[00:11:24]
P/1 – Inês, bom dia!
[00:11:26]
R – Bom dia.
[00:11:28]
P/1 – Por favor, você podia começar falando seu nome completo, data e local de nascimento?
[00:11:34]
R – Eu sou Inês Santa Cruz Tavares, nasci em Campina Grande, em 4 de abril de 1959.
[00:11:45]
P/1 – E como é o nome dos teus pais?
[00:11:48]
R – Meus pais é Nilo Tavares e Cleuza Santa Cruz Tavares.
[00:11:55]
P/1 – E você sabe qual a origem da família?
[00:11:57]
R – Sim, minha mãe era do... nasceu numa cidade com um nome curioso, Cochichola, é uma cidadezinha no Cariri paraibano. Então, é um lugar que ela tinha muita raiva porque as pessoas quando quer dizer assim “ah, lá onde Judas perdeu a bota”, aí dizia, lá em Cochichola, entendeu? Tanto é que na cidade colocaram: “Cochichola existe e é aqui”. Eu fui lá visitar uma vez, sabe. Então ela nasceu lá e meu pai nasceu em Maceió, mas a família, a maior parte, é de Recife. Tanto é que ele dizia que era de Recife. Então, mas entre família Tavares, entre Alagoas e Pernambuco, né. Mas minha vó morava em Recife, a família dele toda sempre morava em Recife. Então, aí depois minha mãe veio para Campina Grande, se conheceram e tal, e tem 4 filhos, né. Eu sou a mais nova de 4 irmãos, que nós temos os nomes dos nossos avós, é Bráulio e Clotilde, que é a mais velha, e Bráulio, que é o nome dos meus avós paternos, e Pedro e Inês, dos avós maternos. Aí eu nasci em Campina Grande, fui gerada, eu sei que dia eu fui gerada, por conta da minha irmã mais véia, eu fui gerada com meus pais assim se reconciliando de uma fase de briga, bêbados, comemorando a Copa do Mundo de 58. Se fizer as contas do dia do jogo final pra o dia que eu nasci dá exatos 9 meses, entendeu? Então, minha irmã conta que eles tavam meio brigados, aí depois começou a coisa da Copa, e não sei o quê, aí depois foram pro quarto, sabe-se lá em que condições etílicas e me fizeram (risos). Entendeu? Então eu sou fruto da Copa de 58 (risos). Aí é isso... nasci lá em Campina...
[00:14:07]
P/1 – E o que teus pais faziam?
[00:14:09]
R – Meu pai era jornalista, era poeta. Meu pai, ele não tinha formação escolar, meu pai tinha o primeiro ano primário e era um super intelectual, era um homem duma cultura, e ele foi, a família toda, a mãe dele, o pai escrevia sonetos, então era assim, poeta, jornalista... E minha mãe veio de uma coisa mesmo de fazenda, de agricultura, aquela coisa. E era incrível, era uma família enorme, um monte de irmãs, irmãos. E ela, tipo assim, era que ajudava meu avô na fazenda, tanto é... ela era tão, minha mãe era uma mulher tão forte, ela era tão danada que ela pegava os bichos pelo rabo, derrubava o boi, pra você ver, o pai chamava ela de “Seu Crazy” (risos), ela era tipo mais danada que... Aí ela veio pra cidade, é muito incrível porque uma mulher que foi criada em fazenda, aquela coisa tudo, mamãe tinha, era uma pessoa muito diferente, ela tinha uma cabeça completamente aberta, sabe, sem preconceito, era uma pessoa muito diferente, muito diferente mesmo, sabe. Pra sorte minha, né?! Não tive pais com muito juízo, né. Ainda bem, porque se não... (risos) Eu ia tá batendo o juízo, aí não ia dar certo (risos). Então, a minha casa era uma casa de muita boemia, muita bebida, eles bebiam, era violão, aquela coisa... Então era muita farra, as festas duravam dias, a festa da minha irmã de 15 anos dizem que durou 3 dias, entendeu? Então, era assim... era muita, muita, tinha um bar lá que meu pai bebia lá em Campina Grande, aí chega um dia que um amigo dele, ele não foi no bar, as pessoas estranharam meu pai não tá no bar naquele dia, aí alguma coisa tocou o telefone, o amigo dele atendeu, aí voltou com uma cara bem triste, sabe, pra mesa e fez: “Nilo faleceu”. Aí foi aquela comoção, disse: “vamos lá dar aquela força à Cleuza”. Aí saíram, dava até pra ir andando, saiu aquela multidão lá pra casa, era mentira... Era papai chamando pra eles beberem, chegando lá foi uma farra (risos). Então, nesse ambiente eu tenho uma pessoa que também é muito importante, que era aquela tia solteira que morava com minha mãe, aliás, ela tinha o canto dela, mas era muito próxima né? E eu fiquei muito tempo com ela, eu e meu irmão Bráulio era os queridinhos dela, sabe, então