P/1 – Bom Olga, primeiro eu queria agradecer você ter tirado um pouquinho do teu tempo para vir contar aqui pra gente a tua história. E pra começar eu queria que, pra deixar registrado, que você falasse seu nome completo, o lugar em que você nasceu e a data que você nasceu.
R – Olga de Castro Leite, Rio de Janeiro, 24 de maio de 1979.
P/1 – Qual é o nome dos teus pais?
R – Jorge Antônio de Castro Leite e Sueli de Almeida Leite.
P/1 – E dos avós?
R – Maternos ou não?
P/1 – Dos dois lados.
R – Avós maternos: vô César Pereira e Deni Pereira. Paternos: Valdemar de Castro Leite e Olga Lourenço Leite.
P/1 – Me conta um pouquinho a história da sua família. Você sabe como seus pais se conheceram, as origens?
R – Então, meu pai era um playboyzinho tijucano, e ele tinha um sítio em Itaguaí, no Estado do Rio, e nos finais de semana ele ia para lá com a família, com meus avós, com meu tio, para passar o final de semana, e minha mãe morava lá. Então era, como a gente diz hoje, roceira. Que hoje Itaguaí já não é mais roça. E eles se conheceram, os dois tinham treze anos de idade, começaram a namorar, só que minha mãe não tinha acesso ao mundo, digamos assim. Em seguida ela engravidou do meu irmão mais velho, foram morar juntos com meus avós e aí foi. Foi meu irmão mais velho, depois foi a segunda, o terceiro e por último eu. Graças a Deus eles viveram felizes até meu pai falecer aos trinta e sete anos de idade, novo. Mas hoje minha mãe está aí aos sessenta e dois anos com os quatro filhos.
P/1 – E Olga, você sabe um pouquinho do histórico dos seus avós?
R – Dos meus avós maternos eu não sei muito. Ambos eram de Vitória da Conquista, depois meu avô foi morar em Brasília. Minha mãe era pequena, minha mãe falou que lembra que eles moraram em Brasília, que meu avô trabalhou na obra, na época Brasília estava sendo construída. E quando vieram morar no Rio de Janeiro, em Itaguaí. Mas eles faleceram novos. Na verdade, eu era muito novinha, era muito pequena. E os meus avós paternos também, eu convivi mais com minha avó Olga, que meu pai homenageou a minha avó, me dando o nome de Olga. Foi até uma história interessante porque minha mãe queria Raquel e meu pai queria Olga. Aí falou, então vamos fazer um sorteio. E pouco antes até de falecer que meu pai confessou que ele sabotou o sorteio, e ele botou só Olga nos papéis. Isso é uma história verídica. E eu tive muita dificuldade em aceitar meu nome porque, Olga, “Ah, Dona Olga”. Todo lugar que eu vou, “Dona Olga”. É nome de velho. Hoje não, hoje já tenho trinta e seis anos, acho um nome forte, nome bonito, de personalidade. Mas me chamo Olga por causa dela, e eu tive mais convívio com ela. Mas também quando ela faleceu eu tinha dez anos. Assim, na verdade eu não tive muito meus avós presentes na minha infância, na minha vida.
P/1 – E qual a atividade do teu pai, a atividade que seu pai exercia e sua mãe?
R – Meu pai era policial civil e minha mãe, agora aposentada, mas ela era agente de segurança penitenciária.
P/1 – E conta um pouquinho da sua infância pra gente, Olga.
R – Olha, eu cresci no subúrbio do Rio de Janeiro em um bairro chamado Engenho Novo. Morei lá trinta e seis anos da minha vida, na verdade eu saí de lá agora há pouco. Tem duas semanas que eu saí, fui morar em São José dos Campos. Mas foram trinta e seis anos de muita alegria. Lutas, dificuldades, tristezas, mas o saldo geral é muito positivo. Meus amigos de infância estão lá, alguns estão lá até hoje, mas casados, com filhos. É interessante você ver, acompanhar o crescimento de todo mundo, e das outras gerações. Eu era uma criança terrível. Eu acordava, quando minha mãe: “Cadê a Olguinha?” O apelido é Olguinha. Eu já estava na rua com o cabelo desse tamanho, que o cabelo era bem cheio, cacheado, sem camisa e de short, brincando. E chamavam até de “cão sem dono”. Se minha mãe pegava, me amarrava e me levava pra pentear meu cabelo, só que eu detestava pentear o cabelo, eu chorava, aí vinha aquela famosa maria-chiquinha pelo menos, pra ficar quieta, amarrar o cabelo. Mas eu ficava o dia inteiro na rua. Era de shortinho, chinelo, sem camisa com o cabelo desse tamanho, ou de maria-chiquinha que minha mãe tinha conseguido me pegar. E eu ficava, era pique, bicicleta, toda quebrada. Me quebrei já toda. Eu tinha uma infância, como dizem por aí, de asfalto. Eu brincava de pique, era amarelinha, me ralava toda, chorava, e fui muito feliz na minha infância. Eu curti cada etapa da minha vida, a infância, a pré-adolescência, a adolescência e depois a juventude.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho. Tenho dois irmãos e uma irmã.
P/1 – E eles são mais ou menos da sua idade?
R – Meu irmão mais velho tem quarenta e quatro, minha irmã tem quarenta, meu irmão tem trinta e oito e eu com trinta e seis.
P/1 – E como que era a rotina da tua casa, o dia a dia? Você contou essa coisa de você brincar na rua, mas fala um pouquinho assim da dinâmica de vocês como uma família.
R – Era bem agitada. Que a gente tinha muito bicho também, nossa casa era muito grande, uma casa de dois andares. Era condomínio de casas. A gente tinha muito bicho: mico, gato, papagaio, tudo que era bicho. Criança, queria trazer tudo para dentro de casa. E era uma rotina assim, a gente brincava muito entre a gente. Brincava e brigava, mas aquela coisa de cinco segundos já estava todo mundo se amando. A gente nunca ficou dias sem se falar, até hoje. Nunca foi assim de ficar dias sem se falar, de perder o contato. E como minha mãe ficou viúva muito nova, ela tinha 37 anos também, ela tirava plantão 24 horas e ficava nós quatro em casa. E teve uma etapa da nossa vida, a gente passou uma dificuldade financeira. Foi uma dificuldade, foi quando meu pai faleceu e tal, então meu irmão mais velho tomava conta da gente. Hoje em dia a gente relembra, a gente nunca se lamentou, nunca carregou nenhum trauma por isso. A gente relembra e ri. Eu lembro que a gente fazia, minha mãe tinha que trabalhar o plantão 24 horas e a gente enchia o pão com ketchup. Criança. Minha mãe deixava assim as coisas, mas a gente fazia pão com ketchup. Era arroz com, sei lá. Eles inventavam, os mais velhos inventavam e os mais novos comiam. Mas a gente sempre estava brincando. Era clubinho, a gente fazia clubinho de revistinha, revistinha da Mônica, a gente colecionava. Era aquela, meus irmãos eram loucos pelo Star Wars desde aquela época. Eu era a mais arteira, sempre fui. Meu outro irmão era mais de subir em árvore, se quebrar também. O negócio dele era subir em árvore, subir em poste. Subia, caía, se cortava. Mas eu era, eu brigava, brincava de pique, corria, conhecia todo mundo. “Relações públicas”, meu pai me chamava.
P/1 – Se você pudesse contar assim, um momento marcante da sua infância, alguma história peculiar.
