Entrevista de Natália Evelyn dos Santos
Entrevistada por Lila Schnaider, Giovana Capeloci e Cristina Santos
São Paulo e Barra Bonita, 18/11/2021
Projeto: Todo lugar tem uma história para contar - Barra Bonita
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: PCSH_HV1114
P/1 - Oi Natália, tudo bem?
R - Oi, tudo bem. E você?
P/1 - Tudo. Então vamos começar. Pode começar falando seu nome completo, local e data de nascimento.
R - Posso sim. Eu sou a Natália Evelyn dos Santos, tenho 33 anos, sou de Barra Bonita São Paulo.
P/1 - Qual o nome dos teus pais?
R - Meus pais são Nilce Piolli dos Santos e Adão Aparecido dos Santos.
P/2 - E eles faziam o que, ou faziam o que quando você era pequena?
R - Meu pai era funileiro e pintor e minha mãe trabalhou muito tempo em cerâmica, na Barra tinha bastante cerâmica.
P/1 - Fazendo o que de cerâmica?
R - Tirando telha, essas coisas.
P/2 - E você sabe a origem dos teus pais?
R - A minha avó é de origem cabocla e o do meu pai é italiano.
P/1 - E eles traziam os costumes das origens deles para a família quando vocês eram pequenos?
R - Não, que me lembre não.
P/2 - O que vocês costumavam fazer quando eram pequenos?
R - Então, como eu nasci com uma deficiência, a deficiência chamada Artrogripose, a minha infância, desde o meu nascimento até os meus sete anos de idade foi muito em hospital e cirurgias, mas eu brincava nas horas vagas, eles brincavam comigo, eu estudava.
P/1 - Você ouvia histórias? Eles te contavam histórias?
R - Sim, eles contavam. Assim, histórias de desenho, essas coisas.
P/1 - Tem alguma estória que você se lembre, que você gostava de ouvir?
R - Eu sempre gostei muito de desenho, então eu gostava de... A minha infância foi muito de ursinhos carinhosos que eu gostava bastante, pica-pau, desenhos assim eu gostava, histórias assim. Chapéuzinho Vermelho...
P/2 - E quais eram as brincadeiras que você gostava?
R - Eu brincava bastante de boneca, eu demorei muito pra andar então eu não me locomovia muito, então eu tenho lembrança que eu brincava muito de boneca sentadinha no chão, no sofá, brincava de bola com a minha irmã, ela sentava de frente comigo e jogava a bola no chão. Brincadeiras assim de não se locomover muito.
P/1 - Você tem quantos irmãos?
R - Eu tenho mais dois irmãos. Uma irmã e um irmão.
P/1 - Como eles se chamam? O que eles fazem?
R - O meu irmão é Pizzaiolo, é o Marcio. E a minha irmã é a Priscila, hoje ela é mãe e dona de casa também.
P/2 - E como foi a infância de vocês?
R - Era uma infância bem tranquila, eu ia pra escola, sempre fomos muito unidos, um sempre ajudou o outro. Eu, por ser a caçula, eles sempre tiveram um cuidado redobrado em cima de mim, então foi bem tranquilo assim mesmo. A gente brincava bastante, nunca teve brigas, éramos bem unidos, até hoje somos bastante unidos.
P/1 - Como era a escola? A tua primeira escola, o que você se lembra?
R - Quando a gente fala de escola eu tenho lembranças, primeiro de algo não muito legal porque eu passei por muito preconceito para conseguir estudar em uma escola pública. Meus pais sempre falavam que eu fui uma das primeiras crianças aqui da minha cidade que conseguiu ser matriculada em uma escola pública, por conta da minha deficiência, eles queriam que eu estudasse em uma escola especial. Então meus pais tiveram que brigar na justiça para que isso acontecesse, mas depois de matriculada, a gente se sente normal, igual aos outros. Eu tinha meus amiguinhos, dava até briga porque todos queriam ficar do meu lado, nunca me excluíram depois disso, sempre me incluíram em tudo, foi mais esse episódio mesmo do início da escola.
P/1 - Você quer falar mais um pouquinho do que aconteceu, do que você tem?
R - A minha deficiência. Eu tenho uma deficiência chamada Artrogripose, ela limita os membros superiores e os membros inferiores, então eu não tenho movimento nas mãos e tenho poucos movimentos nas pernas. Hoje eu me locomovo, eu ando tudo certinho, mas eu demorei muito tempo a andar, comecei andar com quase seis anos de idade, e os médicos diziam que eu não iria andar, então com quase seis anos de idade eu comecei a andar. É uma doença congênita, de nascença, antigamente os médicos diziam que era por conta de tipo sanguíneo entre meu pai e minha mãe que dava a partir do terceiro filho, eu sou a terceira, então os médicos diziam que era por conta disso.
P/2 - Me conta um pouco de como foi esse teu esforço pra conseguir andar. O que você se lembra?
R - Eu começo a ter lembranças com aproximadamente, de quatro pra cinco anos. Eu tenho dezessete cirurgias por todo meu corpo, desde bebezinha eu tenho cirurgias, para melhora, porque eu nasci com minhas pernas dobradas, então não tinham movimentos, não tinha nada, era bem atrofiado mesmo. Então foi muita cirurgia, muita fisioterapia, hidroterapia, comecei andar com andador para depois conseguir andar sem o apoio dele. Aquelas botas que iam até o joelho com velcro, andei muito tempo com aquelas botas também. Essa é a lembrança que eu tenho de como eu consegui começar a andar.
P/2 - Você por acaso se lembra da primeira vez que conseguiu dar um passo, como que foi?
R - Quando eu consegui dar um passo eu lembro, eu estava com andador, daqueles andador de ferro mesmo, eu estava com ele e com a ajuda dos meus pais, antes disso eu não conseguia. E foi uma felicidade porque os médicos sempre falaram que eu não iria andar, então com quase seis anos eu comecei a dar meus primeiros passos depois de muita cirurgia, mas eu lembro.
P/2 - O que mais você se lembra dessa fase, dos seus pais e amigos. Como era a sua relação com os amigos? Eles participavam desses momentos?
R - Meus pais, me lembro que eles sempre me apoiaram em tudo. Hoje meu pai já não é vivo, minha mãe é e ela também me apoia em tudo, e eles sempre me apoiaram em tudo, pra tudo. Se eu quisesse ir pra algum lugar. Tive muitos amigos na época de escola, fiz bastante amizade, todos me ajudavam, não tinha preconceito, é o que eu falo, preconceito, às vezes, vem mais da parte adulta porque a criança é inocente, ela não vê o preconceito. As crianças da minha idade não viam isso, elas chamavam pra brincar, eles queriam ficar perto de mim, me ajudaram quando eu precisava, eu sempre tive muitos amigos que sempre estiveram comigo, desde quando eu precisei quando já era maiorzinha com uns doze anos, eu precisei fazer outra cirurgia na mão, tive muitos amigos que ficaram do meu lado quando eu saí do hospital, foi bem legal, tive bastante amigos sim.
P/1 - Tem alguma história específica com algum amigo?
R - Então, são muitos amigos. Eu tenho amigas que eu levo da minha infância de quando eu conheci no pré II que foi quando eu comecei a estudar até hoje nós somos amigas. É amizade que não deixava ninguém falar nada pra mim, eles me consideravam como um chaveirinho da escola, ninguém podia falar nada pra mim, eles me protegiam de tudo, e eu tenho uma amiga específica que é a Aline, até hoje temos uma amizade muito grande, desde pequenininhas, nós crescemos, começamos a trabalhar juntas em uma empresa, é amizade que a gente leva pra vida.