a gente ficava muito tempo na casa dela. Era uma mulher interessante, porque ela trabalhava com portabilidade, então nessa época uma mulher trabalhando, solteira, ‘tarará’, era bem interessante, ela era protestante, mas não era aquelas coisas carola não, né. Ah, e minha tia dizia assim: “não, é um bilhete pra você”. Assim, tipo assim, pensava “não, é muita bebida”, não sei o que. Aí me levava muito pra casa dela, então eu ficava muito no apartamento dela, meu irmão também ficava muito por lá, e aí teve uma coisa que ela era muito, botava muito mal costume em mim, porque eu era claramente, eu e meu irmão Bráulio, os queridinhos dela, então vinha aquela família de tias que foi abandonada pelo marido, vinha com as primas, então nessa eu sofria muito bullying, entendeu, das meninas, das primas. Claro, as primas super pobres, vieram pra lá, ela acolhia muito, aí elas acabavam comigo né, porque eu chupava chupeta (risos), elas diziam pra todo mundo, fazia xixi na cama e elas diziam, entendeu. Aí teve uma época que começou a aparecer roupa de bebê lá, aí todo mundo dizia, então, depois eu descobri que era uma prima de Recife que tinha ficado grávida, mãe solteira, naquela época era um tabu assim, era aquela coisa, e você ouvia os cochichos, e as coisas aparecendo, roupinha, e minhas primas chegavam, uma maldade comigo, chegavam e diziam: “tá vendo, tia Disa vai ter um bebezinho, não vai ligar mais pra você, vai chegar um menininho, você vai ser abandonada”. Menina, eu sofria muito (risos) das primas. Aí eu fiquei muito na infância, aí ficava um pouco na casa da minha tia, ia pra casa da minha mãe, não, na verdade eu morava com minha mãe, mas ficava dias lá. Aí minha tia morava em frente, era muito louca a casa da minha tia, porque era junto numa penitenciária, era um negócio muito forte, que eu ficava o dia a dia vendo, era bem pertinho assim, atravessava a rua, e tinha uma escola né, lá perto, aí minha tia, muito assim, inventou de me colocar na primeira escola, pra eu ser alfabetizada, me ensinava as coisas em casa, e aí assim inadvertidamente, comprou tudo antes, roupa da escola, lancheira, comprou tudo, certo? Eu já cheguei no primeiro dia de escola toda assim, né. Aí sentei lá, aí com as meninas, e ela me ensinava coisas em casa, aí olhei pras meninas e fiz: “eu já sei o analfabeto todinho!” Aí elas começavam a rir. Eu dizia: “eu sei sim o analfabeto inteiro, minha tia me ensinou!” Aí elas riam de mim, eu voltei chorando pra casa, nunca mais fui pra escola, perdeu todo o investimento (risos). Aí lá na casa da minha mãe era uma infância, assim, que a gente brincava muito na rua, né, tinha muito uma coisa de brincadeira de rua, meus irmãos era negócio de jogar bola, sabe, aí quando voltava tinha umas brincadeiras na rua, os maiores, e eu ficava lá, tinha umas amigas, três amigas, que moravam numa casa, e eu era sempre a bobona, sabe, eu sempre fui a boba, claro, super protegida pela minha tia, ia subir num canto: “cuidado, você vai cair.” Aí sempre fui bobona, sabe, sempre fui ruim de bola, sempre, todo mundo me pegava nas brincadeiras de correr, eu sempre fui, nunca soube subir em árvore, muro, eu era bestona, sempre fui assim... Aí tinham as amigas lá que a gente brincava, e minha família não era uma família, eu já cheguei numa fase melhor, mas foi uma família que passou por muitos perrengues, de grana, de tudo. Meus irmãos mais velhos que passaram mais, então era assim era uma família que não tinha grana, não era pobre, mas era assim, era uma batalha né. Mas sempre teve aquela coisa de educação e alimentação, então nunca faltou uma mesa farta de comida, nem nunca faltou educação boa, sempre estudei nos melhores colégios lá, sabe. Então, era uma coisa, por exemplo, essas minhas vizinhas, era aquelas meninas que a mãe era costureira e fazia pra casar, para botar na vitrine né. Então aquelas meninas andavam, sabe, no Natal era um vestido pra véspera de Natal, um vestido pro dia, então era aquela coisa... E a gente não tinha grana, entendeu? E nem eu ganhava presente de Natal. Até hoje eu não ando de bicicleta porque acho que foi trauma, que eu todo ano queria ganhar bicicleta e nunca tinha grana, entendeu, então, eu nunca... Aí