P1 – Bom, Sidney, bom dia. Eu gostaria de começar nosso depoimento pedindo que você me dê o seu nome completo, o local e a data de nascimento, por favor.
R – Sidney Quintino da Silva. 7 de agosto de 1961. Local de nascimento Campo Grande, Zona Oeste. Hospital já _________ [risos].
P1 – [risos] Conta um pouquinho da origem da sua família. Você sabe o nome dos pais completo e de onde eles vieram?
R – A minha família é toda do Estado de Minas Gerais. Cidade de Cataguases. Manuel Custódio da Silva e Maria Aparecida Pereira da Silva.
P1 – Irmãos quantos são?
R – Somos 11 irmãos. Contando com a minha pessoa. Somos 11. Nomes?
P1 – Pode ser.
R – É, Ricardo Quintino da Silva, Alexandre Quintino da Silva, Alex Quintino da Silva, Maria do Carmo Pereira da Silva, Neuza Maria da Silva, Ângela Maria da Silva, José Quintino da Silva. Acho que falta mais alguns. Alex eu falei. Não está dando para ________ [risos].
P1 – [risos] Tudo bem. E vocês foram criados assim, conta um pouquinho só da sua infância lá em Campo Grande. Como é que era a vida? Qual era a profissão do seu pai? Onde que ele trabalhava?
R – Meu pai era funcionário da antiga Fundação Oswaldo Cruz, hoje em dia Fiocruz. E a gente vivia só com o trabalho dele, que apesar... os anos foram se passando, e nós fomos tendo mais irmãos e a dificuldade foi aumentando bastante. E alguns irmãos que já tinham idade de trabalho começaram a fazer alguma coisa: trabalhar em uma oficina, carregar um material para alguém. Tinha uma ajuda antigamente nessa época da igreja. Tinha uma ajuda, dava leite, óleo e a gente participava dessas coisas. Tinha uma vizinha muito boa que servia o pão no café da manhã para a gente. Até um pão duro que a gente comia. Fazia torrada. O que eu comi muito também na nossa infância é fubá suado. Farinha com café.
P1 – Como é que é?
R – Fubá suado.
P1 – Fubá?
R –...
Continuar leituraP1 – Bom, Sidney, bom dia. Eu gostaria de começar nosso depoimento pedindo que você me dê o seu nome completo, o local e a data de nascimento, por favor.
R – Sidney Quintino da Silva. 7 de agosto de 1961. Local de nascimento Campo Grande, Zona Oeste. Hospital já _________ [risos].
P1 – [risos] Conta um pouquinho da origem da sua família. Você sabe o nome dos pais completo e de onde eles vieram?
R – A minha família é toda do Estado de Minas Gerais. Cidade de Cataguases. Manuel Custódio da Silva e Maria Aparecida Pereira da Silva.
P1 – Irmãos quantos são?
R – Somos 11 irmãos. Contando com a minha pessoa. Somos 11. Nomes?
P1 – Pode ser.
R – É, Ricardo Quintino da Silva, Alexandre Quintino da Silva, Alex Quintino da Silva, Maria do Carmo Pereira da Silva, Neuza Maria da Silva, Ângela Maria da Silva, José Quintino da Silva. Acho que falta mais alguns. Alex eu falei. Não está dando para ________ [risos].
P1 – [risos] Tudo bem. E vocês foram criados assim, conta um pouquinho só da sua infância lá em Campo Grande. Como é que era a vida? Qual era a profissão do seu pai? Onde que ele trabalhava?
R – Meu pai era funcionário da antiga Fundação Oswaldo Cruz, hoje em dia Fiocruz. E a gente vivia só com o trabalho dele, que apesar... os anos foram se passando, e nós fomos tendo mais irmãos e a dificuldade foi aumentando bastante. E alguns irmãos que já tinham idade de trabalho começaram a fazer alguma coisa: trabalhar em uma oficina, carregar um material para alguém. Tinha uma ajuda antigamente nessa época da igreja. Tinha uma ajuda, dava leite, óleo e a gente participava dessas coisas. Tinha uma vizinha muito boa que servia o pão no café da manhã para a gente. Até um pão duro que a gente comia. Fazia torrada. O que eu comi muito também na nossa infância é fubá suado. Farinha com café.
P1 – Como é que é?
R – Fubá suado.
P1 – Fubá?
R – Suado.
P1 – Suado?
R – É, café com, botava farinha no café. Botava açúcar. Eu já passei dificuldade. Mas no decorrer dos anos, hoje em dia está bem melhor do que antes. Antigamente era bem pior. O modo de, o meio de vida era muito bom. Porque não tinha violência não tinha nada. Agora, sobre a alimentação, hoje em dia eu acho que está bem melhor do que antigamente. Porque antigamente era difícil você comer uma carne uma semana direto. Comia mais final de semana. Era ___________ nossa era ruim. Agora não. Quase todo dia tem um frango, tem um peixe para se comer. Tem um pedaço de carne seca. E naquela época não, totalmente difícil, difícil de ________
P1 – E seus pais, assim, por serem mineiros, tinha alguma tradição mineira em casa? Tinha alguma coisa típica de Minas Gerais que eles...
R – Sempre teve. Sempre teve.
P1 – O quê, por exemplo?
R – Por exemplo, assim, na culinária, no caso a gente praticamente... a comida de Minas, o modo de fazer as coisas. Aquele café mais ralinho, aquele café forte, entendeu? Sempre tem um anguzinho para a gente comer com uma couve. Isso é o modo que a gente está até hoje. Eu adotei esse...
P1 – Ah, é?
R – Eu não gosto de churrasco, de carne assada. Minhas comidas todas são: ensopadinho, uma galinha de quintal com quiabo.
