Projeto Conte Sua História
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Antinella Carrijo Ramos
Entrevistado por Fernanda Micoski e Larissa Guilhoto
São Paulo, 06 de setembro de 2021
Código PCSH_HV1241
Transcrito por Deborah Juliana Castilho Silva
Revisado por Letícia F. Carvalho
P/1 - Bom então para começar Antinella, peço que você compartilhe conosco o seu nome completo, local e data de nascimento.
R - Antinella Cristini Carrijo Ramos, eu nasci em Bauru no dia 28 de fevereiro de 1982.
P/1 - E também compartilha conosco nome, local e data de nascimento dos seus pais.
R - Bom, é minha mãe Léia da Silva Caracho, ela nasceu em Dois Córregos, e a questão dos meus pais é uma historinha um pouco mais longa né, então acho que preciso contar um pouquinho sobre isso, porque eu sou a segunda filha da minha mãe, minha mãe casou com o primeiro marido dela, o Osni Antônio Caracho e teve minha irmã mais velha a Karen, e eles se amavam muito e se gostavam muito, mas eram muito jovens e eles acabaram se separando, e minha mãe voltou a morar na casa dos meus avós em Bauru. Nesse tempo, ela conheceu o meu pai, eles se casaram e eu nasci…e meu pai Guilberto Duarte Carrijo. Só que quando eu tinha dois anos, minha mãe se separou do meu pai e voltou com o primeiro marido dela o Osni, que é quem cuidou de mim, então eu costumo dizer que eu tenho dois pais, o Osni e o Guilberto. E em 1992, veio o meu pai Guilberto, ele faleceu eu tinha 9 anos, e em 2018 - não estou me recordando agora ou 2019 - meu pai Osni fez o reconhecimento da minha paternidade afetiva. Então eu tenho dois pais na certidão de nascimento, meu pai Osni e meu pai Guilberto, e tenho seis avós mais ou menos isso e tenho uma irmã mais nova que nesse retorno da minha mãe, do meu pai Osni, que eles retornaram, nasceu minha irmã mais nova que é a Camila. Então eu sou a filha do meio, eu tenho uma mais velha e uma mais nova que são filhas biológicas do Osni, eu que sou...
Continuar leituraProjeto Conte Sua História
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Antinella Carrijo Ramos
Entrevistado por Fernanda Micoski e Larissa Guilhoto
São Paulo, 06 de setembro de 2021
Código PCSH_HV1241
Transcrito por Deborah Juliana Castilho Silva
Revisado por Letícia F. Carvalho
P/1 - Bom então para começar Antinella, peço que você compartilhe conosco o seu nome completo, local e data de nascimento.
R - Antinella Cristini Carrijo Ramos, eu nasci em Bauru no dia 28 de fevereiro de 1982.
P/1 - E também compartilha conosco nome, local e data de nascimento dos seus pais.
R - Bom, é minha mãe Léia da Silva Caracho, ela nasceu em Dois Córregos, e a questão dos meus pais é uma historinha um pouco mais longa né, então acho que preciso contar um pouquinho sobre isso, porque eu sou a segunda filha da minha mãe, minha mãe casou com o primeiro marido dela, o Osni Antônio Caracho e teve minha irmã mais velha a Karen, e eles se amavam muito e se gostavam muito, mas eram muito jovens e eles acabaram se separando, e minha mãe voltou a morar na casa dos meus avós em Bauru. Nesse tempo, ela conheceu o meu pai, eles se casaram e eu nasci…e meu pai Guilberto Duarte Carrijo. Só que quando eu tinha dois anos, minha mãe se separou do meu pai e voltou com o primeiro marido dela o Osni, que é quem cuidou de mim, então eu costumo dizer que eu tenho dois pais, o Osni e o Guilberto. E em 1992, veio o meu pai Guilberto, ele faleceu eu tinha 9 anos, e em 2018 - não estou me recordando agora ou 2019 - meu pai Osni fez o reconhecimento da minha paternidade afetiva. Então eu tenho dois pais na certidão de nascimento, meu pai Osni e meu pai Guilberto, e tenho seis avós mais ou menos isso e tenho uma irmã mais nova que nesse retorno da minha mãe, do meu pai Osni, que eles retornaram, nasceu minha irmã mais nova que é a Camila. Então eu sou a filha do meio, eu tenho uma mais velha e uma mais nova que são filhas biológicas do Osni, eu que sou filha biológica do Guilberto, mas que também sou filha do Osni.
P/1 - E você pode descrever um pouquinho dessa relação com essa família tão vasta, né? Como era sua infância e como se deu a relação com todos os familiares, com suas irmãs e com os avós?
R - Até os 9 anos, enquanto meu pai que ainda era vivo, né, eu tinha o contato com ele e a gente tinha aquela relação de família de casal separados né, então assim eu ia aos finais de semana. Ele também tinha mais filhos do primeiro casamento, então eu tinha contatos esporádicos com esses outros irmãos, mas aí quando ele faleceu eu acabei perdendo contato com essa parte da minha família paterna, meus avós já eram falecidos e meu pai era bem mais velho que a minha mãe, então se ele fosse vivo hoje ele já ia ser bem mais velho. Então nesse 1991 eu acabei perdendo com essa parte da família né, da parte do meu pai biológico. Mas eu sempre costumo dizer, assim, que nunca me faltou nada porque por um outro lado o Osni me possibilitou vínculos familiares muito afetuosos, vínculos familiares maravilhosos, então nunca houve distinção entre as minhas irmãs de mim por essa questão do vínculo biológico. Então meus avós sempre foram meus avós, meus tios sempre foram meus tios, meus primos sempre foram meus primos. Eu cresci numa família, apesar dessa diferença de ter um sobrenome diferente, é algo que nunca foi escondido e foi sempre muito aberto, foi tranquilo e meu pai o Osni foi quem me criou e ele é um amor na minha vida assim, desde muito pequena. O que eu me recordo é a gente sempre junto e isso causava até um pouco de ciúmes das minhas irmãs porque a gente sempre se deu muito bem, a gente teve vínculos muito forte de afinidade, de carinho, e minha mãe sempre me adiando tudo isso, sempre foi um elo de ligação entre todas essas pessoas. Então eu costumo dizer que é uma história de amor muito bonita porque eles casaram duas vezes, o segundo casamento deles porque eles chegaram a se divorciar, e depois quando a gente era adolescente eles casaram de novo no civil, no religioso porque realmente eles se amavam e acho que o fato do meu pai ter me adotado afetivamente dessa forma é prova cabal desse amor ai que eles construíram entre eles.
P/1 - Sim, e como era sua relação com suas irmãs? Brincadeiras, enfim, qual a diferença de idade entre vocês?
