Projeto Votorantim
Depoimento de Aroldo Oliveira Rocha
Entrevistado por Marcia Trezza e Tereza Ferreira
Fercal, 12 de junho de 2015
VOF_HV017_Haroldo Oliveira Rocha
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Claudia Lucena
P/1 – Seu Aroldo, nós vamos começar a entrevista. Por favor, fala o seu nome completo
R – Aroldo Oliveira Rocha.
P/1 – Que data o senhor nasceu?
R – Vinte e um de março de 1958.
P/1 – Onde?
R – Itambé, Bahia.
P/1 – E o nome dos seus pais?
R – João Batista Rocha, já falecido, e a minha mãe é Ana Gonçalves de Oliveira Rocha.
P/1 – Que lembranças o senhor tem do seu pai, Seu Haroldo?
R – Ah, muitas lembranças, meu pai foi um herói, um homem de muita batalha, de muita garra, de muita fibra, um valente.
P/1 – O senhor fala que ele foi um herói, por quê?
R – Porque, desde que eu conheci ele como meu pai mesmo, assim, quando eu entendi que ele era meu pai, eu vi ele como um herói em todas as maneiras, um homem trabalhador, de muita luta, honesto, sincero com todas as suas coisas. Então, por esta razão, eu trato as pessoas sérias como herói.
P/1 – E qual a atividade dele?
R – Ele era vaqueiro, pessoa do campo mesmo, pessoa que mexia com gado, com animais assim, fazendas.
P/1 – Aroldo, que lembranças você tem dessa atividade dele?
R – Ah, as lembranças que nós temos dessa época que ele mexia, como vaqueiro, ele era uma pessoa bem de situação, porque eu acho que é uma das melhores atividades que existe pra o homem do campo, é mexer com gado, porque é abençoado por Deus mexer com gado.
P/1 – Por que você acha que é a melhor?
R – Porque a pessoa que mexe com gado, com fazenda, é bem-sucedido na vida, eu acho que é uma benção de Deus, que Deus deixou pra o homem ser assim, desta maneira. Então é uma coisa que o meu pai tinha isso como filosofia, tanto que, quando ele mudou, parou de trabalhar, mexer com fazenda, aí as coisas não foram as mesmas pra nós, a nossa vida só regrediu quando ele vendeu o que tinha, fazenda, gado, essas coisas, e foi trabalhar pra os outros, aí a vida regrediu.
P/1 – Ele trabalhava com gado, como que ele fazia, que tipo de trabalho fazia com o gado?
R – Ele criava e vendia pra abate, tirava leite, fazia o queijo, requeijão, tudo ainda na Bahia, isso aí que ele fazia, isto.
P/1 – E a sua mãe, que lembranças o senhor tem?
R – Ah, muita, graças a Deus, tenho lembranças e está viva ainda essa lembrança, porque minha mãe ainda é viva, né?
P/1 – Mas de quando o senhor era criança.
R – Sim, de quando eu era criança, era o tipo de mãe que ela era, assim, muito zelosa com nós, muito zelosa da casa, era a pessoa que dava 100% dela para os filhos e para a casa, porque ela não trabalhava. Hoje a maioria das mães trabalha fora, em empresa, ela não dá tanto dela pra os filhos igual à nossa mãe daquela época, só trabalhava em casa, o pai trabalhava na lavoura e ela na casa. Então olhava bem os filhos, educava severo, porque apanhava mesmo. Não se respondia à mãe, filho não respondia alto, não gritava com a mãe, não falava nada dessas coisas, tomava benção, era obrigatório fazer isso, né? Então essas lembranças são muito boas.
P/1 – O senhor tem quantos irmãos?
R – Nove, nove irmãos, mas ao todo era 12, morreram três, tem nove vivos.
P/1 – Como era essa convivência com os irmãos? Como que era um dia de vocês?
R – O dia a dia nosso sempre foi bom, sempre, até hoje. Esses nove irmãos, todos são casados, todos nos damos super bem, unidos, não tem desavença entre a nossa família, graças a Deus. Por incrível que pareça, mas eu falo isso com um certo orgulho, um deles sabe conversar, a gente se entende muito bem, um vai na casa do outro, faz uma festinha, o que for, chama todos, alguns podem ir, outros não, mas tem esse cuidado.
P/1 – Quantos são homens e mulheres?
R – Seis homens e três mulheres.
P/1 – Na época que o senhor era criança, com os irmãos, o que vocês faziam durante o dia, como era a rotina?
R – É, a rotina nossa era o colégio, tinha os colégios, nessa época, como criança, o colégio nosso era colégio particular, o colégio do Estado quase não era muito, assim, era mais particular. Mas, como criança, era colégio e banho, porque na cidade onde a gente morava tinha um rio muito grande perto e a nossa vida era essa, colégio e o rio, e o trabalho também diário, assim, ajudar em casa, que a mãe sempre botava a gente pra fazer as coisas em casa, ajudar ela, lavar vasilha, o que fosse, isso aí era obrigatório, varrer casa, o dia a dia nosso era esse aí.
P/1 – Para a lavoura os meninos não foram?
R – A lavoura foi muito pouco, porque, quando nós já fomos ficando mais adolescentes, foi na época que o meu pai deixou também a lavoura, aí nós já estávamos mais entrando pra cidade. Meu pai comprou casa na cidade, nós fomos saindo da fazenda pra entrar pra cidade, aí a mudança já começou a acontecer.
P/1 – E as brincadeiras eram no rio?
R – Rio e campo de bola, só que pra ir para o rio era um desafio, porque meu pai não gostava que nós fossemos para o rio e a gente ia escondido, tinha os horários, menino sempre dá um jeitinho, né?
P/1 – Qual era o horário que podia dar uma escapada?
R – O horário era quando ele saía pra trabalhar e tinha que chegar antes dele chegar do serviço. Uma época aconteceu um negócio comigo que eu nunca esqueço, é uma história e essa eu tenho o prazer de contar, porque ela foi amarga. Meu pai saiu pra trabalhar e todo dia ele recomendava: “Vocês não vão pro rio”, o rio chamava Rio Pardo, chama ainda até hoje, que é um rio que passa, assim, uns 500 metros da cidade de Itambé.
P/1 – Rio o quê?
R – Rio Pardo, que desagua no mar, que tá a 200 e poucos quilômetros só, Itambé é litoral. Só que a gente desobedecia, meu pai falava: “Ninguém vai pro rio”, só que, quando ele ia trabalhar, a gente fugia e ia para o rio. Nesse dia eu fui só para o rio, aí banhei, tinha muita areia, praia de água, que apesar de ser perto do mar, mas é água doce; o Rio Pardo é água doce e tinha umas praias muito bonitas de areia, aquela areia bacana. Eu, molecão, desobediente, tal, aos pais, e esse dia eu paguei caro, porque eu fiquei banhando e esqueci do horário de voltar pra casa. Quando eu lembrei do horário, eu tinha que subir correndo, dava meio quilômetro, 500 metros mais ou menos que tinha a distância. Então eu, quando eu ia saindo, ia saindo uma caminhonete, pra chegar na cidade tinha uma subida, uma ladeira bem forte, um declive muito forte. Eu falei: “Eu vou pegar uma carona nessa caminhonete, por detrás da caminhonete”, porque ela tava, eles estavam enchendo uns tambor de 200 litros na traseira da caminhonete pra levar pra cidade, tinha uns três tambores daqueles tamborzão de ferro de 200 litros. Aí o motorista descuidou, quando ele ligou a caminhonete, eu pulei na tampa traseira da caminhonete e vim agachadinho, menino é traquina mesmo, né? Aí o motorista subiu aquela subida, quando chegou lá no meio da subida, a caminhonete pediu marcha e ele botou uma marcha forte e quando ele arrancou pra frente, os tambores vieram pra trás e pegaram minhas mãos. Eu quebrei os dedos tudo, assim, machucou tudo, eu caí no meio da poeira. Quando eu acordei, eu já estava em casa, alguém me pegou lá, porque eu desmaiei, eu tive desmaio na queda, aí levaram pra casa e, quando eu cheguei em casa, o povo chegou comigo, aí a coisa foi feia. Porque, primeiro, eu desobedeci, machuquei, me ralei todo, antes de eu ir para o médico, ainda levei uma pisa, ainda levei uma coça, uma surra, porque não tinha dessa, apanhava mesmo, então isso aí ficou na minha história, uma lembrança que eu nunca esqueço, de desobedecer ao meu pai.
