Projeto Museu do Futuro – CTBC
Depoimento de Maria Iolanda
Entrevistada por Luiz Egypto de Cerqueira e Norma Lucia da Silva
Uberlândia, 15 de setembro de 2000.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número CTBC_HV035
Transcrito por Marcília Ursini
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 – Bom dia dona Iolanda, desculpe todo esse atraso.
R – Bom dia.
P/1 – Eu gostaria que para o início, a senhora, por favor, me dissesse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome completo é Maria Iolanda, eu nasci em Estrela do Indaiá, em quatro de setembro de 1949.
P/1 – O nome do seu pai e da sua mãe, dona Iolanda, por favor?
R – José Luiz da Silva e Augusta Cândida de São José.
P/1 – O seu pai, qual era a atividade dele?
R – Ele era agricultor.
P/1 – Proprietário, meeiro?
R – Não, ele era proprietário.
P/1 – Que tipo de cultura que ele...
R – Plantação de arroz, feijão e também tinha, cuidava de criação, gado, essas coisas assim.
P/1 – Lá em Estrela mesmo?
R – Estrela do Indaiá.
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe era do lar.
P/1 – A senhora conheceu os seus avós?
R – Eu só conheci uma avó materna. O avô eu não conheci e nem os avós paternos, eu também não conheci.
P/1 – A senhora tem notícia da origem dos seus avós, de onde eles vieram ou se eram da região?
R – Não, eles eram da região mesmo, de Estrela do Indaiá.
P/1 – Esse local onde vocês viviam era mais perto da cidade, longe da cidade, no campo?
R – Não, era no campo, mas era pertinho, dezoito quilômetros da cidade.
P/1 – Como é que era essa casa da sua infância?
R – Bom, era uma fazenda simples, não tinha muita coisa. Essas fazendas simples mesmo. E eu vivi lá nessa fazenda durante seis anos só. A partir dos sete anos, com a idade de sete anos, eu já mudei para a cidade e comecei a estudar. Daí, quando eu fazia o quarto ano, na quarta série, meu pai faleceu, em...
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Depoimento de Maria Iolanda
Entrevistada por Luiz Egypto de Cerqueira e Norma Lucia da Silva
Uberlândia, 15 de setembro de 2000.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número CTBC_HV035
Transcrito por Marcília Ursini
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 – Bom dia dona Iolanda, desculpe todo esse atraso.
R – Bom dia.
P/1 – Eu gostaria que para o início, a senhora, por favor, me dissesse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome completo é Maria Iolanda, eu nasci em Estrela do Indaiá, em quatro de setembro de 1949.
P/1 – O nome do seu pai e da sua mãe, dona Iolanda, por favor?
R – José Luiz da Silva e Augusta Cândida de São José.
P/1 – O seu pai, qual era a atividade dele?
R – Ele era agricultor.
P/1 – Proprietário, meeiro?
R – Não, ele era proprietário.
P/1 – Que tipo de cultura que ele...
R – Plantação de arroz, feijão e também tinha, cuidava de criação, gado, essas coisas assim.
P/1 – Lá em Estrela mesmo?
R – Estrela do Indaiá.
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe era do lar.
P/1 – A senhora conheceu os seus avós?
R – Eu só conheci uma avó materna. O avô eu não conheci e nem os avós paternos, eu também não conheci.
P/1 – A senhora tem notícia da origem dos seus avós, de onde eles vieram ou se eram da região?
R – Não, eles eram da região mesmo, de Estrela do Indaiá.
P/1 – Esse local onde vocês viviam era mais perto da cidade, longe da cidade, no campo?
R – Não, era no campo, mas era pertinho, dezoito quilômetros da cidade.
P/1 – Como é que era essa casa da sua infância?
R – Bom, era uma fazenda simples, não tinha muita coisa. Essas fazendas simples mesmo. E eu vivi lá nessa fazenda durante seis anos só. A partir dos sete anos, com a idade de sete anos, eu já mudei para a cidade e comecei a estudar. Daí, quando eu fazia o quarto ano, na quarta série, meu pai faleceu, em 1962. E meu pai, também nessa época, era alcoólatra, e a gente passou muita dificuldade com ele. O que a gente tinha a gente perdeu tudo, porque o álcool acaba com a família, certo? Então, a gente teve que mudar de Estrela. De Estrela a gente veio para Uberlândia, procurando uma situação financeira melhor, porque o que a gente tinha lá foi tudo por água abaixo.
P/1 – A senhora seria capaz de descrever essa casa que a senhora passou a sua primeira infância?
R – Era uma casa de telha, pequena, de três cômodos, simples.
P/1 – A senhora tinha irmãos?
R – Tenho cinco irmãos. Eu sou a caçula.
P/1 – Essa mudança para a cidade significou o que na cabeça da menina Maria Iolanda?
R – Significou... Olha, eu tenho uma lembrança muito triste, certo? Que nessa época, a gente passou muita dificuldade, a minha mãe passou muita dificuldade com meu pai. Então, essa lembrança que eu tenho de Estrela, até hoje eu não gosto muito de ir lá, porque as lembranças que eu tenho de lá são tristes. E eu não gostaria de relatar aqui agora, certo? Porque eu me emociono e depois eu não consigo nem te falar alguma coisa. Então é uma lembrança triste que eu não gostaria de voltar.
P/1 – E essa opção de mudança para Uberlândia ela deveu-se, fundamentalmente, a que?
R – Deveu-se fundamentalmente à situação financeira.
P/1 – E tinha-se algum contato aqui em Uberlândia?
R – Não, nós viemos com a cara e a coragem. Meu pai faleceu, meu irmão veio na frente, uns três meses na frente, para arrumar um lugar de trabalho. Ele começou a trabalhar, aí escreveu para a gente vir, aí veio eu e mais a minha mãe, e ficou um outro irmão lá em Estrela. O mais velho ficou lá porque não quis vir. Chegamos aqui, a gente foi morar em casa de parente até a gente conseguir uma casa para morar e serviço para nós.
P/1 – E que tipo de serviço foi esse que foi conseguido nessa época?
R – Nessa época eu trabalhei de doméstica, eu trabalhei de garçonete, a minha irmã era professora rural e aí ela foi trabalhar na área rural. E o outro meu irmão trabalhava em posto de gasolina. E minha mãe trabalhava como lavadeira, arrumadeira de quarto lá no Posto da Matinha. E aí a gente foi trabalhando e as coisas foram melhorando, certo? Então, nessa época que eu trabalhava de doméstica, foi então que eu conheci a dona Ophélia, que é esposa do Dr. Luiz. Foi através dela que eu comecei a trabalhar no Grupo.
P/1 – Eu queria estar um pouquinho atrás ainda com relação, por exemplo, a essa meninice, porque essas crianças de algum modo se divertiam. A senhora tinha algum tipo de diversão, alguma brincadeira?
R – Não, eu não tive infância. Minha infância foi só trabalhando. Para ajudar em casa.
P/1 – E a escola, dona Maria Iolanda?
R – A escola, como eu disse, eu estudei até o quarto ano, que naquela época era quarto ano, lá em Estrela, não é? Eu estudei. Depois, a gente mudou para Uberlândia, ai eu não tinha mais condição de estudar porque a condição financeira não dava para estudar. Aí eu comecei a trabalhar e passei uns oito ou dez anos sem estudar. Depois que as condições foram melhorando foi que eu voltei a estudar.
P/1 – E aí a senhora entrou em um curso de madureza?
