P/1 – Está valendo? Seu Élio, queria começar a entrevista com o senhor nos dizendo seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Élio Fernandes Gonzalez, Santos, 10 de abril de 1923.
P/1 – O senhor é meu conterrâneo?
R – É? Peixeira?
P/1 – Sou santista, também.
R – Peixeira também?
P/1 – Seu Élio, e o nome dos seus pais?
R – Nicolas Fernandes Estevez e Lucrecia Gonzalez Perez
P/1 – E o que faziam seus pais?
R – Meu pai, ele veio pro Brasil com 11 anos e fez uma porção de coisas. Foi garçom, empregado de laboratório. E no fim, ele foi secretário do Consulado Espanhol de Santos, por mais de 50 anos. Acho que ele chegou a 60 anos de, desse trabalho, não.
P/1 – E sua mãe?
R – Minha mãe era do lar, não é? Era dona de casa.
P/1 – O senhor tem irmãos, Senhor Élio?
R – Tenho três irmãos.
P/1 – Três irmãos?
R – Não. Tenho uma irmã e tinha um irmão falecido, né?
P/1 – Mas eram em três?
R – Os três. Éramos três. Os três nascidos em Santos.
P/1 – E o senhor se criou lá? Se criou em Santos?
R – É, me criei, até que vim pra São Paulo estudar, digamos, até... 16 anos, 17, eu fiquei em Santos.
P/1 – E como era Santos?
R – Depois eu vim, eu vim pra São Paulo, aí já fui me libertando.
P/1 – E como era Santos na época que o senhor estava lá?
R – Santos, na época que eu estava lá, eu acho que era uma beleza, não é? Na época, você diz, é...
P/1 – Quando o senhor era até 16, 17 anos.
R – É. É, no começo, Santos era uma cidadezinha, não é? Porque eu me lembro pouco, de pequeno a gente tem pouca memória, né? Mas a vida toda era na cidade, né? Inclusive, eu nasci na cidade, né? Na Rua da Constituição, não? A praia era deserta, não tinha um prédio, né?...
Continuar leituraP/1 – Está valendo? Seu Élio, queria começar a entrevista com o senhor nos dizendo seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Élio Fernandes Gonzalez, Santos, 10 de abril de 1923.
P/1 – O senhor é meu conterrâneo?
R – É? Peixeira?
P/1 – Sou santista, também.
R – Peixeira também?
P/1 – Seu Élio, e o nome dos seus pais?
R – Nicolas Fernandes Estevez e Lucrecia Gonzalez Perez
P/1 – E o que faziam seus pais?
R – Meu pai, ele veio pro Brasil com 11 anos e fez uma porção de coisas. Foi garçom, empregado de laboratório. E no fim, ele foi secretário do Consulado Espanhol de Santos, por mais de 50 anos. Acho que ele chegou a 60 anos de, desse trabalho, não.
P/1 – E sua mãe?
R – Minha mãe era do lar, não é? Era dona de casa.
P/1 – O senhor tem irmãos, Senhor Élio?
R – Tenho três irmãos.
P/1 – Três irmãos?
R – Não. Tenho uma irmã e tinha um irmão falecido, né?
P/1 – Mas eram em três?
R – Os três. Éramos três. Os três nascidos em Santos.
P/1 – E o senhor se criou lá? Se criou em Santos?
R – É, me criei, até que vim pra São Paulo estudar, digamos, até... 16 anos, 17, eu fiquei em Santos.
P/1 – E como era Santos?
R – Depois eu vim, eu vim pra São Paulo, aí já fui me libertando.
P/1 – E como era Santos na época que o senhor estava lá?
R – Santos, na época que eu estava lá, eu acho que era uma beleza, não é? Na época, você diz, é...
P/1 – Quando o senhor era até 16, 17 anos.
R – É. É, no começo, Santos era uma cidadezinha, não é? Porque eu me lembro pouco, de pequeno a gente tem pouca memória, né? Mas a vida toda era na cidade, né? Inclusive, eu nasci na cidade, né? Na Rua da Constituição, não? A praia era deserta, não tinha um prédio, né? E, interessante, que eu me lembro, naquela época que se alugava, as pessoas que moravam na cidade alugavam uma casa na praia, pra passar a temporada, né? Pessoal de Santos, mesmo. Então, era uma cidade sossegada, gostosa, não é? Depois foi evoluindo, aí apareceram os prédios, né? Mas ainda, quando eu moço, ainda era uma beleza morar lá, não?
P/1 – E a...
R – Era uma, gostava muito da praia e morava perto. Que depois fui morar na praia, né? A cidade tinha cinco cassinos, né? Era uma maravilha. Pra quem tinha 18 anos, não é?
P/1 – O senhor ia nos cassinos, seu...?
R – Ah, ia. Aos 18, ia, todos.
P/1 – É?
R – É, ia. Bom, é que os cassinos também, eles tinham um show à meia-noite. Naquela época não tinha televisão, né? E esses shows, vinha os melhores artistas do Brasil. Vinham pra cá, né? Mais cantores, mas também, sei lá, mágicos, humoristas. E tinha, os cassinos todos à meia-noite, tinham uma... como é? Um show, né? E um show, né, e era muito bom.
P/1 – Qual era o mais bonito?
R – Era uma época muito boa.
P/1 – Qual era o mais bonito, Seu Élio?
R – Cassino, mais bonito?
P/1 – É. Era do parque _______ ou...?
R – Eu, interessante, eu acho que era da Ilha Porchat, mas agora, também, a memória falha.
P/1 – Como é que ia? Ia de bonde até lá, Seu Élio?
R – Ia de bonde, de bonde. E tinha um. Eu digo cinco, Santos, porque um na verdade era no Guarujá, né? Mas também, atravessava a balsa, não é? Não era, era, até eram dois passeios, né?
P/1 – E seu Élio, o senhor estudou lá?
R – Eu estudei em Santos.
P/1 – O seus primeiros...
R – É. Eu estudei em Santos até o ginásio, né? E depois vim pra São Paulo, para o Mackenzie, pra fazer Química Industrial, né?
P/1 – Em que escola o senhor estudou lá?
R – No Ginásio Santista. Bom, o primário acho que foi Coração de Maria, não é? Depois foi o Ginásio Santista. Quer dizer que, vamos dizer, os colégios todos eram re... que eu estive, eram religiosos, né?
P/1 – A comunidade espanhola era muito grande em Santos?
R – Muito grande, era muito grande. Tanto era grande que o Consulado Espanhol em Santos eu acho que era, era um dos mais importantes do país. Porque vinha muito espanhol pra Santos, muito. E isso foi reduzindo, reduzindo, até que acabou fechando o Consulado lá, né, em Santos. Mas era muito grande a comunidade espanhola.
P/1 – O seu pai, como secretário do Consulado, ele recebia essas pessoas, o senhor tem memória disso?
R – Ah, sim. Recebia. Ele, todos que chegavam, ele tinha que receber, registrar. Quando saía também. Quando vinha um navio espanhol, ele tinha que dar o despacho, né, pra saída do navio, né? Ele tinha um relacionamento muito grande. Bom, é que tinha muito espanhol. Santos tinha muito espanhol, mesmo.
P/1 – E aí, o senhor, o senhor veio pra Mackenzie estudar Química?
R – Química Industrial.
P/1 – Como o senhor resolveu estudar Química, Senhor Élio?
R – Interessante que apesar de eu ter me dado bem na profissão, não foi uma vocação, não. Eu vim porque se falava que esse curso era muito bom, do Mackenzie, né? E não sei se tinha alguém, dos amigos do meu pai que tinha estudado e tal, recomendaram. E eu vim pra São Paulo pra estudar um mês ou dois aí, com um professor particular, pra fazer o, prestar o exame pra entrar lá no Mackenzie, né? E foi assim, não houve... nem sei se fui eu que escolhi estudar aqui. O meu pai disse: “olha, vai lá, faz.” E eu vim e deu certo, né? Quer dizer que nem sempre a... às vezes a vocação não funciona e outras vezes, não há vocação e ela funciona, né?