P1 – Ah, é?
R – Galinha caipira com um quiabinho, entendeu?
P1 – Aham, aham.
R – Um jilózinho com picadinho, com chuchu; tipo coisa assim. Isso é a comida da minha mãe. Ela faz uma cocadinha, um cuscuz.
P1 – Sua mãe é viva?
R – Minha mãe é viva. Só perdi meu pai. Faz 2 anos.
P1 – E sua mãe mora em Campo Grande ainda?
R – É. Mora em Campo Grande. É que agora nós temos, naquela época a gente vivia de aluguel. Minha mãe hoje em dia tem a casa própria. Meus irmãos todos eles têm casa própria, os 11. Ninguém paga aluguel mais, graças a Deus. Dos 11 ninguém paga aluguel mais.
P1 – Ah, é? Hum, hum. Que bom, né?
R – E consegui a minha casa que eu moro hoje em dia devido a essas obras do Favela-Bairro, que o segundo secretário de Habitação Sérgio Magalhães... minha casa está _______. Era uma casa de risco, área de risco no caso, aí ele conseguiu...consegui vender ela. No caso foi demolido e do dinheiro eu comprei uma para eu morar. E estou satisfeito aonde é que eu estou. Só fiquei... que eu saí daqui do Morro, entendeu? Não moro mais aqui no Morro dos Prazeres.
P – Mas mora pertinho, né? [risos]
R – Mas moro aqui perto [risos]. Eu não saio daqui. Meu trabalho, meus amigos, meu irmão, todos moram aqui também.
P – Tá, a gente já vai chegar lá. Agora me fala assim: você sabe qual era a profissão do seu pai lá na Fiocruz?
R – Era bombeiro hidráulico. Ele trabalhava dentro da lavanderia, por exemplo. É bombeiro hidráulico.
P – Hum, hum.
R – A profissão dele lá dentro.
P – E você? Qual foi seu primeiro emprego, Sidney?
R – O primeiro emprego foi na oficina. Foi antes desse negócio de 9 anos, 10 anos. Com uns 15 anos eu comecei a trabalhar na obra, aquela, no Rio Comprido. Em uma firma construtora, a (Bulhões de Carvalho?). Comecei a trabalhar com 15 anos de idade nessa firma. Nessa firma eu trabalhei durante 10 anos direto. Daí dessa firma ainda eu passei a ser metalúrgico. Trabalhei quatro anos. Sabe a Vicente de Carvalho. Terra da (Stander Esso?), onde que era a (Stander?) que agora acabou em um shopping lá em Vicente de Carvalho? Trabalhava ali na firma. E dali para cá eu virei pintor de, eu virei vigia de prédio. Vigia, ascensorista.
P – Hum, hum.
R – Aí o meu trabalho está mudando constantemente. Eu estou fazendo um serviço hoje, agora eu estou, hoje em dia eu estou trabalhando de mecânico. Estou bem...
P – Faz de tudo um pouquinho, né?
R – Já arreio motor, sei um defeito. Trocar um calço, entendeu? Então de tudo eu estou fazendo um pouco. Porque não tem muita, a gente não tem segurança de trabalho, aquelas... Não tem. está difícil. Não é só para mim não, é para muita gente. Se a gente não souber fazer, pular para um lado, pular para o outro, fazer esse trabalho ali, a gente passa necessidade de...é difícil. Tanto que para mim, qualquer tipo de serviço - eu só não roubo, agora para trabalhar, qualquer serviço eu faço. Eu estando precisando, eu tenho conhecimento do trabalho eu faço.
P – Hum, hum. Você é casado? Tem filhos?
R – Não, eu sou amigado. Eu tenho um filho, ele vai fazer 11 anos, o Igor.
P – Como é o nome dele?
R – Igor Pedro. Nasceu no dia 12 de outubro.
P – Hum, hum. Tá. Agora conta então um pouco como é que você veio morar aqui no Morro dos Prazeres? Quando foi? E por que é que foi?
R – Olha, eu trabalhava com o meu irmão nessa firma de pintura. Então ele pretendia fazer uma casa, porque ele morava junto com o meu tio e ele ia constituir uma família. Então tinha um vizinho que tinha um terreninho lá atrás da casa dele e passou para o meu irmão. Vendemos __________ o meu irmão conseguiu comprar esse terreno. Aí a gente trabalhando junto ele: “Vamos embora para lá, para você me ajudar lá? Você fica lá em casa.” Eu morava no Campo Grande então eu trabalhava aqui no Leblon, por aqui, Zona Sul. Então, eu ficando aqui na casa dele eu descansava mais, porque lá eu tinha que sair 4 horas da manhã para vir para cá. Aí quando eu vim para cá, ajudar ele aqui, eu descansava. Chegava do serviço a gente carregava, cavava __________. Aí foi fazendo a casinha dele. De uma casinha virou um casarão.
P – Aqui na comunidade?
R – É, que ele levou 10 anos para fazer essa casa. E devido a isso que eu fui ficando, fui acostumando aí, comecei a morar com ele durante um período mais ou menos o quê? De uns sete anos.
P – Que irmão era, qu
al o nome desse irmão?
R – Esse é o José Quintino da Silva.
P – Esse é o José.
R – José Quintino da Silva. É o segundo. Dos mais velhos, o segundo. E ele até hoje mora na comunidade. E é devido a isso que eu consegui conhecer a minha esposa hoje.
P – Como é o nome dela?
R – Rosângela. Rosângela Lacerda. Aí vivemos 4 anos só eu e ela. Aí daí já gerou um filhinho. Apareceu um molequinho... que ela tem 3 filhas.
P – De um outro casamento?
