Memória Votorantim
Depoimento de Nilo Alge
Entrevistado por Claudia Fonseca
São Paulo, 15 de abril de 2009
Realização Museu da Pessoa
Entrevista MV_HV070
Transcrito por Regina Paula de Souza
Revisado por Joice Yumi Matsunaga
P/1 – Senhor Nilo, eu só vou fazer uma pequena recuperação para registro. Quer dizer, nós temos uma entrevista sua, concedida ao Museu da Pessoa, a qual a gente volta a agradecer por conta do Projeto Ponto de Cultura. E, hoje, a gente está gravando o Memória Votorantim. Então, por conta dessa sua entrevista, que já é uma entrevista biográfica, e para efeito de edição a gente vai usar a que o senhor já fez. Mas hoje, a gente vai focar na sua história com a Votorantim. Então, a minha primeira pergunta é: como é que começou a sua relação com a Votorantim, Seu Nilo?
R – Muito bem. É, abstraindo os aspectos, histórias as quais eu já lhe falei, porque o meu avô era amigo do Comendador Pereira Inácio, lá, em Sorocaba. Ele foi o fundador do Grupo Votorantim...
P/1 – Eles se conheceram, lá, os dois?
R – Se conheceram no começo do século vinte, e essa amizade foi interrompida, porque o meu avô faleceu muito prematuramente, mas ele era bastante amigo do Comendador Pereira Inácio. Depois, o Comendador Pereira Inácio e, também, sogro do Senador José Ermírio de Moraes, não? Que foi o fundador da tecelagem etc, do começo do Grupo Votorantim. Mas, em 1957, eu estava trabalhando em uma multinacional, a Willys-Overland do Brasil, e não estava muito satisfeito. Naquele tempo, os empregos abundavam, especialmente para engenheiros ligados à indústria. Então, o Engenheiro Eduardo Sabino de Oliveira, que depois foi sogro do Doutor Emílio Pereira de Moraes, ele era ligado, ele era filho do Numa de Oliveira, que hoje é nome de prédio na Paulista, no Banco do Comércio e Indústria, e o meu futuro sogro era gerente da matriz do Banco do Comércio e Indústria de São Paulo, é, falou que eu estava...
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Depoimento de Nilo Alge
Entrevistado por Claudia Fonseca
São Paulo, 15 de abril de 2009
Realização Museu da Pessoa
Entrevista MV_HV070
Transcrito por Regina Paula de Souza
Revisado por Joice Yumi Matsunaga
P/1 – Senhor Nilo, eu só vou fazer uma pequena recuperação para registro. Quer dizer, nós temos uma entrevista sua, concedida ao Museu da Pessoa, a qual a gente volta a agradecer por conta do Projeto Ponto de Cultura. E, hoje, a gente está gravando o Memória Votorantim. Então, por conta dessa sua entrevista, que já é uma entrevista biográfica, e para efeito de edição a gente vai usar a que o senhor já fez. Mas hoje, a gente vai focar na sua história com a Votorantim. Então, a minha primeira pergunta é: como é que começou a sua relação com a Votorantim, Seu Nilo?
R – Muito bem. É, abstraindo os aspectos, histórias as quais eu já lhe falei, porque o meu avô era amigo do Comendador Pereira Inácio, lá, em Sorocaba. Ele foi o fundador do Grupo Votorantim...
P/1 – Eles se conheceram, lá, os dois?
R – Se conheceram no começo do século vinte, e essa amizade foi interrompida, porque o meu avô faleceu muito prematuramente, mas ele era bastante amigo do Comendador Pereira Inácio. Depois, o Comendador Pereira Inácio e, também, sogro do Senador José Ermírio de Moraes, não? Que foi o fundador da tecelagem etc, do começo do Grupo Votorantim. Mas, em 1957, eu estava trabalhando em uma multinacional, a Willys-Overland do Brasil, e não estava muito satisfeito. Naquele tempo, os empregos abundavam, especialmente para engenheiros ligados à indústria. Então, o Engenheiro Eduardo Sabino de Oliveira, que depois foi sogro do Doutor Emílio Pereira de Moraes, ele era ligado, ele era filho do Numa de Oliveira, que hoje é nome de prédio na Paulista, no Banco do Comércio e Indústria, e o meu futuro sogro era gerente da matriz do Banco do Comércio e Indústria de São Paulo, é, falou que eu estava procurando uma nova oportunidade, e o Eduardo Sabino de Oliveira, então, que tinha sido diretor, já, da Companhia Nitro Química Brasileira, e era diretor da Rilsan Brasileira, convidou-me para trabalhar nesta empresa.
P/1 – Na Rilsan?
R – Na Rilsan, que ficava no quilômetro 18, uma estação ferroviária no município de Osasco. Então, eu fui para lá, e eu só conhecia, digamos, o Grupo Votorantim por alto, não é? E fui lá, para trabalhar na Rilsan Brasileira, estava entrando em operação. Vamos dizer, uma parte já, a parte têxtil já funcionando, e a parte química em processo de montagem, entrada em serviço.
P/1 – Era uma indústria, então, química, né? Mas a sua formação, o senhor fez a Escola Politécnica, foi isso, senhor Nilo?
R – Sim, sim! Eu sou graduado em Engenharia Mecânica e Elétrica pela Escola Politécnica.
P/1 – E essa oportunidade na Rilsan é em que setor?
R – É, eu vou explicar, dar uma ideia da estrutura da empresa. Essa empresa pioneira, ela deveu-se, quer dizer, a sua instituição deveu-se a uma visão industrial moderna do Senador José Ermírio de Moraes, porque a Companhia Nitro Química Brasileira, que, entre aspas, era a mãe da Rilsan, produzia, é, rayon, um fio têxtil, digamos, popular. E houve, naquela época, um boom do nylon, né? O nylon, em 1957, já era conhecido, isso nasceu durante a Segunda Guerra Mundial, mas havia já uma intensa procura de nylon, tanto nylon têxtil, isto é, para fiação e tecelagem como nylon para produtos plásticos: peças, artefatos etc. E então, houve um acordo entre a Companhia Nitro Química Brasileira, o grupo francês que havia descoberto a fabricação de um tipo de nylon, o nylon 11, a partir de um produto brasileiro, o óleo de rícino, também chamado de óleo de mamona. Então, houve uma série de negociações e, então, se instituiu a Rilsan Brasileira, que tinha praticamente três equipes trabalhando coordenadamente. A equipe francesa é a que montava a unidade química para a produção do monômeros, que é a matéria-prima básica para o polímero, que é o plástico, esta equipe francesa era chefiada pelo Engenheiro (Adolfo Louis Bernard?). Havia uma equipe italiana, que fazia o fio, isto é, transformava o nylon em fio, esta equipe era chefiada pelo Engenheiro (Crosio?). A equipe francesa era da Société Organico, que, justamente, era dona do processo de fabricação de nylon 11 a partir do óleo de mamona ou óleo de rícino. Então, quando eu cheguei lá, a fiação dirigida pelos italianos já funcionava, com monômero importado da empresa francesa. A parte química, que era produzir o monômero no Brasil, em São Paulo, a partir do óleo de mamona brasileiro, estava sendo montada. E havia a parte de distribuição de utilidades, é, água, energia, ar comprimido. E esta unidade, a parte de fornecimento de utilidades, era brasileira, e eu fui lá para ser responsável pela chamada Casa de Força, que era uma usina termoelétrica com com várias caldeiras e toda a distribuição de utilidades, que atendia, então, tanto a ala italiana, por assim dizer, como a ala francesa.
