Projeto: Indígenas pela Terra e pela Vida
Entrevista de Lorena Marinho Araújo Nanayo
Entrevistado por Erik Gabriel Azevedo
Entrevista concedida via Zoom (São Gabriel das Cachoeira/Manaus (AM)), 17/03/2023
Realizada por Museu da Pessoa
Entrevista n.º: ARMIND_HV047
P/1 – Boa tarde, então podemos começar agora a entrevista da Professora Lorena Araújo Marinho. Eu gostaria de começar perguntando: o seu nome, o seu povo, a sua origem, e qual significado do seu nome e, a partir disso, a gente vai desenvolvendo, então gostaria que a senhora contasse agora um pouco da sua história.
R – Tudo bem, boa tarde Erik, então eu me chamo Lorena Marinho Araújo, sou do povo Tariano, meu nome indígena é Nanayo, que significa primeira filha, então eu nasci em Iauaretê, meu pai e minha mãe: meu pai Tariano, minha mãe Tukano. Então, cresci praticamente minha infância toda em Iauaretê, aos dezesseis anos, eu me mudo para São Gabriel e aí eu tenho toda trajetória de luta, de movimento, participando desde minha adolescência e juventude num movimento estudantil de jovens, então tem bastante coisa para contar…
Erik, assim, eu posso começar a falar um pouco da minha trajetória de vida a partir dos meus estudos. Então eu estudei em Iauaretê, a escola, na época, era Salesiana e quem tomava conta eram as freiras. Freiras de Maria Auxiliadora, então, praticamente toda a minha infância foi junto com elas, aprendendo bastante coisa e eu convivi com minha família mais por parte do meu pai, não por parte da minha mãe, porque meu avô, que se chamava Fausto Araújo, morreu muito novo, aos 34 anos. Ele era alfaiate dos padres Salesianos em Iauaretê, mas infelizmente ele partiu muito cedo, então eu não tive muito esse conhecimento por parte dos meus avós também por parte do meu pai. Mas eu convivi um pouco com a minha avó que era Iauareteriana, que também que era mãe da minha mãe, também muitas coisas ela me repassou… E eu sempre falo assim, quando...
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Entrevista de Lorena Marinho Araújo Nanayo
Entrevistado por Erik Gabriel Azevedo
Entrevista concedida via Zoom (São Gabriel das Cachoeira/Manaus (AM)), 17/03/2023
Realizada por Museu da Pessoa
Entrevista n.º: ARMIND_HV047
P/1 – Boa tarde, então podemos começar agora a entrevista da Professora Lorena Araújo Marinho. Eu gostaria de começar perguntando: o seu nome, o seu povo, a sua origem, e qual significado do seu nome e, a partir disso, a gente vai desenvolvendo, então gostaria que a senhora contasse agora um pouco da sua história.
R – Tudo bem, boa tarde Erik, então eu me chamo Lorena Marinho Araújo, sou do povo Tariano, meu nome indígena é Nanayo, que significa primeira filha, então eu nasci em Iauaretê, meu pai e minha mãe: meu pai Tariano, minha mãe Tukano. Então, cresci praticamente minha infância toda em Iauaretê, aos dezesseis anos, eu me mudo para São Gabriel e aí eu tenho toda trajetória de luta, de movimento, participando desde minha adolescência e juventude num movimento estudantil de jovens, então tem bastante coisa para contar…
Erik, assim, eu posso começar a falar um pouco da minha trajetória de vida a partir dos meus estudos. Então eu estudei em Iauaretê, a escola, na época, era Salesiana e quem tomava conta eram as freiras. Freiras de Maria Auxiliadora, então, praticamente toda a minha infância foi junto com elas, aprendendo bastante coisa e eu convivi com minha família mais por parte do meu pai, não por parte da minha mãe, porque meu avô, que se chamava Fausto Araújo, morreu muito novo, aos 34 anos. Ele era alfaiate dos padres Salesianos em Iauaretê, mas infelizmente ele partiu muito cedo, então eu não tive muito esse conhecimento por parte dos meus avós também por parte do meu pai. Mas eu convivi um pouco com a minha avó que era Iauareteriana, que também que era mãe da minha mãe, também muitas coisas ela me repassou… E eu sempre falo assim, quando eu começo a contar minha história, que quando eu estava em Iauaretê, eu não tinha essa preocupação de me identificar eu sou Tariano, eu sou indígena, porque pra nós não tinha essa preocupação eu não sabia se existia, branco, não indígena, indígena, negros. Para mim, nós éramos todos iguais.
Então, quando eu saio de Iauaretê aos 16 anos, eu vim para São Gabriel, para estudar, continuar meus estudos, e eu vi que São Gabriel era um mundo totalmente diferente, quando eu chego em São Gabriel eu me deparo com várias situações, principalmente com questões linguísticas, os parentes quando chegavam aqui não falavam Tukano e eu cumprimentavam em Tukano e eles não me respondiam em Tukano, eles me respondiam português, alguns falavam espanhol e até então eu não entendia o porquê. E aí eu fui trabalhar pra eu poder estudar, porque minha mãe sempre foi agricultora, até hoje, mesmo aposentada, ela não quer deixar de trabalhar na roça e meu pai também, sempre trabalhando por aí, então eu sou a mais velha dos… Hoje nós somos em quatro irmãos e eu sou a mais velha dos meus irmãos. Na verdade, minha mãe teve dez filhos e seis morreram, quatro sobreviveram. É uma história também, é uma história bem longa que tem a ver com a questão étnica, talvez em outro momento podemos falar em detalhes. Então, a partir deste momento, eu começo a perceber essa diferença, eu fico perguntando o porquê. Isso, em 1996, em 1997, aqui em São Gabriel, a grande discussão que estava em momento é da demarcação das Terras Indígenas e eu comecei a ter curiosidade. Então, eu comecei a participar um pouco, na FOIRN, era no tempo que eles estavam brigando muito pela demarcação da terra indígenas e eu me voluntario, vou ajudar na limpeza, na cozinha, tudo tinha que participar, eu fazia e eu trabalhava e estudava à noite. Nessa época, o Beto Ricardo do ISA [Instituto Socioambiental], ele me convida para estagiar, aí eu passo a [ser] estagiária no ISA, ao mesmo tempo, eu participo do movimento indígena nessa época, porque estava tendo essa função e ficava com muita curiosidade: “Mas por que que estão lutando? Por que estão falando tanto dos povos indígenas?” A partir daí que eu vou começar a estudar, termino meu Ensino Médio. Eu faço o processo seletivo contínuo, que é a primeira turma da UFAM, para ser da UFAM. Eu participo desse processo desde o meu primeiro ano, segundo, terceiro ano, e eu consigo fazer uma boa pontuação e aí eu vou ingressar na Universidade Federal do Amazonas e quando eu vou escolher o curso que eu ia fazer, fico entre Biologia e Enfermagem naquele momento. Só que aí veio todas as interrogações que eu estava tendo naquele momento sobre a luta da FOIRN, das lideranças indígenas e sobre povos indígenas, então, a partir dessas indagações, minha dúvidas, eu vou escolher curso de História para ver se eu consigo entender, estudar sobre povos indígenas dentro da universidade, então eu me mudo para Manaus, isso no início de 2001, por aí, e lá eu me deparo com uma outra realidade, outro mundo totalmente diferente, eu começo a ter contato com outros povos indígenas outras etnias Tacaré, Tikuna, Baniwa.