R – É, de outro casamento.
P – Hum, hum.
R – Aí eu ajudei a criar essas meninas. Hoje elas estão todas casadas. Já foram embora também.
P – Ah, é?
R – Só está eu, ela e meu filho, entendeu?
P – Hum, hum.
R – Elas vão lá em casa, às vezes, só para visitar. E inclusive tem uma que está saindo hoje para ir para o hospital ter neném.
P – Ah.
R – Ela ficou aqui em casa com a gente aqui. Porque o marido dela trabalha. E lá tem pouco conhecimento. Aí ontem eu fui para o hospital com ela...
P – Vai ser avô já!
R – Ontem eu fui...
P – Aos 41 anos [risos]. Já vai ser avô.
R – Ontem eu fui no hospital com ela mas não….
P – Não está na hora ainda.
R - ...não teve dilatamento ainda. Deixa chegar até dez, mas tinha só dois centímetros e ele mandou voltar. Agora hoje ela não está aguentando, aí foi com a vizinha e minha esposa para lá a Praça __________________
P - ________________. Agora Sidney me conta quais são as suas lembranças de quando você...que ano foi esse quando você veio para cá? Você lembra? Quando você veio pra ajudar o seu irmão? Você tinha quantos anos? Vamos fazer uma conta aí.
R – Mais ou menos 20, 19 anos por aí.
P – 1961? 1971? 1981?
R – 19 para 18 anos porque nessa época eu estava fazendo passagem no quartel. Negócio de quartel ,aquele negócio. É.
P – Quer dizer, em 1979, 1980 mais ou menos?
R – Por aí.
P – Quais são suas lembranças desse período? Como era a comunidade, como eram as casas? Os vizinhos? Como é que era?
R – Olha, essa comunidade teve um, uma transformação muito grande. Isso aqui era muito carente. Aqui não tinha luz. Era uma cabine de...teve muita briga entre os próprios moradores porque não tinha.... Era uma cabine de luz, que dizia. Então tinha algumas pessoas que controlavam essa luz aqui da comunidade. Aí depois de um tempão que veio. Foi com o Governo Brizola, no primeiro mandato dele. Aí que ele começou a pôr luz para a população, no reloginho. Foi na época do Brizola. Eu me lembro disso. Aí começou a cada um ter suas, suas luzes independentes. E antigamente era muita gambiarra. O pessoal puxava e tinha um relógio só para mais de 1300 pessoas. Um pegando do outro. Aí nesse período do Brizola que deu essa revolução aí. Que entrou com esses postes de madeira botando relógio para população. Para mim na época ele que trouxe a iluminação para o Morro aí. Na época da gestão do Brizola. Aí...
P – Mas nessa época, por exemplo, na casa do teu irmão tinha luz dentro da casa?
R – Tinha desse jeito, né? Era tipo uma gambiarra. A luz saía...
P – Mas fraquinha? Era fraquinha?
R – Era mínima. Eu lembro que naquela época também não existia muito aparelho eletrodoméstico igual hoje em dia. Antigamente, “mais era” uma televisão muito mal. E dois bicos de luz, assim. Era um troço um pouco precário. Mas aquilo funcionava, entendeu? Hoje em dia já tem essa aí, como é o nome dessa luz que botaram aí, esse relógio que eles estão pondo? Eu esqueço o nome. Esse relógio de iluminação? Baixa Renda.
P – Ah, tá.
R – Esse Baixa Renda, essa iluminação aí que todo mundo tem seu relógio dentro da sua casa, todo mundo é independente na parte elétrica, de eletricidade. Hoje em dia na comunidade.
P – Mas tem gente... você sabe por quê é que o seu irmão veio para cá? Esse é um morro aqui que tem muitas pessoas de Minas Gerais. Você acha que tem a ver com o fato da sua família ser de origem mineira?
R – Tem. Olha, eu vou dizer para a senhora: acontece que eles moravam sabe aonde? O meu falecido tio, ele morava em São João de Meriti. E São João de Meriti eu creio que é por causa um pouco da facilidade de trabalho. Mais próximo de local de trabalho. Aí que vem trazendo pessoas igual eles vieram de lá. veio caminhando para cá. Mais para cá. esse meu tio trabalhava como bombeiro também, hidráulico, o meu falecido tio. Devido a ele que a gente veio para cá. Por ele. Ele ia lá para ____________________. Aí ele trabalhava aqui na Lagoa, na casa da Madame Klabin? nos azulejos. Aqui na Lagoa. E ele era o funcionário dela. Ele trabalhou muitos anos lá. trabalhou 10 anos na casa daquela moça, só viu ela duas vezes [risos].
P – [risos].
R – É, a mulher, Madame Klabin, a senhora já ouviu falar? Dos azulejos?
P – Dos azulejos. Famosa.
R – Klabin. Então aí, devido a isso que aí meu irmão veio. Com esse caso eu vim aí fomos ficando. E a facilidade porque, sabe, a gente morava em Campo Grande. De Campo Grande aqui até chegar o Leblon é quase duas horas. Duas horas. Quer dizer, aqui mais próximo. Quer dizer, as coisas, tudo mais para facilidade de transporte. Porque antigamente aqui o transporte era precário: já cansei de subir essa avenida que a gente sobe lá a pé. Na época do bonde, aquele CTC [Companhia de Transportes Coletivos do Rio de Janeiro], os ônibus quebravam, o bonde parava no meio. Não tinha condição de subir e a gente vinha andando até aqui.
P – Hum, hum. Que lugar do Morro vocês moravam?
