Projeto BNDES: 50 anos de história
Depoimento de Nanete Rocha Pereira
Entrevistada por Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 11/04/2002
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: BND_CB015
Transcrito por Jurema de Carvalho
Revisado por Natália Ártico Tozo
P/1 – Boa tarde Nanete, eu gostaria de começar nosso depoimento pedindo que você me dê seu nome completo, local e data de nascimento, por favor.
R – Meu nome é Nanete Rocha Pereira, eu nasci no Estado do Espírito Santo, cidade de Colatina. E o ano foi o ano de 1931. Sou de fevereiro, signo de aquário.
P/1 – Sobre seus pais, qual a origem deles, dona Nanete?
R – Meu pai tem origem de pai turco, ele é mineiro, originário de Raul Soares, Minas Gerais. Minha mãe, Nair Rodrigues da Rocha, é professora, originária também de Minas Gerais e também da cidade de Raul Soares, onde se conheceram.
P/1 – E a infância? Conta um pouquinho de como foi sua infância na cidade que você nasceu.
R – Bom, eu nasci na cidade e vim para o Rio de Janeiro por questões de saúde de meu pai, mas na realidade eu cheguei aqui com três anos de idade, sou uma carioca por adoção. Adotei a cidade do Rio de Janeiro como minha cidade.
P/1 – Vocês foram viver em que bairro?
R – Nós fomos viver inicialmente em Vila Isabel e depois num bairro da Maria da Graça, bairro do subúrbio, no Rio de Janeiro.
P/1 – Em relação ao estudo, frequentou escola, começou a trabalhar cedo?
R – Eu frequentei a Escola ______ Pernambuco, naquela época era dirigida por um homem, professor Tancredo e tinha alguns professores também homens. Naquela época conclui o estudo primário nessa escola perto de casa, em Maria da Graça e era muito interessante a escola naquela época, hasteava a bandeira, se cantava o hino nacional, enfim, eu tenho uma recordação muito boa dos professores.
P/1 – Seu primeiro emprego, Nanete, qual foi?
R – Bom, eu fui trabalhar numa multinacional também em Maria da Graça, hoje ela é...
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Depoimento de Nanete Rocha Pereira
Entrevistada por Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 11/04/2002
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: BND_CB015
Transcrito por Jurema de Carvalho
Revisado por Natália Ártico Tozo
P/1 – Boa tarde Nanete, eu gostaria de começar nosso depoimento pedindo que você me dê seu nome completo, local e data de nascimento, por favor.
R – Meu nome é Nanete Rocha Pereira, eu nasci no Estado do Espírito Santo, cidade de Colatina. E o ano foi o ano de 1931. Sou de fevereiro, signo de aquário.
P/1 – Sobre seus pais, qual a origem deles, dona Nanete?
R – Meu pai tem origem de pai turco, ele é mineiro, originário de Raul Soares, Minas Gerais. Minha mãe, Nair Rodrigues da Rocha, é professora, originária também de Minas Gerais e também da cidade de Raul Soares, onde se conheceram.
P/1 – E a infância? Conta um pouquinho de como foi sua infância na cidade que você nasceu.
R – Bom, eu nasci na cidade e vim para o Rio de Janeiro por questões de saúde de meu pai, mas na realidade eu cheguei aqui com três anos de idade, sou uma carioca por adoção. Adotei a cidade do Rio de Janeiro como minha cidade.
P/1 – Vocês foram viver em que bairro?
R – Nós fomos viver inicialmente em Vila Isabel e depois num bairro da Maria da Graça, bairro do subúrbio, no Rio de Janeiro.
P/1 – Em relação ao estudo, frequentou escola, começou a trabalhar cedo?
R – Eu frequentei a Escola ______ Pernambuco, naquela época era dirigida por um homem, professor Tancredo e tinha alguns professores também homens. Naquela época conclui o estudo primário nessa escola perto de casa, em Maria da Graça e era muito interessante a escola naquela época, hasteava a bandeira, se cantava o hino nacional, enfim, eu tenho uma recordação muito boa dos professores.
P/1 – Seu primeiro emprego, Nanete, qual foi?
R – Bom, eu fui trabalhar numa multinacional também em Maria da Graça, hoje ela é ______. Meu irmão era chefe do Departamento de Pessoal. Eu fui trabalhar diretamente no setor de contabilidade e gostei muito de trabalhar em contabilidade, comecei a me interessar por contabilidade a partir daí. Mas era perto de casa, facilitava tudo. Não pegava condução, era a pé, almoçávamos em casa e aprendi muito lá nessa empresa multinacional. Foi meu primeiro emprego onde então eu comecei a lidar com números.