R - Ah, 5 anos da mais velha da Karen e 5 anos da mais nova. Minha relação com minha irmã mais velha até a fase adulta, ela foi um tanto conturbada porque eu acredito que ela tenha passado a separação, todas as mudanças porque ela já existia dentro daquele contexto então eu acredito que para ela foi mais difícil, né. E agora, com a mais nova, a gente cresceu junto. Eu sempre tive um vínculo mais próximo com a mais nova e até hoje ela brinca assim, a gente ia pedir um presente de natal, de dia das crianças, e eu sempre fazia a cabeça dela para ela pedir aquilo que faltava da minha coleção de bonecas e ela sempre pedia e eu acabava me apossando de tudo, a gente sempre teve uma relação muito afetuosa… Mas aí a gente vai crescendo e vai entendendo algumas coisas e aí vem os filhos também, né. E eu falo que as minhas - eu tenho duas filhas - e as minhas filhas foram o elo de conexão com minha irmã mais velha e hoje a gente tem um vínculo muito bom, ela também tem um filho, então as crianças que chegaram depois fizeram com que a gente se unisse mesmo e conseguisse tocar todas as diferenças em frente.
P/1 - Legal, e a sua infância foi em Bauru?
R - Foi, nasci em Bauru e morei em Bauru até 2005 quando eu me mudei para onde eu moro hoje, Santa Cruz do Rio Pardo, mas minha infância foi em Bauru, uma infância muito tranquila. Estudei e estudava no mesmo colégio que minhas irmãs e minhas brincadeiras sempre foram… que eu sempre gostei muito de brincar de boneca, mas eu sempre gostei muito de estudar então eu sempre estava com um caderninho na mão escrevendo uma coisa aqui e escrevendo uma coisinha ali. Passei a vida inteira querendo ser jornalista porque eu queria escrever, mas acabei que me formei em psicologia, e como eu falei, até os 9 anos passava os finais de semana na casa do meu pai, depois passava a semana com minha mãe e com minha família. Os avós muito próximos também, meus avós maternos principalmente foram pessoas muito próximas. Inclusive a gente chegou a morar um tempo na casa com os meus avós e acho que é parte da infância que mais lembro, desse período onde a gente ainda podia… aquela época era totalmente diferente de como é hoje, não tinha internet então a brincadeira sempre foi na rua e lá em Bauru, eles moravam perto de um lugar que a gente chamava de “Buracão”, que eram tipo umas terraplanagens e eles faziam uns campinhos e os adultos jogavam bola e as crianças ficavam brincando por ali. Hoje eu fico imaginando e olha o perigo que poderia ter acontecido ali de desbarrancar alguma coisa, mas a gente passava horas e dias brincando naquele lugar que nem existe mais e acho que é isso, que mais que eu me lembro da infância… eu lembro da gente sempre junto, das festas de natal, que eu acho que era um momento que a gente esperava o ano inteiro porque tinham tios que moravam em outras cidades e era o único momento que a gente se encontrava e se via, e aí quando eu fui crescendo um pouquinho mais meus avós paternos, pais do meu pai Osnir, eles moravam numa cidadezinha perto de Bauru, e aí quando eu fui crescendo fui ganhando e conseguindo ganhar os status da minha irmã de poder passar férias lá também, então também a gente passava o ano todo esperando chegar esse momento em que a tia vinha de São Paulo, passava por Bauru e levava a gente para Arealva, e foram essas coisas assim, uma infância simples sem muita coisa, mas muito afetuosa, uma infância cheia de afeto e cheia de vínculos que acho que levo até hoje.
P/1 - Legal, e como conta um pouquinho da sua adolescência, você me falou antes dessa afinidade com a escrita, isso persistiu? Algo que você queira comentar um pouco sobre essa fase da vida?
R - Bom, a vida inteira eu fiz diário, eu sempre escrevi em diário e passei parte da infância e adolescência falando “Ai, eu quero ser jornalista porque eu quero escrever.” Mas aí chegou no ensino médio e eu comecei a pensar e falei: “Eu quero escrever, mas não quero ser jornalista,” e aí eu acabei fazendo psicologia, achei que tinha a ver comigo e acabei fazendo psicologia. E bom, essa história de escrita ela vem surgindo anos depois, eu escrevendo mesmo oficialmente, alguns anos depois que eu começo a escrever para um jornal e aí eu falo que a psicologia me deu base, que eu falo que eu sou uma escrevedora, então a psicologia me deu base para realizar o sonho que eu sempre quis que era escrever. Mas aí voltando na adolescência nessa fase que eu me lembro é os amigos, eu tinha a minha irmã mais velha e ela sempre foi um passaporte para mim, para a gente poder passear, poder ir para a balada, poder se divertir, ela sempre foi um passaporte, ela era 5 anos mais velha. Então nesse aspecto, a gente sempre saiu junto, com os amigos dela, com a turma dela e ao mesmo tempo eu sempre fui uma menina que sempre gostei de estudar. Então quando eu fui prestar o vestibular, eu coloquei na cabeça que queria fazer Unesp [Universidade Estadual Paulista] em Bauru, que era a universidade pública, então sempre fui muito dedicada e responsável, sabe? Podia ir para balada, mas não perdia nenhum compromisso. Se tinha que acordar às 08h da manhã, podia ter chegado às 04h e meia, eu estava lá, sempre fui muito assim “regradinha” nesse aspecto, que me permitia sim, me permitia sim, me divertia e curti, mas ao mesmo tempo tinha que cumprir com as responsabilidades.
P/1 - E falando um pouquinho mais sobre esse momento de escolha da profissão, o que mais te motivou, o que te fez escolher a psicologia?
R - Aí, eu não sei ao certo, não sei dizer, eu acho que a gente é tão novo para escolher uma profissão aos 17 anos, né? Eu falo que eu tive sorte, porque eu adoro a psicologia, eu falo que é uma das minhas formas de ser no mundo, de trabalhar com a psicologia, de trabalhar numa área que eu gosto que é a psicologia social, de ter um trabalho um trabalho onde me permite fazer algumas intervenções nas quais eu acredito, mas eu não sei muito bem como ela surgiu assim na minha vida. Eu acho que na realidade quando eu prestei o vestibular eu tinha uma ideia que todo mundo tem, né, da psicologia clínica, daquela coisa mais formalizada, da expressão social que a psicologia tem na nossa vida, e era isso. Aí depois que eu entrei mesmo na universidade que aí eu vi um mundo de possibilidades se abrindo, porque a psicologia é uma profissão muito ampla, e eu não tinha essa ideia, eu tinha aquela ideia da psicologia clínica não sabia dessa questão das abordagens filosóficas e metodológicas que existem, as diferenças, eu fui “cruazona” mesmo e deu certo.
P/1 - Fala mais sobre esse seu encontro com a psicologia social e o que surgiu a partir daí?
