No auge da minha pré-adolescência, com 13 para 14 anos de idade, meu pai reuniu a família para dar duas impactantes notícias. A primeira: “- Vamos mudar desta casa para um apartamento em um bairro melhor!”. E a segunda:“- A partir de agora teremos dívida do novo imóvel e condomínio. Por conta disso, acabou a mesada, festinhas e passeios. Entenderam?! Espero não ter que ficar lembrando vocês disso.” Acontece que essa fase da vida para uma jovem é tudo muito urgente, dramático e intenso. E ao fazer novos amigos na vizinhança surgiu também aquela vontade de querer ter coisas de menina moça vaidosa e curiosa: roupas, maquiagem, bijouterias, revistas e passeios. Mas não havia dinheiro pra nadica de nada e, obviamente, nem adiantava pedir. Concluí que só trabalhando resolveria aquele grande problema em minha vida. E depois de muito analisar, “curiar” e pensar em como alcançar meu objetivo, convenci meu pai a pagar um curso de datilografia. Afinal, curso podia mas trabalhar, não. Só depois que terminasse os estudos. Ao chegar no tal curso, me deparei com uma das cenas mais deslumbrantes que já tinha visto até então. Era lindo e mágico ver aquelas secretárias datilografando à máquina sem olhar para as teclas. Eram de uma elegância sem fim com aquela postura ereta e ao mesmo tempo delicada. Eu me via ali, daquele jeitinho. O conjunto da obra era tão encantador que até loira, magra e com óculos, eu me imaginava. Mas, como toda Cinderela, fui despertada do meu sonho. No meio do curso o sapo (ops!), o diretor da escola me chamou para um conversa e com toda sua objetividade e pragmatismo me convidou a sair da escola. O motivo?! Pelo simples fato de já ter danificado sete máquinas por não ter o cuidado suficiente ao usar a alavanca que era acionada para mudar o parágrafo na folha. Como obedece quem tem juízo, lá fui eu seguir meu destino apesar de extremamente incomodada, destruída por dentro e sem a...
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No auge da minha pré-adolescência, com 13 para 14 anos de idade, meu pai reuniu a família para dar duas impactantes notícias. A primeira: “- Vamos mudar desta casa para um apartamento em um bairro melhor!”. E a segunda:“- A partir de agora teremos dívida do novo imóvel e condomínio. Por conta disso, acabou a mesada, festinhas e passeios. Entenderam?! Espero não ter que ficar lembrando vocês disso.” Acontece que essa fase da vida para uma jovem é tudo muito urgente, dramático e intenso. E ao fazer novos amigos na vizinhança surgiu também aquela vontade de querer ter coisas de menina moça vaidosa e curiosa: roupas, maquiagem, bijouterias, revistas e passeios. Mas não havia dinheiro pra nadica de nada e, obviamente, nem adiantava pedir. Concluí que só trabalhando resolveria aquele grande problema em minha vida. E depois de muito analisar, “curiar” e pensar em como alcançar meu objetivo, convenci meu pai a pagar um curso de datilografia. Afinal, curso podia mas trabalhar, não. Só depois que terminasse os estudos. Ao chegar no tal curso, me deparei com uma das cenas mais deslumbrantes que já tinha visto até então. Era lindo e mágico ver aquelas secretárias datilografando à máquina sem olhar para as teclas. Eram de uma elegância sem fim com aquela postura ereta e ao mesmo tempo delicada. Eu me via ali, daquele jeitinho. O conjunto da obra era tão encantador que até loira, magra e com óculos, eu me imaginava. Mas, como toda Cinderela, fui despertada do meu sonho. No meio do curso o sapo (ops!), o diretor da escola me chamou para um conversa e com toda sua objetividade e pragmatismo me convidou a sair da escola. O motivo?! Pelo simples fato de já ter danificado sete máquinas por não ter o cuidado suficiente ao usar a alavanca que era acionada para mudar o parágrafo na folha. Como obedece quem tem juízo, lá fui eu seguir meu destino apesar de extremamente incomodada, destruída por dentro e sem a menor coragem para informar o ocorrido para o principal investidor (meu pai). Apesar de tudo, eu ainda assim continuava obstinada em alcançar meu intento e não desistiria de aprender a mágica da datilografia e conseguir um emprego. Eu não tinha mais a máquina para praticar mas já tinha adquirido conhecimento suficiente para saber exatamente a posição das teclas. Como único recurso para praticar, eu simplesmente comecei a dedilhar no ar e em pensamento absolutamente tudo o que eu lia e ouvia. Foi com essa minha única qualificação (e sem certificado) mas com notório saber, que tomei coragem e fui à uma agência de empregos e no mesmo dia fui contratada para trabalhar na recepção de um escritório de arquitetura. A partir dali a euforia tomou conta de mim. Era alegria e medo ao mesmo tempo. O medo foi me consumindo até chegar em casa. O que vou dizer para o meu pai agora?! Ao dar a notícia meu pai logo foi discordando, mas já era tarde. Eu já até me sentia adulta e disse: “- Pai, não posso desistir. Fiz a entrevista e já me comprometi. O senhor precisa ir lá assinar os papéis.” Percebendo minha determinação de típica capricorniana (cabra subindo a montanha), ele acabou concordando. Mas sob a condição de que meu rendimento nos estudos não sofresse nenhuma queda. E foi assim que fui passando como exímia datilógrafa pela máquina de escrever manual, depois a elétrica, a eletrônica, até chegar no macio teclado do computador onde magicamente a alavanca se transformou em uma singela e delicada tecla Enter. Andreia Lima
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