Meu nome é Ademir Laurentino dos Santos Estevão, eu nasci em Diadema em 1974.
Houve umas complicações no passar dos anos. O meu pai era Mestre de Obras e ele trabalhava muito bem nessa época, não porque ele era meu pai, mas, isso foi comprovado que ele trabalhou muito tempo com o Tio Antonio.
Nessa época, o Antonio não era bem um Mestre de Obras ainda.
Eles trabalharam, fazendo o Banco Francês Brasileiro em Piracicaba, onde tinha um vizinho também que era Mestre de Obras, e por inveja contratou uns pistoleiros pra matar meu pai. Por esse motivo à gente teve que ir embora daqui de São Paulo.
Viajamos em 1980 pra lá, aonde nós fui pra um lugar onde as pessoas não têm nenhuma perspectiva de vida. Quem conseguir alguma coisa na vida, tem que realmente batalhar muito, ser muito guerreiro, porque se não.., não consegue. É um sofrimento muito grande, por causa disso as pessoas imigram pro Sul, pra ter uma condição de vida melhor.
Aos meus sete anos de idade, eu fui embora daqui, pra lá. Fui muito difícil pra me habituar, num lugar aonde eu não conhecia. Trabalhar na roça e começou aquele sofrimento.
Foram dezesseis anos, meu pai também era um homem muito ignorante, bebia muito, judiava muito com a gente, não queria que a gente praticasse esporte, porque falava que esporte era coisa de maloqueiro de vagabundo.
Mas, mesmo assim eu sempre fui apaixonado por um esporte, que é o futebol. Eu me identifico muito. Parei de jogar porque eu tive que fazer uma cirurgia, quando eu vim pra São Paulo. Mas eu gosto muito de futebol e eu ia contra ele com isso.
Depois não deu mais certo, porque eu sofria muito em casa. Eu trabalhava com ele e quando chegava o final de semana, ele não me dava nem um tostão nem pra eu comprar um chinelo pra mim, nem um sapato, nem uma roupa.
Eu via meus coleginhas indo pras festinha, pros cultos, eu não tive nenhum incentivo dele e nem da parte da minha mãe também. Quando foi pra fazer minha...
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Meu nome é Ademir Laurentino dos Santos Estevão, eu nasci em Diadema em 1974.
Houve umas complicações no passar dos anos. O meu pai era Mestre de Obras e ele trabalhava muito bem nessa época, não porque ele era meu pai, mas, isso foi comprovado que ele trabalhou muito tempo com o Tio Antonio.
Nessa época, o Antonio não era bem um Mestre de Obras ainda.
Eles trabalharam, fazendo o Banco Francês Brasileiro em Piracicaba, onde tinha um vizinho também que era Mestre de Obras, e por inveja contratou uns pistoleiros pra matar meu pai. Por esse motivo à gente teve que ir embora daqui de São Paulo.
Viajamos em 1980 pra lá, aonde nós fui pra um lugar onde as pessoas não têm nenhuma perspectiva de vida. Quem conseguir alguma coisa na vida, tem que realmente batalhar muito, ser muito guerreiro, porque se não.., não consegue. É um sofrimento muito grande, por causa disso as pessoas imigram pro Sul, pra ter uma condição de vida melhor.
Aos meus sete anos de idade, eu fui embora daqui, pra lá. Fui muito difícil pra me habituar, num lugar aonde eu não conhecia. Trabalhar na roça e começou aquele sofrimento.
Foram dezesseis anos, meu pai também era um homem muito ignorante, bebia muito, judiava muito com a gente, não queria que a gente praticasse esporte, porque falava que esporte era coisa de maloqueiro de vagabundo.
Mas, mesmo assim eu sempre fui apaixonado por um esporte, que é o futebol. Eu me identifico muito. Parei de jogar porque eu tive que fazer uma cirurgia, quando eu vim pra São Paulo. Mas eu gosto muito de futebol e eu ia contra ele com isso.
Depois não deu mais certo, porque eu sofria muito em casa. Eu trabalhava com ele e quando chegava o final de semana, ele não me dava nem um tostão nem pra eu comprar um chinelo pra mim, nem um sapato, nem uma roupa.
Eu via meus coleginhas indo pras festinha, pros cultos, eu não tive nenhum incentivo dele e nem da parte da minha mãe também. Quando foi pra fazer minha primeira comunhão, eu tive que tomar iniciativa, procurar uma pessoa da catequese, e aprender o catecismo, fazer a primeira comunhão.
A roupa eu tomei emprestado no colégio, porque na época ele não comprava, eu não tinha condição, também ele não me dava dinheiro.
Fiz a primeira comunhão, e as pessoas sempre acreditavam em mim, mas um lugar difícil, a pessoa não dá oportunidade pra você, e quando eu tava na minha idade de 17 anos, eu conheci um pessoal que trabalhava com eletricidade.