R - Bom, a psicologia social, quando eu começo a cursar a psicologia social, acredito que no terceiro ano da universidade, 2002, 2001, não me recordo bem, eu começo a cursar a disciplina teórica, né, eu já namorava o meu marido, o Felipe, e o Felipe já estava fazendo o estágio, ele dois anos na minha frente na universidade e ele já estava fazendo o estágio prático na comunidade. E aí das nossas conversas, ele sugeriu e viu como uma possibilidade e disse: “Ah, eu posso conversar com o Celso”, que era nosso professor na época, ele era o supervisor de estágio, que eu iniciasse como ouvinte nas supervisões, como um trabalho voluntário na equipe de estágio daquele ano que o Felipe fazia parte, e o Felipe conversou e deu certo. E eu comecei, a gente começou a fazer um projeto, a fazer um projeto social que era vinculado ao estágio de psicologia social comunitária no Núcleo Fortunato Rocha Lima, que é um núcleo habitacional lá de Bauru que na época era um bairro muito vulnerável, né, era o primeiro desfavelamento da cidade, e a gente foi fazer um trabalho com os adolescentes. A gente ia de sábado à tarde e a gente começou a discutir e a debater com a molecada do bairro temas importantes dessa faixa etária, como sexualidade, drogas, a questão da importância da educação escolar. Eu costumo dizer que, assim, que a psicologia social chegou pelas mãos do meu marido que na época era meu namorado, chegou pelas mãos do Felipe e de lá para cá foi um encantamento e ele acabou terminando o estágio curricular e eu ainda fiquei mais 3 anos como voluntária porque queria, e depois ainda na conclusão do meu curso, eu ainda quis fazer o estágio curricular. Me matriculei no estágio de psicologia social e comunitária, porque eu já tinha feito os 3 primeiros anos, mas aí durante todo esse tempo eu fui passando por várias áreas. Então trabalhei com criança, a gente trabalhou muito com literatura infantil eu e a Marina, que era uma outra colega, a gente trabalhou com os adolescentes. E aí quando eu fui fazer o estágio curricular eu já fui para o trabalho com a organização da Associação de Moradores de um outro bairro e aí de lá para cá não fiz outra coisa.
P/1 - E durante essas suas experiências de estágio tem algo que tenha te marcado? Alguma memória que você queira compartilhar conosco?
R - Várias.
P/1 - Fica à vontade [risos].
R - Aí eu lembro, quando a gente trabalha nessas áreas de muita vulnerabilidade social, a gente tem boas histórias, mas também tem histórias de muita dificuldade, né? Já faz tanto tempo que eu nem me recordo mais o nome das pessoas, já passou tanta gente, mas quando eu cheguei na Pousada da Esperança, já na fase do estágio curricular, ao mesmo tempo em que eu fazia o estágio curricular, eu também era bolsista da Proex [Pró-reitoria de Extensão Universitária Unesp]. Então eu fazia o estágio com Associação de Moradores aos finais de semana e durante a semana eu fazia um estágio extracurricular num órgão público, isso foi em 2003, mas um órgão público da Assistência Social, né. E lá, durante a semana, eu trabalha mais nessa área da Assistência Social e aos finais de semana eu fazia esse trabalho de organização popular da Associação de Moradores. E aí eu falo que trabalhar com a Associação de Moradores foi uma história muito feliz porque eles se organizaram, hoje eles montaram uma instituição, que é o Projeto Formiguinha que existe lá em Bauru ainda, e eu estava lá no primeiro tijolo, né. Eles foram dando essa continuidade, mas assim também histórias de pobrezas muito tristes, histórias da fome. Eu lembro de uma visita domiciliar assim que a gente chegou na casa, uma denúncia, né, a denúncia que chega pros órgãos públicos sempre são denúncias de negligência, de maus tratos, como se a negligência e os maus tratos fossem frutos de uma incapacidade individual da mãe, do pai, da família e não como algo que esteja na relação público e privado, entendeu? E aí, eu lembro que a hora que eu cheguei, um mau cheiro na casa, era um menininho que tinha uma deficiência, ele estava cheio de ferida mesmo e não tinha mesmo o que comer e tudo bem, comida é fácil, mas existe uma série de outras coisas que a política pública precisa prover, que o Estado precisa prover, para que essas famílias realmente possam se emancipar. Então eu lembro dessa família, da gente chegando lá com uma cesta básica porque não tinham o que comer, mas as fragilidades e as dificuldades eram muitas, eram outras muito além da ordem da sobrevivência material, da fome; é uma pena que as pessoas acabam sempre colocando nas costas do indivíduo essas mazelas sociais. Por exemplo, a gente na assistência social, a gente costuma falar o risco social, o próprio nome já diz, que se trata de um risco social que está nessa relação. Então a partir do momento em que a gente individualiza essas dificuldades, a gente tá jogando toda a responsabilidade no indivíduo, e aí a gente vai alimentando esse ciclo, esse ciclo da pobreza, da miséria, e é um ciclo que não vai ter fim, porque no sistema que a gente vive não é interessante que ele tenham fim, porque ele se alimenta dessa desigualdade. Eu acho que o papel do psicólogo social dentro de uma comunidade, dentro dos espaços públicos, ele vem ao encontro de proporcionar esse desenvolvimento dessa consciência crítica, desvelar esses determinantes sociais que inclusive determinam a nossa saúde mental, a nossa subjetividade, né. E acho que esse é o desafio do psicólogo social, é proporcionar dentro desses espaços, dentro dessas comunidades, essa apropriação da consciência crítica. Eu costumo dizer assim: ou a psicologia ela se firma não só como prática psicológica, mas também como uma prática política, se não for assim a gente vai reproduzir, a gente vai continuar a reproduzir a desigualdade, vamos continuar reproduzindo a doença mental, porque essas mazelas dessas situações, elas não estão dentro da gente. Não é algo que nasce: "Aí brotei", brotou de repente, não, é algo que se constrói na relação do indivíduo com essa sociedade que é desigual, que é classista, que é racista, que é machista, enfim…
P/1 - Conta um pouquinho mais das suas experiências profissionais depois que você se formou, o que você fez, quais projetos você se envolveu?
R - Bom, é o Felipe que está sempre norteando ali, eu falo que ele foi me pegando pela mão e me dando uma força dentro do caminho da psicologia social e posteriormente dentro do caminho da assistência social. Em 2005, eu ainda estava no último ano da faculdade e o Felipe já havia se formado e estava em Bauru, né, ainda organizando uns processos de trabalho. E ele falou: “Olha Ti, eu vou voltar para Bragança,” e Bragança é a cidade onde ele nasceu, onde a família dele mora, da onde eu estou falando hoje, hoje eu estou em Bragança, e aí tudo bem…
P/1 - Bragança fica onde?
R - Bragança Paulista fica do lado de Atibaia, perto de São Paulo.
P/1 - Ah... [finaliza fazendo movimento com a mão de um joia].
R - Quase no sul de Minas… E aí eu ainda tinha um ano pela frente da faculdade. Ele falou: “Vou embora,” porque tinha uma proposta de trabalho aqui. E no dia em que ele vendeu as coisas, os móveis, desfez da república e tal, a gente estava vindo para trazer as coisas dele, e ele vinha para cá e eu retornaria de ônibus para Bauru. A hora que a gente está colocando as malas dentro do carro, um amigo nosso, o Marcelo, que morava em Botucatu que é uma cidade próxima de Bauru também, ligou falando assim: “Nossa Felipe, tem uma amiga que mora em Santa Cruz do Rio Pardo que está precisando de um psicólogo social lá numa instituição que trabalha com adolescentes.” E aí a gente pensou: “Ah é feriado, vamos para Bragança e na hora que a gente chegar lá a gente vê isso.” E aí ele nem tirou as malas do carro e na hora que a gente chegou em Bragança, fez os contatos, mandou o currículo e aí ele voltou. E por que ele acabou voltando, né? Porque Santa Cruz e Bauru são 97 quilômetros de distância, então eram bem mais próximos de mim e Bragança são 450 quilômetros de Bauru. Então estar em Santa Cruz possibilitava que a gente se visse todo final de semana, que as coisas iam caminhar.
