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Personagem: Hana Sukerman
Por: Museu da Pessoa, 13 de novembro de 1987

Uma vida caseira

Esta história contém:

Uma vida caseira

Meu nome é Hana. Meus irmãos chamavam-se Velvel, Burech, Rosa, Dvoire, Dudl, Manea, Siuca, Sioma. São todos nomes de parentes falecidos, porque assim determinava a tradição. Nasci em 1919, em Soroki, na região da Bessarábia que, nessa época, pertencia à Romênia.

Soroki era um lugar de veraneio porque tinha um clima muito bom e tinha também muita fruta, principalmente uvas. A cidade tinha uma parte alta e outra baixa. E lá em cima ficavam os vinhedos. Tinha todo tipo de uvas, pequenas, grandes, amarelas, vermelhas, todas as que se pode imaginar. Eram vinte mil pessoas na cidade. Todos judeus. Tinha uma mikve e duas sinagogas. E se falava ídiche. Até os goim conversavam em ídiche.

Meu pai era dono de uma taberna, e minha mãe trabalhava com ele. Ele tinha uma adega muito comprida, embaixo ficavam aqueles tambores de vinho branco e rosé. Todo ano, em setembro, ele arrecadava um vinhedo, colocava um pessoal para tirar uvas e para fazer vinho. E me colocava para tomar conta dos trabalhadores. Eles apanhavam as uvas, entravam num barril aberto e pisavam com os pés. Eu ficava o dia inteiro e, quando acabava, os trabalhadores iam para casa e eu também. Depois faziam um tipo de champanhe muito gostoso. Nós eramos nove filhos e cada vez meu pai mandava um de nós para representar a família.

Depois passávamos o ano inteiro vendendo esse champanhe para os goim. Vendíamos também vodca e, para comer com a vodca, colbeis e ovos duros. Eram camponeses que vinham do interior para vender trigo na cidade. Paravam lá seus cavalos, colocavam no estábulo para descansar e entravam. Traziam pão preto com queijo e bebiam vodca, vinho, comiam ovo duro e salame e depois se mandavam para a cidade baixa para vender a mercadoria deles. Fazíamos outras coisas de comer também. Minha mãe mandava um schoichet matar dezoito gansos e depois cortava em pedaços, preparava e colocava nuns vasos grandes para o inverno. Isso chamava-se pastarama. Meu pai também...

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Dados de acervo

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Projeto: Heranças e Lembranças

Depoimento de: Hanna Sukerman

Entrevista por: Karen (P/1) e Eva (P/2)

Rio de Janeiro, 13 de novembro de 1987

Realização Museu da Pessoa

Código: HL_HV075

Revisado por: Fernando Martins

Fita original no. 1 Lado A

P/1 - Como é o nome do lugar onde a senhora nasceu?

E- Soroca.

P/1 - Onde fica?

E - Na Bessarabia. Pertencia à Romênia.

P/1 - Pertencia à Romênia na época. Em que ano a senhora nasceu?

E - 1919, 5 de dezembro.

P/1 - Tenta contar pra gente como era lá o ambiente de Soroca.

E - Soroca é uma cidade alta e baixa e era o lugar de veraneio. Veraneio porque tinha muita fruta, principalmente uvas e o pessoal vinha pra comer uvas, para descansar e para comer uvas. E fora as outras frutas, mas principalmente uvas.

P/1 - E que outro tipo de fruta?

E - Ah, pera, maçã, pêssego.

P/1 - Tudo isso tinha em profusão?

E - Tudo tinha.

P/1 - E as pessoas vinham da onde, de que cidade mais próxima, a que cidade importante tinha ali perto?

E - A nossa cidade era Soroca, era capital.

P/1 - Era uma capital, era uma cidade grande, tinha muita gente?

E - Não, era uma cidade, assim feito Petrópolis.

P/1 - Pois é, como a senhora disse que era de veraneio eu imaginei que tinha uma cidade importante...

E - Não, era veraneio porque lá em cima tinha aquelas... aqueles, como é que se diz... vinhedos. E eles vinham, ficavam um mês descansando e qualquer tipo de uvas, tinha uva pequena, grande, uva amarela, vermelha, muito interessante. Então, aquele lugar já tinha cerejas de todos os tipos. Mas mais longe onde morava, lá em cima.

P/1 - Ah, sei. A senhora morava no vale?

E - Não era... no mesmo lugar mas muito embaixo, muito distante, esses lugares são muito distante.

P/1 - E qual era... tinha festas em relação a estas...

E - Não.

P/1 - Não?

E - So tempo de verão, as pessoas que podiam gastar...

P/1 - E que vinham de que lugar?

E - Ah, eles vinham ao redor de Soroca.

P/1 - Sim, mas nao lembra de alguma cidade...

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