P/1 - E tem algum momento com ela que ela te defende ou algum momento marcante?
R - E agora? Eu nunca tive um momento que precisasse me defender muito, que aconteceu algo muito grave, mas eu tenho momentos assim que tinham outros amiguinhos na infância que queriam sentar do meu lado e ela chegou a brigar com uma outra amiguinha que ela não queria que ninguém sentasse do meu lado, era só ela minha amiga e só ela podia sentar do meu lado, desde pequenininha, tinha uns cinco ou seis aninhos. Ela brigava porque ninguém podia sentar junto comigo.
P/2 - Você tinha algum professor que chamava atenção? Quais são as suas primeiras lembranças da escola?
R - Os professores também sempre foram muito carinhosos, muito cuidadosos, tiveram muita paciência comigo, dei trabalho a escola, mas eles sempre me apoiaram em tudo, nunca fizeram diferença, pelo contrário, sempre me incluíram em tudo, desde o pré até quando eu terminei o colegial, nunca teve diferença.
P/2 - Tem algum professor que você gostava muito? Quem era?
R - A primeira professora a gente nunca esquece, que é a professora Maristela da minha cidade. Minha primeira professora de quando entrei lá no prezinho, até hoje eu vejo ela e a gente conversa, hoje em dia eu não tenho mais contato, mas depois de grande a gente já se viu, ela sempre foi muito carinhosa, atenciosa.
P/1 - Como que você ia para a escola?
R - Eu ia para a escola com a perua da prefeitura, a perua da prefeitura passava em casa me pegava e me levava para a escola, me deixava na porta da escola e pra voltar a mesma coisa, eles iam me buscar e me traziam na porta de casa.
P/2 - Tinham outras pessoas juntas ou era só você?
R - No início era só eu que ia na perua, depois fui com outras crianças de várias escolas, era assim.
P/1 - E você tinha algum desejo, sabia o que queria ser quando crescesse?
R - Meu desejo desde pequena... Eu não sabia ainda o que eu queria ser quando crescesse, eu até sabia... Quando eu era mais novinha eu queria ser professora, eu queria ser professora quando crescesse, mas o meu maior desejo era ser independente, apesar das minhas limitações eu queria minha independência, não gostava de depender de ninguém, e eu queria fazer as coisas sozinha. Então desde de pequena, este sempre foi o meu maior desejo, cresci com isso.
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P/2 - E a sua adolescência? O que você me conta da sua adolescência?
R - Eu tive uma adolescência bem proveitosa, os meus pais nunca me privaram de nada, eles nunca me esconderam dentro de casa por conta da deficiência, de não deixar sair, de não deixar ir para os lugares, de fazer alguma coisa, de fazer trabalho na casa de amigas, nunca pelo contrário, meus pais sempre me apoiaram em tudo. Então eu tive uma adolescência bem vivida, ia para a balada, eu ia para o cinema, ia tomar sorvete com as minhas amigas, eu ia viajar, quando eu tinha vontade de ir a algum show, porque eu sempre gostei de show, meu pais sempre me levaram, mas quando era pra viajar pra fora meus pais não deixavam, eu já sai para viajar em excursão de escola, agora se fosse para viajar assim ir em show ou alguma coisa assim eles não deixavam sozinha, mas eles sempre me levaram, acompanhavam, ficavam juntos. Sempre foi assim minha adolescência, eles nunca me privaram de nada, eu fiz tudo o que eu queria.
P/1 - E tem algum show que você se lembra mais? Ou alguma saída com os amigos, alguma história bacana.
R - Eu comecei a me apaixonar muito por show, eu queria muito ir em shows, quando vinha cantor aqui na Barra eles sorteavam ingresso na rádio para entrar no camarim, para tirar foto, e eu fui escolhida para um show do Guilherme e Santiago, eu fui escolhida e eu participei, entrei no camarim com eles, assisti o show de camarote, e depois disso eu me apaixonei por eles, então eu queria assistir todos os shows, quando eles vinham aqui pra minha região eu falava para o meu pai: "ai pai, eu quero ir”. Meu pai me levava, pagava o hotel, a gente passava a noite no hotel, assistia o show. E tinha que sempre no mesmo hotel que os cantores estavam, a gente sempre dava um jeitinho de ficar de noite no hotel que eles estavam, e eu tenho uma lembrança que logo no começo a gente pegou amizade com o pessoal da equipe, e o meu pai, como eu disse, ele nunca me privou de nada, e eu queria entrar de qualquer o jeito no camarim, e a equipe falou: “vem, fica atrás do nosso carro”. A gente pegou muita amizade, eu ia em vários shows aqui na nossa região, daí eles falaram: “Vai seguindo o nosso carro, que vocês vão entrar junto com a gente”. E nós fomos seguindo o carro deles, só que chegou no local o segurança do local não deixou a gente entrar, mesmo a gente falando que estava junto com eles, não deixaram a gente entrar. Meu pai nunca na vida ele quis me ver triste, aí ele virou para o segurança do local e disse: “Não, mas eu faço parte da equipe!”. Daí o segurança perguntou pra ele: “mas cadê a carteirinha?” Enfim, saiu realmente o pessoal da equipe e falou para os seguranças, eles estão com a gente, pode deixar entrarem. Porque a gente ia mesmo entrar por conta da equipe que já havia deixado. Então eu falo que eu nunca vou esquecer, porque meu pai era uma pessoa que fazia tudo que estava ao alcance dele para me ver feliz.
P/2 - E onde foi o Show?
R - Foi em Lençóis Paulista.
P/2 - Não foi lá na cidade de Barra Bonita?
R - Não. Eu conheci a dupla Guilherme e Santiago aqui na cidade de Barra Bonita, mas depois que eu assisti o show deles, que eu gostei, a gente já começou a ir nos shows. Só que não tinha como eu ir pra longe, a gente ia nas cidades vizinhas, e nesse dia foi na cidade de Lençóis Paulista.
P/1 - E com seus amigos na adolescência, vocês saiam sozinhos? Como que era?
R - Tive vários momentos com os meus amigos na adolescência. Eu ia para a balada, ia tomar sorvete, ia ao cinema, sempre com eles, o único lugar que meu pai nunca me deixou ir muito era pra balada, toda vez ele me levava e me buscava. Se eu quisesse ir o final de semana todo, sexta, sábado e domingo, eu ia mas ele ia me buscar no horário que fosse, então eu tive muitos momentos assim com os meu amigos sem ter os meus pais por perto.
P/2 - Natália, então na sua adolescência você gostava de sair, ir pra show, tomar sorvete... Tem algum acontecimento que te chama atenção nessa fase da vida? Namoros, interesses, paixões?