mamãe pegava no Natal, ela vestia minha roupa melhor, sabe, pegava, tinha um negócio de engomar, botava numa água de goma, as meinhas de crochê, sabe, arrumava tudo, e ela olhava pra mim bem no meu olho e dizia: “Você tá linda, seu vestido tá lindo, sua roupa tá linda. Isso não importa, não é o mais importante, entendeu”. Ali começou, digamos assim, meu treinamento de autoestima, entendeu. Porque mamãe sempre foi uma coisa muito assim... E eu saía ali, as meninas tudo com roupa nova, e eu com a roupa do outro ano, entendeu, toda arrumadinha, toda limpinha, toda bonitinha e mamãe dizia: “Não, isso não é o mais importante, você tá ótima, você tá linda”, sabe. E levantava assim. E eu saía erguida mesmo, de que não era importante, de que não era o mais importante ter aquele vestido, sabe? Aí minha tia uma vez, tem até uma das fotos que talvez eu mande, eu recebendo um presente de Papai Noel, aí a minha tia comprou, e foi caro! Foi a glória pra mim, imagina, não ganhava presente, não tinha grana. Aí eu ganhei uma boneca Suzy com quarto, que antigamente antes da Barbie era Suzy, aí guarda-roupa, então foi assim, a glória, né. Mas aí eu tive muita sorte, porque eu tive uma família muito aberta, as pessoas, mamãe era muito aberta, mamãe não tinha muita hipocrisia, essas coisas, nem dava valor a casamento, a essas coisas, mamãe tava se lixando pro que o povo falasse, entendeu? Então, eu assim muito jovem ainda, adolescente, saía muito com meus irmãos. Eu já era muito ligada na área cultural, tinha o museu de arte lá que todo mundo ia, meus irmãos, a gente vivia lá, e aí eu fazia teatro, sabe, eu tipo assim com 14, 15 anos eu fui pra Fazenda Nova, onde tem a Paixão de Cristo, teve um grande festival, tipo assim, Woodstock, era Gal, Gil, Jorge Mautner, Toquinho, era aquela coisa, a madrugada toda. Imagina, não é toda mãe que deixava ir num ônibus com um bando de gente pra passar, entendeu, então eu ia, fui pra Ouro Preto, fiz temporada em Belo Horizonte, não tinha nem 18 anos, com o grupo de teatro e tal. Então foi muito, assim eu tive muita liberdade, eu ia pra boteco com meus irmãos, aí as meninas da escola tudo me olhava atravessado, porque era tudo santa, sabe. Eu era amiga dos meninos, saía com os meninos, ia pra bar com os meninos, as meninas era tudo hipócrita, fumando escondido no banheiro, entendeu. Aquelas coisas... Aí passou, elas me olhavam meio assim, aí recentemente eu tenho uma amiga dessas que tá na Suíça, é médica, e aí ela disse, entrou em contato comigo por algum motivo aí, ela falando da escola, eu disse: “pois é, vocês eram tudo, me olhavam tudo atravessado”. Ela falou assim: “Inês, é porque a gente morria de inveja de você, porque você era a musa dos meninos, você saía com eles, seus pais deixavam você ir pros cantos, e a gente não podia fazer nada, era inveja”. E eu disse “menos mal né?” (risos). Mas é isso, foi uma adolescência muito rica, ia pra festival de teatro, uma vez a gente pegou um trem que foi pra Fortaleza, para um festival de teatro, sem apresentar nem se hospedar, a gente ficou na porta do teatro, a turma toda lá, e de noite ia abrir, o governador, o pessoal “vocês têm que sair”. E a gente “não, porque a gente mora em Campina Grande, a gente quer fazer cursos, a gente quer aprender, a gente quer ter essa vivência com os outros grupos”. Aí chegou jornalista, eu me lembro que aquele Otton Bastos, era um dos convidados, Walmor Chagas, mandaram lanche pra gente, a gente fez um auê na porta do teatro, quando deu 7 horas da noite botaram a gente num hotel, um hotel tomado dos grupos né? Aí foi mais de uma semana, tava o pessoal do Asdrú, prefeito, era uma loucura, gente de todo canto, aquela Clau de Assis, que hoje é cineasta, ele era do grupo, eu conheço ele da época que ele fazia teatro com o grupo de Caruaru, de Vital Santos. Então era essa turma. Então era muito bom, minha adolescência foi muito rica de vivência, de curtição... Aí depois começou as doideiras, as loucuras, anos 70 e tal. Quer perguntar alguma coisa ou vou seguindo?
[00:27:00]
P/1 – Não, eu acho que eu queria voltar um pouquinho, na cidade de Campina Grande, na tua infância, que lugares você frequentava, que você gostava de fazer lá...