P/1 – E, Senhor Élio, o senhor quando veio, o senhor tinha 17 anos, é isso?
R – 17 anos.
P/1 – 17 anos?
R – Acho que incompletos.
P/1 – O senhor veio sozinho?
R – Sozinho.
P/1 – Os seus pais não acharam ruim do senhor vir pra cá sozinho?
R – Não. Como eu disse, o meu pai foi muito liberal, não é? Não, não, bom, eu acho que liberal pela própria vida dele. Veio da Espanha, com 11 anos, pra cá, sozinho, né? Então já, já tinha experiência disso. Eu vim sozinho, não teve problema. Fui pra uma pensão, né? E... foi bem. Nunca houve problema, assim, da gente estar aqui. Mas, interessante que era eu e meu irmão. E nós íamos, todo fim de semana ia pra Santos.
P/1 – E como vocês iam?
R – De trem.
P/1 – De trem?
R – De trem. Depois de ônibus, né? Primeiro era trem, naquela época ônibus tinha pouco, né? Depois vieram os ônibus, né? Foi evoluindo, nós íamos de ônibus, né?
P/1 – O seu irmão...
R – Mas, mais era trem, porque a viagem era melhor, era mais curta, não?
P/1 – O seu irmão veio pro Mackenzie também?
R – Não, meu irmão veio pra o Largo São Francisco.
P/1 – Estudar Direito?
R – Estudar Direito, né? Formou-se aí, depois foi advogar em Santos.
P/1 – Aí pegava o trem ali na Estação da Luz?
R – Ah, o trem não, eu acho que era na... eu acho que era na, no Brás, né?
P/1 – No Brás.
R – No Brás, é. Até tinha, não sei se os, no começo não era, mas depois veio um trem muito bom. Chamava-se Cometa, né? Muito bom o trem que ia pra Santos. Era o... o tempo foi reduzido, acho que uma hora e quarenta, não? A viagem era muito boa, era agradável. O trem tinha um barzinho, né? Então melhorava.
P/1 – Seu Élio gostava de festa, então pelo jeito?
R – É, mais ou menos.
P/1 – Mas é bom.
R – Sem exagero, mas eu não gostava de ficar quieto, né? Tanto é que eu tenho um sítio hoje, a minha mulher quer morar lá, eu não quero. Quero ficar em São Paulo, eu gosto de gente, gosto de, né? Sem muita... sem ser muito extrovertido, muito efusivo, mas gosto, né?
P/1 – Bacana. Seu Élio, e o senhor já trabalhava quando estudava ou não?
R – Não.
P/1 – Não?
R – Não.
P/1 – Só foi trabalhar depois que se formou?
R – Depois que eu me formei.
P/1 – E o seu primeiro emprego qual foi?
R – Companhia Nitroquímica Brasileira.
P/1 – Direto na Nitro?
R – Direto. Fui fazer um estágio e fiquei lá 45 anos.
P/1 – Quando é que foi isso? Em que ano foi isso?
R – Foi em setembro de 1943.
P/1 – A Nitro estava começando?
R – Não, não. Já tinha, a Nitro começou em 36.
P/1 – Ah, 36, é.
R – É. Já tinha, mas era uma indústria muito nova, né? Instalações muito antigas, né, porque elas foram importadas dos Estados Unidos. Então eram instalações do começo do século, né? Quer dizer, não era fácil enfrentar aquilo, não.
P/1 – E foi um estágio, é isso?
R – Foi um estágio.
P/1 – Como é que foi? A Nitro veio procurando a faculdade ou o senhor que se inscreveu?
R – Não. Foi interessante, foi o meu pai, como eu disse, ele tinha um bom relacionamento em Santos, e ele era muito amigo de um gerente do Banco Comércio e Indústria de Santos. E acho que em conversa, falando que ia me formar Químico, ele disse: “olha tem uma empresa assim.” Porque o banco Comércio e Indústria era acionista da Nitroquímica, né? E ele fez uma apresentação, a mim para o Numa de Oliveira, que era o presidente do Banco Comércio e Indústria. Mandou uma cartinha pro Numa de Oliveira e eu fui pra lá conversar com Numa de Oliveira, fui entrevistado, e ele me encaminhou pra Nitro. E falei com o filho dele, que era diretor, não é? Eduardo Sabino de Oliveira. E acabei virando funcionário lá.
P/1 – E a Nitroquímica já tinha, já era do Grupo Votorantim?
R – Já era do Grupo... só que na época era do grupo Votorantim do Klabin.
P/1 – Do Klabin?
R – Do Klabin.
P/1 – E o senhor já tinha ouvido falar...
R – Do Klabin e da, e do Comércio e Indústria.
P/1 – Do banco, é, é verdade.
R – Banco Comércio e Indústria.
P/1 – E o senhor já tinha ouvido falar dessas empresas, da Votorantim?, Klabin?
R – Não.
P/1 – Não.
R – Que eu lembre não, não tinha ouvido falar.
P/1 – E qual foi a sua impressão, quando o senhor chegou lá?
R – Na Nitroquímica?
P/1 – Na Nitro, em 40, em 36?
R – É, é interessante que antes de eu ir pra lá, teve um fato interessante. Eu fiz o tiro de guerra, aqui em São Paulo, né? E a marcha, que naquela época, o tiro tinha marcha, chamava-se a Marcha dos 24 quilômetros. E eu fiz a marcha de 24 quilômetros, da praça da Sé até São Miguel, que era exatamente 24 quilômetros, né? E cheguei lá, aquilo era um lugarejo, era uma terra quase de ninguém. Eu nunca imaginei que, que depois ia passar tantos anos da minha vida lá.
P/1 – E aí o senhor disse que era uma coisa, assim, antiga, é isso, Seu Élio?
R – Ah, São Miguel era uma vila mesmo, né? Era uma vilazinha, né? É, tinha até a igreja lá, a matriz, era de 1624. E o bairro lá, São Miguel Paulista, girava em torno da Nitroquímica, né? A Nitroquímica, eu não sei, ela começou com, tinha 3 mil e poucos operários, depois chegou a ter 6500. Então São Miguel girava em torno da Nitroquímica, não?
P/1 – E o senhor morava aonde? O senhor morava em São Paulo ou em São Miguel?
R – Não, os dois primeiros anos eu morei em São Paulo. Na mesma pensão que eu vim pra São Paulo pra estudar, não? E fui pra Nitroquímica, fiquei dois anos. Então foi um período muito bom, porque eu levantava às 4 e meia da manhã, tomava três conduções pra chegar em São Miguel. Mas, sabe, nessa idade, tendo saúde é fácil, não é? E depois fui morar em São Miguel. Fui morar em São Miguel solteiro, né? E fiquei lá até 48, não é? Casei em 48, continuei morando em São Miguel. E vim pra São Paulo em 1965. Não, 64. Porque em São Miguel Paulista não tinha ginásio. E os meus filhos estavam terminando o primário. Então eu vim pra São Paulo pra poder dar uma instrução melhor pra eles, né? E aí, viajava, todo dia, São Paulo... Só que aí eu tive sorte que eu logo, um ano depois, eu fui pra diretor, né? Aí, então tinha condução, né? Motorista. Aí a coisa ficou bem mais tranquila, mais fácil. Assim mesmo não era tanto porque às vezes levava duas horas, duas horas e meia pra chegar em São Miguel. Quando tinha um probleminha de trânsito, né? Era uma viagem.
P/1 – Com certeza. Mas, Seu Élio, quando o senhor entrou o senhor foi pra que laboratório? Porque tinha o central...
R – Eu fui... Não. Primeiro pro... como estagiário no Laboratório de Pesquisa.