R - (risos) Eu conheci o meu esposo na minha adolescência, eu falo que o meu pai foi o nosso cupido, ele trabalhava com o meu pai e o meu pai chegava em casa, comentava dele, chegava lá na oficina que eles trabalhavam e comentava de mim... Eu conheci o meu esposo na adolescência, teve alguns episódios de muito preconceito também, nós nos conhecemos, começamos a namorar, e pessoas próximas, pessoas conhecidas chegavam pra ele e diziam que ele tinha que arrumar outra namorada, uma namorada que fosse normal, porque se ele ficasse comigo ele teria que cuidar de mim, ele teria que fazer as coisas da casa, essa situação, entendeu? Só que desde pequena, eu fui muito bem preparada psicologicamente, sempre passei muito em psicólogos, meus pais sempre tiveram essa preocupação, eu passei muito em psicólogos para evitar constrangimentos futuros, hoje eu conto isso porque faz parte da minha história, mas não é algo que me machuca. Ele sempre foi muito sincero comigo e ele falava: “olha, falaram isso”. Eu cheguei pra ele e disse: “olha, a partir do momento que o preconceito vier da sua parte eu vou começar a me preocupar, porque eu estou namorando com você, é nós dois, o restante não tem problema pra mim, eu não me importo com que os outros vão falar, o que vão pensar, porque a vida inteira o pessoal fala”. Vai falar, vai pensar, vai olhar, já aconteceu muito me olharem dos pés a cabeça nos lugares que eu vou, então eu nunca liguei pra isso. No início ele ligava muito, não aceitava que o pessoal ficasse falando ou olhando, mas meu pai chegou pra ele e disse: “olha, você precisa estar ciente de que você namorando com ela vai ter gente que vai falar coisa pra você, vai ter gente vai ficar olhando, vai ter gente que vai criticar”. Depois disso passamos já por muitos outros preconceitos mas nós soubemos superar cada um desses obstáculos, então é nós dois e a gente não liga para o que os outros falam ou pensam, hoje eu falo que ele é um anjo que Deus mandou, dizem que príncipe não bate na porta, mas eu conheci ele batendo na minha porta, então é o príncipe que bateu em minha porta e eu só tenho que agradecer a deus pois é uma pessoa que me apoia muito, estamos indo para doze anos de casados, então é uma pessoa que me apoia muito em tudo, se alguém virar pra e falar você não consegue fazer isso, e olha e fala: “Você consegue.” Então ele me ajuda em tudo, tudo mesmo.
P/1 - Conta com mais detalhes como foi esse cupido do teu pai.
R - Meu pai sempre foi um cúpido, meu esposo e meu pai trabalhavam juntos, eles trabalhavam na mesma oficina, e eu morava em uma casa que em frente tinha cana, isso a treze anos atrás, tinha cana, então meu pai chegava pra ele e falava: “Nossa, a Natália está com uma vontade de chupar cana...” Daí ele ia lá e pegava a cana, limpava, colocava no carro do meu pai e meu pai levava em casa pra mim. Aí eu mudei de endereço e nisso a gente já estava conversando, mas não tínhamos nada, só trocamos olhares, ele começou a ir na igreja junto com a gente, eu sempre fui muito tagarela, então dentro do carro eu puxava muito assunto com ele pra gente conversar mas ele não conversava comigo, e eu sempre me perguntava o por que que ele não conversava comigo, depois de um tempo ele falou que tinha vergonha, que me achava bonita, ele começou a chamar meu pai de sogrão na oficina e meu pai não gostava, meu pai fazia o cúpido mas ele tinha tanto ciúmes de mim que eu chegava a pensar, deve estar na hora, porque ele gostava muito do Willian. O Willian ia em casa nos finais de semana, chegou noites de ele dormir em casa que a minha mãe deixava, minha mãe sempre foi cúpida sempre ajudou e me apoiou muito, então às vezes ele dormia em casa, meu pai levantava no dia seguinte e falava assim depois que ele ia embora: “Por que ele dormiu aqui?” Só que a minha mãe falava assim que o pai sabia que ele ia dormir em casa, só que meu pai não sabia, só ficava sabendo no dia seguinte. Daí eu falei para o Willian que o pai não gostou de ele dormir em casa, chegou no outro final de semana ele foi embora de madrugada, daí eu pai acordou no domingo e falou assim: “que horas que o Willian foi embora ontem?” e falei que ele foi embora às quatro horas da manhã, daí ele falou: “E você deixou o menino ir embora essa hora, você está ficando louca?” Eu disse: “você decide né pai, ou você deixa o menino viver aqui ou não deixa”. Aí que eu entendi que era ciúmes, ele gostava demais do Willian, só que ele tinha muito ciúmes de mim, mas daí ele nunca mais falou mais nada, sempre me apoiou, ele gostava demais do Willian, ia fazer qualquer coisa tinha que chamar o William, era sempre assim.
P/2 - E como foi o casamento de vocês? Quanto tempo namoraram? Quando foi que vocês decidiram se casar? E como foi o casamento?
R - Nós decidimos nos casar depois de um ano de namoro, e foi por parte dele. Ele chegou pra mim e falou que queria um compromisso mais sério, que ele não queria só ficar namorando comigo, ele queria casar, ele falou: “vamos casar, vamos morar juntos”, daí eu falei: “nossa, a gente vai morar aonde né? Tem que alugar uma casa”, ele falou assim: “se eu alugar uma casa, você vai?” Eu falei assim: “eu vou”. Só que na minha cabeça não ia ser tão rápido assim pra alugar. Na semana seguinte ele já estava com a casa pronta, já tinha achado uma casa e estava tudo certo, pra gente ir morar junto, então ele pegou e foi achou a casa, falou pra mim: “Então, achei a casa.” Eu disse: “como?” Ele disse: “você disse que se eu achasse a casa você ia.” Daí ele me pediu em casamento para o meu pai. Quando ele me pediu em casamento para o meu pai, meu pai tinha descoberto já que estava com câncer, então ele morava aqui na Barra, mas ele ia muito pra Jaú para Amaral Carvalho fazer o tratamento. Então o Willian me pediu em casamento pra ele, a primeira coisa que ele perguntou pra mim foi se eu estava grávida, eu falei: “não, eu não estou grávida”, e ele pegou e falou: “Venha morar com a gente, ué, vai morar sozinha, como vocês vão fazer tudo sozinhos, pelo menos a mãe ajuda vocês.”
Mas a gente falou: “não, queremos casar e queremos ter a nossa casinha mesmo sendo de aluguel a gente quer ter o nosso canto”, também ele sempre apoiou a gente, comprou todos os móveis da nossa casa, em tudo ele ajudou. Quando ele estava com câncer, ele mudou para Jaú, para ficar mais perto do Amaral, mudou pra lá e vinha sempre, toda semana ele vinha, e no início do nosso casamento também tivemos outros preconceitos por conta do casamento, falaram pra ele que agora que ele casou comigo ele teria que ser a mulherzinha da casa, que ele ia ter que fazer todas as coisas sozinho porque eu não conseguia fazer, só que assim, eu já estava tão calejada de tanto preconceito que a gente acaba nem dando mais atenção e como eu falei, é algo que a gente não leva em consideração, a gente conta porque faz parte da nossa história, mas é algo que a gente não leva em consideração. Meu pai chegava em casa e falava, nossa, sua casa está perfeita, limpinha. E de fato, no começo do nosso casamento era o Willian que fazia tudo e meu pai sempre falou, olha sua casa está mais limpa do que quando é uma mulher, sendo um homem que está limpando, e o Willian realmente fazia tudo no começo, eu trabalhava fora também, ele trabalhava fora, saia cedo e chegava tarde mas era ele que fazia tudo, ele me ajudava a tomar banho, fazia comida, lavava roupa, daí uma época eu falei, espera aí, agora que estamos morando na nossa casa eu também quero fazer as coisas, eu quero aprender, porque assim quando eu morava com a minha mãe ela não me deixava fazer nada, nunca deixou eu pegar em uma vassoura pra varrer o chão, passar um pano, lavar uma louça, era tudo ela quem fazia, eu falei: “agora chegou minha vez de aprender, eu quero”, e ele dizia: “não precisa, eu faço, pra mim está tudo certo”.