[00:27:13]
R – Campina Grande nessa época que eu morei lá... hoje tá terrível, hoje é um antro bolsonarista de direita, entendeu. Mas nessa época era uma cidade muito rica culturalmente, existia anualmente um festival de teatro, que vinham grupos de todo o Brasil, entendeu, Márcio de Souza, por exemplo, Jorge Fernando, eu conheci Jorge Fernando com tipo 19 anos, sei lá quanto, bem novinho, fazendo uns monólogos que ele fazia no festival de Campina, Márcio de Souza, era muito rico, tinha um movimento cineclubista muito grande, tinha esse museu de arte, que tinha muitos eventos. Então eu era muito envolvido nas coisas culturais. O Gil mesmo, teve um episódio que o Gil na época do Refazenda, aí ele foi fazer um show, vinha de Natal, vinha fazer um show em Campina, aí o caminhão quebrou, o caminhão do som, alguma coisa, aí teve que ser adiado pro outro dia ou pra dois dias depois o show em Campina, aí eles andavam, não era avião não, era um ônibus bem grandão, GG Produções, era caminhão e ônibus, era todo mundo naquele ônibus e tal. A gente vivia no teatro, e chegamos lá e conhecemos o Gil, pessoal do Gil, ele foi lá anunciar que o show ia ser no outro dia, tal. Aí fizemos amizade, tem um bar lá que chama Refavela, um bar que a gente frequentava muito. Aí a gente: “Gil, a gente quer levar pra conhecer”. Bom, resultado: passamos a noite inteira bebendo e tocando com Gil nesse bar. Quatro horas da manhã, quatro pra cinco, amanhecendo o dia, veio esse casal amigo eu e Gil, deixa ele no hotel. A gente veio deixar ele no hotel, e eu cantando uma música dele que ele não lembrava, ele não conseguia lembrar, eu ensinando a música a ele, uma coisa muito engraçada... E essa amiga que eu falei, que é médica que tá na Suíça, ela foi da equipe do doutor Roberto Kalil, ela tem uma filha cantora, aí assim, antes da pandemia ela me ligou de tarde e disse: “Inês, eu tô aqui com Gil, aqui no Sírio... mas tá tudo bem, ele tá só fazendo check up, o Kalil me chamou pra ele conhecer minha filha e tal. Aí tô lembrando de Campina aqui com eles, aí ele disse: “Liga pra Inês pra saber qual era a música que ela...” (risos). Aí eu falei, cantei, e disse: “Diga a Gil que não se preocupe não que era o estado etílico de todos, entendeu, o meu tava aceso, que eu lembrei...” Aí é assim, é muita coisa em Campina, ia muita gente... Era bar, a gente bebia, a gente bebia viu...
[00:30:04]
P/1 – Qual era a música?
[00:30:07]
R – Era, eu acho que era ‘O Barão do Café’: “ exército de lata mil, tomou dos inimigos as altas prateleiras, os balcões”. Era essa a música, acho que era ‘Barões do Café’. Então Campina era muito... A gente vivia muito nos botecos, bebia... Tinha um boteco lá, Caldinho de Peixe, aí o dono abriu um cabaré, um puteiro, lá num bairro lá, aí nós fomos convidados, éramos os convidados VIP pra abertura, aí foi eu, Bráulio, foi tudo pra abertura lá do... Então era muito legal, sabe, muito bacana, música. A gente saía, ia pra Recife ver show, ia pra Recife ver shows, aí saiu um disco, aí a gente saía pra comprar: “eita, saiu os Doces Bárbaros”, a gente corria pra escutar as músicas, era tudo antenado com as músicas. E bar, e bebia viu, a gente bebia... A única coisa que eu fiz na vida foi fumar baseado, nunca usei nada fora isso, e nunca gostei muito de baseado, meu negócio era a bebida, nessa época a gente bebia muito, era farra, era bom demais. A gente saía, chegava três horas da manhã, e minha mãe... Não, chegava de manhã. E minha mãe dizia: “Tome a chave, porque você só chega de manhã”, não, “me dê a chave, você não precisa andar com a chave, você só chega de manhã, aí a gente tá tomando café”. Tá bom então, entreguei a chave. Aí no outro dia cheguei três da manhã, aí acordei ela, no outro dia ela me deu a chave de novo (risos). Eu chegava meio bêbada, aí tinha uns mosaicos no chão, aí eu mirava a reta pra não dar bandeira, aí mirava a reta e passava pro quarto. Mas no outro dia era a ressaca, tinha gastrite, não adiantava não. Aí já, depois que eu fui pra Recife, aí é uma nova fase, em 78.
[00:32:24]
P/1 – E da escola, da tua primeira escolha, professor. Como era a primeira escola, se você lembra de algum professor que te marcou mais. Você tem alguma história com algum professor?