P/1 – Quer dizer, o consumo de energia, então, nesse processo era bastante alto?
R – Era bastante grande, basta dizer que a Casa de Força tinha duas turbinas a vapor, cada uma delas com mil e quinhentos quilowatts, era bastante naquela época. Além de receber energia elétrica da antiga Light, não, que hoje é Eletropaulo. Então, havia um sistema conjugado muito interessante, que o vapor que ia servir para o processamento químico e, em parte, para o processamento têxtil, ele era gerado à alta pressão, passava pelas turbinas para gerar energia elétrica e, depois, ia para o consumo a baixa pressão. Então, era um sistema de alto aproveitamento, alto rendimento, digamos, do combustível que acionava as caldeiras.
P/1 – Numa época que energia, inclusive no Brasil, era uma coisa bastante instável, não é, senhor Nilo?
R – Sim, era bastante moderno. A fábrica era moderníssima, a parte química também era de primeira linha, mesmo as máquinas têxteis, também, não é? E infelizmente, depois houve uma série de dificuldades, porque os insumos, isto é, o preço do óleo de mamona e de alguns insumos, para a produção do nylon 11, subiram muito. Então, depois houve uma série de transformações. Isto foi posteriormente. Quando eu estava lá, não é, começava a produção do monômero e, já, a parte têxtil estava, como eu já falei, com o monômero importado, é, bastante desenvolvida, não é, com engenheiros e técnicos da Sociedade Italiana Snia Viscosa, né?
P/1 – Certo. Seu Nilo, o senhor fala de nylon 11, existia algum outro tipo de numeração?
R – Sim, o primeiro. Não, o primeiro nylon era o chamado nylon 6/6. Esses números indicam o número de moléculas do monômero. E o nylon 6/6, né, era inicialmente feito pela DuPont. E a Rhodia, aqui em São Paulo, que também era de uma outra sociedade francesa, mas ligada ao Grupo Rhône-Poulenc fazia o nylon 6/6. Havia a produção de nylon 6, feito a partir da caprolactama, que tinha know-how alemão, e que estava sendo introduzido aqui no Brasil. E tanto a Basf como a Bayer faziam nylon 6 e exportavam para o Brasil. O nylon 11, que era um outro tipo de nylon feito com óleo de rícino, como eu já falei, só havia na França, não é, a fábrica. E a segunda fábrica foi aqui no Brasil, através desse contrato de fornecimento de know-how e equipamento.
P/1 – Está certo. E o senhor disse que ficava em Osasco, é isso, Seu Nilo?
R – Sim.
P/1 – Em que lugar, ali, de Osasco?
R – Perdão!
P/1 – Em que local de Osasco?
R – Seguindo pela antiga estrada de Itú, que hoje é a Avenida dos Autonomistas, se passa pela parte central de Osasco, não é, e avançando, em direção à Carapicuiba, não é, nessa avenida, hoje, é a Avenida dos Autonomistas, se chega mais ou menos a uns três ou quatro quilômetros do centro de Osasco, a um terreno que fica entre essa avenida e o Rio Tietê, que, aliás, o Rio Tietê naquele tempo era muito menos poluído e fornecia água industrial para nós, né, através de um tratamento que eu também dirigia. Então ficava ali, nesse chamado quilômetro 18, que era uma estação de estrada de ferro. Ali, havia várias outras indústrias, como a Osram, de lâmpadas, havia ali a Oxigênio do Brasil, que produzia oxigênio comprimido. Era um centro industrial, não é? E mais perto de Osasco tinha a Cobrasma, que era uma grande indústria, não é? A Forjas, e outras empresas. A Hervy, na parte. Era a parte industrial de Osasco que ficava além do centro urbano.
P/1 – Quer dizer, então, o senhor foi para lá, foi cuidar da Casa de Força e, também, cuidava da parte de água?
R – Sim. Então, toda a parte de serviços, né: água, energia elétrica, ar comprimido e vácuo e outras coisas que são chamadas de engenharia de utilidades, né?
P/1 – E o senhor era muito jovem, né, Seu Nilo?
R – Sim, eu tinha vinte e três anos, e é interessante, eu tenho ainda a minha primeira e única Carteira Profissional, porque só usei uma, e lá eu fui logo promovido para engenheiro chefe da Casa de Força e Energia, eu me dava muito bem com os engenheiros, e aprendi muito! Tanto que depois, não é, eu fui trabalhar em uma empresa que comprava, passava a comprar o nylon da Rilsan, e fui me especializando em aplicações plásticas, né, depois, eu fiz, inclusive, cursos na França etc, sempre ligado à área de plástico, e eu praticamente passei, né, a me especializar em plásticos graças a esse início na Rilsan Brasileira. Quando eu saí da faculdade não tinha exatamente ideia do que eu ia fazer na vida, e a Rilsan, então, me direcionou, né, porque sempre trabalhei em plásticos. Depois, fui para indústrias de embalagens, também plásticas, e até hoje ainda dou consultoria em empresas que usam o material plástico como principal insumo, né?
P/1 – Seu Nilo, o senhor se reportava a quem, na parte brasileira somente ou...?
R – Não. Na verdade, havia, como eu já falei, o Doutor Eduardo Sabino de Oliveira, que era o diretor industrial, e, em uma primeira fase, eu me reportava ao diretor industrial, que era o Doutor Eduardo Sabino de Oliveira, depois, houve uma coisa interessante, houve uma dissensão, um problema de ordem administrativa entre a missão francesa, que estava aqui, e o grupo, não é? Naquele tempo, ainda o Senador José Ermírio de Moraes estava à testa do grupo, ele era ainda relativamente jovem. Então, eu fui convidado para prosseguir na montagem, terminá-la e dar, digamos, andamento ao projeto, não é? O chefe da missão francesa o (Adolfo Louis Bernard?), é, desligou-se da Société Organico e me convidou para sócio, para fundar uma empresa, eu tinha que ser, tinha que ter um engenheiro brasileiro responsável, e ele me escolheu, dentre os engenheiros brasileiros, para fundar uma pequena sociedade e comandando os engenheiros franceses que aqui permaneceram.
P/1 – Interessante isso, né, Seu Nilo?
R – É muito interessante. Eu me licenciei da Rilsan, não é, porque passei a ser sócio do engenheiro francês, do (Adolfo Louis Bernard?), e nós, então, terminamos a montagem, e foi dada a partida, então, a Rilsan Brasileira deixou de importar o monômero da França, que passou a ter a sua produção, e que continuou durante vários anos. Depois, houve uma separação amigável entre os grupos que controlavam a Companhia Nitro Química Brasileira e, portanto, a Rilsan. Porque a Companhia Nitro Química Brasileira era do Grupo Votorantim e do Grupo Klabin, né? E, posteriormente, né, o Grupo Votorantim ficou com a Companhia Nitro Química Brasileira, e o Grupo Klabin ficou com a Rilsan. E dado esse problema que eu falei do custo das matérias-primas o Grupo Klabin entrou em entendimentos com o Grupo Hoechst alemão e passaram a produzir poliéster com a marca Trevira, que é uma marca muito conhecida e, então, passaram a produzir fio de poliéster. Atualmente, eu não sei exatamente como está isso, mas ela mudou, digamos, de produção, de tipo de produção e lá continuou por vários anos. Talvez até esteja lá ainda, eu não sei.
P/1 – Essa produção da Rilsan era vendida no mercado interno e no externo?
