IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Raymundo Zury da Fonseca. Nasci em Manaus no dia quatro de agosto de 1926.
INGRESSO NA PETROBRAS
[Ingressei na Petrobras] no dia nove de julho de 1954, pela Companhia de Petróleo da Amazônia, Copam. A Petrobras absorveu essa empresa, de tal maneira que eu continuei na Petrobras, como já estava na Copam. Fiquei na Petrobras até 1981, me aposentei em 16 de fevereiro de 1981. Eu era gerente, na condição de chefe da Divisão Administrativa dos Serviços Auxiliares do Rio de Janeiro. Significa o seguinte, além dessa nomenclatura, eu chefiava cinco setores e era o prefeito do prédio da Petrobras, ou seja, fazia todo serviço, compartilhava com todas as necessidades do prédio da Petrobras, através dos meus setores da Divisão Administrativa.
DIREITO DOS TRABALHADORES
Como chefe da Divisão do Serviço Auxiliar do Rio de Janeiro, eu já me interessava pelos empregados mais antigos que trabalhavam nesta comunidade e que há oito, dez, 12, 15 anos não tinham uma promoção. Significa que eles estavam sempre em um determinado patamar e nunca subiam. O que aconteceu? Eu falei com o meu superintendente, que era o Almirante Vasconcelos sobre esse fato. Disse que averiguando a ficha dos funcionários daquele serviço, verifiquei que mais de 200 pessoas nunca tinham tido, digamos, uma subida de nível. Vamos dizer que o nível fosse de um a dez, muitos continuavam no nível quatro, de quando entraram na Petrobras. Disse ao Almirante Vasconcelos que era preciso fazer um estudo para fazer a recomposição da situação dessas pessoas, no sentido de que elas fossem beneficiadas não só pelo serviço que já faziam, mas fossem beneficiadas por um patamar superior, o que significava mais dinheiro para elas. Eu achava humilhante passar dez, 12 anos em uma função só. É provável que eu não tenha dito essa palavra ao Almirante, mas eu disse: “Preciso fazer algo no sentido de que este pessoal tenha algum proveito”. Ele me autorizou, eu...
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Meu nome é Raymundo Zury da Fonseca. Nasci em Manaus no dia quatro de agosto de 1926.
INGRESSO NA PETROBRAS
[Ingressei na Petrobras] no dia nove de julho de 1954, pela Companhia de Petróleo da Amazônia, Copam. A Petrobras absorveu essa empresa, de tal maneira que eu continuei na Petrobras, como já estava na Copam. Fiquei na Petrobras até 1981, me aposentei em 16 de fevereiro de 1981. Eu era gerente, na condição de chefe da Divisão Administrativa dos Serviços Auxiliares do Rio de Janeiro. Significa o seguinte, além dessa nomenclatura, eu chefiava cinco setores e era o prefeito do prédio da Petrobras, ou seja, fazia todo serviço, compartilhava com todas as necessidades do prédio da Petrobras, através dos meus setores da Divisão Administrativa.
DIREITO DOS TRABALHADORES
Como chefe da Divisão do Serviço Auxiliar do Rio de Janeiro, eu já me interessava pelos empregados mais antigos que trabalhavam nesta comunidade e que há oito, dez, 12, 15 anos não tinham uma promoção. Significa que eles estavam sempre em um determinado patamar e nunca subiam. O que aconteceu? Eu falei com o meu superintendente, que era o Almirante Vasconcelos sobre esse fato. Disse que averiguando a ficha dos funcionários daquele serviço, verifiquei que mais de 200 pessoas nunca tinham tido, digamos, uma subida de nível. Vamos dizer que o nível fosse de um a dez, muitos continuavam no nível quatro, de quando entraram na Petrobras. Disse ao Almirante Vasconcelos que era preciso fazer um estudo para fazer a recomposição da situação dessas pessoas, no sentido de que elas fossem beneficiadas não só pelo serviço que já faziam, mas fossem beneficiadas por um patamar superior, o que significava mais dinheiro para elas. Eu achava humilhante passar dez, 12 anos em uma função só. É provável que eu não tenha dito essa palavra ao Almirante, mas eu disse: “Preciso fazer algo no sentido de que este pessoal tenha algum proveito”. Ele me autorizou, eu constituí um grupo de trabalho em que eu era o presidente e a Heloísa Queiroga de Sá, o Carlos Alberto e o chefe do setor administrativo, o Sandino de Melo Freie, eram membros.