E aí isso foi em abril de 2005 e quando foi no final do ano, dezembro de 2005, eu tinha colado o... tinha feito minha última aula. Uma colega dele pediu demissão e surgiu uma vaga no mesmo local de trabalho, e aí eu estava naquela fase prestando um mestrado e tentando a área acadêmica, fiquei pensativa e meus pais falando: “Não vai.” Eu não tinha passado naquele ano e meus pais falando: “Não vai fazer como aluna especial”, aí eu olhei e falei: “Nossa, mas todo mundo querendo um trabalho, né, carteira assinada e eu acabei de concluir, minha última aula foi ontem, eu não posso perder essa oportunidade”, e aí eu fui para Santa Cruz, e trabalhei junto com Felipe uns quatro anos, trabalhando com adolescentes em conflito com a lei, era uma instituição tipo uma ONG [Organização Não Governamental] que tinha um convênio com a Fundação Casa, que na época não era nem Fundação Casa era Febem [Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor] e era um convênio da instituição com o Estado, e a gente fazia o acompanhamento de adolescentes e medidas em meio aberto, liberte é a liberdade assistida e a prestação de serviço à comunidade, e eu falo que ali foi uma escola, porque a assistência social se divide entre proteção básica e proteção especial, na proteção básica a gente atua na prevenção, né, a gente atua mais em base territorial e comunitária, na prevenção de situações de risco, e na proteção especial é quando o direito já foi violado e aí precisa de você lá para reparar, para amenizar, e os adolescentes em conflito com a lei está dentro da proteção especial, então eu começo como psicóloga na proteção especial. Lógico que eu já tinha tido anos anteriores a experiência no núcleo de apoio à família como estagiária na prefeitura em Bauru, e aí trabalhei nesse projeto até 2008, né, e nossa foram anos maravilhosos, uma equipe muito engajada, porque era um trabalho muito difícil porque todo mundo acha que é passar mão em cabeça de bandido, que a gente fica ali passando mão na cabeça da molecada e não é bem assim, ninguém tem uma história única, quando as pessoas chegam nesse processo da infração da prática infracional, muitas violações de direito aconteceu antes para que eles chegassem até ali, nesse período eu tenho um história que eu sempre levo comigo, de um menino ele já tinha 17 anos e eu atendia ele e ele era um menino muito gente boa, ele era envolvido com tráfico de drogas mas era um menino muito gente boa, um menino que assim falava com muita verdade sobre as histórias, sobre as coisas dele, ele não era aquele menino que chegava e queria passar para a gente que era um menino diferente daquilo, ele era muito verdadeiro e isso fazia com que ele tivesse crédito comigo, porque ele falava com muita verdade sobre as coisas que ele fazia. E um dia num processo de reflexão com ele assim, tentando mostrar para ele outras possibilidades, outras… que não são muitas né, quando se trata da classe pobre, não são muitas possibilidades que se tem para oferecer, e eu tentando fazer com que ele refletisse e aí ele virou pra mim e falou assim: “Antinella, eu sou arrimo da família, eu tenho uma mãe alcoolista que não consegue, muitos problemas de saúde não consegue trabalhar, eu tenho meus irmãos para cuidar e… se eu for trabalhar na roça que é a possibilidade eu tenho, né…”, porque os trabalhos em Santa Cruz giram muito entorno da Lavoura de Cana e da Lavoura de Laranja, principalmente para quem não tem qualificação profissional, ele era semianalfabeto, ele tinha saído da escola há muito tempo e ele falou assim: “Eu vou ganhar tanto e, isso eu ganho em uma noite” e aí se olha isso e fala: “Vender droga é errado”, é óbvio que é errado, mas a partir do momento em que a gente começa a olhar com empatia para a história daquela pessoa, para as dificuldades, para aquilo que levou ela… você começa a falar assim: “Do meu lugar, de onde eu ocupo, é fácil pensar em possibilidades”, mas isso não acontece para todas as pessoas, as possibilidades não são iguais, e tudo vai depender do lugar onde a gente ocupa nessa sociedade. Nessa mesma época, eu lembro que participei de um congresso promovido pelo Conselho de Psicologia, e o congresso era sobre o sistema nacional de atendimento socioeducativo que naquela época era uma resolução técnica importantíssima, estava se construindo na época e estava sendo aprovada uma legislação que veio assim para mudar mesmo o olhar o atendimento desses meninos e dessas meninas, e aí a gente estava numa sala cheia de psicólogos, pedagogos, assistentes sociais né, que trabalhavam com esses meninos tanto em meio aberto como em meio fechado. E aí a professora perguntando que cursos e que oportunidades a gente oferecia para esses adolescentes, e aí todo mundo começou a falar: “Na minha unidade tem curso de eletricista, na minha unidade tem curso de panificação, na minha unidade tem construção civil, olha os meninos saem de lá com muitos diplomas”, bom aí a palestrante olhou e falou assim: “E os filhos de vocês, vocês colocam em que curso, por quê para os nossos filhos a gente quer inglês, música, natação, atletismo, xadrez, e pra os filhos dos pobres e da classe trabalhadora a gente quer o que? A gente quer a manutenção deles daquele lugar”. Então assim, trabalhar ali junto com os adolescentes infratores me deu muita essa consciência, sabe? Que nada vai adiantar se a gente não trabalhar em prol da transformação da sociedade, não adianta eu querer transformar, né… porque quantos meninos outros chegaram com a mesma história daquele lá, e realmente a necessidade dele material levava ele para aquela vida, não existia outra causa naquele momento, existia sim uma série de violações de direito que trouxe ele naquele momento na vida dele, e acho que ali me fez ter essa bagagem assim, essa criticidade, de que nada vai adiantar se a gente não pensar em uma transformação da sociedade, não pensar na implantação de políticas públicas que realmente atendam os direitos do povo. E aí, eu trabalhei no projeto até 2008 quando eu passei no concurso na prefeitura de Santa Cruz e eu passei em segundo lugar, eu falo que foi o melhor segundo lugar que eu podia ter porque passar em segundo lugar me possibilitou eu ser alocada na Secretaria de Assistência Social porque era um concurso geral de psicólogos então todos foram para a Secretaria de Saúde e eu fui a única que fui para a Secretaria de Assistência Social. Na época a gente tinha uma secretária a Fátima, que ela já me conhecia e já conhecia o meu trabalho porque a instituição que eu trabalhava já era parceira na execução de algumas políticas públicas, já era parceira da Secretaria, então ela já conhecia o meu trabalho e aí ela conseguiu me trazer assim, porque sabia da minha capacidade e do meu amor pela psicologia social e pela assistência social. Então em 2008 eu fui trabalhar na prefeitura para assumir o cargo de psicóloga do CRAS [Centro de Referência da Assistência Social], então nesse momento eu saio da proteção especial e vou trabalhar na proteção básica, com base em território, trabalhar mais com trabalho de prevenção, de ampliar fatores de proteção, analisar situações de risco, fazer acompanhamentos de famílias, só que ai eu entro em 2008 no período eleitoral, e que a justiça embarga a inauguração do CRAS naquele momento, então eu passo um ano dentro da secretaria aprendendo muitas coisas que eram coisas que eu não sabia, né, da parte mais administrativa, da parte da gestão, que eram as coisas que eu não sabia, eu costumo dizer…
Eu trabalho no CRAS até hoje, já são 12 anos e desde do primeiro prego que eu pude nesse primeiro ano, que a gente pode fazer toda a estruturação do espaço físico, da implantação do equipamento dentro do território, até a aplicação do primeiro serviço, porque aí a gente sobe para o... a gente equipe do CRAS, sobe para o CRAS mesmo um ano depois em 2009, mas esse um ano que eu fiquei na secretaria foi um período maravilhoso também porque eu pude aprender coisas assim, conteúdo que eu não tinha. Aí eu vou para o CRAS em 2009 e ali eu começo o meu trabalho de psicóloga social ali no território da Divinéia, até pus uma camiseta hoje da Divinéia para trazer eles aqui junto comigo…
P/1 - O que está escrito ali na sua camiseta?
