Entrevista de Hélio Joaquim
Entrevistado por Lila Schnaider, Janaina Cescato e Victor Lopes Mausano Brasil
São Paulo e Barra Bonita, 08/12/2021
Projeto: Todo lugar tem uma história para contar - Barra Bonita
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: PCSH_HV1151
P/1 - Boa tarde Hélio, tudo bom?
R - Boa tarde, tudo bem?
P/1 - Tudo bem. Hélio você podia começar, por favor, falando o teu nome, local e data de nascimento?
R - O meu nome é Hélio Joaquim, sou natural aqui de Barra Bonita, São Paulo, sou de agosto de 1972, e sempre residi aqui mesmo em Barra Bonita.
P/1 - Você nasceu aí? Onde você nasceu?
R - É, eu sou natural aqui mesmo de Barra Bonita, e desde sempre moro aqui, cresci aqui, constituí família, trabalho e tudo mais.
P/1 - E como é que era o nome dos teus pais?
R - Minha mãe Maria dos Santos, meu pai José Joaquim Neto. Minha mãe durante um tempo foi do lar, depois… ingressou a trabalhar, temos uma usina de cana de açúcar, ela ingressou, foi trabalhar na roça, e meu pai eletricista, semianalfabeto, mas eletricista, três filhos, e para ajudar na renda familiar, então os dois trabalhando.
P/1 - E você sabe a origem deles?
R - Minha mãe é paulista, meu pai é do estado de Sergipe e veio para cá, para São Paulo, conheceu minha mãe aqui na região do Pontal do Paranapanema, lá casaram, Barra Bonita e aqui, por aqui mesmo ficaram, não saíram mais.
P/1 - Mas você sabe dos seus avós, de onde eles vieram?
R - Então, por parte do meu pai, do estado de Sergipe, por parte da minha mãe, também. Só que a minha mãe nasceu no estado de São Paulo. E minha mãe é paulista, meu pai sergipano. Somos em quatro irmãos, todos nascidos aqui na cidade de Barra Bonita. Todos cresceram aqui, aqui estudaram, construíram família e estão aqui até hoje.
P/1 - Os avós eram de Sergipe também?
R - Isso, também.
P/1 - E quando você era pequeno o que eles faziam?
R - O meu pai trabalhou um tempo também na roça, meu pai semianalfabeto, então ele trabalhou aqui, nós temos usinas de açúcar aqui, então a maioria das pessoas que moram aqui acabam ingressando nesse ramo de atividade, e nesse tempo meu pai fez um curso de eletricista, aprendeu a profissão e seguiu nela até se aposentar.
P/1 - A sua mãe também trabalhou?
R - Sim, minha mãe, o que acontece. Com meus treze anos de idade, quando eu tinha treze anos de idade, meu pai e minha mãe se separaram por algum motivo lá que a gente não sabe direito, mas separaram e a minha mãe teve que praticamente ser a provedora, embora meu pai ajudasse, mas ela passou a ser a provedora e acabou indo trabalhar na roça também, na usina de cana de açúcar, ela ficou um bom tempo até se aposentar também.
P/1 - Ela trabalhava fazendo o quê?
R - Ela trabalhava no corte de cana aqui na usina, na época era usina da Barra, hoje é Raízen e trabalhava no corte de cana, no plantio de cana e na capinagem, trabalhou nisso durante uns vinte anos para ajudar na criação dos filhos.
P/1 - E você acompanhava ela às vezes?
R - Eu, na verdade, com treze anos eu já estudava, nessa época eu acabava ajudando também, a gente acabou passando uma necessidade muito grande, por falta da presença paterna, embora ele ajudasse, mas a figura paterna é importante no ambiente familiar, então eu também me virava, ajudava um vizinho, aí ganhava um dinheiro, cheguei a catar papelão para vender para ganhar um dinheiro, fui entregar jornal para ganhar um quintão, quer dizer, eu também acabava trabalhando nas horas de folga para poder contribuir com o que eu pudesse.
P/1 - E desse momento da separação o que você se lembra?
R - Eu me lembro de algumas discussões, eu não tinha o entendimento do que estava ocorrendo direito, também não abriam sobre pra gente, algumas discussões e o final da história foi a separação e até então não voltaram mais. Meu pai seguiu, construiu uma outra família. Minha mãe seguiu sozinha e está sozinha até hoje. Sozinha não, nós estamos com ela lá, até hoje ela é sozinha.
P/1 - E quando você soube da separação como foi assim para vocês, já esperaram?
R - É um momento triste, não sei, você acaba ficando um vazio, você não entende o que está acontecendo, não entendia e a falta paterna é difícil, e teus amigos tem pai, aquela coisa, seu amigo está sempre com o pai, aí você vê o seu colega com o pai, não é fácil, é difícil, tem alguns momentos, algumas datas que nos remete à figura paterna, ele não está presente. Então a gente já passou por tudo isso, você não tem um conselho do pai, não tem orientação, a presença em si é muito importante, e essa falta causa um vazio muito grande, você fica meio que perdido.
P/2 - Seguinte Hélio, me parece que essa infância toda, por ser uma realidade difícil aqui em Barra Bonita, a gente ficava marcado, a criança ficava marcada, não só pelo casamento desfeito, mas por uma realidade difícil, o corte da cana, difícil de entender para o universo da criança, se sentia perdido nesse meio de caminho.
R - Como eu disse, tinha treze anos, e meu irmão tinha dois anos mais velho, ele tinha quinze, então a minha mãe teve que submeter a um trabalho duro que é o corte de cana, um trabalho pesado e acabou sendo a provedora da família e a gente ficava na ociosidade em casa, e graças a Deus era outros tempos, não é os tempos de hoje, porque se fosse hoje eu não citei o que iria acontecer, mas tivemos uma boa educação, embora minha mãe semianalfabeta, sempre nos deu a educação muito boa de acordo com as possibilidades dela e nos manteve em um caminho legal.
P/1 - E o que vocês gostavam de fazer quando eram crianças, assim com os irmãos de brincadeira ou de sair?
R - Na verdade eram brincadeiras bem saudáveis, brincar de bola de gude, brincar de pião, soltar pipa, correr na rua, eram brincadeiras que eu me recordo, tenho saudades, eram brincadeiras bem saudáveis com os colegas na rua, a gente não se afastava muito de casa até pela educação que a gente tinha da mãe. “Não vai para muito longe, não fala com estranho”, enfim, a gente tinha brincadeiras bem saudáveis mesmo, tinha algumas situações que a gente mesmo tinha que produzir os próprios brinquedos, porque não tinha recurso, a gente confeccionava caminhãozinho, usava um chinelo velho fazia uma rodinha, fazia um caminhãozinho e brincava de arquinho, uma série de brincadeiras saudáveis que hoje não existe mais infelizmente, hoje a era digital acabou exterminando essas brincadeiras.
P/1 - Tem alguma brincadeira específica ou algum caso específico que você lembra dessa época dessas brincadeiras?