[00:32:38]
R – É assim, a minha primeira escola foi aquela de criancinha, maternal, a escola que tinha um balé, eu ia pro balé e tal. Eu lembro assim, mais ou menos dessa época. Mas assim, o restante eu estudei em dois colégios, basicamente em dois colégios em Campina, depois que fui alfabetizada. Eu sempre era aquela aluninha bem boa, aluna boa, só tirava nota boa, porque era assim, a família da gente não tinha grana, meu pai era muito vaidoso, mas a gente era muito conhecido na cidade, porque tinha fama, não tô dizendo que é verossímil, mas tinha fama de inteligente, “os filhos de Nilo Tavares, os filhos de Nilo Tavares”. Então era bem na escola. Eu lembro muito das coisas que me marcavam eram os professores de matemática, que eu era muito boa em matemática, então sempre tinha, eu gostava. E ia fazer engenharia civil. No ano do vestibular eu mudei. Os professores não se conformavam: “Como é que uma pessoa tão boa...”. Então assim foi uma época muito boa, principalmente na fase final, segundo ano pro terceiro ano do colegial, que já era em outra escola, que a gente tinha muita amizade, inventava clube na escola... Tem uma coisa que eu tenho um certo, uma tristeza de ter isso acontecido. Eu estudava numa escola, nos anos 70, e lá era época de Médici, e tinha um quartel do exército e a gente sabia que tinha muita tortura lá, sabe. Tinha uns vizinhos da minha mãe, que chegaram pra morar lá, um grupo, uma república de estudantes, só que era uma célula de alguma organização, e eles chegavam lá e nessa época não tinha muito telefone não, então eles usavam o telefone lá de casa, que era no meu nome que minha tia me deu (risos). Aí chegou um dia lá que a polícia levou tudo, e tinha uma amiga da manicure que morava na rua, começou a namorar com um deles, era uma coisa horrível, ela foi levada pra lá, tinha um Major Câmara, que era um cara torturador horrível na época de Médici, lá em Campina, ele torturava ela com uma corda entre as pernas... Coisas horríveis. E aí uma vez teve um evento neste quartel, e eu como era das boas alunas, escolheram alguns pra ir representar os colégios, e eu fui. Aquilo foi muito difícil, eu sabia as coisas que aconteciam, mais ou menos. E ao mesmo tempo eu tinha medo de dizer que não ia. E eu fui, e eu fui nesse negócio... Isso assim foi uma coisa que me marcou, porque eu sabia que ali tinha gente sendo torturada, tinha gente presa, povo lá com a bandeira, cantando o hino... Isso é uma coisa que eu me lembro... Não tem muita coisa de colégio assim não. É isso mesmo, normal.
[00:36:06]
P/1 – E quando foi, quando você começou a sair sozinha, namorar, primeiro namorado...
[00:36:13]
R – Eu sempre fui bem namoradeira. Aí quando eu era adolescente, bem jovem mesmo, eu ia pra Serra Branca, que é um lugar que tem no Cariri paraibano, tinha uma tia que morava lá. Eu ia pras festas das quermesses, das festas que tinha em dezembro, então eu era assim um sucesso, toda, chegava da cidade, tinha um negócio de prender lá nas quermesses, pros meninos pagar pra soltar. E lá eu tive um primeiro namorado. O primeiro namorado de dar um beijo, de pegar na mão, de dar um beijo e tal. Aí teve esse primeiro namorado. Aí depois, nesses anos que eu falo de Campina Grande, de 16, eu acho que transei pela primeira vez com 17 anos. Mas assim antes era aquela coisa, a gente namorava, e fazia tudo, só não fazia transar mesmo, chegar as vias de fato. Aí uma vez em Natal, eu ia muito pra Natal, que minha irmã fazia medicina lá... Pode contar tudo né? Tem frescura não, né? (risos). Aí a gente ia pra Natal, eu fui vindo pra Natal, ia muito pra Natal, descobrir as coisas, de música, minha irmã tinha muitos amigos, então, primeira vez que fumei baseado foi nessa época lá. Aí apareceu um rapaz que era amigo da minha irmã, mas era tão lindo, mas um cara bem mais velho que eu, e eu não transava né? Aí cortei... No outro dia, ai que raiva, que raiva né? Aí falei pra minha irmã: “Me leve pro hospital lá, pra faculdade, e mande passar um bisturi nessa merda aqui” (risos). Aí nessa época então eu fui pra Ouro Preto, com um grupo, e tinha um cabra... Aí eu disse, vou resolver esse negócio, vou me preparar pra resolver isso, não é possível né, esse atraso de vida aqui né. Uma hipocrisia né, se agarrava, fazia tudo... Não, vai ser agora... Me preparei, tomei pílula, vai ser agora. Na viagem pra Ouro Preto. E tinha um cara do grupo que era a fim de mim, eu digo “não, mas não tô a fim não, não vai ser não.” Aí chegou em Ouro Preto, aí na peça a gente pegava as pessoas que chegavam primeiro no teatro, pra ser figurantes, que era a peça feira. No dia que a gente chegou já foi pro teatro, aí bem bonito, aquela coisa bonita, cabeludo, bem fora do padrão como eu gosto, colorido, um artista plástico, Manuel... Estudava lá. Aí ele disse, entrou lá, aí a gente já ficou amigo, já rolou um clima. Ele: “Ah, vamos tomar um vinho quente.” Acabei que fui com ele, me dispersei do pessoal, tal, e fui com ele. Aí ele disse: “onde é que você tá?”