R – Não, uma parte era vendida. Não, ela era vendida especialmente para tecelagens, que é a parte têxtil, né? Mas havia uma produção de monômero, e essa produção tinha duas finalidades: tinha a produção de tecidos, não é, então, ela ia de um lado da fábrica para outra ala, a italiana, lá era fiada, fazia-se fios, e os fios eram vendidos à tecelagens, inclusive, imagine que uma parte era para própria tecelagem, é, Votorantim, e vendida no mercado em geral, competindo com outros fios de nylon e fio sintético, e também fios naturais.
P/1 – Mas no mercado brasileiro ou no...
R – Não, no mercado brasileiro predominantemente. Na parte de plástico, isto é, resina plástica para produtos, ela vendia muito para a empresa, a qual eu fui diretor depois, que era a Manap, não é, e também exportava uma parte e vendia para outros consumidores que queriam fazer artefatos de plástico, porque o nylon, além de ser um material têxtil excelente, é um plástico de engenharia, não, era um dos primeiros plásticos de engenharia, então, ela vendia para o Brasil. Deve ter feito alguma exportação, mas o grosso era consumido no Brasil mesmo.
P/1 – Certo. Quer dizer, a Rilsan tinha essa parte do nylon e tinha essa parte de, como o senhor disse, resina plástica?
R – É, ela tinha...
P/1 – Isso era uma decorrência do processo ou fazia parte...
R – Perdão!
P/1 – Essas duas produções, quer dizer, o nylon e essa resina plástica, isso era decorrência do processo ou era uma...
R – Sim, porque o monômero era quimicamente o mesmo, quer dizer, até o monômero, não é, é, o nome do monômero era ácido 11 aminoundecanóico, né, então, esse ácido servia tanto para ir para um, que chamava-se polimerização contínua, onde saía o fio continuamente, não é, como para a chamada polimerização descontínua, que fazia grãos de nylon, né, então, esses grãos de nylon eram vendidos para manufaturas que faziam artigos de nylon. E o fio, na polimerização contínua, ia para tecelagens. Então, o material era quimicamente o mesmo, quer dizer, ele era polimerizado e, então, o polímero em grãos, não é, passava a chamar-se resina, e o polímero em fios, era simplesmente em fios, eram vendidos, em bobinas de fio para tecelagens.
P/1 – Seu Nilo, havia bastante contato entre vocês da Rilsan com o pessoal da Nitro Química?
R – É, era um contrato amigável. Como eu digo: o Doutor Eduardo Sabino de Oliveira tinha sido diretor da Companhia Nitro Química e, depois, passou a ser diretor da Rilsan, ele já tinha longos anos de carreira. Agora, o Doutor Ermírio Pereira de Moraes, que era o mais novo dos três filhos do Senador, ele liderava, né, tanto a Nitro Química como a Rilsan, né? Então, ele, evidentemente, os filhos do Senador foram dividindo, foram tomando conta de várias fábricas, fazendas. O grupo já era bastante grande naquela época, inclusive, o Doutor Antônio Ermírio de Moraes, por exemplo, estava muito concentrado, naquele tempo, na Siderúrgica Barra Mansa. Aliás, ele era muito famoso pelo seu dinamismo e pela sua grande vontade de produzir e trabalhar. Até, corria uma lenda lá, não é? Lenda ou, talvez, verdade! Que ele ia para Barra Mansa, num automóvel com o banco reclinável e, né, ele ia, dormia numa noite (riso) indo para Barra Mansa, trabalhava lá e voltava dormindo outra noite, numa perua, né, e com bancos reclináveis. Quer dizer, ele já era tido como um trabalhador incansável, não é? O Doutor José também já tinha a sua ascendência, como filho mais velho, não é? Eu não me lembro se o Clóvis Scripilliti já era casado com a filha do senador, eu não me lembro disso, se já era ou se casou-se depois, mas já havia, digamos, essa geração, ou seja, a terceira geração, né, contando a primeira como a do Pereira Inácio, a segunda do Senador e a terceira dos três filhos do genro, que já estava tomando, digamos, pé do grupo, já que o Senador já era uma pessoa idosa. Ainda muito ativo! que várias vezes ele foi lá tratar de alguns problemas especiais, havia alguma dificuldade quanto à qualidade dos produtos químicos que eram empregados lá etc. Eu tive vários contatos com ele, porque, depois, quando eu fiquei sócio do Bernard nessa empresa, então, eu fiquei participando de tudo, né, quer dizer, não só da Casa de Força e Energia, onde eu comecei, mas de toda área química e de todos os problemas imanentes. Eu tive que estudar muito, e aprender muito, sobre essa parte de plásticos, reações químicas, que eu não sou de formação química, eu tenho algum conhecimento, e tive que adquirir outros conhecimentos, justamente, porque depois a minha responsabilidade ficou muito mais abrangente, né?
P/1 – Então, o senhor tinha bastante contato com o Senador? Mas mais com o Ermírio, é isso, que ele que era o...
R – É, é, justamente! O Doutor Ermírio Pereira de Moraes, aquele que era chamado o caçula, não é, ele era o responsável pela...
P/1 – Desculpa, Seu Nilo, o caçula era como todo mundo o chamava, é isso?
R – Não, chamavam ali, porque falavam. Tinha o mais velho, que era o José, certo, depois, tinha o Doutor Antônio, que era o mediano, e o Ermírio Pereira de Moraes, que era genro do Eduardo, ele casou-se com – se não me engano – com a Maria Helena, que era. Inclusive a Maria Helena casou-se com – eu não sei bem, acho que é a Maria Helena mesmo! Casou-se com o Ermírio, ela era irmã do Roberto Milliet de Oliveira, que, depois, foi meu colega na Manap, como diretor. Foi meu colega e, então, eu o conheci. Às vezes, ele ia em algumas festas onde estavam tanto o Roberto como o Ermírio Pereira de Moraes e a Ana Maria. E o Eduardo, que era o pai da Ana Maria, não? Então, é, tinha um certo relacionamento social, não é? Mas o Doutor Ermírio Pereira de Moraes, ele ficava muito na parte comercial, ele ficava muito na Votorantim, não é, e de vez em quando ia lá também. Mas era o responsável! Ele era o responsável. Agora, o Doutor José Ermírio de Moraes, o Senador, ele era um madrugador, não é? Então, geralmente, antes de ir a Votorantim, ao escritório, ele ia visitar uma fábrica, ele chegava muito cedo e, então, visitava a fábrica e, depois, ia para a cidade. É, ele tinha esse hábito, então, várias vezes conversei com ele, mas ele não. Na verdade, ele tinha uma visão, assim, global de todo o grupo, então, ele sempre atacava os pontos mais fracos, sempre tinha, (riso) agia mais em crises, né, do que quando as coisas andavam bem. Ele era muito dinâmico, muito ativo, não é, era uma figura imponente, grande, né, uma figura bastante, é, impressiva, não é? E eu o conheci, tive contato com ele, e pontuais, vamos dizer, né? Havia, também, um diretor administrativo, que era o senhor Alberto Martins Moita, que é o que fazia a ponte, né? Lá, não havia, imagina só, naquela época nem havia telefone, havia uma linha direta entre o prédio da Votorantim (riso) e a Rilsan, que não havia telefone. Havia postes telefônicos em Osasco, só depois, né, que o Amador Aguiar, do Bradesco, resolveu implantar um serviço telefônico razoável em Osasco, e fundou a Cotespa, Companhia Telefônica Suburbana Paulista, que, depois, foi absorvida pela Companhia Telefônica Brasileira e pela Telesp. E eu fui conselheiro, né, eu fiz parte do Conselho da Cotespa com uma série de profissionais de Osasco, né, que foram se projetando pouco a pouco, né? E eu fui, também, conselheiro da Delegacia do Ciesp, em Osasco. Fui fundador do Rotary, é, Clube de Osasco Sul, né? Os Ermírio de Moraes sempre eram muito ligados ao Rotary, né, eles eram bastante ligados ao Rotary.