Esse grupo de trabalho fez, durante uns quatro ou cinco meses, um estudo de avaliação dos serviços que cada um daqueles fazia; ficha por ficha desde quando ele entrou no serviço até aquela data em que nós tínhamos instituído o grupo de trabalho. No final das contas, cada um deles, de acordo com o mérito a eles adjudicado, ganhou promoção de três, às vezes foi até de cinco níveis adiante, porque eram chefes de uma subseção, ou seja, trabalhavam na subseção como chefe, mas continuavam no nível quatro, desde o dia que entraram na Petrobras. Como ele ganhou mais cinco níveis, passou para o nível nove. E todos foram agraciados. Há outra coisa que eu gostaria de compartilhar, [gostaria de] que tivesse algum proveito na Petrobras, esse foi um pouco tumultuado, mais trabalhoso: tinha esta seção, este subsetor, que era administrado exatamente pelo Sandino de Melo Freire, era o setor administrativo da minha divisão. Ele administrava mais de 900 e poucos homens que não trabalhavam em nosso serviço, mas de acordo com o que foi instituído no início da Petrobras. Todo pessoal de portaria, todo boy, era alocado no nosso serviço. E o que nós tínhamos com isso? Só trabalho. Todo dia tinha mais de dez ou 15 pessoas que iam lá pedir férias, pedir abono de ponto, pedir qualquer coisa. O fato é que o setor vivia entulhado de pessoas que a gente, às vezes, nem conhecia. Vou dizer como foi isso. Enquanto aqueles que nós promovemos estavam dentro do nosso âmbito de trabalho, quer dizer, nós podíamos mexer com eles a qualquer hora, esse outro grupo de pessoas, de trabalhadores, estavam constituídos desde a criação da Petrobras e eram “imexíveis”. Essa palavra “imexível” eu constituí naquela época. [Suponhamos]: quatro de vocês trabalhavam num setor e lá vocês ficavam a vida inteira, tivesse ou não tivesse trabalho pra fazer ali. A única coisa que ele fazia era descer para o quinto andar, no setor administrativo, pra fazer isso: abono de faltas, INPS [Instituto Nacional da Previdência Social]... O que fosse pertinente às coisas do trabalho de uma pessoa eram feitas lá conosco, só que nós não tínhamos conhecimento de que essas pessoas existiam e onde trabalhavam, tem mais essa. Aí foi outro trabalho. Peguei um monte de papel que estava engavetado pelo meu gerente anterior; ele tinha começado desejoso de fazer esse trabalho, mas encontrou barreiras tremendas para desmembrar esses 900 e poucas pessoas, desmembrar cada um para o seu departamento ou serviço. Isso significa que nós íamos mexer com 900 e poucas pessoas para saírem do âmbito Serarj [Serviço Auxiliares do Rio de Janeiro] pra entrar no âmbito do trabalho deles. Mas isso estava escrito na constituição da Petrobras de 1954 – em 1953, ela foi criada, mas só funcionou a partir do dia dez de maio de 1954. Eu fui com o chefe do Seorg [Serviço de Organização e Métodos], doutor Othon Sérvulo de Vasconcelos, Deus o tenha Falei com ele o que eu desejava, ele disse: “Zury isso é impossível. Isso é impossível porque é parte da constituição Petrobras”. Eu disse: “Mas doutor Othon...”. Então foi colocando uma aqui, outra ali. Ele disse: “Está bom. Eu vou colocar à tua disposição um homem do teu nível, um gerente. O meu gerente vai trabalhar junto contigo. Você vai dizer as mesmas coisas que disse para mim e vamos ver como fica”. Eu fui com essa pessoa, era o Renato. Ele disse: “Zury realmente é difícil. O que o doutor Othon falou com você é verdadeiro. Isso é ‘imexível’”. A palavra é minha, ele não disse isso. Eu disse: “Não pretendo continuar com esse montante de gente que só dá trabalho pra nós. Não temos nenhum tipo de benefício”. Ele disse: “Quem sabe você falando com o Coronel Darcy Siqueira, que é o chefe de pessoal de toda a Petrobras no Rio de Janeiro, quem sabe ele te ouça e possa fazer alguma coisa”. Eu disse: “É pra já. Vamos lá embaixo?”