P/1 – E que susto, seu Aroldo.
R – E que susto, né, foi terrível, uma coisa, eu paguei caro com isso.
P/2 – E o motorista dessa caminhonete?
R – Nem viu.
P/2 – Ele não te viu?
R – Não, acho que até hoje ele não sabe o que aconteceu, porque ele não viu e ninguém também viu. E ninguém viu, só me viram no meio da pista, caído, como era uma pista que o povo sempre descia pra o rio e tinha muita gente indo de pé e voltando, aí viram que, e me conhecia, porque cidade pequena, o povo conhece.
P/1 – E depois, você contou essa história para o seu pai, que você pegou a carona com a caminhonete?
R – Sim. Ele queria saber quem foi o motorista e porque, eu falei: “Não, foi eu mesmo, pai, que errei, o motorista não viu, eu pulei na traseira da caminhonete na subida, então os tambores voltaram pra trás e pegou minha mão e eu caí”. Aí ele falou: “Pois é, toda vez que você fizer isso, você vai apanhar e muito!”.
P/1 – Depois disso, Haroldo, você continuou indo para o rio?
R – Não (riso), não fui mais, porque minha mãe começou a olhar melhor a gente, porque sobrou até pra minha mãe, meu pai brigou muito com minha mãe. Porque a gente falava pra ela assim: “Mãe, tou indo aqui” e ela pensava que a gente tava por ali, brincando por ali, e não era, nós tava solto em rio, e é perigoso, perigoso, menino é traquina mesmo.
P/1 – Tinha outras brincadeiras que fazia na praia, ali?
R – Não, na praia só rio mesmo. E quando a gente queria brincar, a gente ia pro campo de bola, sempre brincava aquelas coisas de criança mesmo, nos campinhos por ali, que tinha muito.
P/1 – Pescava, seu Aroldo?
R – Não, porque o rio era, assim, meio forte, esse rio tinha muita corredeira e tudo, a gente não tinha muita influência com pescaria. Hoje eu gosto de pescar, eu amo pescar hoje, mas naquela época não.
P/1 – Vocês depois mudaram pra cidade, mas lá mesmo em Itambé?
R – Sim, em Itambé.
P/1 – Você lembra por que o seu pai resolveu fazer isso?
R – Conselhos, conselho, porque, como eu falei, meu pai era bem-sucedido com o campo, com a lavoura, com o gado, e ele recebeu o conselho de um parente dele, que ele deveria vender aquela fazenda, porque fazenda dava muito trabalho e meu pai se criou naquilo. Então o conselho desse parente dele foi o seguinte: “Vende essa fazenda com gado e tudo e compra casa na cidade e aluga as casas, então você vai viver de aluguel, isso é mais negócio pra você”. Meu pai ouviu esse conselho, vendeu a fazenda, vendeu o gado, vendeu tudo e comprou as casas. Comprou parece que umas três ou quatro casas boas e comprou uma para nós morarmos, também boa a casa. E aí o aluguel era coisa à toa, não dava pra nada, e as casas, aí começou regredir, por quê? Com o dinheiro do aluguel não dava pra manter a despesa que ele tinha costume e sobrar dinheiro. As casas que tavam de aluguel, elas iam tendo problema, como, por exemplo, assim, precisando de reforma, essas coisas, isso, não tinha dinheiro pra fazer isso. Aí qual foi o motivo da regressão dele? Tinha que vender uma casa pra reformar as outras, sempre acontecia isso, porque o dinheiro não dava, o aluguel não dava para as despesas de reformar a casa, e os aluguéis naquela época eram mixaria, não era como é hoje, a demanda que tem hoje, naquela época era pouco. Então meu pai deu pra trás com isso, ouviu um conselho e um conselho mau, terminou ele indo trabalhar para os outros em fazenda mesmo, quem era patrão passou a ser empregado agora.
P/1 – Como foi a história do senhor mudar pra cidade?
R – Sair da roça e mudar pra cidade?
P/1 – É, como foi para o senhor?
R – Ah, foi uma mudança meio radical, porque nós não tínhamos muito costume com cidade, apesar de ser uma cidade do interior, calma e tudo, mas para nós foi uma mudança muito radical mesmo.
P/1 – Para melhor ou para pior?
R – Para pior, só que nós não ficamos muito tempo na cidade, não, logo a gente foi trabalhar numa fazenda de um amigo dele.
P/1 – Aí voltaram para o campo?
R – Aí voltamos para o campo, só que na volta para o campo já não voltamos, ficou dividido, minha mãe ficou na cidade e meu pai trabalhava para os outros, então ficou esse problema assim, até o meu pai adquirir uma doença lá no campo.
P/1 – O que ele teve?
R – A doença que ele teve, quando ele voltou a trabalhar nessa fazenda foi o seguinte, entrou na perna dele um espinho e inflamou toda a perna dele, o espinho era venenoso e doía dia e noite. Aí, quer dizer, ele não tava podendo mais trabalhar, ficou em casa e ele sentia muita dor e ia no médico, naquela época os médicos não tinham os recursos que têm hoje, era bem devagar, os médicos era, não tinha a ciência que tem na medicina hoje, os recursos. Então o que que aconteceu? Eles queriam amputar a perna de pai, porque ele inchou a perna toda e ficou azul, com aquela carne e aquilo dava mau cheiro, e aí eles queriam amputar a perna do meu pai, porque ele foi para os tratamentos em Vitória da Conquista, que fica pertinho de Itambé, era a cidade mais avançada na medicina, Vitória da Conquista. Em Vitória da Conquista os médicos falaram: “Ó, tem que amputar a perna dele” e o meu pai não quis, ficou assim: “Meu Deus, não tem como eu amputar essa perna desse jeito assim”. E aí a coisa foi acontecendo de uma maneira assim, uma irmã dele, que morava já aqui em Brasília há muitos anos, soube do que nós estávamos passando por tudo isso lá na Bahia e que eles queriam amputar a perna de meu pai, ela tomou conhecimento aqui em Brasília, aí ela falou: “Não, não vai cortar a perna dele, não, eu vou mandar buscar ele pra Brasília”, que foi já nos anos 70 isso aí. Aí o meu pai veio da Bahia pra Brasília, foi a razão de nós, aí já entra a história de nós virmos pra Brasília, porque meu pai veio doente e deixou nós lá, eles mandaram buscar meu pai. Quando o meu pai chegou aqui em Brasília, aí os recursos já foi outro e eles descobriu na hora o problema de pai, era apenas um espinho na perna, não precisava de amputar a perna dele, tirou aquele espinho, 15 dias depois ele tava com a perna normal, sem problema nenhum. Aí a família dele, essa irmã dele de Brasília, não deixou ele voltar mais pra Bahia, já mandou foi buscar a família pra cá, que lá ele achou trabalho, ele veio morar aqui na Cimento Tocantins, que na época tinha o acampamento. Onde é essa fábrica aqui hoje era um acampamento, que a fábrica no início tava iniciando, nos anos 70, 68, 60 e pouco, foi o início da fábrica. Então tinha muitos trabalhadores e o acampamento era aqui dentro, nós vínhamos pra dentro desse acampamento aqui, viemos da Bahia direto pra cá, pro acampamento da Cimento Tocantins. Aí meu pai já era funcionário da Cimento Tocantins na época.
P/1 – Já estava construída a empresa?
R – Já, tava começando, não tinha esse maquinário, essas “construçõeszonas” que tem hoje, não, na época era coisa pouca, mas já era Cimento Tocantins na época.
P/1 – Seu pai veio trabalhar, ele fazia o que na fábrica, na empresa Cimentos Tocantins?
R – Ele era guarda noturno, guarda da noite da fábrica.
P/1 – Que idade você tinha quando veio para cá?
R – Onze anos, entre 11 e 12 anos de idade, na época.
P/1 – Você ainda não tinha tido nenhuma atividade de trabalho?