[interrupção]
P/1 – Então, Seu Nilo, eu só queria retomar. Quer dizer, o senhor estava dizendo que não havia nem comunicação por telefone, não era isso?
R – É, não havia nem comunicação por telefone, havia um cabo telefônico, né, quer dizer, ligado diretamente do escritório da Votorantim, que era na Avenida da Luz, naquele tempo, para a Rilsan, mas não havia contato fácil, era difícil. O diretor se reportava de manhã, a quem devia se reportar e, depois, o assunto ficava sem comunicações. Havia um posto telefônico, no centro de Osasco, que a pessoa tinha que ir lá. Imagine só, o telefone de manivela! O telefone do tempo do Graham Bell, né? Mas, depois, a coisa melhorou e, então, eu fiquei. Depois que eu saí da Rilsan, eu fiquei mais onze anos, em Osasco, trabalhando na Manap, que é essa empresa que utilizava, é, produtos da Rilsan. Depois, eu fiquei mais cinco em uma empresa, a Itap S.A., que era lá também, no Jaguaré. Eu fiquei sempre naquela região, muito tempo naquela região.
P/1 – O senhor ia ao escritório da Votorantim?
R – Às vezes, quando havia reuniões especiais, quando havia problemas específicos. Ia pouco, não é, é, não era muito. Eu era mais um, quer dizer, um engenheiro de fábrica mesmo, não?
P/1 – O senhor ficava, então, na Avenida da Luz, é isso?
R – É, na Avenida da Luz, exatamente.
P/1 – Era grande, lá, o escritório, Neu Nilo?
R – Havia vários andares, mas eu ia, geralmente, em uma sala de reuniões. Eu não conhecia muito, eu não confraternizava muito com o pessoal, né? E eu ia na Nitro Química, às vezes, também conversar, que tinha lá alguns engenheiros como o (Enio Ravalia?), que também tinha estudado na Politécnica. As compras da Rilsan e da Companhia Nitro Química eram feitas pelo senhor (Victor Prozzi?), que era o comprador comum. Então, às vezes, tinham problemas de compras, de equipamento etc, e principalmente o senhor (Victor Prozzi?) era o comprador tanto da Nitro Química como da Rilsan, não é? Eu conheci uma ou outra pessoa.
P/1 – Interessante, né, havia uma centralização, então, dessa área de compras, era a única centraliza ou havia outras áreas que vocês compartilhavam?
R – Eu não sei se vendas era compartilhada ou não, eu não estou a par. Talvez fosse. Aí já não era um assunto meu, mas a parte de compras, né, era ligada, especialmente compras de equipamentos, né, eram muito ligadas a mim. E era centralizada!
P/1 – E o senhor é que dava o parecer desses equipamentos, digamos?
R – É, dependendo do tipo, né, porque quando, digamos, os engenheiros brasileiros foram também aprendendo e assumindo, depois, no fim, todos os engenheiros franceses voltaram para França, né, aí a operação ficou tanto na parte têxtil, ex-italiana, como na parte química, ex-francesa, depois, ela ficou sendo operada por engenheiros brasileiros, não é? Então, houve um envolvimento progressivo, né, porque os engenheiros estrangeiros, que vinham das empresas estrangeiras, acabaram voltando, né, terminada a missão deles, né? E chamavam, inclusive, de missão francesa, né? Quer dizer, porque eles tinham como missão fazer a fábrica andar e, depois, voltaram para os seus postos de origem, não?
P/1 – E aí, quer dizer, antes da divisão do grupo, o senhor então já não estava mais na Rilsan?
R – Não, eu não estava mais, eu estava em uma firma muito ligada à Rilsan, porque ela era uma grande compradora de resina, né, de nylon 11, né?
P/1 – Essa sua firma produzia plástico?
R – Nós fazíamos. É, essa empresa, a Manap, ela fazia artigos de plásticos, porque, até aquela época, plástico era coisa, assim, para xicrinha, para bandejinha. E nós começamos a fazer artigos técnicos: engrenagens de plástico, hélice de ventiladores de automóveis de plástico, compreende? Então, a Manap foi uma empresa que utilizava plástico de engenharia. E o primeiro plástico de engenharia a ser usado pela Manap era justamente o nylon 11, depois, houve outros plásticos, de outros desenvolvimentos, mesmo o poliéster, ABS e outros plásticos de engenharia, né? Mas a Rilsan fornecia o nylon 11, e muitos produtos que eram metálicos ou eram feitos com material plástico importado que passaram a ser feitos com a Rilsan, que era a marca, não é, do nylon 11.
P/1 – Praticamente, só a Rilsan vendia o nylon 11 no Brasil, Seu Nilo?
R – Sim, porque era uma patente, né? Era uma patente, então, ela era licenciada pela Société Organico para produzir, era patenteada. Como a Rhodia era licenciada pela DuPont, não é? E outras empresas, depois, começaram a ser licenciadas pela TSF, que eu falei, e pela Bayer, que faziam o nylon 6, não é? Então, havia a licença, não era qualquer. E eram também estruturas muito complicadas para fazer, eram grandes unidades químicas, havia várias fases de processo. Então, não era uma coisa simples, não!
P/1 – Agora, Seu Nilo, eu fico pensando o seguinte: quer dizer, na verdade, que ela era a única, mas poderia ter tido um desenvolvimento muito maior, mas é que outros tipos de nylon é que foram surgindo, é isso?
R – É, o grande problema é que os outros tipos de nylon eram mais baratos, quer dizer, no começo, não! E nem havia. Depois, é, como a maioria dos outros tipos de nylon eram baseados em produtos do petróleo e basicamente em nafta, então, é, a Rilsan não se tornou mais competitiva. Havia uma grande vantagem para o nylon 11, por exemplo, que ele era antialérgico, porque ele era feito de produto vegetal. Era o único nylon feito de produto vegetal, e ele continua a ser fabricado na Europa, na França, porque a França, ela tinha uma composição de custos completamente diferente. A França importava óleo de rícino da África, das antigas colônias francesas e, aqui, não é, não só, por motivos que eu ignoro, motivos de mercado possivelmente, o óleo de mamona. Quando eu falo óleo de mamona ou óleo de rícino é a mesma coisa, são sinônimos, inclusive, em inglês é óleo de castor. (riso) Quando, pouco a pouco, o nylon de outras origens foi ficando competitivo, não é, e nós achamos, nós. Até, mesmo quando eu não estava mais na Rilsan, eu me revoltava, porque era um nylon melhor, antialérgico, feito de matéria-prima nacional, e que não competia com nylons feitos a partir do petróleo. Foi uma tristeza, sinceramente, porque o processo era muito interessante e usava matéria-prima nacional. Inclusive, em cada safra havia uma equipe de compradores de óleo de mamona que viajavam pelo interior do Brasil, mesmo para comprar óleo de mamona para estocar, lá, na Rilsan, para ter óleo de mamona ao longo de todo ano, porque isso é sazonal, não? Então, havia grandes reservatórios que armazenavam o óleo de mamona para a produção, durante todo ano. Quer dizer, era uma coisa muito interessante, muito original, mas que, infelizmente, não deu certo, porque o mercado de outros produtos, não é, eram, digamos, eram adversos ao nylon 11. Também, como subproduto a Rilsan fazia uma glicerina de ótima qualidade, que, daí, era vendida para o Grupo Votorantim, para fazer celofane, né? O Grupo Votorantim era grande fabricante de celofane, então, era grande consumidor da glicerina da Rilsan, que era um subproduto da fabricação de nylon.