R – Não, aí eu fiz, naquela época, admissão. Fiz admissão no Museu, colégio estadual de Uberlândia, depois eu passei a estudar, consegui uma bolsa de estudo, comecei a estudar no Colégio Anchieta, através de bolsa. Aí fiz o ginásio, depois fiz o Normal lá no Colégio Inconfidência. Depois do Normal, eu parei de estudar uns tempos. Depois eu voltei, fiz vestibular, comecei a fazer Geografia. Aí quando eu fazia Geografia eu não tinha carro e a faculdade era muito longe de casa, o sistema de transporte era muito difícil, e foi ficando muito difícil para mim. Foi aí que eu parei de estudar.
P/1 – Nesse primeiro período de escola aqui em Uberlândia, teve alguma professora ou professor que tivesse impressionado, marcado a memória da senhora?
R – A dona Edna. A dona Edna que era a professora lá do Colégio Inconfidência. Ela me ajudou muito, ela me incentivava muito.
P/1 – Em que sentido, assim?
R – Ela me incentivava em todos os sentidos. Foi uma professora, assim, que me marcou na escola, certo? E no primário também eu tive uma professora chamada Olga. Essa professora também me deu muito apoio. Essa professora me ajudou muito.
P/1 – A família, em Uberlândia, já instalada, em uma situação melhor, também tinha algum outro tipo de atividade? Suas irmãs trabalhavam, seus irmãos?
R – Todos trabalhavam. Ninguém ficava em casa. Todos, inclusive a minha mãe.
P/1 – Como é que era o cotidiano dessa casa, com as crianças e com a mãe todas elas...
R – Nessa época, não tinha crianças, não é? Porque eu era a caçula, então, eu já tinha, já estava com catorze, quinze anos. Então não tinham mais crianças. Foi uma casa que cresceu sem crianças. Depois que foram vindo os netos da minha mãe, ai que a casa foi alegrando, o ambiente foi ficando diferente. Mas nessa época aí não tinha criança.
P/1 – Onde ficava essa residência?
R – No bairro Brasil, onde eu moro hoje.
P/1 – E como é que era a cidade dessa época, dessa sua primeira época aqui?
R – Olha, era difícil porque aonde a gente morava nem casa não tinha. Só tinha os trilhos onde a gente passava. As últimas casas que tinham aqui em Uberlândia eram no colégio das freiras. Para a gente tomar ônibus para o Centro, a gente tinha de vir de a pé do bairro Brasil até o colégio. Só passava ônibus no colégio. Aí depois a gente tomava para vir no centro da cidade. Então era muito difícil. Era bem difícil mesmo. Lá não tinha água, não tinha luz, não tinha telefone, não tinha meio de comunicação.
P/1 – Mas de todo modo a casa se mantinha... Se mantinha...
R – Se mantinha assim nas dificuldades, como se fosse uma zona rural porque a gente buscava água lá, onde hoje é a ABC Árvore, onde tem o Caça e Pesca hoje. Então, a gente lavava roupa era lá, a gente buscava água era no posto, fogão, a gente tinha fogão de lenha. Então, a dificuldade era como se a gente morasse na zona rural.
P/1 – E todos os componentes da família sempre fora de casa uma boa parte do dia?
R – Sempre fora de casa. Só chegavam em casa à noite. Inclusive, para eu ir estudar eu tive que trabalhar de doméstica, porque aí eu morava no emprego e ia para a escola. Só ia em casa no final de semana.
P/1 – Dormia no emprego.
R – Dormia no emprego.
P/1 – Nesses finais de semana, havia algum tipo de confraternização?
R – Sim, a família se reunia no final de semana.
P/1 – A senhora tem alguma lembrança desses encontros?
R – Tenho, tenho lembrança de todos os encontros que a gente tinha, certo? A gente era muito feliz nessa época.
P/1 – Era uma espécie de compensação de todas as...
R – Compensação, isso!
P/1 – Das dificuldades que vocês haviam passado. De todo modo, esse processo acabou redundando nesse seu encontro com dona Ophélia. Como é que foi esse encontro?
R – Eu comecei a trabalhar na casa da dona Enoi, irmã da dona Ophélia. Então ela tinha uma criança, que era a Gerusa, e sempre a dona Ophélia passava lá para passear, pegar a Gerusa para passear. E eu ia de pajem com a Gerusa e passeava com a dona Ophélia e a Ana Marta. Foi aí que eu conheci a dona Ophélia.
P/1 – Daí...
R – Daí, eu passei a ajudar, às vezes ela precisava de alguém para ajudar na casa dela, ela me chamava. Depois, eu comecei... Nessa época, eu já estudava lá no Colégio Anchieta e trabalhava no bar, que a minha irmã tinha um bar e eu trabalhava com ela. Ai, precisou de alguém na CTBC para trabalhar na cantina. Então, ela foi atrás de mim e eu vim para a CTBC para trabalhar na cantina.
P/1 – Aonde era essa cantina?
R – Era dentro da CTBC mesmo. Tinha uma cozinha e a gente trabalhava lá nessa cozinha mesmo, ali na João Pinheiro, que tinha o prédio na esquina, embaixo era a CTBC, e a dona Ophélia, o Sr. Alexandrino moravam em cima, na casa, no sobradinho, certo? Então, a cantina era lá dentro. Tinha uma cozinha e era dentro da CTBC mesmo.
P/1 – E quais eram as suas funções nessa cantina?
R – A minha... Era fazer café e servir nas mesas, no escritório.
P/1 – Era só o café?
R – Era, só o café.
P/1 – E passava o tempo todo?
R – Servia café de manhã e à tarde. Então fazia café de manhã e à tarde para todo mundo do escritório. Mas aí eu trabalhei só três meses. Aí cheguei no coordenador lá e pedi se eu poderia fazer uma prova para passar para o escritório, e logo em seguida, dentro de três meses, eu já trabalhava, passei para o escritório.
P/1 – E por que essa... A senhora já tinha vontade de ir para o escritório, já era uma...
R – Eu tinha muita vontade, porque para mim era mais fácil trabalhar no escritório, eu estava estudando. A dificuldade de trabalhar na cozinha é bem mais do que no escritório, certo? Porque na cozinha você trabalha o dia inteiro em pé e andando o dia inteiro. No escritório é completamente diferente. Você trabalha sentado, o ambiente é outro, é outro ambiente, certo? Então era bem mais fácil.
P/1 – E a senhora já tinha algum projeto assim sobre o que fazer, tinha alguma vontade de fazer alguma coisa em específico?
R – Não, em específico não. Eu tinha muita vontade de fazer Direito, certo, mas eu prestei vestibular, prestei vestibular primeiro para Economia. O curso errado. Depois eu não passei, eu prestei outro vestibular e escolhi a área de Geografia, influenciada por colega porque eu não tinha assim uma formação do que realmente eu queria. Eu queria fazer uma faculdade, certo? Aí, eu comecei no curso de Geografia. Depois, ficou difícil demais, aí eu parei. Mas, a minha vontade era fazer Direito.
P/1 – Quando a senhora foi admitida no escritório, foi admitida para fazer o que exatamente?
R – É, naquela época, os interurbanos, as meninas faziam interurbano e elas colocavam na hora que faziam o interurbano, era tudo manual, então elas faziam um bilhetinho. Naquele bilhete, elas colocavam a cidade de origem e a cidade do destino, o código literal e quantos minutos a pessoa tinha falado. A gente pegava aquele bilhete e ia transformar aquele código literal em um código numérico para depois mandar perfurar, mandar a fita para o computador e virem as contas mensais. Então, o nosso trabalho era codificar, transformar aquele código literal em um código numérico, fazer a tarifa, se era uma tarifa normal, se era especial, se era reduzida, calcular os minutos que a pessoa falou e mandar para a digitação. Era esse o nosso trabalho.
P/1 – A senhora podia dar um exemplo do que é que significa esse código literal e o código numérico?