R – Não, não. Aí meu pai trouxe nós para o acampamento da fábrica aqui e eu, com 11 anos, estudava, tinha o colégio dentro da fábrica aí, tinha tudo.
P/1 – Você ainda estava morando na cidade de Itambé, não na roça com o seu pai?
R – Isso. Meu pai voltou pro trabalho da roça, mas, como ele teve esse negócio, aí também ninguém voltou mais pra roça, não, aí encerrou todas as nossas atividades de roça na cidade de Itambé.
P/1 – Quando você chegou aqui pra morar aqui, como era aqui?
R – Ah, aqui era mato, só mato e deserto e pedra e mais nada, sabe (riso)? Só isso mesmo, aqui não tinha pista, tinha pista de terra, só caminhões e poeira demais e mais nada.
P/1 – Caminhão por conta da Tocantins?
R – Era da Tocantins, que na época não vendia cimento, vendia só brita, só esse negócio assim, vendia brita.
P/1 – E a sua reação quando chegou nesse lugar?
R – Ixi! Pra mim foi outro mundo, estranhamos muita coisa, porque a fábrica trabalhava, tinha um maquinário que era ao lado do acampamento, o maquinário que fazia brita, isso funcionava dia e noite e a gente não conseguia dormir. Nós não tínhamos costume com esse barulhão assim, aí pra nós foi muito difícil. Era só poeira, só poeira mesmo, assim, ninguém mantinha uma casa limpa, não conseguia, as mulheres não conseguiam fazer isso, porque morava dentro do acampamento, no meio do maquinário.
P/1 – A casa era do que, construída de quê?
R – De madeira, casa de madeira, era um vilarejo, uns barracões. Depois eles foram modernizando, alguns já fez uma casa melhor, a própria empresa fazia pra quem era chefe, alguma coisa, eles faziam uma casa de alvenaria, por exemplo, né, mas os funcionários era madeira mesmo, as casas eram de madeira.
P/1 – E sua mãe, Haroldo, como se sentiu? Porque ela era muito zelosa pela casa. O senhor lembra da reação dela?
R – A reação dela foi aceitar o que tava vindo, parar com aquele negócio desse zelo da casa, ela teve que parar, porque não tinha como. Você limpava uma casa agora, dentro de dez minutos estava só a terra de novo, então...
P/2 – E a escola, também era de madeira?
R – É, a escola tinha uma parte de alvenaria e outra parte de madeira, mas a escola era muito bem arrumadinha, muito bem organizada, o colégio.
P/2 – A sua mãe estranhou. E você com seus irmãos, o que vocês acharam dessa mudança de uma cidade pra um local onde não tinha casa totalmente sem estrutura?
R – Olha, Tereza, pra nós parecia um sonho, nós não tava entendendo nada. Nós não estávamos entendendo nada, sabe? Tem umas mudanças que você simplesmente deixa acontecer, mas você não entende o que, parece um sonho na vida nossa. Tudo pra nós era moderno, era diferente, era uma novidade, os amigos, todas essas coisas pra nós eram muito novas, muito modernas.
P/2 – Vocês se ambientaram com as outras famílias que já moravam no local com facilidade, com os amigos, criou logo amigos?
R – A gente teve alguma dificuldade, mas tivemos ajuda, porque já morava essa irmã de meu pai que mandou buscar ele na Bahia. Ela já morava no acampamento e ela tinha uns filhos, tinha os nossos primos, que foram ajudando nós a se ambientar, ensinando nós alguma coisa e tal, né, e aí a gente foi criando, tendo alguns amiguinhos, mas não foi difícil de se adaptar, isso aí não, como criança não.
P/1 – Lá na cidade de Itambé, não na fazenda, na cidade, tinha energia, tinha água, tinha tudo?
R – Tinha, tinha, tinha.
P/1 – E aqui, quando vocês vieram para o acampamento?
R – Dentro da fábrica tinha.
P/1 – No acampamento?
R – No acampamento tinha energia, né?
P/1 – Água encanada também?
R – Água encanada, já tinha esses recursos, porque a fábrica, quando veio. É que esse acampamento era mantido pela Votorantim, eram funcionários, então isso tinha, a água encanada, a energia, por causa da empresa.
P/1 – Qual era a modernidade que você estranhou mais? Você falou: “Tinha uma modernidade que a gente estranhou aqui”.
R – Aqui?
P/1 – Ou não, ou entendi mal?
R – Não, realmente, as modernidades que tinham aqui, que era muito movimento no acampamento, festa demais, tinha muita festa no acampamento. Era um povo, assim, muito festeiro, festas de diversas maneiras, tinha muita, muitos grupos de pessoas, desses cantores que vinham, que a própria empresa, a própria Cimentos Tocantins fazia esses movimentos pra deixar o povo, que era os que vinha da migração de fora, ter um lazer, se ambientar. Aí tinha festa, tinha o salão de festas. Isso aí era direto, direto, isso era quase que todo dia, todo final de semana, e casamentos e aí começou as famílias a interagir.
P/1 – Tinha bastante famílias ou mais homens?
R – Bastante famílias e muito homem também, porque a empresa trazia muita gente de fora, porque a Votorantim tem empresas em São Paulo, no Rio, pra todo lado, o Votorantim é um grupo muito forte.
P/1 – Agora, dormir do lado da britadeira, como foi isso?
R – Muito difícil, essa era a pior parte, ninguém dormia, passava a noite assustando, assim, e aquele barulhão assim, ás vezes a gente dormia mais de cansaço de tanta zoada, de tanto barulho, porque as britadeiras funcionavam forte mesmo.
P/1 – O senhor foi morando lá ou antes mesmo da britadeira sair, o senhor saiu?
R – Depois que a empresa foi crescendo, aí tiveram, por ordem da saúde pública, esses negócios, tirar esse povo do meio daquela poeira. Aí já começou o movimento de saúde pública, não podia conviver esse povo no meio disso aí, aí foi criando. A maioria das pessoas foi saindo pra Sobradinho, pra Fercal, que já foi criando a Fercal Um; depois teve um outro acampamento, com nome de Acampamento da Planalto, que ficava a uns dois quilômetros daqui, era um lugar por nome de Aniba, o nome desse lugar, e lá criou outro acampamento, que aí já foi da Planalto. Aí uma parte do pessoal foi pra lá, de forma que foi extinguido mesmo o acampamento da Tocantins, tirou de lá de dentro. Hoje tem só fornos de fazer cimento e tudo, havia essa necessidade pelo crescimento da empresa.
P/1 – Agora, quando as pessoas foram saindo, a própria empresa que foi deslocando as pessoas?
R – Não. Ela deu alguns recursos, compraram terra aqui na região mesmo, né, mas a empresa não deu acampamento fora pro pessoal, não. Era alojamento, quem quisesse morar, trabalhando, morando em hotel aqui, como hoje ainda eles fazem isso aí. Algumas pessoas que vêm de fora alugam hotel aqui mesmo, ela dá essa condição aí, as pessoas vivem, não mais alojamento, como era antes, né?
P/1 – Você, Aroldo, a sua família saiu de lá ou continuou na região, como foi?
R – Aí nós já saímos, meu pai saiu da empresa Tocantins e foi trabalhar numa empresa por nome de Pedreiras Planalto, aí já era outro acampamento, mais bem organizado esse outro acampamento. Era fora do acampamento da Planalto, ficava daqui uns dois quilômetros, mais ou menos, só que já era tudo com alvenaria, muito bem organizada a estrutura, aí nós já saímos da Cimentos Tocantins, o meu pai.
P/1 – E não tinha barulho mais?
R – Tinha, mas muito pouco, porque as britadeiras da Planalto ficavam mais distantes, as condições de vida já foram melhores, né, já foi melhor.
P/1 – As crianças brincavam nesse primeiro, lá ainda na Tocantins, no acampamento?
R – Brincava sim, menino, já viu como é que é, né, nós brincávamos muito.
P/1 – Alguma brincadeira que só aconteceu lá, por conta do espaço, do tipo de lugar?
R – Algumas brincadeiras, tinha o rio, passava nos fundos, tinha um rio e menino gosta dessas coisas, nós já pescávamos, já brincava, já ia pra rio, essas coisas assim.