. E eu: “não sei”. E o cachê... a gente chegou foi direto pro negócio e depois... Aí resultado: passando a noite andando por Ouro Preto, aquele frio, sentava nas portas das igrejas, sabe, aí se agarrava, e passeava... E dizia: “vamos esperar a padaria abrir pra tomar um café.” Aí quando eu fui pra padaria encontrei uma amiga do grupo também, aí eu já fiquei com ela, já fui com ela pra ela... Aí ele disse: “amanhã eu vou de novo”. Eram dois dias de peça. “Amanhã eu vou de novo, aí vou arranjar um canto pra gente ir, pra você ir lá na república que eu moro”. Tá certo, eita é agora, de agora não escapa... (risos). Aí ele foi de novo, a gente saiu, e pronto, aí foi pra república. Diga como era o nome da república? “Saudades da mamãe” (risos). Aí eu combinei com minha amiga, que no outro dia a gente ia embora, eu disse: “você pega a minha mala, pega tudo, e eu lhe encontro lá na porta”. Marquei tudo, combinei tudo, que hoje é o dia D. Aí pronto, e foi né. Aí depois eu subi aquelas ladeiras toda feliz, aquelas ladeiras de Ouro Preto, de manhã, dizendo “me libertei” (risos). E nunca mais vi, nunca mais procurei, porque eu queria que fosse mesmo uma coisa assim com uma figura assim muito linda, uma coisa muito bonita, e foi, e não precisava encontrar de novo, foi uma coisa que era aquele momento... Aí pronto, a partir daí já viu né? Anos 70, Recife, 78, Olinda, aí era só alegria né (risos).
[00:41:20]
P/1 – Como era a relação com teu corpo, você já conseguia perceber as transformações? Essa coisa você já pensava na prevenção, antes da primeira vez você já foi tomar anticoncepcional né...
[00:41:35]
R – É, já pensava né. Eu já cheguei a fazer aborto, mas mais pra frente. Mas já pensava, eu era assim, eu já tinha esse cuidado, mas eu nunca fui aquela coisa de beleza, sempre fui meio barrigudinha, não tenho bunda, baixinha, mas sempre lidei bem, nunca tive problema com o corpo não, sabe. A gente também era tudo meio alternativão, não tinha essa coisa de vaidade, a gente ia pras lojas de tecido comprar restos de tecido manchado que ficava naqueles bolos, aí a gente pegava camiseta, fazia com aqueles tecidos estampado de chita, arrumava os vestidos bordava de lantejoulas, a gente fazia roupa, eu tinha um vestido preto que era com um sol enorme de lantejoulas douradas. Então assim, não tinha muita essa valorização do corpo, a gente era uma turma meio alternativa, não se importava muito com isso não.
[00:42:51]
P/1 – E como foi essa questão do aborto, como foi a decisão de fazer e como foi o processo?
[00:43:01]
R – Foi, eu fiz mais de um, foram situações diferentes. Mas foi assim, eu não tive problema não, eu tinha medo do procedimento, mas assim, quando eu fui morar em Recife, aí eu fui com a pessoa pro Rio, o companheiro que eu tava na época foi pro Rio e fiz no Rio. Eu nunca fiz, eu sempre fiz na coisa mais segura possível, na coisa mais segura. Eu acho que o aborto não pode ser irresponsável, de virar um contraceptivo. Tem que ter responsabilidade, mas às vezes acontece, acontece, acontece ou por algum lapso de responsabilidade mesmo, ou por um azar da vida, acontece, eu acho que você tem direito, eu que tenho que decidir, não tenho problema não, claro que não é nada agradável, não é agradável você passar por isso, mas eu fiz com tranquilidade, não tenho sentimento de culpa, de nada não, é isso, o corpo é meu e eu faço como quiser.
[00:44:22]
P/1 – Você fez num hospital, você tomou alguma coisa, como foi?
[00:44:30]
R – Fiz com aqueles métodos que chamavam de sucção, e um médico lá no Rio, numa clínica que era bem famosa lá em Botafogo, depois o cara acho que foi preso, mas era uma clínica toda chique, mas fazia, né. Nunca fui em hospital não, eu ia nesses médicos que tinha essas coisas. E tem em todo canto, Recife tem, São Paulo tem, Rio tem, Salvador tem, deve ter. Certo?
[00:45:15]
P/1 – Continuando, você depois fez ensino médio aonde?