P/1 – Como se deu seu ingresso no BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], em que ano foi e para ocupar que função, Nanete?
R – Eu estava trabalhando numa firma de exportação dirigida por italianos que eram amigos do Presidente do BNDES naquela época. Eu recebi um boletim de serviços que estava ali então indicado um concurso para auxiliar de administração. Eu me inscrevi no concurso e fui aprovada, felizmente, em 1956.
P/1 – Nessa época, o que você conhecia sobre o BNDES?
R – Eu conhecia muito pouco, porque quando se trabalha no setor privado, a gente tem uma visão muito fechada, do setor privado só. Do BNDES eu sabia que era uma empresa pública, porque minha mãe era uma pessoa bastante informada e me alertou que se eu viesse para o serviço público, eu teria uma coisa que era muito importante, um bom horário e estabilidade.
P/1 – Isso eram valores importantes na época?
R – Estabilidade sim e horário também, porque recém-casada eu precisava ter meio expediente para cuidar de minha casa.
P/1 – Então você entrou no banco pra trabalhar em que função, e qual era o horário que você cumpria?
R – Olha, nessa época eu trabalhava como Auxiliar de Administração e o horário era excepcional. Era um horário de 11 horas às 19 horas. Era muito favorável, eu gostava muito do horário.
P/1 – Onde você trabalhava?
R – Eu fui locada no Departamento de Controle das Aplicações, na divisão de pagamentos, mas eu fiquei subordinada ao setor de registros dessa divisão. Era um setor interessante e que devido a já ter afinidade com números, eu fui substituta eventual do chefe do setor de estruturação, Professor Doutor Amaro, por um período de quatro meses, onde eu tive a oportunidade de datilografar em máquinas de datilografia, fichas de nomes de financiamento, mas sendo registros referentes a liberações de parcelas de trechos ou etapas concluídas de projetos. Foi aí que veio uma visão muito interessante, já na parte de execução e liberação de recursos para continuação de projetos do banco.
P/1 – Nessa época, quer dizer, tem algum grande projeto que o banco estava envolvido que tenha lhe marcado?
R – Bom, eu acho que o que marcou do banco, muito, eram siglas, nessa época. Por exemplo: Fundo de Reaparelhamento Econômico, se falava muito em CSN, se falava muito em Usiminas, estágios I, II e III e eram os grandes enfoques do banco. Setor industrial, setor de reaparelhamento, de ferrovias, todas. Os setores ferroviários muito bem financiados pelo banco assistido. E foi muito importante essa visão de conhecer o banco já dentro da economia, dentro da indústria e dentro do desenvolvimento econômico.
P/1 – Você comentou em datilografar em máquinas. Nesse período em que você trabalhou, toda essa mudança de tecnologia, você também acompanhou?
R – Eu acompanhei alguma, porque quando a informática começou a ganhar peso nós estávamos muito viciados em trabalhar com máquinas, manualmente. A adaptação teria que ser feita através de cursos específicos. E o banco estava adquirindo aqueles computadores enormes, que tomavam espaços imensos; nós ainda não tínhamos acesso à eles, era um pouco cedo pra nós assumirmos. Uma especialização, um domínio da área de informática. Nós trabalhávamos mesmo era com a caneta e a máquina de calcular.
P/1 – Que ano foi isso?
R – Isso aí se deu mais ou menos na década de 1960 pra 1970.
P/1 – Em 1973, você já está no Departamento de Estudos Econômicos, na área de Planejamento?
R – Antes eu tinha passado, em 1967, 1968 pela Divisão de Contabilidade do Departamento Financeiro, que foi muito importante, antes de eu chegar a esse Departamento de Estudos Econômicos, porque a Divisão de Contabilidade aconteceu uma identificação muito próxima. Eu já vinha do setor privado com uma visão de contabilidade sem ter formação e, dentro da Divisão de Contabilidade, os processos na época, chegavam para distribuição para os setores competentes: setor de classificação, setor de análise de registro. Eu fazia uma triagem dentro dos projetos e me enfronhava muito a que eles se propunham: registro, classificação, análise. Aí já apareciam aqueles registros anteriores de liberação de parcelas, que eu fazia no setor de registros. Já formada, então, em técnica em contabilidade, pela Escola Técnica Cândido Mendes, eu já estava identificada com o trabalho que se exercia na Divisão de Contabilidade, mas ainda era a secretária em função gratificada, ainda estava no agrupamento de apoio. Então, identificada com o chefe, professor de universidade, professor de contabilidade, me estimulou a fazer o vestibular para Ciências Contábeis e fechar o ciclo de contabilidade.
P/1 – Quem era esse professor?