P/1 – Já podia?
R – Aí já podia, aí nós éramos uns meninos mais crescido, né, aí já podia fazer isso.
P/1 – Da escola, que lembranças o senhor tem dessa aqui?
R – Da Cimento Tocantins?
P/1 – É.
R – Do acampamento da Tocantins eu tenho umas lembranças muito boas, nós tínhamos a nossa professora, que até hoje nunca esqueço dela, que era a Professora Leonor, que foi a minha professora e era uma professora muito legal conosco. No colégio todo mundo queria ser aluno da Professora Leonor, porque ela era muito gentil, muito bacana com as crianças e menino gosta disso, né?
P/1 – Eram várias salas ou todos numa sala só?
R – Várias salas, várias salas.
P/1 – O senhor estudou nessa escola até mudar para o Planalto.
R – É, aí mudamos pra Planalto. Quando eu mudei pra Pedreira Planalto, ainda continuamos, porque o colégio aqui da Cimento Tocantins ainda ficou por muito tempo, porque tinha o ano letivo, então quando eles estavam fazendo as mudanças, aí as crianças, mesmo morando longe como nós morávamos, na Planalto, nós vínhamos de pé a Planalto aqui pra Tocantins, para o colégio, vinha de pé.
P/1 – Quanto tempo levava?
R – Ah, levava cerca de uns 25 a meia hora, porque dava uns dois quilômetros de distância, era mais ou menos isso. Isso nós fizemos até enquanto não tiraram o colégio, nós fazíamos isso. Aí as brincadeiras com as crianças, aí menino brincava na estrada, brincava muito.
P/1 – Brincava como?
R – Brincava, brigava, tudo isso acontecia no caminho do colégio, era briga e tal, tudo isso acontecia, com menino não tem jeito.
P/1 – Qual foi o seu primeiro trabalho, Aroldo?
R – Já foi na Planalto o meu primeiro trabalho. Nessa época não tinha essa fiscalização pra criança não trabalhar, que hoje o menino só tem que estudar, não pode trabalhar, mas na época a criança trabalhava. E a Pedreira Planalto, como ela mexia com pedra, era umas caçambas, tinha uns caminhões com uns guinchos, que chamava brook, e esse brook vinha e pegava a caçamba de pedra. Cada funcionário ganhava pelas caçambas de pedra que enchia. Então ele enchia a caçamba, aquele caminhão vinha, pegava a caçamba dele e dava um vale pra ele, esse vale é que dava o direito do salário dele no final do mês, então nisso aí trabalhava os homens e as crianças, meninos de 12 anos, de dez anos pra frente, tudo trabalhava. E nós enchíamos caçamba, recebíamos o nosso vale e no fim do mês nós tínhamos o nosso salário, vinha num envelopinho igual ao envelope dos adultos, vinha das crianças também. Isso nos incentivava a trabalhar demais, porque a gente ganhava o dinheiro de verdade, suado, mas ganhava.
P/1 – Era pegar as pedras?
R – É, quebrava elas com uma marreta de ferro.
P/1 – Vocês que quebravam?
R – Era! A gente mesmo que quebrava, chamava marruar a pedra na época, então nós mesmos quebrávamos e nós mesmos enchíamos a caçamba. Quando a caçamba tava cheia, aí chamava o caminhão pra pegar, você só chamava o caminhão quando a caçamba tava cheia.
P/1 – Num dia quanto de caçamba o senhor enchia?
R – Olha, criança, menino que trabalhava brincando, nós enchíamos duas caçambas de pedra dessa. Uma caçamba daquela dava na faixa de uma tonelada e meia de pedra a duas toneladas e nós quebrava e enchia.
P/1 – O senhor tinha que idade, seu Aroldo?
R – Eu já tinha uns 13 anos, 13 pra 14 anos, nessa faixa aí.
P/1 – Foi o senhor que quis trabalhar assim?
R – Sim, quis e meu pai fazia nós trabalhar. A gente trabalhava, depois nós passamos a ter gosto pelo trabalho, porque o gostoso era nós trabalhar, receber o dinheiro como criança e ajudar em casa, a gente ajudava! Com meu dinheiro, eu comprava minhas coisas. Eu comprava as minhas vestes, minhas roupas de eu vestir, comprava meu sapato, que na época tinha muito aquela moda do sapato alto, calça boca-de-sino, Cavalo-de-aço, tudo isso era coisa que qualquer rapazinho na faixa de 12, 13 anos tinha o maior prazer em vestir uma calça que era aquelas calças, tinha até o emblema, era Cavalo-de-aço, Selva-de-pedra, essas coisas assim. E a gente ganhava dinheiro e ajudava em casa.
P/1 – Além de comprar roupa?
R – Além de comprar, né, nós não esperávamos para o pai dar, então isso aí era muito bom, muito bom.
P/1 – Aroldo, você lembra a primeira coisa que você comprou com o seu dinheiro?
R – Sim.
P/1 – O que foi?
R – Uma calça com o emblema do Cavalo-de-aço. Para mim isso aí, era um pano diferente, muito bonito e na boca dela, que as roupas, a moda era boca-de-sino, e aí vinha o emblema do Cavalo-de-aço na perna, aqui, ó! O uso era esse, e sapato alto, era coisa, ixi, isso aí era uma vaidade.
P/1 – E punha essa roupa e depois fazia o que, o que o senhor fazia depois com a roupa?
R – Ah, você só botava essa roupa para ir numa festa, final de semana, esse uso era só final de semana.
P/1 – E aí em que lugares o senhor usava essa roupa?
R – Não tinha muito lugar pra ir, não, porque era acampamento, ficava rodando ali no acampamento naquelas festinhas de aniversário, festinha de forrozinho, essas coisas assim. Quem ia vestido numa roupa dessa, meu Deus, chamava atenção demais! As menininhas gostavam, achava bonito, não precisava nem de namorar, não, bastava falar que tava bonito, já tava bom.
P/1 – O senhor namorou muito, seu Aroldo, nessa época?
R – Não, não, eu tive alguma namoradinha, tive umas namoradinhas, mas não fui, assim, não foi muito, eu não era muito assim, eu gostava mais de ter uma namorada e pronto.
P/1 – Qual foi essa namorada que deixou mais lembranças?
R – Aí complica um pouco, mas a namorada que eu tive que me deixou lembrança chamava Iracema, o nome dela, mas eu não tenho muita lembrança dela, eu gostei muito dela na época.
P/1 – Depois separou.
R – É, aí depois ela, ela também era muito criança e eu também, eu namorei ela com 14 anos de idade, a gente não tinha muito, então era bastante, chegar outra que achasse mais bonita, aí a gente já partia pra o outro lado, não tinha jeito, mas a Iracema...
P/1 – Pro Planalto o senhor já foi com 13 anos?
R – É, na faixa de 12 pra 13 anos mais ou menos.
P/1 – Até que idade o senhor ficou lá, seu Aroldo?
R – Eu saí de lá de maior idade, já com uns 19 anos.
P/1 – Por que o senhor saiu?
R – Porque esse acampamento da Planalto também foi extinguido, eles venderam pra um tal de Engesp, que já foi pra outra região, pra cá, Engesp, aí nós viemos pra Engesp.
P/1 – Veio junto com a empresa?
R – Viemos juntos, só que nós viemos pra Engesp, nós viemos trabalhar na Engesp, só que nós já compramos uma terra, que nós moramos ainda hoje, aqui no Engenho Velho, Bananal. No Bananal nós estamos desde essa época, de 82, por aí. De 80 pra cá nós já compramos as terras aqui do Bananal, que é onde a gente mora hoje ainda, mas trabalhava na Engesp.
P/1 – Mesmo trabalhando no Planalto, vocês foram morar lá?
R – É, morando, trabalhando na Planalto nós compramos a terra daqui do Bananal.
P/1 – E foram construindo lá?
R – É, fomos construindo.
P/1 – Isso todos os irmãos?
R – É, aí todos os irmãos unidos.
P/1 – Morando aqui?
R – Morando junto. Depois que nós, depois que nós viemos trabalhar na Engesp, aí já começou alguns dos filhos casando, né, aí a família já foi se deslocando, saindo.