R – O código literal, por exemplo: Uberlândia, a telefonista só colocava ULDI. E a gente transformava em um código numérico de quatro número. É, por exemplo: na época, era 9852. Eu nem nunca esqueci porque a gente fazia demais. Então, a gente transformava porque na hora que a menina ia digitar, ela ia digitar o número para perfurar a fita. Então o literal não tinha jeito. Aí a gente colocava o número.
P/1 – Certo. E todo esse trabalho era um trabalho manual?
R – Manual. Nessa época, trabalhava para fazer isso eu, a Noêmia de Aquino, a Maria Martins Ramos e a Maria das Graças Dantas.
P/1 – E quem que liderava essa equipe?
R – Maria Martins Ramos que era a coordenadora do setor.
P/1 – E o volume de trabalho, como é que era?
R – Era muito, viu? A gente fazia uns duzentos a trezentos códigos por dia.
P/1 – Cada uma?
R – Cada uma. Manual. Tudo manual, codificando e colocando as tarifas.
P/1 – Para todas as localidades?
R – Todos os interurbanos que eram feitos, a gente fazia esse bilhete.
P/1 – As telefonistas que intermediavam esses interurbanos ficavam ali mesmo, na mesma área, não é?
R – É, não, porque elas ficavam na mesa, recebiam a ligação, o pedido de interurbano, ali elas faziam a ligação, e anotavam aquele código, e a hora que iniciou o interurbano e a hora que terminou. Daí é que passavam esse bilhete para a gente transformar o local e colocar a tarifa.
P/1 – E quem é que transitava com esse bilhete entre a mesa da telefonista...
R – A gente mesmo. A gente passava o dia inteiro, certo? A telefonista ia fazendo, a gente passava e pegava. Ou então pegava, no outro dia a gente fazia.
P/1 – Ia para a mesa, processava aquilo e voltava para a sala, para as telefonistas?
R – Não, aí elas processavam esse bilhete, aí tinha umas máquinas grandes, que eram as máquinas de perfurar aquilo. Naquela época, era computador, né? Os computadores eram umas máquinas, igual máquina de escrever. Então, a gente passava para esse setor, que na época quem era o coordenador era o José Rubens Machado de Resende. Então, o Zé Rubens é que tinha uma equipe de moças que faziam essa digitação. Aí, ele fazia o arquivo desses bilhetes. Qualquer reclamação que tinha de interurbano, a gente ia no pacotinho lá e olhava o bilhete para ver se a reclamação estava certa ou não.
P/1 – O bilhete original anotado pela telefonista?
R – O bilhete original anotado pela telefonista.
P/1 – E quanto tempo esses bilhetes ficavam lá disponíveis?
R – Me parece que ficava até cinco anos ou quatro anos. Não me lembro bem!
P/1 – Dessas telefonistas, dona Maria Iolanda, a senhora se lembra de alguma que tenha lhe marcado especialmente?
R – A dona Luzia. A Luzia era coordenadora. Ela... Tem a dona Luzia, a Catarina. São várias, que na época, que já passou muito tempo, a gente não lembra o nome, mas a fisionomia delas a gente lembra.
P/1 – E como era esse ambiente, esse ambiente...
R – Era um ambiente muito agradável. As pessoas, naquela época, não sei se... A vida era completamente diferente de hoje, as pessoas não tinham maldade. Então, era um ambiente super agradável.
P/1 – Mas, vocês conviviam fora do trabalho ou apenas lá?
R – Convivia, a gente convivia. A gente fazia muita festa de confraternização fora do trabalho, até mesmo a Companhia fazia muita festa de confraternização. Então essas festas eram muito agradáveis. Era a integração total, certo? A gente tinha, assim, como se fosse uma família, porque era menos gente, mais unidos, o que um fazia, o outro também. Entendeu? Então, era bastante agradável.
P/1 – Que festas eram essas? Quais eram as principais?
R – Festa junina, sempre fez, final de ano. Assim, essas datas assim.
P/1 – E onde elas...
R – Dia da Telefonista. Geralmente, realizava na casa do Sr. Alexandrino mesmo, na chácara dele. Na Granja Eleusa. Ou mesmo dentro da CTBC ou, então, em casa de colegas.
P/1 – E os dias, as comemorações do Dia das Telefonistas, como é que eram?
R – Bom, na comemoração do Dia da Telefonista faziam churrasco e era aquele povo o dia inteiro ali, conversando, aquele papo agradável. Era uma confraternização mesmo. Hoje, não tem isso mais, né? Porque parece que as pessoas se envolviam mais com a vida da gente. Então, cada um... Se um passasse dificuldade, o outro sabia, ajudava. Então, era uma coisa mais agradável.
P/1 – Durante essas comemorações, tinha uma parte que ficava de plantão, naturalmente?
R – Tinha, tinha a parte que ficava de plantão, não ia todo mundo, e geralmente revezava porque tinha o horário. Telefonista, por exemplo, só trabalhava seis horas. E geralmente era final de semana, escritório não trabalhava. Então, essas festas, mais, era final de semana. Durante a semana não tinha festa.
P/1 – Dona Maria, a senhora se lembra do primeiro encontro que a senhora teve com o seu Alexandrino, a primeira visão que teve dele?
R – Lembro.
P/1 – Como é que era, hein?
R – A primeira visão que tive do seu Alexandrino foi quando eu já trabalhava no escritório, tá? A gente via sempre ele passando, ele visitava os setores, ele conversava com a gente, normal.
P/1 – E alguma coisa que a senhora, que tenha impressionado a senhora no Sr. Alexandrino? Como é que ele era?
R – Assim, o que impressiona no Sr. Alexandrino é que ele era uma pessoa muito enérgica, certo? Então, a gente via sempre, ele ficava em cima daqueles pedreiros e aquilo ali ele ficava de cima. Então, aquilo marcava a gente porque ele exigia demais dos caras. Então, aquilo marcava. Agora, com a gente já era diferente, ele não exigia tanto, mas ele era bem enérgico.
P/1 – A senhora podia dar um exemplo, assim, de um episódio que isso ficasse demonstrado?
R – Olha, eu não lembro nenhum assim.
P/1 – E o Dr. Luiz?
R – O Dr. Luiz também era bem enérgico, certo? Ele visitava os setores, ele exigia, ele perguntava o que você estava fazendo, mas era a menos do que o Sr. Alexandrino.
P/1 – A senhora disse que havia uma diferença de tratamento do Sr. Alexandrino com os homens pedreiros e as meninas que trabalhavam ali no setor. Era isso?
R – É, ele era mais enérgico com esse pessoal que trabalhava em obras.
P/1 – Mas ele chegava, por exemplo, no seu setor para conferir trabalho?
R – Não, Sr. Alexandrino nunca foi no setor para conferir trabalho.
P/1 – Ele ia apenas para...
R – Só às vezes quando a gente dependia de uma assinatura dele, a gente procurava ele na sala dele, mas ele nunca ia no setor para... Pelo menos no escritório não. Ele procurava mais, ele visitava mais os setores de comunicação, de rede, de obras. Isso é que ele visitava mais. O escritório não. O escritório... A gente, quando precisava dele tinha que ir na sala dele.
P/1 – E ele era daqueles que lia atentamente o que assinava?
R – Comigo não. Comigo ele sempre falava que confiava muito em mim, que não precisava nem ler. Toda a vida eu levava documento para ele assinar, ele assinava numa boa. Nunca recusou e nem exigia para ler para ele não.
P/1 – De onde é que a senhora imagina que possa ter saído essa confiança que ele depositava na senhora?
R – Eu creio que é pelo tempo de serviço, pela convivência da gente, certo? Então, um dia até brincou comigo, que eu falei assim: “O senhor não vai ler?” “Não, para você eu assino até uma sentença de morte.” Porque sabia que poderia confiar, não é?