. Nós estávamos no 18º andar, fomos para o quarto. Chegamos lá falamos com Darcy, que era coronel do exército; naquela época da ditadura todo mundo era coronel, marechal essas coisas. Eu falei com o Darcy, e ele: “Meu Deus”, coçou a cabeça: “Não pode, não pode” “Darcy pode. A gente só não pode ressuscitar como Jesus. A única pessoa até agora que eu saiba que ressuscitou no terceiro dia foi Jesus Cristo, mas todas as outras coisas aqui na Terra nós podemos ultrapassar dependendo do nosso trabalho”. Ele disse: “Está bom. Vou colocar a tua disposição mais um elemento”. Ele uma pessoa importante dentro do trabalho do Darcy. Enquanto o Darcy era chefe da divisão de pessoal, ele era chefe de setor de pessoal, o seu nome é Francisco Assis de Oliveira, coincidentemente, um amazonense como eu. Eu levei todo aquele monte de material e começamos a trabalhar. Você pode imaginar o que é pegar cinco, seis, sete, dez pastas onde continham exatamente o material daquele pessoal todo, para fazer averiguação onde estavam, como trabalhavam, de que maneira, essa coisas todas. E cada um de nós ficou com uma pasta para fazer a avaliação. Fizemos aquele trabalho. Depois cada um pegou o trabalho do outro, ou seja, cada um viu o que eu fiz, eu vi o serviço que o Renato fez e o Francisco fez por outro lado com outra pessoa. Diante disso, fizemos uma unidade de trabalho que pudesse ser levada à diretoria-executiva da Petrobras. Todos escreviam muito bem; uma das boas coisas que a Petrobras nos deu quando estávamos trabalhando era os cursos que ela nos proporcionava. Cursos de toda espécie e qualidade, sempre para aprimorar a pessoa, não somente no trabalho que ele fazia. Todos nós tínhamos que passar por um curso de Ortografia e Gramática da Língua Portuguesa, que era ministrado por professores do Colégio Pedro II da Rua Larga. Cada um de nós, além de ter passado por este curso, tinha a sua própria forma de se enriquecer lendo e escrevendo. Cada um de nós fez um arrazoado do trabalho, disso foi feito um único arrazoado, tirando um pedaço do que o Zury fez, um pedaço do que o Renato fez, do Orelhinha e dos outros. Nós compactamos tudo o que tinha sido feito antes e ficamos assim, fomos com o Darcy Duarte de Siqueira, que tinha nos dado a abertura para fazer o serviço dizendo: “Darcy aqui está o que nós conseguimos fazer”. Ele disse: “Zury deixa aqui que eu vou dar uma olhada”. Essa olhada dele deve ter demorado uns dois meses e eu sempre telefonando: “Darcy, como é que está?”. “Eu remeti para o fulano de tal, chefe de gabinete do diretor tal. Esse chefe de gabinete está olhando”. Dois meses depois o tenente falou: “Mas e agora Darcy, como está?” “Está com o chefe de gabinete do diretor tal”. Depois do meu primeiro contato com o doutor Othon se passou um ano. Ficarmos esperando que o chefe de gabinete levasse a um diretor, para um diretor da área administrativa, porque naquele tempo a Petrobras era “departamentalizada”, ou seja, ela era gerida através de quatro departamentos, Departamento de Produção, Depro, e outros departamentos. Disse: “Bem, agora vai pra mão do diretor da área de administração”.