R – Uma história peculiar da minha infância... Ai meu Deus, deixa eu pensar aqui. Bom, eu com nove anos de idade, sempre fui grande, alta. Com nove anos e idade eu já tinha um metro e sessenta e cinco, eu era muito grande (risos). E aí, minha mãe, minha irmã falando que ia na rua pra buscar o boletim dela da escola e tal, aí eu falei “Vou também.” Minha mãe: “Não vai, não vai.” Eu bati o pé e disse que eu ia. E fui. Nove anos, terrível. Aí com mais duas amiguinhas do condomínio. Aí na volta, tinha um bêbado correndo atrás da gente. O bêbado começou a correr atrás da gente, eu me desesperei, saí correndo e fui atropelada. Só que assim, é uma história trágica. Só que a questão toda é como isso chegou, “A Olguinha foi atropelada.” Na verdade, hoje a gente ri mas ninguém se surpreendeu porque eu era... Acho que só faltava acontecer isso comigo. Porque eu não tinha medo de nada. Eu metia a cara em tudo. Desde pequena eu sempre fui muito intrépida, muito atrevida. Isso tem um lado positivo e um lado negativo, claro que eu aprendi muito. E coitada, depois minha mãe recebeu a notícia, foi desesperada lá. Porque foi em frente ao meu condomínio. Eu consegui, uma rua sem movimento, eu consegui a proeza de ser atropelada em frente. Mas foi um aprendizado. E para mim era muito difícil porque eu fiquei um ano andando de muleta, tive que operar o joelho. E eu era tão arteira que eu aprendi - eu era nova, condicionamento físico melhor – eu aprendi a correr, eu brincava de pique de muleta, eu dançava de muleta. Tinha um monte de música da Xuxa naquela época, Trem da Alegria, eu fazia tudo de muleta. Então eu adaptei minha vida, que nada me parava (risos). A meninada “Nada te para!” E eu: “Não, nada me para.”
P/1 – E teve algum momento de família que tenha sido marcante na sua infância? Alguma festa de aniversário ou comemoração, festa de final de ano?
R – Marcante? Na infância?
P/1 – É.
R – Engraçado, na infância. Eu não tenho muitas memórias de aniversário, meu aniversário. Eu tenho, mas não diria assim uma história marcante, mas eu tenho uma memória em uma festa na minha casa. Até o último aniversário com a minha avó, minha avó viva. Minha avó Olga. Apesar de pequena eu lembro dela me pegando no colo para tirar uma foto. Eu lembro que eu tenho uma foto com ela cheia de cachinhos. E todos os amigos do condomínio. Era uma festa, não existia festa temática naquela época. Até existia, mas minha mãe nunca fez, ela produzia tudo. Mas não era nada temático.
P/1 – E Olga, agora conta pra gente quais as suas primeiras lembranças escolares. Lembra teu primeiro dia de aula?
R – (Risos) Eu detestava. Acho que eu sempre detestei escola minha vida inteira. Então, eu comecei no jardim. A minha mãe me levava e eu ficava chorando, chorando. Eu era aquela criança chata que só chora. Eu não queria, ficava agarrada na minha mãe, mas depois ficava bem. Mas tinha hora assim, tinha dia que eu lembro que eu não gostava de ir. Mas dei trabalho quanto a isso. No jardim. Aí depois, como é que hoje fala, é CA? Não sei como é que é hoje. Ainda pequena, mas eu gostava de brincar eu lembro, eu tenho uma memória assim de brincar. Usava um uniforme que era um aventalzinho, tinha um bolso, a gente sentava e ficava brincando com areia na escola. Eu chegava em casa toda suja, com o avental imundo. Sempre levava areia na conga, na época era conga, e no bolsinho, nas unhas também. Minha mãe ficava louca. Mas o início assim eu não gostava não, chorava bastante, mas depois eu estava lá, fui me adaptando, a gente vai crescendo, passa a gostar.
P/1 – Teve algum professor da tua trajetória escolar que você lembra?
R – Teve. Teve a tia Clarinda. Ela foi uma professora muito querida, ela deu aula pros meus irmãos também. Ela era a professora. Antigamente a gente tinha uma professora para todas as matérias. Que ensinava tudo. E ela foi minha professora dois anos. Bem no início, eu era pequenininha, no jardim, uma série do jardim e CA, me alfabetizou. Então como não marcar? Ela era uma excelente professora, eu lembro até do da cartilha que usava para alfabetizar. Ela tinha um carinho muito grande, assim, por todos os alunos, tratava muito bem, então era muito gostoso ir para a escola, ter aula, aprender a ler, escrever com ela, com uma professora como ela.
P/1 – Você lembra os amigos dessa fase, dessa primeira infância, o começo da escola?
R – Dos amigos eu lembro, eu vejo, um ou outro, mas era muito engraçado porque antigamente era bem diferente dos dias de hoje, a gente tinha muito isso de: “Mãe, posso ir pra casa do fulano?” Mas a mamãe levava. Os pais eram amigos. Minha mãe era amiga da mãe da minha amiguinha, tinha um contato, as pessoas interagiam mais. E eu lembro que eu tinha a turminha das meninas. Eram três meninas e a gente também, elas me ajudavam, a gente se ajudava bastante, com relação a estudar, quando perdia matéria, escola, se faltava, tinha que copiar matéria e eu tive um bom contato também nas festas da escola, tinha uma proximidade muito grande também com as famílias. Não eram só as crianças, mas as famílias também.
P/1 – Conforme você foi crescendo, as matérias foram aumentando, quais que foram se direcionando, seus interesses?
R – Então, eu sempre gostei da área de Humanas. Então, eu sempre me voltei mais para Geografia, História, Português. Números, Extas, nada disso. Sempre foi minha maior dificuldade. Eu sempre foquei mais, sempre me dedicava mais, a partir do ginásio. Adorava Português, História, Geografia, MPD, antigamente tinha MPD, e obviamente os professores. E daí eu não sabia ainda o que eu ia fazer, não sabia ainda a faculdade que eu ia fazer. Eu lembro quando eu era pequena, quando perguntavam: “O que você quer ser quando crescer?” Eu lembro que eu falava que ia ser jornalista (risos). Como meu pai falava desde pequena que eu era “relações públicas”, que eu falava com todo mundo, que eu me dava bem com todo mundo, que eu tinha que ser “relações públicas”, que eu era fofoqueira (risos), “Você adora ficar na casa dos outros.” Mas não é, eu gostava. Eu era uma pessoa que adorava conversar, velhinho principalmente, eu adorava conversar assim, pequena. Então as pessoas ficavam impressionadas porque ninguém tinha paciência e eu sempre tive paciência. Aí eu falava que eu queria ser jornalista, mas fui, nessa de: “Ah quero ser jornalista, quero ser jornalista.” Depois falei em ser radialista, com essa voz rouca, não sei se tem... Acabou que terminei fazendo uma faculdade totalmente diferente.
P/1 – Vou perguntar um pouquinho da faculdade, da sua escolha profissional também, mas eu queria saber um pouco antes, nesse período de colegial. Primeiro fala um pouquinho da sua juventude aqui no Rio de Janeiro. O lugar que você passeava, como é que é?