R - Olha, teve uma situação que a gente brincava com pneu velho, a gente brincava com pneu velho e era todos os colegas, cada um tinha um pneu, e eu lembro que nós tínhamos aqui uma pessoa na cidade que era uma espécie de juizado de menores, e ele meio que perseguia a gente e eu tinha um pneu que eu achava ele maravilhoso que ele era preto e ele tinha uma lista branca em volta, ele era um pneu meio que exclusivo, e essa pessoa que fiscalizava, que era uma espécie de Juizado de Menor, acabou levando o meu pneu, isso para mim foi uma perda terrível, tem outras brincadeiras por exemplo, eu soltava pipa, eu mesmo confeccionava minhas pipas, minha mãe não gostava muito que eu ficava o dia inteiro no sol, na rua e ela quebrava a minha pipa, eu ia lá e confeccionava outra. Então acabei desenvolvendo uma habilidade para fazer pipas e tudo mais, então eram brincadeiras baratas, que não requer muito recurso financeiro. Uma criança pode desenvolver uma habilidade, ela pode aprender que ela é capaz de fazer um brinquedinho, de confeccionar uma pipa por exemplo, um pneu velho por exemplo é fácil, então quer dizer, esses brinquedos mais que eu tenho na memória, que eu adorava brincar.
P/1 - Onde você gostava de soltar pipa?
R - Na época, Barra Bonita era uma cidade com menos habitantes, tinham menos bairros, era uma cidade menor, então tinha bastante campos abertos que a gente ia para soltar pipa e a gente sempre recebia recomendação: “cuidado para não soltar próximo das casas por causa da fiação elétrica”. Tem alguns campos, tinha vários campos abertos que a gente se reunia com os amigos e ficava ali o dia todo às vezes, ou chegava da escola ia já soltar pipa, eu cheguei soltar pipa até a noite para você ver como eu gostava, até a noite, a gente ia para esses campos abertos, até para preservar o nosso bem precioso que era a pipa, o papagaio, era assim.
P/1 - Onde eram esses campos abertos?
R - Esses campos eram bem próximos da nossa residência, coisa de quinhentos metros, oitocentos metros, era um bairro pequeno, com poucas casas, então em volta era campo aberto, ou era canavial, ou era um campo aberto. Então era bem próximo de casa, a gente não saía para muito longe para exercer essa atividade.
P/1 - Qual era o bairro?
R - O bairro aqui em Barra Bonita era Jardim Brasil, bairro de Jardim Brasil, é um bairro bem próximo do centro aqui, cerca de três quarteirões do centro, depois a cidade foi crescendo, foi povoando, mas na época era um bairro ainda em desenvolvimento, não tinha nem asfalto ainda, depois foi melhorando, hoje está um bairro mais povoado, mais acabado.
P/1 - Você sempre morou aí?
R - Eu morei um tempo com minha mãe, depois eu acabei indo morar com meu pai. Meu pai mora em uma cidade vizinha aqui em Barra Bonita, coisa de cinco quilômetros eu acho, então acabei indo morar com ele lá por quase cinco anos, eu morei com ele lá e meu pai tinha uma outra esposa, então fiquei com eles lá uns cinco anos mais ou menos. Igaraçu do Tietê é a cidade vizinha de Barra Bonita. Atravessou a ponte, o rio Tietê já é Igaraçu. O que separa as duas é o Rio Tietê.
P/1 - E como era esse translado de Igaraçu para ida, de Barra Bonita para Igaraçu?
R - É, aqui na verdade nós temos um transporte coletivo, que leva de Barra pra Igaraçu, de Igaraçu para Barra. Mas quando eu vinha, quando eu estava morando com meu pai, meu pai trazia de carro, vinha buscar ou eu também vinha de coletivo, voltava de coletivo, o meio de transporte a um coletivo que sai da Barra para Igaraçu, de Igaraçu para Barra. E a ponte, nós temos duas ponte, aqui é a ponte Campos Sales, e nós temos a ponte Do Açúcar que são as duas pontes que que cruzam o rio Tietê.
P/1 - Que lembranças você tem dessas pontes?
R - Olha, várias, viu. Você sabe coisa de moleque, a gente acabava, não tinha acesso, a gente era pobre, não tinha acesso a clube, não tinha acesso a nada, e jamais frequentar um clube, uma piscina maravilhosa, isso é impossível. Então a gente acabava vindo se banhar aqui no Rio Tietê. A gente acabava cometendo alguns atos meio perigoso, pular da ponte, tem uma altura muito grande, deve ter uns trinta metros, eu acredito, mas eu acabei pulando, que a ponte Do Açúcar, a ponte Campos Salles que fica mais no centro aqui da cidade, ela é composta de três arcos. Quando você sobe nesse arco ele aumenta a altura, uns cinquenta metros, sessenta. Então a gente, molecada, criançada, acabava subindo lá em cima desse arco e pulando. Eu já adolescente acabei fazendo uma aposta com um colega, com um amigo meu, e meia-noite eu já era adolescente, eu meia noite pulei do arco, hoje eu me lembro da até arrepio. Aquela coisa de adolescente para não voltar atrás, eu tinha dito a ele que eu pulava, mas olha não aconteceu nada por Deus, porque meu Deus do céu! Eu lembro que me dá arrepio. Meia noite eu pulei, são três arcos. Eu pulei do arco do meio. Depois eu tive que nadar uma distância de uns quinhentos metros ainda para chegar na margem. E olha, esse dia não esqueço por nada porque eu poderia ter morrido, poderia ter sido trágico, mas graças a Deus está tudo certo.
P/1 - Hélio e aí quando você pulou, como era, era uma escuridão, você enxergava, como que era isso aí?
R - Olha, hoje eu lembro, me volta lá, eu me remetendo a esse dia, é assustador porque era uma escuridão terrível. Você imagina você em uma altura de sessenta metros no escuro, o Rio Tietê lá embaixo eu não sabia o que ia encontrar lá. Tirei a camisa, os sapatos, fiquei só de calça, de calça jeans, e o pior que eu pulei em pé eu devo ter descido uns cinco metros, porque como a altura era muito grande eu acabei descendo muito, e graças a Deus que eu tive tranquilidade, porque se ao pular da ponte eu tivesse tido qualquer ato de desespero eu teria morrido com certeza, então eu tive calma e fui me conduzindo pela luz da ponte, com calma até eu conseguir emergir, aquilo para mim foi um renascimento, quando eu lembro me dá arrepio, porque eu poderia não estar aqui hoje, realmente foi um ato impensável e terrível.
P/1 - Faria de novo?
R - De jeito nenhum, não faria de novo e aconselho ninguém a fazer, porque a água é perigosa, não sabe o que vai encontrar ali, a gente entende também que é coisa de criança, de adolescente, falta de maturidade, faz as coisas impensadas, não pensa nas consequências e acaba levando a gente a cometer atos dessa natureza.
P/1 - E o que você sabia do rio Tietê nessa época? Como é que era? Qual era o olhar para o Rio Tietê de vocês?
R - Na verdade a gente era bem familiarizado com o rio, como eu disse, família pobre e a gente quando queria se banhar o único lugar era o Rio Tietê, não existia outro, então era bem familiar a gente pescava aqui, a gente se banhava aqui, era mais tranquilo que hoje, hoje nós temos uma cidade turística, ela é bem mais povoada, bem mais movimentada. Então na época era mais tranquilo, a gente estava sempre às margens do rio Tietê, ou pescando, ou se banhando ou fazendo a travessia do rio, que é outra coisa impensada, perigosa, mas a gente fazia. Como eu disse, não tínhamos acesso a clube, não existia nada que nos desse acesso a um ambiente público para que a gente pudesse se banhar, pelo menos na época, depois acabou ocorrendo que passamos a ter um local público aqui para gente se banhar, aqui nós temos também bem próximo às margens do rio Tietê, nós temos um lugar aqui que a gente chamava de piscinão. Era um ambiente que tinha duas piscinas, uma piscina menor para criança e outra piscina para adolescente, para adultos e era um ambiente que era aberto ao público, era mantido pelo poder público, só que para ter acesso nós tínhamos que fazer o exame médico, a gente passava, ganhava uma carteirinha que nos dava acesso a esse local para gente poder se banhar aos finais de semana ou durante a semana, então ficou melhor, nós passamos a ter um acesso, o poder público agiu, mas mesmo assim você sabe como que é a molecada, a molecagem, alguns ainda iam se banhar no rio Tietê.