R – Aqui perto das quadras. Aqui perto da Associação. Não morava lá para cima não. Meu irmão também mora aqui próximo também. Aqui próximo à Associação. E eu tive aqui uma família, duas. Já tive cinco famílias morando nesse morro aqui. Meus tios, João, Onofre, Zé, e Luiz. São quatro. Quatro tios moravam aqui nesse Morro.
P – É? Tios por parte de pai ou de mãe?
R – Tio por parte de...não, tio irmão do meu pai.
P – Do teu pai?
R – É, irmão do meu pai.
P – Hum.
R – Aí meu tio antigamente, aqui nesse Casarão...aí tinha um campinho aqui e ele dava aula de judô.
P – Ah, então conta. Conta, espera aí um minutinho [pausa].
P – Por favor, Sidney, então conta. O seu tio, qual era o nome? Ele dava aula de boxe? É isso?
R – É, meu tio na época era o boxeador daqui do Morro dos Prazeres. Aqui, inclusive era até perto do Casarão, a dona Paula...que ele dava as aulas dele para as molecadas na época. É conhecido até hoje aí. Porque hoje em dia já está todo mundo com uma certa idade, mas até hoje eles não esqueceram não. É José Custódio.
P – José Custódio?
R – José Custódio da Silva.
P – Ele dava aula de boxe aqui fora? Aqui perto do Casarão?
R – É, perto do Casarão. Tinha um campinho aqui, existia um campinho aqui.
P – Aonde, Sidney, que tinha um campinho?
R – Aqui abaixo, na parte lateral da entrada do Casarão, era onde tem um jardim aqui, então era naquele local ali.
P – Hum.
R - Eu praticava aqui com os meninos aí.
P – É? E jovens vinham e ele dava aula de boxe?
R – Vinham, vinham. Dava aula para a molecada aí.
P – Ah, é? Você lembra? Você chegou a fazer isso?
R – Eu não peguei isso não. Essa época eu não morava aqui na comunidade ainda não.
P – Aham, aham.
R – Então hoje em dia esses da idade que conta para mim o que é que ele fazia aqui, que ele dava aula, que ele era boxeador. Depois passou a ser um goleiro também, um goleiro da comunidade, de um time aí que ele agarrava muita bola também.
P – Ah, é?
R – Aí tem história aqui. Meu tio tem história.
P – Ele é vivo ainda?
R – Esse é.
P – É vivo.
R – É o caçula. José Custódio da Silva.
P – Mas mora ainda aqui?
R – Não, esse mora em Nova Iguaçu. Saiu daqui, há anos que ele mudou daqui.
P – Agora Sidney, me conta, quais são suas memórias do Casarão quando você veio para cá? O que é que você lembra quando você veio ainda jovem, solteiro para cá?
R – Isso aqui era abandonado. Isso aqui estava tudo em ruína. Não tinha nada. Não funcionava nada aqui. nunca morou ninguém nesse período aqui. De um tempo para cá morou sim, minto, morou o falecido Vantuil. Que tinha uma...a esposa dele até tinha uma deficiência. Ele morava aqui na parte de cima aqui, olha. Ficou muito tempo ela abandonada aí. Ela passou muita necessidade aqui nesse Casarão aqui, foi bastante ano que ela ficou morando aqui. Era tudo ruína mesmo, não tinha nada. É o Vantuil mesmo. Ele tinha essa mulher. Depois que ele faleceu, ela passou até necessidade. O povo da comunidade que estava ajudando ela aqui. Trazia as coisas para ela aqui, para ajudar ela...
P – Mas eles eram pessoas que tomavam conta da casa? O que é que você acha?
R – Um dos primeiros, depois que foi abandonado, para mim eu acredito que foi um dos primeiros moradores aqui foram eles mesmo, no caso. Aí quer dizer, isso aqui nunca foi deles. Eles tomaram, ocuparam. Ficou e zelou. No ponto que eles tinham condições de zelar. Ele era um funcionário. Ele tinha um emprego legal. Mas era aquela pessoa que ele não vai mexer no negócio. Ele cuidava só da parte dele [pausa].
P – Então Sidney, você estava contando desse senhor Vantuil, né?
R – Isso.
P – Então olha só, como é que era, como é que era o Casarão? Que cor era você lembra?
R – Ah, não tinha cor não.
P – Não tinha? [risos]
R – Não tinha nem uma cor. Não tinha, só via...
P – Era madeira por fora?
R – Era madeira.
P – Como é que era? Você lembra?
R – O Casarão - do jeito que está aqui, que vocês estão vendo agora no momento - eu acredito que praticamente foi restaurado. Foi recuperado que....não mudaram nada. Não teve modificação nenhuma, teve só para melhor. Como se fosse antes. Porque não tiraram as janelas do lado e botaram outra. Ficou tudo do jeito que era antes.
P – Hum, hum.
R – Não teve modificação nenhuma. Só tem que eu, como trabalhei desde o começo da... só não trabalhei na laje, que foi feita por dentro aqui.
P – Espera aí. Então começa a contar desde o começo: como é que você veio trabalhar aqui? Você circulava pela comunidade, soube que tinha obra? Como é que foi?
R – Já estava havendo a obra aqui. A obra já estava acontecendo aqui. Mas só que tem, eu como pintor eu estava trabalhando em outro local e não tinha tempo de ficar visitando a obra aqui. Quando eu cheguei aqui para olhar, já estava tudo... já estava a laje pronta. Por dentro já estava tudo reforçado. Aí entrou um pessoal de Minas, os mineiros lá de, ____ do lugar. Eu sei que é de Minas essa firma. Para trabalhar com as madeiras, recuperar as madeiras.
P – Ah.
R – Aí eles fizeram uma recuperação aí. Porque não teve modificação de nada. Eles puseram o que era antes. Uma restauração.