Eu falei: “está tudo certo, eu sei, mas eu quero tentar, eu quero ter a minha independência”, eu falo que hoje eu tenho a minha independência por conta do Willian meu esposo, os meus pais nunca me privaram de nada, mas em fazer tudo dentro de um casa, ou até andar a cavalo meus pais tinham medo, mas como eu falei, o William sempre me apoiou em tudo, você quer então você vai fazer, então aos poucos eu ia aprendendo, hoje eu varria uma casa, olha, consegui varrer uma casa, amanhã eu lavava a louça, e assim, um dia por vez fazendo um pouquinho, aprendendo um pouquinho de cada coisa.
P/2 - No que você se sentiu mais realizada em aprender a fazer?
R - Tudo em uma casa. Hoje eu sou praticamente independente cem por cento, mas a comida eu acho que é o meu maior medo, minha maior preocupação que eu não ia conseguir fazer nunca, até por conta de mexer com fogo, eu fazia tudo com a boca. Teve um episódio que aconteceu comigo, meu esposo estava trabalhando, e nessas de ele chegar do serviço e eu querendo fazer surpresa, cada dia tinha uma coisa que eu tinha aprendido de casa diferente, eu queria fazer comida, mas o fogão não era elétrico naquela época, eu tinha que riscar o fósforo e acender o fogão, eu falei como eu vou fazer isso não dá, ele falou: “calma que vamos dar um jeito”. Pra ele ver as coisas que eu iria fazer, ele tem que fazer as coisas do jeito que eu faço pra ver no que daria, ele tenta me imitar pra ver o jeito que daria, ele foi lá, pegou um prendedor de roupa colocou a pontinha do fósforo no prendedor, pegou a caixinha de fósforo e riscou, colocou na boca e riscou, foi lá, virou o botão do gás e acendeu, daí ele falou: “tenta”. Eu fui lá e fiz a mesma coisa, risquei, virei o botão e acendi, está tudo certo, nossa deu certinho, pode fazer comida agora. Fui fazer uma surpresa pra ele, ele chegou do serviço e a comida prontinha, daí eu falei toda feliz: “amor eu fiz comida pra você”. Ele: “você fez?” Eu falei: “fiz”. Ele olhou pra mim e falou: “cadê sua sobrancelha?” Eu senti que a minha testa estava meio ressecada, e ele falou: “como você fez isso?” Queimei toda a minha sobrancelha, uma parte do cabelo que fica na testa. Ele perguntando: “como você fez isso”, eu disse: “eu fiz do jeito que você falou, fui lá virei o botão do fogão pra depois acender o fósforo, fez bum na minha cara, queimou tudo”, ele falou: “amor, é ao contrário”, só que em doze anos foi a única vez que eu me queimei, foi a primeira vez, depois eu nunca mais me queimei, mas a gente aprende, tem que se adaptar do jeito que dá.
P/2 - E como foi o casamento de vocês? Teve festa? Como que foi?
R - Não, nós não somos casados na igreja, nós só juntamos nossas coisas e fomos morar juntos.
P/1 - Qual foi o seu primeiro trabalho?
R - O meu primeiro trabalho... Quando meu pai era vivo ele tinha uma pizzaria, ele abriu uma pizzaria e eu trabalhava na recepção da pizzaria, ela levava meu nome, era Natália Pizzas, nós ficamos muito tempo com essa pizzaria e por ser nossa, não era um trabalho registrado, nós ficamos em média sete anos e depois nós fechamos porque meu pai ficou doente por conta do câncer também. Depois o meu primeiro trabalho registrado foi em uma transportadora que é a transportadora Risso aqui de Barra Bonita também, lá eu fiquei em média quatro anos trabalhando e só saí de lá depois que a minha menina nasceu, ganhei a minha menina, foi quando não aguentei né, mãe de primeira viagem pedi as contas para ficar com ela.
P/2 - Você fazia o que lá na transportadora?
R - Lá eu era auxiliar de escritório, mexia na parte de expedição, de liberação de caminhão, emitia nota, essas coisas.
P/1 - Você estudou até que idade? Até quando?
R - Eu concluí o segundo grau e eu iniciei uma faculdade de administração mas é incompleta, não terminei.
P/2 - E aí você ficou grávida, como é o nome da sua filha?
R - Eu fiquei grávida, a minha filha se chama Vitória, hoje ela tem dez anos, nós também passamos por vários preconceitos com ela também, na gestação, depois que ela nasceu. Eu engravidei da minha filha eu tinha três meses de casada, meu pai faleceu, e só depois de dez dias que ele faleceu eu descobri que eu estava grávida de dois meses, ele não soube da minha gravidez, eu iniciei o pré-natal com um obstetra aqui da Barra ele já é falecido, eu iniciei com ele até então estava tudo certinho, tudo correndo bem, até que alguém ligou pra ele e falou que eu era louca, que eu sabia que eu não podia engravidar, mas eu engravidei do mesmo jeito e eu era louca por isso.
P/2 - Quem falou isso?
R - Então, uma pessoa ligou pra ele e falou isso, daí eu cheguei na consulta toda feliz pra ver o neném ia na ultrassom, cheguei na consulta e ele me jogou um balde de água fria, em mim e no Wiliam, sem fazer o exame e nada ele falou: “olha, ligaram aqui falando que você sabia que não podia engravidar e mesmo assim você engravidou, a pessoa falou que você era louca pois você sabia que não podia e engravidou, então o seu neném ele pode nascer prematuro, pode não aguentar uma gestação, pode morrer no parto…” Assim, ele falou tanta coisa que hoje eu já não consigo lembrar tudo o que ele falou, e ele falou se eu fosse o seu pai eu te encaminharia para o hospital da UNESP o hospital das clínicas de Botucatu, e é o que eu vou fazer, eu vou te encaminhar pra lá, porque lá eu acredito que você vai ter um acompanhamento mais de perto. Eu falei: “tá bom”, e ele me encaminhou pra lá, daí então gerou mais um preconceito que ligaram pra ele.
Chegando em Botucatu a primeira pergunta que eu fiz pra médica foi: “doutora, eu tenho algum risco? o neném corre algum risco?” ela falou pra mim: “não corre nenhum risco, a sua deficiência é física, por dentro é tudo normal”. Então eu comecei o acompanhamento lá, fiz o pré-natal, fazia o ultrassom, tudo lá. Falaram: “o médico falou que eu não chegaria ao sétimo mês de gestação por conta da placenta que ia descolar, essas coisas”, eu ganhei a minha menina com 38 semanas, tempo normal praticamente, fui para a sala de parto andando, não precisei ficar em uma cadeira ou em cima de uma cama, ela nasceu perfeita, a coisa mais linda do mundo, até as enfermeiras falavam que era a bonequinha, a princesinha do berçário, e ela nasceu em uma época de bastante frio, nasceu e junho, nós ficamos só os três dias no hospital, foi normal, depois viemos embora. Quando a gente saia na rua com ela, por ser frio, ela toda coberta o pessoal me parava na rua, teve duas situações, teve uma moça que me parou na rua e falou assim: “ah é sua filha?” eu respondi: “é”, “mas saiu de você mesmo?” Eu respirei fundo e falei: “nasceu”, não vou ser mal educada né, eu falei: “nasceu”, “ai que legal”, que não sei o que. Está bom. Em uma outra situação um rapaz chegou e falou assim: “ah, que linda sua filha nasceu, ela é perfeitinha mesmo?” Eu falei: “sim, ela é perfeitinha”, e ele disse: “deixa eu ver?” No meio da rua, pediu pra eu tirar a coberta de cima dela pra ver se ela era perfeitinha. Então foram vários preconceitos, teve algumas outras situações, tem coisas que chegam até mim, o pessoal conta, eu fui em tal lugar e até comentei: “nossa eu estou triste porque a minha sobrinha está internada, ela nasceu agora e está internada”, a pessoa falou assim: “mas já é de se esperar, a sua sobrinha também já tem uma deficiência”. Meu tio falou assim: “mas não é a Natália, a neném da Natália está ótima, é minha outra sobrinha”, então o pessoal já espera o pior pela minha deficiência.