P/1 - Nessa época já se falava em poluição do Tietê ou era um rio, como que era?
R - É nessa época que é menos povoado, menos frequentado, um rio menos poluído, um rio menos explorado, era um rio onde jogava-se menos produtos químicos, tinha menos barco, tinha menos tudo então era menos poluído.
P/1 - E fala um pouco mais do bairro que você morava.
R - Olha, o bairro que eu morava, como eu disse, era um bairro bem próximo do centro, um bairro bem centralizado ali, pouco povoado na época, um bairro bem gostoso, bem familiar, pouquíssimos incidentes, conflitos, vizinhos, os moradores todos se conheciam, então era um ambiente bem agradável o bairro.
P/1 - Você acha que mudou muito? O que mudou?
R - O bairro mudou, ele mudou com o crescimento, ele está mais povoado, ele tem mais povoado, como ele cresceu, então as pessoas não se conhecem mais, quando há o crescimento as pessoas se conhecem só de olhar, de se olhar de vez em quando na rua, mas não tem mais aquele contato, aquele bate papo na frente da casa que todo mundo conhece todo mundo, então com o crescimento veio o distanciamento também, e chegando já na era digital, aí o distanciamento acabou mesmo.
P/1 - E qual foi a sua primeira escola, onde você estudou, como era a sua escola?
R - A primeira escola era ali no bairro mesmo, cerca de quatrocentos metros de casa, era escola SESI, hoje é o SESI e então eu estudei o tempo todo ali bem próximo de casa, mais ou menos até a quarta, quinta série. Eu fiz muitos amigos, a gente se reunia e era um ambiente bem agradável também onde se aprendia mesmo, diferente de hoje, você realmente era educado, a educação escolar funcionava.
P/1 - Você se recorda de algum professor em especial?
R - Olha, tenho recordação da professora que era muito elegante e como sempre a gente de família pobre, humilde, não levava nem lanche para a escola. E essa professora elegante levava uma maçã maravilhosa assim e colocava em cima da mesa e de repente ela dava uma mordida e fazia até barulho. Aquilo pra gente era uma coisa, despertava um desejo tão grande de comer aquela maçã, então isso aí que eu me recordo, e aí as brincadeiras com os colegas, isso a gente não foge da lembrança. Quando a gente lembra de escola nesse período nos remete às brincadeiras, os colegas, essas coisas.
P/1 - Qual brincadeira ou quais amigos você se lembra? Que brincadeiras eram essas? Quais as brincadeiras na escola?
R - Na minha época eu estudei em um ambiente escolar de muita disciplina onde a hierarquia era respeitada, respeitava-se o professor, respeitava-se o inspetor então as brincadeiras só no intervalo, brincadeira de criança mesmo, correr, jogar um futebol, o que a gente tinha acesso era isso, eram essas atividades, e agora fora isso existe uma disciplina, uma hierarquia, um respeito muito grande, então a gente só tinha esses períodos para brincar que era lá quinze, vinte minutos no intervalo, ou em uma aula de educação física, jogar um futebol, jogar uma queimada. Então era o que a gente fazia na escola.
P/1 - Você tem alguma lembrança específica, alguma história dessas brincadeiras ou com professor?
R - Não tem uma específica assim não, porque era uma coisa meio que rotineiro, uma coisa rotineira, a lembrança que eu tenho da escola, de uns tempos para cá não tem mais, a gente se posicionava para cantar o hino nacional todos os dias, algumas gincanas que existiam na escola, então essas coisa aí são coisas que marcaram, era muito bem organizada todo mundo participava respeitava-se a isonomia, nos davam a oportunidade de participar e hasteava a bandeira, essas são coisas que marca, hoje não se vê mais infelizmente, mas são situações que fica na nossa lembrança.
P/1 - Como eram essas gincanas?
R - Essas gincanas eram brincadeiras, corrida de saco, arremessar aquelas bolas de meia para derrubar as latas, transportar o ovo em uma colher, na verdade era um circuito de atividades e dentro desse circuito de atividades tinha essas brincadeiras, corrida de saco, arremessar a bola na lata, enfim, uma série de coisas.
P/1 - E você era bom na corrida de saco? Na corrida de segurar o ovo na colher?
R - Sim eu gostava da corrida de saco, tinha bastante equilíbrio para conduzir a colher, era uma brincadeira em equipe, eu acabava ajudando bem a equipe, corria bem, tinha uma certa habilidade, então conseguia fazer a minha parte para o grupo.
P/1 - E você estudou até quatorze anos no Sesi?
R - É, na verdade eu estudei no SESI até uns treze para quatorze anos, foi quando ocorreu a separação dos meus pais. Houve um período, eu sou de uma época em que se reprovava, ou você virava nota ou você reprovava, diferente de hoje que vivemos em uma educação continuada, quer dizer, não se aprende, mas você acaba avançando para as séries seguintes, então eu acabei reprovando na quarta série, eu reprovei na quarta série por falta de atenção e bagunça, na verdade. Ficava rindo e não prestava atenção, acabei reprovando e teve um momento que eu acabei me ausentando da escola, com quatorze anos eu tinha três empregos, eu ajudava a levar leite para um vizinho, depois eu levava almoço, pegava uma pensão, o almoço levava para alguns guardas nos bancos e entregava jornal, tudo isso para ajudar em casa. Então fiquei um período, um ano fazendo isso aí, trabalhando e ajudando em casa para depois eu ingressar novamente na escola. Quando eu fui morar com meu pai foi mais ou menos nessa época, com quatorze anos, eu comecei a estudar no SESI também na cidade de Igaraçu. Estudei no SESI em Igaraçu e estudei em quase todas as escolas. Eu acabei indo morar com meu pai, então eu fui estudar no SESI, também nessa data eu tirei minha carteira de trabalho na cidade de Igaraçu. Lá meu pai tinha um bar e eu acabava auxiliando ele nas horas vagas, então ficava nessa rotina na escola, ajudava meu pai ali no bar, depois como eu dei essa atrasada na escola eu acabei ingressando no supletivo mais tarde para me regularizar, porque mais tarde eu acabei parando também, eu estudei até acho que a sétima série, depois dei uma parada, depois para me regularizar eu tive que ir pro supletivo para concluir o curso. Só que nessa caminhada, seguindo quatorze anos, morando com meu pai, dezesseis, dezessete anos. Quando eu tinha dezessete anos me interessei por fazer o colégio agrícola. O colégio agrícola é uma escola que a gente fica lá período integral, então a gente acaba morando na escola. Essa escola agrícola era uma cidade próxima aqui também de Barra Bonita, cidade de Bariri, uns cinquenta quilômetros de Barra Bonita. Eu saí de Igaraçu e fui estudar nesse colégio agrícola, fiquei lá por um ano, adorava o curso. Eu fui muito bem no curso durante um ano, eu ficava lá de segunda a sexta, sexta-feira eu vinha embora, eu precisava de dinheiro para me manter nessas idas e vindas, então eu fui trabalhar de garçom aos sábados e domingos aqui no navio de Barra Bonita que transporta turistas e passageiros, eu saía na sexta-feira vinha para Barra Bonita, trabalhava de garçom sábado e domingo no navio, fazia cruzagem e no domingo, na segunda de manhã eu voltava para o colégio agrícola. Ocorreu que no final do ano, a gente volta lá atrás, você até tem vontade, mas não tem estrutura, não tem ninguém que te dê um apoio financeiro na verdade, quando chegou lá no final do ano eu tive que abandonar o curso porque eu não tinha um sapato, não tinha uma calça, não tinha nada. Então, ou eu continuava no curso sem nada embora eu gostasse muito, estava adorando fazer o curso. Ou ia trabalhar para poder me manter. Eu resolvi abandonar o curso e fui trabalhar para poder ajudar em casa, ajudar a mãe. Foi um momento também que não foi legal, porque eu tive que abandonar um curso que eu gostava, que eu sei que se eu concluísse o curso, eu poderia galgar alguma coisa legal para mim, um emprego melhor, uma renda melhor e eu tive que abandonar.