P/1 – Então quando vocês mudaram de empresa, aí já foram morar lá?
R – É, já vinha morar no Bananal. Trabalhava na Engesp e morava no Bananal, aí eu já era de maior na época, já.
P/1 – O senhor lembra por que foi que escolheram essa terra para comprar?
R – Sim, porque era uma chácara muito boa. Na época o meu pai tinha condição, já tava com uma condição de algumas economias, aí ele resolveu investir nessa chácara do Bananal.
P/1 – E aí foi a família toda, o senhor ainda era solteiro. E quando chegou lá, como era o lugar?
R – No Bananal? Gostoso, um lugar muito bom. O Bananal até hoje é bom, é muito gostoso de morar no Bananal.
P/1 – Por que que é gostoso?
R – É porque tem rio, tem córrego e é aquele clima muito de interior, né, Tereza? É um clima de interior. Agora já não tá ficando mais assim, porque o povo tão vendendo muito pedaço de terreno. Na época era chácara, só que hoje já tão fatiando e vendendo lotes, aí vai vindo muitas famílias, muita gente que a gente não conhece. Já teve inclusive casos que antes não tinha, como estupro, coisa desse tipo, morte teve lá na região, então a gente fica meio preocupado com a segurança do local.
P/1 – As famílias que foram para o Bananal eram todas parentes uma da outra?
R – Não, não, não, já famílias de uma maneira, de uma etnia e de outra.
P/2 – Mas quando o seu pai resolve comprar no Bananal, todos os irmãos vieram junto com ele ou já tinha alguns casados e não estavam mais?
R – Não, não, viemos todos com ele.
P/1 – Alguns casados já?
R – Depois que nós viemos, hoje?
P/1 – Não, lá na época.
R – Não, na época, quando viemos para o Bananal, viemos todo mundo junto.
P/1 – Mas solteiros todos?
R – Solteiro, mas aí já tinha uns noivos, prontos para casar e tal.
P/1 – E quando casaram continuaram lá no Bananal?
R – Não, não. Hoje nós temos família. Desses nossos irmãos, hoje tem deles morando no Estado de Goiás, no DF, pra todo lado, pra todo lado tem familiares.
P/1 – Você disse que era muito bonito, né?
R – O Bananal sim.
P/1 – Do que tinha lá, o que mais que encantou você?
R – Ah, o ambiente dentro da natureza do Bananal, porque é muita palmeira, muito coqueiro, muita coisa desse tipo assim. E o lugar é muito embocado, de serra, e quando dá, época, nessa época da seca, por exemplo, que baixa o nevoeiro, fica parecendo essas cidades de países lá fora, fica parecendo que cai neve na região. Então Bananal é muito bonito, Bananal é muito bonito.
P/1 – E continua ou mudou muito, seu Aroldo, desde que o senhor mudou lá?
R – Olha, não mudou muito, o que mudou foi as construções, claro.
P/1 – Que loteou mais, né?
R – É, que loteou mais, mas a região continua com essas belezas naturais, porque não é permitido devastar. Hoje pra cortar uma árvore aqui no Bananal tem que pedir licença, que alguém, se, já houve casos de pessoas tá fazendo, cortando mangueira, angico, essas coisas assim, pra fazer a casa e ser embargado pelo governo, não pode.
P/1 – Foram os moradores que conquistaram essa área de preservação ou foi uma lei que veio do governo direto?
R – Pra preservar? Lei do governo, lei do governo. Dentro do Distrito Federal a lei continua, apesar de que a gente sabe que não funciona muito, mas a lei existe, se a pessoa fizer alguma coisa e for denunciada, aí é multado e quando muito é preso, né?
P/1 – Mas não foi sempre assim, quando vocês mudaram pra lá não era?
R – Quando nós mudamos pra lá, na época não era assim não. Na época lá a pessoa podia fazer o que bem entendesse com a terra, né?
P/1 – O que os moradores acham, Seu Haroldo, dessa situação de preservação?
R – Boa, é maravilhoso isso, só quem ganha é a própria natureza e os próprios moradores da região. Por que já pensou uma região aonde não tem árvores, aonde não água, não tem nada? Aqui acontece de vez em quando uns movimentos pra limpar esses rios, os próprios moradores daqui, os que são presidentes de associação encabeçam isso pra fazer limpezas do rio, do Rio Bananal, isso aí tudo, só quem ganha é a gente, só faz bem pra nós.
P/1 – Falando em presidente de associação, o senhor foi alguma vez presidente de associação?
R – Não. Rejeitei várias vezes.
P/1 – É mesmo, Seu Haroldo? Por quê?
R – Eu admiro as pessoas que tem... Porque observando o que muitos presidentes de associação aguentam por uma causa que eles não ganham pra isso, presidente de associação, ele faz por amor à causa pública e as pessoas não entendem isso. Então eu, observando o que os outros aguentavam, eu não aguento essas coisas. Por exemplo, eu já vi presidente de associação, as pessoas chegar, xingar a pessoa, desmoralizar, falar que é ladrão, que é certas coisas, que não sei o que, eu acho isso, assim, uma aberração, uma falta de respeito com a pessoa, com o presidente da associação. Então a pessoa chegar pra mim e falar certas coisas que eu não tou fazendo, eu não gosto disso, eu não acho isso correto. E eu então, vendo o que os outros presidentes de associação passam, prefiro que eu não passe isso, sabe, porque eu já contemplei muito isso.
P/1 – O senhor frequentava alguma organização, algum grupo?
R – Sim, sempre gostei de estar nas reuniões, de participar, até de opinar. Já me botaram uma vez como presidente da associação por aclamação, direto, sem votação, depois eu caí a ficha, fui e saí fora, tipo assim, sabe? Mas já puseram eu direto, assim, falou: “Olha, você não vai pra votação”. Naquele meio, quando falaram: “Vamos botar Haroldo como presidente da associação. Quem aceita?”, aí todo mundo levantou a mão: “Nós aceitamos”, porque na realidade ninguém queria (riso), então me jogaram, aí depois eu falei: “Não, já que ninguém quer, por que que eu vou querer?”, aí eu não quis.
P/2 – Além de não querer, às vezes as pessoas que sugeriram, pode ter sido devido à sua participação na comunidade.
R – Com certeza.
P/2 – Você não acha que foi devido a isso e não por que ninguém queria?
R – Na realidade, Tereza, as pessoas sabiam que era por causa da minha participação e que realmente eu iria fazer um bom serviço, eu tinha isso comigo. Não era porque ninguém queria, eles queriam botar uma pessoa lá assim. Mas eu sabia que eu podia fazer alguma coisa para o bem do meu povo, mas tem pessoas que não fazem nada e poderiam tentar me prejudicar, então esse é que é o ponto ruim que eu acho, é que aqueles que não fazem ficam ainda tentando prejudicar o andamento das coisas.
P/1 – Aroldo, além das reuniões da associação, você participava de outros lugares de reunião de pessoas, igreja?
R – Sim. Sempre participei, eu sempre gostei de ir, até hoje, no centro comunitário, quando tem reuniões aqui, a gente sempre tá presente, quando vem político. Não é sempre que eu faço isso, mas de vez em quando. Eu já tive em várias reuniões com a Tereza aqui, reuniões em se tratando de política e políticas públicas para a própria comunidade, com o governo, com as coisas, então a gente só ganha com isso.
P/1 – Que conquistas vocês tiveram com essas reuniões, com essa organização, para o Bananal?
R – Muitas, muitas! Nós temos aqui um político que eu vou falar, acho ele, assim, no momento ele tá até um pouco meio sumido aqui, que é o Doutor Michel, mas eu vi o Doutor Michel falar algumas coisas aqui e acontecer. Hoje o Bananal é todo asfaltadinho, aliás, não é todo, uma boa parte do Bananal é asfaltado; eu vi ele brigar por esse acontecimento. Hoje nós temos linha de ônibus que passa na minha porta, na porta da minha casa. Eu acho isso, melhorias importantes. E essas conquistas foram tudo por intermédio de reuniões, água, nós temos água potável na torneira, você pode abrir a torneira hoje dentro da Fercal, na minha região, você pode abrir a torneira e beber água da torneira, que é água gostosa, água boa, tratada, isso é uma conquista muito boa pra nós.
