Nome do projeto: Memorial do Trabalhador
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de: Gilmar Fabro
Entrevistado por: Marina
Foz do Iguaçu, 28 de agosto de 2002
Código: ITA_CB023
Transcrito por: Elisabete Barguth
P1 – Por favor qual é o seu nome, local e data de nascimento.
R – O meu nome é Gilmar Fabro, sou de Piratininga estado de São Paulo, nasci no dia 11 de agosto de 1956.
P1 – Qual o nome dos seus pais e o que eles faziam?
R – Meu pai Hélio Fabro, ele era comerciário trabalhava na Cobal, não sei se existe ela hoje ainda e minha mãe Cecília da Silva Fabro é do lar.
P1 – Como foi que você chegou aqui em Itaipú e quais foram as suas primeiras impressões?
R – Eu vim de uma outra Usina, Ilha Solteira, São Paulo e o pessoal que trabalhava lá os engenheiros vieram pra construção de Itaipú e tava recém trabalhando na empresa me trouxeram pra cá com o propósito de ficar 5 anos, isso em 1977.
P1 – E fazendo o que que o senhor já veio?
R – Eu trabalhava lá em laboratório de concreto e vim pra cá pra trabalhar em laboratório de concreto e nele estou até hoje, então eu vim pra Itaipú em 77.
P1 – Qual foi a sua primeira impressão aqui?
R – A primeira coisa foi ficar um pouquinho apavorado, uma com frio porque sendo do estado de São Paulo eu nunca tinha encontrado uma região assim tão úmida e fria e Itaipú no começo era um desmatamento muito grande, muita maquina e um barro freqüente, bastante umidade então não sabia ainda se aguentava ficar por aqui, mas já comecei vindo a trabalhar em Itaipú e trazendo a esposa já veio os filhos também então ficou mais difícil ainda pra você retornar pra qualquer lugar. Aí ficamos em Itaipú que o primeiro passo seria 5 anos e até hoje estamos aí.
P1 – Isso quer dizer o que? Quer dizer que você gostou de ficar?
R – Olha, Itaipú nos deu assim um apoio em todas as circunstancias aí em termos de viver bem, então você tinha moradia, escola,...
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Nome do projeto: Memorial do Trabalhador
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de: Gilmar Fabro
Entrevistado por: Marina
Foz do Iguaçu, 28 de agosto de 2002
Código: ITA_CB023
Transcrito por: Elisabete Barguth
P1 – Por favor qual é o seu nome, local e data de nascimento.
R – O meu nome é Gilmar Fabro, sou de Piratininga estado de São Paulo, nasci no dia 11 de agosto de 1956.
P1 – Qual o nome dos seus pais e o que eles faziam?
R – Meu pai Hélio Fabro, ele era comerciário trabalhava na Cobal, não sei se existe ela hoje ainda e minha mãe Cecília da Silva Fabro é do lar.
P1 – Como foi que você chegou aqui em Itaipú e quais foram as suas primeiras impressões?
R – Eu vim de uma outra Usina, Ilha Solteira, São Paulo e o pessoal que trabalhava lá os engenheiros vieram pra construção de Itaipú e tava recém trabalhando na empresa me trouxeram pra cá com o propósito de ficar 5 anos, isso em 1977.
P1 – E fazendo o que que o senhor já veio?
R – Eu trabalhava lá em laboratório de concreto e vim pra cá pra trabalhar em laboratório de concreto e nele estou até hoje, então eu vim pra Itaipú em 77.
P1 – Qual foi a sua primeira impressão aqui?
R – A primeira coisa foi ficar um pouquinho apavorado, uma com frio porque sendo do estado de São Paulo eu nunca tinha encontrado uma região assim tão úmida e fria e Itaipú no começo era um desmatamento muito grande, muita maquina e um barro freqüente, bastante umidade então não sabia ainda se aguentava ficar por aqui, mas já comecei vindo a trabalhar em Itaipú e trazendo a esposa já veio os filhos também então ficou mais difícil ainda pra você retornar pra qualquer lugar. Aí ficamos em Itaipú que o primeiro passo seria 5 anos e até hoje estamos aí.
P1 – Isso quer dizer o que? Quer dizer que você gostou de ficar?
R – Olha, Itaipú nos deu assim um apoio em todas as circunstancias aí em termos de viver bem, então você tinha moradia, escola, transporte uma assistência total e tinha o seu salário então você querendo profissionalmente também progredir.
P1 – Agora o seu negócio é concreto?
R – Concreto.