R – Então, eu tive uma adolescência juventude tão, na minha opinião, só minha mãe pode dizer isso melhor, mas eu tive uma adolescência, uma juventude muito sadia. Eu fui nascida e criada em Igreja, então sempre tive meus valores e princípios muito fortes, assim, dentro de mim. Mas na minha juventude, que eu comecei a querer sair, conhecer coisas diferentes, a gente saía era para dançar, fazer passinho, anos 1980, aquela época, pra mim, foi uma das melhores, pessoalmente falando. E eu saía para me divertir de verdade. Não pensava em beber, fumar, não queria tirar onda com nada, aproveitava mesmo. A gente saía para fazer passinho, voltava suada, de cansada de tanto dançar. Era a dança da vassoura, não tinha assim, acho que era uma época mais inocente. Mas eu lembro também quando os meus amigos começaram, os mais velhos, sempre fui a mais nova do grupo, meus amigos de infância, eles começaram, já estavam na faculdade, já tinham carro, aí ganharam carro dos pais, aí a gente às vezes pegava o carro e era o passeio do final de semana: “Vamos sair, vamos sair.” Mas ninguém bebia também, a gente pegava o carro e ia lá pra Barra comer cachorro-quente e voltava. Pra gente aquilo era o máximo. Era um galerão, tipo três carros. Cheios, lotados e ia um no colo do outro, naquela época não tinha muito (risos), ninguém nem usava cinto. Mas era muito legal, muito legal.
P/1 – E aí nesse colegial, como que surgiu a história do intercâmbio, seu primeiro contato com o AFS?
R – Então, meu vizinho da frente, o Vagner Cineli, ele fez intercâmbio pelo AFS em 1983. Ele era mais ou menos recém-casado, ele conheceu a esposa dele no intercâmbio, que também é AFSer. E aí ele tinha um casal de... Aquele Old English Sheepdog e ele perguntou se eu não queria cuidar dos cachorros dele, que eu era pequena. Era pequena não, eu estava com 15 anos. Ele falou: “Você vem aqui, escova o pelo deles e eu te dou um dinheiro.” Era em frente à minha casa. “Todo dia você vem”. Eu: “Ah, tá bom.” Toda feliz. E aí um dia ele conversou comigo: “Olguinha, você não tem vontade de fazer intercâmbio?” “Hã? Como assim?” Ele: “É, intercâmbio.” “Mas o que é isso?”. Eu nem sabia direito. “Não, eu fiz intercâmbio.” E aí começou a falar. Eu falei: “Olha, Vagner, eu não tenho condição de fazer intercâmbio.” Até porque meu pai tinha falecido não tinha muito tempo. Ele falou: “Mas o AFS dá bolsas de estudo.” Eu nem levei a sério. Vai dar bolsas? Bolsas assim são a maior furada, você se inscreve, ganhou bolsa, mas tem que pagar tudo. Ele foi: “Não, vai, participa.” Aí eu me inscrevi e comecei a fazer o processo de seleção, prova, tinha prova escrita, foram várias etapas. Acho que foram dois meses intensos de seleção. Todo final de semana era uma coisa, todo final de semana. E na minha época era muito, assim, duas bolsas pro Brasil todo. Era mais ou menos isso.
P/1 – Você lembra qual que era o programa de bolsa?
R – Eu fui no programa meia bolsa. Não foi nem uma empresa. Eu estava na verdade, eu queria a bolsa 100%, era a que para mim era a melhor. Mas eu consegui, saiu para mim bolsa 50%. Foi uma seleção muito acirrada, muito acirrada mesmo, porque eram, do Rio de Janeiro, acho que eram 15 pessoas concorrendo à bolsa. Fui eu e uma menina. Saiu Nova Zelândia para mim e Tailândia pra ela. Ela queria desde o início Tailândia. Tailândia ela não pagou nada. E eu paguei na época, eu fui pra Nova Zelândia, na época Nova Zelândia era país diversidade. País diversidade é país assim, normalmente ele é mais barato e é um país que ninguém quer, ninguém nem conhece, na época, a Nova Zelândia, em 1996. Eu fiquei muito feliz, mas eu falei: “E agora?” Porque eu lembro até hoje, três mil e 62 dólares. Até hoje, eu tenho esse número assim, de tão marcante, três mil e 62 dólares. Eu falei: “É agora”. E saiu pra mim em julho, eu fiquei sabendo que ia viajar em julho de 1995 e a viagem já era em janeiro de 1996. Então era correr para pagar, fazer tudo, arrumar. Eu estava no segundo ano do segundo grau e arrumar, correr com tudo para dar tempo. Graças a Deus, consegui. Eu não acreditava até o dia de eu embarcar mesmo, eu não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo, porque, de fato, não era aquele negócio de você, ah, ganhar uma bolsa e pagar tudo. Não, eu só paguei três mil e 62 dólares com tudo: seguro, família, tudo incluído. E você leva mais um dinheiro. E lá fui eu rumo a um dos melhores anos da minha vida.
P/1 – E você já falava inglês?
R – Nada. Meu Deus, foi desesperador. Eu lembro que no aeroporto, eu lembro até do meu chaperone, eu lembro de tudo, do meu embarque, de tudo. Nós éramos em 16 brasileiros para a Nova Zelândia e 14 pra Austrália, só que foi todo mundo no mesmo voo, aquele grupão. A gente tinha o Cândido, foi o nosso chaperone e eu perdida, não sabia nada, eu não sabia contar: one, two, three. Eu sabia que three era três, eu tinha que fazer assim one, two, three [conta nos dedos em voz baixa]. Era horrível. Sabia nada. Quando eu cheguei lá, quando você está com todo mundo no avião, brasileiro, tudo é festa. Todo mundo: “Ah, eu falo inglês.” Mas, assim, eu tinha aquele macarrônico de escola. Não deu para aprender nada. E muita gente também estava nessa situação, mas eu fiquei meio bastante preocupada. Você está ali: “Não sei o quê.” Com 16 anos de idade. Quando chegou, começou aquele negócio, todo mundo falando, aí não, ali ainda estava ok, que ainda estava com os amigos brasileiros por perto. Mas depois que foi batendo um desespero (riso), porque a gente primeiro foi para uma orientação em Auckland, a gente ficou três dias lá. Depois minha família veio me buscar, foi encontrar comigo. E as pessoas querem se comunicar e você [imita uma fala embolada]. É muito difícil. Caramba! É muito difícil! Mas depois eu me virei, a gente faz mímica, escreve, você vai aprendendo uma palavra ou outra, mas o início foi bem difícil.
P/1 – E deixa eu te perguntar, eu vou fazer mais perguntas sobre o seu intercâmbio, mas eu queria te perguntar da preparação, do AFS antes de você ir. Que tipo de preparação você teve? Conta um pouco pra gente dessa fase pré-intercâmbio.
R – A gente tinha orientação, os voluntários do Rio de Janeiro, eles eram voluntários bem ativos. Lembro do nome deles até, todos eles estavam fazendo vestibular, estudando. Estavam fazendo faculdade e era um grupo bem ativo e a gente, eles faziam orientação quase todo final de semana. Como eles eram também ex-intercambistas, tinham recém voltado do intercâmbio, tinha dois anos, então eles falavam: “Não vai ser difícil, vai ser fácil, tem o período de saudade de casa, você quer voltar de todo jeito, você quer largar tudo.” E falavam muito das regras de ouro do AFS, que você não pode dirigir, não pode usar drogas, enfim. Então você ficava... E pegar carona. São as três regras de ouro do AFS, mas batiam muito nessa tecla. Nossa! Era um mantra. E foi muito legal porque eles passaram a experiência deles pra gente. Éramos eu e outra menina bolsista, mas tinham outros candidatos que iam pagando. E a gente estava junto quase todo final de semana, era acampamento. Quando não era acampamento, era orientação só de um dia, no Parque Lage, estava sempre junto. Eu fui muito bem preparada, graças a Deus.
P/1 – Nessa chegada lá, como foi para você que sempre foi tão comunicativa?