P/1 - E seus irmãos? Quantos irmãos você tem?
R - Somos em quatro irmãos. Quando eu fui para Igaraçu, nós somos em quatro irmãos, três homens e uma mulher, eu tenho um irmão mais velho que eu, dois anos, depois sou eu, um mais novo que eu, e uma irmã que é mais nova. Nessa época meu irmão, esse mais velho, já trabalhava na usina de açúcar e álcool aqui da cidade. Eu abandonei o curso no colégio agrícola, voltei para casa e também ingressei na usina de açúcar, meu irmão trabalhava na roça e eu também fui pra roça. Só que nós trabalhamos em um setor da cana de açúcar que a gente fazia experimentos, a gente tirava amostra de cana, amostra de solo, encaminhava para usina. Então era um setor melhor, digamos assim. Embora duro, embora desgastante, mas era um setor melhor.
P/1 - E como foi trabalhar? Como foi esse trabalho? Você ficou bastante tempo nesse trabalho? Você gostava de fazer, no fundo?
R - Olha, esse trabalho que eu gostava e tenho saudade é só da amizade dos colegas de trabalho, porque o trabalho não era fácil, eu perguntava para mim mesmo: “o que eu estou fazendo aqui?” Não era fácil, mas a gente tem que trabalhar, você precisa sobreviver, então por várias vezes, olhava para mim assim, olhava para a enxada, falava: “meu Deus, o que eu estou fazendo aqui?” Eu sei que eu fiquei três anos e meio, foi quando surgiu um concurso público na cidade aqui para o departamento de água, eu fui, fiz a inscrição, estudei e passei em terceiro, eu tive sorte porque o primeiro colocado não quis assumir o cargo, chamou o segundo e chamou eu, o terceiro, falei: “graças a Deus”, corri na usina pedi a conta, falei: “Bill, dá baixa na minha carteira, por favor, eu ingressei no SAAE, no Departamento de Água da Cidade através do concurso público”, lá no SAAE trabalhei por vinte e três anos e meio. SAAE quer dizer Serviço Autônomo de Água e Esgoto.
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P/1 - Então você se encontrou aí?
R - Quando eu entrei no SAAE as coisas começaram a mudar, porque o ambiente era diferente, as pessoas eram diferentes, a mentalidade era diferente e hoje eu posso aconselhar qualquer adolescente que o ciclo da amizade é muito importante, o ciclo de amizade ele tem duas, principalmente para o adolescente que está buscando a identidade, que não sabe o que quer, se ele tiver um ciclo de amizade que está indo para um caminho meio diferente, ele acaba indo também, ele acaba sendo induzido. E lá no SAAE foi legal porque o pessoal tem um pensamento, todo mundo estudar, vamos melhorar, então quando eu ingressei no SAAE foi quando eu fui lá concluir o meu ensino médio, que hoje é ensino médio, na época era colegial, então um incentivava daqui, outro incentivava dali, e eu acabei seguindo para o curso supletivo, concluí o ensino médio, ingressei na faculdade, conclui o curso de professor de educação física e hoje sigo nessa profissão, sou profissional de educação física, e sobrevivo dela, mas o ambiente do SAAE foi importante para mim, foi muito importante para o meu crescimento, para o meu amadurecimento. Como eu trabalhava lá na roça, eu vivia isolado do mundo na verdade. Porque eu chegava em casa cinco horas da tarde. Ficava o dia todo no meio da cana. Se acabasse o mundo aqui em Barra Bonita você eu só iria saber quando chegasse, então quando eu fui trabalhar na cidade você começa a conhecer pessoas, você vai ficando mais maduro porque as pessoas vão te orientando mais, você vai ter mais visão, a sua percepção aumenta, você começa a observar melhor as coisas, então para mim foi muito bom o tempo que eu estive no SAAE.
P/1 - E aí conta um pouquinho, voltando um pouco. Você falou que você era bagunceiro.
R - É verdade, então, o bagunceiro assim, eu ria muito, eu gosto muito de rir, rir faz bem, libera bastante endorfina, rir é maravilhoso, quem ri vive mais. Eu tinha um amigo que não podia olhar para ele que eu estava rindo já. Não prestava atenção na aula e aí acabou que os dois foram reprovados, foi uma tristeza, porque eu estudei em uma época que reprovava, você tem que estudar, você tem que tirar sua nota, muito diferente de hoje em dia. É até triste, porque eu fico feliz de ter passado por esse tempo aí que tinha que estudar, que tinha que decorar mesmo, e embora tenha estudado até a quarta série, nesse período para mim foi muito bom.
P/1 - Você lembra de algum momento desse de risada na classe que o professor te pegou alguma história assim?
R - Hoje nós temos o ECA que protege o aluno e acaba isolando o professor, o ECA acaba que não é de bom agrado para o professor, o professor, ele perdeu um pouco a autonomia, perdeu o poder de exercer a hierarquia, então apagador na cabeça, giz de cera na cabeça, régua, assim de leve, mas dá para bater com a régua nos braços, coisa que você não esquece, mas também não me queixo de nada disso, porque isso é muito bom, uma linha um pouco mais dura acaba sendo bom, deixar a coisa rolar você já viu o que acontece, criança é complicado ela quer brincar, se ela puder ficar só brincando ela vai só brincar, então a hierarquia dentro da sala de aula ela tem que existir, o aluno tem que entender que ele tem que respeitar o professor, tem o momento de rir, o momento de brincar, mas tem um momento que ele tem que focar porque ele precisa aprender, ele precisa seguir com o aprendizagem.
P/1 - Como você vê a educação continuada hoje?
R - Muito triste, aqui no estado de São Paulo nós temos a educação continuada. Se você cair para o estado do Mato Grosso não é assim, por exemplo lá você reprova. Então aqui em São Paulo implantou-se esse sistema, e quando o aluno descobre que não vai ocorrer a reprova, que não precisa se esforçar ao máximo, ele abandona, ele acaba desistindo, se desestimulando, ele não aprende, e esses são os verdadeiros analfabetos, não é aquele que não sabe ler, aqui ele não consegue absorver e colocar para fora o que ele está lendo, o que ele está vendo, então hoje em dia o que se forma são verdadeiros analfabetos. É isso que as pessoas querem, algumas pessoas que estão no poder quer, isso é triste que vai empobrecendo a educação, vai desmotivando os professores porque é cansativo, professor quer ensinar, ele tem o dom, que ensinar é dom, você nasce com o dom para você transferir o conhecimento, e você vê que a sua vontade não está se valendo de nada e muitos desistem infelizmente.