Depois de dois meses foi uma alegria geral. Darcy me telefonou e disse: “Zury o projeto de vocês vai ser colocado em pauta amanhã na diretoria executiva”. Já imaginou? Quer dizer, foi colocado em pauta e nós todos aqui: “Será que vai ser aprovado ou não?” Moral da história: no dia posterior ao dia da reunião do conselho de administração da Petrobras, foi aprovada a reestruturação do pessoal de portaria, conforme o estudo apresentado pelo grupo de trabalho, podendo a partir deste momento ser feita a devida uniformidade aonde couber. Aí foi outro trabalho. Quando eu peguei tudo isso, uma vez que nós já tínhamos delimitado que cada serviço ia ficar com oito, com dez, 12 funcionários. O conselho de administração admitiu 10% a mais daquilo que a gente tinha pedido, ou seja, vamos dizer, de 900 pessoas, o conselho de administração achou por bem aumentar 10%, ou seja, mais 90 pessoas para trabalhar nesse tipo de serviço. E aí é que você pode imaginar o quanto eu sofri no meu gabinete – no meu gabinete não, porque tinha um gabinete antes, era um anteparo e tinha o meu gabinete onde ficava a minha secretária, o meu era lá dentro. Mas [tinha] gente pedindo pra entrar nessa cota dos 90, gente que era terceirizada e queria entrar na Petrobras e aí fomos fazer ficha de todo esse pessoal pra ver quem poderia entrar. Vamos dizer que 15 a 20 dias depois, demorou um pouquinho, nós fizemos uma informe a cada departamento, dizendo: “A partir desse momento, Vossa Senhoria vai contar com os seguintes funcionários: Inês, José, Maria, Antônio. Essas dez pessoas serão parte do contingente de vocês, não pertencerão mais ao Serarj de modo que, férias, INPS, abono de ponto mais isso, mais aquilo outro, será feito pelo setor administrativo do seu departamento”. Esse foi mais um processo de reconhecimento que eu tive em relação às pessoas que estavam desagregadas.
AMBEP / 25 ANOS
O livro dos 25 anos da Ambep [Associação de Mantenedores-Beneficiários da Petros] foi feito por mim, esse eu realmente posso falar; não foi feito por nós não. Foi feito por mim. Nós nos aposentamos: dois paraenses, Mario Gracindo e o Bastos e um amazonense que era eu, que tinha trabalhado durante nove anos como relações públicas da Petrobras. Ou seja, onde quer que houvesse um movimento em que a Petrobras precisasse estar presente para dar informações àquela comunidade, eu ia, [junto a] um fotógrafo e um jornalista para que nós fizéssemos a cobertura do evento. Foram feitas inúmeras coberturas de grande monta. Eu passaria aqui mais de uma hora dizendo realmente o que fizemos. Soberba eu não tenho, mas [em um dos eventos], fui convidado a jantar com o Coronel Luíz Cavalcante, governador do Estado do Alagoas, no Palácio dos Martírios, junto com a diretoria da Petrobras. Nós fomos a Maceió para fazer o início do asfaltamento da estrada da Praia de Pajuçara. Em Maceió, na frente da cidade tem uma praia muito grande e bonita, mas antes da praia, como Copacabana, também tem um logradouro muito bonito, que hoje é asfaltado. Então, nós fomos lá para fazer oficialmente o lançamento do asfaltamento. Claro que as máquinas não estavam lá, aquilo foi apenas uma presença para ratificar a intenção da Petrobras de contribuir com o governo de Alagoas.