P – Mas como assim? Explica assim, quer dizer, por exemplo, uma janela. A gente está aqui no segundo andar do Casarão.
R – Hum.
P – Essa janela aqui estava toda destruída, é isso?
R – Estava toda destruída.
P – Mas então você sabe como é que eles conseguiram recuperar esses desenhos e...como é que foi isso?
R – Aquilo foi com uma foto antiga, uma foto antiga aí daí como eles são...eles trabalham muito bem, fizeram o máximo...
P – Sei.
R - ...para tentar recuperar aquilo ali do jeito da forma antiga. E se teve alguma modificação foi só a seguinte... não dá nem para notar. Por causa, através dos anos alguma coisa para poder até segurar mais, porque... entendeu? Mas o que eu vi, o que eu sei da minha época, eu não vi modificação nenhuma não. Igual muitas pessoas também que moram na comunidade e o pessoal gostou muito do serviço aqui no Casarão.
P – Aí você veio, disse que era pintor? Como é que foi a história?
R – Eu vim para trabalhar na pintura, aí começamos a fazer essa pintura por dentro. Aí de dentro passou para fora, para o telhado. Hoje em dia tem uma falha de pintura aqui que eu falei na época até com o engenheiro que até hoje não foi consertada que é lá na parte de cima do telhado.
P - Ah.
R – Vocês vindo lá de baixo da rua, você olha por causa que tem uma deficiência na pintura. Aquilo ali foi avisado na época para o engenheiro. Mas ele estava em crise, ele entrou em crise aí ele parou, acabou. Ele nem quis saber daquilo lá. Porque é o mínimo. Mas no momento agora eu estou gostando de ver o Casarão porque a própria comunidade... eu creio que não está bagunçando aqui não. Está bem conservadinho aí, entendeu? E o pessoal, o pessoal acha que no morro só mora bicho, só mora isso e aquilo. Mora gente boa no morro. Mora muito trabalhador.
P – [risos]
R – O pessoal gosta de zelar. Tem muita gente que gosta de zelar pelas coisas.
P – Hum, hum.
R - E portanto eu trabalhei aqui no Casarão, é muito difícil eu entrar aqui. Eu, por quê? Para eu entrar aqui, eu tenho que ter algum motivo. Alguma coisa para eu fazer aqui. Eu vou ficar passeando no Casarão atrapalhando o serviço dos outros? Lá tem gente, hoje em dia tem gente trabalhando aqui. Quer dizer, tem criança, tem adulto. Tem projeto. Tem vários projetos aqui dentro. Então eu venho aqui só no caso da necessidade. No que eu depender da parte do Casarão, do Centro Cultural, né? Aí eu vou procurar. Se não, eu vou olhar só de longe, entendeu?
P – E esse teto aí, você estava contando, como é que é a história? Vocês fizeram... é madeira, é laje como é que é?
R – Isso é madeira. Isso é madeira.
P – Hum.
R – Tem uma laje e tem madeira. Isso aí é revestido de madeira.
P – Você pintou esse pedaço também?
R – Pintei. Aqui eu trabalhei quase na pintura de tudo aqui. Verniz, parte de verniz. A parte das portas, das janelas, o pessoal de Minas que fez.
P – Quer dizer, é como se fosse uma firma especializada nisso, né?
R – Isso. Isso. A parte aí, agora essa parte das pinturas de , isso aqui era da cor dali do, da cor da madeira. Foi pintado de branco. Essa parte aqui. Lá em baixo continuou o verniz. É na parte do verniz.
P – Tinha esse vão aqui ou vocês que fizeram?
R – Aqui?
P – Você lembra?
R – Olha, vou dizer, esse vão aqui acho que não existia. Isso aqui é uma modificação que acho que isso aqui não existia não. Igual eu falei, quando eu cheguei já estava pronto aqui. Eu nem entrava aqui no Casarão. ____________ a gente não frequentava isso aqui. Isso aqui era uma ruína. ______ estava feio o negócio. Estava feio. ______ na parte de fora. Para brincar, rodar por aí. Era fechado. __________________ o falecido Vantuil ______ aqui. A gente ia bagunçar que ele era amigo da gente, entendeu? A gente não tinha acesso ao Casarão. Se o Casarão tivesse, na época em que ele estava em ruína fosse um ambiente aberto, isso aqui estava no chão já há muito tempo _______________ escada caindo. Essa escada aqui do que tem aqui também da cozinha, aqui da parte da cozinha, aquilo ali estava um horror.
P – Era caracol?
R – Era, da mesma forma, mesma forma. Foi recuperado também aí. Foi recuperado...
P – Essa escada do primeiro para o segundo andar é linda também. Ela já tinha? Também estava...
R – Já estava tudo ruim já aqui. Não tem mudança não. Essa parte aí já estava.
P – Hum. E o que é que se comentava na época da obra aqui? As pessoas acreditavam que ia ficar...
R – Ninguém acreditava que ia ficar o que é... o que está hoje. Ninguém, ninguém. Pessoas que ninguém, tem gente que ainda nem veio aqui ainda. Tem gente que vem, quando olha aquilo ali: “Pô, mas não estou acreditando: isso aqui na comunidade?”. Mas as coisas mudam. As coisas mudam: uma criança da comunidade, ao invés de jogar uma pedra aqui, ela joga lá no mato, entendeu? Então acho que o vandalismo está mais em outra localidade do que aqui no Morro. Porque hoje em dia a pessoa tem mais ocupação. A criança sai da escola, tem curso aí, uma brincadeira que está sendo promovida ali na comunidade, entendeu?
P – Mas nesse período de obra, o que é que se conversava? Se sabia o que é que ia ser feito do Casarão?