E eu começo a perceber, olho para Iauaretê e vejo que eu não conseguia enxergar essas esferas, [achava] que éramos todos iguais na comunidade, começo a fazer um pouco esse movimento em Manaus, participo, aí eu conheço, vou conhecer a COIAB, na época, tinha a Associação Iakiô, que trabalhava com produtos indígenas, eles estão nessa construção também, do fortalecimento da identidade cultural, é o período que também vão criar a Fundação Estadual dos Povos Indígenas, na época, a FERP. Então, acompanho um pouco esse processo de luta do movimento, do estado, dos povos indígenas ali do estado. Aí eu pego, vou concorrer, para fazer parte dos Movimentos de Estudantes Indígenas do Amazonas. Eu, Braulinia Bauniwa, Saldanha do Rio Negro e vamos chamar alguns líderes de Iauaretê, vamos montar nossa chapa e eu ganho como Presidente do Movimento Indígena do Amazonas nessa época. Então, quando nós, como indígenas, começamos a discutir as ações afirmativas, as cotas indígenas nas universidades e foi uma luta muito dura, porque, na época, a gente percebia que o ingresso nas universidades era muito difícil, a gente encontrava poucos indígenas nas universidades, em paralelo a isso, nós também vamos discutir sobre a permanência dos indígenas nas universidades, então é uma luta muito grande ali pelo estado. A gente começa a fortalecer, pedir apoio da Assembleia Legislativa para aprovar como lei mesmo e a gente, como movimento, foi trabalhar com parceria, praticamente com a COIAB que está nos representando e eu como representante do MEIAM eu começo a participar e começo a fazer as articulações, a nível da Amazônia Brasileira esses grandes encontros que vai acontecer e a gente participa muito de debates, em Brasília em vários estados e praticamente assim era dois mundo que eu vivia que eu estava começando a conhecer e eu, no segundo período, já engravido, foi assim, eu engravido da minha primeira filha e, mesmo assim, eu conseguia trabalhar, estudar e participar do movimento indígena. E dentro da universidade, era uma questão de sobrevivência, isso, pra mim, porque era muito puxado o curso de História, eu sempre digo, onde o departamento era praticamente bem puxado. Eu consegui terminar o curso e eu sempre agradeço por outro lado, que aprendi bastante coisa mas eu estava vivendo dias universidades totalmente diferente, eu entrei escolhi o curso de história pra fazer…pra entender sobre povos indígenas e na universidade eu não estava aprendendo nada, sobre isso mas que ao mesmo tempo eu estando no movimento indígenas foi a melhor universidade que eu tive, descobrir bastante coisa, acompanhei a construção, da política das ações afirmativas das lutas pelos direitos indígenas por meio, participando ativamente do movimento indígena a nível de estado a nível do Brasil ne então a gente acompanhou um pouco essa construção da PIB então, e a partir daí nós como estudantes nessa época começamos a mobilizar pra criar departamento de juventude dentro das organizações indígenas de lá de base e também ao mesmo tempo lutar pela criação de departamento das mulheres indígenas dentro das organizações de base porque nessa época havia grande resistência, então primeiro desafio era a gente ser jovem então muitas lideranças tradicionais não queriam ouvir as nossas falas, nossas opiniões, nossas ideias, sempre diziam que a gente não tínhamos… a gente não sabia o que a gente estava falando, e por outro lado por ser mulher a gente reconhece que era questão cultural e tudo mais, mas a gente lutava pra isso é que a gente sempre falava assim; que o movimento indígena ela precisa integrar os jovens indígenas para dar continuidade para as lutas, porque um dia a gente fica velho e acaba que tem que deixar nossos sucessores para lutar continuar a luta. Então dentro da COIAB. Começamos a discutir o departamento da juventude das mulheres e foi, as melhores começam a se articular dentro das suas regionais …e na época a “MARNI” já existia ali em Manaus porque tem toda a história a trajetória juntos com a criação da COIAB da MARNI FOIRN que é aqui eu participo também com elas que foi interessante pra mim, que eu ganhei bastante experiência e aprendizado estando no movimento mas, ao mesmo tempo, eu tinha que terminar meu estudos, que por mim eu desistia porque não me interessava porque eu entrei na universidade para aprender sobre os povos indígenas para conhecer sobre os povos indígenas aí eu falei eu entrei na universidade e eu quero sair eu não quero desistir, e nisso eu a minha filha, ela praticamente cresce na universidade, a partir de um ano, ela começa a frequentar a universidade junto comigo, tinha uma cadeirinha do meu lado, meus colegas que andavam pelos corredores, e ela andava comigo nos encontros, nas reuniões, só não viajava comigo no interior, eu sempre viajava mas assim que eu sempre…às vezes, eu ia pra Boa Vista, no encontro das mulheres, ela ia comigo e, assim, ela foi crescendo até seus cinco anos. Então, eu participo de um projeto BABAÇU, um Mura em Altazes apresentou o projeto pra participar de um Congresso Internacional no México e eu fui. Na verdade, eu fui como estagiária, eu estava sendo como estagiária no PDDI, Projeto Demonstrativo dos Povos Indígenas, na época e apresentei o projeto e foi um grupo de indígenas foram selecionados e eu fui uma delas para levar esses projetos de desenvolvimento sustentável dentro da comunidades pro congresso que ia acontecer no México, então eu levo o projeto pra gente apresentar e tudo mais e lá que eu fui entender que eu não sabia nada sobre a minha história, que eu não sabia…que eu não conhecia São Gabriel, que eu não conhecia praticamente quase nada então a partir desse congresso no México que eu olho de novo para o município, para São Gabriel da Cachoeira que eu preciso voltar, e conhecer as minhas raízes e entender o município mais indígena do Brasil. Então assim…fez muito bem eu ter esse contato com vários povos indígenas do Brasil de 81 países, presente naquele congresso científico, então eu volto com outro olhar eu volto novamente…pro…pra Manaus, continuo com a minha rotina de faculdade reuniões, encontros, estágios, porque eu tinha que sustentar minha filha, minha filha comigo… e mais ao mesmo tempo eu ajudava a articular a correr atrás das coisas pra ajudar os meus colegas que estavam também na universidade que eu digo que precisavam mais que eu, eu precisava eu tinha minha filha e tudo mais mas eu acho que eu não estava tão necessitava como outras pessoas, meus colegas aí dentro da UFAM a gente conseguiu articular vale alimentação vale transporte, para alguns alunos e a gente conseguia esses apoios junto com a FUNAI, na época a FUNAI ainda consegue apoiar dar algum apoio para alguns estudantes porque naquela época era eu acho que o governo era Fernando Henrique, então praticamente quase não tinha nada voltado para povos indígenas então era tudo na questão de sobrevivência, ser indígenas dentro da universidades principalmente da universidade pública naquela época era questão de sobrevivência, então assim eu sempre dizia assim eu vou conseguir eu não conseguia ver que eu era inferior que os outros, e quando alguém perguntava de mim se eu era indígena eu olhava e falava assim: eu não sou indígena aí eles olhavam pra mim é diziam mas por que? Porque eu sou Tariano eu sou do povo Tariano…talvez você deva ser índio, porque você não sabe da sua origem, da sua história, eu sei. Eu sei da nossa mitologias, eu sei como é que funciona a questão hierárquica, do meu povo e tudo mais e a gente ia falando muito nisso. Então, quando alguém perguntava: “Lorena, você se sentia discriminada?” Eu dizia que eu mesma não sentia porque eu tinha muita segurança de onde eu estava, quem eu era e que eu estava fazendo, porque eu entrei na época na UFAM, era que nem passar numa peneira fina, eu consegui ingressar mas falavam mas porque que você luta pelas cotas indígenas porque eu sei que lá nas comunidades eu sei que lá no meu município tem parentes que realmente precisam vão precisar, não pelo fato que eles não tenham condições , que eles sejam incapazes mas é pela educação que nós estamos vivendo lá precária que nós temos. Então não tem como concorrer igualmente. Então a gente começa a gente recebe vários apoios dos deputados na época principalmente pelas cotas dos deputados estaduais, federais, e nós trabalhando s na época…o movimento ficou tão forte que assim, estudantil, todo o movimento indígena a gente trabalhava, nossa mobilização era junto sempre com os movimentos negro Movimento negro e MST também estava muito nessas grandes mobilizações, então eu me lembro que, uma vez, nós viajamos de Cuiabá até Rondônia, retornando da reunião e o MST fecha a passagem na BR Mas como nós somos do movimento indígena, nossa luta tem, praticamente, o mesmo objetivo, deixaram a gente passar e andamos mais de quatro quilômetros carregando nossa mala assim, então vivemos várias aventuras pra gente, eu te falo… Hoje nós estamos conseguindo ver essa o resultado dessa luta, muitos indígenas hoje se formando como doutores, médicos, advogados, engenheiros e que, naquele época, não tinham essa perspectiva. E isso eu estou falando no início de 2000/2001 por aí.
P/1 - É… então. Eu gostaria de perguntar como foi a vida da senhora antes dos 16 anos a senhora disse que chegou na sua idade em São Gabriel já li na fase da adolescência eu gostaria de saber quem era a Lorena antes dos 16 como foi a vida na comunidade, algum. Assim que a senhora possa descrever, durante a sua infância, sua pré-adolescência.