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Outra coisa bonita foi feita quando a Petrobras completou dez anos de existência, em dez de janeiro de 1964. Em novembro, almoçávamos, um grupo: eu, o subchefe do Serviço de Relações Públicas da qual eu pertencia, Palmyr Virgínio da Silva, que era um chefe de setor, e o Ricardo Binato. Sempre almoçávamos nós quatro, todo dia no bar do pai do atual ministro da saúde, José Gomes Temporão. O pai dele era e ainda é o dono daquele bar. Nós nos sentamos e estávamos conversando; o subchefe de Relações Públicas disse: “Puxa vida, a Petrobras já vai completar dez anos e nós não temos projeto nenhum para fazer a comemoração”. Eu não sei se fui eu, mas alguém disse: “Por que não fazer?”. Aí eu disse: “Por que eu não faço?”. O Roberto Miglioli estava também. Miglioli trabalhava na Petrobras, mas também prestava serviço ao Touring Clube do Brasil, que todo ano fazia uma excursão de turistas ao norte do Brasil, naqueles antigos navios do Lloyd Brasileiro. O Brasil ia receber quatro novos navios transatlânticos de nomes: Rosa da Fonseca, Princesa Isabel, Princesa Leopoldina e Princesa... Uma princesa das quantas aí que não me lembro o nome, em troca de café. [Isto] porque nós não tínhamos intercâmbio comercial, quando a Tchecoslováquia era fabricante desses navios. O Brasil fez um convênio com o governo Tcheco que mandaria, digamos, milhões e milhões de sacas de café natural e receberia em troca navios de grande porte e de expressão para navegar na costa brasileira. O Miglioli falou: “Vamos receber muitos navios e um deles já vai servir para fazermos a primeira viagem ao norte do Brasil, num desses navios transatlânticos de grande categoria que têm até elevadores. Ele tem oito andares”. Fiquei com aquilo no pensamento. Quando cheguei ao trabalho, fui lá com o subchefe do serviço de relações públicas e falei com ele: “Tourinho, você sabe que a gente pode fazer alguma coisa?”. Dei umas idéias pra ele. “Fica a teu critério. Você é que cavoca as coisas, vai ver o que vai fazer”. Eu fui com ao Miglioli primeiro, que disse: “Vai falar com o Almirante Secco”. Não sei se é parente da Débora Secco, mas tem o mesmo nome. O Almirante Secco era o superintendente da antiga companhia que comandava esses navios que não eram do Lloyd Brasileiro. Fui lá e disse tudo que a gente pretendia, ele disse: “Dez anos de Petrobras?”. Eu digo: “É sim senhor”, “Dez anos de Petrobras é uma data muito bonita. Faz um trabalho aí qualquer por escrito e escreve uma carta dizendo que a Petrobras precisa fazer uma exposição a bordo do navio”. Da mesma maneira que ele me disse, voltei, sentei na minha mesa, escrevi a carta e detalhei o que seria. No outro dia levei lá. Levei um “chá de cadeira”, porque o Almirante sempre tinha muita gente entrando [em sua sala]. Passei meia hora sentadinho esperando – mas a gente que espera sempre alcança – até que eu falei com o Almirante e entreguei. Ele disse: “Já?”, “É, só não foi antes porque eu passei 30 minutos lá fora”. Ele pegou, fez uma carta para o diretor de navegação desses navios, dizendo que ele estava de acordo que nós usássemos o espaço dentro do navio que ia fazer essa viagem. Esse diretor escreveu para o Almirante Secco: “Não temos disponível nenhum espaço no navio. A não ser a capela, pois por enquanto ainda não sabemos se vamos viajar com um padre dentro do navio”. Eu pensei: “Ai meu Deus, será possível?”. Aí rezei contra a Igreja: “Padre, não vá usar a capela...”