P/1 - E você sempre teve uma cabeça bem preparada e boa para enfrentar esses preconceitos, não é?
R - Sim, eu sempre tive uma cabeça bem preparada, como já falei, desde pequenininha eu passei muito em psicólogos para justamente eles me prepararem para o futuro, porque o preconceito sempre existiu e sempre vai existir não tem jeito, nunca vai deixar de existir, foi uma preparação e tanto pois se eu não tivesse esse preparo eu não sei como eu estaria hoje, então a minha cabeça é bem no lugar e é isso, nunca foi algo que me tirou a paz ou que me deixasse nervosa, nada disso, lógico somo seres humanos ficamos magoados na hora mas não é algo que eu levo para a minha vida.
P/1 - De todas as situações de preconceito, qual foi a que te marcou mais?
R - A que me marcou mais, foi quando o meu menino nasceu, tenho um casal, tenho uma menina de dez anos e um menino de cinco anos. O meu filho mais novo é especial também, ele nasceu com uma doença chamada Hidrocefalia que é acúmulo de líquido na cabecinha e conforme o tempo nós descobrimos também o autismo, quando a gente descobriu a Hidrocefalia eu estava grávida ainda, a gente descobriu na gestação, nós descobrimos a Hidrocefalia começamos um acompanhamento com uma médica especialista. A cabecinha dele era muito maior do que o normal para uma Hidrocefalia e ela classificou como uma Hidrocefalia severa, era muito gigante, não tinha cérebro praticamente, era só água, só líquido, então comecei a fazer o acompanhamento com ela, eu nunca ia a uma consulta lá em Botucatu sozinha, sempre foi alguém comigo, quando meu esposo ia ele sempre entrava na consulta também, só que dessa vez foi uma sobrinha minha comigo e ela me esperou lá fora, eu entrei e ela falou pra mim que queria fazer um exame pra saber como que ele estava, esse exame era furar a minha barriga para colher um líquido dele para fazer o exame, dava uma impressão tão ruim fazer tudo isso, dava a impressão que ia machucar o neném, então eu perguntei: “mas doutora, pra que fazer tudo isso? Tem necessidade?” Ela falou assim pra mim: “não, não tem necessidade”. Eu até me emociono falando. Ela disse: “isso é só pra gente saber que ser que tem dentro de você”. Isso marcou muito, eu fiquei muito brava, e eu falei assim: “então a doutora não vai fazer nada, a doutora não vai relar nele, quando ele nascer ele não vai ter que fazer todos os exames? Então ele faz quando nascer, agora a senhora não vai relar nele”, e eu não deixei ela relar nele, eu pedi muito pra ela tirar ele com sete meses, porque como a gente já sabia da Hidrocefalia eu vi muitas entrevistas, muitos casos do hospital São Paulo em que tira a criança com sete meses ou até menos, pois já tira já faz a cirurgia já coloca a válvula e as sequelas são menores, e ela fala assim pra mim: “Não mãe, a gente não vai tirar ele com sete meses, ele vai nascer no tempo normal, de nove meses”, ela não tirou ele com sete meses.
E o que aconteceu? Faltavam três dias para completar sete meses de gestação, ele nasceu dia dois de janeiro, faltavam três dias para completar sete meses, chegou a virada do ano... Bom a gente frequentava uma igreja evangélica e quando a gente descobriu a Hidrocefalia a gente questiona Deus, eu sei que é errado, mas a gente questiona, meu medo era, por que meu Deus comigo? Como eu vou cuidar de uma criança especial se eu também tenho as minhas limitações? Daí eu recebi a resposta na bíblia, abri a bíblia e na palavra dizia, era João trinta do um ao onze, dizia que era pra eu ter calma, que deus sabia o que estava fazendo, que dali pra frente iam acontecer coisas que eu não ia entender naquele momento, na palavra dizia que Deus ia fazer a obra em um dia inesquecível, era o que estava escrito na palavra e eu levei para a minha vida aquela palavra, agarrei a palavra ali e falei, Deus me garantiu, Deus me falou, falou comigo.
Na virada de ano do dia trinta e um para o dia primeiro, passamos a virada de ano na igreja, só que nisso o pastor já sabia da Hidrocefalia do Davi e eu havia pedido para ele não comentar com ninguém, eu até falei para o meu esposo, eu não quero que comente com ninguém não por nada, vamos esperar ele nascer, porque as pessoas já são preconceituosas eu já passei por isso, depois que ele nascer eu não vou esconder meu filho de ninguém mas eu não queria que comentassem naquele momento, daí na virada do ano uma irmã que estava no culto, chegou meia noite no horário da oração ela desceu de lá do púlpito e me abraçou e ela começou a falar um monte de coisa no meu ouvido, falava assim que a partir daquele momento ia acontecer coisas comigo que eu não ia entender, mas que era pra eu ficar tranquila, era pra eu ficar calma que Deus estava no controle, que Deus ia fazer as coisas, na hora eu fiquei pensando, poxa eu pedi tanto para o pastor não contar nada, quando eu pensei isso ela começou a falar coisas que ninguém sabia, ou seja, não foi o pastor que contou é Deus mesmo, isto na noite do dia trinta e um para o dia primeiro, no dia primeiro passamos o almoço na casa de um pessoal, ficamos o dia todo lá, na parte da noite eu comecei a sentir muita dor de estômago e muita dor de cabeça, eu não estava aguentando nem respirar de tanta dor, daí meu esposo me levou para o hospital, os médicos me passaram na frente de todo mundo, me medicaram só que eles não mediram minha pressão, eu já estava com quase sete meses, passou um tempo lá no hospital e o médico me dispensou, e eu falei: “doutor, eu não estou bem ainda, não melhorou nada”, ele virou pra mim e disse: “olha, você é a gestante, eu cheguei no meu limite, não posso fazer mais nada”, e me dispensou, eu voltei pra casa, isso já era mais de meia noite, eu falei para o meu esposo, já que ele não pode fazer mais nada e eu já estou medicada, vou tentar dormir para melhorar essa dor, e nisso eu dormi, no que eu dormi eu começo a lembrar de alguma coisa três dias depois, eu tive quatro convulsões dormindo tive eclampsia mais síndrome hellp, tive quatro convulsões dormindo, ele me pegou do jeito que eu estava saiu para a rua gritando, com um carro dentro de casa a gente acaba não pensando ele nem tinha noção também porque estava nervoso, saiu para a rua gritando, os vizinhos socorreram, me levaram para o hospital de novo o mesmo médico falou: “é só uma convulsão, não é nada, vou dar um remedinho pra ela e ela vai voltar”, ele deu uma injeção, nada de eu voltar, deu duas injeções e nada de eu voltar, na terceira injeção ele falou assim: “onde ela faz o pré-natal?”, meu esposo respondeu: “faz na UNESP, em Botucatu”, ligou lá na UNESP em Botucatu pois ele não sabia o que fazer, a médica de lá falou: “olha, ela está tendo uma eclampsia, você vai dar um medicamento para ela com isso, e já manda ela pra cá que já preparei a UTI para ela e para o neném”. Ele fez tudo isso e me mandou para Botucatu, eu fui desacordada, não vi meu filho nascer, a médica não queria tirar ele com sete meses mas ele nasceu de sete meses, porque foi tirado, a força mais foi, eu fui conhecer meu filho depois de três dias, ele fez a cirurgia, colocou a válvula e eu não vi, só depois de três dias, daí um médico da UTI Neonatal disse assim: “olha mãe, graças a Deus ele nasceu agora, porque se ele nascesse de nove meses ele nasceria morto, com certeza”. Então marcou muito, porque eu pedi para a médica fazer isso e ela não acreditou, não acreditou em Deus, falou na minha cara que não existe milagre, era para ela fazer o meu parto, mas naquela noite ela estava de férias, eu não tenho nada contra ela, mas é aquele negócio, mexe comigo mas não mexe com os meus filhos, é algo que magoa, eu não ligo, você pode ter mil preconceitos contra mim, mas não tenha contra os meus filhos. E na gestação essa médica mesmo me encaminhou para a psicóloga e eu não entendia porque eu estava lá na psicóloga, porque ela falava assim pra mim: “mãe, você está aqui porque você precisa aceitar como o seu filho vai nascer”, eu falei para ela: “olha doutora, eu respeito muito a sua profissão, eu ouço o que você está falando, mas de verdade eu não sei o que estou fazendo aqui, porque se eu não aceitar meu filho como ele vai nascer, eu não me aceito, pois do mesmo jeito que ele é especial eu também sou, do mesmo jeito que os meus pais me ajudaram a passar por todos os obstáculos que eu passei para estar aqui hoje eu vou ajudar ele, então a senhora me desculpa, mas eu não sei o que estou fazendo aqui”.