P/1 – E essa relação foi estabelecida...
R – Com a convivência do dia a dia.
P/1 – E pelo o que a senhora está relatando, com pouca conversa, não é?
R – Com pouca conversa. Ele não era muito de muito papo não, era só o necessário.
P/1 – E a dona Ilce, a senhora trabalhava com ela?
R – Trabalhei, trabalhei muito tempo com ela, só que ela também ficava mais é na área de tesouraria. O contato que a gente tinha era só mesmo de serviço. E ela era também uma pessoa muito enérgica. Então a gente tinha até um certo receio de aproximar dela. Hoje, não. Hoje é diferente, que com o tempo a gente foi convivendo. Então as coisas mudam, mas no início a gente tinha até um certo receio dela, que ela era muito exigente e a gente sentia, sabe? Então a gente tinha um receio de chegar nela.
P/1 – Era um grupo enérgico!
R – É, ela era bem enérgica. E se dependesse de dinheiro era difícil pegar com ela, viu? Porque ela brigava com todo mundo.
P/1 – Como assim?
R – (risos) Se precisasse, por exemplo, de um vale, na época, você ia lá para fazer o vale, ela falava uma meia hora para depois ela abrir mão daquilo, certo? Ela não deixava de atender a gente, mas primeiro ela dava o sermão dela.
P/1 – Que tipo de argumento que ela usava?
R – “É, você não pode fazer isso, que tem que ser controlado, é isso.” É esse tipo de coisa assim, repreendendo as pessoas.
P/1 – Gastou o seu dinheiro muito rapidamente, é isso?
R – (risos) “Gastou o seu dinheiro, você tem que ter controle. Eu não posso fazer isso. Isso aqui é dinheiro da empresa.” Era assim.
P/1 – Mas, acabava...
R – Acabava, ela cedia no final. Mas, antes, ela dava uma canseira na gente.
P/1 – A senhora pediu muito vale para ela?
R – Não, até que não. Até não era vale, às vezes era mesmo dinheiro que precisava para a empresa, certo? Não era vale para a gente. É dinheiro que gastava na empresa. Então a gente ia lá porque ela era a tesoureira, ela que tinha que pagar. Ela pagava, mas primeiro ela falava um bocado.
P/1 – Material de consumo, inclusive?
R – Isso, material, essas coisas assim, às vezes uma nota para ela pagar. Ela ia dar bronca.
P/1 – Controlava, não é?
R – Ela controlava muito bem o dinheiro. (risos)
P/1 – E a senhora ficou sempre ali naquele prédio ali da João Pinheiro com a Machado de Assis?
R – É, trabalhei. Todo tempo que a gente ficou ali a gente... Eu fiquei ali. Depois que a gente foi para a Industrial.
P/1 – Quanto se deu essa mudança?
R – Essa mudança, não tenho muito lembrança, mas parece que foi em 1987, 1986... Por aí.
P/1 – Nesse momento, quer dizer, a senhora processando bilhetes interurbanos, a Companhia se expandindo, o serviço certamente aumentou, mas o sistema de gestão também modernizou-se, não é?
R – Certamente.
P/1 – Como é que foi essa transição, dona Maria? Como é que se deu?
R – Olha, foi a medida que ia evoluindo, a empresa também foi evoluindo. Então, nessa época, a gente trabalhava tudo manual, depois foi passando para esse computador, depois vieram outros computadores. À medida que o tempo ia, se evoluía, a gente tinha que acompanhar a evolução, mas foi bastante, assim... A gente às vezes tinha certa resistência, certo? Porque as coisas iam mudando. No início não, porque as coisas no início eram difíceis para mudar. Levava tempo. Mas, recentemente, as coisas evoluíram muito depressa. Então, para a gente acompanhar essa evolução a gente, que era mais antiga, teve uma certa dificuldade, certo? Mas a gente está conseguindo.
P/1 – Mas por exemplo, nessa evolução, a senhora disse que tinha quatro meninas ou quatro moças trabalhando nesse serviço de processamento de bilhetes, não é?
R – Isso.
P/1 – Aí, talvez não se precisasse de tantas pessoas assim, não é?
R – É, porque o serviço, naquela época, era muito repetido, né? A telefonista fazia uma coisa, a gente fazia outra, depois as meninas que digitavam faziam a mesma coisa. Depois foi evoluindo. Não precisava assim... Uma pessoa só fazia tudo, porque nessa época, por exemplo, a telefonista fazia o bilhete, a gente codificava, a menina digitava, depois que processava. Hoje em dia a telefonista nem existe mais, certo? Então, à medida que foi evoluindo a gente foi acompanhando.
P/1 – Mas, esse acompanhamento chegou a causar algum problema para a senhora, por exemplo?
R – Para mim não. Eu nunca tive problema nenhum nesse acompanhamento.
P/1 – Para as suas colegas?
R – Talvez sim. Talvez sim porque foi evoluindo, as pessoas iam perdendo emprego, não é?
P/1 – Como é que a senhora transitou, digamos assim, dessa área de processamento de contas interurbanas para a área ações? Como é que foi esse caminho?
R – Eu sempre fui uma pessoa assim que, na época, eu era persistente, tinha muita vontade de melhorar de vida. Aí, eu cheguei para o Dr. Luiz um dia e pedi para ele: “Dr. Luiz, eu tenho quatro anos que eu estou nesse setor, eu queria mudar de serviço, aprender outras coisas.” Ele até foi muito, assim... Eu me sinto, assim, que nessa época eu senti até humilhada, sabe, que ele foi muito duro comigo, mas foi uma coisa que foi boa para mim. Hoje, eu sinto que naquela época ele foi duro comigo, mas para mim foi muito bom, que eu tive aquilo assim como um tapa e que eu quis reagir. Porque eu cheguei para ele, falei: “Dr. Luiz, eu queria mudar se setor. O senhor poderia me mudar de setor?” Ele virou para mim: “Aqui na minha empresa quem valoriza é o funcionário, não é a empresa que valoriza o funcionário.” Ai, eu sai daquela sala assim derrotada, mas eu falei assim: “Eu vou dar a volta por cima.” Aí eu comecei. Eu falei para ele assim: “Mas, como, se a gente trabalha e faz as coisas, ninguém vê?” Aí eu comecei a me esforçar mais, a dedicar mais. Aí surgiu uma vaga no departamento de ações. Na época, quem trabalhava lá era a Maria das Graças Dantas e ela era uma pessoa que já tinha trabalhado comigo, mas era uma pessoa muito exigente também, certo? Aí passaram nessa época uns quatro ou cinco funcionários lá e não conseguiram ficar porque ela exigia muito. Ai, o Walmiro dos Reis chegou perto de mim, falou: “Iolanda, você já trabalhou com a das Graças, quem sabe você adapta trabalhar com ela lá. Estão precisando. Você poderia ir para lá?” Eu falei assim: “Olha, eu vou com todo o prazer”. Porque a minha vontade era mudar daquele lugar para conhecer outras coisas novas. Aí eu fui. Quer dizer, foi uma oportunidade que eu tive, para mim foi muito bom, fui conhecer coisas novas e de lá, dessa época, estou aqui no departamento até hoje. Foi em 1974 e estou lá no setor até hoje, faço a mesma coisa.
P/1 – Nesse primeiro momento, como é que era esse trabalho com ações?