P1 – Me fala um pouquinho desse dia a dia trabalhando com concreto. E também quais são as dificuldades, quais foram os problemas?
R – Olha, sempre que eu falo em concreto a gente fala em equipe, Itaipú foi uma grande equipe então cada um com uma pequena parcela contribuiu num caso, outro caso as vezes em resolver uma coisa ou outra e muitas coisas a gente não chegou nem ver, acho que não poderia o superintendente estaria na frente de trabalho conseguindo vê tudo aquilo o que acontecia de defeito, tudo aquilo que acontecia no decorrer da construção. Mas da minha chegada aqui Itaipú não tinha nada de concreto, tava apenas nos preparativos aí de montagem de centrais de concreto, toda estrutura que viria a produzir o concreto, distribuir os concretos para os blocos e dia a dia ser levantado aí esse monumento de 2 milhões de metro cubico de concreto, então a minha área especificamente foi o berço de toda essa estrutura que existe de concreto então o laboratório serviu pra os analises de concreto que foram lançados em Itaipú.
P1 – Vocês faziam diversos tipos de concreto?
R – Diversos tipos de concreto, então dependendo de cada área, de cada estrutura que fosse ser montada você teria aplicação de um traço que nós chamamos de concreto e diferenciando em varias resistências, em varias características do concreto.
P1 – Conforme o caso.
R – Conforme cada área a ser aplicar.
P1 – Houve a criação de um tipo novo?
R – Eu acredito que Itaipú, não seria especifico isso pra Itaipú, cada obra serve de exemplo para uma nova obra e cada nova obras são novos concretos que são lançados, então você tem com o material existente na região que os materiais são extraídos da própria região ali onde você faz escavações, você retira materiais, retirando esses materiais da região você vai fazer o analise que é feito em laboratório e você através desses materiais você vai determinar um concreto que seja aplicável daquele solicitado pelo projeto em termo de resistência e outras características mais.
P1 – Quer dizer que de repente a própria Itaipú gerou seu material pra concreto e teve só que vim algumas coisas de fora?
R – Não, praticamente quando se constroe uma obra de um porte desse, já se preocupa em fazer os traços, as escavações e dali mesmo se extrair os materiais e deixar que no caso sempre o principal pra se construir um concreto que é o cimento que normalmente ele vem de fora, mas tentar o possível que se tenha os materiais adicionais pra fabricação do concreto já na região, no local que é muito mais interessante do que você ter que buscar fora isso.
P1 – Quer dizer o que vem de fora é o cimento.
R – O cimento, os aditivos, nós falamos em aditivos.
P1 – Tiveram alguma crise de abastecimento?
R – Olha, todo mundo quando fala aí de concreto em Itaipú sempre pensa “Poxa, por esse volume de concreto que foi lançado o pessoal ganhou muito dinheiro”, pelo contrario Itaipú exigia determinado cimento não vem ao caso a gente querer especificar mas o que era mais rigoroso pro fabricante do que ele fazer um cimento para um consumidor comum, então as exigências que tinha ninguém queria vender cimento pra Itaipú então eles foram obrigados por decreto a fornecer esse cimento pra Itaipú para depois fornecer para os consumidores comuns, no entanto que Itaipú tinha em cada fabrica de cimento um funcionário dela controlando essa fabricação para liberar esse cimento para vir a Itaipú.
P1 – Os fabricantes particulares?
R – Particulares, tinha um fiscal de Itaipú fiscalizando a produção deles. Então quando saía fora do padrão Itaipú o cimento era lançado pra um consumidor comum e esse funcionário ficava fazendo ensaios, ficava analisando o cimento então a hora que tava fora do padrão Itaipú, era consumidor comum e eles tinham que voltar a produzir aí voltavam com o produto pra Itaipú.
P1 – Isso em que década, em que ano?
R – O pico de Itaipú, eu vou falar uma data depois tem que analisar porque foi uns 5 anos aí e eu não lembro em certo porque eu cheguei aqui em 77 eu não lembro corretamente quando começou, mas isso foi na faixa de 1978, 79 no pico da obra isso vai ter informações aí mas a mesma coisa aconteceu com o aço também, as siderúrgicas não queriam fornecer o aço pra Itaipú, não que não queriam mas as exigências eram muito grandes, esses aços tinham que ser produzidos de acordo com a ABNT, então tinha fiscal na fabrica e o fiscal que é um pouco diferente do cimento, o aço só depois de frio que pode ser analisado então esse aço após ser analisado era separado o que estava dentro da norma da ABNT era separado e encaminhado pra Itaipú.