Ela me fez chorar na primeira consulta, porque ela pegou meu ponto fraco, ela perguntou: “e se ele nascesse morto?” E eu já comecei a chorar, vai falar isso para uma mulher grávida, eu comecei a chorar, daí na segunda consulta eu falei: “olha, tudo que você me falar eu não vou levar em consideração porque quem dá a última palavra é Deus e Deus já me garantiu que ele vai fazer um milagre em um dia inesquecível, eu respeito muito você mas quem dá a última palavra é Deus”, tanto que hoje eu não tenho dúvidas que o dia inesquecível foi o dia em que eu e meu filho quase morremos, a obra foi feita ali naquele momento, não tem dia mais inesquecível do que esse, quase morrer e voltar, então eu tenho certeza que ali foi feita a obra de Deus.
P/2 - Seu filho fez a cirurgia, e o que aconteceu depois?
R - A primeira cirurgia ele fez quando ele nasceu, no mesmo dia, ele saiu da sala de parto e já foi para uma sala ao lado, ele colocou a válvula, assim, ele nasceu com 37 centímetros, o perímetro cefálico dele era 36, a cabecinha era gigante para o corpo dele, a palma da mão do meu esposo dava ele inteiro e tinha que colocar a outra mão pra segurar a cabecinha porque era muito grande, então ele fez a cirurgia, nós ficamos quarenta dias internados desde quando ele nasceu, eu falo que o hospital de Botucatu é um hospital de outro mundo porque eles são muito humanos mesmo, eu tive esse episódio com essa médica porém é minoria em relação a quantidade de médicos que tem lá. Ele nasceu, ficou quarenta dias internado, faltando dez dias pra gente ter alta, ele já estava quase no peso de ter alta, porque assim, a cada dia ele surpreendia, primeiro os médicos não queriam colocar ele para mamar no meu peito porque falavam que ele ia engasgar pois ele não sabia sugar, daí fez a tentativa, colocara ele para mamar e ele quase me machucou porque ele pegou o peito e mamou normal, e o medo dos médicos era não saber sugar, então cada dia dele lá era uma evolução. Faltando dez dia para a alta, quase no peso de alta a válvula entupiu de novo e teve que ir para a cirurgia de emergência, eu fiquei os quarenta dias internada com ele lá na casa de apoio, eu falo que eles são tão humanos que a minha menina na época ela tinha quatro anos, ela viu eu saindo de casa com convulsão então ela ficou com aquela última memória, a última vez que ela me viu foi passando mal, depois de alguns dias internada no hospital com o Davi a assistente social falou “olha, traz sua filha pra ela ficar um final de semana aqui com vocês na casa de apoio, ela vai entrar vai ver o irmão dela, vai entender que está tudo bem, pois já tem esse laço de irmãos desde pequenos porque se não ela tem nada cabeça que você saiu de lá passando mal e de repente tem um irmão, é capaz até dela não gostar tanto do irmão por achar que o irmão roubou você dela”.
Então eles são muito assim. Daí a válvula entupiu, eu saí para almoçar estava tudo bem, quando eu voltei para o berçário pois ele já tinha saído da UTI e estava no berçário, quando eu voltei estava uma plaquinha no bercinho dele “em jejum”, eu falei, mas espera aí, como assim em jejum, eu dei mamar para ele agora antes de sair para o almoço, daí uma médica falou: “olha mãe, só estamos esperando a sala da cirurgia ficar vaga, ele vai ter que passar por outra cirurgia porque a troca da válvula está entupida”. Foi assim, não deu nem tempo de pensar e já estava na segunda cirurgia, ele fez né a segunda cirurgia ficamos mais dez dias internados mas depois tivemos ata, de lá pra cá, ele passou por vários médicos por lá, o Davi eu falo que ele é um milagre porque ele tinha tudo, tudo que você puder imaginar os médicos falaram que ele tinha, fazia um exame de ouvido e o médico falava: “mãe, ele é surdo de um ouvido, vamos refazer o exame?”, refazia o exame e não tinha nada, estava tudo certo. Ia olhar a vista: “olha mãe, ele é cego de um olho, vamos refazer?”, refazia e ele enxergava super bem dos dois olhos. Ele tinha uma hérnia no umbigo que era gigante, quando a gente olhava dava até desespero de ver porque ela estava saltada para fora, passamos em uma médica de lá e a pediatra encaminhou para um cirurgião infantil para fazer a cirurgia de retirada da hérnia, quando chegou no médico da cirurgia ele falou assim: “mãe, tem certeza que era pra você estar aqui?” eu respondi: “tenho doutor, a hérnia dele é muito grande”, ele respondeu, “Não mãe, ele não tem nada, olha aqui o umbigo dele”. Eu e o meu esposo olhava e não dava para acreditar, fechadinho, afundadinho, bonitinho, então sempre foi assim eles falavam uma coisa, refazia o exame e não tinha nada, e até hoje. As vezes ele em casa, porque assim, quando ele começou a firmar o pescocinho porque ele demorou muito mais para firmar por conta da Hidrocefalia, quando ele começou a firmar o pescocinho ele não sentava, nós o levávamos na T.O lá em Botucatu e a T.O falava assim, eu sentada aqui e meu esposo sentado ao lado com o Davi no colo e a T.O falava assim: “mãe, ele já firmou o pescoço?”, eu toda feliz falava que já, “já firmou o pescoço”, ela olhava pra ele e olhava pra minha cara de novo, quando ela olhava pra ele, ele estava com o pescoço tombado, daí ela não acreditava em mim porque ele não fazia nada, eu tive que começar a gravar tudo que ele fazia para mostrar para as médicas, ele com um ano ele falava o alfabeto todo e contava do um ao cem, falava as formas, as cores, com um ano de idade, só que eu tinha que gravar porque elas não acreditavam em mim. Tanto que o autismo dele não tem laudo ainda, não é fechado o diagnóstico dele, mas o autismo dele começou a ser desconfiado por conta da inteligência, porque quando eu falei para ela que com um ano ele falava o alfabeto todo, contava do um até o cem, falava as cores, as formas, a primeira coisa que ela falou, eu até fiquei brava na época né, porque ela disse: “mãe, a gente vai ter que avaliar porque pode ser que seja autismo”, a minha esperança era falar: “nossa, ele está evoluindo” e ela pegou e jogou outro diagnóstico em cima do que eu falei, e realmente, hoje não é fechado, mas é autismo, tem muitos traços de autismo nele, e ele faz acompanhamento também com T.O, neurocirurgia, com neuropediatra, tudo aqui na nossa cidade.