R – Nesse primeiro momento para mim foi muito difícil, que era uma coisa nova que eu não tinha conhecimento, certo? Então, nas primeiras, nos primeiros dias eu tive muita dificuldade. Tive muita dificuldade, porque eu não tinha conhecimento de nada. Ai, para mim foi difícil porque eu tive que aprender tudo sozinha. À medida que eu ia fazendo, aí eu ia descobrindo as coisas e comecei a aprender. Para mim foi uma experiência muito grande e eu aprendi tudo sozinha, porque a Maria das Graças não me ensinou nada. Quando eu pegava uma listagem de acionistas eu tinha que estudar o que é que era aquilo ali para poder fazer, porque eu não tinha conhecimento daquilo. Então, foi uma época difícil para mim, mas Graças a Deus eu superei tudo. Dentro de três meses que eu estava no setor ela saiu de férias, eu fiquei sozinha, eu consegui superar, dar conta do serviço. Inclusive tiveram até fiscais na época, que foi uma área que foi incorporada, cidades que foram incorporadas de Goiatuba, então tiveram uns fiscais da Dentel. Graças a Deus eu consegui superar tudo.
P/1 – E como é que era o trabalho? No que ele consistia?
R – À medida, assim, que a pessoa comprava um telefone, o valor que ele pagava no telefone era capitalizado em ações. Então à medida que aumentava o capital da empresa a gente recebia uma listagem de acionista e fazia a implantação, fazia o registro do acionista nos livros. Naquela época era tudo manual. Quer dizer, era um mundo de listagem que o senhor fazia, tudo manual. A hora que aumentava o capital da empresa o senhor recebia uma listagem e ia fazendo aquilo manual, registrando os acionistas no livro. E era tudo manual e depois, aumento de capital era com bonificação, o senhor tinha que também calcular tudo manual, na máquina. Então, era uma coisa muito difícil, o volume era muito grande. Mas, Graças a Deus, superou tudo.
P/1 – Quando havia um aumento de capital como esse que a senhora está relatando, quanto tempo demorava para acertar toda a documentação dos acionistas?
R – Olha, a gente acertava dentro de seis meses, por aí.
P/1 – Costumava haver, nesses seis meses, algum outro tipo de modificação?
R – Porque é o seguinte, à medida que a empresa faz um aumento de capital o senhor tem que atualizar o registro de ações, certo? Se aumenta o capital com bonificação, o senhor vai ter que jogar aquela bonificação no livro e isso era feito manualmente. Se aumenta o capital com subscrição, o senhor vai ter que fazer aquela subscrição no livro. Era tudo manual. Então esse serviço era um pouco lento. É uma coisa muito repetida e muito lenta, porque o livro de registro não pode ter rasura. Então o senhor tem que fazer com muita atenção para fazer tudo certinho.
P/1 – À mão, caneta mesmo?
R – À caneta. Registrava o acionista em uma folha com a quantidade de ações dele, tudo a caneta. E a qualificação dele também. Depois que o senhor registrava no livro tudo à caneta, aí eu ia fazer um boletim. Era feito duas vezes. Nesse boletim o senhor colocava os mesmos dados do acionista, que era o cadastro dele, e mandava para a digitação. Ai que ia fazer o cadastro da informática. Quer dizer, o senhor fazia duas vezes naquela época. O senhor fazia o registro manual, na caneta, depois fazia de novo manual no boletim para mandar para a digitação. Para depois ter o cadastro deles no computador.
P/1 – Para ser modificado dali a seis meses?
R – Isto.
P/1 – A senhora fazia isso sozinha?
R – Não.
P/1 – A senhora e a Maria das Graças?
R – Não, aí era só eu e a das Graças. Só trabalhávamos em duas. Depois, foi aumentando a quantidade de acionistas, as coisas foram aumentando, passamos a trabalhar com mais gente. Aí também a gente passou a adquirir ações do mercado. Sempre adquiriu, mas ai com maior número. Teve uma época que a gente tinha dez funcionários no setor. Foi a época que teve mais funcionários. Foi em 1986, quando o serviço era feito todo manual e a gente comprava, tinha uma equipe de compra de ações, aí a gente trabalhava em dez pessoas.
P/1 – Como é que era esse processo de compra, de recompra de ações?
R – É recompra.
P/1 – Como é que isso se estruturava? Como é que isso se dava?
R – É, geralmente o acionista procurava a empresa. Quando ele procurava a empresa, a gente oferecia à ele, fazia a oferta para comprar. Também o Grupo montava uma equipe de corretores que saía no campo e fazia essa recompra através de documento, de procuração, e levava para a gente fazer a transferência e o pagamento. Então, a gente credenciava um corretor, ele saia no campo e voltava com a documentação e a gente fazia o pagamento para ele.
P/1 – E dava baixa naquele livro?
R – E dava baixa no livro. Aí ele voltava, a gente tinha que fazer a transferência, dando baixa no livro, e quitando para ele os valores que ele comprou.
P/1 – O que é que movia a empresa a comprar ações?
R – Porque quanto mais ela comprasse, maior seria a participação dela majoritariamente. Então quanto mais ela compra, mais força ela tem societariamente.
P/1 – E a senhora chegou a ir a campo fazer esse tipo de contato?
R – Não, eu só comprava mesmo dentro do setor. Só no departamento.
P/1 – Dentro do setor?
R – Eu coordenava a equipe, não é? Coordenava a equipe e comprava lá no setor mesmo.
P/1 – E o Dr. Luiz, por exemplo, acompanhava esse trabalho?
R – Quem acompanhava mais era o Sr. Alexandrino.
P/1 – O Sr. Alexandrino.
R – É. Mas o Dr. Luiz sempre acompanha.
P/1 – O Sr. Alexandrino cobrava resultado?
R – Cobrava. Cobrava, sempre cobrava.
P/1 – E a senhora cumpria as mestas que estavam estabelecidas?
R – Sempre cumprimos.
P/1 – Esse momento foi um momento também de expansão acelerada?
R – É, de expansão. Foi acelerando cada dia mais, foi aumentando cada dia mais a quantidade de acionistas e hoje, por exemplo, nós temos cento e oitenta e sete mil acionistas. Nós chegamos a ter isso, não é? Hoje está com cento e trinta e sete porque a recompra já conseguiu eliminar muitos.
P/1 – O teto de acionistas que a senhora se lembra é esse número, cento e oitenta e sete mil?
R – Na realidade, nós chegamos a ter duzentos mil acionistas. Hoje a gente tem cento e trinta e sete só. E está reduzindo cada dia mais porque a gente não parou de comprar ações.
P/1 – Quer dizer, essa compra ainda continua sendo estimulada de que forma?
R – Não, agora, hoje, nós já chegamos a... O capital da empresa está com 71% já. A Algar já possui, detém 71% do capital. Então, com esse percentual, já não é tão necessário colocar a equipe de compras de ações. Então, a gente compra só no setor mesmo, não tem mais a equipe. E hoje a gente trabalha só em três pessoas.
P/1 – E como é que é feito, digamos, o convite para a comprar? Como é que...
R – O acionista procura a empresa para receber dividendos ou pegar algum documento e a gente faz a oferta para ele.
P/1 – E como é que tem sido a receptividade?
R – É boa a receptividade. Eles sempre vendem, porque não é interessante para um acionista ter um valor mínimo de ações. Para ele é insignificante. Agora, para a empresa já é importante, não é?
P/1 – Quer dizer que esse processo vem, então, de muito tempo?
R – De muitos anos. Para a gente conseguir 70% do capital a gente compra ações desde que eu entrei no setor, desde 1974 nós compramos ações de acionistas.
P/1 – Agora, novas ações não são...
R – Agora, com a nova lei mudou, não é? Porque a empresa era obrigada a entregar ações em toda a aquisição de telefone. Como a lei mudou, agora não existem mais ações de telefone. Então, o processo agora é eliminar cada dia mais os acionistas minoritários.
P/1 – De todo o modo, o controle está garantindo...
R – O controle está garantido.