P/1 - E na tua adolescência você trabalhou bastante, mas como foi quando você começou a
sair, encontrar as meninas, conta um pouquinho dessa fase de como foi quando você começou a sair sozinho, encontrar os amigos, namorar?
R - Eu, desde cedo, precisei trabalhar, como eu disse lá atrás, então eu saio com os colegas, tomar sorvete, a cidade aqui é bem tranquila, já foi muito mais tranquila, que era menos povoada, população menor e então era mais tranquilo ainda. Só que veja bem, puxando o gancho lá de trás, eu sou filho de pai separado, então os colegas que eu saía os pais ajudava com dinheiro, eu não. Eu vendia, cheguei, eu chegava a vender gelito, por exemplo, gelito é um não sei se você conhece, gelito é um saquinho de gelo, de uva, de morango, de laranja, então eu precisava vender esses produtos para ganhar um dinheiro para eu poder sair com os colegas porque minha mãe não tinha condições, então eu tinha que fazer isso. Eu vendia nas escolas, vendia no centro e a gente saía. Depois com dezesseis anos eu comecei a sair mais, conhecia uma menina, uma namorada, mas eu casei cedo, acabei casando cedo, com vinte anos já estava casado, já tinha filho, então não sai muito não, quatro anos e a mulher falou: “deixa eu pegar esse esse daqui mesmo, não deixa escapar”. Com vinte e um anos eu já morava junto e já tinha uma filha. Hoje eu tenho quatro filhos. Eu tenho três meninas e depois de dezessete anos eu tive um menino que hoje tem sete meses. Então a gente segue a vida.
P/1 - É com a mesma pessoa ou você…?
R - Com a mesma pessoa há quase trinta anos. Casei um bebê, eu era um bebê quando casei e estou aí até hoje. Eu tenho um entendimento assim em relação a isso, eu sou filho de pai separado, eu sei o que é ausência do pai, jamais, é claro que o relacionamento você vai ter problema, claro, tem as diferenças e tudo mais, mas eu sempre procurei o entendimento para que não houvesse nenhum tipo de separação. Porque a ausência da figura paterna ou materna os pais talvez não entendam, não enxerguem, mas eu passei por isso, eu sei que é difícil. Tem momentos na vida que você precisa de uma palavra do pai, da mãe, do apoio moral, que mostra um caminho, que fala uma palavra de conforto, eu sei que essa falta aí ela é dura, difícil.
P/1 - E o que você acha que precisa em um casamento para passar esses obstáculos e continuar?
R - Bom, a primeira coisa é entender que não se vive de amor, quando você está em um relacionamento, às vezes, você está movido pela paixão. Você não sabe o que é amor. O amor é construído ao longo do relacionamento. O amor não é aquela loucura que os adolescente acham que começa a namorar, não é isso. O amor é construído. Você vai construindo junto com o comprometimento, com respeito. Principalmente as diferenças, são gênios diferentes, todo mundo tem defeito, você tem que respeitar as diferenças do companheiro, ele respeitar a sua, você tem que ceder porque no momento mais exaltado do companheiro se você não ceder aí gera um conflito muito grande e não se sabe o que pode acontecer com esse conflito, então é melhor ceder você tem que saber ceder, recuar, conversar, se calar, uma série de coisas, então, aí a construção do amor, o amor é isso aí, essa construção, é a cumplicidade. É isso que faz um relacionamento duradouro.
P/1 - Tem algum exemplo assim do teu relacionamento que você cedeu?
R - Por exemplo, quando eu fui fazer faculdade, queira ou não queira eu trabalhava durante o dia e estudava durante a noite. Então você imagina com filho, imagina a dificuldade, hoje as pessoas têm muita facilidade para estudar e não vai, então eu trabalhava durante o dia, estudava à noite, filho em casa, era digital, não existia, era para poucos. Você tem que ler era livro. Então você imagina a minha dificuldade. O meu sonho quando eu fazia faculdade era ter uma máquina de escrever, eu adorava escrever. O único lugar que eu tenho acesso a uma coisa dessa é na faculdade, tem uns computador lá meio 913, então usava lá. A esposa acabava que no início não queria aceitar porque eu ia ficar fora e que eu ia atrás de outra, aquela coisa de mulher, que eu não ia para estudar, ia para… Falei: “olha…”, então é o diálogo, é o entendimento, é um investimento fazer a pessoa entender que é um investimento em mim, para nós, que iria servir para todos, mais uma vez o diálogo, sempre o diálogo, entendimento, o bom senso, consenso, eu fui com toda dificuldade e consegui concluir o curso.
P/1 - Esse curso que você está falando foi de Educação Física?
R - Isso, o curso da licenciatura plena em Educação Física.
P/1 - Quando você estava na faculdade já começou a trabalhar ou foi depois, qual foi o seu primeiro trabalho, como foi entrar no primeiro trabalho na área que você queria?
R - Bom, na verdade eu vou contar rapidinho voltando lá atrás com treze anos, quatorze anos eu ingressei na capoeira, e de lá pra cá eu não parei mais, isso em 1986, eu observando aqui na cidade, no piscinão que eu falei para você, nós tínhamos aqui na cidade o mercadão, então aqui tinha muitas rodas de capoeira e eu me simpatizei muito pela capoeira, de lá para cá eu vim treinando capoeira. Ingressei na faculdade e o meu primeiro trabalho realmente foi na faculdade. Eu ganhei uma bolsa na faculdade. Eu participei de um projeto, ganhei uma bolsa de cem por cento. Então eu dava aula para os alunos do ensino fundamental da faculdade, que tem a faculdade e durante o dia tem escola que era Funbbe, Fundação Barra Bonita de Ensino. Eu tinha oitenta alunos, era um trabalho de bolsa, mas eu não precisava de bolsa porque onde eu trabalhava, ele pagava na minha faculdade, senão também não teria condições de fazer. Então, eu fazia um trabalho na Funbbe, eu tinha oitenta alunos e desenvolvi um trabalho de capoeira com eles. E nesse meio tempo eu vinha trabalhando em academias também, projetos sociais e participando de eventos.
P/2 - Seguinte Hélio, você se lembra qual que foi o momento assim que a capoeira te encantou, que você viu aquilo e falou assim: “caramba, é isso que eu quero fazer”?
R - Sim, como eu disse, nós tínhamos aqui a piscina pública, o piscinão. E temos aqui também o mercadão, o mercadão é um local que sempre tinha rodas de capoeira e no piscinão também que é a piscina pública. Então de vez em quando eu me deparava com essas rodas de capoeira. E eu ficava encantado com a música. Com essa expressão corporal dos capoeiristas e com o canto, quer dizer, uma atividade com muitas vertentes, eu gostei, embora no decorrer da minha vida eu tenha praticado judô, karatê, mas eu me identifiquei com a capoeira porque a capoeira é um sinônimo de liberdade, quem pratica capoeira é livre. Até para se expressar é livre, foi a modalidade que eu me identifiquei seguir até hoje. Hoje eu vivo de capoeira, sou profissional de capoeira, trabalho só com capoeira e trabalho com criança, jovens, adolescentes, pessoas da melhor idade e não tem idade. A idade está na sua cabeça e assim vamos seguindo.
P/2 - Você se lembra Hélio, quais foram os grandes mestres que te influenciaram na capoeira, algum nome, algum professor, algum capoeirista que você teve como exemplo, pelo qual você tinha encantamento, um exemplo mesmo de vida, algum nome da capoeira?