P/1- Você comentou sobre a sua profissão, você comentou que seu último trabalho na empresa Risso, na transportadora Risso, o que você faz hoje? Conta pra gente, qual a sua profissão hoje?
R - Sim, minha primeira profissão registrada foi a transportadora Risso, lá eu trabalhei como auxiliar de escritório, trabalhei na expedição, eu trabalhei por quatro anos lá, depois eu ganhei minha menina, voltei trabalhar mas não aguentei, eu queria ficar com ela e acabei pedindo a conta, depois que o Davi nasceu também voltei a trabalhar na Risso, trabalhei por mais um ano e sete meses como auxiliar de escritório, por conta do Davi ser especial ele vivia doente, eu não tinha uma rotina de sair do trabalho ir para a casa descansar, era da Risso para o hospital, do hospital para a Risso, ele vivia internado, tanto que chegou uma época que eu nem conseguia mais levar atestado de tanto que eu já levava lá na Risso porque ele ficava muito doente, era gripe, era sinusite, ele convulsionou também por conta de febre, então eu acabei colocando em uma balança que eu precisava do emprego mas naquele momento o Davi precisava mais de mim do que eu do emprego e foi aonde eu acabei saindo da Risso pela segunda vez. Eu saí da Risso fiquei cinco meses recebendo o seguro desemprego, nesse período o Davi nunca mais ficou doente, depois que eu saí da Risso, e as falavam: “ele queria ficar com você”, porque ele não ficou mais doente, eu não precisei mais ir em hospital com ele, isto em dois mil e dezenove, em novembro de dois mil e dezenove eu saí da Risso pela segunda vez, em março de 2020 ele passou mal, a gente não sabia o que era, levava ele no hospital e falavam que era a garganta inflamada, batiam o pé dizendo que era a garganta, mas não melhorava por nada, e descobriram que ele estava com a válvula entupida de novo pela terceira vez, então ele passou por uma cirurgia de emergência de novo, já estava em uma situação que ele não acordava mais só dormindo, e o médico chegou e falou: “olha, está em uma situação em que uma hora ele vai dormir e não vai mais acordar”, então essa cirurgia precisa ser de urgência mesmo.
Passamos pela cirurgia na Santa Casa de Jaú, e de lá pra cá, de dentro do hospital ainda a minha cunhada mandava mensagem falando assim: “Nat, acho que está acontecendo alguma coisa, porque eu estou ouvindo algumas coisas de pandemia, eu não sei o que é mas alguma coisa muito séria vai acontecer”. E eu falava pra ela: “não Patrícia, fica tranquila que não é nada, estou dentro do hospital aqui e ninguém falou nada até agora”, e ela dizia “mas toma cuidado você e o William, toma cuidado com o Davi porque vai acontecer alguma coisa”, aí nós tivemos alta do hospital e depois de três dias que saímos do hospital entramos em pandemia, foi tudo de uma vez né, nem tínhamos nos recuperado do susto do Davi da cirurgia de emergência e tudo e entramos em pandemia, crianças em casa, toda aquela situação de que a gente não sabe o que vai acontecer amanhã, e eu mexendo no celular vi uma imagem de uma moça que tinha feito um lettering e eu sempre gostei de escrever eu escrevo com a boca, e eu sempre gostei de escrever, na época de escola as capas de trabalho que era feito a mão era tudo em quem fazia, eu gostava de enfeitar as coisas, e eu gostei, me chamou a atenção aquele desenho de letras, que é o lettering, e eu comecei a fazer, escolhia uma frase e começava a fazer para ocupar a cabeça, e eu comecei a fazer lettering como hobby e era uma terapia para mim, um refúgio naquele momento de pandemia que nós estávamos depois de tudo que havíamos passado no hospital, eu descobri o lettering.
P/2 - Qual foi a influência do lettering na sua vida?
R - A influência do lettering na minha vida, como eu já disse, no início foi um refúgio porque conforme eu ia fazendo, ia escrevendo as letras, eu me desligava do mundo, então foi uma terapia muito forte para aquele momento, eu me senti muito influenciada por isso e eu comecei a fazer lettering como hobby, por terapia mesmo só para ocupar a cabeça e eu comecei a postar as fotos dos desenhos que eu fazia, mas eu postava só porque eu achava bonito os desenhos que eu tinha feito, então eu postava e as pessoas começaram a comentar: “que bonito, é você que faz?”, e aquilo acabou me influenciando mais ainda, porque o pessoal começou a gostar do resultado, me apoiaram mesmo sem saber o que tinha acontecido antes da pandemia comigo, me apoiaram só pelo fato de eu estar postando.
P/1 - Fala uma coisa pra mim, além da influência das pessoas gostarem do seu trabalho, do seu desenho e te motivar colocando mensagens quando você postava, alguém influenciou você a fazer o lettering?
R - Teve várias pessoas que me influenciaram que eu gosto do trabalho e eu fui influenciada também por elas, porque eu gostava do trabalho dessas pessoas e eu queria fazer também, aperfeiçoar o meu lettering porque até então eu não sabia o que era lettering, descobri ali naquele momento, eu seria injusta em falar algumas pessoas aqui porque realmente são várias pessoas que me influenciam que eu gosto bastante, mas o meu esposo ele é desenhista eu falava pra ele, olha o que eu fiz e ele dizia que estava bonito que estava legal, mas que nãos estava comprável que eu poderia e aperfeiçoar mais, então ele sempre me apoiou em tudo literalmente, até no lettering em fazer com que eu buscasse mais a perfeição.
P/2 - Um motivador para você?
R - Ele é, sempre.
P/2 - Será que no final você pode fazer um desenho pra gente? Pra mostrar como é o seu trabalho.
R - Claro, posso sim.
P/2 - Que bom. Lila eu acho que é com você então.
P/1 - Natália, então deixou de ser um hobby, você está usando agora como profissão? Está trabalhando com isso?
R - Sim, comecei o lettering como um hobby, conforme eu ia postando nas minhas redes sociais, eu postava no facebook e instagram, o pessoal começou a perguntar: “que lindo, é você que faz? Como você faz?”. Daí eu comecei a gravar porque o pessoal não acreditava que era eu quem fazia, então eu comecei a gravar vídeos de eu fazendo, gravava desde o início fazendo com o lápis, finalizando com a caneta e tudo escrevendo com a boca, e nestes vídeos as pessoas começaram a perguntar valor, como que faziam pra comprar e eu falava: “meu Deus eu não sei, como eu vou colocar o preço? Eu não sei”. Daí eu coloquei um preço, mas eu vendi em uma folha um pouco mais resistente, só que não tinha moldura eu vendia dentro de um envelope porque não tinha moldura ainda, eu comecei a vender assim, mas até aí era um hobby, mas muita gente começou a pedir, tive que pegar um caderno e anotar, era muita gente, no início eu cheguei a pegar trinta encomenda em uma noite, no início, e eu não sabia o que fazia, perguntava: “meu deus, e agora?” Eu passei um prazo curto ainda, e pensava que não ia dar conta de entregar as encomendas, mas a gente se deu conta sim, eu comecei assim.