R – Isso aqui ninguém tinha ideia do que é que seria feito, o que é que a programação, o que é que ia acontecer aqui. Se ia ser uma moradia, um escritório, a casa do governador...Ia botar uma pessoa ______ assim. Aí através da obra, com um certo tempo foi passado que isso aqui ia ser um centro cultural. Aí nós não sabíamos quem ia comandar: se ia ser a comunidade ou ia ser a prefeitura. Isso aí eu não sei até hoje, porque eu nunca ____ perguntar e saber. Não perguntei até hoje. A gente não sabia quem que...Até hoje eu não sei se é a prefeitura...
P – É a prefeitura que gerencia, vamos supor assim...
R – Que gerencia.
P – Quer dizer, a prefeitura que organiza esses cursos para a comunidade.No fundo é um trabalho conjunto, mas quem gerencia, administra, é a Secretaria de Educação do Governo da Cidade do Rio, né?
R – Sei.
P – Quantos vocês eram nessa obra, hein? Você consegue...era muita gente trabalhando?
R - Ah, eu tenho uma base de mais ou menos, geral, geral... Ah, deu para mais de 2000. Quase umas 2000 pessoas, geral.
P – Jura?
R – Porque aqui era o morro inteiro, entendeu? Tem a parte lá de baixo do Escondidinho. Também tudo foi obra para fazer aquelas creches de lá, juntando com aqui.
P – Hum, hum.
R – Aquela quadra aqui.
P – Mas, só aqui no Casarão?
R – Não, só aqui no Casarão? Calculo mais ou menos o quê? Umas 70, 80 pessoas. Era muita gente. Era igual um formigueiro de gente trabalhando.
P – E se usou muita mão de obra da comunidade?
R – Usou. Bastante. A maior parte era da comunidade. Só a turma daqui, a parte menor que estava aqui foi a parte de Minas. Que só a parte da marcenaria. Que veio tudo de Minas. Teve pouco daqui que trabalhou na marcenaria. Uns dois ou três parece trabalhou na marcenaria. O resto era todo de Minas. Agora, na parte alvenaria, na parte de pintura, de escadaria, tudo era pessoal... a maior parte da comunidade. Só não trabalhava da comunidade quem não queria trabalhar na obra aqui. Aqui, quem tivesse vontade de trabalhar poderia trabalhar; vaga tinha aí.
P – E como é que era o pique assim de trabalho? Era um trabalho duro, puxado ou..?
R – Não, era normal.
P – Normal.
R – Não tinha muito sacrifício não assim. Sacrifício é essa: todo serviço em morro é sacrificante porque é escadaria. Mas é um serviço normal, igual as 6, 8 horas de trabalho normal, entendeu?
P – Durante a obra, você lembra se aconteceu alguma coisa? Algum evento engraçado? Tinha alguma coisa, assim, nesse período que você trabalhou aqui? Você lembra?
R – Ah, assim engraçado que as pessoas achava graça? Deixa eu ver se eu me lembro. Tinha uma pessoa que faleceu, que trabalhava com a gente aqui, que a gente trabalhava, mexia com ele o dia inteiro. Era o falecido Lobão, o servente. A gente chamava ele de Uga, Uga. Aí quando estava todo mundo aqui e ele estava lá em baixo, Uga, Uga. Uga, Uga. E pegou aquele negócio. Até hoje o pessoal chama de Uga, Uga. Tem uma tendinha de nome Uga devido a esse rapaz, falecido também.
P – Ah, é?
R - Trabalhava na obra aqui com a gente.
P – Aham, aham.
R – Inclusive, eu que levei ele para o hospital no dia que ele faleceu. Que eu já não estava morando aqui, aí eu cheguei e ele estava passando mal. Eu fui lá, ele estava sentindo muita dor. Coloquei ele em uma Kombi aí. Uma Kombi que tem aí de transporte alternativo que serve a comunidade aqui. Aí levei ele para o Hospital Souza Aguiar chegou lá ele morreu. Morreu novo, aos 32 anos.
P – Novo, né? Tem muito aqui, tem muito essa coisa, essa solidariedade, não tem aqui na comunidade?
R – Tem, é muito difícil a pessoa ficar sozinha.
P – Aqui?
R – É.
P – Hum.
R – Mas às vezes até é a Justiça que estraga mais do que, a pessoa. Eu aqui, sem estar morando mais na comunidade, eu já trouxe duas pessoas falecidas de cima para baixo. Porque estava muito tempo morta dentro de casa e eles não vinham pegar. Aí eu juntei com os amigos, eles juntaram, junta assim e pega e bota no lençol. E bota aí perto da casinha para eles levarem logo, porque não pode. O falecido Wallace que trabalha na portaria do prédio aí, que ficou dentro de casa um tempão.
P – Falecido quem? Aires?
R – Não. Wallace.
P – Aras?
R – Seu Wallace, o nome dele. Wallace.
P – Alace. Ahn.
R – Wallace. Ele ficou morto um tempo e uma pessoa não pode pegar, né? Você tem que esperar o bombeiro. Os bombeiros não vinham, peguei os meus amigos, nos juntamos, fomos lá e pegamos. Botamos em um lençol e arrastamos com ele para cá. Botamos aqui fora. Porque acredito que principalmente o Corpo de Bombeiro trabalha muito bem aqui. Mas nessa parte de falecimento existe uma demora. Esse negócio que eles dizem que não quer subir na comunidade, eu não sei por causa de quê.
P – Esse senhor Wallace trabalhava aqui no Raposão?
R – Trabalhava aqui no Raposão.
P – Como porteiro?
R – Como porteiro, garagista...É garagista. E a gente vê uma pessoa que trabalhou tantos anos aqui, conhecido de tanta gente ficar abandonado dentro de casa assim...
