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Por: Museu da Pessoa, 30 de novembro de -0001

Os sonhos, as visões e a dieta com um pajé contador de histórias

Esta história contém:

Os sonhos, as visões e a dieta com um pajé contador de histórias

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De quando eu era criancinha o que eu lembro ? Eu cortei seringa, junto com meu irmão, pragente, na época, o que gerava dinheiro era a seringa. Tinha que cortar a seringa, prasobreviver, pra comprar as coisas pros patrões, né? Na época ele tinha patrão, os brancos. Eucortei seringa, mais meu irmão, até os meus 18 anos, e meu pai cortava seringa tambémEu fui um caçador, da minha idade, jovem da minha idade não teve, igualmente, uma pessoacomo eu, um matador de anta. Eu matei muita anta. Eu matei 13 antas. E as nossas medicinasda mata, como kapun que a gente tomava, a gente ia e todo dia que a gente ia, a gente trazia,aí eu comecei a arranjar família, eu tive 10 filhosEu nunca gostei de estar na rodada do Uni {Ayahuasca } e no contar de história. Eu nuncagostei, mas os meus tios, meus primos diziam: “Rapaz, vamos lá ouvir” e eu dizia: “Não queroouvir agora”, porque eu sentia que não era minha hora ainda, eu gostava muito de folia, debeber, de sair curtindo. Por isso que eu não ligava muito pra minha cultura, gostava muito defazer essas coisas ruins.Eu virei o jogo foi agora, o ano passado. No ano passado eu virei a minha história. Que quandoeu ouvi falar muito bem da nossa espiritualidade, que é o Muká, nossa planta sagrada e aí osmeus primos, meu tio disse assim: “ Pekã Rasu, por que você também não faz?” Eu disse:“Rapaz, não é pra mim, não. O meu pai falou que é muita coisa, não é brincadeira, não é pra sebrincar com isso. É coisa muito séria”. Mas aí eles me incentivaram: “Você é filho do pajé maisvelho e verdadeiro. Por que você, o filho, não se valoriza e nem valoriza seu pai?” E aí foiaonde que eu comecei a pensar pra virar o jogo. E no dia eu aceitei: “Tá bom”Ele ensinava tudo lá, todas as histórias. As histórias não são pra todo mundo, também. Não étodo mundo que sabe contar história. São poucos que sabem contar história. E aí disse: “Quebom! E você já aprendeu a cantar?”...

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ENTREVISTADOR: JONAS SAMAÚMA

TRANSCRITORA: SELMA PAIVA

P/1 – Bem-vindo ao Museu da Pessoa! Poder vir nos presentear contando a sua história de vida aqui pra gente. Eu gostaria que, primeiro, então, você pudesse contar o seu nome e o lugar que você nasceu.

R – Tá bom. Eu nasci no rio Gregório, aldeia Kaxinawá, lá na última aldeia. Eu nasci lá.

P/1 – E quem são os seus pais?

R – Meu pai é o Yawarani e a Nunihu

P/1 – Você podia contar um pouco, o que você puder, sobre a história deles?

R – Posso. A história do meu pai, ele foi um seringueiro até os 40 anos dele, ele cortava seringa pra sustentar a minha mãe e depois disso ele, nos 40 anos dele, ele teve que deixar lá da seringa pra vir morar com o cunhado dele. O cunhado dele era uma das lideranças e também era pajé. E ele ficou junto, foi junto dele, pra ele aprender também um pouco da espiritualidade. E aí foi quando ele, pela primeira vez, fez o juramento sagrado, do Muká. Foi o primeiro da idade dele, pra se defender de uma situação difícil que tinha ocorrido com o filho dele. Aí o próprio cunhado dele falou assim: “Você precisa fazer o juramento sagrado, pra o seu filho não ser maltratado” e aí ele: “Tá bom, eu vou fazer”. E fez. Ele fez o pedido do Muká, que o filho dele não fosse maltratado pelas mãos dos brancos, porque foi uma época que foi uma situação difícil que ele teve, que ele fez um acidente, pra não ocorrer o perigo, na época ele não tinha feito seu juramento sagrado pra ele defender. Então, daí ele começou a história. Ele fez e deu certo. Daí ele, através desse cunhado dele, começou também a aprender a rezar, a cantar e fazer tudo que fosse preciso dentro da espiritualidade, pra ele seguir os passos da vida dele, aprender e continuar sendo pajé, pra ajudar o povo lá de dentro da aldeia também. Nessa época não tinha muita farmácia, não tinha remédio. Remédio era a medicina mesmo, da floresta. E...

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