R – Foi difícil, assim. Minha adaptação, porque, quando eu cheguei na minha casa, eu morava numa casa gigante, no alto da montanha. Quando eu cheguei, eu lembro que eu sentei no meu quarto, eu tinha um quarto enorme só pra mim, eu falei: “O que eu estou fazendo aqui, cara?” Eu respirei fundo, não, vai dar tudo certo, eu vou conseguir ficar até o final. Porque eu não estava aqui perto nos Estados Unidos, eu estava do outro lado do mundo. Eu estava muito longe. Eu lembro, foram muitas horas de viagem. Eu falei: “Não, vai dar tudo certo.” Eu tive uma família muito acolhedora, foi família mesmo. Eles chegavam, vinham, me abraçavam toda hora, porque eu olhava também, ah, porque gringo não abraça, não é assim. A gente cria também tantos estereótipos e não é por aí. Eles foram muito acolhedores. No início foi um pouquinho difícil de relacionamento, aquela coisa de ter irmão na mesma idade, mas depois passou também. Aí eu fui vendo. As pessoas queriam, todo mundo queria falar comigo, porque naquela época não existia brasileiro na Nova Zelândia. Eu lembro que, assim, você contava a dedo os brasileiros que moravam lá. Falavam assim: “Aqui na Nova Zelândia só tem cinco brasileiros, na Nova Zelândia inteira só tem cinco famílias”. Então, você contava a dedo. Não existia brasileiro como tem hoje. Eu não falava português de maneira alguma. Era muito difícil. Quando não, assim, era intercambista, mas morador mesmo. Então, por um lado isso foi muito positivo, porque eu falava, fiquei só falando inglês, mas, em bastante contato com a língua, com a cultura, me desligando cada vez mais, mas no início era assim, na minha época não existia e-mail, não tinha nada disso. Eu lembro que tinha, estava começando e-mail, era aquela internet que conectava, fazia aquele barulhinho i-i-i-i. Barulhinho horrível. Depois caía, era discada, internet discada. Só na minha escola tinha, então às vezes eu conseguia mandar um e-mail. Eu estava lendo e relendo meus e-mails esses dias. Na mudança, eu fui pegar os e-mails, gente, era assim: “Você precisa me responder.” A pessoa só recebia, não sei como, o e-mail dois dias depois, não era instantâneo. E era esse meu vizinho, já tinha e-mail. Então, para me comunicar com a minha família, eu me comunicava por ele. Quando não, era muita carta. Tenho um bolo de carta até hoje em casa. Eu me comunicava por carta mesmo. Mas é muito legal, você vê hoje até a evolução, da comunicação, e vê o que talvez como dizem por aí: “A minha época era pré-histórica.” Não, mas é muito bom.
P/1 – E como foi na escola?
R – Olha, eu estava superempolgada com a escola. Fazer várias amigas, porque eu estudava numa escola só de mulher. Só menina, girls’ college. Aí eu de uniforme, aff nossa! Aqui eu nem uniforme tinha. Era calça jeans e camisa da escola. Básico, tênis. Sainha, meia-calça, sapatinho, blusinha! Eu até ri no início que minha mãe falou: “Você tem que levar lanche.” Tipo uma merendeira. Eu ficava zoando que era merendeira, porque como eu estudava de oito da manhã até três e meia da tarde, tinha que levar o lanche. No início fiquei superempolgada. Tinha uma pessoa responsável pelos intercambistas, tinham vários intercambistas, a maioria asiático, na minha escola. Uma professora, ela pegava uma pessoa, uma estudante, pra apresentar você à escola, para ela ser seu mediador em tudo. Mas o problema, a língua realmente foi uma barreira muito grande para mim. Eu lembro dos micos que eu pagava com relação ao inglês, trocava tudo, aí as meninas zoavam. No início eu tive problemas sim porque, como era só menina, foi meio complicado para mim. Elas estudavam juntas desde pequenas, então, assim, pra eu conseguir entrar num grupo foi difícil, mas depois eu já conhecia a escola inteira, falava com todo mundo, sabia, a escola era enorme. Mas o meu grupo mesmo de amigas eram as intercambistas, eram asiáticas. Eu era a diferente delas, estava sempre fazendo festinha, mas era festinha assim, vamos fazer festinha que era pra cantar, porque asiático adora karaoke. A gente fazia vários karaokês, muito legal.
P/1 – E tinha algum, alguma comunicação constante com o AFS do Brasil? Algum acompanhamento de você lá?
R – Eu tinha mais, como tinha a questão da comunicação naquela época não era tão como hoje, eu mandava notícia pelo meu vizinho, e-mail, o Vagner, e ele dava notícia para todo mundo do comitê, como eu estava. Ele que dava as notícias, era o meu porta-voz.
P/1 – E desse período que você ficou na Nova Zelândia, você mostrou foto de viagem, conta pra gente assim, algumas histórias que marcaram mesmo esse ano, que você guarda com você, que também te moldaram, tiveram influências sobre as novas etapas da sua vida futura.
R – Eu tenho umas histórias engraçadas, eu lembro que eu tive que fazer uns speeches na escola, na assembleia, toda semana tinha assembleia na escola. Mais no meio do ano, eu já estava falando inglês, depois de três meses eu estava falando, conseguia falar, com seis meses estava fluente no inglês. Tive uma evolução. Eu ganhei até um diploma na escola “The Great Talking Kiwi”, que eu não parava de falar, eu falava compulsivamente, os professores mandavam eu ficar quieta. E é muito engraçado, porque quando ela me deu o diploma, todo mundo riu, porque eu não gostava de falar, porque eu não sabia falar e eu não queria falar errado. E depois que eu, desembucha, desenrolei, falava compulsivamente na aula, que eu queria, aprendia, então eu queria contar tudo, contar o que acontecia comigo, eu queria compartilhar, enfim, eu ganhei o diploma. Eu tive que falar na assembleia da escola, já mais pro final do ano. Eu lembro que eu falei na assembleia de um fato que aconteceu e todo mundo riu, que também foi na escola. Uma vez eu estava no ponto do ônibus, da escola, que o ônibus era da escola. Aí tinha uma menina que ela ia no meu ônibus. Aí eu falei assim pra ela: “Olha pro meu dedo, meu dedão.” Só que o dedo é toe, mão é finger e pé não, é toe. Então eu falei assim: “Look at my fingers.” E no inglês, isso soa muito engraçado, porque ela começou a rir, outras pessoas vieram e começaram a rir, rir também, porque foi muito bizarro, porque pra mim eu estava me referindo como se fosse: “Olha pros meus dedos da mão.” Apontando o pé. Sim, pra mim, aquilo na hora ficou assim, hã? Mas até hoje, quando eu conto para um nativo, ele ri muito, porque eu trocava as coisas, eu trocava demais, mesmo já sabendo e tal, eu trocava uma coisa ou outra. Eu falei na assembleia, eu falei várias gafes que eu dei de inglês, às vezes eu até mesmo na sinceridade no falar, não é sua língua nativa. Mas as pessoas levavam: “Ah, ela é intercambista.” Tudo é desculpa: “Ela é intercambista.”
P/1 – Como era a relação com seus irmãos?
R – Com a minha irmã, no início foi um pouquinho difícil, mas depois a gente se deu bem. É porque a gente tinha a mesma idade, ela tinha acabado de chegar do intercâmbio no Canadá, com o AFS. Então ficou aquela coisa assim, como se eu tivesse tomando o espaço, até entender que não é tal. Aí depois a gente ficou amigas, só que aí quando a gente começou, levou um mês, começou a se dar bem, ela teve que, foi pra faculdade, ficou fora, em outra cidade, então nosso contato foi mais à distância, eu fiquei meio que filha única. Meu irmão também trabalhava o dia inteiro e final de semana ia para a casa dos amigos, mas ele era um amor, os dois, assim tive uma experiência muito boa, uma família muito boa mesmo, até hoje a gente tem contato.