R – Professor Doutor Amaro Ferreira de Oliveira. Bom, após esse estágio e enriquecimento profissional, eu fui, através de uma reformulação do banco, locada no Departamento de Estudos Econômicos, da área de Planejamento de então. Nesse departamento eu fui indicada para trabalhar com orçamento administrativo, que é orçamento de custeio, que gere toda a parte de custeio e despesas e serviços. Doutor ______ também me colocou em testes profissionais de grande oportunidade e me aprovou pra trabalhar na área de orçamento. Entretanto, o banco, mais uma vez, sofreu uma reformulação na área de planejamento e surgiu então um departamento de prioridades, cuja gerência de orçamento estava precisando de uma reformulação de proposta de trabalho e apresentação do orçamento de investimentos. Eu fui convidada pelo Doutor Armando Fabiano ______, submetido meu nome ao diretor da área de Planejamento, Doutor Afonso Vieira de Oliveira. Fui nomeada Gerente de Orçamentos e Investimentos, mas não havia equipe treinada. Então, eu fui convidada a entender, que a partir daquele momento, eu teria como responsabilidade, junto com o Doutor Armando, economista formado pela Universidade do Brasil, com mestrados na Confederação Nacional da Indústria, especialização no exterior, uma capacidade de trabalho, uma visão macro muito grande, macroeconômica do banco, a preparar uma equipe. Só existia, antiga no banco, eu cheguei em 1957, nós estamos no ano de 1974, eu tinha passado por muitos processos diferentes de trabalho e aprendizado. Então fomos convidados a chamar estagiários; chegaram os estagiários da área de estatística, administração de empresas, alguns técnicos em administração, alguns estagiários também de administração e alguns concursados, assistentes técnicos e auxiliares de administração, para exercer tarefas de apoio e treinamento dos estatísticos e dos estagiários em orçamento. Aí que começou então uma grande filosofia, porque o Presidente nomeado do banco, Doutor Marcos Vianna, trouxe um enfoque novo para o orçamento de investimento que então ele dava mais ênfase às prioridades, aos financiamentos a serem conseguidos. Mas a visão do banco teria que ser voltada para o desembolso, aplicação do recurso dentro da empresa, isso realmente ocasionou o quê? Um reenquadramento, um novo reestudo, uma reaproximação das áreas operacionais para poderem se adaptar ao novo modelo de orçamentos, que era o orçamento de investimentos, mas priorizando o desembolso. O que aconteceu? É que se faziam documentos de tamanho porte, em que você buscava, às vezes, na própria área operacional – aí entram todas as áreas do banco subsidiadas – os dados necessários a compor esse orçamento. E até nós nos interarmos da linguagem, principalmente eles inicialmente, era mais complicado, mas depois de algum certo tempo a filosofia prevaleceu, o trabalho era exigido e cobrado pelo Presidente do banco, que um grande administrador hábil sabia como lidar com um documento que se tornou um instrumento de gestão e de tomada de decisão do ________ de recursos do banco para o atendimento de todos os setores que estavam aqui dentro e também chegando. Então eu comecei a falar uma linguagem que não é uma linguagem de contador, é linguagem de economista. Eu passei a usar uma linguagem... Demanda reprimida... (risos) E foi muito interessante, porque eu esqueci daquela peculiaridade do contador de trabalhar até o último centavo e aprendi a trabalhar grandes números. Era um trabalho muito importante, muito grande, em que se cruzavam todas as informações que o Presidente tinha que ter dentro de um documento que era o orçamento de investimento. Então cruzávamos os dados do orçamento por área operacional, por região, por setor, por empresa, por setor público, por setor privado. Ele tinha um leque de informações, numa grande reunião de orçamentos em que todos os diretores de áreas operacionais, assim como todos os assessores, todos os diretores e gerentes de orçamento estavam presentes. Era um verdadeiro trabalho, uma verdadeira sabatina em que o Presidente tinha a capacidade de se lembrar de mais de 300 empresas e pinçar dentro do orçamento como estava a posição daquela empresa, com aquele número. Enfim, foi um trabalho de muito ______ e de muita importância.
P/1 – Nanete, você se aposenta em 1980 no banco. Você se aposenta em que área que você estava trabalhando?
R – Eu estava trabalhando na área de Planejamento, no Departamento de Prioridades, com Doutor Armando e estava Gerente de Orçamento. Eu me aposentei Gerente de Orçamento.
P/1 – Para você, o que significa o BNDES?