E, eu comecei a ajudar eles, voluntário, não tava nem pensando que ia ganhar dinheiro.
Porque, a gente passou esse tempo todinho lá, não tinha energia. Quando a gente viu o pessoal vindo por energia na zona rural, a gente ficou muito contente com aquilo, e os meus colegas falavam pra mim: “Nossa Olha lá o tolo, o trouxa, os cara ta lá ganhando o salário deles, e ele não ta ganhando nada.”
Ai, o encarregado da obra ouviu essas conversas, e a minha casa também tava numa situação, que só tinha arroz e feijão, não tinha mistura. Eu aproveitava também pra almoçar lá, porque o serviço era pesado.
Aí, o encarregado perguntou pra mim, se eu queria seguir eles e trabalhar com eles, e eu falei que queria.
Nossa Aquilo pra mim foi... Aquilo caiu do céu, eu tinha muita força de vontade de aprender, aí comecei a trabalhar com eles. Já na mesma semana eles fizeram um vale pra mim de cinqüenta reais, eu nunca tinha pegado numa nota de cinqüenta reais.
Peguei a nota de cinqüenta reais, fiquei louco. Já comprei uma chuteira pra mim, também nunca tinha calçado uma chuteira com meu próprio dinheiro. Era no tempo de política que dava uma chuteira pra nós.
Aí, eu fui lá e comprei com o meu dinheiro. Ajudando em casa também. Meu pai sofreu um acidente, quebrou uma perna e fraturou três costelas, e eu fiquei sendo o dono de casa durante três anos.
A partir daí, eu passei trabalhando com esse pessoal, o encarregado viu que eu tinha muita força de vontade, que eu subia nos postes, ele falava: “O seu serviço não é subir nos postes, é cavar buraco, e carregar poste pesado no meio do mato.” E, foi àquela coisa toda.
Mas, eu sempre fui muito teimoso, eu admito isso, até hoje eu sou teimoso eu quero fazer a coisa. Às vezes até eu saio atropelando as pessoas, depois eu me arrependo do que eu faço.
Com essa minha teimosia toda, ele viu que eu tinha muito interesse, e falou: “Oh Eu vou te ensinar.”
Primeiro, ele ensinou como era que ligava os transformadores, depois ele ensinou montar, e o meu salário depois aumentou. A remuneração melhorou, eu sempre trabalhando e confiando.
Aí, comecei a ter uma perspectiva de vida. Só que o dono da firma, largou da mulher. Esses homens que larga da mulher, geralmente a maioria fica meio bobo, quando se apaixona por outra.
E, acabou dando fim a tudo, começou a atrasar os pagamentos, eu falei agora já era. Tinha três meses de serviço pra receber, eu tinha mil reais pra pagar em Venda. Que eram de coisas pra pagar, que eu comprava pra minha família comer em casa, e alguma coisa que eu comprava pra mim.
Eu não tinha condições, aonde que eu ia tirar mil reais, naquela época? Só que eu sempre guardava um dinheirinho, eu comprei uma vaca, que lá a gente tem um sítio. A vaca tava embezerrada, e tinha uma bicicleta minha.
Aí, eu telefonei pro Tio Antonio aqui, ele falou: “É meu filho, vem pra cá Só que aqui também a coisa não anda muito, aquelas coisas. Emprego aqui ta difícil, mas a gente dá um jeito.”
Ai, eu vendi minha vaca e a bicicleta, paguei a conta que tinha, tudo pra não sair do lugar, e as pessoas me odiando, eu não gosto dessa coisa de ficar devendo, enganar as pessoas. E, vim embora pra São Paulo.
Chegando aqui eu trabalhei durante três meses, com Antonio.
Foi aonde eu vim trabalhar, lá na chácara com o Gregory. E, o Gregory queria dar um serviço lá pro meu irmão, só que ele deu umas regras lá pra ele, e o meu irmão é muito ignorante também, não aceitou.
Foi aí que o Antonio falou pro Gregory pra ele falar comigo, e eu na hora já aceitei o serviço. Quando eu saí de lá, eu tinha ficado noivo com a dona Maristela, e a minha perspectiva era casar. Aí, eu comecei trabalhando, mas não tinha na minha cabeça essa coisa de serviço social.
Mesmo porque eu nunca tinha me envolvido com isso. E, demorou muito tempo pra eu me habituar aos meninos, a cultura, que eu fui criado totalmente diferente.
Tinha hora que eu ignorava o temperamento deles, o comportamento. Foi muito difícil, e eu fui me acostumando
Trabalhando na chácara, durante esses anos, aí eu voltei lá pro norte, casei com ela, a Maristela.