R - Sim, a gente sempre acaba se espelhando. O meu primeiro professor de capoeira aqui na Barra Bonita foi o Edson Siqueira, o Edson Siqueira hoje é presidente do Afro Barra aqui de Barra Bonita, ele tem um grupo de pagode, gosta de pagode e tudo mais. Então ele foi meu primeiro professor, foi a primeira pessoa que me iniciou na capoeira e de lá para frente eu segui passando pela mão de vários professores, treinei com o mestre Jorge também aqui na Barra, que é uma pessoa também pioneira junto comigo, treinei com o mestre Marcial de Jaú que para mim foi uma grande escola. Jaú é uma cidade próxima aqui da Barra a vinte e cinco quilômetros. O mestre Marcial de Jaú era uma pessoa já formada, profissional de Educação Física, campeão brasileiro, uma pessoa com uma trajetória grande na capoeira. Então, ali foi um grande espelho, foi um grande aprendizado, foi aí que começou me despertar o interesse de ingressar na faculdade porque eu sabia que observando o mestre, ele estava em um patamar acima porque ele era formado em educação física, era um profissional diferenciado, então eu falei, espera aí eu tenho que ir por esse caminho também e fui. Acabei concluindo o curso de Educação Física e conheci outros mestres pela região, pelo estado de São Paulo, eu já viajei muito, a capoeira me proporcionou conhecer pessoas, viajar muito, conhecer outras culturas regionais em outros estados, eu até fiz uma letra de capoeira em relação a isso, que a letra fala assim… fugiu a memória a letra agora, mas fiz uma letra falando exatamente disso, porque a capoeira que me proporcionou conhecer outras pessoas. A capoeira que me proporcionou ingressar na faculdade. A capoeira que me proporcionou conhecer outros estados, outras regiões e quer dizer, para mim isso é muito rico, foi muito importante para minha formação.
P/1 - Só um pouquinho, tenta lembrar dessa letra.
R - Lembrei, eu não vou cantar, eu vou falar. Quando você está na capoeira às vezes você tem que viajar muito, você tem que abdicar de muitas coisas, tem que se ausentar às vezes da família, essa letra eu fiz falando um pouquinho disso. Ela começa assim.
“A minha vida dedico a capoeira que me levou a algum lugar.
O outro pouco dedico ao dia a dia, ao lazer com a família que jamais deixarei de amar.
E a meu mestre dedico essa alegria de com ele poder jogar”
Na verdade é uma quadrazinha, depois tem o corrido, mas basicamente é isso, eu fiz essa letra para resumir que a capoeira me levou a algum lugar, me levou a conhecer pessoas, conhecer outras regiões, outros estado, outras culturas regionais, enfim, e outro pouco eu tenho que dedicar a família, ao lazer com a família que a família você jamais deverá deixar de amar. E ao mestre, que na capoeira nós temos uma hierarquia, acima de mim tem meu mestre que é o mestre Bahia, é a pessoa que me formou, outro pouco dedico ao dia a dia ao lazer com a família. O outro pouco dedico ao mestre, que é o mestre Bahia, a pessoa que me formou a mestre, que eu sou mestre de capoeira formado pelo mestre Bahia.
P/3 - Helio, quais os espaços aqui em Barra Bonita que lhe deram visibilidade, e de que forma você ganhou, conquistou essa visibilidade nesses espaços em Barra Bonita?
R - A capoeira, no caso, é um esporte bem popular, ela está sempre em movimentos culturais, são muitas rodas de rua e até na época não existia redes sociais, hoje em dia é muito fácil, você faz um vídeo põe na rede social fica conhecido, na minha época, não, viajava muito, então sou conhecido de maneira regional, alguns estados também, as pessoas sabem quem é o Hélio, as pessoas sabem quem é o mestre Hélio, sou o mestre Hélio de Barra Bonita. Agora aqui na cidade, rodas de rua, participações em eventos, em projetos sociais, a gente acaba ganhando uma notoriedade, sendo reconhecido, o reconhecimento vem daí. Chegar onde estou hoje é pura luta, é pura dedicação, pura vontade de chegar e saber que você pode, e cheguei. O que eu faço hoje é o sonho de todos os capoeiristas, viver da capoeira. Hoje eu vivo da capoeira, eu alcancei ali o ápice dentro da modalidade. E fico feliz por isso que eu faço o que eu gosto, que eu amo, acordo de manhã e vou fazer o que eu gosto. Acho que a primeira coisa que vale a pena, a gente tem que dar importância.
P/4 - Você já começou a falar um pouquinho dos projetos sociais, mas desses projetos sociais, Hélio, quais vivências marcaram você profundamente a ponto de você se engajar bastante, se envolver bastante, que eu sei que você é envolvido nesses projetos sociais.
R - Olha, projeto social que eu mais me envolvi foi quando eu saí da faculdade em 2002, eu saí em dezembro de 2000, em dezembro eu concluí o curso, em agosto de 2002 eu ingressei no programa Escola da Família como educador profissional. O programa Escola da Família é um projeto social que busca envolver toda a comunidade periférica de uma escola com intuito de trazer a família para dentro da escola e manter o espaço escolar aberto para comunidade, esse foi um projeto importante, esse projeto trabalhava no eixo esporte, cultura, educação e qualificação para o trabalho. E junto comigo coordenava sete universitários, cada universitário desenvolvia um trabalho. O universitário era bolsista. Então ele tinha que desenvolver um projeto ali dentro da escola da família que viesse de encontro com a necessidade da comunidade, da região periférica ali da escola. Então tinha curso de artesanato, curso de espanhol, tinha curso de violão, curso de informática, atividades esportivas várias, foi um projeto que eu comecei a observar algumas coisas, a diferença social mesmo. Eu comecei a perceber que as crianças iam para escola de manhã e elas não iam embora, elas passavam o dia, e eu fiquei imaginando: “poxa vida, mas eles não vão para casa almoçar, não vão comer nada! “Eu comecei a perceber que eles não tinham em casa. Então são crianças que não tem acesso a clube, o pai não era sócio do clube da cidade, então ele não tinha acesso à piscina, não tinha acesso a nada. Ele não tinha um computador em casa. Ele não tinha um joguinho em casa. Ele não tinha nada. Então ele ia para escola que lá tinha atividades. Só que eu percebi que ele não ia embora para se alimentar. Então eu comecei correr na cidade e conversar com alguns empresários, quitanda, mercado e fiz uma parceria. Então todo final de semana além das atividades que a gente desenvolvia, a gente dava um lanche ou um almoço simples, mas que conseguia suprir ali a necessidade daquela criança, conseguia fazer algumas atividades também fora da escola com as crianças, levarem elas para conhecer o orquidário, foi um projeto que ajudou no meu crescimento também e foi um projeto importante para mim, foi legal, foi prazeroso participar. E nesse projeto eu fiquei dois anos e seis meses. Funcionava aos sábados e domingos, das nove da manhã às cinco da tarde. Eu trabalhava lá no SAAE de segunda a sexta, sábado e domingo na escola. Então na verdade nunca tive um emprego só, a vida toda sempre com alguma coisa paralela, mas tudo bem.
P/2 - Hélio, você acha que a ausência paterna durante a sua infância, a sua adolescência, acabou influenciando você a tomar partido desses projetos sociais? A ver essa criançada um pouco como um filho seu?