R - Tá certo, então minha infância eu digo assim que foi bem eu não sei assim eu não posso dizer se foi sofrida ou não, mas assim uma vida que, que eu acompanhava muito minha mãe praticamente eu cuidei minha mãe, que minha mãe ela ficou doente por muito tempo eu tinha que cuidar dos meus irmãos…eu tinha que cuidar da minha mãe, eu tinha que ir na roça, porque minha mãe não conseguia andar, então eu tinha que pra escola a minha vida era … eu tinha que ir pra roça, cuidar dos meus irmãos ir pra escola, final de semana a gente torrava farinha com a minhas irmã mais nova mas a gente fazia as coisas e minha vozinha vinha nos ajudar então, foi uma fase assim que eu posso dizer e a infância de 10 até os 13 anos foi praticamente cuidar da minha mãe ter um pouco de sua vida de adulta mesmo de cuidar da família porque meu pai, meu pai trabalhava na COMARA, naquela época e ele viajava muito ele depois passou a trabalhar na CROI.A CROI, era uma empresa e construir os PFS porque a chegada do Exército então tudo mais pelo posto estava sendo construído meu pai viajava muito trabalhando nessas obras. Então eu ficava…nós crescemos mais com a minha mãe, e nesse intervalo eu digo assim, que a minha infância também fui eu acho que muito tranquila e antes 8 anos eu posso dizer que convivi um pouco com essa realidade mas tradicional mesmo; escola, roça, trabalhos comunitários que fazíamos porque na época eu tem muitas regras que a gente não pode estar no meio dos velhos, que a gente não pode estar participando dessas festas que eles faziam, que nós mulheres tínhamos que ter muito cuidado de passar até perto dos homens mais velhos dentro da festa, porque eles estão falando de benzimentos e rezas não que eles queiram fazer maldades, mas que pode afetar e a gente adoecer…e a gente cresce ouvindo isso, e a minha avó eu acho que Cachoeira da Onça praticamente aquele trecho que Cachoeira da Onça, é um porto da minha vó eu cresci tomando banho naquela cachoeira não desceu a corredeira mas eu tomava banho lá. E quando eu era pequena eu sempre perguntava eu achava muito interessante, até hoje eu não consegui descobrir o segredo eu sempre sentava na pedra, lá em cima porque lá… lá é uma parte muito alta lá perto da cachoeira eu ficava olhando pra cachoeira que os banzeiros no porto, que toda a vez a gente descia vinha aquele banzeiro, alto e forte e não deixava a gente tomar banho tranquila, que eu tinha muito medo aí eu sair ficar bem vindo lá de cima da pedra sentado olhando e o porto aquela parte ficava muito calma, não tinha banzeiro. Aí só pra ver eu descia pra molhar meus pés só pra ver se o banzeiro vinha, até hoje eu não descobri o segredo que quando não tinha ninguém era calmo, era só aqueles banzeirinho leve, mas bastava a gente chegar no porto que vinha aquele Banzeiro alto, então aí meu avô ele era grande benzedor, Graciliano Marinho, que na Vila Dom Bosco em Iauaretê ele é bem conhecido, ele era grande liderança que fazia aquela…tem um trecho da Cachoeira da Onça, que ele tinha os seus locais de pesca, quando ele fazia cacuri, ele pegava muitos peixe, e com esses peixes assim eu, digo mamãe que sempre fala; meu pai que fazia festa era; quinhapira, era quinhapira na hora do café, era quinhapira na hora da janta, ele chamava todos a minha vozinha , coitada ela trabalhava demais porque ela tinha que fazer muita farinha muito beiju pra poder oferecer comida pro povo então…e a gente fazia assim, “bora pra roça com vovó“ a roça da minha vó era pro lado colombiano, porque lá como é fronteira o pessoal que mora na vila Dom Bosco era maioria porque tinha roça do lado colombiano e a gente sempre falava: será que os colombianos não vão nos levar, nos sequestrar…mas enfim eu acho assim… depois que eu vou entender sobre a questão do sagrado desse locais…hoje assim, a Cachoeira da Onça mas que meu avô tinha os ponto certo assim, pra ele pra pescaria dele. Então, essa a minha infância eu convivi um pouco com isso então tanto por esse lado por parte da minha avó que a gente andava na roça e a minha vó sempre nos falando: não faz isso, não faz aquilo, não come coisa quente, não pode ir pra roça tem que tomar mingau quente se não a jararaca vai te morder vocês, e a gente vamos crescendo com isso. Na questão da menstruação não pode comer doce, fruta doce não… principalmente na primeira menstruação, aí desde então nós somos preparadas praticamente o nosso útero é preparado então ela orientava bastante assim como eu estou falando pra nós não tinha esse sentido mas ela podia questão de nos orientar e ela uma vez eu perguntei… eu não participava da festa tradicionais, das Caxiri, das festas, ficava mais…era muito obediente, eu era muito onisciente, então ficava com meus irmãos, eu ia tomar banho, brincar, a gente ia pegar fruta, então eu falava assim: aí todos vestidos com roupas assim…que era do tucum tabupuri, eles pintando. Eu perguntava: “Mas vó, pra que isso?” Eu perguntava como que vocês usavam, eu tinha muita curiosidade, aí eu perguntava: “Vó, vocês ficavam com essas roupas?” Ela falava: “nossas avós - porque era Tariano - não usavam roupas, não usavam roupas, não usavam brincos de pena, nós povo Tariano usamos brincos de folias”, ela falava… eu não sei como ela queria dizer.
Ela falava folia, muito brilhosas ou pedras de quartzos esse é da nossa cultura então todas as Tariano tinha cabelo comprido, que tinha que bater aqui pela bunda ela falava porque aqui na parte de cima a gente não usava roupa então a gente jogávamos nossos cabelos por cima do seio e aqui a gente usava uma sainha que era bem delicada. Ela falava … feita com miçanga e algodão muito leve. Então essas roupas que ela falava, era benzidas, todas benzidas, então era uma coisa que hoje a gente… eu também, você…e conseguia a gente nunca mais vai ver assim hoje mais velha eu não consegui, mas que era desse jeito. Então eu fiquei até hoje eu fico perguntando, assim tentando entender… então assim quando alguém fala a Lorena porque você não usa Cocar porque pra nós é sagrado, e ela dizia que isso era sagrado e hoje a gente usa os adereços porque eu digo assim; mas que das Tariano ela dizia assim, é isso que eu tô assim sempre dizendo que a gente não tem esses registros e nossas avós nossas ancestrais foram embora levando esses conhecimentos, então eu talvez se eu for até talvez tentar perguntar, eu não vou mais encontrar porque já se foram, então esses conhecimentos se foram com elas aí eu fazia muitas perguntas, mas muita porquê? Porque praticamente pra nós tem a simbologia porque a nossa origem é partir do da história do trovão , nós somos filhos do trovão como Iauaretê então essas pedras de quartzos talvez é por isso que eu gosto de pedras coloridas de pedrinha… E Não ela dizia isso, então essas folhinhas brilhosas chegam brilhavam, as mulheres tinham cabelão e os brincos chega brilhavam, chegam brilhavam ela falava assim é ficou isso na memória e ela falava, que muitas coisas foram perdidas e aí eu falava vó mas porque que a gente não fala mais a nossa língua e eu falava eu sou Tariano mas eu não sei falar a língua Tariano, eu falo Tukano, um pouco com minha mãe também falava tukano e tudo mais e eu falava assim mas será que é por causa dos padres que chegaram? E ela falava não, porque ela rezava em latim…ela rezava em latim porque eles passaram por esse processo de catequese, ela cantava em latim, rezava em latim. E eu dizia: “Mas vó, por que a senhora sabe falar Tariano, mas os padres falavam - porque eu ouvia os professores falando, que com a chegada desses padres - que acabou nossa língua? Ela falava: “não… “ ela dizia não, nossos tataravôs já não falavam mais a língua Tariano, ela falava assim, e todo esse processo de quando acabou e paramos de falar, deixamos de falar também pra nós povos Tarianos é assim uma incógnita ainda, e ela …ela, hoje que percebo que ela me deva muitas orientações, ela tentava falar muitas coisas, e quando ela fala assim, e eu hoje posso dizer que talvez era um pouco quando na nossa infância nessa fase quando eu não lembro muito coisa mas algo ficou e como os Tarianos, a maioria das mulheres Tarianas, das mulheres do Tarianos, elas não tinham filhos homens e aí ela contava que era por causa que os Tarianos eram muitos guerrentos briguentos, eles eram estrategistas de guerra, eles tinham briga pra tudo, eles passavam o tempo criando estratégias de guerra, de domínio de nação e diante disso… porque tudo ela contava história pra mim, pra poder chegar em alguma coisa ela contava história, e tu pode perceber fulano de tal não teve filho ruim, se tem numa família só tem um homem aí depois ainda ela foi falando: “Seu avô só teve filhas mulheres, outro avô só teve filhas mulheres, teu tio só teve filhas mulheres e nenhum homem. Aí eu não sei se vocês terão, pelo menos, homem, não sei vocês terão filhas mulheres, só tenho mulheres até agora, todos os homens morreram…então quem sabe depois vocês vão ter…” Antes dela morrer, meu irmão nasceu, então ela sempre contava história. Essa briga interna étnica mesmo, eu falava mais como eram festas assim, minha avó organizava muita festa, meu avô era aquele que chamava, fazia tudo, convidava para fazer caxiri de peixe, dava caxiri de frutas…
Só que quem comandava era a minha avó. Minha avó que preparava o Caxiri minha vó minha vó que preparava a farinha minha vó que conduzia minha vó quer recepcionava as mulheres, minha que dizia esse grupo vai chegar nessa casa, fazer isso, aquilo, e ela direcionava tudo, mas ela não aparecia. Ela só era pequenininha mas ela que comandava então meu avô eu digo assim, o sucesso então da festa quem comandava tudo era, era minha avó então, hoje eu faço um pouco essa reflexão, mas época eu não tinha essa visão então ela dizia; Caxiri tem que ser forte, beiju tem que ser desse tipo nós vamos fazer mujeca nesse dia, quinhapira nesse dia, agora tem que ‘muquiar’ peixe pra oferecer nesse dia e ela…a minha mãe ela foi preparada realmente pra ser agricultura assim, trabalhar na roça e minha vó ela sabia, os remédios pra pôr na maniva, pra dar muitas raízes pra dar muita mandioca, tinha benzimentos e ela controlava também toda essa parte da roça das piteiras ela sabia tudo. Então quando…até hoje quando minha mãe tem roça ela hoje tem uma colega que anda na roça com ela, ela.