Voltei pra cá, e a gente veio morar aqui, mas sempre tendo aquela coisa na cabeça, puxa vida meu, a gente batalha tanto na vida, e eu nunca pensava que a minha família ia ficar assim, desestruturada. Na realidade, eu sou o único na família que pra mim tudo que aconteceu, eu ainda me safei, por muitas coisas que aconteceu.
Andei no mundo, por onde andei as pessoas gostaram de mim, eu nunca usei droga, mas aí já teve o caso de pender pro outro lado, que é outra droga também na vida da gente, que é essa coisa da pinga, sabe?
E, a gente só amadurece, como adulto, como profissional, uma pessoa de bem, quando a gente admite que a gente erra. Só que é uma coisa simbólica, se você não admite que erra, você não vai chegar a lugar nenhum. Mas eu abri os olhos, e vi que isso não adianta, eu tenho que tomar um rumo na vida.
Eu já tenho um filho, um filhinho. Eu tenho que mostrar pra ele também, eu não quero dar pra ele a criação que eu recebi, que foi muito difícil.
O que eu passei, durante todos esses anos não foi fácil. Você ter que chegar em casa, e ter que dormir no mato, porque tem um homem violento dentro de casa.
Querendo matar todo mundo, às vezes sem motivo, e eu depois de tudo isso pensei assim: puxa vida, será que eu vou ao mesmo caminho dele?
Aí, é onde você tem que abrir os olhos. Às vezes, você ta vendo uma pessoa errar, você ta tornando o erro daquela pessoa. Você ta fazendo a mesma coisa também. Então, você é marionete dele. Você é a mesma coisa dele.
Mas, eu tenho estrutura pra isso. Eu sei que eu posso fazer a mudança.
Agora eu voltei a estudar de novo, depois de 15 anos. Que eu praticamente fui tirado da escola. Meu pai me tirou, quando era dia de ir pra escola, ele não deixava, ele falava que eu não comia de escola, o mais importante era ir colher a lavoura lá na roça.
Teve caso de professora vim lá em casa, e pedir pra ele deixar eu voltar pra escola. E, ele falar pra professora, que eu não me alimentava de escola. E, depois de passar tanto tempo, eu aprendi alguma coisa à noite. Fui crescendo, e lá não tinha essa coisa, acesso a ônibus grátis, coisa nada.
Ir daqui para o centro de Diadema, pra uma escola de noite, atravessando mato, chuva e tudo, muito difícil.
Então, com tudo isso, ainda conseguiu aprender alguma coisa, aprendi assinar o meu nome, eu fiquei assim, tipo com um trauma, puxa vida, tanto que eu queria estudar.
P. –Qual é seu maior sonho?
R. –Ser uma pessoa estudada, às vezes eu comentava em casa, os meus primos aqui em São Paulo, eles estudavam, e eu estudava.
O meu maior sonho é um dia no futuro implantar um projeto social na minha comunidade, onde eu fui criado, só eu sei o que a gente passou.
P. –Uma característica de empreendedor que você tenha desenvolvido?
R. –A minha característica é compromisso, né? Eu tenho um compromisso, eu sei que eu tenho, eu não posso faltar com o meu compromisso, e eu sei que ta me esperando, eu gosto de ser pontual nisso daí
E, a ação também, né? Ter ação pra fazer as coisas, sem ação a gente não é nada. A participação... Às vezes no grupo as pessoas falam: “Você não participa”
De uma forma diferente eu participo. Tem coisas aqui, que às vezes eu fico esperando, uma pessoa tomar iniciativa, porque não é toda hora que você fica pedindo pra uma pessoa te ajudar.
E, o respeito com as pessoas, entendeu? O respeito a gente tem que colocar em primeiro lugar. Porque uma pessoa que não tem respeito, ela não é respeitada de forma nenhuma, e em nenhum lugar.
P. –E qual é a característica que você tem que desenvolver mais?
R. –A mobilização. Eu tenho uma certa dificuldade de mobilizar as coisas, as pessoas. Por exemplo: o meu pessoal, mobilizar, fazer uma excursão. Eu tenho muita vontade de mobilizar. Você mobilizando, você pode ser um líder, entendeu? Se você não tem capacidade de mobilizar, você nunca consegue ser um líder.
A confiança. Confiar numa pessoa, eu confio até a morte, agora se eu desconfiar, eu tenho que ver, o que ela realmente faz, pra eu poder confiar, sempre fico com o pé atrás. Eu nunca vou de uma vez, sem saber o que é que é
P. –E qual é a sua função aqui no espaço?
R. –A minha função no Espaço Cultural Beija-Flor é zelar pelo Espaço, ajudo o Reginaldo e o Ronito a dar aulas de Futebol, às vezes faço umas compras, cuido do campo, e é isso.
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