R - Oi?
P/1 - O que está escrito nessa camiseta?
R - Divinéia também comemora os 150 anos, esse aqui é um projeto que é o Fala Vila Carnaval, eles têm um bloco de carnaval e o CRAS desde 2017 a gente fechou uma parceria com eles, então a gente assessora, a gente conseguiu junto com a comunidade transformar um bloco numa escola de samba e essa é a camiseta do carnaval de 2020 que foi o último antes da pandemia, e é o território mais vulnerável da cidade, são os territórios onde algum tempo atrás eram considerados favelas onde a gente tem o Bom Jardim que é um bairro de desfavelamento e ali foi aonde eu fui desenvolvendo meu trabalho e trouxe a arte para comunicar e mediar ai o meu processo de trabalho. Mas aí nesse meio tempo psicólogo ganha pouco, né gente? Não ganha muito, às vezes as pessoas me conhecem muito pelo trabalho que eu desenvolvo no CRAS, mas em 2009, eu também vou trabalhar no Serviço de Acolhimento Institucional, para completar a minha carga horária, então eu tinha uma carga horária de 25 horas na prefeitura, então para complementar minha carga horária e ampliar um pouco a minha renda, eu vou trabalhar no abrigo do Frei Chico, que é uma instituição muito conhecida lá em Santa Cruz. E aí o meu plano que era trabalhar três anos, fazer uma poupança e ir embora, já fazem 12 que eu estou lá também, eu falo assim que ali foi o Frei Chico foi uma escola também porque eu tinha muita facilidade no meu trabalho em conduzir os processos grupais, né, dentro da psicologia social, e o Frei Chico me possibilitou trazer toda essa criticidade para dentro de uma abordagem mais individual, de um trabalho mais focado ali com as crianças, isso nos primeiros de abrigo.
Depois de 2017 em diante, a gente passa por um processo que se chama Reordenamento dos Serviços de Acolhimento, que é um processo que acontece no Brasil inteiro, onde a gente também teve que nos readaptar e nos reinventar dentro de uma lógica bem menos institucional e se aproximar cada vez mais perto de uma residência. Então nesse período meu trabalho aí dentro do Serviço de Acolhimento ganha um outro aspecto, ganhou um aspecto mais coletivo, e eu costumo dizer que ali no Frei Chico eu aprendi a ser psicóloga e assim a encarar qualquer desafio, seja na clínica, no atendimento, ali eu pude fazer, acredito que pude fazer mais de 40 processos de adoção, fora as reintegrações familiares, e aí desde 2009 entre o CRAS e o Frei Chico, fazem 12 anos já, o que eram para ser três se transformaram em 12. E aí toda vez eu falo: “Ai tô cansada, acho que tá na hora de parar de dar uma diminuída”, mas aí eu olho e lá é tão maravilhoso também, a gente tem uma equipe tão boa, que aí eu acabo falando só mais um pouquinho.
P/1 - E conta um pouquinho mais para a gente entre essa relação da psicologia social e a arte, como você estabeleceu essa relação ao longo do seu percurso?
R - Então, na realidade não foi algo intencional assim, eu falo que em 2016 quando tudo começou, eu falo que foi algo muito sensitivo e emocional sem muito critério técnico, teórico, eu falo que depois de todos esses anos agora eu estou tendo a oportunidade de teorizar o processo que aconteceu, mas como eu falei eu vou para o CRAS em 2009 como psicóloga e numa equipe bem pequena, e ali a gente já começa alguns trabalhos, eu lembro que um dos primeiros projetos que a gente fez foi a Oficina de Direitos Humanos e junto com as estagiárias, a coordenadora e a assistente social a Betinha, que depois de um tempo o cras recebe o nome dela em homenagem a ela. Ela foi a minha coordenadora Elisabete Soares de Carvalho, junto com a Mariane e com Keite, a gente implanta que a gente precisava começar de algum lugar porque era um equipamento novo, e aí a gente já subiu com aquela ideia de que nosso papel não era estar ali só para conceder alimentação, a gente já tinha aquela de que o CRAS é um órgão quem tem que romper, ele está na sua natureza romper com essa prática assistencialista. Então a gente implanta esse projeto e a gente traz algumas referências artísticas para trabalhar nesse projeto, a gente traz o Ziraldo [Ziraldo Alves Pinto, cartunista], né, ele tem a declaração universal dos direitos humanos em quadrinhos, a gente traz o Toquinho [cantor], isso eu estou analisando essa semana, porque na realidade eu coloco como marco 2016, mas quando eu olho para trás disso já estava lá de alguma forma, então a gente traz o Toquinho com aquele material dele, aquele CD dos direitos da criança que é maravilhoso, e a gente faz todo um trabalho com as crianças naquele momento em 2009/2010.