P/1 – De pesquisa?
R – A Nitroquímica tinha um laboratório de pesquisas muito bom, que depois foi acabando, é, por razões que não, são um pouco complexas, não é? Não só o Laboratório de Pesquisas, como outras coisas boas da Nitroquímica foram acabando. Depois vieram outras boas também, não? E fiquei no Laboratório de Pesquisa, talvez, um ano, não sei. E depois fui pra, pro Laboratório Central, fui como químico chefe do Laboratório Central.
P/1 – Nesse Laboratório de Pesquisa era onde trabalhavam alguns estrangeiros, né, Seu Élio?
R – Trabalhavam. Trabalhavam muitos estrangeiros. Quando eu fui, inclusive, o meu chefe era um engenheiro americano, que eu acho que ele era americano mesmo, né? (Goner Korberg?), né? Que era filho do gerente geral da Ford, em São Paulo, né? Ele foi o meu primeiro chefe, né? Era americano. E teve outros também, um italiano. Nós vimos a fotografia agora, recente, esqueço o nome dele... ah, só que esse eu não conheci.
P/1 – Não tem problema.
R – Quando cheguei, ele já tinha saído. E trabalhou nesse laboratório o filho do Getúlio Vargas, né, o Getulinho. Trabalhou, também, no Laboratório de Pesquisa.
P/1 – E o que vocês pesquisavam basicamente, Seu Élio?
R – Ah, fazia pesquisas pra própria empresa. Pra melhorar os projetos, não é? Pra um projeto, por exemplo, que eu trabalhei, um deles que eu me lembro mais, né? Dois, um foi pra, a ideia era fazer uma fábrica de, de DDT. Era pra fazer uma fábrica de DDT, e então eu fiz experiências lá pra ver como era no laboratório, a produção e tal. Depois não se concretizou. De repente até foi bom, porque o DDT depois foi proibido, não é? Pode ter sido até bom que não aconteceu, né? E depois tem um projeto também pra fábrica de nitrocelulose, que era uma fábrica descontínua, né? E se pensava em fazer um projeto contínuo. Então, eu trabalhei um período nesse, né? E também não se concretizou. Aí, eu já não sei por quê. Porque era um, era um problema mais da diretoria, não chegou a se realizar esse, continuou a fábrica, vamos dizer, descontínua por muito tempo, né? Depois se fez uma fábrica contínua.
P/1 – O que que é, qual é a diferença, Seu Élio, desse projeto contínuo e descontínuo? Como que era a produção?
R – É, a produção era, era, tinha muita, descontínuo, muita mão de obra, não é? Porque se fazia primeiro a celulose de linter, não? Fazia a celulose de linter, ela era elevada por um ventilador e se enchia os tambores com a celulose. Depois esses tambores iam pra uma banqueta perto de uma centrífuga, aquilo saía à mão ou com garfo, né? E entrava na centrífuga, aí vinha o ácido. Aquilo era centrifugado, fazia... não, desculpa, primeiro ia num, num pote, né? Eram potes pequenos, não é? Por isso que era descontínua. Eram potes pequenos pra... olha, eu acho que era coisa de 20 ou 30 quilos de nitrocelulose. Entrava o nitro, entrava o ácido, aquilo tinha um misturador. Fazia nitrocelulose, depois era descarregado pra uma centrífuga. Era centrifugado pra retirar o ácido. Aí era jogado debaixo de um tanque com água, né? Com bastante água. Depois era bombeado pra outros tanques pra estabilização, né? E a fábrica contínua, era direto, não tinha essa mão de obra, né? Já entrava... só que partia da celulose, né? Entrava celulose, entrava o ácido, ia seguido, ia depois pros tanques de estabilização, não tinha mão de obra nenhuma. Tinha um operador, é óbvio, né, pra abrir válvula, fechar, acompanhar a temperatura. Mas a mão de obra reduziu consideravelmente. Mas, nessa fábrica, ela foi feita contínua muitos anos depois. Muitos anos depois. Acho que foi além de 1970, 76, 78, por aí. Até lá, continuou fábrica descontínua, né? Que era um...
P/1 – _______
R – É. Era uma coisa do começo do século, né?
P/1 – Porque usava pra quê, a nitrocelulose, Seu Élio?
R – A nitrocelulose, ela era usada pra fazer o raiom. A nitroquímica foi montada em função dessa fábrica de, chamava-se Chardonnet, né, o fio. Chardonnet, que foi importado dos Estados Unidos. E a nitrocelulose era matéria-prima. Era, ela era, fazia-se a nitração, não é? Estabilizava, depois ela era dissolvida em álcool e éter, daí passava por uns tubinhos capilares pra fazer o fio. Então a nitrocelulose, foi feita a fábrica mais para a fábrica de raiom.
P/1 – Quer dizer que a produção, então, de raiom não era tão alta ou a matéria-prima...
R – Não, não. A produção de raiom era alta.
P/1 – Quer dizer que aquele pouquinho já dava pra produção dela?
R – Não, não. Pouquinho, não. Esse pouquinho eram 24 horas. Entrava um, saía outro, entrava um, 24 horas fazendo pouquinho, no fim juntava um montão. Eu acho que era, e era uma carreira de centrífugas, não é? De nitradores, né? Carreira, um salão comprido. E a produção era de 15 toneladas por dia.
P/1 – Bastante.
R – Era bastante.
P/1 – Daí, o senhor foi pro Laboratório Central.
R – Laboratório Central.
P/1 – E no Central, o senhor fazia o quê?
R – As análises pra acompanhar o processo. Toda, de toda a fábrica. Acompanhar os processos.
P/1 – E o senhor ficou pouquinho lá depois chegou, acho que...
R – É, no laboratório, eu fiquei pouco. Eu fiquei pouco no Laboratório de Pesquisas e pouco no Laboratório Central. Porque no Laboratório Central, logo depois, começou a fábrica de TNT, né? De nitrotolueno, explosivo. E essa fábrica, ela foi dada partida por um engenheiro latino-americano, que deu a partida, e tinha um engenheiro que ia tomar conta da fábrica, que trabalhava lá. Até foi um homem conhecido muito, em São Paulo, né, o engenheiro Arnaldo Arcuri, foi diretor da (Cacec?), né, em São Paulo. E ele ia tocar a fábrica. Mas um mês antes, eu acho, assim, houve um acidentezinho lá, ele teve um problema com a perna. E aí, eu não sei por que que ele saiu, se foi ele que saiu, se a empresa achou melhor, não é, tirar porque foi um acidente sério, né? Ele não perdeu a perna, mas foi bem, né? E aí, eu fui encaminhado pra lá, pra ser...
P/1 – Pra, pra fábrica de nitrotolueno?
R – Pra fábrica de nitrotolueno.
P/1 – Puxa, Seu Élio, que coisa. Diz que o senador montou essa fábrica a pedido do presidente Dutra.
R – Getúlio Vargas.
P/1 – Do Getúlio?
R – Getúlio Vargas.
P/1 – O senhor sabe essa história?
R – Eles acharam... É, mais ou menos, que a... depois da guerra, não é? Quando a fábrica começou, a guerra já tinha terminado, mas se sentiu, durante a guerra, que o Brasil precisaria ter uma produção de TNT, não? Que existia na fábrica de piquete, do Governo.
P/1 – Que era do governo.
R – Mas aquela era, mesmo, do começo do século, viu? Era uma coisa terrível. E a produção era muito pequena, né? Então, se sentiu isso e o... eu não sei se foi direto o Presidente Getúlio Vargas, ou alguém lá que achou de contatar o Ermírio de Moraes, né, doutor José Ermírio de Moraes, pra fazer essa fábrica. Doutor Ermírio concordou, aceitou, não é? E começou, começaram a fazer a fábrica, que começou em 1946 a produção. Depois, ela fazia 150 toneladas de nitrocelulose por mês.