P – Triste, né?
R - ...sem ninguém chegar lá. Pô, saí eu, um amigo que mora aqui e fomos lá, arrombamos a porta dele. Enquanto a família estava providenciando as coisas, né? Porque não podia ficar ali. Tinha que sair de lá. Porque já estava já com mau cheiro. Aí a gente tirou ele e pôs para baixo. Dois já acontecera, comigo. Machucado, pega uma cadeira, bota a cadeira em cima de uma cadeira e desce a escada com a pessoa. Já tem muita gente que faz isso aqui quando uma pessoa passa mal. Porque é muito difícil. Para uma Kombi aqui, esse transporte alternativo, chega aí... qualquer ponto passar mal, qualquer Kombi leva. A pessoa falecer na comunidade aí a cooperativa dá um transporte para o pessoal poder acompanhar o enterro da pessoa.
P – Hum, hum.
R – Então, a comunidade está mudando bastante. A consciência das pessoas está mudando. Antigamente tinha muita ignorância. Já está tendo menos ignorância por parte das pessoas, elas já estão se dialogando mais.
P – Agora, em relação ao nome aqui do Casarão, Casarão dos Prazeres. Como é que, vocês brincavam com essa coisa desse nome? O que é que você acha desse nome?
R – Isso aqui é conhecido, esse Casarão aqui já tem muita história. História de namorado. Muita gente já namorou nesse Casarão aqui. Já teve muito neném que nasceu aqui nesse Casarão.
P – [risos].
R – Esse Casarão tem história. Tiraram uma área de namoro das pessoas aqui. mas namoravam muito aqui. Até outro dia namorei aqui no Casarão.
P – Ah, é [risos].
R – [risos] Tem uma história: era um pocinho, antigamente tinha um pouquinho ali. O pocinho que era o local de namoro aqui do Casarão.
P – O poço era onde?
R – Era aqui em baixo, em frente aqui.
P – Espera aí, na frente...
R – Na parte do jardim.
P – Tá, na parte do jardim. Sei.
R – Aí antigamente existia esse pocinho ali, que a gente chamava de pocinho ___________.
P – Era um poço mesmo de água?
R – Era um pocinho. Antigamente...
(fim do lado A)
P – O que é que você acha desse nome: Morro dos Prazeres e Casarão dos Prazeres?
R – É o negócio é de...é o nome que trás, assim, uma lembrança boa, né? Prazeres quer dizer prazer, né? Agora eu não sei se todas as pessoas estão sentindo prazer igual sentiam antes, né? Prazer…. Prazer é morar nos Prazeres. Tem uma música que fala assim.
P – Tem? Qual é a música?
R – Ah, eu não sei cantar essa música não.
P – Ah, canta aí, Sidney.
R – Quê? Não. [risos].
P – [risos].
R – A pessoa diz: “Prazer é morar nos Prazeres”. Quer dizer, a pessoa tinha prazer de morar nos Prazeres. Então isso aí é um refrão que muitas pessoas da comunidade sabem disso.
P – Aham, aham.
R – E já teve música aí cantada também por nome dos Prazeres.
P – Você saía naquele bloco? Como é que era o negócio de carnaval aqui?
R – Não, não cheguei a sair não.
P – Não.
R – Tem também a música que fala que Morro dos Prazeres só tem sangue bom. Isso aí é uma música cantada. O menino gravou aí.
P – Ah, não sei.
R – Tocou bastante tempo no rádio aí, cantada.
P – Ah, não conheço. Você sabe quem? Como é o nome do cara?
R – Ah, ele agora é da igreja, o Pintinho, chamado Pintinho. É o rapaz que gravou essa música.
P – É o...
R – Um escurinho. Está na igreja agora. Não é o Leônidas não.
P – Ah, não é ele. Não é o filho do seu João de Moura, não?
R – Não, não é o Leônidas. O Leônidas é compositor de samba.
P – Aham, aham. E a sua esposa? Ela é nascida aqui? Você sabe? Ou ela foi criada aqui?
R – Veio para cá. Ela nasceu...eu acho que ela nasceu aí já para uma cidade…. Espera aí, deixa eu ver direito... Caxias. Acho que ela veio de Caxias para cá. Ela passeou um bocado, a família dela deu umas voltas. Ela falou comigo, mas eu não guardei. Acho que ela veio de Caxias para cá.
P – E o que é que você acha dessa vista que aqui tem?
R – Ah, isso aí é maravilhoso. Muito maravilhoso. Isso é muito bom. Morar em Santa Teresa é bom. Eu gosto de Santa Teresa. Eu, sei lá, eu não pretendo sair daqui não. Talvez até meu filho no futuro, sei lá, que tenha vontade de sair. Mas eu pretendo ficar aqui. Já estou com 41, fazer 42 anos...Quer dizer, as coisas estão difíceis. E aqui existe uma facilidade de vida, entendeu? Isso...aqui a gente tem um transporte, aí que a gente...a pessoa salva a gente. Dá uma carona para a gente chegar na cidade, no trabalho às vezes, se não tiver dinheiro. Lá para cima já é mais difícil. É ruim de pegar uma carona.
P – E teu filho estuda aonde?
R – Aqui no Colégio Júlia Lopes.
P – Que é pertinho.
R – É perto de casa. Ele vai inclusive com essa idade, se fosse em outro colégio tinha que estar levando ele, a mãe dele. Mas aqui como é perto, vem tudo amigo...
P – Junto.
R - ...junto, aí ele pega condução na porta do colégio e sobe na porta de casa. Ele não anda nem 20 metros para chegar em casa. Quer dizer, sempre tem aquela turma de criança que...
