma, viveram essa história de perto?
R – Eu acho bárbaro, porque uma coisa é você ter dados estatísticos: “O AFS existe há tantos anos, tantas cidades, hospedam tantos de tantos países…”, uma coisa estatística fria e eu acho que depoimentos sempre são mais ricos, são mais cheios de emoção e você sempre vai ter uma coisa diferente de um ponto de vista diferente e com dados estatísticos, você não tem. Vou aproveitar, me ocorreu agora: Assis[FP20] é um comitê bastante antigo do AFS, o AFS do Brasil vai fazer 60 anos, nós estamos 12 anos mais jovens. Não, 12 não, oito anos! Oito anos mais jovem. E Assis foi o primeiro comitê que mandou um intercambiário que era brasileiro não nato, ele não tinha nascido no Brasil, ele era imigrante e ele foi e foi um problema, né, porque: “Não pode, tem que ser brasileiro”, então a gente teve que fazer bastante coisa, mas ele foi do comitê de Assis. Assis foi o primeiro comitê que mandou um intercambiário que morava em orfanato, não tinha família, ele foi para Jamaica e também foi um problema, a gente teve muita satisfação com isso, mas ele voltou numa idade em que o orfanato não iria mais aceitá-lo, não tinha mais a idade para continuar no orfanato, ele ia ter que mudar de casa. Então, a família da Jamaica o adotou. Ele foi adotado, foi muito lindo! Então são dois exemplos que eu tô lembrando agora que foram muito importantes para Assis, fomos assim, os pioneiros. Então, o primeiro não nato e o primeiro órfão, menino de orfanato, ele foi abandonado pela família, ele e o irmão e ele mora na Jamaica até hoje. A família adotou.
P/1 – História bonita! E como você se sente sendo de Assis e parte de tudo isso, de uma cidade que recebe muito ou recebeu muito na época em que você estava mais vinculada a esse trabalho e manda também, quer dizer, que tá aberta a essas famílias globais, vamos dizer assim?
R – É muito legal, porque Assis[FP21] é uma cidade relativamente pequena, a gente tá a 450 quilômetros a oeste do estado de São Paulo, então, a gente tá lá no meio do nada, quase Paraná, quase Mato Grosso do Sul, então assim, longe de uma grande metrópole, onde as coisas acontecem e, no entanto, a gente tem esse borbulhão de estrangeiros na cidade e que adoram, falam: “Isso aqui é um paraíso”, porque você tem as relações humanas ali, porque eu acho que as relações interpessoais, às vezes, elas valem mais do que uma cidade que tem cinema, teatro, isso, aquilo, shopping center e não sei o que e eu acho que as relações humanas são muito válidas. Eu acho que isso, uma cidade que tem muito envolvimento com intercâmbio, tanto gente que sai como gente que chega, acho que promove muito esse relacionamento interpessoal das pessoas.
P/1 – E tem alguma coisa ainda que você gostaria de acrescentar que eu não tenha perguntado? Que você acha que ficou faltando na história?
R – Ah, eu acho que não, acho que eu ficaria aqui falando horas, porque foram tantos anos, uma coisa que eu sempre gostei muito, mas fui lembrar do menino do orfanato agora, só. Tem muita coisa, mas acho que o que eu lembro de interessante foi isso.
P/1 – Tá certo então. Em nome do Museu da Pessoa e do AFS, a gente agradece a sua entrevista. Muito obrigada.
R – Eu que agradeço o AFS também de ter lembrado de mim e ter me convidado e agradeço o projeto que vocês estão fazendo. Desejo sucesso para vocês.
P/1 – Joia. Muito obrigada.
[FP1]Família hospedeira nos anos 70
[FP2]Intercâmbio – processo natural
[FP3]Cartas – meio de comunicação
[FP4]O processo da escolha da cidade
[FP5]A viagem
[FP6]O que ganha com o intercambio, experiência divisora de águas e a continuidade dela, durante 20 anos, como voluntária
[FP7]História do AFS e a experiência de se sentir de fato na família
[FP8]Intercâmbio do filho
[FP9]Processo de parcerias com escolas
[FP10]Ponte entre o estrangeiro, a família e a escola
[FP11]Na relação escolar, com o intercambista, todo mundo ganha
[FP12]A dificuldade do português para os estrangeiros
[FP13]A rotina escolar dos estrangeiros
[FP14]Característica de Assis: enviar e receber estudantes
[FP15]A filha japonesa
[FP16]Dica para os pais e para os intercambistas a respeito do tratamento e da adaptação
[FP17]Japonesa abrasileirada, o filho mais maduro depois do intercambio e o caso da repetição do arroz e feijão – impressões do intercambista que eles receberam nos anos 70
[FP18]A importância do diálogo
[FP19]O diferencial do AFS
[FP20]Comitê mais antigo do Brasil e o caso do intercambista órfão que foi para a Jamaica
[FP21]Assis, longe de tudo mas acolhedora aos intercambistas
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