P/1 – De nitrocelulose?
R – Não, desculpe.
P/1 – De trinitrotolueno
R – De trinitrotolueno.
P/1 – Pois é, Seu Élio, porque então, ela chegou a funcionar?
R – Ôpa, funcionou. Chegou a funcionar. Funcionou tanto, que ela fazia 150 toneladas por mês. Aí, a ideia era mandar a nitrocelulose para os depósitos do exército. Aí, encheu o depósito do exército, daí mandou pro depósito da Aeronáutica, encheu o depósito da Aeronáutica, mandou pro depósito da Marinha. Porque não tinha consumo, né? O Brasil.
P/1 – Tinha acabado a guerra.
R – Tinha acabado a guerra, o Brasil era um país pacífico. O único inimigo era a Argentina, não é? Mas nós conseguimos chutar isso muitos anos. Até hoje, aliás. Isso é brincadeira, né? Mas, é, então a fábrica parou.
P/1 – Mas ela também veio importada? Ou ela foi construída aqui?
R – Não, não. Ela foi construída aqui.
P/1 – Construída aqui. Foi construída aqui, tudo, tudo.
P/1 – E quem construiu, Seu Élio, tinha tecnologia pra isso?
R – Tinha. Na época já tinha, né? Tinha os nitradores, eram de ferro fundido, né? E quem construiu foi o doutor Eduardo Sabino de Oliveira, que era o diretor técnico na ocasião. Foi construída como uma, uma informação, uma tecnologia francesa, né? E veio pra cá uma orientação, um ________, né? E ele desenvolveu aquilo e construiu a fábrica. A fábrica foi construída toda aqui, sem nenhum estrangeiro. Só teve um estrangeiro. Interessante que era tecnologia francesa, teve um relatório francês que veio. Mas no fim a fábrica começou, em vez de começar com um francês, que seria, aí eu também não sei por quê, começou com americano. Latino-americano, né? Que veio dar a partida, mas aí a fábrica já estava pronta.
P/1 – E daí o senhor foi convidado pra ir pra lá?
R – Fui convidado pra ir pra lá.
P/1 – Quem convidou o senhor?
R – Foi os dois diretores da época, não é? Que era o doutor Marcelo Kiehl, né? E o doutor Eduardo Sabino de Oliveira. Convidaram pra ir pra lá e eu...
P/1 – Mas o senhor não tinha pouca experiência?
R – Bom, aí já é um terreno um pouco sinuoso, aí. Não tinha nenhuma.
P/1 – Nenhuma.
R – Eu não tinha nem experiência industrial. Porque eu estava num laboratório, né?
P/1 – Quer dizer que deram um desafio?
R – Muito menos, e muito menos, é, experiência, vamos dizer, de explosivos, não é? E interessante que o americano, quando eu fui pra lá, que eu, que o engenheiro Arcuri teve aquele acidente, saiu. Eu fui pra lá, eu fui pra lá 20 dias antes de esse engenheiro americano deixar a empresa. 20 dias. Tinha 150 toneladas de material reprovado, pra recuperar. E ele largou essa bomba lá. Disse: “Élio, desejo muita sorte pra você.” E não, eu não cheguei a perceber o que ele quis dizer, mas depois eu percebi, né? Porque a fábrica teve um acidente muito sério, né? Porque havia, tinha um erro tecnológico, né, que não sei, não foi percebido. Não sei se veio dos franceses e já não, como eu disse, eu era novo na empresa, não participei disso, né?. Então, ela... em função disso, teve um acidente muito sério. E depois se contratou uma empresa, com experiência, uma empresa húngara, muita experiência de explosivos, na, lá na Hungria, lá na Europa, né? E a fábrica trabalhou muito bem, foi muito bem... Foi refeita, né, a montagem. Muito bem montada. Mas, ainda assim, houve um acidente. Pequeno, mas ainda se perdeu um homem.
P/1 – Porque é perigoso, né?
R – Fábrica de explosivo, é. Aliás, a Nitroquímica só fez coisa perigosa.
P/1 – É, pois é, né? Porque...
R – Interessante. A vida toda, coisas é... coisas insalubres e perigosas, né? Então, era um, era um desafio. A Nitroquímica era um desafio pra quem queria trabalhar lá.
P/1 – Quer dizer que o senhor teve que aprender a lidar com essa coisa de explosivos?
R – Tive que aprender a lidar. Naturalmente, eu falo, como já estava caminhando, né, foi um pouco mais fácil, né? E tive que aprender a lidar e toquei. Essa, esse fato, esse acidente que houve com o engenheiro Arcuri, teve mais três. Teve mais três acidentes, assim, pequenos, sem consequências grandes, né? Mas eu previ isso, precisava fazer uma modificação, falei com a diretoria e, eu não sei se isso é bom pra história, né, são coisas...
P/1 – É, mas...
R – Bom, depois, quem quiser, corta. Mas, é, e o diretor, na época, como ele disse: “não está certo, se houver, se houver mais um acidente desse, nós vamos mudar.” Mas, infelizmente, o outro que houve foi mais sério, né? Porque havia a explosão, era um... explodia um pouco de TNT que tinha numa bomba, não é? Mas depois aquilo contaminou com nitro ________, que tinha uma tonelada. Então foi uma coisa terrível, né?
P/1 – E Seu Élio, ela funcionou até quando, essa fábrica de trinitrotolueno?
R – Ela funcionou até, acho que ela começou em 46, no final de 46, outubro. E funcionou até julho de 47.
P/1 – Pouquinho.
R – Quando teve esse problema, não? E depois reiniciou em 48, 49, né? E eu voltei pra lá. Porque quem trabalhava lá, sumiu, né?
P/1 – Nesse período, o senhor foi pra Nitro...
R – Fui pra Nitro e fiquei lá. Sei lá, meio de _______, né?
P/1 –Daí, em 48...
R – Acho que não fiquei, realmente, a ideia, não sei, porque isso foi a diretoria que... a ideia acho que era me segurar ali pra quando reiniciasse a fábrica, já que a essa altura eu tinha experiência. Uma experiência triste, mas tinha.
P/1 – Foi, foi...
R – A fábrica nova foi muito bem montada.
P/1 – Que foi montada com tecnologia húngara?
R – Tecnologia húngara.
P/1 – Tá.
R – Muito bem montada.
P/1 – Aí, reiniciou em 48.
R – Reiniciou em 48 e trabalhou eu acho que até... ah, não vou me lembrar, 1950, por aí. Não lembro. 52.
P/1 – Depois ela foi desmontada?
R – É, ela se tentou fazer algumas, alguns derivados do tolueno, que era a matéria-prima, né? O nitrotolueno. Fazer alguns derivados, derivados. Trabalhou um pouco nisso, né? Fazia o monolito tolueno, se fez o nitrobenzeno que era vendido. Mas depois, eu acho que a demanda era pequena e acabou encerrando as atividades. Havia um projeto, inclusive, pra fazer alguma coisa naquela área, né? Que infelizmente não foi feito. Por que razão, também, que não sei, que daria uma expansão muito grande à Nitroquímica, né? Que era a ideia, era fazer não lá a fábrica de soda, que foi feita. E lá fazer uma fábrica de ácido nítrico sintético, que não tinha no Brasil. Mas, depois não sei, se atrasou, aí a refinaria de Cubatão começou a fazer. Então morreu, né? Porque lá era muito mais fácil fazer.
P/1 – O ácido nítrico?
R – O ácido nítrico, né? E aí ficou, acabou.
P/1 – E, Senhor Élio, nesse período, o senhor teve contato com o senador?
R – Mas pouco.
P/1 – Pouco?
R – Pouco contato. Pouco contato. Mas, tive, tive contato com ele. Pouco contato, eventuais reuniões, a todo fim de ano tinha uma festa, né, um jantar. E ele participava, ia lá.
P/1 – Porque ele tinha um certo...