P/1 – Certo. A senhora tem alguma avaliação de como esse processo de recompra foi capaz de, por exemplo, alavancar o desenvolvimento da empresa ou se a empresa tornou-se mais enxuta e mais ágil para poder se expandir o quanto mais?
R – Bom, esse processo de recompra de ações foi muito importante para a empresa, principalmente na criação da Litel porque se a gente não tivesse esse percentual de ações não seria possível fundar a Empresa Litel, que hoje é a Algar Telecom. Então, essa alavancagem de recompra de ações foi a origem da empresa.
P/1 – Mas isso foi um plano traçado?
R – Foi estratégico. Foi um plano traçado, toda a estratégica da empresa.
P/1 – A senhora teria detalhes desse procedimento, como é que ele foi implantado?
R – Não, o Osório tem mais detalhe sobre isso.
P/1 – Quer dizer, houve uma determinação de recompra com esse objetivo?
R – É, com o objetivo de se expandir mais e criar uma empresa que pudesse jogar ações no mercado ou então conseguir parcerias de terceiros.
P/1 – A Litel funciona como uma holding?
R – É, é uma holding de telecomunicações.
P/1 – Só das telecomunicações?
R – É, só de telecomunicações.
P/1 – A idéia dos antigos planos de expansão era muito vinculada a essa ligação acionária com assinantes, não é?
R – Com assinantes. Porque todo o assinante que assinava um contrato com a empresa, ele tinha direito a ações. Vinculavam o telefone com ações. Então, essa pessoa que assinava o contrato direto com a concessionária, que era a CTBC, tinha direito de ações. Então, o número de acionistas foi crescendo muito e o serviço também. Até que hoje é tudo na informática, não tem nada manual.
P/1 – A senhora acha, quer dizer, avalia ou acredita que o fato de o assinante sempre ser o acionista, sempre tornar-se um acionista, acabou propiciando o crescimento da empresa, mesmo nos momentos de crise? Isso é correto pensar?
R – Creio. É correto. Mesmo nos momentos de crise foi bastante importante essa recompra de ações, certo? É importante não só porque o acionista minoritário só dá despesa para a empresa.
P/1 – Por que, hein?
R – Porque o cadastro fica muito grande, a distribuição de dividendos... Às vezes, distribui dividendos com o acionista minoritário que o dividendo que ele vai receber é só despesa para a empresa porque tem um valor tão mínimo de ações que não compensa você ter aquele acionista no cadastro. Então quanto mais pulverizado está o capital, mais despesa a empresa tem.
P/1 – E precisa ter correspondências legais?
R – Tem que ter correspondências legais porque... O minoritário não, porque o acionista que exige essa correspondência seria um acionista que participa acima de 5% do capital da empresa. E a gente não tem nenhum acionista que participa a esse nível. Só temos acionistas minoritários mesmo, valores mínimos. Mas mesmo assim, você tem que manter um cadastro dele e esse cadastro fica caro para a empresa.
P/1 – A senhora nunca teve problemas com acionistas minoritários?
R – É um setor muito difícil porque o dia a dia lá é isso, o acionista, às vezes, ele não aceita a quantidade de ações que ele possui, às vezes ele não aceita aqueles dividendos que eu estou pagando para ele. Então eles brigam, brigam muito, só que a gente tem que ter um jogo de cintura para poder convencer ele de que aquilo é a realidade. Mas a gente enfrenta muito problema nesse sentido.
P/1 – Nesse tipo de convencimento, fica por conta da senhora, da sua equipe?
R – Isso, da minha equipe.
P/1 – Isso não é uma questão jurídica, não?
R – Às vezes, até chegar ao ponto de jurídico, pode ser jurídico, mas quando ele parte para uma ação, não é? Mas, geralmente, a gente não deixa chegar a esse ponto.
P/1 – Que tipo de argumento é o argumento mais poderoso para convencer um...
R – Não, a gente tem que convencer ele de acordo com o que está na lei de S.A, né? Explicar direitinho como é feito porque tem telefones, por exemplo, existem muitos planos, que é o plano financeiro, que modifica a quantidade de ações. Porque, na realidade, o que o senhor recebe em ações é o que você pagou na empresa. Então, com os planos do Governo, essa quantidade de ações mudou muito. Tem telefone que deu onze ações, outros tem três mil, isso é de acordo com o que você pagou. Por exemplo, um telefone antigo, que foi capitalizado há muitos anos, tem mais ações. Por que? A CTBC, até 1980, ela distribuía ações bonificadas. Então, todo ano, além das ações que ele tinha, corrigia o capital dele com novas ações. A partir de 1980 para cá, essa distribuição foi modificada. Então, pela lei de S.A ela pode dar as duas... Você pode fazer das duas formas, ou aumentar com novas ações ou aumentar o valor. Aumentando o valor é menos... Financeiramente fica menos para a empresa. É mais favorável, mas o capital dele continua da mesma forma. Então, de 1980 para cá, a gente mudou essa distribuição. Em vez de distribuir novas ações, a gente aumenta o valor da ação. E o acionista que teve ações até 1980 sempre tem mais ações porque ele recebeu ações bonificadas. De lá para cá, ele só recebe o que ele pagou na empresa. Não tem bonificadas. E com os planos também, por exemplo, de 1986, houve muita mudança de moeda, houve deflação, e isso prejudicou na capitalização do valor que ele pagou na empresa. A gente tem muita, muita reclamação nesse sentido aí, nesse plano de 1986, que houve deflação e muita mudança de moeda. O valor que ele pagou foi descapitalizado e ele recebeu poucas ações. Nesse sentido aí, eu tenho muita reclamação.
P/1 – A senhora precisa explicar isso para ele, não é?
R – Tem que explicar para ele.
P/1 – A senhora falou uma coisa curiosa, em um momento, por exemplo, de um plano econômico como foi o Cruzado, em 1986, de repente desaba aquilo no seu processo de trabalho. Como adaptar rapidamente toda essa...
R – No processo em si não prejudica porque o que prejudica é na capitalização, quando vai transformar o valor em ações. Aí sim, porque tem que cortar a casa. Aí o transtorno ocorre. Mas, depois de capitalizado, vai para o meu setor, eu já não tenho transtorno porque o que ele recebeu é aquilo e pronto, certo?
P/1 – Essas ações mais antigas que a senhora se referiu, quer dizer, as que foram bonificadas antes de 1980, a gente ainda encontra por ai acionista de alguma relevância?
R – Encontra, porque quando o Sr. Alexandrino formou a empresa houve muitos subscritores de ações também. Então têm esses sócios subscritores e tem esses sócios que são referentes à expansão do telefone. Tenho muitos ainda.
P/1 – E esses sócios ainda mantém uma interlocução com a senhora, enfim, ainda procuram o seu setor?
R – Sempre.
P/1 – Que tipo de questão que é a mais comumente levantada?
R – Não, ele procura mais o setor, assim, para estar informado do que ele possui. Para pegar um extrato de ações, para receber dividendos, para receber os lucros que são distribuídos anualmente.
P/1 – Mas, esses lucros não são naturalmente distribuídos?
R – São, todo ano. Quando termina o balanço, vai apurar se a empresa deu ou lucro ou prejuízo. Geralmente, a CTBC, desde que eu entrei lá, toda a vida ela deu lucro. Todo ano é distribuído 25% do lucro líquido da empresa aos acionistas.
P/1 – E essa distribuição, a operação dessa distribuição é feita como?
R – É na proporção do número de ações que ele possui.
P/1 – Perfeito. E como é que é que esse assinante, ou esse cliente vai receber o dividendo?