… as duas dividem uma roça e aí a roça da mamãe dá muita raiz muita mandioca e da outra não dá, e aí ela fala mas como que tu faz , a mamãe fala que a mão dela foi preparada pra isso, foi benzida pra isso pra ela plantar mandioca e dar bem as raízes e eu fui também preparada eu como acompanhei muito a minha mãe, aí eles benzem as nossas mãos fazem toda a defumação e pra fazer como o meu avô recepcionava os convidados, ele sempre queria ter assim, ele não queria ouvisse falando que o Caxiri dele estava fraco, e as mãos são preparadas também pra fazer Caxiri bem forte pra fermentar pra ficar bem fermentado, então tudo isso assim, eu digo assim nessa minha adolescência de antes dos 16 eu aprendi com minha vó com minha mãe, então assim mandioca amarela tem que ser separado que é pra farinha mandioca branca tem ser separado pra beiju, pra fazer beiju pra tirar goma tudo isso era orientado pera nós então após tirar tem que fazer a limpeza, da roça tem que limpar… tem que fazer o replantio, e eu fui aprendendo com isso, então era a gente eu posso dizer que eu tive experiência muito boa, na minha infância que eu pude conviver com minha avó por mais que foi um tempo muito curto ela me repassou assim muita coisa e a minha mãe ela ficou isso então ela aí nessa épocas meu avô assim eu lembro pouco do meu avô só porque assim que ele benzia, fazia essas festas e meu pai como ele, ele ficou órfão aos 14 anos meu pão praticamente não conviveu com o pai dele e meu avô ele era mais assim de cantar ele tocava ele cantava, fazia festa, fazia shows, ela era mais…ele tinha esse lado artístico, ele fazia muita festa assim como era jovem na época ele fazia muito isso é meu pai com relação a isso, de benzimento ele já não tinha muito e meu avô teve que preparar ele antes de morrer porque como ele estava morrendo, ele só tinha um filho no caso meu tio , e ele não pegou benzimento e ele não estava morando em Iauaretê e antes dele morrer ele estava até servindo como militar e aí meu pai…meu avô ficou muito preocupado porque ia ficar netos porquê quem que iria cuidar dos netos, então ele em 4 noites madrugadas ele preparou meu pai, benzeu porque pra ser benzedor precisa ter todo o preparo o ritual, e aí então meu avô teve que fazer às pressas já deitado na rede muito doente ele, ele preparou fez cigarro pro meu pai, em 4 madrugadas ele passou o benzimento então a partir daí meu pai começa a benzer. Então foi assim que meu pai pegou um pouco esse lado de benzimento também é aí a minha vó ficou ainda e eu tive um pouco esse, essa vivência convivência com minha vó, e ela mostrando sempre quando minha mãe estava doente ela que acompanhava a gente na roça, mas a gente não levava a velhinha pra roça , que a roça era muito distante, a gente trazia mandioca pra casa era muito longe, eu acho que era mais de duas horas de caminhada, descida chegava meia hora assim andando contra a correnteza e a gente eu e minha irmãs a gente andava remando pra roça e voltar e a gente não sabia fazer beiju que a gente era menina ainda, chamava a minha avó vem nos socorrer, vem nos socorrer a gente não sabe fazer beiju, e ela orientava as vezes ela fazia, e a gente falava vó a gente não sabe fazer Caxiri, a senhora vem nos ajudar porque assim, meu pai participava da comunidade tinha que ter quinhapira ,tinha que ter beiju tinha que ter Caxiri, e a gente nunca quis deixar meu pai na mão, por mais que minha mãe tivesse doente, meu pai tinha que que ter tudo isso e depois a gente deixava minhas tias distribuir Caxiri, porque a gente não participava das festas mas a gente sempre tinha nossa farinha nosso beiju os nossos quinhapira nossas coisa e a gente foi aprendendo assim, eu e minha irmã mais nova a segunda a gente teve essa infância assim, roça e ajudar nas juro que que ia fazer nas comunidades gostava de tapimá assim, foi muito legal, mas final de semana eternizada de fazer as coisas a gente não podia nada não podia brincar, curtir uma praia porque a gente morava mais pra cá, o nosso…o nosso, a nossa antiga comunidade de onde nós crescemos a nossa casa e onde a antiga agora atual Pelotão, PF lá que era nossa casa então Porto é uma praia lá, era nesse Porto que eu cresci praticamente minha infância foi nessa praia onde é o quartel agora é eu vi a chegada dos militares então na época meu pai era líder da comunidade capitão que chamava na época. Ele que fez toda as renegociações, acertos pra aquelas pessoas que moravam naquela comunidade pra se deslocar eles foram remanejados pra outro lugar eu vivencie tudo isso, então a nossa casa foi alugada porque assim era liderança e meu avô também sempre foi assim grande mobilizador, tudo mais a casa era grande e era de festa que eles faziam eles alugaram a casa a PF aliviou pra construir o PF hoje pelotão atual e nós e fizeram a troca meu pai perguntou, perguntaram pra onde meu queria ir se era São Gabriel mas nós optou qualquer lugar do Brasil que se o pai quisesse ir eles dariam um terreno uma casa pra ele e aí meu pai falou que não que ele queria ficar e aí eles só trocaram nossa antiga casa, com o antigo pelotão deles e a gente passou a morar pra lá então essa parte da chegada do militares eu praticamente eu convivi com essa chegada eu sempre digo hoje que eu não tenho boas lembranças eu tinha muita raiva de militares, muita raiva mesmo assim… porque por causa que antigo pelotão ficava depois da nossa casa, e eles estavam construindo outro praticamente um conjunto assim atrás da nossa que era nossa, e todo final de semana até dia de semana principalmente final de semana a gente saia acordava, porque nosso Porto ficava na frente da nossa casa, pra descer, a gente via meninas voltando bêbadas, calcinhas ensanguentadas nos postes, e era uma situação terrível muito triste. E eu vi muitas mulheres indígenas, na época, sendo engravidadas e muitas crianças nascendo sem pai, sem conhecer, porque eles engravidavam e iam embora, então eu tenho essa lembrança comigo e era a gente, meu pai, falava: “Eles estavam lá se embriagando fazendo isso é tudo mais…então eu tenho um pouco essa lembrança…eu cresci com isso aí depois que se instalou pelotão que mudaram as famílias se mudaram claro que eram diferentes, mas isso tinha ficado comigo muito assim comigo.
P/2 - Qual época, Lorena, eles chegaram? Você lembra o ano que foi ou qual época?
R - O que eu lembro é 1988, o ano assim que mais ou menos eu lembro que eu tinha oito anos, então é 1988/1989 acho que foi nesse período a então eu tenho essa lembrança claro que foi só naquele período mas tipo ficou marcado o que era muito abuso eu digo assim abuso sexual que as mulheres sofriam e essa gravidez , eu sempre dizia que eu tinha muita raiva um espaço muito tempo fiquei assim com raiva se eu era menina ainda aí eu fui crescendo mas assim depois comemorava assim atrás do quartel todo dia eu tinha que passar no meio do PF passava pra ir pra escola voltar por outro lado as irmãs foram muito importantes as freiras por que elas tinham todo o cuidado com nós com todas as meninas na época que tinha igreja que faziam parte da infância missionária, eu gostava muito de frequentar a missão jogando bola na época eu jogava muita bola, então assim elas orientavam faziam todas as orientações possíveis, um pouco assim nesse sentido de proteger as meninas vocês não pode isso vocês não podem se envolver com militares só tão vindo brincar vão engravidar vão deixar de vocês elas faziam toda a orientação, como a gente fazia parte da missão missionária se elas vissem a gente falando com militares elas ralhavam a gente, chamava atenção então aqui lado de proteção fizeram um pouco esse trabalho nessa época e foi passando tempo assim eu comecei como eu já estava, grandinha uns 12 anos por aí então a gente fazia amizade com os filhos de militares com as mulheres mesmos a minha mãe trabalhava muito eu digo assim ela tinha muito ela plantava muito batata banana abacate todo tipo de fruta, eles iam trocar com ela então eles levavam leite, carne, como era escasso de peixe e meu pai não morava muito tempo com nós ele passava mais tempo fora trabalhando do que com nós, e aí às vezes as pessoas não acredita quando eu cheguei pra cá eu não gostava muito de peixe porque nossa alimentação era carne que mamãe sempre estava trocando com os militares e frango ou era enlatado, essa era nossa alimentação, como a gente estava só nós a minha mãe trabalhando trocando e aí a gente só comia quando meu pai chegava de viagem dos trabalhos por que peixe era escasso demais, mas não é porque eu sou cheia de frescura, não é que eu não gosto porque lá a gente não tinha o peixe já é escasso meu pai já não morava com nós, passava mais tempo fora do que com nós aí eu comia carne comia frango, comia enlatado e outra… que a gente não comia tucupi e aí me convidavam para comprar tucupi aqui em São Gabriel que eu não gostava de comer porque não é nossa cultura comer quinhapira com tucupi lá. E aí uma vez me chamaram “Bora comer quinhapira lá “ Aí eu fui muito alegre eram tucupi doce quase que eu cuspi, quase que eu cuspi que pra nós que não é acostumado é diferente é estranho, mas agora eu já como já aprendi a comer, já até gosto agora, então assim era um pouco essa experiência que eu vou tendo na minha infância tem bastante coisa e a gente teve um pouco essa orientação também dos nossos pais “olha nessa comunidade tem meus avós tradicionais então tem que respeitar, eles são do primeiro grupo do segundo grupo são nossos primos” tinha muito essa orientação por parte do meu pai também vila Santa Maria era mais tradicionalistas Tariano, então nossos avós nossos tios estão tudo aí nossos parentes ele sempre dizia meu umbigo tá nessa comunidade ele sempre falava isso, meu pai…
Aí já minha mãe era mais tradicional… pra onde tem essa parte, aí eles mostravam na nossa comunidade tem nossos parentes tradicionais Seu São Miguel, tem seus avós eles sempre orientaram e a gente tinha que respeitar ele a gente tinha que ser tudo com muito respeito e eles e eles ensinavam toda a vez que levava, “olha essa daqui é sua avó“ parentes é isso Vocês tem que respeitar e a última vez que eu fui inclusive estava tendo oficina do Museu da Pessoa, lá não é Museu da Pessoa, as vezes, eu misturo tudo. E aí lá estava falando assim primeira vez que o seu Adriano me falou essa daqui é nossa neta é uma das primeiras do grupo Tariano, ela é liderança ela pode falar porque ela é liderança e hoje ela está como liderança tradicional reconhecida pelo povo Tariano e eu como Tariano estou dizendo isso. E ela também uma que saiu foi estudar hoje ela tem título de graduada de estudante então ela tem os dois lados, e aí o meu pai sempre falou nunca diga que você é liderança daqui alguém vai ter que dizer alguém vai ter que respeitar então assim, grandes lideranças não sai gritando por aí dizendo que são liderança o grupo maior dos nossos parentes eles vão respeitar e vão dizer o que nós somos de verdade então se ele te tratarem com respeito é porque eles vão estar reconhecendo e ele sempre dizia isso sempre foi essas orientações tanto por parte da minha vó por parte do meu pai então isso eu carrego muito comigo então por onde eu vou e pedir sempre permissão aí isso hoje e eles falaram pra mim agora Como nós escrevemos a nossa história, desses grupos clânicos dos grupos Tariano, falta o teu grupo escrever, é a versão de vocês o que foi produzido esses livros que foram escritos a parte da nossa história da nossa visão, do nosso grupo clânico, agora falta o teu. Então, eles são muito assim nisso, eles orientam, falam, então tudo isso que eu ouvi, ouvia com a minha avó falando, hoje que eu consigo entender muita coisa, muita coisa eu consegui entender hoje.