P/1 – O senhor falou de um deputado, mas não teve nenhuma ação de vocês para que isso acontecesse?
R – Sim! Por que que o Deputado Michel chegou até a região aqui? Eu, creio que foi por causa das reuniões das associações convidando eles para vir pra cá, né, pra tomar conhecimento das carências da região, das carências da região.
P/1 – Quando o senhor mudou para o Bananal, tinha luz?
R – Não.
P/1 – Nem água encanada?
R – Nem água encanada e nem ponte. Quando eu mudei pro Bananal, nós passávamos por dentro d’água, botava umas pedras e pisava de pedra em pedra e quando o rio enchia, ficava um pessoal de um lado e outro do outro, ninguém passava.
P/1 – E para trabalhar, seu Aroldo, como fazia?
R – Aí você dava a volta. Como nós morávamos no Bananal, aí dava a volta, saía aqui no Monte das Tintas, que era uma fábrica que tinha, a gente saía aqui pra ir trabalhar, então era assim que se fazia.
P/1 – E ficava mais longe?
R – Ficava muito longe, mas nós não tínhamos água encanada, não tinha ponte e nem tinha energia quando nós mudamos para o Bananal, era na base do lampião ou lamparina de querosene.
P/1 – E sua mãe com essa mudança, uma hora tem luz, outra hora não tem; uma hora tem água encanada, outra hora não tem. Como sua mãe e vocês lidavam com essas mudanças?
R – Isso aí a gente dava um jeito, dava tudo certo no final, né? Pegava a água no córrego, porque a gente ajudava muito a minha mãe. Ela queria água, a gente ia buscar no rio, usava as latas, carregando lata, assim, nas costas.
P/1 – Não tinha reclamação de vocês?
R – Tinha pra não ir, mas ou ia ou apanhava se não fosse! Era! E menino sempre faz isso, né?
P/1 – E não ter energia?
R – Aí, Márcia, depois nós começamos a comprar bomba a gasolina pra jogar água, né, botava a bomba motor no rio e encanava a água pra casa, aí as coisas já foram melhorando.
P/1 – Quem fazia isso? Cada casa?
R – Nós mesmos. Cada morador que tinha acesso ao rio, que tinha uns que não tinham, então quem não tinha, vinha lavar roupa no rio e pegar água também no rio, outros abriam poço, cisterna.
P/1 – E energia, era na base da lamparina?
R – Na base da lamparina. Já nos anos 85 pra 90, por exemplo, nós conseguimos uns fios de energia, uma rede com o Mundo das Tintas, com o Seu Vicente, que era o dono do Mundo das Tintas aqui. Pois é, Seu Vicente deu pra nós um bico, era só o bico de luz mesmo pra ter só energia, porque não dava conta de tocar bomba e nem certos aparelhos. Não dava conta, porque era fraquíssimo, acho que não dava 100 volts de energia, mas era o que tinha na época. Foi cedido pelo Mundo das Tintas, algumas pessoas já tinham essa energia.
P/1 – E o motor para conseguir a água?
R – Era motor a gasolina.
P/1 – Como que foi para conseguir tudo isso, Seu Haroldo, para ter água encanada?
R – Aí já foi por intermédio dos governos do Distrito Federal, foi o Governador Joaquim Roriz que vinha aqui nas reuniões e mandava, ele autorizava: “É para botar água encanada aqui para o pessoal”, aí ele veio e mandou botar energia, aí as coisas já foi melhorando pra nós.
P/1 – Como é que ele chegou a vir aqui?
R – Por fechamento das pistas, a população da região aqui fechava pista e foi assim que eles começaram a vir aqui na Fercal.
P/1 – O senhor participou de algum fechamento de pista?
R – Sim, participei de algum movimento.
P/1 – De fechamento de pista?
R – De fechamento de pista. Hoje eu não participo, porque hoje a gente já acostuma dar algumas guerras e a gente tem que ter mais cuidado.
P/2 – Como é que eram esses fechamentos de pista? A comunidade se organizava, se combinava ou era por iniciativa de pessoas em separado?
R – Pelas associações, os presidentes de associações que tomavam tal decisão, porque às vezes os presidentes de associação queriam fazer o melhor pra localidade, mas não era ouvido. Então qual era o melhor meio de se reivindicar seus direitos? Era fechar a pista, porque aí os governos tomam conhecimento, porque fechar uma pista dessa aqui hoje, com o movimento de escoamento de produção que tem dessas empresas grandes aqui pra Brasília, fechar uma pista dessa aqui é uma calamidade, é um problemão e os presidentes de associação encabeçava isso e sempre deu certo, porque hoje a Fercal melhorou muito por isso.
P/1 – Como é que vocês conseguiam fechar a pista? O que vocês faziam para isso acontecer, os detalhes?
R – Geralmente a turma se reúne à noite pra fazer os detalhes e já carrega logo pneu e tudo, pra quando o dia for amanhecendo, quando começar os primeiros carros passar, já enche logo a pista de pneu, de árvore, do que vier, do que der, e o povo entra no meio da pista e pronto, ninguém passa, pronto.
P/1 – Os moradores aderiam assim?
R – Sim, sim, aderiam tranquilo. Aderiam e aderem ainda, o povo não tem isso, não! Se for para melhorar, se o pessoal da localidade se sentir prejudicado com alguma coisa, eles vão gritar mesmo, vão reivindicar e hoje, infelizmente, o jeito que tem melhor é esse, né?
P/1 – O senhor participava de igreja, seu Aroldo?
R – Sim, sempre participei da igreja.
P/1 – Tinha alguma ação da igreja?
R – Não. A igreja, apesar de ter alguns moradores que são da igreja, que são os frequentadores de igreja, que às vezes participa desses movimentos, mas eles são mais retraídos um pouco, mas participam, porque são moradores, né, e é para o bem de todos. Só que a igreja em si não entra muito nesses movimentos, ela não encabeça.
P/2 – Mas a igreja tinha alguma obra social para ajudar a comunidade, que sempre foi carente, as irmãs aqui da região?
R – Sim, sim. Nós temos o exemplo aqui do nosso saudoso Pastor Benedito Amâncio, que foi um homem que muito fez pela comunidade, ele tinha movimentos sociais, na época da LBA, ele já tinha aqui, as mães carentes sempre buscavam pão e leite, vinha coberta, vinha todas essas coisas, vinha muitas coisas que beneficiavam a população da região, não era só pra igreja, era para um todo, a população.
P/1 – Você participou de alguma ação dessas que o Pastor Benedito encabeçava?
R – Sim. Eu não só participava como era beneficiado também, porque eu era morador. Muitas vezes vinham coisas aqui de governo, o Estado também ajudava a igreja, porque a LBA era um movimento de governo e trazia pra igreja. A igreja também fazia o movimento da própria igreja também, ali tinha os benefícios pra população.
P/1 – Eu pergunto se você participava ajudando o Pastor Benedito nessas obras.
R – Sim, a gente sempre ajudou, sempre ajudou, né?
P/1 – Você lembra de alguma ação que você fez com ele?
R – Olha, as nossas ações com ele, por exemplo, era sempre auxiliar ele na distribuição de algumas coisas. Por exemplo, quando ele ia fazer essas ações sociais, sempre tem que ter uma gama de gente ali ajudando, de pessoas auxiliando na distribuição, essas coisas assim.
P/1 – Você era jovem na época, Aroldo, que você fazia isso?
R – Não, era adulto, casado, já tinha casado na época.
P/1 – Com que idade você casou, Haroldo?
R – Com 19 anos.
P/1 – Como foi, você lembra do dia que você conheceu sua esposa?
R – Sim.
P/1 – Conta para a gente como foi.
R – Eu conheci a minha esposa numa festa. Eu também eu não era evangélico, eu não era na época. Eu tava numa festa e conheci ela, só que não foi eu que tomei a iniciativa, foi ela! Ela me viu e falou com uma amiga minha que gostou da minha pessoa. Eu a vi e foi amor à primeira vista. Quando eu a vi, eu falei: “Essa aí é a menina que eu quero, essa é a moça”.