. Até que eu soube que não iria padre. O Almirante Secco disse: “Você pode usar a capela”. Eu chamei o desenhista projetista João Melo e o desenhista projetista João Camelo – todos os dois eram João – e pedi para eles fazerem uns painéis. Painéis de quando a Petrobras iniciou até aquele momento, dizendo quais eram as suas atividades, as refinarias que já tínhamos, o que nós produzíamos e quanto produzíamos. Borracha sintética, gasolina de aviação e outras coisas. Enchi a capela desse material, peguei folders de todas as subsidiárias da Petrobras. Um montão de folders e levei comigo. Iniciamos a viagem aqui no Rio de Janeiro, fomos a Salvador, Recife, Fortaleza, Belém e Macapá. Macapá por uma condição muito especial, porque um antigo funcionário da Petrobras, o Coronel Terêncio Furtado de Mendonça Porto, era governador do Amapá. Ele sabendo disso tudo fez um toque qualquer para a Petrobras, que autorizou que nós fôssemos até Macapá. Em Macapá, fomos à Serra do Navio, onde é extraído aquela pedra que é um dos componentes para o enriquecimento de urânio, e, conseqüentemente, até da bomba atômica. Em todos esses locais eu projetava com uma máquina V8, aquela máquina pequena, levei só dois filmes. O “bonequinho pretinho” e um outro que dizia das atividades. Fazia a projeção e depois fazia uma palestra para quem ia a bordo do navio. A capela ficava entulhada. Em Manaus, eu usei o salão de festas do Rosa da Fonseca. Foi governador, foi prefeito, foi todo mundo, porque eu tinha trabalhado em Manaus então, escrevi para o Gracindo [dizendo] que eu ia para lá, levando esse material. O Gracindo já era o chefe da base de Manaus e convidou todo mundo. Ah, como foi bonito A cada passagem eram tantas pessoas que eu fiz um livro de ouro que cada pessoa assinava. Quando cheguei no Rio de Janeiro, tinha mais de 850 assinaturas, somando todas as cidades em que nós estivemos. Para mim, foi um sucesso muito grande, porque aos dez anos a Petrobras não era conhecida no Brasil. Para você ter uma idéia, em Recife nem se conhecia, nem sabia o que era Petrobras. Eles pensavam que a Petrobras era a Fronape (Frota Nacional de Petroleiros), porque era a única entidade que ia até Recife, levando e trazendo gasolina. Já na Bahia não, é claro, lá foi o primeiro local onde a Petrobras se instalou e foi o primeiro local onde teve as primeiras projeções de óleo. Fortaleza também já era conhecida porque em 1960, 1962 eu estive em Fortaleza promovendo o que seria a primeira fábrica de asfalto do Nordeste: Grupo de Implantação da Fábrica de Asfalto do Nordeste – Gifan. Lá estiveram na inauguração, o governador José Sarney, do Maranhão, o governador do Ceará, o governador de um outro Estado e toda a direção da Petrobras, fazendo a abertura do Gifan que, na realidade, era apenas algo pró-forma. Mas depois realmente foi instalado o Gifan, que hoje é uma refinaria de petróleo. Era só produtora de asfalto para aquela região, mas hoje é uma refinaria e é conseqüentemente, também é uma produtora de asfalto, porque o asfalto é o último produto decantado na torre de refinação. O primeiro produto de uma torre de refinação é a gasolina, que é o produto mais evaporável. Depois vem diesel, subdiesel, mas “isso aquilo, aquilo outro” e o último é aquela borra, que é chamada de asfalto e é aproveitada para o asfaltamento das estradas. Hoje nós temos fábricas de asfalto em todas as refinarias, inclusive em Duque de Caxias. Não ditas propriamente fábricas de asfalto, quer dizer, aproveitamento daquilo que sobra lá embaixo da torre de craqueamento. Craqueamento é a quebra das moléculas do petróleo, ou seja, o petróleo entra na fornalha em estado bruto e a alta temperatura vai então quebrar as moléculas. Vai dividi-las em moléculas pesadas, semi-pesadas, leves. O craqueamento é, portanto, a quebra das moléculas do petróleo para a produção de todos os derivados de petróleo.