Eu sempre fico assim com várias com várias eu digo as vezes eu fico triste…porque tantos os conhecimentos das mulheres se perdeu principalmente das mulheres foi escrito só histórias dos homens lideranças tradicionais os conhecimentos nas mitologias a maioria que aparece são homens que a partir dessa história que minha avó passava pra mim eu percebo que quem tinha o poder era as mulheres que coordena tudo eram as mulheres. E aí uma senhora depois nesse tempo uma colega falou do Conselho Tutelar, falou assim; nós estamos tendo muitas mulheres, muitas mulheres estão sofrendo agressões, e aí tinha uma senhora uma velhinha pegou e falou, pra ela essas mulheres estão apanhando hoje porque elas querem porque elas não querem ouvir os conselhos do das mais velhas elas não querem seguir os conselhos das mais velhas. Quem comandava os homens nas nossas épocas eram as mulheres, se homem quisesse levantar a voz a gente já preparava o nosso remédio e já mandava ele calar a boca quietinha a gente quer comandavam os homens. Essas mulheres estão apanhando porque elas querem não querem respeitar a nossa cultura então porque a gente que comandava a gente que sabe a benze pra acalmar o homem a gente usava os nossos remédios para acalmar os homens o homem tinha que respeitar então tudo isso eu digo assim que são conhecimentos tradicionais das mulheres que vão se perdendo então tudo isso eu acho que hoje eu sempre reporto pra lá, quando minha vó na roça elas ficavam contando: minha neta esse aqui é para dar muita raiz minha neta esse aqui é pra atrair para as pessoas ficarem felizes com a sua presença, eu nem sei como era essa Plantinha eu era muito criança aí esse aqui é para as pessoas se não sei o que que ela falava muita coisa que eu não lembro dessas plantas no mato assim olha ela morreu eu acho com 70 e poucos anos eu não lembro assim a idade certa mas ela morreu tem um fio de cabelo branco então ela dizia isso é pra gente usar pra não ter cabelos brancos isso aqui é pra gente sempre manter calma o teu avô é chato mas eu não me estresso porque estressar…claro que ela não usava “estressar” ela usava pra usava outras palavras é pra não ficar velha é pra não ser injuriar porque tudo isso nós temos que ter aí eu falo mãe se eu pudesse voltar no tempo anotar e deixar tudo marcadinho o que a vó falava e a gente não saberia dava pra minha mãe fala assim pra minha mãe então assim são tantas histórias que a gente eu digo assim que por outro lado o conhecimentos tradicionais poder que as mulheres tinham foi indo aí uma vez eu perguntei nesse dia eu perguntei pro meu pai, quando eu era criança: “minha vovó falava isso, isso e isso e aí eu vejo que tudo os homens aparecem, parece que todos os homens tem controle, só que a vovó dizia isso, isso e aquilo”. Aí ele falou: “mas era isso”. Porque que as mulheres por isso eu digo que as grandes lideranças por mais que não seja-se étnicas agora mas todas elas tem que ter postura tem que ter calma, tem que ter domínio, assim controle de tudo saber conduzir…saber conduzir tem que ser feliz, tem que ser sorridente, por mais que estejam com raiva mas você tem que segurar a tua raiva lá por dentro e conduzir orientar, era assim que as mulheres fazíamos, eu digo assim, nas grandes festas: Elas que preparavam todo grupo todo roteiro elas que falavam vocês mulheres vão sentar aqui na primeira fileira, vocês nessa fileira, vocês vão oferecer Caxiri nessa fileira, vocês vão usar pintura, os grafismos vão usar nessa festa, vão usar isso aqui e vai ter com a caxiri forte! Era disputa de Pajelança, eu digo ah bora fazer cigarro pra enfraquecer o caixiri pra ninguém ficar bêbado. Aí outros já protegiam pra não pegar o efeito, então era essa disputa também, então as mulheres assim elas tinha um grupo bem separados, porque os Tarianos eles tinham os seus empregados, eu digo assim os grupos mais hierarquicamente mais baixo eles serviam eles faziam roça faziam Caxiri cuidavam das crianças carregavam água tudo…tudo então elas coordenavam e ordenavam tudo, isso então eu fico lembrando e fico imaginando hoje como é que era e não tem nenhum livro escrito sobre isso que todo conhecimento, que minha vó conviveu era também ali com a suas avós, minha vó ficou órfã muito cedo mas ela conviveu com as tias ela também contava um pouco e ela dizia que, também perdeu muita coisa que a mãe dela não pôde passar muita coisa pra ela mas que por exemplo quando era parto nenhum homem podia ver, o homem não podia acompanhar, e o correto era as mulheres ter esse benzimento na hora do parto na hora da criança nascer (risada ) então é um pouco era sobre isso que ela falava que eles ficavam fora pra ter nem eles saiam pra fora da comunidade pruma casinha bem isolada pra eles terem um filho lá e só quem acompanhava era as mulheres então por isso que as mulheres tinham que saber então ela dizia que isso era sagrado pra elas o homem não podia estar interferindo nesse momento sagrado delas. Então por isso que as mulheres tinham que saber cimento saber os remédios tinha que saber de tudo aí eu fico falando hoje a minha vó contava assim pra mim e eu não tenho como referendar porque eu não tenho nada escrito claro que hoje esse outro lado de resgate de história tentar reconstruir não é a mesma coisa mas que tem que ficar alguma coisa escrita, alguma coisa documentada, e nem todos vão ter essa oportunidade, eu digo assim; de fazer todo esse resgate tanto dos conhecimentos tradicionais dos locais de onde elas faziam roça, onde trabalhavam…Os remédios que elas usavam como é que era todo processo de trabalhar na roça, de fazer Caxiri …que tipo de Caxiri tem que fazer , então tudo isso tudo isso eu digo ficou pra trás hoje eu sempre digo assim eu sabia eu sabia fazer farinha eu sabia fazer Caxiri.
P/2 - Mas quando a gente tiver tempo Lorena … Eu vou deixar o Erik perguntar agora, mas ainda é tempo de registrar o que pelo menos você lembra. Não perder isso também (risos)
R - Minha tese de mestrado vai ser sobre isso.
P/2 - Ô que beleza!
P/1 - Lorena, eu queria saber um pouco mais só voltando um pouquinho atrás você disse que teve a sua mãe teve 10 filhos desses 10 filhos, 6 morreram, eu gostaria um pouco de saber como é que foi esse processo que toda sua família passou nesse tempo e de que forma vocês lidaram com essas perdas.
R - Então como meu pai ficou órfão muito cedo ele teve que criar o seus irmãos três ou quatro irmãos ,quatro irmãos que ficaram na responsabilidade dele, ele tinha 14 anos, 13 pra 14 anos na época, ele começou a criar os irmãos dele e a mãe praticamente abandonou depois que ela ficou viúva, ela foi embora pra… Ipanoré, para outro local sagrado, onde já é o surgimento da humanidade Mais perto do mar aí ela foi casar com outro homem e ela abandonou filho. Então, meu pai ficou na responsabilidade de criar os irmãos e avó também que já era velhinha que quando ele inteirou 18 anos eles arranjaram um casamento pro meu pai junto com minha mãe. Minha mãe deve ter na época eu acho que ela tinha 16 anos. E ela criou seus cunhados com filhos, depois de um tempo ela teve o primeiro filho, e toda vez ela perdia com seis meses de gravidez outros chegaram a nascer e bastavam eles mamar o leite materno e quando depois de um dia a criança já geralmente chega e eles morriam aí depois que eles foram descobrir que que é isso foi feito por um senhor eu digo assim e eram assim todos os quatro os meus irmãos eram homens então todos eles morreram e aí quando a minha vó ela relembra aí que ela contou pra mim que os Tariano sempre iam por isso se seus filhos nascer eles vão morrer, ou se não as mulheres já são estragadas desde o nascimento quando elas ficam com Tariano então assim depois o meu avô descobre que quem foi, mas meu avô não quis fazer nada então por que meu pai e Tariano então pra eles, eles não tinha que ter filho homem e que minha mãe não era pra ter casado com ele no caso o meu pai. era pra ter casado com filho dele, pra dar filho pra ele, por mais que mamãe não namorou, não conhecendo essa pessoa eles tinham muito isso de querer casamento pra eles então tem toda história então quando meu avô morreu ele falou que ele sabia quem fez isso mas que ele nunca quis contar para o meu pai na época minha mãe preferiu deixar e aí a minha avó com o passar do tempo aí nasceu eu sou a quinta filha, praticamente sobrevivente E aí me levaram para Mutum então assim pra passear, porque a minha avós eu tinha uma irmã, minha irmã tinha uma irmã que morava em Mutum, foi mas assim o meu avô benzeu procuraram outro pajé que pudessem tirar esse estrago da minha mãe, tudo mais e eu consegui sobreviver com muito custo assim eu passei assim minha mãe disse que…eu passei assim… Aí eu consegui sobreviver
P/2 - Desculpa, na verdade é uma crença assim é uma história que essa herança ancestral que você contou por conta que eles lutavam muito na guerra é por isso? A história vem por aí?