P/1 – Agora, Seu Nilo, eu sou absolutamente leiga nessa história, mas, quer dizer, no momento onde se fala que vamos aproveitar as energias renováveis. Quer dizer, esse processo, ele ainda existe hoje só lá na França? O Brasil nunca mais voltou a fazer?
R – Olha, que nunca mais voltou! Eu sei que nunca mais voltou!
P/1 – Mas que coisa!
R – Se seria algo a se restaurar? Eu não sei. Eu não, francamente, que teria que vermos tudo com... Eu lamento muito, né, que esse processo, por razões puramente econômicas e não técnicas, puramente econômicas foi abandonado. Eu lamento muito, porque, como a senhora falou, é um produto feito de óleo de mamona e é renovável, né? Talvez, agora, alguém esteja estudando isso! Eu não sei! Francamente, eu não estou a par, porque há anos eu não mexo com isso. Mas seguramente, a ideia era muito interessante, não é? A França, vamos dizer, ela fez esse desenvolvimento. A Organico, calcada na compra de óleo de mamona da África. Mas o Brasil é um grande produtor de óleo de mamona! Então, eu não sei exatamente como está agora.
P/1 – Quer dizer, talvez o custo do processo se daria o quê, no processo em si? Porque talvez ele fosse, pelo o que eu entendi, a planta, inclusive, era integrada, quer dizer, ela fazia o óleo, né, quer dizer, ela pegava, extraía o óleo, então?
R – O plantador de mamona vendia o óleo, é uma mamona. Inclusive, não é essa mamona comum que dá no mato, é uma espécie já mais oleosa etc. Mas havia, todo mundo que planta mamona. Ainda há utilização para óleo de mamona para combustíveis e para outras coisas. Para óleo lubrificante mesmo etc. Então, o plantador plantava a mamona e vendia o óleo para várias finalidades químicas: para tintas e etc. Então, a Rilsan comprava, se abastecia de óleo de mamona. E ele vinha em vagões etc. Aliás, a Estrada de Ferro Sorocabana, hoje, que é a Fepasa – se não mudou de nome outra vez–, ela passava dentro da Rilsan, o terreno da Rilsan era dividido: uma parte aquém da estrada de ferro, quer dizer, entre a estrada de ferro e a avenida, a rua de acesso, que era a estrada de Itú e o rio. Então, havia dois pedaços, (riso) o terreno. E havia um guarda permanentemente lá para ver se os caminhões podiam atravessar. Depois, foi feita uma parte subterrânea, apenas para pedestres. Então, sempre havia uma necessidade de cuidado, não, porque os trens da Sorocabana passavam dentro da fábrica, por assim dizer, dentro do terreno da fábrica. Mas isso não era um grande problema, precisava apenas ter uma vigilância adequada, tinham os horários e tudo. Mas não havia outra maneira senão ficar alerta, não?
P/1 – Quer dizer que, então, talvez mesmo por causa disso, do próprio… do maquinário talvez, né, Seu Nilo?
R – É como eu digo, eu não sei nem o que foi feito do equipamento, se ele foi. Bom, ele foi descontinuado, eu não sei o que aconteceu. Agora, também não posso nem garantir qual é a importância do nylon, hoje, na Europa. Quer dizer, o nylon, hoje, está nas listas de preços, ele é disponível, mas eu não sei. É como eu digo, nesse aspecto foi uma pena mesmo. Sobre esse aspecto foi uma pena, né?
P/1 – É, realmente. É caso até...
R – Não, a sua opinião não é uma opinião leiga, é a opinião de uma pessoa que tem bom senso. Por que usar petróleo, né, quando existe algo feito com óleo vegetal? Mas isso aí é uma problema (riso) de economia.
P/1 – Ah, pois é, até politico, né, muitas vezes até político, né, Seu Nilo?
R – É, é claro.
P/1 – Então, depois da Manap, aí, o senhor continuou esse contato com o pessoal do grupo, né, só que aí...
R – Sim, continuei na Manap. Sim, porque eu era um cliente, era um consumidor, né, eu consumia. Depois, eu saí da Manap, a Manap continuou...
P/1 – E a Votorantim tratava bem os seus clientes, Seu Nilo?
R – Bom, a Votorantim, é como eu digo, o aspecto mercadológico da Votorantim eu desconheço. A Votorantim sempre foi respeitada como um grupo pioneiro em muitas coisas, e que fazia as coisas bem feitas.
P/1 – Mas o senhor como cliente, eles tratavam bem o senhor?
R – Ah, sim! A Rilsan fornecia muito bem, não há dúvida nenhuma. Poucas reclamações, poucos problemas, não é? Ah, e ia lá, às vezes, visitar, conversar sobre algum tipo novo, porque, às vezes, por exemplo, a resina era aditivada com grafite, com sulfeto de molibdênio, que é um lubrificante. Então, havia tipos especiais e a gente, então, fazia provas em comum, fazia amostras e levava, perguntava se podia melhorar isso ou modificar isso, modificar aquilo. Há várias viscosidades que são variáveis na resina que se compra. Existem vários subtipos, né? Então, havia um diálogo. Só, que eu, aí, era consumidor, não é, e eles, lá, procuravam desenvolver novos tipos, não é, novas variedades etc.
P/1 – Mas é interessante, né, quer dizer, na verdade, o senhor como consumidor também era ouvido, havia um grupo de trabalho para lhe atender, é interessante isso, né, Seu Nilo?
R – Ah, sim! Sim, havia isto, e isto funcionava muito bem!
P/1 – A Votorantim sempre teve um pouco, até, para Rilsan, digamos, quando eu falo Votorantim, no seu caso, é me referindo a Rilsan. Quer dizer, havia sempre um cuidado com a questão técnica muito alto, né?
R – Seguramente! Seguramente! Não, é como eu digo, a própria escolha pelo Senador de, digo, a própria decisão da Nitro Química passar a fazer um fio de muito melhor qualidade, né, em vez de fazer fio de rayon, porque ela continua, talvez ainda faça hoje, mas de passar do rayon para o nylon já foi uma decisão estratégica, é, clarividente, compreende? Quer dizer, então, houve depois negociações. Principalmente, até, se não me engano, os filhos do Senador foram à Europa várias vezes. O contrato, houve uma série de trabalhos prévios, né, e, então, houve essa associação __________, como eu falo, né? Aliás, aí também o Ministro Horácio Lafer participou muito, né? O Ministro Horácio Lafer, que era o representante político do Grupo Klabin, não é, e era amigo do Senador. Eles eram, quer dizer, fizeram a Nitro Química em conjunto, não é? A Nitro Química foi feita para concorrer com o Grupo Matarazzo na parte de rayon, né? Ela foi uma empresa competidora, né, posterior à fabricação de rayon pela Indústria Matarazzo. Teve até apoio do Getúlio Vargas, do Governo. O Getúlio Vargas gostava muito de empresários avançados, não é, tanto o Grupo Klabin como o Grupo Votorantim tiveram muito apoio, né, do grupo daqueles empresários da Fiesp, né, o Roberto Simonsen, todo esse pessoal, porque eram unidos, não, eram aliados e tentando industrializar o Brasil, né? E a Votorantim sempre esteve à frente desse grupo, né?