R - Sim, além de tomar partido acabou dando mais força para mim, porque às vezes você se sente sozinho, você olha para a direita não tem ninguém, olha para a esquerda não tem ninguém, olha para trás não tem ninguém, você aprende que você tem que seguir em frente, você não tem outro caminho, você tem que seguir em frente. Quando você se depara com um projeto desse, você vê situações diversas. A mãe que é omissa, que deixa o filho lá, o filho fica ocioso, eu sempre observei também a ausência do pai e mãe, mas às vezes ela é involuntária, a omissão do pai às vezes é involuntária porque o pai precisa trabalhar, embora ele seja o provedor ele não consegue. Então a mãe tem que trabalhar também para poder complementar, essa omissão é involuntária, o filho tem que ficar em casa, ele fica ocioso, e aí é só por Deus, se os pais vão dar orientação aqui, ou vão dar orientação nenhuma. Então essas crianças, às vezes, acabam chegando em projetos sociais. E quando eu me deparo com uma situação dessas eu procuro fazer de tudo, aconselhar e mostrar o caminho, essas crianças precisam ser bem assistidas. Projeto social é muito importante, porque você só descobre o valor de uma criança ou de uma pessoa através de estímulo, e dentro de um projeto social a criança tem a chance de ser estimulada na música, no canto, no teatro, você só descobre o seu valor quando você é estimulado. Por isso que eu gosto da capoeira. A capoeira tem essas vertentes. Eu consigo dar todos esses estímulos para a criança, o adolescente. A música, o canto, a expressão corporal, a fala, a expressão, a criança de repente vai descobrir que a voz dela é linda, que ela pode tocar um instrumento, que ela tem força de expressão, que ela pode e deve falar, às vezes ela é tímida, não consegue se relacionar em grupo. Então é por isso que a capoeira, a liberdade que ela dá é fascinante. Eu gosto da capoeira por isso. É isso.
P/1 - Muito bacana, muito bacana essa história, adorei ouvir. E me fala um pouquinho do mercadão que você falou que, como era esse lugar, o que esse lugar significa para você? Fala um pouquinho de como era fisicamente?
R - Esse mercadão é parecido com um ginásio, ele era como se fosse um ginásio, é bem próximo aqui do Rio Tietê. O que separava o mercadão do Rio Tietê é uma avenida que tem no meio. Está bem próximo. E nesse mercadão existiu um ponto de circular, que passava os coletivos para levar as pessoas para os bairros e tudo mais. E nesse mercadão tem uma loja enorme, aquela que a cidade toda frequentava, que era a loja do seu Tufi Bestana. Então essa era uma loja que chegava época de festa, final do ano, você via todas as famílias ali comprando uma troca de roupa, porque ia viajar. Tinha as rodas de capoeira ali também, que eu sempre estava observando, o que me remete a essa época é isso, ver as famílias ali comprando, o pessoal no ponto de circular esperando o coletivo. Eu ali com o meu pai ou com a minha mãe, na época ainda estavam juntos ali. Eu devia ter dez anos, onze anos por aí e essas lembrança que eu tenho, às vezes eu vinha com o meu pai também fazer compra aqui no mercadão, comprar uma peça de roupa, um sapato quando dava, ou vinha e comprava nada, só vinha.
P/1 - Que lugares mais a capoeira te levou para onde você viajou?
R - Fui muito para o litoral, estado de São Paulo, muito para o litoral, estado de São Paulo de maneira geral a cidade do estado de São Paulo acho que bastante, e fora do estado de São Paulo, Paraná, Mato Grosso, esses lugares. Mas a capoeira acabou me levando para várias situações, por exemplo, para área desportiva, a capoeira desporto, capoeira praticada com regras, nós temos os jogos regionais, temos as competições pelas federações, aí já se faz um trabalho de alto rendimento, um trabalho para atleta. Então, a capoeira também me levou a ser técnico de capoeira, conquistando medalhas pela cidade, todos jogos regionais eu estou sempre participando é um outro segmento esportivo da capoeira, é uma capoeira praticada com regras onde existe um regulamento e você tem que respeitar esse regulamento, preparar o atleta psicológica e fisicamente, para ele poder chegar lá e representar bem a cidade. Importante para a criança, para o jovem, para o adolescente aprender a ganhar, aprender a perder. Isso a competição oferece para ele. Ele tem que saber que na vida se ganha e se perde. Mas devemos seguir em frente, faz parte você em algum momento perder, em algum momento você ganhar, não só se ganha, não só se perde, essa é uma área da capoeira que é importante também para o aluno aprender ali.
P/1 - Você tem mais de um filho? Quantos filhos você tem?
R - Eu tenho três meninas. Débora, Brenda, Heloísa e agora com sete meses, Arthur.
P/1 - E como é que é ser pai?
R - Ah, é maravilhoso, família grande é gostoso, a gente procura manter sempre uma sintonia que é importante. Minhas filhas moram, as duas mais velhas moram fora. Uma é Engenheira Civil, a outra parou no terceiro ano do curso de Direito, não gostou do curso, mas as duas são casadas. Inclusive é uma de 26 e 24. A de 34 está grávida prestes a me dar um neto, está chegando. Tem a mais nova de dezessete anos, vai fazer dezoito. E o Arturzinho aí que vai acompanhar o pai.
P/1 - Foi programado?
R - Não. Nada programado. Foi tudo acontecendo, por exemplo esse que nasceu agora há sete meses, depois de dezessete anos não estava esperando, a esposa não é operada, nada, mas dezessete anos é coisa de Deus. Alguns acontecimentos da vida a gente entende que é Deus que está agindo.
P/2 - Na verdade eu ia fazer uma pergunta para o Hélio até um pouco curiosa. Que agora ele vai ser avô e ao mesmo tempo ser pai, sete meses?
R - Vou ser tiozinho.
P/2 - E você não esperava?
R - Não, não esperava, mas vai ser legal. O Arthur com sete meses vai ser tio já, a qualquer momento já é tio. Aí vai nascer meu neto o Breno, chama Breno, eles vão crescer juntos com a mesma educação que eu dei para as minhas vou dar para eles, a mesma instrução, mesma sabedoria e com a ajuda de Deus vamos seguir.
P/2 - Dos anos setenta e pouco, oitenta, quando você ingressa na capoeira para hoje, o olhar da Barra Bonita mudou bastante? Em relação a capoeira, o que você sente?
R - Mudou bastante hoje. A capoeira lá atrás sempre foi discriminada, sempre foi perseguida. Existe uma barreira muito grande para pessoas que trabalham com capoeira. É duro você transpor barreiras, você entrar no segmento privado é difícil. Eu penso assim comigo, o dia que eu entrar no segmento privado eu não saio nunca mais. O dia que eu tiver a oportunidade de mostrar para os pais lá do setor privado o que tem dentro da capoeira, as ferramenta que tem ali dentro, então o capoeirista hoje ele é um pouco mais profissional essa é a diferença, ou ele tem que ser mais profissional porque eu preciso fazer com que o pai entenda porque eu devo colocar meu filho na capoeira. O que é que tem lá? Hoje tem essa diferença. Hoje é menos perseguida, é amparada por algumas leis, precisaria de muito mais amparo, dasse muito mais valor para o que vem de fora do que porque pelas coisas que é da gente aqui. Por exemplo, a capoeira é uma das culturas mais antigas do Brasil. A capoeira é o símbolo da liberdade. Do negro. Aí você volta lá com um zumbi, o pessoal viu, mas zumbi nunca foi escravo. Zumbi nunca foi capoeirista, porém foi um grande estrategista, então hoje nós temos um amparo maior para você ver, estão abrindo um pouco mais as portas só que você tem que ser profissional, você vai lá, você presta um concurso, você pode viver de capoeira. Então, mudou muito. Mudou bastante, antigamente você fazia por fazer, você dava aula em academias particulares ou no espaço cedido pela prefeitura, hoje não. Hoje a capoeira invadiu academias, projetos sociais. A capoeira está em mais de duzentos países. Lá sim a capoeira é valorizada. Lá eles valorizam a cultura brasileira, aqui não, aqui não dão valor. A capoeira lá fora vai ficar muito mais forte do que aqui no Brasil. Se um dia a capoeira se tornar um esporte olímpico que eu acho difícil, não vai acontecer tão cedo, lá fora estarão os melhores profissionais. Porque aqui não somos valorizados. Agora os capoeiristas aqui também tem que se profissionalizar, saber usar uma linguagem para poder entrar em alguns ambientes, tem muita coisa para ser melhorada, mas mudou bastante.