R - É porque nos Tariano, a maioria dos Tariano porque como a nossa linhagem é patriarcal… a linhagem é patriarcal, os Tariano, eles muitas vezes eram entre eles mesmo não era nem com outra gente era com eles mesmo as disputas eram entre eles mesmos aí nesse caso da minha mãe que foi muito específico por causa assim que do meu pai que meu pai não queria que eles tivessem filhos homens primeiro e depois também, esse homem que estragou a minha mãe ele queria que ela fosse esposa do filho dele, então tinha tudo isso na verdade tem tudo isso ainda, então em alguns casos tem essa questão do assopro, de estrago…tem muito ainda isso muito presente ainda então a gente foi assim praticamente, eu digo assim vítima dessa eu não posso dizer maldade eu não sei como definir isso, aí então eu consegui sobreviver Veio minha irmã minha outra irmã aí depois de três, quatro homens e quatro mulheres veio meu irmão isso que está vivo aí depois nasceu a 10ª filha dela da mamãe ela nasceu e o mesmo homem que está estragou-se que a gente ela sobreviveu nós a quatro irmãs sobrevivemos aí ele voltou a ver a minha mãe, “ela está deixando está tendo mais filhos de novo” então ele fez novamente e a minha irmãzinha ela não resistiu agora eu vivenciei é muito…é muito… não tem explicação a minha irmã começou a mamar leite da geralmente demora 24h00 a minha mãe amamentou, a minha irmã 7h00 da noite meia-noite a minha irmã começou a chorar eu vi o parto da minha mãe ajudei no parque tudo mais, aí ela começou a chorar chorou a madrugada toda 6h00 da manhã às 7h00 nós levantamos levamos ela pro hospital umbigo dela estava quase sangrando de tanto ela chorar de tanto que ela fazer força e aí ela toda roxa 5h00, 4h00 meu pai foi atrás de si mesmo homem que benzeu meus outros irmãos de lá o velho disse assim como diz pra ele se era um outra versão acho que ela não vai escapar e aí ambulância do quartel fui lá buscar levou minha mãe levou a nem nós fomos atrás e quando foi 9h00 da manhã minha irmãzinha morreu no meus braços, então assim foi praticamente tem eu posso dizer que algo muito inexplicável, é só questão da cultura mesmo então isso a gente acredita nisso e temos que respeitar isso porque praticamente existe um lado bom de benzimento, e existe o outro lado que faz maldade para as pessoas, então nos grupos étnicos tinha muita pessoa diz puta mesmo dentro dos Tariano a minha avó falava muito que os homens Tariano não eram pra ter filhos homens, justamente por causa dessa…da linhagem patriarcal então é um pouco isso Erik a história que eu fiz um pouco esse recorte.
P/1 - Aí passando um pouco disso queria saber um pouco da vida da senhora, um pouco da vida acadêmica, e a sua vida mais pessoal …se a senhora tem filhos, casada?
R - Tá então aí eu fico praticamente morei 67 anos lá em Manaus consegui com muita luta conseguir terminar minha graduação nessas idas e vindas do trabalho eu posso dizer que consegui sobreviver pra mim fazer colação de grau demorou porque tive que pedir colação de grau especial porque eu perdi o ENADE eu estava viajando, na época era obrigatório fazer e ENADE se eu não fizesse o ENADE, não podia fazer colação de grau pra ficar como eu já tinha pedido prazo eu tinha que esperar ficar na fila de espera e ENADE era às vezes eles mesmo convocavam um ano sem um ano não e eu fiquei esperando e voltei para São Gabriel então como eu falei no início e quando eu fui pro México eu sentir essa necessidade de retornar e conhecer São Gabriel da cachoeira que a minha o que eu conhecia era Iauaretê São Gabriel em Manaus de direto pra Manaus então por conta disso meus pais também estava com claro que não estava com velhinhos mas eu precisava estar perto deles então foi mais uma decisão minha que eu estava eu tive a minha primeira ela estava com cinco anos e que eu estava com os meus 28 anos 27 26 27 tentei engravidar não consegue mais engravidar tinha aborto espontâneo aí eu tive que mandar benzer aí depois disseram que foi estrago mas porque eu tive a minha gravidez a minha primeira gravidez normal tranquilo não sente nada e não joga na segunda eu não consegui engravidar foi uma luta pra mim engravidar eu tive que voltar pra São Gabriel pra mandar benzer pra mim poder engravidar aí eu estava perdendo duas vezes já e depois não vim praticamente pra caí e conseguir engravidar com muita dificuldade mas consegui engravidar e eu voltei pra Manaus ainda porque eu tinha que terminar por causa do meu trabalho mesmo e já no final da gravidez eu tive que voltar porque como minha gravidez foi de risco então meu pai tinha que me acompanha por aqui benzer e tudo mais então eu voltei pra São Gabriel tive meu filho pra cá pra São Gabriel nós mudamos, nós se mudamos meu filho nasceu na verdade não conseguiu nascer por que primeiro meu parto foi normal Segundo não conseguiu mais nasce normal como eu disse então ele tive cesariana aí ele nasceu e acompanhei um pouco crescimento dele criei até um ano dele que com ele cuidando mesmo virei dona de casa não queria saber de nada aí fiquei só cuidando do meu filho aí depois disso em 2008 eu vou aí tem a eleição municipal aí quando prefeito Pedro Garcia do povo Tariano do PT ganha a eleição ele é prefeito e nessa e mesmo com essa barrigona assim pelo meio a gente estava articulando São Gabriel, discutindo criação do departamento da juventude na FUIRN discutindo a criação da secretaria Municipal da Juventude eu com barrigão com oito meses ainda pra lá e pra cá falando pro jovem vamos fazer isso vamos fazer aquilo e a gente nessa luta nessa mobilização e aqui a gente conseguimos criar a Secretaria Municipal de juventude nós pressionamos o Prefeito os vereadores, e foi criada a secretaria municipal de Juventude isso ainda em 2007 e na forma também estava sendo criada a secretaria de juventude eu ia pra lá com os jovens eu me sentia jovem ainda ia pra lá e pra cá e foi indo depois que eu tive nem que eu parei fiquei mais parada aí quando eu retorno novamente eu o meu filho já está com um ano quase um ano ai mudou de gestão e o prefeito disse que ele vai deixar nas mãos da Juventude escolher o Secretário Municipal de venture aí então foi pra escolha foi pra votação e digo assim pra fazer peneira eu fui concorrer deixei meu nome à disposição pra secretaria municipal de juventude eu sei que no total teve 10 candidatos depois ficaram cinco candidatos a gente foi pro debate foi pra entrevista, foi pra currículo e, no final, eu acabei conseguindo ficar na secretaria, fui nomeada Secretaria Municipal da Juventude de 2009 até 2012. Eu fico na Secretaria Municipal de Juventude e foi assim algo que praticamente trabalhar assim na Secretaria Municipal de Juventude foi muito desafiante, por conta que, não tem não tem recurso na pasta e o ano é um ano que a nível nacional está sendo discutido estatuto da juventude então nós participar dessa discussões fizemos grandes eventos levamos jovens para Manaus Brasília conseguimos assento no conselho Estadual de Juventude em Manaus então foi feito grandes mobilizações nesses encontros e tudo mais e eu tive então a partir daí eu tive a oportunidade de conhecer São Gabriel de fato então eu conhecia as cinco regiões quase toda , e “ Sano “ eu conheço até médio eu fui até pro rio Airai eu não subia cachoeira do alto Sano vou conhecer Xié mas assim eu tive a oportunidade de conhecer a realidade de perto e eu já vou conhecendo as etnias culturas diferentes as línguas as tradições as comidas típicas de cada região então todos os cuidados que eles têm foi nesse período que eu estou que eu estava na Secretaria Municipal de juventude que eu vou conhecer de fato município São Gabriel da Cachoeira o que pra mim estava faltando eu conhecer eu uma das etnias que eu posso dizer que ainda mantém a cultura viva que vive mesma cultura é um povo e Yanomamis eu fiquei muito eu não sei como é que eu posso dizer eu fiquei encantada com esse povo nessas viagens que eu fiz muito rápido passava pra fazer os eventos e nessa semana eu estava sempre no interior fazendo os eventos acompanhando os eventos esportivos encontros e tudo mais mas foi o único povo que me chamou atenção foi os Yanomamis então eu vou eu saio pra mim concorrer a eleição não pra mim ser candidata vereadora por que como eu tinha sempre um compromisso pra dar continuidade nos trabalhos e a gente apoiou a reeleição do prefeito e como ele perdeu aí eu volto de novo pra minha vida mas acadêmica e falei eu estudei pra mim ser professora agora como eu terminei o meu curso, vou seguir a carreira de professora aí eu faço PSS do estado que é o processo seletivo dos estados passei aí eu fui embora pra Maturacá pra trabalhar, com Yanomamis fiquei trabalhando um ano , com o Jean não mano porque eu queria conhecer assim de perto eu fiquei muito eu não sei eu queria conhecer a então passei o ano trabalhando com ele outro ano eu voltei pra São Gabriel fiz concurso na verdade eu fiz concurso passei no concurso eu tive que assumir e voltei pra cá de novo pra São Gabriel e depois assim também eu tive que voltar minha filha já estava entrando na fase de adolescência com seus 14 anos então eu tive que voltar pra acompanhar mais, o meu pequeno estava comigo cinco anos eu acho que estava com cinco por aí ele voltou ele morou comigo ele aprendeu a falar Yanomami muito rápido ele falava conversava e yanomami comigo, eu não entendia nada. Eu não conseguia aprender só “naca” naca e chipa coisa que eu não esqueço, mas ele falava fluentemente com eles. Criança aprende