Hoje é a minha profissão, hoje eu não trabalho mais fora, até por conta do Davi, realmente não tem como trabalhar fora, ele é muito dependente de mim, então o lettering se tornou a minha profissão e é uma das minhas fontes de renda também, é a minha principal fonte de renda, depois que eu comecei a fazer o quadro, eu comprei moldura, depois de um tempo vendendo em envelope meu esposo falou para fazer um teste e comprou dez molduras, daí eu comecei a fazer as artes e colocava a moldura aí foi que eu vi que realmente virou profissão porque dez molduras foi em dez dias, foi tudo acontecendo, daí compramos mais molduras e nisso foi virando uma profissão mesmo, daí eu comecei a postar no instagram porque eu postava só no facebook mas eu comecei a postar também no instagram e tive muita visibilidade, não que no facebook eu não tenho, eu tenho também, mas no instagram foi bem maior, eu fui reconhecida absurdamente lá, por marcas de caneta por marcas de caderno, por papelarias, hoje eu tenho várias parcerias, hoje eu sou embaixadora da marca newpen que é uma marca de caneta, então eu falo que me trouxe muita visibilidade também o instagram. Depois de um tempo eu comecei a arriscar, fora os quadros comecei a arriscar em outras superfícies comecei a fazer em vidros, em taças, canecas, bolinha de natal, ano passado eu comecei fazer bolinha de natal e foi um monte, o pessoal gostou e o pessoal comprava, eu tive bastante retorno.
P/1 - Natália o seu trabalho chegou nos Estados Unidos, os seus quadros de lettering, como é que é isso?
R - Sim, meus quadros chegaram fora do país, eu fico muito feliz em falar disso, porque eles chegaram na Irlanda, no Japão e nos Estados Unidos, já fiz encomenda para esses três países, pro Brasil é o Brasil todo, já enviei para todos os lugares do Brasil também.
P/1 - E os contatos chegaram através do instagram?
R - Através do instagram e facebook. No instagram eu tenho mais visibilidade em relação a parcerias, o pessoal acaba me conhecendo muito mais pelo instagram, mas em relação a pedidos mesmo é os dois.
P/2 - Qual é o teu instagram?
R - meu instagram é @nataliaevelynsantos. O meu instagram, o meu facebook e o meu canal no youtube é o mesmo.
P/1 - E o que as pessoas costumam pedir para escrever?
R - É bem relativo, tem pessoas que não escolhem frase, elas escolhem temas e deixa pra eu escolher a frase, então alguém que quer presentear um amigo eu vou e selecionei algumas frases que eu acho legal, mando para o cliente, mas bastante mesmo é de oração, palavra de Deus, bastante mesmo, algum versículo da bíblia.
P/1 - Então agora você se encontrou com esta nova profissão?
R - Sim eu me encontrei, com certeza, eu estava até comentando com meu esposo esses dias, porque a gente não entende os planos, mas igual eu falei, quando eu era mais nova na época de escola eu sempre gostei de fazer capa de trabalho, deixar o caderno bonitinho mas eu nunca me imaginei trabalhando com a minha letra, que viraria uma profissão usar a minha letra, e hoje eu me encontrei, eu já não me vejo fazendo outra coisa.
P/1- Quais são as coisas mais importantes pra você hoje?
R - As coisas mais importantes pra mim hoje é a minha família, sempre em primeiro lugar a minha família, Deus com certeza porque se não fosse Deus nada disse teria acontecido na minha vida, depois de tudo que a gente passou começamos a dar mais valor para essas coisas a família, para a saúde, então eu acredito que são as coisas mais importantes.
P/1- E quais são seus sonhos hoje?
R - Meus sonhos hoje... Olha, eu tenho dois sonhos que ainda não realizei, um é que ainda falta os cem por cento da minha independência, eu falei que eu sou quase independente, hoje eu ainda não consegui tirar minha carta, hoje o meu maior sonho é ter a minha carteira de habilitação, ter um carro pra poder sair, levar as crianças onde precisa, sair passear sem precisar depender, porque tudo que eu preciso pra sair hoje ou eu dependo do Willian, e quando ele está trabalhando eu dependo de outras pessoas e tem que ficar pedindo, então hoje essa é a minha prioridade é um sonho que eu ainda não realizei, até porque quando eu era mais nova teve uma situação que aconteceu que eu estava conversando com o meu pai e uma pessoa estava perto, parente mesmo, estava perto, e eu falando para o meu pai que o meu sonho era tirar minha carta, não deu nem tempo do meu pai responder, essa pessoa falou assim pra mim: “nem tenta que você não consegue, você não pode tirar a carta”, isso eu era bem nova tinha uns dezesseis anos mais ou menos, quando eu comecei a namorar o meu esposo eu comentei com ele que o meu sonho era tirar a minha carta, ele falou: “você tem vontade de dirigir?” eu falei: “eu tenho”, ele disse: “então você vai dirigir hoje”, a gente saia, ele não tinha carro ainda mas o meu pai tinha, e meu pai dava o carro dele pra gente sair, então a gente saiu pegou um domingo de dia, ele me levou para uma estrada de terra, falou pra eu sentar no volante que eu ia dirigir, e o carro d meu pai era direção hidráulica, então era bem molinho pra mim, e foi onde eu dirigi uma parte da estrada de terra, então ali eu vi que eu consigo, lógico tem que ser adaptado, mas ali eu vi que eu consigo só que hoje ainda foge da minha realidade financeira, porque eu tenho que ter um carro adaptado e pra ter um carro adaptado não pode ser um carro mais velho, tem que ser um carro novo para poder adaptar, acho que um carro mais velho que consegue adaptar é um corola, então hoje pra mim foge da realidade, mas eu vou realizar em nome de jesus.
P/2 - E como foi contar a sua história aqui hoje?
R - Foi incrível, é a primeira vez que eu consigo contar a minha história inteira, praticamente todas as pessoas que conhecem a minha história conhecem um pouquinho dela, bem resumido, sabe? E hoje consegui contar minha história inteira, foi muito emocionante, muito legal, gratificante, eu só tenho a agradecer vocês pelo carinho, pela oportunidade de estar aqui com vocês hoje.
P/1 - Tem. Mais alguma coisa que você gostaria de falar?
R - Não, acho que é só mesmo.
P/1- Então eu quero te agradecer muito.
R - Espero que seja motivador para todas pessoas que forem assistir, que ajude as pessoas quando estiverem desanimadas, quando estiver querendo desistir, tem uma frase que eu levo pra minha vida que é, você é seu único limite, e eu acredito nisso, que a gente depende, que a gente precisa né depender somente de nós e nãos nas outras pessoas, então a nós precisamos disso, eu levo muito essa frase comigo, você é o seu único limite.
P/2 - Posso pedir?
R - Pode.
P/2 - Faz um desenho pra gente para finalizar nossa entrevista mostrando o seu trabalho.
R - Eu vou fazer, deixa eu só pegar um papel e uma caneta.
P/1- Maravilha. É isso.
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