[interrupção]
P/1 – Então, o senhor estava dizendo que o Getúlio gostava dos grupos industriais, né?
R – É, como todo político ele tinha as facetas ruins, as facetas mais ou menos e as facetas boas, né? Mas ele apoiava determinados empreendimentos, ele deu muito apoio ao Grupo Klabin para a fabricação de papel jornal, a fabricação de papéis de outros tipos também, ele apoiou bastante. É, ele confiava muito no Grupo Klabin, e confiava também no Grupo Votorantim, tanto, que o filho do Getúlio, o Getulinho, trabalhou na Nitro Química. Sabia disso?
P/1 – O senhor chegou a conhecê-lo?
R – Não!
P/1 – Porque essa é uma história interessante, né, é um mito da Nitro Química, né? Mas o senhor não conheceu o Getulinho?
R – Não, ele já tinha morrido quando eu... Ele morreu cedo, o Getulinho.
P/1 – É, o senhor entrou, já, em 1957, né?
R – É. Mas ele trabalhou na Nitro Química, ele era filho do Getúlio e trabalhou lá muito tempo. Quer dizer, o Getúlio tinha algumas coisas, o apoio dele à indústria foi muito grande, né? Eu não quero elogiá-lo demais, mas ele tinha certos aspectos. Sobre certos aspectos ele tinha uma visão boa. E alguns empresários, especialmente de São Paulo, se apoiaram nesse interesse do Getúlio em industrializar o Brasil, não é?
P/1 – E, depois, quando o senhor saiu da Manap, o senhor foi para Etap?
R – Eu fui ser diretor da Etap.
P/1 – Aí, se inverteu o papel e, aí, o senhor foi fornecer da Votorantim, é isso?
R – Ah, passei a fornecer, sim, claro. Exatamente, porque, aí, a Etap, com embalagens, ela fazia filmes técnicos, fazia uma série de produtos que serviam para o grupo, para embalagens, né? Agora mesmo, como eu já falei, eu sou consultor da Embaquim, que é uma empresa que faz um tipo especial de embalagem para produtos químicos para a Nitro Química. A Nitro Química é cliente da Embaquim, então, quando eu ouço falar da Nitro Química, eu ouço falar dela como cliente, em uma firma que eu dou consultoria! Eu não sei mais quem é que está. Eu acho que quem está a testa da Nitro Química é um neto do Eduardo Sabino de Oliveira. Eu não sei exatamente quem é que está controlando atualmente, porque há muitos, né, hoje em dia há muitos diretores. A família Moraes é muito grande, né? Eu não sei quem está lá, mas, de qualquer forma, nós, é, a Embaquim fornece produtos para Nitro Química.
P/1 – Então, se a gente somar todo esse tempo, Seu Nilo, me corrija se eu estiver errada, de 1957 para 2009 são cinquenta e dois anos de relacionamento profissional, que é, de certa forma, com o Grupo Votorantim?
R – É. Quer dizer, é pontual, não é uma coisa contínua, mas sempre...
P/1 – Sempre o senhor esbarrou com a Votorantim, digamos assim.
R – Sim, sempre! Sempre, sempre, sempre! Sem contar que, evidentemente, por exemplo, o Doutor Antônio sempre foi um elemento exemplar para a engenharia brasileira e, também, esses empreendimentos, digamos, em níquel. Eu me lembro, naquela época, por exemplo, estava começando a Companhia Níquel Tocantins, então, ela era, também, um empreendimento pioneiro, então a gente acompanhava de longe ou, então, havia engenheiros que a gente conhecia e que estavam, justamente projetando a fábrica Níquel Tocantins, não é?
P/1 – O senhor, na área de Engenharia, que é uma área que parece que tem uma visão privilegiada, imaginava esse crescimento do grupo, será, naquela época?
R – Não! Não há dúvida que havia, vamos supor, uma vontade férrea do Senador que foi transmitida aos filhos, né, e ao genro. Então, era um grupo, assim, muito coeso, muito disposto a trabalhar e, digamos, com a ideia, assim, de construir um grupo. Havia uma, vamos dizer, uma vontade (leachiana?) aí de crescer, de superar a concorrência etc, e apoiar coisas avançadas, né? É interessante, né, quer dizer, havia a ideia de, assim, a própria Companhia Brasileira de Alumínio, a própria fabricação de soda cáustica na Nitro Química eram coisas, assim, que havia uma decisão: “Vamos resolver! Vamos fazer! Depois, as dificuldades a gente vai resolver”. Quer dizer, havia pouca indecisão. Quer dizer, eu não estava a par das negociações (riso) de alta cúpula, mas havia sempre uma ideia de: “Vamos fazer!”, e a coisa era feita, né? Então, o grupo, eu acho que ele, digamos, teve sempre uma visão estratégica muito boa! Muito boa! E se vê como outros grupos, né, que eram grandes, naquela época, e que, hoje, não são mais, não é? E a Votorantim não só sobrevive como cresce, né, então é um grupo que sempre está crescendo. Isto é muito positivo para o país! Eu acho, não é, é muito positivo. Então, sempre que se falava na família Moraes, no grupo Ermírio de Moraes etc, sempre era com admiração pelo número de fábricas, pelo crescimento. Eu tive colegas que trabalharam, por exemplo, na Metalúrgica Atlas, né, eu fui colega de Rotary do Carlson, não é, eu fui colega do Suzano Pacheco, que era de uma fábrica de cimento, ali, do Jaguaré, quer dizer, e eram pessoas sempre entusiásticas, que trabalhavam contentes, não é? É claro que também tinham dificuldades, mas sempre eram pessoas que trabalhavam de uma forma, digamos, positiva. Eu sempre admirei muito o Doutor Antônio como ele conseguia, consegue, talvez, ainda hoje, tanto, digamos, trabalhar no plano estratégico como no plano tático, né, porque ele sempre foi um homem detalhista, de fazer perguntas sobre pequenos detalhes. Eu não sei como ele encontra tempo para isso, inclusive, deve ser ainda, é, o líder da Sociedade Beneficiência Portuguesa, né, deve continuar. Quer dizer, como ele consegue, (riso) com vinte e quatro horas, fazer tanta coisa diferente, e não só pela rama, não é, ele investiga detalhes. Eu sei de casos que vão se contando etc, não é, dele ir em uma visita à uma fábrica e esmiuçar tudo, não é, e conseguia, ao mesmo tempo, conservar a visão de conjunto, conservar, digamos, os aspectos estratégicos de nível mais alto, não? Isso é uma coisa interessante, muitas vezes a pessoa se perde nos detalhes ou não toma conhecimento deles, mas não é o caso! (riso) Não é o caso! Isso, talvez, tenha sido, digamos, o grande motor do Grupo Votorantim conseguir, é, ter, haver um controle da família, uma expansão e, digamos, um retorno conveniente, né?
P/1 – Seu Nilo, o senhor participou, também, dessas entidades representativas? O senhor estava dizendo: Ciesp, Rotary...