muito rápido ele falava conversava brincava e fazia festa com eles lá então eu volto pra cá novamente que eu fiz o concurso eu fui convocada, eu fui assumir dentro quando eu assumo eu entro na escola parece que o movimento fiquem nós assim tipo a questão de participar de movimentos e tudo mais e quando eu entro eles me indica pra fazer parte do movimento da coordenação do conselho dos professores indígenas aqui do Rio Negro então eu entro no copiar me e Comércios a participar mais do movimento da categoria dos professores então nós começamos a lutar por escola pública de qualidade, a falta de escola, a defasagem no salário, falta de infraestrutura eu entro de novo nessa luta parece assim que a gente nunca consegue se desligar do movimento . Eu entro pra trabalhar mas eu fico mais aqui já não viajo tanto trabalho mais na escola participava eu fiz vários movimentos junto com os colegas fizemos greves a gente deu muita dor de cabeça pro governo, então assim que passar esse tempo na verdade assim o que a gente lutava era pra trazer dentro da categoria a gente briga muito pela formação continuada dos professores porque muitos fizeram PAFORF fizeram por aqui claro que eles tem sonhos de continuar fazer o seu mestrado e eu como os professores diziam Lorena faz mestrado e eu dizia não vou fazer eu não quero mais morar em Manaus, quero morar em São Gabriel, eu vou fazer se for pra São Gabriel então a gente carrega essa bandeira de luta pra trazer o mestrado pra São Gabriel e levou um bom tempo em 2001 a gente consegue apresentar outra carta de intenção para doutora Irailda da UFAM e ela abraçar a causa e a gente consegue trazer o mestrado pra São Gabriel fazer essa parceria com a UFAM então isso vai consolidando e eu acho eu acredito que dentro da categoria de educação é muito desafiante porque eu e uma categoria que precisa estar brigando é uma categoria muito desvalorizada eu digo assim a maioria ainda são do PSS. Então eu sei o que é estar como PSS. Dentro do processo seletivo, eu sei que, pelo menos, nós que já somos efetivos, concursados, a gente tem um uma garantia, uma segurança e eles não. Cada vez mais, a educação vai piorando e a gente vem acompanhando, recentemente, eu fui para FOIRN, no departamento da educação, agora eu estou de fora do departamento, mas o que eu pude ajudar, ajudei e claro que a gente sempre vai estar ajudando e agora também assim na verdade eu queria desistir de tudo tive uma surpresa tão grande que a gente vem planejando , planejando projetando, lutando eu digo assim que pra mim foi tão desafiantes que eu digo pra eu ter meu filho foi muito difícil e perder ele foi muito mais difícil aí eu digo que não quero mais fazer nada pra que que eu dizia que eu vivia pelo meus filhos eu não queria mais fazer nada então mas parece assim que Deus ele traz muitas provações pra ver se realmente a gente vai reexistir e era uma coisa aqui que eu posso dizer que se a professora já foi uma conquista na verdade nem estava no meus planos só fui pra faculdade fazer história pra porque eu queria entender sobre os povos indígenas não aprendi nada eu sempre falo não tem nada aí dentro depois pra ser mamãe liderança professora foi muito mais desafiante ainda Talvez os meus dois filhos foram o meu motor a minha gasolina eu sempre digo assim o meu amor tudo que me conduzir só que ao mesmo tempo também não é fácil porque a gente não consegue acompanhar o crescimento dos nossos filhos nossa vida é muito corrida viagens eu sempre falava pra ele que é uma luta coletiva tudo mais mas enfim eu acho que era um desafio que pra mim foi um grande desafio grande aprendizado e hoje eu estou tentando entender que essas provações que Deus eu digo assim que o nosso ser superior que sempre nos bota aprender bastante coisa e hoje eu procuro respostas eu digo assim eu procurei respostas, o meu filho vai fazer quatro meses que ele faleceu agora domingo e a prática de toda essa trajetória de vida e tentar entender eu sei que ele veio tão rápido, qual foi a mensagem que ele trouxe e porquê que ele teve que ir. Foi tão difícil de ele vir, foi tão rápido pra ele ir embora de novo, quando falaram pra mim Lorena tentar descobrir o que que ele trouxe o que que ele era pra você aí que eu fui lembrar que o meu filho ele tinha um de mediunidade muito grande, eu não lembrava dessa parte quando ele tinha oito anos meu filho ele via falava com as pessoas que já partiram e foi muito difícil assim ele lidar com isso eu procurar ajuda pra ele que ele era muito criança não conseguia entender isso, aí um homem falou, pra mim ele nasceu assim não tem como fechar mais ele só disse assim alguém da família tem um pouco essa linhagem, só que eu não lembrava como essa correria toda e depois que aconteceu tudo isso alguém digo os colegas de Manaus, alguém falaram assim que o teu filho foi mas ele deixou um recado pra ti depois uma falou; eu sonhei com teu filho o teu filho veio trazer esse recado uma coisa assim surreal isso aí depois uma falou; assim ó o teu filho tinha que ir porque ele voltou para evoluir ele veio ele trouxe uma linhagem muito forte, uma pessoa que não me conhece uma pessoa que não conhece a minha família veio falar isso você tinha uma avô muito forte, muito poderoso e teu filho nasceu com esse peso só que ele tinha que evoluir então assim a gente que fica aqui vai tentando entender mas que tudo tem o seu propósito então dentro da questão educacional a gente vai eu digo assim que eu vou continuar lutando minha filha ficou comigo aí veio uma outra menina pra tentar animar nossa vida uma menininha de nove meses que estava batendo gritando aqui na porta querendo aparecer aqui no vídeo e a gente assim vai seguindo a nossa luta e eu fico assim eu digo tão feliz que todos os sonhos que a gente batalhou os anos atrás a gente conseguiu trazer um resultado da questão de interiorizar as universidades. E a gente vai avançando nessas discussões conversando com várias universidades principalmente da Unicamp ver de qual forma a gente pode estar trazendo isso não é pra São Gabriel, principalmente pra onde o povo é tão humilde que precisa desse apoio e aqui o índice de suicídio é muito grande depois que meu filho partiu sempre estou sim em cemitério pra limpar, tem a casinha dele referência dele, tem a casinha dele eu sempre vou limpar quase todo dia o que que aconteceu? “é, se enforcou”; “O que aconteceu? “suicídio” o que aconteceu…jovem assassinado é cada final de semana é muito triste então acho que por outro lado a gente continuar lutando pelas políticas públicas voltadas para esses jovens pra ajudar pra ter um olhar especial para a nossa juventude que tanto precisa aqui está praticamente abandonado que o estado brasileiro precisa dar essa atenção dos jovens que não é de hoje que a gente vem enfrentando isso eu sempre digo assim eu sempre como estou como professora eu sou professor eu sempre converso com os meus alunos de mostrar um pouco esse desafio não é porque nós somos indígenas que somos incapazes, não é porque nós somos indígenas que vamos entrar para o alcoolismo e a prostituição, eu sempre digo que é possível vencer que é possível sonhar, que é pro trazer lutar pelos nossos direitos os direitos coletivos os direitos indígenas, e que a gente sempre vai continuar lutando e que a gente precisa continuar a sua luta eu estou fazendo a minha parte e vocês tem que fazer a parte de vocês eu sempre falo quando a gente estar nessa academia nós aprendemos muita coisa dos nossos povos da nossa história do povo dos povos indígenas, e eu sempre falo pra esses pesquisadores pro instituto de pesquisa que todo esse conhecimento que é produzido pelos cientistas pesquisadores precisa ser transformado em material didático e pedagógico pra que as crianças possam ter acesso a esse trabalho acesso a ter esses conhecimentos que muitas vezes não chega na mesa tipo assim no livro na casa das crianças que realmente necessitam. É a questão do fortalecimento da identidade cultural dos nossos jovens precisa muito e é um pouco nessa linha e a gente continua lutando a gente assumir entender e valorizar a importância da nossa identidade nós vamos ser indígenas resistentes confiantes, em tudo em todo espaço onde a gente estiver porque se eu não tivesse passado por esse preparo da minha vó me falado meu pai me preparado, de benzer eu não teria resistido na universidade eu teria desistido eu teria entrado em depressão essas últimas situação que nós vivenciamos nos , é um segundo aluno nosso que volta da universidade num caixão, então isso é muito preocupante é uma luta que a gente precisa continuar fortalecendo pra esse bem estar dos nossos jovens para que eles possam sonhar, chegar aonde eles quiserem, chegar, porque é possível. Eu quero só assim finalizando um pouco a minha fala dizer, que talvez eu esteja… eu estou conseguindo realizar meu sonho porque eu sempre disse , eu vou fazer mestrado se vier pra São Gabriel e a gente conseguiu trazer segunda dia 20 vai ter aula inaugural o reitor … tá chegando o pró reitores e vamos fazer essa aula inaugural vamos transmitir via internet via Meet, no YouTube, e é a primeira turma de 34 alunos 4 yanomamis praticamente 98 de porcentagem eles falam que são indígena, só 2 que não indígena nessa nossa turma aqui em São Gabriel e vamos continuar na luta trazendo mestrado doutorado, e mais graduações para nosso município eu acho que é um pouco isso a nossa missão aqui eu digo enquanto a gente estiver vivo a gente vai tá lutando.