P – Quer dizer, é seguro. Não tem problema das crianças...
R – E aonde que está passando sempre tem, assim, conhecido. Que daqui ali na Assunção ali, ______ Assunção não dá nem dois quilômetros. Nem dois quilômetros, quer dizer, a condução é rápida, né?
P – Você hoje não mora na comunidade, mas você está sempre aqui. Como é que é isso?
R – Ah, a maior parte... porque aqui eu tenho trabalho. Meus trabalhos eu consigo devido a comunidade, entendeu?
P – Seus amigos estão aqui, tua família.
R – Meus amigos estão aqui, __________ as coisas vem daqui. Porque no local que eu moro eu conheço pouco. Não tenho conhecimento. Meu conhecimento está aqui na comunidade. Faço serviço para eles também, entendeu? Aí é devido...
P – A casa que você morava, que foi desapropriada, era exatamente, quer dizer, foi no projeto Favela-Bairro que a tua casa foi desapropriada?
R – Foi.
P – Aonde que era a tua casa?
R – Do lado da igreja católica. Ao lado da igreja católica.
P – Para cá.
R – É, diante da Associação tem uma igreja católica ali.
P – Sei.
R – Então, eu morava ao lado da igreja católica.
P – E ali, mas ali não... ali passou rua?
R – Não.
P – Não.
R – Porque eles estavam dando ajuda porque a casa era dois barracos de estuque por cima e a minha casa era por baixo. Aquela parede de estuque, entendeu?
P – Sei.
R – Mas era no antigo projeto que ia passar rua ali. Aí foi modificado. Aí eu saí, desse primeiro eu saí. Não passou rua. Mas eles já tinham negociado comigo para fazer a demolição da casa. Deram uma ajuda também, que a Favela-Bairro não foi só para fazer caminho nem rua não, eram para as casas de risco também. O que adianta fazer uma rua e um barraco cair em cima de quem está passando em baixo? Aí esse projeto foi isso também. Foi uma ajuda para tirar as pessoas também, para uma segurança. E ajudar nesse ponto de vista eles fizeram...
P – E aí compraram, vocês compraram... o governo comprou uma outra casa onde você está morando hoje e que é de sua propriedade.
R – É, minha propriedade. Me deram o dinheiro, me deram o cheque no valor. podia comprar a casa em qualquer lugar daqui. Só não podia ser muito lá para cima. Assim, de Campo Grande para cá...
P – Aí você quis ficar perto? [risos].
R – Aí eu fiquei. Não, eu rodei dois meses procurando casa. Eles pagaram, derrubaram a minha…. estava tão “coisa” que eles derrubaram e pagaram. Não deu para eu ficar. Fiquei três meses ainda aqui, sem comprar a minha casa. E também sem pegar no dinheiro, eu fiquei aguardando. Aí nesses 3 meses eles foram, deram a indenização, aí na mesma hora eu comprei a casa e saí da casa que tinha alugado e fui para a minha. Próxima daqui mesmo da comunidade.
P – Bacana. Agora o Igor tem uma casa aqui, né?
R – É, tem. A casa até já foi aumentada. Era só um quarto, sala, cozinha, na época. Agora já tem mais, tem dois quartos em cima. Tem varanda, tem mais um banheiro. Aumentamos a casa. Está ótima ________.
P – Tá bom. Então para finalizar o que é que significa para você o Morro dos Prazeres?
R – Ah, o que é que significa? Para mim significa muita coisa. Porque tudo que eu consegui saiu daqui dessa comunidade aqui. E até hoje também, eu como desempregado, a minha amizade, que eu tenho a consideração, é tudo por aqui mesmo. Se eu estiver precisando de uma coisa eu não vou em outro lugar, eu vou vir aqui na comunidade, entendeu? Que eu tenho muitos amigos aqui. Então para mim aqui é tudo. Até agora é tudo. É, no meu pensamento, no meu modo de vida. Porque é o meu modo de vida que eu tenho. Eu não tenho outro, entendeu? Eu acho ótimo. Eu gosto muito daqui. Se eu não gostasse, eu acho que era muito difícil me ver por aqui. Mas no minuto que a gente está...assim, a gente está gostando. Se eu não estiver gostando do Morro... eu estou gostando que o Morro está me dando alguma coisa. É por isso que eu estou aqui ainda. Não saio, teve festinha essa semana aqui, uma brincadeira que o rapaz fez aí da cooperativa para as crianças, aí uma deputada que apareceu, __________ ajudando a jogar papel aí para as crianças, ajudando. Sempre quando tem negócio de criança aqui, eu sempre estou presente. Estou presente aí ajudando, fazendo o mínimo. O mínimo que eu posso fazer.
P – O que é que então você acha desse projeto de memória para recuperar a história da comunidade do Casarão e o que é que achou de dar o seu depoimento?
R – Achei muito importante. A gente tem que ter um espaço para poder falar um certo tipo de coisa que a gente tem vontade de falar. E tem hora que a gente tenta falar e não tem ninguém para falar e a gente fica guardando aquilo ali, esperando quando estiver velho para uma pessoa aparecer para a gente falar. Enquanto a gente for novo e estiver aí raciocinando bem ainda, é bom para dizer esse tipo de coisa. Porque a gente está consciente. A gente não, porque tem pessoa que passa mais de 50 anos para falar o que pensa, né? Aí eu acho ótimo. Poder entrevistar sobre trabalho, sobre....né? Maravilha. Parabéns.
P – Tá bom. Então Sidney eu agradeço. Muito obrigada pelo seu depoimento para o Projeto de Memória da Comunidade Morro dos Prazeres, tá bom?
---Fim da Entrevista---
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