R – Mas era pouco, pouco contato eu tinha, pela função, porque eu ainda era um... Um homem como ele, o contato maior era com os diretores, né? Não podia descer até o nível de funcionário de segunda ou terceira linha, né?
P/1 – Porque ele tinha uma certa preocupação com a Nitroquímica?
R – Tinha. A Nitroquímica, eu diria, que foi a menina dos olhos dele, não? Mas depois, a Nitroquímica, ela teve um período muito bom, tinha uma assistência social, olha, espetacular. Acho que era modelo. Eu tenho a impressão que, naquela época, no Brasil, não tinha. E talvez nem hoje, né? Não tem uma assistência social como tinha a Nitroquímica. Tinha um clube, Clube de Regatas Nitroquímica, tinha Escola Senai, tinha creche, berçário, creche. Futuramente teve hospital. Tinha uma equipe de médicos excelente. Excelente. Eu me lembro até de um, um dos médicos, eu diria, que salvou a filha de um amigo nosso, que trabalhou na Nitroquímica também, que depois saiu, foi para o Feffer, ali o Feffer, ali em Suzano. Essa menina com 5 anos teve um problema, né? E foi ao médico, ele com, Doutor Mesquita, agora eu não lembro, Fernando Mesquita, né? Ele examinou a menina e já mandou chamar uma ambulância e correu pra São Paulo pra operar. E ela tinha problema no intestino, precisou operar. E depois, também essa mesma menina, coincidentemente, teve paralisia. Mas está aí hoje. Vive muito bem.
P/1 – Então está bom.
R – É porque teve sorte, né? Foi, pegou cedo e, também, ela foi, estava sendo tratada assim como gripe, tal, até que alguém percebeu. Também quando foi no Doutor Mesquita ele já matou na hora, já começou o tratamento. Então, realmente, a deficiência dela foi muito pequena. Então, esse é um exemplo de um dos médicos, né? Muito bom. Tinha um médico operador, também, que era bem conhecido em São Paulo, né? Moraes Leme, que era irmão de... esse era Ernesto Moraes Leme, o irmão dele eu não lembro o primeiro nome, era Moraes Leme também, que era diretor da São Francisco. Então a equipe era excelente.
P/1 – E o clube?
R – O clube...
P/1 – _______
R – Bacana. Muito bom, tinha piscina, tinha pista de atletismo, tinha futebol, tinha boxe. ______ tinha alguns elementos de boxe que tiveram projeção, no boxe paulista, né? Era excelente o clube, excelente mesmo. Eu criei meus filhos lá no clube. Aprenderam lá a nadar.
P/1 – Quantos filhos o senhor teve?
R – Muito bom. Três.
P/1 – Três filhos?
R – Três filhos.
P/1 – Sua esposa também frequentava?
R – Frequentava. Nós íamos pro clube, né? Todo fim de semana, sábado, domingo. Vou dizer domingo, porque sábado a gente trabalhava, né? Aquela época, trabalhava sábado e alguns domingos, também. Depois, com a, lógico, a evolução, as coisas mudam, né? Aí, deixamos de trabalhar ao domingo, depois deixamos de trabalhar ao sábado. Levava os problemas pra casa. Mas é...
P/1 – Seu Élio, quando terminou a fábrica, o senhor voltou pra Nitroquímica?
R – Quando...
P/1 – A de trinitrotolueno, definitivamente, na década de 50.
R – Ah, definitivamente, a Nitroquímica, isso.
P/1 – Aí, o senhor voltou.
R – Voltei.
P/1 – Voltou pro Laboratório Central?
R – Não, na verdade, eu não me, olha, sabe que eu nem me lembro quando eu voltei. Eu fiquei aguardando, acho, que uma... mas acho que foi no laboratório. Fui aguardando que aparecesse alguma coisa e eu não sei. Mas, a construção, reconstrução da fábrica, foi muito rápida, né? Então eu...
P/1 – Quando ela termina, na década de 50, aí, o senhor volta pra Nitro?
R – Volto pra Nitro.
P/1 – Aí, o senhor já foi ser diretor, logo depois ou não.
R – Não, não, não, não.
P/1 – Ainda ficou um tempo.
R – Não, muito tempo, não é? Isso foi, eu voltei pra Nitro, acho que, bom, em 47, né? Voltei pra Nitro, né? E eu fui diretor só em 65, final de 65. Eu fiquei primeiro, sabe que me falha a memória agora, eu não sei bem, mas eu acho que não fiquei fazendo nada, fiquei esperando o reinício da fábrica de TNT, não é? Mas é, e depois que a fábrica de TNT terminou, aí eu voltei pra Nitro já pra chefia da fábrica de ácido sulfúrico. Depois fui crescendo, fábrica de ácido sulfúrico, depois a fábrica de nitrocelulose, depois a fábrica de sulfeto de carbono, alguns derivados como sulfeto de carbono, não, sulfeto de sódio, que usava no raiom, né? E até que eu acabei sendo o químico chefe da, chamava área de produtos químicos. Porque tinha a área de produtos químicos e a outra área que era do raiom, que era têxtil, né? Que era a maior, era o que tinha maior. É, era maior, mesmo em número de funcionários, o grosso dos funcionários, era da fábrica de raiom, né?
P/1 – E essa...
R – Depois começou a fábrica de soda. Eu acabei incluindo, também, nas minhas funções, a fábrica de soda, né? E, finalmente, fui pra diretor, né?
P/1 – Essa produção do ácido sulfúrico, ela era toda consumida pela Nitroquímica, pela produção da Nitroquímica, do raiom, do nitro?
R – Olha, no começo, era, acho que a maioria era. Se se vendia, era muito pouco o que vendia. Era toda consumida pela Nitroquímica. Porque ela era usada pra se fazer a nitrocelulose. Ela se misturava com o ácido nítrico, tinha também uma fábrica de ácido nítrico, né? Uma fábrica de ácido nítrico, não sei como é que eu ia designar essa fábrica de ácido nítrico. Mas era do começo do século, era uma coisa, comparado, depois, com a fábrica sintética, era alguma coisa, era... Acho que não era bem uma comparação de um fogão à lenha com um fogão a gás, era uma diferença muito maior. E, agora me perdi um pouco.
P/1 – Não, mas aí, mas então, aí o senhor está como químico chefe.
R – Químico chefe.
P/1 – Lá, na...
R – Na fábrica do setor de produtos químicos.
P/1 – Produtos químicos.
R – Produtos químicos.
P/1 – E a produção atendia...
R – Que eram várias fábricas, né, sulfúrico, nitro, nitrocelulose, sulfeto de carbono, depois incluiu a fábrica de soda, né? Era uma área grande, uma área grande, né? E depois de 65, eu fui indicado pra diretor pelo superintendente na época, que era o doutor Kiehl, quando eu comecei já tinha saído, doutor Sabino também. Era o engenheiro Fábio Ravaglia. Ele era o diretor industrial. Quando ele saiu pra ser superintendente, quando saiu da fábrica de São Paulo, ele me indicou pra Diretor Industrial.
P/1 – E o senhor é que começou as mudanças lá? De modernização?
R – Bom, eu, eu não diria que eu comecei, porque essa função seria mais da... justamente, do superintende da área de desenvolvimento, né? Mas, é, se eu não comecei, eu trabalhei nela.
P/1 – Pois é, porque o senhor apresentou as necessidades, né?
R – Ah, sim, todas elas foram iniciadas com, já eu como diretor, né?
P/1 – E aí...
R – Uma fábrica nova de nitrocelulose. Uma fábrica nova de ácido sulfúrico. A fábrica inicial fazia 50 toneladas por dia e a nova fazia 200 toneladas de ácido sulfúrico, que foi criada pra fazer o... como é agora?
P/1 – Não tem importância, Seu Élio, a gente...