R – Geralmente, quando é feita uma assembléia, convoca-se o acionista. Publicamos nos jornais de grande circulação da cidade e do Estado. Aí, nos colocamos à disposição dele. O acionista que se interessar, ele procura a empresa e a gente faz o depósito em conta bancária ou ele recebe pessoalmente no setor.
P/1 – E aquele que não procura?
R – Os dividendos, ficam à disposição do acionista durante três anos. Quando completa três anos, se ele não reclamar na empresa, prescreve a favor da própria empresa.
P/1 – Ah, sim. Não prescreve, digamos, em uma nova...
R – Não, não, em distribuição de ações não. Ele perde.
P/1 – E a senhora escuta muita reclamação por conta disso?
R – Às vezes sim.
P/1 – As pessoas não devem acreditar muito nisso aí não. (risos)
R – (risos) Tem que convencê-las.
P/1 – Perfeito. Como é que...
R – Mas, é, a gente explica, não é? Porque tem o estatuto da empresa em que rege os dividendos, fica à disposição durante três anos. A gente mostra o documento para ele, que a gente faz tudo em cima da lei de S.A. Então, ele tem que se convencer com aquilo. É uma lei.
P/1 – Certo. Até porque não seria muito plausível que tivéssemos uma assembléia com cento e trinta mil participantes, não é?
R – (risos) Geralmente, participam... Para realizar a assembléia precisa de, no mínimo, dois terços do capital votante. E a Algar tem isso. Então, ela não precisa de acionistas para realizar assembléia. Ela mesma faz assembléia sem eles, porque o capital dela é majoritário e já é possível para fazer esse tipo de coisa.
P/1 – A senhora convive... Convive talvez não seja o termo. A senhora tem acesso à documentação desses antigos acionistas? Essa documentação é...
R – Tenho. Os livros ficam todos no setor. Os livros de registro de ações, os contratos que foram assinados, todos ficam arquivados no setor de ações. Todos os contratos de aquisição de listas telefônica eu tenho o arquivo deles lá. Que geraram ações, não é?
P/1 – Isso é uma documentação que não pode ser descartada, não é?
R – Não, não pode.
P/1 – Quanto tempo ela precisa ser preservada?
R – Eu acho que é para sempre, porque o acionista está sempre procurando o que é dele, certo? E se o senhor não tem o documento para comprovar, aí fica difícil. Então, eu tenho, desde o início, os planos que foram vendidos desde de 1950... de 1954 até hoje eu tenho todos os arquivos. A documentação toda em arquivo. Meu arquivo é imenso.
P/1 – Essa idéia do plano de expansão foi uma coisa nascida aqui na CTBC, não foi?
R – Não, o plano de expansão ele é lei pela Telebrás. Obriga-se a entregar ações.
P/1 – Não, mas o que eu quero dizer é que a fórmula de se vender telefone, vinculando à ações...
R – A ações... É por lei.
P/1 – Mas, até onde eu sei, ou penso que sei, é que esse foi uma forma que o Sr. Alexandrino conseguiu de vender ações e capitalizar a empresa em um momento que ela estava...
R – Não, existe o subscritor de ações que ele faz uma subscrição de ações através dos recursos financeiros, certo? E existe o plano de expansão que são linhas telefônicas que foram vendidas em plano de expansão. Então, tem dois tipos. Tem o acionista subscritor, que ele injetou dinheiro na empresa, e tem o acionista que injetou dinheiro através da linha telefônica. Então tem os dois tipos, o acionista subscritor, que injetou dinheiro limpinho na empresa e tem aquele sócio que, através da aquisição da linha, teve-se a obrigatoriedade de capitalizar aquele valor em ações, através de normas e portarias da Telebrás.
P/1 – Certo. Eu imaginava que mesmo antes dessas normas da Telebrás o mecanismo, embora sem esse nome, plano de expansão, tinha sido adotado aqui.
R – Não.
P/1 – Mas, na verdade, eram ações subscritas neste momento?
R – É, quando a empresa formou, ela formou com capital subscrito, de ações subscritas, porque foram sócios que injetaram dinheiro. E aquele dinheiro que ele injetou foi transformado em ações.
P/1 – Eram quatro sócios principais, mas havia outros sócios?
R – Havia vários sócios. Quer dizer, o Sr. Alexandrino é um sócio que detém a maioria do capital, mas existem outros sócios que injetaram dinheiro.
P/1 – A empresa tinha, na época... A senhora não estava aqui, mas, de todo modo, se a senhora tiver informação sobre isso, tinha, na época, esse procedimento de ir e vender ações na rua, por exemplo?
R – O Sr. Alexandrino, quando ele comprou, porque eu ouço os acionistas contarem, porque naquela época eu não trabalhava na empresa ainda, mas os sócios subscritores contam que o Sr. Alexandrino chegava na casa deles e propunha para eles, para eles investirem na CTBC e que o valor que eles investissem seria capitalizado em ações. Então são esses sócios subscritores, mas o Sr. Alexandrino é que procurava ir atrás desse pessoal. Ele mesmo.
P/1 – Esses sócios são em grande número?
R – Não, hoje não porque a maioria já transferiu para herdeiros, que é coisa antiga. Então, o que existe hoje de sócio subscritor é um valor mínimo, não chega nem 5% do capital da empresa.
P/1 – Esse 5% estaria dividido em quantos sócios aproximadamente?
R – Aproximadamente ainda deve ter uns cem sócios, por aí. No mínimo.
P/1 – São esses que são, digamos, as pessoas que procuram com mais frequência o seu setor?
R – Hoje em dia com... Antigamente as pessoas não tinham muito esclarecimento sobre ações. À medida que foi esclarecendo, hoje em dia as pessoas são mais esclarecidas, hoje em dia a procura é bem maior do que tempos atrás.
P/1 – A senhora acredita que a gente tenha um mercado de capitais suficientemente ágil para poder suportar uma capitalização de uma empresa do porte como essa, por exemplo, se de repente tiver um projeto em andamento?
R – Eu creio que sim.
P/1 – A companhia vai para a bolsa também para negociar na bolsa?
R – Não, a companhia, ela... Com essa compra de ações, ela, então, criou a Algar Telecom com o objetivo de capitalizar recursos fora. Então, a Algar Telecom que é a empresa de capital aberto, certo? A CTBC em si não. Ela é empresa de capital fechado.
P/1 – Qualquer recurso que eventualmente precisa...
R – Tem que ser através da Algar Telecom, que ela que faz o contato com os acionistas, os parceiros-sócios, né? Então, é através... Indiretamente, é através da Algar Telecom.
P/1 – Essa estrutura que está montada hoje de captação de recurso, é isso?
R – É, a captação de recursos hoje é através da Algar Telecom. Foi criada justamente para esse objetivo.
P/1 – A senhora, durante todo esse tempo na CTBC, quer dizer, passando da caneta tinteiro até o microcomputador que a senhora deve trabalhar hoje, esse processo agilizou, suponho, muito o seu trabalho, o seu acompanhamento do trabalho?
R – E como!
P/1 – E a senhora disse que não teve... A senhora me disse que não teve muita dificuldade em acompanhar tudo isso, não é? Como é que a senhora olha para trás hoje? Quer dizer, a senhora tem alguns anos de companhia e já passou por boas experiência aqui. Como é que a senhora vê esse desenvolvimento, como a senhora avalia isso o que faz agora?