[00:45:19]
R – Fiz em Campina, aí resolvi, minha irmã ia pra Recife fazer mestrado, ela mora em Natal. Aí eu fiquei querendo fazer vestibular em Recife. Aí ela disse “a gente pode morar, eu vou gastar mesmo, não custa nada”. Aí foi uma amiga dela de Recife, Gleide, que é fotógrafa, ainda mora em Olinda, Gleide Selma, que era de Natal, foi pra lá. E a gente ficou morando lá. Eu fiz vestibular lá em Recife, passei. A gente foi morar na várzea que era perto da faculdade, foi uma época ótima. Foi 78 que eu entrei, 78. Eu morava lá, quando eu entrei era época da Anistia, e logo que eu entrei na faculdade, no primeiro dia de aula a faculdade entrou em greve, que tinha sido preso o Kajá, que era um aluno lá da escola, que era do PCdoB, ligado a pastoral, ele tinha sido preso, quando eu entrei, o primeiro dia, eu doida pra ter aula na faculdade, aí fizeram uma reunião com os calouros, e eu lembro muito disso. Eles explicaram que o colega tava preso, e perguntaram “Quem é a favor da greve passe pra cá”. Eu fui uma das primeiras que levantei e passei, orgulhosamente (risos), então foi uma época muito boa em Recife. Foi uma época das doideiras todas, porque era 78, 79, Olinda fervia, fervilhava. Então a gente passava a semana, fui estagiar num lugar, trabalhava e estudava, aí no final de semana a gente ia pra Olinda, virava a noite em Olinda, era muito boa essa época de faculdade. Eu nunca gostei de militância, essa coisa assim de ficar discutindo “questão de ordem”, não sei o que, eu nunca tinha muita paciência, mas eu participava muito ativamente, sempre tava lá nos diretórios, organizando, fazendo a produção dos eventos, organizava as coisas culturais, mas assim de ficar militando, e aquelas discussões que não acabam... eu nunca tive muito isso não, nunca tive muita paciência. Mas era assim, eu namorava quando eu fui pra Recife com um professor da Universidade de Campina, que era presidente do Comitê Brasileiro de Anistia, sessão de lá, então eu fui muito envolvido com o movimento da anistia, tava muito próximo, tinha os presos lá em Itamaracá, ele ia final de semana pra visitar os presos. Então era a época da reconstrução da UNE, eu ia pra rua fazer pedágio lá em Recife para o pessoal que ia viajar, então a gente era engajado. Eu lembro em Recife uma coisa que é muito emocionante, foi muito emocionante. Eu morava num lugar que era meio rota dos aviões, aeroporto lá na várzea, eles passavam em cima da casa da gente, aí foi quando chegou o avião com os anistiados, com Arraes, Betinho... Minha amiga que morava com a gente, Gleide, era fotógrafo do Diário de Pernambuco, e ela foi cobrir, eu sabia que tal hora ia chegar o avião com o pessoal. Chega me arrepia... Aí a gente em casa, aí essa mulher, na hora que aquele avião passou em cima, cara, você não tem ideia da emoção, a gente sabendo que ali em cima tava vindo... Foi muito lindo, foi muito emocionante. Era época do diretório que tinha ali perto da Conde da Boa Vista, faz tempo que saí de Recife, não lembro muito das coisas. Tinha o DCE, tinha muito evento, Dom Helder Câmara eu via direto, ele ia pros atos públicos, aí teve uma época que teve campanha de Jarbas Vasconcelos, aí Ulisses Guimarães foi, aí a gente foi tudo pro diretório, aí saiu a passeata pela Conde da Boa Vista, a gente com as faixas, os negócios da campanha, Dom Helder na frente, Ulisses já. Aí a gente na Conde da Boa Vista, quando viu assim, fez assim uma fila de carro da polícia, viraram assim... Eu fui a primeira a correr, eu corria, aí me lembrei que eu tava com as faixas, era só tirando e correndo, um medo. Foi bem complicado mesmo, mas aí era a época. A gente ia pra Olinda, menina, era uma loucura. A gente tinha o Bar Atlântico lá, era o que a gente ia mais, na beira-mar, a gente chegava e era a noite toda, de madrugada chegava a polícia, isso era o comum nessa época, chegava e botava todo mundo na parede, dava geral, isso era comum. Em Campina Grande também aconteceu isso comigo em bar, a gente ficava com radiola de ficha, 15 A e 15 B, era Pitomba, Pitombeira e Homem da Meia Noite. Era aquela farra, a gente esperava amanhecer o dia, dava um mergulho, que era junto do mar, e ia pra casa, geralmente cada semana com um rapaz diferente (risos). E a gente curtiu muito, e eu fiquei um ano e meio em Recife. Chegou uma hora que eu já tava cansada, de tanta farra, tanta coisa. Eu disse: “Quero voltar pra casa da minha mãe” (risos). Aí