R – Uma era creolina, mas tem outro também que era... aquele usado pela, pela CBA, pra fazer o alumínio, né? Então, ela foi montada em função disso e foi feita uma fábrica maior, de ácido sulfúrico, aí se vendia muito ácido sulfúrico, né? Inclusive se usava ácido sulfúrico na fábrica de soda, não é? Lá era uma fábrica bem maior, aí se vendia muito ácido sulfúrico.
P/1 – Seu Élio, e de onde vinham essas máquinas das fábricas novas? Elas eram brasileiras ou vinham de fora?
R – Não, não. Importadas.
P/1 – Importadas?
R – A fábrica de nitrocelulose veio da Suíça. E eu acho que a de creolina também. De creolina tinha o ácido fluorídrico, né? Também vieram, se não me engano, da Suíça.
P/1 – Como é que, aí os técnicos vinham juntos.
R – Aí, eu posso estar meio perdido, mas era, de qualquer maneira vieram da Europa.
P/1 – Vieram da Europa.
R – As duas.
P/1 – Aí, quando compra uma fábrica lá fora, os equipamentos, aí vêm os técnicos junto.
R – Aí vêm os técnicos junto, pra dar partida sempre, né?
P/1 – Certo.
R – Sempre.
P/1 – Como é que era esse relacionamento dos nossos técnicos, com os técnicos estrangeiros?
R – Eu acho que era bom. Eu participei de alguns e nunca tive problemas. Eu participei, inclusive, como químico. Eu já participei como estrangeiro na fábrica de... numa fábrica de ácido sulfúrico que foi criada, seria a segunda, antes da fábrica grande. Que a ideia era fazer o ácido sulfúrico com matéria-prima nacional. Porque o ácido sulfúrico era feito com enxofre, que era todo importado. O Brasil não tinha enxofre, e se montou essa fábrica de ácido sulfúrico pra trabalhar com pirita, que era pirita nacional, tinha em Minas Gerais e tal. Mas foi, eu acho que foi um erro, porque, na verdade, bom, vieram então os técnicos alemães. A fábrica era alemã. Vieram dois técnicos alemães, que pra sorte falavam espanhol, então ficou fácil pra mim, né? Mas me dei muito bem com eles, era um pessoal muito bom, todos eles. E depois, a fábrica acabou com essa tal pirita nacional. Não existia, muito pouco e precisou quebrar uns galhos com uma, com um carvão, pirita de carvão, que tinha muito carvão. Enfim, era, era terrível, a fábrica...
P/1 – Demora pra...
R – Mas trabalhou muitos anos, produziu muito, depois se fez essa fábrica nova, né?
P/1 – Demora pra montar uma fábrica?
R – É, na época demorava um pouco mais. Mas eu, olha, se eu me lembro, eu acho que a fábrica de pirita levou um ano, um ano e meio, para começar. A de nitrocelulose, também, por aí. Ao redor de um a dois anos.
P/1 – E quando...
R – Acho que, na época, era rápido, né? Na época, era rápido.
P/1 – E quando o senhor se tornou diretor, teve uma mudança total no seu cotidiano, não é, Seu Élio?
R – Ah, sim. Totalmente, mudou porque eu deixei de trabalhar direto na fábrica, e a minha função era cutucar os outros. Não, era, eu tinha uma experiência industrial muito grande. Acho que eu consegui ajudá-los. Mas, aí, a fábrica já tinha uma equipe de técnicos muito boa. Tinha vários engenheiros, que vieram da Escola Politécnica, da Escola Mauá de Santo André, ou São Bernardo, não sei. Então, já tinha uma equipe de engenheiros muito boa, engenheiros, todos engenheiros mecânicos, químicos, uma equipe muito grande, então a fábrica já estava bem, o organograma era muito bom, então eu diria que não foi, que pra mim não foi difícil. Talvez, essa fase tivesse sido até mais fácil do que enfrentar as outras fábricas.
P/1 – Mas, de vez em quando o senhor ia lá no laboratório dar uma xeretada?
R – Ah, não. De vez em quando, não. Eu era um xereta, não é? Eu saía, eu não ficava atrás da mesa, não. Eu saía, olha, quase que todo dia, eu saía, dava uma volta, numa fábrica ou noutra. Porque eram várias fábricas, da Nitroquímica. Eu saía, no laboratório, em várias fábricas. Até saía um pouco pra não ficar sedentário, às vezes eu mesmo, né? Depois teve épocas mais difíceis que era duro largar a mesa, os problemas que vinham. Não é, mas, eu tinha hora que largava e...
P/1 – Ia andar.
R – “Fulano, quer falar com o senhor.” Não, senhor. Me mandava e ia ver algum problema ou visitar, enfim, a fábrica. Falar com o engenheiro responsável, que esse contato é obrigatório. Quem, um diretor que não fizer isso numa fábrica, ele não, não vai ter sucesso, com certeza.
P/1 – Qual foi o momento mais difícil?
R – Mais difícil, precisaria ver em que sentido, né? O mais, eu diria que o mais...
P/1 – Que pesou.
R – ...terrível foi o problema da fábrica de TNT, né? Aquilo foi um momento difícil, né?
P/1 – Onde pesa a responsabilidade, né?
R – Muito. Morreram nove.
P/1 – Pois é.
R – Uma coisa terrível, né? E depois, mais difícil, foi esse período todo, até 1970, 70 e pouco, foi muito difícil. Porque a fábrica, na verdade, a Nitroquímica ficou um pouco abandonada, não é? Por vários problemas. É, o, sei lá, acho que o doutor Sabino saiu da Nitro, o doutor Kiehl ficou meio, sei lá, acho que desinteressado. Não sei bem por quê. E é, foi um período muito difícil, também, por causa dos sindicatos, das greves. E a Nitroquímica era a maior indústria química, na época, de São Paulo. Então era muito conhecida, muito visada, inclusive pelos produtos que fazia. Produtos difíceis, insalubres. Então, qualquer coisinha, a turma baixava na Nitroquímica. Então, teve muitas greves.
P/1 – Muitas?
R – E a greve pior foi em 1957. Foi, foi terrível, né? Entrou aí, os comandantes das greves eram os próprios políticos. Governador de São Paulo, Jânio Quadros e outros também. Daí, os sindicatos, né, eu me lembro até um fato interessante, que nessa greve eu fui, quando estava pra estourar a greve. Então, estava o sindicato na portaria, com agitação, com microfones, com essa festinha ______. E eu fui à portaria pra saber como estava e conversei com o presidente do sindicato. Aí ele me disse, textualmente, que estava esperando o início da greve, ordem do Palácio. Parece brincadeira.
P/1 – Durou muito tempo essa?
R – Ah, durou. A fábrica parou, né? Parou a fábrica. E a fábrica, a fábrica de viscose, de raiom, era muito difícil. As outras também. A própria fábrica de ácido sulfúrico, parar, pra depois reiniciar era um problema sério. Mas o raiom era pior, não? Porque quando terminava a produção, que parava, ela tinha um material que estava em processo, tinha que ser conduzido até o fim. Senão era um desastre, e aí ficava tudo vazio, tinha que ser lavado tudo, não podia ficar resíduo. Então, depois, pra reiniciar, era uma loucura. Acho que era quinze dias pra reiniciar a fábrica. Então, isso tudo, sei lá, prejudicou muito, a qualidade caiu, não se fez uma equipe boa, técnica, pra cuidar do raiom, que era a parte principal. A própria fábrica de soda foi uma tecnologia não muito bem escolhida. Acabou ficando porque não era rentável, né? Acabou sendo paralisada. Então, esse período foi muito difícil. Mas o superintendente, que era o Engenheiro Fábio Ravaglia, ele teve uma visão muito boa, contratou técnicos. Inclusive, se contrataram dois argentinos, pra fábrica de raiom, que trabalhavam na Dupont argentina, então dois técnicos com muita experiência, né, bons. E nós, se começou, digamos, a recuperar. A verdade é essa, recuperar. A fábrica estava caminhando para a insolvência. Começou-se a recuperar a fábrica de raiom. Então esse foi um período difícil, mas foi, foi animador, viu, porque realmente se conseguiu resultados muito bons. E a fábrica trabalhou muitos anos. Inclusive foi em São Paulo, tinha três fábricas de raiom. O resto do Brasil não tinha. Tinha em São Paulo três fábricas de raiom, que eram a Rhodia, o Matarazzo e a Nitroquímica. E a Nitroquímica foi o último dos moicanos. As outras duas fecharam e Nitroquímica continuou muito tempo. Depois foi...