R – É, justamente! Eu fui, bom, eu fui fundador e o primeiro presidente do Rotary Clube de Osasco Sul. Depois, quando eu fui trabalhar na Manap, no Jaguaré, eu fui presidente do Rotary Clube São Paulo Oeste, né, eu fui conselheiro da delegacia da Ciesp, em Osasco, fui também, digamos, participei, né, de algumas atividades do Fiesp. Inclusive, fui diretor do Sindicato da Indústria de Matéria Plástica quando o falecido Dilson Funaro era presidente. O Dilson Funaro também foi muito envolvido em materiais plásticos na Trorion e em outras empresas, né, e quando ele foi presidente do Sindiplast, que eu fui diretor, eu era diretor da Etap, nessa ocasião, não é, na década de setenta. Eu fui diretor, também, no Sindiplast. Então, a gente convivia com uma porção de industriais e uma porção de líderes da indústria, né? Eu sempre fui um homem de indústria, né, eu pouco entendo da parte comercial, (riso) mas sempre fui um homem de fábrica, e me sinto satisfeito com isso, sempre fui um homem de produção.
P/1 – E na sua época de Ciesp, o senhor chegou porque os Ermírios de Moraes também eram muito envolvidos, né?
R – É, eles eram envolvidos, muito, muitíssimo. E a delegacia, porque a Fiesp, ela é centralizada, e é um órgão oficial. A Ciesp é um órgão não oficial, é um órgão de apoio, né, e a Ciesp tem várias delegacias, e na delegacia de Osasco eu fui membro, fui conselheiro. Então, eu fui conselheiro do Ciesp de Osasco, e a gente, então, fazia muita coisa, tinha ligações com os prefeitos, com o Prefeito Guaçu Piteri, e outros prefeitos antigos. O Carlson, hoje, é professor universitário, e amigo do Fernando Henrique. (riso) Agora, o Senhor Piteri foi político lá e, daí, o Amador Aguiar quis fazer a Cotespa, então, ele convidou alguns diretores de Osasco, entre os quais eu passei a ser o conselheiro para tocar a Cotespa, que acabou funcionando e implantamos um sistema telefônico, depois, foi absorvida, né, pela Telesp, foi o caminho natural de todas essas empresas do Estado de São Paulo, que foram absorvidas e, digamos, o sistema telefônico virou monopólio estatal e, hoje, voltou a ser privatizado, não?
P/1 – O senhor diz assim: “Eu sou um homem de indústria, eu sempre fui um homem de indústria”. O senhor pega a indústria, inclusive, em uma fase onde os industriais eram muito, usando uma expressão atual, pró-ativos, não é, eles não esperavam muito o governo decidir, não é isso, Seu Nilo?
R – Ah, sim! Sim, eles tinham, digamos, uma visão, digamos, pioneira, não? Hoje, já é diferente, as coisas são diferentes. Mas havia, assim, certas famílias, né, que eram organizações, muitas delas, familiares, né? Hoje, já existe a tendência a delegar, a fazer conselhos consultivos controlando staff’s. E mudou, né, porque também as coisas ficam mais complexas, maiores e etc. Então, havia certos elementos, né, e a Fiesp centralizava isso, né, centralizava os empresários que queriam fazer alguma coisa e, então, também tinham que entrar na política, tinham que ter influência política, né, para conseguir um desenvolvimento. Mas no sentido positivo, né, no sentido de crescimento nacional, né? Havia, naquela época, corrupção, sempre houve, mas há certos aspectos, assim, da corrupção, que hoje assustam os idosos (riso) como eu! Não havia, né? Havia escândalos também, sempre houve, mas havia um certo controle, não é, das forças produtivas sobre as forças políticas. Hoje, não! Hoje, as forças políticas, de qualquer espécie que sejam, têm uma ascendência muito maior sobre as forças produtivas. Eu acho que houve uma inversão aí. Eu acho, pessoalmente.
P/1 – Seu Nilo, esse nome Rilsan o senhor sabe se ele é um...
R – Eu vou explicar! Eu vou explicá-lo! É, Rilsan. Durante a guerra, houve uma equipe de engenheiros franceses que já pensavam nesse processo, e elas ficavam em uma cidade da Normandia, que eu estive lá, eu visitei depois, chamada Sérigny, que ficava à beira de um riozinho chamado Risle, r-i-s-l-e, Risle! Essa pequena riviera, esse pequeno rio, não é, perto de Sérigny, foi que deu nome ao Rio Seine, depois eles compuseram (riso) o nome do Rio Seine a partir desse pequeno rio. Pouca gente deve saber isso hoje, a partir desse pequeno rio. Eu estive lá, comi trutas desse rio, o Risle, né? Que depois que a Organico fez a grande fábrica, não é, ela ali na Normandia, ela manteve um laboratório experimental, eu fiz, inclusive, cursos lá etc, não é, lá na Normandia, que é uma zona lindíssima, como outras regiões, mas é muito bonita, e eu fiquei lá, fiz estágios lá. Isso já quando eu era da Manap. E eu também perguntei essa pergunta que (riso) me foi feita (riso), eu perguntei: “Mas por que é Rilsan, né?”. Ele falou: “É que o Rio Risle” e tal, e deu, alguém fez uma composição e ficou Rio Seine, ligado ao Rio Risle”.
P/1 – E as trutas? Eram boas?
R – Sim, excelentes! Muito boas. É, a Normandia (riso) é a terra do Calvados, que é a aguardente de maçã. É muito forte! É um lugar muito bonito, muito próspero, né, a Normandia é muito próspera.
P/1 – Seu Nilo, de 1957 até quando, mais ou menos, assim, o senhor ficou? Antes da Manap, né, digamos...
R – É, eu fiquei de 1957 a 1959, quer dizer, vinte e dois meses na Rilsan. Depois, de 1960 a 71 eu fui ser diretor da Manap. De 1971 a 1975. Não, 1970, perdão! De 1959 a 1970 eu fui diretor da Manap. De 1970 a 1975 eu fui diretor da Etap. E depois, eu resolvi trabalhar em consultoria. Aí, quando eu perdi a visão, em 1989, há vinte anos, aí, eu reduzi o meu trabalho, né? Hoje, eu faço algum trabalho em pequena escala, e também nem tenho idade para trabalhar arduamente, mas aí, eu trabalhei como consultor, usando todos os conhecimentos, né, desde os bancos escolares até a minha passagem. Quer dizer, inclusive, publiquei muitos trabalhos sobre plásticos, tenho vários trabalhos em revistas, aí, de divulgação. Alguns, inclusive, foram publicados na Europa e tal, sempre ligado aos plásticos, vamos dizer, é a parte de, a minha, é, digamos, a minha, é, viagem pelos plásticos começou na Rilsan, né? Ali, no caso, como produtor. Na verdade, como eu lhe falei, quando eu entrei lá eu estava trabalhando na parte de utilidades. A parte de utilidades não tem nada a ver com plástico, ela fornecia. Mas depois, devido a essa transferência minha para, é, digamos, ser sócio de uma empresa que acabou a montagem química da Rilsan, então, eu comecei a estudar plásticos etc. Aliás, o Engenheiro Eduardo Sabino de Oliveira que me levou a Rilsan, depois, ele me convidou para ir a Manap. Ele também era um engenheiro que, no fim, acabou na Nitro Química, né, aprofundando-se na parte de resinas, de fios têxteis, não é, e etc.
P/1 – Porque é uma área fascinante, não é?
R – É. E dificilmente uma pessoa se gradua e tem certeza de como vai estar depois de alguns anos, não é? Então, essa oportunidade apareceu e eu, então, fui estudando, fui aprimorando os meus conhecimentos, fui viajando muito etc. E as coisas começaram, quer dizer, eu fiquei com uma certa especialidade, né, na parte de plásticos, especialmente na aplicação, né, especialmente na aplicação de materiais plásticos.
P/1 – Seu Nilo, nesse seu tempo de Rilsan, houve algum fato que foi muito marcante?