Bom, e aí a gente vai estruturando os serviços em 2010 eu implanto o grupo de mulheres, que é um projeto que eu toco até hoje, e sempre assim trazendo referências artísticas para trazer as discussões, filme, música, literatura, é engraçado porque quando eu estava na universidade fazendo um parênteses, meu orientador o ngelo Antônio Abrantes, ele era meu orientador na época e meu amigo hoje e eu estava lá trabalhando na comunidade, trabalhando com o grupo de mulheres , ele estava fazendo o doutorado dele e o doutorado dele era a relação, o desenvolvimento do pensamento crítico mediado pela literatura infantil, e aí ele estava lá na viagem da imaginação e eu falava assim para ele: “ ngelo, pé no chão, a gente precisa fazer a revolução não para nesse mundo da imaginação” e eu falo, hoje brinco com ele que tantos anos depois, a minha imaturidade na época não me permitia conceber a arte como um instrumento poderosíssimo desse processo revolucionário, e eu fui perceber isso muitos anos depois. E eu falo para ele, agradeço porque ele insistiu comigo, né, naquele momento em que eu achava em que a militância, ela seria só a terra e fogo, e não é bem assim, então acho que a arte já estava desde dessas discussões já, e aí em 2011 a gente passa pela perda da Betinha no CRAS, a Betinha vem a falecer e é um momento muito difícil para a gente, porque a gente teve que se reorganizar, era eu e mais duas colegas assistentes sociais e aí a gente meio que divide a função da coordenação, e cada um com suas características, e eu que sempre fui muito comunicativa e sempre tive essa questão da liderança, acabei de ficar mais com contato com a comunidade, articulação de rede, e aí depois de algum tempo passa alguns coordenadores, a equipe vai se transformando. Em 2015, a Elisandra que era uma outra colega, era assistente social e coordenadora na época, ela por questões pessoais ela fala que não quer mais assumir a coordenação e ela me indica: “Porque não colocar Antinella como coordenadora do CRAS? Ela está lá a tanto tempo conhece o território, tem uma capacidade enorme”, e a Elisandra me indica, e a gestora na época aceita a sugestão dela e eu assumo a coordenação do CRAS em 2015. E aí nas minhas pesquisas e nos meus estudos, eu encontro um amigo da época da faculdade, que fazia mais de “quantos” anos que a gente não se via, o Alexandre ele morou fora um tempão, fazia acho que uns 15 anos que a gente não se via, eu vi um vídeo dele na internet que ele estava fazendo grafite, e ele fez um projeto numa escola e eu olhei e falei assim: “Gente, dá para fazer isso”, só que eu nunca gostei daquela coisa assim, a arte pela arte, a vamos fazer uma oficina de grafite, fazer uma oficina de grafite é fácil, você contrata um profissional, um artista, ele vem e grafita em cima as crianças, mas ali dentro do espaço do CRAS a gente precisa ir além porque o final, a finalidade não é a arte em si, mas todo o processo de reflexão que a arte pode possibilitar a partir do produto dela, né? Então eu começo a estudar isso, final de 2015, começo de 2016 eu começo a estudar essa forma e a gente resgata esse projeto dos Direitos Humanos, e aí a gente passa os primeiros meses de 2016 trabalhando essa questão dos direitos humanos com os adolescentes, e aí no final desse processo veio o Alexandre e a gente faz o primeiro grafite.
Não na parede do CRAS, a gente homenageia a Nina Simone [cantora, pianista e ativista] e aí a molecada passa também a conhecer quem era Nina Simone, qual era a biografia da Nina Simone, então também a gente tem todo esse cuidado, e aí nesse momento em 2016 a gente faz esse primeiro mural, e aí eu falo que é a mudança do paradigma, foi o divisor de águas, porque não só para nós da equipe mas também para comunidade, porque a arte ela impactou no território, né, eles se sentiram representados, quem passava ali parava para tirar foto, uma Nina Simone gigante, e nesse mesmo período a gente já estava discutindo internamente a necessidade de trabalhar com a Associação de Moradores e com o fortalecimento das que existiam e também com o auxílio para o fortalecimento de coletivos dentro do território. E aí na época, a Aline que era a monitora educadora social dos adolescentes ela também estava fazendo Serviço Social ela começa a se interessar por esse tema, e ela num processo de visita domiciliar ela descobre que a Divinéia já tinha uma associação de moradores e acho que foi confluência cósmica, não sei, porque nesse mesmo processo onde a gente discute internamente essa perspectiva do trabalho, em que a gente faz o grafite a Associação de Moradores chega um dia no CRAS e fala assim: “Dona Antienelle, a gente quer fazer uma placa igual vocês fizeram aqui no CRAS, a gente quer fazer lá no barracão comunitário, mas a gente quer homenagear um amigo nosso que foi um líder aqui da comunidade o João Nervoso”, eu fui pega de surpresa, eu falo que na hora eu nem sabia de que jeito eu ia operacionalizar isso mas falei: “Pode deixar que nós vamos fazer”, mas na hora eu fiquei pensando nem se eu tiver que pedir latinha de spray, falei não de algum jeito nós vamos fazer isso acontecer. E aí o primeiro grafite, nossa é uma cidade de 45 mil habitantes, foi o primeiro grafite da cidade e aí tinha nas redes sociais todo mundo comentando e eu acabei me aproximando da Fernanda Botelho, diretora de cultura na época e fotógrafa, minha amiga maravilhosa e começamos a conversar, a gente se encontrou em um domingo na praça, sentamos num banquinho e olhamos uma para a cara da outra e falamos: “Não, vamos dar um jeito mas nós vamos fazer”, e aí a gente começou a correr atrás dessa parte mais administrativa, mais burocrática e aí conversei com Alexandre, e falei: “Alexandre, você vai fazer nem que for para fazer de graça”, parceria coitado, mas aí eu comecei a mandar umas referências da comunidade, do João Nervoso e eu na minha inocência pegava meu celular e batia uma foto, e grava um áudio ali e encontrava um ali, e começamos a pensar eu com a Fernanda, mas será? Vamos fazer um vídeo disso porque iam surgindo outras narrativas, outras histórias porque aí a gente sistematizou, a gente fez uma sistematização.
Então aquilo que se iniciou de referência para o Alexandre fazer o grafite do João Nervoso no barracão, serviu para a gente fazer o documentário do Fala Vila, e aí a gente fez um documentário, está lá no CRAS Betinha tem um canal no youtube depois vocês podem ir lá ver, e aí a gente fez um documentário, a gente encontrou eu e a Fernanda, Fernanda era muito amiga do Cordel, que é o diretor do documentário, videomaker, um artista com muita sensibilidade, e aí através da história do João Nervoso a gente contou a narrativa daquela comunidade, que era uma comunidade muito estigmatizada, né, como ali só tem gente que não presta, e aí isso foi mexendo de uma forma que as pessoas começaram a perceber, os próprios moradores começaram a perceber as suas próprias potencialidades, e a cidade começou a perceber que aquele território tinha muita coisa além daquilo que aparecia nos sites de notícia e nas páginas de plantão policial. E aí a gente começou a trabalhar dentro desse projeto que a Aline batizou, a ideia foi dela, que chama Fala Vila, que tinha como objetivo dar voz a esses moradores. Aí a arte é algo depois que você abre a porteira, a gente não consegue mais parar, e aí uma produção vai gerando novas demandas, que vão gerando novos projetos e assim foi até a pandemia, né, porque aí nesse primeiro momento a gente tinha trabalhado com a Associação de Moradores e tinha trabalhado com os adolescentes aí as educadoras das crianças quiseram também fazer algum trabalho com as crianças, e aí a gente fez um projeto de fotografia, que a gente intitulou carinhosamente de Salgadinhos em homenagem ao Sebastião Salgado [fotógrafo] e foi um processo tão simples, com um potencial, e um alcance tão maravilhoso, gerou uma exposição itinerante nessas fotos, as crianças saíram pelo bairro, eles tinham que fotografar aquilo que eles amavam naquele lugar. E aí saíram 300 fotos assim, maravilhosas, a hora que a gente olhava no preto e branco eu olhava para a Fernanda e falava: “Fernanda parece as fotos, lembra tanto Sebastião Salgado”, aí ela falou: “Nossa, Salgadinhos”, e aí ficou, e a gente foi ensinar essas crianças, trazer a referência artística é muito importante porque isso também é mediar, a gente também não pode ficar só no conhecimento cotidiano imediato, então a gente traz a referência artística, traz o instrumento artístico para que a gente possa mediar o pensamento e possa dar esse salto qualitativo, né, porque se não a gente produz coisas rasas, então a gente trouxe o Sebastião Salgado para dialogar com as crianças, a obra deles, e aí foi indo… Mas a gente não trabalhou com as mulheres, aí a gente tinha um ateliê de costura, vamos fazer uma coleção de roupas, e aí então vamos trabalhar com as mães, então as mães vão ser maquiadoras, então a gente criou um evento que chama Vila Invade a Cidade, onde a gente participou todos os grupos do CRAS, idosos, mulheres, crianças, adolescentes, o pessoal da comunidade, e não só como protagonistas do evento, foi um desfile de moda, teve a meninada escreveu um rap, mas também na produção desse evento, eu acho que é nesse momento que eu trago também a importância da articulação comunitária dentro do trabalho da Assistência Social.