P/1 – Exportava bastante.
R – Exportava muito. Chegamos a exportar 500 toneladas de raiom, 400 toneladas de nitrocelulose.
P/1 – Ia pro mundo inteiro, Seu Élio?
R – Pro mundo inteiro, pra Europa. Não sei se Ásia ou África, né? Pro mundo inteiro. Estados Unidos, acho que nós exportamos muito, foi um trabalho muito bom feito pela Nitroquímica. E tudo feito com gente de casa. Não veio ninguém, ninguém de fora pra... Foi um, eu acho que foi uma vitória da... uma das coisas muito importantes pra Nitro. Muito, é que, vamos dizer, animou muito. Muito positivas, não? Exportar 500 toneladas de raiom é uma brincadeira, né? A fábrica chegou a fazer mil toneladas. Chegou a fazer mil toneladas. Depois, não sei por quê parou, porque aí eu já saí, então não sei o que que levou.
P/1 – O senhor saiu quando, Seu Élio?
R – Eu saí no final, dezembro, de 1988.
P/1 – O senhor, mas o senhor pegou várias fases de modernização, né, foi modernizar?
R – Ah, sim. Peguei várias fábricas.
P/1 – Agora, Senhor Élio, uma fábrica de...
R – Depois que eu saí da Nitroquímica, eu acho que não, eu tenho a impressão que não houve modernização. Acho que houve um aumento da fábrica de nitrocelulose. Houve um aumento da fábrica de nitrocelulose, né? Não sei. Houve, talvez, acho que não sei se houve modernização. É, não, não me lembro. Eu acho que não.
P/1 – Foi tudo lá.
R – Mas aí, eu saí.
P/1 – O seu período.
R – Aí, seria alguém que ficou lá.
P/1 – Não, eu sei. Mas o senhor pegou, a fase de modernização foi exatamente esse período.
R – Modernização. Ah, foi, de modernização. Que depois, parou a fábrica de soda. Parou a fábrica de sulfeto de carbono. Parou a fábrica de raiom. Então, sobrou só a fábrica de nitrocelulose e ácido fluorídrico e o creolina.
P/1 – Senhor Élio, uma indústria de produtos químicos, ela precisa de mais manutenção, nas suas máquinas? Ou é absolutamente normal?
R – Ah, sim. Não, eu diria que sim. Porque, principalmente uma fábrica tipo da Nitroquímica, que os produtos eram corrosivos, todos, né? Ácido sulfúrico. Ácido nítrico. Ácido fluorídrico. Eram todos muito corrosivos. Então, não tem dúvida, precisa uma manutenção maior.
P/1 – Maior. E essa manutenção, naquela época, dava conta?
R – Dava. Dava conta. A fábrica, a Nitroquímica, era uma fábrica, eu diria assim, integrada. Não tinha terceirização, não é? Isso veio muito tempo depois. Então, ela tinha uma equipe de manutenção muito boa. Tinha um departamento de manutenção, tinha uma oficina mecânica muito boa. Fazia peças, inclusive, tudo, né? E era muito boa, tinha gente competente.
P/1 – Em relação ao meio ambiente, o senhor acha que sempre houve, o senhor diria que sempre houve uma preocupação? Porque, também, lidar com produtos químicos, interfere.
R – Uma preocupação como?
P/1 – Com o meio ambiente, com os...
R – Com o meio ambiente. Houve, mas era, no começo era difícil, a preocupação com o meio ambiente. Porque não havia equipamentos. Não havia cultura. Não havia nem leis, fiscalização, assim, né? Então, era um pouco difícil, mas eu acho que se fez muita coisa, né, para melhorar. Eram despejos que eram jogados no rio, foram feitas instalações pra recuperar. Foram feitas instalações pra recuperar os gases que eram jogados no ar. Houve uma... E, também, o próprio processo de modernização, as fábricas novas já tinham menos poluição. A fábrica inicial de nitrocelulose era um... era terrível. Tinha uma chaminézinha lá que era famosa. Saía uma fumaça vermelha. Até de longe, era bonito. De perto, era uma característica aquilo, da Nitroquímica. Aquela chaminézinha, né, com fumaça vermelha. E também aquelas cargas de nitrocelulose, de vez em quando, queimava. O termo era esse: queimava uma carga. Queimava era um termo, seria ela decompunha, né? Mas, ela não queimava. Queimar parece que pegava fogo. Não pegava, ela decompunha. Aí saía uma fumaceira lá que, tinha um ventilador enorme, mais do que... maior do que as hélices de avião. Quando queimava, tinha que ligar aquilo pra aliviar o ambiente. E ninguém ficava, todo mundo tinha que sair fora, né? Então, aquilo eram fábricas é... era o que existia na época, no começo, na época em que ela foi importada. Fábrica do começo do século, então havia poluição. Mas, eu acho que nós fomos conseguindo bons resultados pra diminuir essa poluição, né?
P/1 – Senhor Élio...
R – E depois, aí, ficou mais fácil porque fechou a poluição, as fábricas, as mais poluidoras fecharam. E a fábrica de nitrocelulose, de ácido fluorídrico eram mais modernas, então a própria fábrica de ácido sulfúrico nova. Então, facilitou também, não?
P/1 – Seu Élio, depois que o senhor se aposentou, o senhor continuou acompanhando a Nitroquímica?
R – Olha, não, viu? Não, não. Não é, a gente acompanha porque é obrigado. Eu tive, sempre, muito contato com o doutor Ermírio principalmente, menos com o doutor Antonio. Com o doutor Ermírio eu trabalhei muitos anos, né? Então fazia de vez em quando, ia fazer uma visita a ele, conhecia, fui à fábrica algumas vezes. Mas, isso vai, vai esvaziando. Aquela coisa natural.
P/1 – E como era o doutor Ermírio?
R – Doutor Ermírio, eu diria que era uma pessoa excelente, inclusive, eu tenho uma consideração por ele. Porque é interessante, eu me aposentei e fiz o acordo pra sair da Nitroquímica, com o filho dele, né, o Ricardo Ermírio de Moraes. É, que já isso, sei lá, eu preferia ter feito com o doutor Ermírio. Mas, sabe, são evoluções. Já foi lá, já era o superintendente, então fui. E eu saí, me aposentei. E naquela época, teve aquele problema de... como dizem, de decretos, né, de governos e tal, que se criou uma diferença entre o salário mínimo de contribuição ao INSS e o salário mínimo pra contratação de funcionários. Então, é até uma coisa absurda, porque o INSS sempre foi deficiente, sempre, não sei se é porque sempre foi roubado, ou porque, né? Mas é, então se criou esse salário de referência que era, digamos, eu não sei os valores, vamos falar em índices. Se contribuia com 100 e o salário de, dos funcionários, ________, era de 200, né? Então, com isso, o que que aconteceu? Quando os funcionários se aposentavam, se aposentavam pelo salário de referência. Então, se, aí já se devia ser aposentado com, vamos dizer, com 10 salários mínimos, na verdade, já era aposentado com 7, por aí, né, depois a inflação, na época que eu me aposentei, era terrível. Chegou a 80%, na época do saudoso Sarney. Então tinha inflação e não era corrigido. O último ano não era corrigido. Se corrigia os dois, eram três anos que se havia corrigido, mas se corrigia o primeiro e o segundo, o último não. Então, eu me aposentei com três salários mínimos. Depois de 45 anos de trabalho, contribuindo pelo teto, me aposentei com três salários mínimos. Nem contínuo do Banco do Brasil recebia isso, com certeza, né? E o doutor Ermírio soube, depois ele até melhorou o meu acordo. Aí, me deu uma aliviada.