P/1 – Você conheceu a Nova Zelândia inteira, viajou por alguns lugares?
R – Viajei, eu viajava muito com o meu pai, assim, final de semana, com os meus pais. Ele viaja, ele constrói casas na Nova Zelândia e então muitas vezes eu ia com ele para ver uma obra e a gente sempre passeava pela cidade. Acabava conhecendo. Mas nós fizemos duas viagens. Estava sempre passeando, todo final de semana a gente passeava e a gente fez uma viagem grande para a Austrália, mas uma bem grande mesmo foi para Ilha do Sul, a gente conheceu tudo, eles me levaram em todos os lugares. Fui eu, o pai, uma intercambista japonesa, uma brasileira, fomos de carro, eles que levaram, a gente ficou 15 dias viajando, conhecemos tudo. Acho que conheci a Nova Zelândia de ponta a ponta.
P/1 – Conta pra gente como foi o seu retorno, como foi voltar pra casa.
R – É a parte mais difícil, que vai chegando com você. No início você se comunica, está sempre se comunicando com a família, mas depois você já não quer mais, e a família aqui, os amigos aqui reclamam que você não dá notícias. Isso é natural, você: “Não, eu tenho mais o que fazer, eu quero aproveitar.” Você quer aproveitar cada minuto, e daí eu comecei a pensar na volta, a sofrer com a volta. Eu voltava pro Brasil dia 3 de janeiro de 1997, estava marcado meu voo. E um ano depois, quanta mala, quanta bagagem. Bagagem de conhecimento, de crescimento, aprendizado, tudo. Quilos. Você engorda, engordei 30 quilos. Engordei muito em um ano, por isso que fala, que o AFS é Another Fat Student, é uma outra sigla, porque é impossível não engordar. Porque quando eu saí daqui, eu sabia que um dia eu ia voltar, era certo, em um ano eu estava de volta. Mas saindo de lá, eu não sabia quando eu ia voltar para lá. Então, foi muito duro, foi muito difícil mesmo, eu queria voltar porque eu queria ver, queria rever os meus amigos, a minha família, mas ao mesmo tempo eu não queria deixar aquele ano para trás. A escola, meus amigos, minha família. Aí, quando eu voltei, eu tive choque cultural inverso, foi tudo mais difícil, na volta foi tudo mais difícil. Eu não sabia. Quer dizer, não é que não sabia, a gente é até orientado, o AFS orienta, mas foi muito difícil meu retorno, muito mesmo.
P/1 – Você se sentiu diferente? O que a viagem te mudou?
R – Você acha assim. Primeiro que você se acha a madura (risos). É engraçado isso, mas você acha que está todo mundo errado e só você certo, porque você começa a ver as pequenas coisas, trânsito, as formas como as pessoas te atendem nos lugares. Eu era uma adolescente, mas aquilo, eu achava que estava todo mundo errado e eu tinha, eu tentava ensinar a fazer o que era certo e eu ficava falando o tempo todo da Nova Zelândia, ficava enchendo o saco de todo mundo, ninguém tinha paciência mais de ouvir: “Ah, porque na Nova Zelândia é assim.” E eu comparava tudo, muito difícil. Fiquei, vou te dizer, fiquei uns três meses, assim, porque o AFS mesmo tem isso, a gente, depois que você amadurece mais entende. O choque cultural inverso. Eu tive um choque cultural inverso muito forte mesmo, de não querer conversar com ninguém. Depois de um tempo, você: “Ah, porque as pessoas não têm educação” (riso). Mas depois eu vi que não era assim.
P/1 – Como você tomou decisão de sua escolha profissional?
R – Eu tomei paixão pelo Inglês, porque eu não falava, eu comecei a gostar, quero Inglês. Voltei e falei: “Vou fazer Letras, quero ser professora, quero ensinar Inglês.” Aí fui fazer Letras Português Inglês, sou professora (risos), sim, simples assim, nada de Jornalismo.
P/1 – E como foi a faculdade?
R – Olha, a faculdade foi, no início tudo é muito legal, depois vai ficando mais difícil, comecei a trabalhar também, inclusive eu trabalhei também no AFS. Como funcionária, na época eu estava até trabalhando aqui, trabalhava e estudava, foi ficando puxado, mas eu queria ensinar, achava que eu sou, vou ser a professora, tipo, sei inglês. E, o detalhe, eu ainda achava, muito engraçado, achava que eu falava inglês igual ao kiwi, o sotaque neozelandês, aí um dia meu pai até falou: “Ouve a sua gravação de voz, pra você ver como é que não.” Eu fiquei decepcionada, falei: “Nossa! Sotaque forte bem brasileiro mesmo falando inglês.” Mas a faculdade foi muito boa.
P/1 – Eu queria que você falasse agora, Olga, depois desse seu retorno, do seu envolvimento como voluntária. Você falou que chegou a trabalhar aqui no escritório. Eu queria que você contasse essa sua nova fase de sua trajetória com o AFS agora já mais envolvida.
R – Eu voltei do intercâmbio eu fui ser voluntária, eu já fui presidente de comitê Rio de Janeiro, depois eu vim trabalhar aqui, trabalhei cinco anos, saí, logo voltei a ser voluntária, fui por todos os cargos voluntários. Eu fiquei responsável pela região Sudeste, fui diretora regional, presidente de comitê. O AFS sempre esteve muito presente na minha vida e mesmo minha família sabendo o que é o AFS e o que é o AFS pra mim, eles ficam: “Ai, meu Deus do céu, sempre o AFS.” Mas minha mãe entende, ela sabe: “Nada, ninguém pode concorrer com o AFS na sua vida.” E eu fiquei responsável, por mais que seja voluntário, demanda tempo, mas, assim, é prazeroso, não tem como, é inexplicável, só você passando, quando você passa a ser, tem esse amor, essa paixão, você entende o que é, a importância do AFS. E logo eu fiquei responsável pela região Sudeste, fui presidente de comitê, depois também fiz a parte administrativa da região, conselheira regional, mas o que eu mais gostava de fazer, era dar orientação regional, que é quando você dá orientação antes dos meninos viajarem, dos brasileiros, e quando eles voltam: orientação de retorno, pré-partida e retorno. Aí depois eu vim pro conselho diretor. Hoje eu sou do conselho diretor, fui reeleita agora, tenho mais três anos de mandato, eu saio em 2018, mas estou sempre aí, 20 anos de AFS.
P/1 – Bom, você chegou a ser presidente de comitê, você passou por todos esses cargos, conta pra gente quais as mudanças significativas que você acompanhou nesse período, um pouquinho desse histórico do AFS que você viveu nesses anos
R – Mudanças em que sentido assim que você diz?
P/1 – No sentido, se você puder contar da sua perspectiva dos cargos que você... Primeiro você tinha tais funções aí você acompanhou isso, depois você tinha tais funções.