P/2 - Mestrado Lorena, que vai abrir agora nessa aula inaugural? Ou graduação? Graduação que vai abrir ou mestrado?
R - Mestrado...Mestrado
P/2 - Que máximo!
R - É … agora eu vou estudar, vou votar de novo a ter dor de cabeça… risos
P/2 - Erik…
P/1 - Oi! Então, eu acho que pra finalizar a entrevista eu gostaria que a senhora deixasse uma mensagem, o que a senhora espera até agora… é só pra finalizar um pouquinho.
R - Tá. Então, esse trabalho primeiro eu quero parabenizar pelo trabalho que está sendo feito é algo que talvez já era pra ter feito a muito tempo e eu digo assim que chegou num momento certo e que possa tá registrado mutas histórias de pessoas anônimas que nunca vão poder falando que nunca vão poder escrever a suas histórias, mas que vocês estão fazendo um pouco esse papel de trabalhar com pessoas tão simples, tão humilde, mas que tem muita coisa pra contar, muita riqueza guardada com eles e que muitas vezes está quase … está morrendo junto com eles então trabalhar um pouco essa questão de documentários fazer um pouco esse resgate de histórias é sempre importante é acredito que sempre cada vez mais, tentar enxergar algo que pra muita gente não deve ser importante porque o mundo de hoje ele só enxerga só pessoas que são estrelas a pessoa importante porque sou entrevistadas e o trabalho de vocês é ao contrário procura pessoas que não aparece, pessoas que estão aí quietinhas no seu canto, com muita sabedoria e acho trabalhar um pouco essa questão o resgate da ancestralidade é muito importante eu sempre digo assim, quando eu vou nesses encontros nesses grandes encontros eu não vou conseguir ter holofotes pra cima de mim, porque eu nunca vou fortalecer a ideia da estereotipagem que foi feita aos povos indígenas, minhas ancestrais não causaram foco enorme então eu nunca vou fazer parte desse grupo que usar cocar enorme pra dizer que é indígena eu posso usar pequenos adereços nós usamos flores, nós usamos nossas pinturas, claro nos eventos importantes mas que eu vou respeitar o conhecimento, ancestralidade do meu povo e tentar entender na verdade, temos muitas coisas, assim. Claro que a gente não vai chegar hoje registrar tudo que nossos ancestrais tinham e como eles resistiram todo esse tempo. E eu só quero parabenizar eu acho talvez… agradecer ao Erik que é a pessoa que me enxergou a pessoa que trouxe essa oportunidade talvez de deixar um pouco esse, esse recado que eu pudesse contar um pouco essa história de vida. Claro que muitas coisas não dá pra contar em questão de uma hora porque são muitas histórias, muitas lutas e a gente estamos aí eu digo assim eu acredito que o museu possa fazer essa parceria com esses alunos com essa turma de mestrado porque são acadêmicos indígenas que vai estar com vários projetos, muito bons por isso que era 26 vagas tô eram que abrir mais vagas porque não conseguiram eliminar os projetos dos colegas e sempre eu acho motivar, motivar cada vez cada vez fazer crescer pra gente poder, sempre estar deixando o legado os conhecimentos deixar escrito gravado os conhecimento dos nossos antepassados que cada vez está indo embora meu pai sempre fala assim eu sei benzer mas o meu benzimento vai morrer comigo porque eu não consigo passar pra ninguém eu não vou conseguir passar pra ninguém…então esse tipo de registro que vocês estão fazendo é muito importante é muito importante para que outras gerações possam ver possam lembrar, como é que foi então é isso que eu quero dizer e agradecer a cada um de vocês por essa oportunidade poder deixar um pouco eu contar um pouco a minha história, que é difícil eu estou aqui falando mas tipo coisas que eu não gosto é tipo alguém está me filmando mas assim essa tecnologia de hoje avançou bastante e eu ainda sou ruim de ficar na câmera falando mas foi bom uma experiência boa assim que que posso estar registrado que um dia que alguém possa ver que não é fácil que não é fácil ser mulher indígena não é fácil no sentido de que querer ser liderança de querer ter estudo então mais que é possível fácil não é mas é possível então eu acho que pra outras mulheres poder sonhar e talvez o seu nossa missão onde sempre interiorizar as nossas Universidade trazer essa oportunidade nesse sentido de viver bem e o bem viver do pó dos povos indígenas na suas regiões e no seus territórios juntos próximos a suas ancestralidade cada vez valorizar e cuidar da nossa mãe terra dos nossos lugares sagrados porque é isso que nos fortalece e talvez eu me sinto fortalecida por que eu fui benzida pelo meu avô ainda e foi preparada para ser mãe não é fácil eu acho que em quatro meses erguer a cabeça continuar lutando depois de perder um filho seu único filho eu digo assim que pra mim foi tão difícil muito desafiadores está sendo mas eu estou firme para continuar na luta não me formei mais pelos meus parentes um pouco isso que eu posso deixar de recado.
P/2 - Erik, você quer falar mais alguma coisa?
P/1 - Eu acho que só mais uma pergunta que eu deixei passar pra professora Lorena eu gostaria de saber assim a senhora falou que perdeu seu filho a pouco tempo você acredita que essa perda tem a ver com o caso da hereditariedade da história do seu próprio povo, meio que ter, assim, uma maldição que acontece com a sua família?
R - É, como eu falei pra ti, são perguntas que muitas vezes a gente não consegue achar respostas, mas é alguma coisa que eu posso dizer que é difícil pra algumas pessoas entenderem mas que muitas pessoas vieram me falar que de Manaus muitas pessoas estarão assim Lorena tentar descobrir pra que que ele veio tentar descobrir como ele era como ele falava e tudo mais e você vai achar resposta e aí depois assim várias pessoas até ele mesmo depois de ter partido ele deu muitos sinais, muitos sinais que alguns falaram eu sonhei que no dia que ele faleceu, um homem alto muito feliz que estava recebendo ele, que ia preparar ele, que ele precisava evoluir porque ele vai voltar um dia, então esse homem alto era, a mulher descreveu e essa mulher que disse que ela sonhou, ela tem sensibilidade, tem esse dom também de ver tudo mais, me falou: “Eu queria contar isso mas eu esperei o momento certo, o teu filho, ele veio com uma missão, como não estava evoluindo, ele retornou” e essa pessoa que recebeu ela foi fazendo a descrição a primeira coisa que veio foi meu avô meu avô tinha toda essa característica que ela falou então assim eles estão recebendo tudo mais então tem esse outro lado mas ancestral mesmo que que meu avô estava com ele e depois outras pessoas ele deu muitos sinais então acho que vai lá acho que a Erik mesmo me indicou uma vez vai lá pro centro espírita pra entender esse outro lado que a gente procura a gente procurar caminhos a gente procurar respostas a gente procurar ajuda pra gente continuar vivendo e eu fui assim e por incrível que pareça é assim eu posso dizer se ele voltou que ele vá cumprir com a sua missão nós somos passageiros tanto nesse mundo espiritual eu digo assim do lado religioso que a gente crescemos nesse mundo católico mas desse mundo ancestral também é a gente acredita nessa possibilidade e aceitar que ele foi justamente pra cumprir essa outra missão então se ele veio pra curar as pessoas então ele não evoluiu ele teria que evoluir então um pouco isso que a gente acredita e ele sempre tá mandando mensagens e pessoas que não conhecia eles dizia Lorena eu vi teu filho, ele tá mandando esse sinal, ele falou que tá correndo risco assim, assim e depois de dois dias acontece tudo que ela falou…aí eu fico é questão muito a gente tem que respeitar um pouco esse lado pra nós tradicional ancestral mesmo e também esse outro mundo então eu tenho um pouco eu posso dizer que hoje estou vivendo esses dois mundos a nossa ancestralidade e esse mundo mais espiritual que a gente precisa entender e é um pouco isso Erik eu posso dizer que bastante aprendizagem eu posso dizer que é um desafio pra tentar entender tudo isso .A gente não tá preparado de deixar nosso filho partir antes de nós de deixar nossos filhos e foi muito desafiante é isso está me ajudando também nesse lado muito eu digo assim com conhecimento de benzedores e olhar também esse outro lado de também entender também o que que ele era não era todo mundo que dizia: mãe eu tô falando com fulano de tal aconteceu isso, e ele sempre dizia o que vai acontecer isso é a gente nunca na verdade eu nunca liguei e sempre ele tinha esse lado mediunidade muito forte , e os sinais que eu vou tipo recebendo hoje recado, mais é isso…e a mulher falou, Lorena eu acho incrível porque no sonho ele foi claramente falar isso pra minha mãe assim.Fala isso pra ela assim, assim e assim e como eu posso falar? Eu acho que talvez tenha sido o momento de eu valorizar o nosso lado tradicional, que eu fui neta de um avô benzedor fui nós temos um pouco essa ancestralidade também é talvez e um grande aprendizado pra eu, então, entender, eu acho um desafio, sempre falo um desafio de levantar todo dia e dizer a vida segue e a gente precisa lutar não…é dizer que a gente veio pra alguma missão. Talvez seja pra ajudar nossos parentes nosso modo de pensar com nossas fase talvez tenha sido isso que eu vim talvez meus ancestrais me deixaram pra esse desafio então como eu falei até pra engravidar eu tive que acreditar no benzimento pra mim ter ele é agora pra mim superar a perda eu estou tendo que acreditar e confiar nos nossos conhecedores dos conhecimentos tradicionais. É isso (risos).
[Fim da Entrevista]
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