R – Você sabe que eu olho para trás até com um certo orgulho porque as coisas eram feitas com muita dificuldade. Então hoje as coisas são feitas com muita facilidade, certo? Antigamente as coisas, todo o serviço que você fazia tinha muita dificuldade em fazer porque era muito trabalhoso. E hoje não, hoje é mais fácil. É bem mais fácil você sentar em um microcomputador, e só apertar um botão e já solta tudo o que você precisa. Antigamente não. Para você fazer um processo hoje... igual antigamente, se eu fosse fazer uma compra de ações antigamente eu tinha que pegar um arquivo, olhar a cautela, pegar um livro, transcrever tudo aquilo em um livro, pegar a assinatura e fazer uma porção de processos, tudo manual, que em média demoraria uma meia hora ou mais. Hoje é só eu clicar um botão lá, está tudo pronto. Quer dizer, a facilidade é imensa, certo? É uma coisa assim que a gente tem que ter orgulho, né? Porque a evolução nos ajuda muito.
P/1 – Perfeito. É uma facilidade de um lado, mas também precisa de uma inteligência atrás dessa máquina, não é?
R – É claro. (risos) Porque se o senhor tecla um botão lá errado está tudo errado. Mas a gente está preparado para isso. Eu acho que a gente tendo... Eu acredito assim, que se a gente tem força de vontade, a gente consegue tudo na vida. Basta a gente ter força de vontade.
P/1 – Está certo. Mas, nós estamos falando muito da trajetória da senhora. E a sua vida familiar, pessoal, a senhora casou-se, teve filhos?
R – Não, eu não casei. Eu vivia... Praticamente, eu era a pessoa que cuidava da família, certo? Porque a minha mãe, depois que o meu pai morreu, os meus irmãos casaram, aí era eu e minha mãe. Depois, minha mãe faleceu, aí eu peguei uma filha para criar, adotei uma criança. E hoje vivo eu e ela. Ela tem 14...
P/1 – Como é o nome dela?
R – Pauliana de Araújo Almeida. Hoje ela tem... Eu peguei ela, ela tinha dois anos. Hoje ela tem 14 anos.
P/1 – E o cotidiano da senhora hoje, como é?
R – Eu levanto cedo, vou para o trabalho, levo a criança na escola na hora do almoço. À tarde eu chego, vou para a igreja. Meu cotidiano é esse: é de casa para o serviço, do serviço para casa, de casa para a igreja, da igreja para casa.
P/1 – E na igreja que tipo de atividade a senhora exerce?
R – A gente faz muitas visitas às pessoas carentes, procura ajudar as pessoas que têm necessidade, esse tipo de coisa. A gente faz oração pelas pessoas que estão doentes. Então, esse tipo. É muito gratificante esse trabalho na igreja.
P/1 – A igreja, como é que chama?
R – Eu sou da Igreja Universal do Reino de Deus.
P/1 – A senhora... Como é que foi essa sua transição da CTBC para a Algar?
R – É porque a CTBC, à medida que foram expandindo as empresas do grupo, cada um foi para um lugar, certo? É porque quando a gente foi para o Industrial, o setor Industrial, lá funcionava o escritório de todas as empresas do grupo. Depois, com a expansão, o ambiente foi ficando difícil e não tinha mais condição de suportar todas as empresas. Com a evolução também da diretoria, eles exigiram que cada empresa tivesse o seu lugar e não fosse mais centralizado lá na Algar. Então, na época, a gente estava lá na Industrial e a CTBC já tinha tirado de lá o ambiente de trabalho, já tinha voltado para o prédio da 232, então exigiu que a gente fosse para lá. Só que foi para lá e ficou só um tempo lá e o Dr. Luiz não aceitou que esse departamento ficasse fora da Algar porque o serviço em si não é só o serviço da CTBC. Eu controlo todo o controle acionário do Grupo, não só ações da CTBC. Eu faço a parte acionária do Grupo todo. Então, o Dr. Luiz achou que esse departamento tinha que ficar na Algar e não na CTBC. Foi aí que a gente se transferiu. Eu fui transferida para a Algar Telecom e fizeram a rescisão na CTBC. Só que o trabalho que eu faço é 100% da CTBC.
P/1 – Só tem da CTBC, não?
R – Não.
P/1 – Das outras empresas do Grupo?
R – Todas as empresas do Grupo eu faço, mas as empresas do Grupo, a maioria dos acionistas, são todos mesmo do Grupo. Então, o que tem mais acionistas particulares só a CTBC.
P/1 – Mas, a senhora trabalha com uma equipe?
R – Trabalho com dois funcionários só.
P/1 – Que a senhora lidera?
R – Não, nós temos a coordenação. A coordenação é a Maria de Fátima Ramos. Mas o setor fica em uma sala separada da coordenadora e lá no setor quem coordena sou eu.
P/1 – A senhora diria, veja se eu estou certo, que agora o trabalho é apenas de controle?
R – É, apenas de controle.
P/1 – Saber a quantas anda os mecanismos de recompra e como está a distribuição acionária das outras empresas, é isso?
R – É isso. À medida que é feita uma ata, aumenta o capital, a gente atualiza o capital. Mas tudo é através da informática. Então, por isso a gente trabalha só em três pessoas, porque o trabalho hoje é bem automatizado e não tem necessidade de ter mais que três pessoas.
P/1 – Com essa história que a senhora tem na companhia, de vez em quando não lhe passa pela cabeça: “Puxa vida, se eu tivesse que fazer isso aqui no manual”?
R – Ah, passa. Com certeza.
P/1 – Ia ser um pequeno caos, hein?
R – (risos) Hoje não teria condição, viu?
P/1 – Dona Iolanda, a senhora tem sonhos, assim? O que a senhora sonha? Que projetos, que sonhos a senhora tem para frente?
R – Bom, na minha idade já não tenho tempo, assim, de ter muitos sonhos, mas a minha vontade é trabalhar em prol dos meus irmãos, é ajudar as pessoas que necessitam de mim. O meu sonho é esse. É poder ser útil às pessoas com quem eu convívio.
P/1 – É um belo sonho! E a CTBC? A senhora que tem tanta história aqui, como é que a senhora pensa que isso vai evoluir? Em que direção essa companhia vai evoluir?
R – Hoje em dia está muito difícil de citar isso porque a concorrência está muito grande, né? Acho que a gente está vivendo uma época de muita transição. A concorrência está muita, as pessoas... Nós estamos tentando fazer o possível de superar isso, mas fica uma coisa assim muito difícil de ter uma certeza disso, tá? Porque a concorrência é muita.
P/1 – Certo, mas a senhora...
R – Mas, eu creio que o Grupo está preparado para isso.
P/1 – A senhora tem confiança nesse futuro?
R – Eu tenho confiança.
P/1 – Está bem, dona Iolanda. Eu estou satisfeito. A senhora teria alguma que gostaria de ter dito e que não disse?
R – Não, creio que não.
P/1 – O que a senhora achou de dar esse depoimento para nós?
R – Achei normal. Para mim...
P/1 – Mas foi bom?
R – Foi bom, foi interessante. É bom a gente passar o pouquinho que a gente sabe para alguém. O conhecimento da vida porque na realidade o conhecimento cultural eu não tenho, mas eu tenho a prática da minha vida, conhecimento do dia a dia.
P/1 – Isso serve muito, a senhora não sabe o quanto serve! A senhora não imagina o quanto isso pode ser útil para as pessoas.
R – Obrigada.
P/1 – Também muito obrigado, viu?
R – Espero que tenha colaborado com alguma coisa.
P/1 – A senhora pode ter certeza que contribuiu muito. Foi muito bom ouvir a senhora, porque é de uma área, uma área sobre a qual a gente só conversou com o Dr. Sátiro, que ele também deu um depoimento para nós, mas foi uma coisa meio en passant. Quer dizer, sobre essa questão acionária propriamente dita, ele falou sobre, mas falou já nos tempos heróicos, lá dos anos 1950, 1960. Agora, a gente, com a senhora, conseguiu ter uma visão. Ilustra um pouco tudo isso. Ilustra tudo isso.
(fim da entrevista)
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