P/1 – Como ela chama?
R – Ela chama Marli, Marli o nome dela.
P/1 – Você lembra o que te encantou nela?
R – Sim, as maneiras dela conversar, a gentileza dela, isso foi o que me encantou, o jeito alegre dela ser. Isso aí que me encantou, aquela pessoa bacana mesmo, assim, de uma conversa muito boa, isso me agradou muito.
P/2 – Quanto tempo durou o namoro, noivado e casamento?
R – Uns oito meses. Entre conhecer ela e casar durou na faixa de oito meses.
P/1 – Foi amor mesmo à primeira vista.
R – Foi amor à primeira vista mesmo, foi pra valer mesmo.
P/2 – Quantos filhos vocês tiveram?
R – Três filhos.
P/1 – Qual o nome deles?
R – O meu mais velho chama Kleber, a mais nova do que o Kleber chama Mediam e o meu caçula chama Israel.
P/1 – Vocês estão juntos até hoje?
R – Isto, graças a Deus, é pra morrer, eternamente, o projeto é esse.
P/2 – E os filhos, já tem algum casado?
R – Todos casados.
P/2 – Tem netos?
R – Já temos netos
P/2 – Quantos netos?
R – Temos cinco netos, véspera de seis, porque a minha nora tá grávida.
P/1 – Aroldo, agora que você, já aconteceu tanta coisa no Bananal, tantas conquistas, como é que está a participação dos moradores? Ainda existe essa participação em reuniões, movimentos?
R – Ainda existe, mas eu creio que hoje não é mais como era, porque hoje quase não se fala em reunião mais no Bananal. Porque como já tem no Bananal hoje administração direta, que hoje já tem a RA 31, que é a administração própria, então o governo hoje assumiu. Hoje o governo não é mais, assim, ele não vem por acaso, não! Hoje já tem o governo dentro da Fercal. Então, com isso as pessoas já procuram direto a administração, não mais por reunião, como era antigamente, as associações, não, já vão direto na administração. Então aí isso acabou, né, algumas necessidades, o próprio governo toma conhecimento das necessidades que há. Então isso acalma a população, que vai chegando as melhorias, hoje a Fercal tem delegacia, tem polícia presente, tem banco, tem posto de saúde, então isso é só coisa, é só bem pra nós.
P/1 – Mas ainda em Bananal, teria alguma coisa que a população teria que ainda reivindicar?
R – Sim, sempre tem necessidades, sempre tem necessidades e coisas pra reivindicar, sempre tem. Eu vou dizer, por exemplo, terminar o asfalto, que o ônibus passa ainda em um trecho que é estrada de chão. Então sempre tem uma coisinha, sempre tem, nunca tá 100%.
P/1 – E depois que o senhor fez todo esse trabalho na pedreira, como foi depois sua vida profissional?
R – Eu comecei a trabalhar nas fábricas. Trabalhei tanto na Cimento Tocantins como trabalhei na Cimento Ciplan, trabalhei também na Engesp, trabalhei na Planalto, então nunca parei de trabalhar.
P/1 – Mas fazendo o que, seu Aroldo?
R – Era mecânica, a minha área sempre foi mecânica.
P/1 – O senhor fez curso?
R – Sim, fiz curso de Mecânica Industrial, Mecânica Industrial. Só que atualmente eu não estou atuando nessa área, hoje, como eu tou na área de governo, eu trabalho na administração pública, na Secretaria de Obras de Brasília, desde o ano de 94.
P/1 – Como o senhor conseguiu entrar no governo?
R – Por concurso público. Fiz um concurso público no ano de 86, mais ou menos em 86, e me chamaram. Aliás, fiz esse concurso em 89, lembrar bem aqui, fiz o concurso em 89, fui chamado em 94, venceu um estágio, aí no segundo, que o concurso público tem duração de dois anos e pode renovar por mais dois, que foi o que aconteceu comigo, em quatro anos eu fui chamado.
P/1 – Que atividade o senhor desenvolve agora?
R – Eu sou motorista de gabinete hoje, a gente fala assim, como tá na minha ficha ali, é administração pública, mas na realidade eles não põe ninguém como motorista, mas eu sou motorista de governo, do gabinete, direto lá dentro.
P/1 – Mas da Secretaria de Obras?
R – Da Secretaria de Obras de Brasília.
P/1 – O senhor gosta dessa atividade?
R – Sim, sim, é muito bom, gosto mesmo. Eu faço o que eu gosto, é um trabalho tranquilo.
P/1 – O senhor chegou nessa profissão, quando o senhor fez o concurso, já entrou nela?
R – É, quando eu fiz o concurso, já fiz pra motorista da área do governo.
P/1 – E o trabalho como mecânico?
R – Deixei de lado, parei.
P/1 – O senhor gostava?
R – Gostava, mas é muito perigoso, a mecânica industrial é muito perigosa. Eu vi muitos amigos meus acidentar e eu tinha muito medo, a gente trabalhava em muitas áreas em altura demais.
P/1 – O que o senhor fazia como mecânico?
R – A área de mecânica industrial é o seguinte, uma fábrica dessa não pode parar, ela trabalha dia e noite. Por exemplo, qualquer máquina que estraga ali, uma pequena máquina, as grandes máquinas dependem da pequena, então, se estragar um pequeno exaustor, quebrou um rolamento, qualquer coisa, o mecânico industrial tem que ir lá urgente trocar aquilo ali. É uma série de coisas, trocar correias de ventilador da indústria, é muita coisa que se faz, mexe com a área de solda, de tudo isso aí, a mecânica industrial abrange muita coisa.
P/1 – O senhor, assim, o conserto, a manutenção que o senhor fez que o senhor achou, assim, um desafio maior, o senhor lembra ou sempre tinha muito desafio?
R – A mecânica industrial sempre tem desafio, desafio grande.
P/1 – Fala um seu, por exemplo.
R – Um meu, por exemplo, foi entrar dentro de um redutor de um moinho de cimento da Cimento Ciplan. Ele pega 12 tambores de óleo de 200 litros cada tambor, ele pega 12 tambores, esse redutor, e ele tem dois compartimentos, tem um compartimento de óleo embaixo e as engrenagens em cima. Então tem uma bomba que bombeia o óleo pra trabalhar o redutor desse moinho. Uma certa época nós fomos trocar umas engrenagens desse redutor e, para trocar a engrenagem, tinha que prender o óleo num dos compartimentos. E, quando nós prendemos esse óleo, ele tinha, são 12 tambores de 200 litros cada tambor, dá quantos litros? Dá mil e 200 litros de óleo nesse redutor, e aí tinha que fazer uns tocos de madeira pra prender o óleo. Nós fizemos a manutenção, foi uma semana só pra trocar essa engrenagem, porque ela era importada, ela não vinha do Brasil, me parece que vinha da Itália, ela não era do Brasil aqui, vinha da Itália, importada. E aí quando chegou, que fez todos esses negócios aí, que a gente terminou a troca da engrenagem, quando foi botar o moinho pra rodar, que botou o óleo, o óleo ficou no compartimento de cima, não passou pra o compartimento debaixo, eles falaram: “O óleo não apareceu aqui, o que aconteceu?”, aí falou: “Não é uns tocos de madeira que tá lá dentro do negócio?”, não foi tirado. Aí nós tínhamos o nosso chefe, o engenheiro da mecânica industrial, chamado Doutor Yuki, um japonês, falou assim: “Olha, e agora tem uma coisa, tem que entrar pra tirar os tocos” e aí quem foi tirar foi eu. Eu tive que entrar com óleo por aqui pra bater com os pés pra arrancar os tocos, pra os tocos subir no óleo e eu tirar pra fora. E já estavam ali várias pessoas com detergente, todo o tipo de coisa, pra me dar um banho, porque era óleo lubrificante, eu poderia ter um problema no corpo, eu, depois, eu entrei lá, tirei esses tocos, banhado de óleo o corpo todinho, fiquei só de roupa íntima pra fazer isso, porque as roupas eu tinha que tirar. Então foi pra mim uma coisa que muito me marcou na mecânica industrial.
P/1 – E deu certo?