P/2 - E hoje aqui na Barra Bonita você enxerga um apoio da sociedade nessa parte?
R - Olha, o apoio que eu tenho aqui é um apoio que eu conquistei, eu não tenho apoio assim porque o Hélio, o mestre Hélio não, o apoio que eu tenho é um apoio conquistado por mim ao longo da minha trajetória, até quando eu vou fazer alguns eventos aqui eu não tenho apoio do município, eu consigo apoio dos empresários porque são pessoas que conhecem o meu trabalho, eu tenho uma visibilidade o que eu falei lá atrás, a gente tem uma notoriedade e tudo mais, mas isso é algo conquistado a duras penas, você não tem apoio do estado, não tem apoio do poder público, não tem apoio. São pessoas que não estão interessadas na capoeira enquanto cultura, enquanto esporte, enquanto atividade física, enquanto instrumento de inclusão, não estão interessados. E aí como você ama a modalidade, você ama o que você faz, você acaba se jogando e buscando recursos em outros lugares.
P/1 - Você fala que hoje você vive da capoeira? Como que é, você tem uma academia? Como é ter essa sobrevivência da capoeira?
R - Não, é como eu disse, hoje o capoeirista se não for profissional vai ficar estacionado. Hoje estão se abrindo muitas portas para o capoeirista, então existem muitos concursos públicos direcionados para os profissionais de capoeira. Por exemplo, eu hoje trabalho na Secretaria de Esportes da cidade. Eu sou efetivado através de um concurso, sou especialista em esportes e trabalho especificamente com a capoeira. Então, eu trabalho só com a capoeira, por isso que eu digo, hoje eu vivo da capoeira. Eu trabalhei 23 anos e meio no SAAE, passei em um concurso na Secretaria de Esportes em primeiro, fui chamado, pedi exoneração no SAAE, ingressei na Secretaria de Esportes faz quatro anos e meio. Sou bom em concurso.
P/1 - É bom hein, e você nesse trabalho você fica mais na organização ou da aula também?
R - Não, eu ministro as aulas mesmo, tem horários lá de acordo com a faixa etária, dou aula de manhã e no período da noite também, mas o meu intuito aqui com esse trabalho é tentar colocar um pólo em cada comunidade, oferecer o meu trabalho para toda a comunidade da cidade, para todas as comunidades aqui da cidade. Nós vamos chegar lá. Mesmo assim precisa de apoio, eu estou dentro da máquina, mesmo assim eu preciso de apoio.
P/1 - Você tem alguma história que você gostaria de contar ou que você se lembrou agora que você não tenha contado aqui?
R - Que eu me recordo não, mas vou ter que parar, muito tempo aqui para recordar uma história legal, acho que no tudo, é isso.
P/1 - Tem alguma coisa que você gostaria de falar mais?
R - Não, agradecer por estar participando aqui desse projeto, estar sendo inserido nesse projeto do Museu da Pessoa. Agradecer o convite da Janaína, do Vitor, que me deram todo o apoio, toda a estrutura necessária para que eu pudesse aqui expor a minha história, contar um pouco da minha cidade, da minha formação, da família, foi legal, adorei aqui participar.
P/3 - Como você vê, foi uma ponte, parece que você construiu lá de trás de quando você trabalhava na roça até hoje. Que ponte seria essa?
R - Olha, essa ponte é você acreditar em você, acreditar em mim mesmo. Porque durante a minha vida toda até agora, não tem apoio. As pessoas olham para você e até aplaude você, mas é só. Aí você olha para direita, para esquerda, atrás não tem ninguém. Então você entende que para você alcançar o seu objetivo, você tem que seguir firme com o seu pensamento, eu vou chegar lá, eu vou chegar lutando e as coisas vão acontecendo, o que eu falo para as pessoas, é calma, não tenha pressa, vai acontecer para você, continue focado, vai focado, estude, você vai alcançar o objetivo. Então quer dizer, é o meu querer, a minha vontade de chegar, de saber que eu posso, que eu tenho condições, eu também tenho condições, eu também posso. É isso que faz a gente estar aqui hoje. Eu poderia ter desistido, filho de mãe separada, poderia ter ido por outros caminhos, mas graças a Deus não fui, acreditei, estamos aí.
P/1 - Quais são as coisas mais importantes para você hoje?
R - Hoje a família com certeza. A família é a base, não tem jeito. Tudo que você faz envolve a família, se deu errado você é acolhido pela família. Deu certo, você tem que comemorar com a família, então quando você perde a família, você perde a base. Se você perder a família você vai perder a base, e você começa a seguir outros caminhos indesejados, ruim e pode levar você para uma situação adversa que você vivia. Então a família com certeza é a minha base. A família que me faz lutar, que me faz tentar chegar em algum lugar, eles que me dão força.
P/1 - Quais são os seus sonhos?
R - O meu sonho era continuar fazendo o que eu estou fazendo que já era um sonho, trabalhar só com capoeira para mim é prazeroso, é gostoso, é bem legal transferir o conhecimento, ver a criança se desenvolver tanto fisicamente como moralmente, ver a criança desenvolver o canto, então continuar assim com saúde, bem com a família, que toda família siga com saúde e que possamos ficar assim por muitos e muitos anos, uns cem anos ainda.
P/1 - E Hélio, como foi contar a sua história aqui hoje?
R - Foi muito legal, gostei, adorei, me senti bem à vontade, vocês me deixaram à vontade, isso é muito importante para quem está sendo entrevistado. E faria tudo de novo e foi um prazer conhecer vocês. E só tenho a agradecer vocês. Agradecer a Janaína, agradecer o Vitor, agradecer a Lila, agradecer o nosso amigo o Alisson, para mim foi prazeroso, viu gente, foi legal, adorei. Se precisar, estarei aqui novamente.
P/1 - Tem muita história ainda para contar, ficaria várias horas aqui.
R - Tem, se a gente for seguir dá…
P/1 - Tem certeza que você não quer contar mais uma história? Acho que você lembrou de alguma agora.
R - Não lembrei, acho que zerou, até tem, mas até lembrar seguir uma linha de raciocínio legal, vai demorar.
P/1 - Tá bom, então, muito obrigada. Queria te agradecer muito por ter participado, ter disponibilizado seu tempo aqui pra gente e agora você vai fazer parte de um museu, vai ser peça de museu. Depois o Museu da Pessoa é um museu virtual de histórias de vida. Então você vai ser uma história que vai fazer parte do museu.
R - Pô, muito obrigado, feliz. Vamos nos eternizar, levar nossa história para outras pessoas, quem sabe a nossas histórias não possa motivar alguém a continuar seguindo também e ser perseverante. Eu espero que a história ajude algumas pessoas a seguir em frente, e saber que sem luta não tem vitória, tem que ir lutando, tem que seguir, tem que batalhar e ser perseverante. Obrigado por tudo, um abraço!
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