Porque dentro da Assistência Social é previsto sim, o protagonismo dos seus usuários, o protagonismo de suas famílias, mas pouco se constrói de processos que possibilitem realmente que isso aconteça de uma maneira efetiva, então ela nesse período a gente começa a entender que a comunidade precisa participar desse processo de planejamento, de produção, e foi o que aconteceu. E bom, aí eu saio desse evento em 2016, porque uma das partes do evento era da entrada da bateria do Jarbas, que é o presidente da Associação de Moradores, ele é o mestre da bateria, e a gente está no teatro da cidade e aí a bateria desce pelas escadarias para subir no palco, aquela coisa louca, e eu olhei para aquilo e falei assim: “É o próximo projeto”, e foi. No ano seguinte em 2017, a gente fez o Fala Vila Carnaval, a Regina que era nossa professora no ateliê de costura e falei: “Regina vamos fazer figurinos, vamos construir um enredo, vamos ver se alguém pode escrever uma música”, e aí a gente de novembro até fevereiro que foi o carnaval a gente foca nessa produção, né, e aí o carnaval virou um projeto fixo até 2020, mas aí a gente foi contando a história da Vila Divinéia de várias maneiras, então teve esse primeiro evento, depois as crianças e os adolescentes escolheram as lideranças comunitárias que eles achavam importantes e a gente fez os documentários, não só das biografias mas também a gente traz alguns aspectos culturais e artísticos da própria comunidade, trabalha isso em documentário, faz foto, teatro… e aí a gente passa até a pandemia trabalhando esses processos. Nesse primeiro momento a Vila Divinéia, mas ao longo desse trabalho eu também conheço os líderes comunitários do Bom Jardim, e em 2019, eu começo um trabalho de articulação com o Bom Jardim, de resgate também de história com esse bairro, eles tem uma história muito bonita de luta pelo direito da moradia, e aí a gente conta a história do Ito, que é um líder comunitário que foi assinado, que era um militante, e aí através da história do Ito, a gente conta a história do bairro também e aí inicia esse trabalho também com o bairro do Bom Jardim, que é um outro bairro a qual o CRAS atende, mas aí veio a pandemia e a gente teve que ir fazendo alguns ajustes, mas eu acho que em linhas gerais é isso.
P/1 - E para você como é trabalhar com essas linguagens artísticas? Como foi gravar um documentário, trabalhar com grafite, música, costura, é um desafio?
R - Não, para mim é um desafio porque eu costumo dizer que eu não tenho habilidade artística nenhuma assim, eu falo que eu sou arteira, artistas são os meus colegas, eu sou arteira… eu sou… a arte para mim está no planos das ideias, eu não sei pegar uma lata de spray e fazer uma bolinha na parede, então foi um desafio, mas aí você também vai gerando uma necessidade de você também se apropriar das linguagens e da arte como um todo, né, e aí eu trago também esse… eu falo que é esse pensar e esse fazer criativo nos processos de formação dentro do CRAS, porque a gente também precisa se nutrir, aquilo que eu falei porque se não a gente faz algo que é raso, algo que fica dentro de uma superficialidade, mas eu sempre gostei e como eu falei eu sempre fui muito comunicativa, então nos documentários eu sempre fui a entrevistadora.
E por ter um vínculo muito estreito com a comunidade, eu estou lá desde 2009, então eu conheço muito a história de cada um, o que acabou acontecendo nesses processos de documentários, de ir puxando os ganchos dentro de um roteiro que já tinha sido construído coletivamente, só que também como a gente está com criança e com adolescente em outros trabalhos, a gente já foi dando espaço para essa construção para eles próprios, então construção do roteiro, fazer as próprias entrevistas, então eles tiveram aula de fotografia, de filmagem, de edição, e aí eu acabava ficando mais num papel de coordenação de todas essas pessoas, né, de fazer a articulação entre a equipe do CRAS, a comunidade, o pessoal que vinha que nem o Fernando, o Cordel que fazia essa parte de filmagem, o Jonas, a Fernanda era a fotógrafa, então eu fiquei durante esses anos eu fiquei mais com esse papel de articuladora, de gestora dessas pessoas, e aí agora eu acho que a minha arte é escrever. Em 2020 eu fui convidada para virar colunista do Jornal Debate que é o jornal impresso que a gente tem lá em Santa Cruz, um jornal em um veículo independente que já tem uma história aí, uma trajetória muito importante e eu sou convidada pelo Sérgio para compor o quadro de colunistas, e agora eu acho que estou fazendo arte de alguma forma.
P/1 - Até aproveito para perguntar, o que é ser escrevedora né? Que você comentou lá no começo [risos].
R - Aí, eu acho que ainda não me considero escrevedora porque não quero ter a obrigação de ser escritora, né, não quero ter esse compromisso, não quero ter esse rigor, nem técnico, nem teórico, e eu gosto de escrever sobre as coisas da vida, sobre as coisas que eu vejo, sobre aquilo que eu sinto, e aí me intitulei escrevedora porque eu faço muita análise de conjuntura, mas eu faço muita análise de conjuntura de uma maneira muito pelos meus afetos, pelas minhas narrativas, não que não tenha rigor, não é essa a questão mas eu acho que escrevedora eu me coloco num lugar mais descomprometido, não quero lançar um livro e nem nada disso, eu vou escrevendo, estou escrevendo…
P/1 - E aproveito para perguntar também sobre seu companheiro aí, tanto da psicologia, como de vida, como se conheceram, você comentou que tem filhos também se puder contar um pouquinho dessa história? [risos].