R – A gente meio que faz uma carreira no AFS. Você começa como voluntária e, assim, você não é promovido, não tem retorno financeiro, não tem nada, pelo contrário, mais trabalho. E depois do conselho diretor, é cargo internacional, mas eu não pretendo “aplicar” para nenhum deles. É cargo internacional voluntário. É o crescimento, você vê começar, a cada cargo você vê a organização de um ângulo diferente. É responsabilidade, que você tem, como presidente de comitê é bem local. O que você trata ali é local. Agora, quando é diretor administrativo, regional, é com toda a região. Você responde pela região e tem que falar com a secretaria executiva. São várias coisas envolvidas. Hoje vejo, eu conheço um pouco de tudo da organização. Por ter passado por todos os cargos, então os processos, a mudança da gente ter passado de application de papel para online, hoje é tudo online, até mesmo a tecnologia, você olha para trás e vê o quanto a gente evoluiu e também, o conhecimento que eu adquiri de ter feito parte de todas as instâncias da organização.
P/1 – Pelo teu período de vivência no AFS você pegou bem assim a gestão do Eduardo. Eu queria que você falasse um pouquinho como que foi esse período, o que ele reestruturou, o que mudou para a ótica do voluntariado, porque ele também sempre tem um discurso muito forte de fortalecer os laços dos voluntários e como foi o período depois da saída dele, o que aconteceu, se puder contar um pouquinho dessa parte da história pra gente, que é importante.
R – É? (pausa) Vai ser editado? (risos)
P/1 – (risos) Não, mas a gente não usa tudo.
R – (riso) Não, eu tenho uma relação ótima. O Eduardo para mim foi um exemplo, foi o cara, digamos. Não tenho nada o que falar dele. Ele era pra mim um exemplo positivo em tudo. Desde horário, em tudo, tudo. Era um excelente chefe, porque eu também trabalhei com ele. Ele não era meu chefe direto, mas peguei um período muito bom na secretaria executiva, que ele era o superintendente, o diretor nacional, tanto é que ele está hoje no internacional, eu encontrei com ele em Kuala Lumpur, mês passado. Ele também estava no congresso e eu tenho uma boa relação com ele. Ele é uma pessoa muito querida pro AFS Brasil, pra mim, eu tenho certeza que pra todas as pessoas que trabalharam com ele naquela época, todo mundo tem uma admiração muito grande por ele. Ele ficou dez anos como superintendente, como diretor nacional, e a saída dele foi muito lamentada, foi dolorosa, mas foi o melhor pra ele. E a saída dele foi dolorosa em todos os sentidos porque a gente depois teve uma diretora nacional. É porque vai editar? Porque é tão ruim.
P/1 – Não, não precisa nem entrar. O que eu queria mesmo que você falasse são coisas que mudaram na dinâmica do voluntariado nesse período que você acompanhou. Se acrescentou algum tipo de dinâmica
R – O que acontece, a gente teve uma superintendente bem complicada e eu trabalhava na secretaria executiva. Isso vai ser editado (risos). E eu e mais uma menina na época, a gente a denunciou. Então, com tudo isso que aconteceu, ela saiu, graças a Deus. Graças a Deus veio a Andreza, a Andreza é uma pessoa ótima, uma pessoa muito querida, uma excelente profissional, teve uma aproximação muito maior do voluntariado em si. Parece que eles tomaram o compromisso maior assim do que é o AFS, vamos vestir a camisa, vamos lutar agora pela organização pra não deixar a peteca cair. E meu Deus, o Eduardo nisso, porque ele tinha que seguir a vida dele e tal. E teve a parte do voluntariado ter fortalecido por conta disso (riso). Ah, não sei.
P/1 – Não tem problema. Eu queria que você contasse pra gente desse tempão assim de AFS, desses 20 anos, algumas histórias, casos de coisas bacanas, engraçadas, peculiares que você viveu, se você lembrar de algum evento, congresso, coisas que marcaram esse período.
R – Teve os 50 anos do AFS, que a minha família hospedeira estava aqui. Eu nunca tinha bebido na minha vida. Eu tinha 26 anos, não era novinha, eu nunca tinha bebido na minha vida. Aí na festa de gala, toda trabalhada na escova, de longo, toda arrumada, bonita, a minha família aqui, comecei a beber prosecco. Eu era funcionária na época, mas eu estava ali como convidada, como todo mundo, ex-intercambista e tal, ex-AFSer. E daqui a pouco eu fui começar a dançar, dançar e começava a servir todo mundo na pista. Eu vi fotos, eu tenho flashes até hoje. Passam assim na minha cabeça. Daí a pouco eu sentei. As funcionárias, que são minhas amigas, Fabiane me levou lá para fora e eu comecei a passar mal. “Meu Deus, minha família hospedeira. Ai, minha família hospedeira. E agora? Eu vou voltar” (risos). Voltar, assim, quando você faz intercâmbio, que tem regra de ouro e tal, se eu faço uma coisa dessa no intercâmbio, provavelmente eu ia, ia ser um caso de voltar pra casa mais cedo. Eu estava ali como se eu fosse intercambista, com 26 anos, no meu país. “Me esconde, não deixa eles me verem, eles não podem me ver, de jeito nenhum”. Comecei a chorar, chorar. Me colocaram numa cadeira de rodas, porque eu estava hospedada no hotel, me levaram pro meu quarto, mas isso depois de ter tomado glicose (risos). Eu nunca tinha bebido, foi o meu primeiro porre. E eu não sabia, porque prosecco você vai bebendo. Hoje eu não consigo sentir o cheiro de prosecco. Uma história muito engraçada. Aí no dia seguinte eu acordei supermal, todo mundo: “Olga, desce, desce”. Eu falei: “Eu não estou conseguindo, eu estou sentindo uma dor na barriga, no estômago e muita tonteira.” Eu não sabia que você tinha que hidratar. “Ah, você tem que hidratar. Bebe água.” Levaram água pra mim. Eu desci, eu lembro que eu desci com a garrafa d’água assim, fiquei curvada. Minha família: “O que é isso, Olguinha? Está vivendo o intercâmbio? Não é assim.” Começaram a encarnar. Foi uma história hilária. Porque eu estava achando que eu era intercambista. Na minha cabeça, na hora que o álcool bateu, eu revivi. Mas eu vivi muitas histórias assim. O tempo que eu trabalhei na secretaria executiva eram histórias engraçadíssimas. Dia-a-dia era muito bom, o clima ótimo, descontração, profissionalismo, amor. Todo mundo que trabalha, vem trabalhar aqui, toma um amor muito grande, às vezes nem precisa ter feito intercâmbio, mas passa pelo AFS e veste a camisa de verdade.
P/1 – Fala um pouquinho das atividades que você exerceu, suas funções quando você estava na secretaria executiva
R – Eu comecei como assistente de envio, fazia envio, enviava os brasileiros, fazia todo o processo, e depois eu fiquei como coordenadora de programas.
P/1 – Como coordenadora de programas você acompanhou alguma mudança, alguma inserção?
R – Teve mudança, porque a gente teve mudança de diretor nacional, que veio a ex-chefe, na época. Ela ficou como responsável pela secretaria executiva, mas foi um momento assim também muito bacana porque a secretaria executiva se uniu bastante. No AFS você realmente cria laços. Não cria laços que são desfeitos, você cria laços fortes. Que você leva para sua vida. Até hoje eu falo. Eu tive um dos melhores anos da minha vida. Eu levo isso todo dia, minha vida inteira. É muito presente o AFS na minha vida, e muito gratificante você vê, quando você prepara, por isso eu gosto de fazer orientação. Você prepara um brasileiro, um estudante para ir. Não tem, não sabe nada, só quer saber um pouquinho do país, mas quando você chega lá a realidade é muito diferente. Não é uma viagem a passeio, Europa. E você acompanha, de longe, o ano dele, quando volta você vê o que ele aprendeu, o amadurecimento, o crescimento e ele conta para você na orientação como foi o ano, os piores momentos, as dificuldades, os melhores momentos, você escuta de tudo, é muito gratificante. A mesma coisa o gringo. Você vê o gringo voltar, falando muitas vezes com sotaque da cidade que mora, chorando, não querendo ir embora. Viajei agora, tive com gringos que fizeram intercâmbio aqui no Rio de Janeiro, que eu tive contato, foram à minha casa, fiquei hospedada na casa de um deles. O mundo AFS é muito pequeno. Uma vez que você faz parte desse mundo, o mundo se torna pequeno para você.