AMBEP / CRIAÇÃO
Depois de nos aposentarmos ficamos com cara de pastel olhando um para o outro no Bar Simpatia, esperando o Antônio Gillet, que era chefe de pessoal da Petrobras, e o Bastos me convidou para nos encontrarmos ali naquele dia de julho, um dia qualquer. Enquanto o Bastos saboreava um frapê de coco, que era a especialidade do Bar Simpatia, Gracindo e eu apreciávamos um garotinho e olhávamos a paisagem. A paisagem era as mulheres saindo do trabalho, porque os homens não nos interessavam. Aí o Bastos olhou pra mim, olhou para o Gracindo e disse: “E agora o que vamos fazer?” e me perguntou logo: “Zury você que foi relações públicas da Petrobras, conheceu alguma entidade petroleira em todo ‘esse mundo do Brasil’?”. Eu disse: “Pra não dizer que não, aqui mesmo no Rio de Janeiro tem uma tal de AEP - Associação dos Aposentados da Petrobras, mas essa associação só serve para os ‘bailaricos’ do final de semana”. Na sexta-feira cada um de nós recebe no seu escritório: “Amanhã não te esquece do nosso baile em cima do Mercantil, na Avenida Rio Branco, esquina com Presidente Vargas”. Tinha lá um sonzinho; as meninas iam porque nós não iríamos? E na Bahia tem o Ouro Negro, aliás não, na Bahia tem o 2004 que é o número da [lei da] criação da Petrobras. Mas é a mesma coisa, tem finalidade social recreativa e de entretenimento. No Pará tem o Ouro Negro, mas é a mesma coisa. Eles compraram um terreno, fizeram uma piscina e todo mundo vai pra lá no final de semana, assa um jaraqui, assa um pirarucu, assa uma coisa, bebe uma cerveja. Todo mundo vai pra casa depois e acabou-se. Ele disse: “Pois é, a gente precisa fazer algo útil”. É aí que entra, realmente, a criação da Ambep. O Bastos perguntou: “Quando nós vamos começar?” Eu disse: “Bastos, a hora que você quiser, a partir de agora”. Aí ele disse: “Então amanhã às três horas na minha casa na Rua Uruguai”. Ele deu o número, eu não sabia onde ele morava. Fomos lá os três só. Dois paraenses, o Bastos e o Gracindo, e um amazonense que era eu, aposentados na mesma ocasião. Por isso eu disse que nós três ficávamos olhando um para o outro com cara de pastel, porque cada um de nós trabalhou mais de 30 anos. Eu trabalhei 28 anos na Petrobras, com mais dez anos que eu tinha trabalhado na Manaus Harbour, deu 37, 38 anos. E eles também. Nós podíamos nos aposentar com 100% daquilo que seria o normal.