P1 – E quem controlava essa qualidade?
R – Essa qualidade tanto do cimento quanto do aço nós chamamos de ensaio de recepção, então chegavam o material na obra tirava-se amostra de cada carreta de cimento, de cada carreta de aço, isso daí era analisado pelo laboratório de concreto dentro aqui então qualquer desvio de resultado que não atendesse as exigências de norma esse material não podia ser aceito, então mostrava carreta por carreta, aço por aço e os aços também quando lançados nos blocos, quando se tinha emenda qualquer tipo que fosse tirava-se a emenda, analisava-se a emenda e aprovava ou não.
P1 – Resumindo, foi um serviço super bem preciso, né, bom, nós já vamos indo pro final da entrevista, então você tem um caso assim inesquecível, mas rapidamente.
R – Eu teria até dois, mas vou contar um que eu achei curioso. Um seminário que teve em Foz do Iguaçu, um seminário de grandes barragens e num momento quase em cima da hora foi anunciado que o laboratório ficaria aberto a visitação ao pessoal que estaria participando desse evento, então rapidinho foram lá pintaram, reformaram pra deixar o troço bonito porque ia receber as visitas e nós tínhamos um funcionário Sebastião Caetano que trabalhava justamente numa sala de ensaio destrutivos e ele fazia a regularização do corpo de prova que é feito com enxofre derretido, isso tem calor ali porque ele tá derretido e cheiro também então ele trabalhava muito só com avental sem camisa e tal e quando chegaram pra ele: “Olha, Sebastião essa semana o pessoal tá aí visitando, então fica meio velhaco pra o pessoal não pegar de surpresa, você sem camisa e tal” e ele ali trabalhando com o corpo de prova pesado, ele suado com aquele calor ali e tudo, ele pegou tirou a luva, pensou jogou a luva num carrinho e falou: “O que esses porcarias desses padres querem com barragem”, porque analisando seminário seriam padres, então essa é uma história curiosa.
P1 – Então são coisas assim, existe todo um vocabulário da obra.
R – Tem.
P1 – Em cada obra ou cada uma tem o seu?
R – Não, cada obra ela tinha um seqüência, antes de Itaipú ela tinha uma seqüência, a obra vinha um pessoal de terraplanagem quando terminava o trabalho eles mudavam pra outra obra e entrava o pessoal da civil que quando já tava saindo tava entrando o pessoal da montagem então era uma seqüência de construções de obras. E Itaipú foi diferente porque o troço parou aqui a maioria não teve pra onde ir então ficaram em vilas como nós temos aqui e não teve uma seqüência de obras, então quem levava esse linguajar de obra era o próprio peão então sempre as obras tem o mesmo vocabulário quase.
P1 – E ficou tudo por aqui?
R – Não, isso nós temos esparramado pelo Brasil inteiro peão de obras e praticamente o vocabulário é o mesmo.
P1 – Bom, então eu quero saber o que você acha de a Itaipú ter pedido essa memória através de depoimentos das pessoas.
R – Eu até trabalhei nessa comissão, a gente tá aí 2 anos trabalhando e eu sou uma pessoa que entrei nessa brincadeira porque nós começamos brincando porque eu sempre gostei, eu trabalho na Itaipú e acredito que será o meu emprego assim, eu to aposentado há 5 anos pelos INSS então estamos aguardando aí as construções e cumpri idade esses negócios, mas eu acredito que o interesse que eu tive em imobilizações que tiveram do próprio laboratório fotográfico então sempre fui lá e resgatei esses negócios e comecei a guardar fotografias então eu sempre tive fotografias e entrava em contado com o pessoal do Museu e não sei o que e a gente começou a conversar e a resgatar coisas que ninguém nunca tinha visto. Que nem eu tenho um álbum montado todo em preto e branco e a primeira fotografia você tem a picada do eixo da barragem então só a mata onde o pessoal fez a picada tem um álbum em preto e branco talvez no final do ano o Hélio falou em fazer uma publicação que são fotos inéditas aí e ficaram...
P1 – Ou seja você dá muita importância a memória?
R – Eu gosto muito.
P1 – E o que você achou desse depoimento que você tá dando?
R – Eu gostaria de falar mais, eu acho que teria que ter um tempo maior porque eu acho que ficou muita coisa pra trás, pode ser que em uma outra hora, uma outra oportunidade a gente venha a comentar, mas é um prazer muito grande tá participando desse momento histórico de Itaipú.
P1- Muito obrigada pela sua entrevista então.
R – De nada.
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