P/1 – Olga, para vocês que são dessa dinâmica já interna da AFS algumas coisas parecem um pouco óbvias, mas é legal a gente deixar registrado pra ficar pra história, você falou dessa questão da carreira do voluntário, que é como se ele fizesse uma carreira mesmo. Então, se você pudesse contar pra gente, você que passou por todas as etapas como que funciona isso dentro da AFS. Fala um pouquinho disso pra gente.
R – Acho que começa pela dedicação. Todo mundo começa como voluntário. Eu nunca, sinceramente, imaginei que eu hoje ia estar no conselho diretor, que eu ia fazer parte do conselho diretor, porque é um cargo, você responde pela organização. Não que eu responda diretamente. Eu comecei como voluntária, depois presidente de comitê, as coisas vão acontecendo sem você sentir, porque tudo requer. É um trabalho voluntário, você tem o seu trabalho, a sua casa, sua família. Eu não sou casada, não tenho filhos, mas quem tem, quer dizer, você saber conciliar, e muitas vezes demanda muito tempo sim o AFS. Porque as pessoas, o candidato quer viajar ele não está nem aí se você está jantando ou não, ele está te ligando. Então: “Ou me liga daqui a pouco ou daqui a pouco te ligo.” É assim. Então você tem que aprender também na sua casa, é tempo mesmo, demanda tempo. Mas não é uma coisa chata: “Ai que saco.” Você vai fazer, você vai se envolver cada vez mais, cada vez mais, aí vai. Daqui a pouco passa a ser presidente de comitê. Você como presidente de comitê você tem que estar sempre em contato com a região toda, com a sua região, no caso com a região Sudeste. E a gente tem as reuniões, então daqui a pouco você vai e pega outro cargo, cargo regional, diretora regional, diretora administrativa, as coisas vão acontecendo naturalmente, porque você está ali, o tempo de dedicação, de conhecimento, e você sabe que pode contribuir com a organização, é, aquilo que você sabe, e uma coisa vai puxando a outra. Quando eu fui ver eu era conselheiro regional. Porque todo voluntário ele pode chegar ao conselho diretor, porque antigamente as pessoas diziam: “Ah, pra ser do conselho diretor você tem que ser empresário.” Não tem nada a ver. Eu fui, minha carreira foi sendo construída assim, foi naturalmente, as coisas foram acontecendo, até que chegou o momento em que eu falei: “Ah, vou me candidatar ao conselho diretor. Eu posso contribuir, eu tenho bastante know how, passei por todas as instâncias, tenho bastante a contribuir, então eu quero crescer.” Porque conselho diretor é bem diferente, o trabalho, a dinâmica, o que a gente faz, a gente não trata muito de operacional, programas, é governança.
P/1 – E fala um pouquinho agora do conselho pra gente.
R – Então, esse é meu terceiro ano, eu tenho mais três, que eu fui reeleita este ano, mas o novo mandato começa a partir de 1º de janeiro. Conselho diretor, atualmente, nós somos em cinco membros do conselho diretor, o conselho nacional, e uma que é representante da DNO, que é a Diretoria Nacional de Operações, o AFS é cheio de siglas, quase uma equação. A gente tem um trabalho, o conselho diretor atual é muito harmônico. Graças a Deus a gente tem um grupo muito bom, que se um não concorda com o outro, na conversa a gente chega a um denominador comum. As nossas reuniões são prazerosas, a gente tem reunião no final de semana agora. A gente nem sente mais a hora passar e você vê, assim, a responsabilidade que a gente tem. Eu não assino, a presidente assina pela organização, mas você vê a responsabilidade que você tem. É diferente porque você está aqui, conselho diretor, e muitas vezes a base acha que, os outros cargos, acham como se o conselho diretor resolvesse todos os problemas do mundo e não é assim. Então, é porque a gente também não pode envolver muito no operacional, é mais a governança, mas ao mesmo tempo a gente tem que estar ciente do que está acontecendo e também não virar as costas, mas isso é um pouco perigoso, você acaba distanciando, mas isso é o que não está acontecendo graças a Deus com o atual conselho diretor. A gente está próxima da base, a gente quer essa proximidade. Então, hoje a gente está com várias propostas diferentes, mudanças para a organização, de uma aproximação maior com o voluntariado, trabalhar mais junto deles, as políticas, estatuto da organização, tudo, e crescer, a gente está querendo crescer, no envio, recebimento, fazendo campanha, todo mundo vestindo a camisa, “Sou AFSer” e hashtag “Sou AFSer”. E crescendo cada vez mais, se Deus quiser, pro ano que vem, pros 60 anos, seremos surpreendidos positivamente.
P/1 – Desse tempo de AFS, teve algum momento de muita dificuldade, período de crise foi superado, se você puder contar pra gente algum momento, alguma dificuldade como foi superada
R – Olha, foi superado, hoje eu vejo que eu tenho amigos. Mas eu tenho amigos de verdade no AFS, amigos mesmo, amigos que eu levo para a vida toda. Sei que não são amigos momentâneos, mas que me ajudaram, assim: “Não deixa a peteca cair, vamos, faz assim, faz assado, você é muito importante pra organização.” Foi superado com a amizade, a compreensão, o carinho dos amigos, mais interessantes que são amigos que moram cada um em um lugar do Brasil, ninguém mora perto. Um mora no Sul, Sul do Brasil, outro mora no Nordeste, mas o contato quase que diário, assim, WhatsApp ou é telefone, o contato é muito grande. Tem épocas de a gente falar, às vezes, todos os dias. Viaja, um vai pra casa do outro, são laços eternos.
P/1 – Qual foi sua maior conquista nesse período?
R – A maior conquista é, pra mim, ser a pessoa que eu sou hoje, que o AFS me ajudou a ser uma pessoa melhor, através do que cada vez a gente prega, a tolerância, a diversidade, o respeito e o AFS me fez entender isso. Apesar de 20 anos de organização, eu vou dizer pra você que a partir do ano passado que eu comecei a entender melhor, quando a gente vai vivenciando coisas na nossa vida e ali se aplica a missão do AFS. E eu vejo que o AFS me ensinou a ser uma pessoa melhor em todos os sentidos e também ter chegado ao conselho diretor para mim também foi uma grande conquista.
P/1 – E quais são os principais desafios hoje do conselho?
R – Olha, a gente fala muito, a rede AFS como um todo fala muito em crescimento, growth. Mas o principal é crescimento com qualidade, sempre. É que tem a parte financeira, tem várias coisas que envolvem o crescimento. E o nosso principal desafio é continuar crescendo com qualidade, porque em meio à crise, em meio a tudo isso que a gente está vivendo, não é fácil você crescer em número, principalmente, porque qualidade eu não tenho dúvida que a gente tem muito, e a gente tem mantido esse padrão. E o AFS Brasil tem sido muito bem avaliado em todos os sentidos, pelo bom serviço, da secretaria executiva também, que sem eles, assim, na verdade, sem eles a gente não é nada, um precisa do outro, a base e a secretaria executiva. Mas o maior desafio hoje é o crescimento mesmo da organização, em meio a tudo isso que a gente está vivendo. Manter o nosso crescimento.