R – Deixe-me lembrar! Bom, (riso) houve uma inundação da fábrica. (riso) Naquele tempo já acontecia isso, porque a Rilsan ficava à beira-rio, ficava à beira do Tietê, e indo-se em direção a Carapicuiba, à direita ficava a Rilsan, e à esquerda tinha uma zona com uma certa elevação, e essa zona foi urbanizada, também, por causa da Rilsan, quer dizer, uma grande construção de casas operárias, construiu-se a casa do diretor administrativo, que era o Martins etc. Então, asfaltaram toda aquela região, não é? (riso) E depois, houve uma chuva grande e, praticamente, paralisou a fábrica. A fábrica inundou. Não que ela ficou embaixo d’água, mas a torrente que descia em direção ao rio, não é, que o caminho natural da água é chegar a um rio! Inundou, lá, havia sérias instalações subterrâneas, havia valetas etc, como costuma haver em indústrias químicas, e ficou tudo inundado, motores queimaram etc, foi uma catástrofe ali, ficamos uma semana com a fábrica paralisada, é, pondo-a em ordem. Também, houve uma campanha política onde o Horácio Lafer candidatou-se a deputado federal, então, a gente procurou dar um apoio político a ele e tal. E também, havia algumas reuniões de caráter puramente partidário, né, porque havia interesse em reeleger o deputado Horácio Lafer, não é? Inclusive, eu estive, eu trabalhava na Rilsan quando o Horácio Lafer faleceu. Ele faleceu em Paris, e ele foi velado na própria casa dele, que é ali, na esquina da Avenida Europa com a Groelândia, onde, depois, foi a casa da Manchete, que hoje eu não sei o que é. Sabe onde é?
P/1 – Sei, sei.
R – Foi a casa da Manchete depois. E nessa casa eu fui ao velório do Horácio Lafer, não é? Também foi o meu colega de diretoria na Manap o Pedro Franco Piva, que depois foi senador, que era genro do Horácio Lafer, né, casado com a Silvinha Lafer. E o Pedro Franco Piva, depois, ficou sócio da Manap, junto com o Eduardo Sabino de Oliveira, né? Até havia um outro sócio, o Augusto Frederico Schmidt, que foi também um grande industrial. Imagine, um poeta industrial, que coisa, né? Ele foi um grande poeta (riso) e um grande industrial, era muito ligado ao Juscelino Kubitschek etc, né? Ah, um fato! Estamos falando aqui, vamos rememorando, né? O Juscelino visitou a Rilsan.
P/1 – É?
R – É, ele visitou e fez uma inauguração formal, que foi muito interessante, porque eu tinha um jipe, naquela época, e ele desceu de helicóptero na Rilsan, não é? É muito significadamente, eu estava em frente, porque eu estava em um dos jipes que ia levar o pessoal pra visitar a Rilsan, ________________ percorrer a área química de automóvel. E Juscelino, o helicóptero desceu, abriu-se a porta do helicóptero e ele, antes de descer, puxou um pente e penteou cuidadosamente os cabelos, eu vendo, assim, o pente. (riso) Daí, ele desceu, né, com o Augusto Frederico Schmidt e com outros. Peritos, inclusive. Daí, ele pegou o jipe da frente, eu em um jipe atrás, com um general, eu não sei se Chefe da Casa Militar ou qualquer coisa, era um general e mais alguns da comitiva, demos uma volta pela fábrica, depois, ele fez um discurso e considerou a fábrica inaugurada. E houve um banquete e etc, né? Isso foi justamente em 1959, por aí.
P/1 – Ele foi inaugurar um pedaço?
R – Não, ele foi. A fábrica estava funcionando, então, ele marcou, assim, oficialmente: “Eu vou inaugurar a fábrica!” (riso)
P/1 – Está certo. É, ele gostava disso.
R – Ele inaugurou a fábrica, porque não havia motivo. E para nós foi muito interessante, porque aí foi a imprensa, foi todo mundo lá e tal. Quer dizer, fez uma inauguração entre aspas. Nós sabíamos, não é, mas para a mídia foi uma inauguração. Mas nada começou a funcionar naquele dia, né, já estava funcionando tudo!
P/1 – Há muito tempo, né, Seu Nilo? Seu Nilo, eu soube que o senhor não conhecia o Projeto Memória, mas a gente conversou um pouquinho e o que o senhor acha dessa iniciativa? Porque o senhor já esteve conosco, lá, no Museu, mas, assim, do ponto de vista da memória das empresas, o que o senhor acha dessa iniciativa?
R – Não, evidentemente, isso é um ramo, né? É um ramo importante, porque eu acho que a memória, ela tem que ser segmentada para melhor entender, né? Quer dizer, nós temos aí um universo das memórias de todo mundo, e eu acho isso bom, porque, digamos, divulga e cria uma curiosidade, né? Eu acho que nada melhor do que uma empresa como um grupo como o Votorantim, né, ter, apoiar um projeto desses, divulgá-lo, ter interesse nele. Então, eu acho que a segmentação da memória universal é interessante, porque ela aumenta o uso, aumenta a utilidade, aumenta a curiosidade, aumenta o conhecimento, né? Eu sempre fui adepto de tudo que aumenta o conhecimento, né? E acho que essa iniciativa, né, o fato dela ter se voltado para, é, digamos, os trabalhos de colaboração e, digamos, em trabalhos com, digamos, efeitos múltiplos, eu acho muito interessante! Quer dizer, dentro do escopo básico da memória de registrar tudo aquilo que é digno de ser registrado, a indústria brasileira, né, como a agricultura, que eu sei também que a memória faz incursões em outros ramos, né? A indústria seguramente é muito importante, eu sou um homem que viveu da indústria, me realizei na indústria, então, é um ramo muito importante e, especialmente a Votorantim, que é um grupo brasileiro líder, não é? Há grupos que decaíram, grupos novos que surgiram, mas a Votorantim é bastante persistente, quer dizer, eu não sei quantos anos tem a Votorantim.
P/1 – Noventa e dois! Noventa e um e a caminho dos noventa e dois.
R – Então, quer dizer, é um grupo que se aproxima do centenário, né? Quantos grupos industriais, no mundo, duraram cem anos, não é? Não é comum isto! Então, é muito interessante. Que esse casamento, essa união eu acho muito positiva, né, como parte do escopo de memória nacional ou internacional, e digamos, focado, né? Um dos focos, é, eu acho muito interessante essa ideia de fazer um convênio formal ou informal juntamente, porque alguma coisa interessa, né? Eu acho que a Votorantim, ela faz parte da história. Eu estou absolutamente isento, eu não tenho nenhum interesse em, digamos, em elogiá-la, eu estou falando de verdade, é um sentimento que eu tenho, né? Inclusive, como consumidor, né? Quer dizer, qual é o brasileiro que não consome alguma coisa da Votorantim: ou alumínio, ou tecidos, ou qualquer coisa assim, né? Quer dizer, essa persistência, esses quase cem anos de progresso, né? É claro que ela também tem fases melhores e piores, mas esses cem anos de progresso são uma coisa ímpar e que merece registro. E esse registro, esta forma de registrar é muito interessante, eu acho muito interessante.
P/1 – Então está bom! Seu Nilo, muito obrigada!
R – Eu é que agradeço!
P/1 – A Memória Votorantim e o Museu da Pessoa agradecem muito ao senhor!
R – Eu é que agradeço.
P/1 – Eu lhe diria que foi uma honra poder entrevistá-lo.
R – Absolutamente!
P/1 – Muito obrigada!
R – A honra é toda minha, obrigado!
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