voltei, isso foi... Fiz um ano e meio em Recife, 78 e metade de 79, aí eu voltei, cheguei lá e minha mãe disse: “Você já tá acostumada, vamos transferir o curso, vamos arranjar um apartamento pra você ficar, vamos ver e tal”. Aí quando foi em setembro chegou um amigo meu aqui de Salvador, que era amigo do meu irmão, foi ver meu irmão Bráulio. Um amigo que tava com um grupo de teatro foi até Recife, aí esse amigo, Zélito, amigo de Bráulio, disse “ah vamos lá ver o pessoal”. “Eu vou também conhecer, que eu não conheço Campina”. Aí chega ele com Gerald, o amigo dele, aí chega lá em casa, com aquela calça jeans imunda, aquele cabelão, aquela coisa bem do jeito que eu gosto (risos). Aí chegou lá, almoçava, na casa da minha mãe, eu morava com minha mãe. Tudo lá, mamãe adorava receber gente, já botei grupos de Minas Gerais, aquele Antonio Grassi que conheci nessa época, que foi até do Ministério, ele hoje é negócio de Inhotim. Era toda uma galera lá em casa, mamãe adorava, era uma loucura lá em casa, a gente botava grupo de teatro, músico, era uma festa, ela fazendo comida pra todo mundo. Aí nessa, aí chegou lá em casa Gerald, a gente começou a sair, mostrar a cidade, todo mundo novo, aí começou a rolar um clima, tipo era um sábado, ele ia embora na quarta-feira ou quinta, aí começou a rolar um clima, aquela coisa, aí sai e vai, que Campina Grande é muito legal, aí começou um clima, não namoro. Aí ele disse “tô gostando tanto de Campina, tô gostando tanto de você, acho que vou pra Salvador buscar minhas coisas. Vamos morar juntos?” Aí eu disse “bora!.Mas eu vou dizer a minha mãe...” Chamei minha mãe: “a gente tem uma coisa pra lhe falar, a gente vai morar junto, Gerald vai pra Salvador buscar as coisas dele, a gente vai morar junto.” Ela olhou pra mim e fez: “você tá doida é? Você faz três dias que conheceu ele”. Eu disse “é bom, que demora de abusar, vai ter muita novidade” (risos). Ele foi e voltou e ficamos lá um ano e pouco, depois eu fui embora pra Salvador. Ficamos 5 anos juntos, temos uma filha, entendeu. E foi ótimo, nunca teve briga, era só que era um casamento aberto por sugestão dele, era muito importante, pra mim não era, eu não gosto de casamento aberto, mas era, aí já que era, aí também assim eu posso não querer, mas se a regra do jogo é essa, eu vou jogar a regra do jogo. Aí chegou uma época que eu me apaixonei por outra pessoa e pronto, mas nunca teve nada demais, foi um casamento ótimo.
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P/1 – Aí você foi pra Salvador e ficou morando lá...
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R – Eu fiquei um pouco em Campina Grande com o Gerald, que foi muito legal, a gente frequentava um bar, que a gente fazia muitos shows lá, organizava, o bar chamava “O Buracão”, o nome do bar. E sabe como o dono do bar me chamava? Inesinha do Buracão, pra tu ver o quanto a gente frequentava lá. Às vezes ficava tarde e a gente dormia no sofá que tinha lá, eu e Gerald, pra não ir pra casa. Eu sei que eu levei Elza pra lá, todo mundo que tava a gente levava pra lá, fazia show, conheci Eduardo Coutinho e Edgar Moura, conheci lá, no bar, quando eles tavam indo procurar Elizabeth pra fazer O Cabra Marcado pra Morrer. Era um bar que todo mundo passava, fazia coletiva de música, então eu sempre fui muito ligada na coisa cultural mesmo. Aí depois de um tempo a gente resolveu ir pra Salvador. Os pais de Gerald iam embora pro Canadá, a princípio Gerald iria com eles, que foi uma cosia que eu sempre fui cobrada, Gerald era o ovelha negra da família, fora do padrão da família, que era aquele engenheiro da Petrobrás, que foi pra Canadá, pra construir um plataforma de petróleo, aquelas coisas. E Gerald desistiu de ir quando me conheceu, e Gerald morava numa república, aí é que é a doideira, porque eu tinha o apartamento, vivia toda organizada lá em Recife, depois pra minha mãe, aí vou pra Salvador e vou morar nesse lugar, que era com Ramon e Bel, estudantes de medicina, hoje são médicos e professores, e tinha Brandão, que era jornalista e poeta, era a população fixa, eu e Gerald. Só que tinha uma população flutuante gigantesca, que ia pra lá. Aí chega lá eu vou morar com essas pessoas, chegando, Gerald me levou pra lá, o negócio totalmente só o amor muito que faz né, se você ver a casa, a casa era no Engenho Velho Federação, era um lugar bem barra pesada, ho
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