P/1 – E nesse seu tempo de AFS quais você considera que foram os divisores de água nesses 20 anos?
R – Os divisores de águas desses 20 anos? Em que sentido você fala?
P/1 – Grandes acontecimentos que mudaram o curso da história o AFS ou que marcam a história.
R – Que marcam a história do AFS? Do AFS Brasil?
P/1 – Isso, do AFS Brasil.
R – Olha, eu acho, eu vou te dizer que foram até esses três anos meus do CD [Conselho Diretor] eu vejo que realmente foram um divisor de águas. Esse atual CD, trabalhar da forma como está trabalhando, da proximidade com a base voluntária, de dar mais espaço para a base voluntária, a dinâmica que a gente tem usado para trabalhar com finanças, governança, voluntariado. Isso foi, nesses três últimos anos, eu vi que realmente foi o divisor de águas para finalmente, ser o boom do AFS. Caminhar a passos largos, crescer, caminhar pra frente a passos largos.
P/1 – Agora eu vou voltar a umas perguntinhas mais pessoais e depois tem umas perguntas finais pra a gente encerrar, ok? Eu queria que você falasse um pouquinho qual é a sua rotina hoje. Você é professora, ainda dá aula?
R – Então, eu acabei de me mudar pra São José dos Campos, tem duas semanas. Hoje completa duas semanas que eu moro em São José dos Campos. Agora que a gente conseguiu finalizar, arrumar a nossa casa. Eu moro com a minha mãe, meu irmão e meus três cachorros. E no momento eu não estou trabalhando, que foi a mudança. Eu retomo meu trabalho em fevereiro do ano que vem. Eu venho ao Rio de Janeiro mesmo para gravar e porque a gente tem reunião do conselho diretor nesse final de semana, que é sábado e domingo, que a gente vai delegar muitas coisas (risos).
P/1 – O que você considera que são as coisas mais importantes pra você hoje, Olga?
R – Pra minha vida? Primeiro lugar, minha família, sem dúvida. Nesse sentido que você está perguntando? Minha família, Deus na minha vida, que sem ele, nada (riso). Eu vou colocar, sem, não quero parecer clichê, mas eu vou colocar o AFS, porque tá entre as coisas mais importantes, não é a mais, mas assim, porque como meus amigos estão no AFS, tenho ótimos amigos no AFS e ele é muito presente na minha vida, e eu vejo muito na minha vida profissional, está entre as cinco mais importantes, eu coloco o AFS também, está como a quinta mais importante.
P/1 – Quais são os seus sonhos e aspirações pro futuro?
R – Aspirações? Olha, casar, ter filhos, quem sabe? Eu gostaria de ter filhos, casar, não é minha motivação de viver, mas eu gostaria.
P/1 – E o que você sonha pra AFS?
R – Eu sonho pro AFS Brasil ser top assim na rede, em tudo. Não é questão de qualidade. AFS Brasil é que a gente tem tudo para crescer muito no envio, no recebimento, nos números, ter uma escola de líderes aqui. As pessoas trabalhando ativamente, voluntariado ativo, ter um AFS igual o AFS Argentina, que pra mim é um exemplo, que é um país que está tão aqui pertinho e o AFS lá funciona muito bem, em todos os sentidos, e eu sei que a gente pode.
P/1 – E o que te motivou todos esses anos sempre a continuar? Porque, na verdade, como você mesma falou, acaba que é uma coisa voluntária, que demanda tempo. O que sempre te motivou?
R – Pois é, eu acredito... As pessoas perguntam: “O que você ainda está fazendo no AFS ainda?” Todo mundo, não só eu, mas os amigos assim, perguntam pra todo mundo, sempre falam esse tipo de comentário pra quem é AFSer. Não tem explicação. Eu vou dizer assim, que é um amor incondicional, porque, eu não sei, a gente não larga, é um vício, vício sadio. A gente não sai, não larga, não sei. Eu vou daqui a três anos sair, eu não posso me reeleger, eu vou sair do conselho diretor, provavelmente pra fazer trabalho de base de novo, que eu não pretendo me candidatar a um cargo internacional. E você fica sempre... AFS é um orgulho, quando você vai é um orgulho que você tem. “Sou AFSer”.
Câmera – Desculpa, fala, que essa frase ficou muito boa e você botou a mão bem na hora. Desculpa interromper, é que foi bem em cima, Olga, desculpa.
R – Pode falar? É um orgulho, assim, você “sou AFSer”. Tanto que tem a campanha, hashtag “Sou AFSer”. Você encontra alguém “Ah, você foi AFSer?”. Os mais antigos falam American Field” “É! American Field! Sou AFSer.” É um orgulho que você sente de, só quem, não necessariamente você precisa ter feito intercâmbio para isso, porque a gente tem muito voluntário que não fez e tem esse amor, tem essa paixão, não tem explicação.
P/1 – E todas essas fases que você passou, teve algum congresso, alguma viagem, encontro que você lembra, que tenha sido muito emocionante?
R – Que tenha sido muito emocionante? Eu sempre me emociono. Se eu vejo o vídeo Imagine do AFS, eu choro. Eu vejo vídeos com cenas do AFS, eu choro. Na verdade, todo congresso sempre tem alguma coisa que passa, que mexe, um videozinho que passa e, com cenas de intercambistas, põe uma música de fundo. Não tem um congresso, um evento, até mesmo aqui no Brasil, que tem, e a gente sempre, e você vê intercambista se abraçando, é aquela coisa, aquele depoimento, sempre passa um depoimento de alguém que está lá fora, de alguém que voltou. Eu sinceramente, é impossível não se emocionar, sempre, você vê, você se coloca: “Eu já vivi isso.” Não tem preço.
P/1 – Olga, agora pra a gente encerrar, vou te fazer só mais duas perguntinhas. E queria te perguntar o que você acha da gente contar a história desses 60 anos através da experiência de vida de vocês, que fazem essa história?
R – Eu acho que é uma ideia genial, uma ideia fantástica, porque a gente tem muito para passar. É o nosso amor, nosso carinho, essa experiência que a gente viveu, quem fez intercâmbio que viveu. Como eu disse, você leva isso pela vida inteira, os melhores anos da minha vida. E é uma oportunidade de a gente passar pro mundo, digamos assim, o que o AFS é. O que o AFS é para mim, pra cada um de nós. A chance de a gente mostrar pro mundo quem a gente é, mostrar a nossa cara. São 60 anos, não são dez anos. Sessenta anos, é toda uma história, motorista de ambulância, tudo. Você pegar minuciosamente a nossa história é uma história muito bonita, tudo que a gente construiu ao longo desses 60 anos e o que a gente vem construindo, o que a gente vai construir.
P/1 – E como que foi pra você contar a tua história de vida pra gente, voltar atrás, lembrar?
R – Então, eu sou muito sensível, eu choro e tal, até só teve dois momentos assim que eu me segurei, pra não borrar a maquiagem (risos). Eu até fiquei aqui pensando, nossa, que eles devem, porque pra vocês deve ser, ai, todo dia tá ouvindo, várias vezes ao dia. Mas, assim, é que pra gente não tem (pausa)
P/1 – Mas mesmo pra gente cada história é uma história, cada uma é mais emocionante que outra também
R – Era isso (emocionada).
P/1 – Então, muito obrigada, Olga, pela sua participação. Parabéns pela sua história, obrigada.
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