P/1 – Nossa.
R – E depois o governo corrigiu isso. Então foi para os 10 salários mínimos. Mas eu entrei com um processo para os atrasados, que afinal de contas, eu fiquei quatro, cinco anos, com três salários mínimos. A diferença é muito grande.
P/1 – Senhor Élio?
R – E eu entrei com um processo. Já faz 15 anos. Está correndo ainda, né? Isso é uma beleza.
P/1 – Ainda não saiu o processo?
R – A justiça brasileira é uma maravilha, viu? Pra mim, é o pior que há no Brasil é a... Porque os juízes têm poder, né? Se eles quiserem, eles têm poder, aí não conserta. Eles falam que é do governo. Mas, eu acho que são eles, mesmo, viu? Juízes, uma loucura. Qualquer processinho de cinco, dez mil reais, é dez, quinze, eu já diria vinte anos. Porque eu vou pra vinte, né, já não é pra mim, deve ser pros filhos.
P/1 – Os seus filhos fazem o quê?
R – Se eu ganhar, né?
P/1 – Se o senhor ganhar.
R – De repente, você fica aí vinte anos pra perder. Aliás, um eu já perdi, não é? O outro está correndo, vamos dizer.
P/1 – O seus filhos fazem o quê, Seu Élio?
R – Meus filhos são arquitetos. A moça é dentista, mas não, não... como é que se diz, não começou a trabalhar como dentista, acho que trabalhou um ano. Mas depois ela namorou, noivou. E o marido foi pros Estados Unidos. Ele era funcionário da Caterpillar, foi mandado lá pra ________. E ela foi pra lá, então deixou a profissão, chegou lá, não sei, ela não trabalhou, pelo que eu me lembro, parece que ela achou que parece que a profissão, dentista, nos Estados Unidos era inferior ao Brasil. Aliás, até hoje, dizem que o Brasil, tem um... nessa área é melhor do que a Europa, né? Não sei se é verdade, mas eu ouço isso, né? E...
P/1 – Os rapazes são arquitetos?
R – Então ela ficou lá, ficou lá um ano, voltou. Aí ficou um ano aqui, voltou de novo pra lá. Então acabou deixando a profissão. O marido tem um bom emprego. Então, não houve, assim, também, uma necessidade, né, de que ela trabalhasse. E os dois rapazes são arquitetos.
P/1 – Não quiseram ser químicos.
R – Não quiseram ser químicos. Mas não tinha a mínima, acho que não tinha a mínima condição de ser químico, pelo espírito deles, não? Os dois foram arquitetos.
P/1 – O senhor conheceu...
R – Um, inclusive, é o típico do arquiteto porque é desligado como só ele, né, o típico do arquiteto.
P/1 – E o senhor conheceu a sua esposa onde?
R – Eu conheci minha esposa em São Miguel.
P/1 – Em São Miguel?
R – São Miguel. Ela é de Presidente Prudente, mas eu conheci lá.
P/1 – Mas ela trabalhava na Nitro, não?
R – Trabalhava, trabalhava na Nitro, trabalhava na Nitro.
P/1 – O que ela fazia, Seu Élio?
R – Era de escritório, trabalhava no escritório da Nitroquímica, né?
P/1 – E tinha muitas mulheres, como ela, que trabalhavam?
R – Tinha. A Nitroquímica tinha muita mulher. Tinha muitas mulheres. É interessante, eu não sei se isso aumentou, mas a Nitroquímica tinha muitas mulheres. Bom, na própria área industrial, como na área de escritório. Área administrativa tinha muitas mulheres. Vamos dizer assim, como direção, não chegou a ter nenhuma, não.
P/1 – E na área, na área industrial, o que as mulheres faziam?
R – Não chegou a ter. Talvez houvesse na época, ainda, um pouco de discriminação, né? Também, as mulheres, também, elas foram evoluindo depois, com cursos, né? No começo não tinha, pra achar uma mulher com curso de, vamos dizer, de economista ou, né, Administração de Empresas, era muito raro, né?
P/1 – E na área industrial, elas trabalhavam só na fiação, é isso?
R – Não. Nas conicaleiras.
P/1 – Conicaleiras.
R – Na área têxtil, né? Porque a fiação, a insalubridade não permitia o trabalho de mulheres lá.
P/1 – O que que fazia uma mulher na conicaleira.
R – Ela, os fios que saiam da fiação, saiam, chamava-se torta, né? É porque era uma torta, mesmo. Era um, os fios eram enrolados assim, redondo, com um buraco no meio. Essa torta ia pra um setor que chamava conicaleiras, elas numa bancadinha. E elas, o fio era tirado, passava pra enrolar num cone, que esse cone depois é que era vendido para as tecelagens. E elas ficavam lá pra emendar fio, porque esse fio arrebentava e tinha que emendar, né, o fio. Então, o serviço deles era essa. Era trocar, quando acabava uma torta, por outra. Arrebentava o fio, ela tinha que emendar, pra continuar, depois tirava o cone feito. E era isso, o trabalho delas era isso.
P/1 – Seu Élio, 45...
R – E acho que, nesse departamento, eu acho que só tinha mulheres. Porque aí, eu acho que elas eram mais eficientes que os homens.
P/1 – Nesses, foram 45 anos?
R – 45 anos.
P/1 – Que lição que o senhor tirou desse seu tempo de Nitroquímica?
R –Que lição? A lição que eu tirei é de que o trabalho não mata. O trabalho não mata. E eu digo que foi muito bom trabalhar numa empresa dessa. Apesar desses problemas, mas dizem que a felicidade se faz de tristezas e alegrias. Então, eu acho que eu tive lá muitas tristezas, mas tive muita alegria também, não é?
P/1 – E, Seu Élio, o que que o senhor acha desse Projeto Memória Votorantim?
R – Ah, eu acho que é excelente. Porque a Votorantim, acho que, é o maior nome nacional, né? De indústria. Então, acho que, tirando, sei lá, as indústrias do governo, sei lá, como a Petrobras, isso, acho que a Nitro, a Votorantim, talvez, seja a maior. Eu acho excelente, porque é uma história bonita, desde o começo, começou com uma fabriquinha. E, eu acho que, é um trabalho muito bom, digno de elogios, de quem está fazendo.
P/1 – E o que que o senhor achou?
R – Aliás, eu vou fazer um parênteses, o Engenheiro Flávio Ramalho, que foi superintendente da Nitro, ele fez um trabalho da história da Nitroquímica.
P/1 – Nós temos.
R – Você tem esse trabalho?
P/1 – Temos. Ele nos trouxe.
R – Muito bom.
P/1 – Ele também deu entrevista.
R – Muito bom, muito bom, muito bom.
P/1 – Ele também já sentou e já deu entrevista, também.
R – Trabalho excelente.
P/1 – E o que o senhor acha de ter dado a entrevista pra gente?
R – Acho muito bom. Fico muito satisfeito, muito feliz de ter sido lembrado.
P/1 – Vai mostrar pros netos?
R – Ah, sim, vou mostrar pros netos.
P/1 – São sete, Seu Élio?
R – São sete netos. Vou mostrar. Tem que mostrar, não é? Vamos ver o final, né, se eu agradei. Mas, de qualquer maneira, tem que mostrar pros netos.
P/1 – Está certo, Seu Élio, muito obrigada de ter dado essa entrevista pro projeto.
R – Eu que agradeço.
P/1 – Obrigada, Seu Élio.
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