R - Ah, o Felipe… o Felipe é o amor da minha vida [risos]. A gente já está junto há 20 anos, né, a gente se conheceu na universidade e eu falo que lógico, a gente se conheceu, namorou, ficou noivo, depois foi morar junto, casou e depois vieram as meninas, a gente tem duas filhas, a Marina e a Alice, mas ele é meu parceiro não só da vida mas desse ideal de transformar o mundo sabe, de alguma forma e eu falo que poucas pessoas têm o privilégio que eu tive de construir uma família e de ter um companheiro que é o amor da sua vida, que você não queria que fosse de uma outra forma, com uma outra pessoa. E eu falo e brinco com ele que foi amor à primeira vista mesmo porque eu me lembro do dia em que eu vi ele na cantina lá na Unesp, ele tinha o cabelo comprido assim, e daquele dia em diante com todas as dificuldades, longe quando eu falo que é o amor da minha vida, longe de mim colocar isso como aquele amor romântico, nada disso, muita luta, muita dificuldade, não é fácil a gente viver o casamento, são momentos de vida que a gente vai alternando, cada um às vezes está num momento e aí a gente afirmando que a gente quer ficar junto, que a gente quer prosseguir, né, mas não é fácil, mas é um desafio que vale a pena. A Marina minha filha mais velha tem 8 anos, a Alice está com 4 anos e eu falo que, eu sempre quis ser mãe e isso sempre esteve nos meus planos e eu sempre quis ser mãe de duas meninas, e aí a vida me deu elas, duas completamente diferentes, uma brava, e uma numa paz, uma tranquilidade, mas eu falo que os filhos eles são muito o que a gente é na fase da vida, então a minha mais velha eu olho para ela e vejo todas as minhas inseguranças, as inseguranças do Felipe, da maternidade de primeira viagem mesmo, né, e Alice já não, Alice é mais aventureira, independente, mas é porque nesse momento que a Alice chega na nossa vida, a gente está mais experiente, nessa aventura que é a parentalidade. Mas minha família é um dos motivos, eu brinco e costumo dizer assim que quando eu fiquei grávida a primeira vez eu tinha muito medo, porque eu pensava assim: “Nossa o que que vai ser? Eu acho que vou perder todo esse meu compromisso que eu tenho com a minha profissão, com a minha carreira, com esse ideal de mudar as coisas e de fazer diferente”, então eu tinha muito medo, achava que eu ia me tornar uma pessoa egoísta aquela coisa de só olhar para o próprio umbigo e só olhar para aquele núcleo, mas foi completamente ao contrário, a maternidade me trouxe muito mais vontade de fazer as coisas diferentes, porque aí você faz e quer deixar o mundo melhor para as suas “crias”, e aí eu acho que eu fiquei bem mais chata em relação a isso [risos].
P/1 - E conta para a gente quais são seus planos daqui para frente, quais são seus planos, seus anseios, suas vontades, profissionais e pessoais? [risos].
R - Bom é, em 2020, né, eu acabei saindo da coordenação do CRAS, e acabei tendo e começando a ter outras oportunidades de trabalho, coisas que a coordenação não me permitia pela questão do tempo e também por achar que antes disso me faltava conteúdo e habilidade para me aventurar aí nessa nova vida profissional, que eu me inseri que são os processos de formação, me tornar professora, eu estou dentro desse processo nesse momento. E esses dias eu estava pensando assim: “Nossa, estou me tornando professora nesse processo”, aí eu me lembrei que eu tenho o curso de licenciatura em psicologia, então já tenho até diploma para ser professora, o que me faltava era bagagem, e iniciei esse trabalho, eu me associei ao NECA [Associação de Pesquisadores e Formadores da Área da Criança e do Adolescente], que é um grupo de formadores e pesquisadores de São Paulo, Alice Bittencourt me conheceu num processo de formação aqui em Santa Cruz, e em 2018 ela me levou para apresentar o trabalho do Fala Vila no encontro de trabalho social com famílias, e ali foi um divisor de águas, porque o meu trabalho que estava dentro de uma cidade 45 mil habitantes ele meio que se expandiu assim, e as pessoas começaram ali “CRAS Betinha”, “A menina do CRAS Betinha”, "Antinella lá do CRAS Betinha, faz um trabalho que é muito legal, que é diferente para a Assistência Social”. E aí de lá para cá eu comecei a me aventurar aí, o que tinha sido muito passional, intencional e sensitivo em 2016, agora eu estou tendo a oportunidade com mais calma, com mais serenidade, num outro momento da minha vida, a fazer um processo de teorização desse trabalho, pegar as bases da psicologia social, pegar o conhecimento científico e falar: “Ah então tá, o processo grupal é concepção de desenvolvimento humano”, então eu estou tendo a oportunidade agora, e meu projeto e meu plano é que eu possa levar isso adiante porque é um trabalho que dá certo, é um trabalho com potencial enorme de transformação e que tem tudo a ver com a Assistência Social. E aí nesse meio tempo o Alexandre, que é meu amigo do grafite, ele começou a namorar a Bia Raposo, que é uma mulher maravilhosa aqui de Bragança, é amiga de infância do meu marido, e a Bia é arte educadora, e a Bia vem para me ajudar a fazer esse processo de teorização, então esse é meu momento presente, essa parceria que eu estou com a Bia Raposo, fazendo essa teorização, e dando cursos e fazendo formações, fazendo encontros em Universidades, que é uma coisa que eu adoro fazer, é estar na universidade pública, eu acho que esse contato a universidade é de fundamental importância, e é esse o momento em que eu vivo. Bem focada nessa nova construção aí, para que eu possa passar adiante tudo aquilo que eu construí dentro do CRAS Betinha.
P/1 - E tem mais alguma coisa que você queira comentar, registrar conosco?
R - Como o que?
P/1 - Algo que a gente não perguntou?
R - Ah, não. Acho que em linhas gerais acho que é isso, chegamos no momento de hoje, acho que eu falei um pouco da questão da trajetória profissional, da minha família, do meu momento atual, eu acho em linha gerais eu acho que é isso gente.
P/1 - Maravilha! Lari, quer perguntar alguma coisa?
P/2 - Adorei a trajetória da Antinella, acho que ela explicou muito sintetizado assim, né, ela conseguiu juntar muitas coisas, muitos fatos e ficou bem legal.
P/1 - Então muito obrigada Antinella…
R - Eu que agradeço meninas.
P/1 - Terminamos aqui a entrevista, mas não poderia deixar de falar que com certeza sua fala, sua trajetória reverberam em mim pessoalmente, fico muito feliz.
R - Que bom, eu fico contente.
P/1 - Sim, você acaba de falar pra uma educadora, para uma arte educadora então tenha certeza de que a gente acolheu sua história com todo o amor [risos ao fundo de todas]
R - Que legal, olha só que demais! Inclusive né, depois esses documentários, todos esses processos, making off, tem tudo lá no canal do CRAS Betinha no Youtube, talvez vale a pena, porque às vezes eu falando é uma coisa, agora vocês olhando e vendo é diferente, né, depois eu posso até trazer algumas coisas para o acervo também, e eu costumo dizer assim, eu não sou de Santa Cruz né, e Santa Cruz é uma cidade pequena então ainda tem aquela coisa do aceitado pertencimento, e eu falo assim que foi buscando o pertencimento do outro, naquela comunidade em que eu me vi pertencida, então eu sou muito grata por tudo o que eu fiz e tudo o que eu construí junto com aquelas pessoas que se transformaram em meus amigos, o Lucas que foi quem me indicou também, a gente se conheceu através do Fala VIla , e eu estou muito grata, de estar no Museu da Pessoa e saber que minha história pode reverberar de alguma forma na vida alguém, entendeu? É uma honra, eu quem agradeço.
P/1 - Muito obrigada, e vida longa dona Antinella, aos seus colegas [aos projetos P/2 comenta ao fundo]. E nós marcamos então, eu te mando uma mensagem sobre nossa conversa, e seu acervo pessoal, e se até lá você tiver algo que queira acrescentar, estaremos abertas para te ouvir.
R - Está bom, então meninas, eu agradeço.
P/2 - Muito obrigada por se abrir e compartilhar sua história conosco.
P/1 - Valeu, bom feriado aí.
R - Tchau.
– FIM DA ENTREVISTA –
Recolher