R – Deu certo, o que eu fiz deu certo, a fábrica funcionou na previsão que era pra ser. Eu poderia ter um problema de saúde muito grande.
P/1 – E o óleo também poderia subir, não?
R – Não, não, ele já tava no compartimento, parado, tanto que, quando eu tirei os tocos, o óleo fez foi descer pro compartimento debaixo, era essa a coisa.
P/1 – O senhor não teve nenhuma sequela?
R – Não tive nenhuma sequela, graças a Deus. Eles pegaram os produtos para me higienizar o corpo mesmo assim. Então isso aí me fez eu ter medo da mecânica industrial.
P/1 – Aí o senhor foi para essa atividade agora.
R – Eu tinha muito, assim, uma vontade de ir pra outra área, sair da área dessas fábricas, porque nós trabalhávamos muito com horários de turno e isso aí maltrata muito a gente, trabalhar de turno, eu trabalhei muitos anos de turno, trabalhar a noite toda. A noite ficou foi pra dormir mesmo, não pra trabalhar, né?
P/2 – E agora nesse trabalho, você trabalha direto administrativo ou é escala?
R – Escala, a minha escala na secretaria hoje, Tereza, eu trabalho uma semana e folgo outro, só que eu tenho hora de entrar e não tenho hora de sair. Nós somos 18 motoristas que prestam serviço à secretaria, então nove trabalham uma semana e nove trabalha outra, só que os nove que tá trabalhando, eles têm hora de entrar no serviço e não tem hora de sair, pode até dobrar pro outro dia, é por isso que essa escala é assim, semana sim, semana não.
P/1 – Agora o senhor está perto de aposentar?
R – Sim, sim.
P/1 – Quais são os seus planos daqui pra frente?
R – Quando eu aposentar, Márcia, o meu projeto... Eu tenho um sítio e o meu projeto é ir pro sítio com a minha esposa, porque nós já estamos mesmo de meio dia pra tarde mesmo, né? Então eu não quero morrer trabalhando assim, trabalhar a vida toda, eu nunca enriquei e não vou enricar mais, então não adianta você pensar só em ter as coisas. Eu pretendo ficar mais no sítio, eu e a minha esposa estamos trabalhando nesta finalidade.
P/1 – Onde é o sítio?
R – É pra cá de Padre Bernardo um pouco, uma cidadezinha que tem, é uns 70 quilômetros daqui lá, mais ou menos uns 70 quilômetros.
P/1 – Você já vai pra lá sempre?
R – Sim, na minha semana de folga eu já vou direto pro sítio, eu e a minha esposa.
P/1 – Vão morar no sítio?
R – Vamos morar.
P/1 – E Bananal, então, vai sentir sua falta.
R – Bananal, aqui vai ser quando eu vier pra fazer alguma coisa. Eu venho pra cá, fico aqui e quando não estou fazendo nada, eu vou pro sítio, esse é o projeto.
P/2 – Mas lá é um sítio, uma fazenda distante?
R – Não, eu tenho fazenda perto.
P/2 – Tem outras fazendas, outras propriedades perto, ou vão ficar só no sítio de vocês?
R – É, no meu sítio não é só, eu tenho outras propriedades perto também, ficam perto.
P/1 – Tem vizinhos?
R – Eu tenho vizinhos perto, de um quilômetro, mais ou menos de distância, mas tenho.
P/1 – Lá tem luz elétrica?
R – Tem.
P/1 – Tem água encanada?
R – Água encanada, tudo, só que a minha água é bombeada, mas eu tenho esses recursos. Hoje, lá na roça, as fazendas hoje não são mais como antigamente, hoje as pessoas têm até internet nesses lugares, nessas fazendas. Tem luz elétrica, tem televisão, internet, tem todos os recursos de uma cidade, telefone, telefone residencial eles têm na roça hoje. Não é mais como antigamente, mas isso são projetos de governo, o governo federal hoje, ele dá esses recursos para as pessoas, justamente para as pessoas ficarem na roça, porque se todo mundo deixar a roça e entrar pra cidade, como é que faz? E outra coisa, computador não dá arroz e feijão pra ninguém, não, alguém tem que plantar lá fora.
P/1 – O senhor gosta mesmo é do campo?
R – Gosto do campo. Eu gosto da cidade também, mas o meu forte mesmo é o campo, eu gosto do campo.
P/2 – Lá você planta?
R – Planto, planto algumas coisas, só mesmo pro gasto, mas eu tenho muitas coisas plantadas.
P/1 – Além desse plano, que já está até acontecendo, o senhor tem algum sonho, Seu Haroldo?
R – Márcia, um dos sonhos que eu sempre gosto, que o meu sonho que eu sei que vai acontecer, eu sempre quero ajudar as pessoas na área social. Mesmo na região que eu tou lá, eu não sei se podemos dizer bem social, mas, assim, na área de evangelizar, eu gosto muito disso, eu acho isso muito bom. Tem muitas pessoas que não conhecem nada, sabe que existe Deus, mas não têm o conhecimento de Deus, assim, de verdade, do que que é Deus pra nós. Eu tenho um pouco de conhecimento, eu não tenho esse conhecimento total, mas eu tenho algumas coisas, que tem coisas que a gente tem que, o que é bom você tem que partir para os outros também, levar para os outros e eu tenho vontade, um sonho de evangelizar.
P/1 – Hoje já tem uma atividade que o senhor faz em relação a isso?
R – Sim.
P/1 – O senhor hoje é pastor?
R – Sou pastor.
P/1 – Conta, só para a gente conhecer essa atividade.
R – Márcia, eu sou um pastor itinerante, eu não sou um pastor, hoje, que dirige igreja, porque como eu ainda estou na atividade de trabalho de governo, então eu sou um pastor supervisor do campo da nossa igreja. Que ela tem campo tanto aqui no DF como no Estado de Goiás e na Bahia e para outras regiões, então eu sou um representante do nosso pastor presidente do campo hoje.
P/1 – O que o senhor faz como pastor do campo?
R – Eu sou supervisor. Supervisor, qual é a função de um supervisor de campo? Ele representa a parte do presidente nas regiões levando informações, convidado a representar o pastor presidente no caso dele não poder estar presente. Aí o supervisor, ele supervisiona a parte administrativa de cada liderado. Cada dirigente daquela localidade, ou seja, o pastor local daquela localidade, eu visito ele pra trazer dele alguma informação para a presidência, ou seja, pra a sede principal.
P/1 – Que igreja é?
R – Assembleia de Deus.
P/1 – A gente já está agora finalizando, o senhor já falou seus planos e seu sonho. Agora, o senhor quer deixar registrado alguma coisa que a gente não perguntou?
R – Márcia, são muitas coisas que temos a reivindicar e registrar, mas eu não vou entrar em detalhes, apenas quero dizer que achei isso aqui interessante, essa entrevista. Para mim foi, assim, uma coisa muito importante para a nossa localidade, para minha vida. Isso aqui para mim é o que eu quero deixar registrado, assim, para mim foi uma das coisas que me marcou na minha vida, hoje, ser entrevistado por você, pela Tereza, pelo Gabriel, por essa equipe que tá fazendo esse serviço muito grande e muito bom.
P/1 – Por que o senhor acha que é importante?
R – Eu acho que é importante porque vai ficar na história, eu sei que os meus netos um dia vão me ouvir, pela internet, por alguma coisa, eu falando um pouco da minha história, que eu nunca falei para nenhum deles o que eu estou falando com vocês aqui, eu quero deixar registrado isso para mim como uma coisa de muita importância na minha vida, só isso.
P/1 – Obrigada.
P/2 – Muito obrigada, seu Aroldo. Eu sei que tudo o que foi relatado pela sua pessoa vai ser muito importante para o projeto e para as pessoas que vão assistir um dia, tanto daqui da Fercal como de outros estados. Esse projeto, por isso que o senhor assina uma ficha, porque esses projetos também são divulgados em outras cidades, até como exemplo do que a Fercal fez para poder chegar no que está e melhorar. Então, o senhor pode ter certeza que essa conversa, essa entrevista sua vai servir de grande incentivo para outras pessoas.
R – Muito obrigado.
P/1 – Com certeza, muito bom, parabéns pela história.
FINAL DA ENTREVISTA
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