R – O BNDES, para mim, continua sendo... Ele foi criado para isso, não é? O maior banco de fomento, que eu acho até, do mundo, porque teve uma década, de 1970 a 1980, em que nós do banco, em termos de desembolso, nós superamos o Banco Mundial. O banco atende, realmente, uma demanda em potencial das grandes indústrias, dos bancos regionais. Enfim, é um banco atuante, é um banco importante e tem um celeiro de técnicos, de gerentes, de executivos e profissionais do alto escalão que a qualquer momento poderão ser guindados para outros postos importantes aqui do país.
P/1 – O seu trabalho que foi desenvolvido aqui no BNDES, como isso é importante na sua vida pessoal e profissional?
R – Na minha vida profissional eu adotei uma visão mais de orçamentista do que de contadora. Então, profissionalmente, eu tive um ganho muito grande, porque eu vi o banco por dentro, sem fazer contato lá fora, mas eu tive a visão de fora também. Eu comecei a enxergar o que acontecia com as empresas, através da demanda de recursos do orçamento era obrigada a trabalhar e ceder e se comprometer. Detalhe importante também, quando se fala em ______ de investimento é que naquela reunião, ela convidava e participava o Departamento de Recursos, que apresentava um quadro síntese e também analítico das maiores fontes de recursos do banco, que na época era o retorno dos financiamentos concedidos, os recursos de PIS-PASEP [Programa de Integração Social e o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público] administrados e também os aportes de origem estrangeira. Estavam também nessa reunião pra então haver aquele fechamento. Fora isso, o chefe do Departamento Financeiro também era convidado para estar preparado para uma pressão de caixa porque, sem qualquer trabalho programado, os desembolsos do banco tinham um comportamento. Eu peguei um trimestre de 1976, 1977, 1978 em que no primeiro semestre os desembolsos do banco atingiam 40% da dotação estimada ou fixada. No segundo trimestre, caiu um pouco. No segundo semestre, de julho a setembro, ele caia pra 25%. E, ao fechar o ano, a pressão de caixa, de outubro a dezembro, crescia novamente pra 35%. Era um comportamento interessante, 40, 25, 35, fechava em 100%. Falar de orçamento... Eu estou falando de orçamento que eu fazia. Hoje eu não sei, eu estou aposentada. Eu acredito que tenha havido algumas melhorias.
P/1 – Nanete, você continua ligada ao banco de alguma forma?
R – Eu não sou ligada ao banco profissionalmente. Nós temos alguns direitos, porque temos uma Fundação, temos uma associação de aposentados que é a nossa voz. Eu, inclusive, participei da criação da Associação dos Aposentados, porque chegou um momento que nós não tínhamos voz. Eu sou uma Nanete, o que o Presidente vai nos receber, quando tivermos um problema? Então eu participei. Não é fácil se criar alguma coisa, mas eu estou lá, uma das primeiras pessoas a ajudar a criar a nossa área de representação de aposentados. A sigla é APA.
P/1 – Está bom Nanete, para finalizar eu queria saber o que você achou de ter participado do Projeto 50 anos do BNDES? Dando seu depoimento com muita clareza.
R – Eu só quero ter a oportunidade, se eu não tiver outra, de fazer alguns agradecimentos. Eu queria agradecer, do início do banco, in memoriam, ao Professor Doutor Amaro Ferreira de Oliveira e ao Doutor (Jardicelos Correas?) in memoriam, foram duas pessoas importantes no meu desenvolvimento profissional. Finalmente o Doutor Armando Fabiano Casado de Alencar, que atualmente está aposentado, mas foi o grande gerente que imprimiu aquela verdadeira dedicação, dinamismo a um trabalho como este, que não era feito naquele estilo. A equipe de orçamento, que hoje, quase toda ela é executiva, que saiu do orçamento e também hoje o Gerente de Orçamento trabalhou comigo inicialmente, também hoje é um Gerente de Orçamento. Eles merecem meu respeito, o meu reconhecimento. Ninguém faz nada sem espírito de equipe e também algumas pessoas que passaram por mim, que se foram já e que foram importantes. Se eu tiver outra oportunidade eu falarei um pouco mais delas.
P/1 – Você pode citar os nomes.
R – Representando o Departamento de Controle das Aplicações, todas as colegas, eu quero falar de Diva Vergetti Leite; ela representa todas as colegas do início meu no banco. Já na área de Planejamento, eu quero... Dedicando a minha lembrança à Gilda Borges, que trabalhou muito para que eu também tivesse uma postura de chefia e de gerência no banco. Eu não posso falar de todos... Tem a Doutora Elizabeth Maria de São Paulo, representando os estagiários, embora ela não fosse estagiária, que hoje é a nossa Superintendente de Comunicação, que é esse trabalho que vocês estão fazendo.
P/1 – Eu agradeço seu depoimento, muito obrigada pela sua participação.
R – Obrigada.
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