Fomos na casa do Bastos e ele disse: “Eu queria uma associação só de aposentados, no início”. Aí eu disse: “Tenho uma ideia. Vamos pegar todos os aposentados e mandar uma correspondência pra eles convidando-os para uma reunião onde nós vamos expor a nossa idéia; a ideia primária”. A primeira data foi no dia 24 de outubro, no sindicato dos petroleiros, reuniram-se 38 aposentados. O que nós fizemos para que eles estivessem ali? Cada um de nós comprou cerca de 200 aerogramas, que era depois passado em “cachacinha”, com o conteúdo daquilo que nós queríamos. Então foram 200 pra mim, 200 para o Bastos, 200 para o Gracindo. Nunca vi a cor desse dinheiro posteriormente, estava a fundo perdido. Então foram 38 pessoas. Nós os induzimos [dizendo], já na primeira reunião que teríamos uma segunda, que foi no dia 16/9. Aí já foi com um número mais expressivo, em termos. Foram 58 pessoas. O número estava bom para que a comunicação se fizesse espalhar para todos os outros. Nós dissemos a eles que pretendíamos fazer a fundação da Ambep no dia 14 de outubro de 1981. Durante esse tempo, de setembro a outubro, nós ficamos cada um de nós cutucando cada amigo aposentado. No dia 14 de outubro não tínhamos lugar para fazer a reunião porque sabíamos que iriam muitas pessoas. Eu fui falar com o presidente do sindicato dos bancários, que era meu conhecido, Perricé era o seu sobrenome, o primeiro não me recordo. Ele disse: “Pode usar o nosso auditório à vontade. Como você sabe fica na Avenida Rio Branco número 574, 22º andar. Já vai estar reservado para vocês”. Nesse dia o auditório encheu. Antes desse dia, eu já tinha rodado a praça, eu o Gracindo, o Ramiro, o Jorge Silva, que já tinha entrado no grupo e que é um elemento da melhor qualidade, tanto quanto o Ramiro e tanto quanto os outros. Nós já tínhamos andado em várias instituições para coletar seus estatutos para podermos adaptar o nosso, daquilo que nós poderíamos fazer ou do que poderíamos aproveitar. Quando o Jorge Silva vier aqui ele vai trazer o primeiro estatuto que nós fizemos. Como já tínhamos feito todo o estatuto, que poderia ser o definitivo, em folha de papel jornal, nós abrimos a sessão do dia 14 com 583 pessoas no auditório. O Bastos presidiu a mesa, eu à direita do Bastos, a minha direita ficou Lauro Lacaille, depois o Ramiro e o Jorge Silva. Éramos os formadores da mesa, porque o Gracindo não estava no Rio de Janeiro. Uma história curiosa vai ficar aí registrada: apesar do Gracindo ter trabalhado esse tempo todo conosco, o Bastos não queria que ele fosse diretor. Eu disse: “Não Bastos. O Gracindo trabalhou muito, tem que ser diretor”. O Bastos abriu [os trabalhos] e me permitiu ler o estatuto que nós tínhamos feito, bem devagar para todo mundo compreender. [Eu disse:] “Cada um de vocês, posteriormente, se quiserem poderão se associar a esta nova entidade, que tem por objetivo primeiro: dar dignidade ao aposentado da Petrobras, que quando se aposentava era deixado ao ‘Deus dará’.” Só tinha o recebimento da suplementação, o recebimento do INPS. Não tínhamos a AMS, Assistência Médica Supletiva, que hoje nós temos e que trabalhamos para ter. Não tínhamos nada. Li todo o estatuto e no final eu disse: “Vou dar ‘dez minutos de relógio pequeno’ para que vocês constituam aquilo que achem que seja a primeira diretoria dessa associação. Dez minutos. Cada qual faça a sua apreciação”. Decorreram-se cinco minutos, ninguém se apresentou. O doutor Daniel Smith, que era chefe da Divisão Administrativa do Departamento de Transporte foi à mesa, pegou o microfone e disse as seguintes palavras: “Como ninguém se manifestou até o momento, eu conclamo a todos vocês, pelo trabalho feito, pela perseverança, por tudo mais, que estes que estão à mesa sejam os primeiros diretores da associação. E gostaria que esta minha indicação fosse constituída, por uma aclamação, uma salva de palmas”. Aí foi feita a primeira diretoria da Ambep, com Antônio Ferreira Bastos presidente, Raymundo Zury da Fonseca diretor-administrativo, Ramiro Barcellos Tostes diretor, Jorge Silva diretor e aí essa quarta parte. O Bastos não queria colocar o Gracindo porque ele estava ausente, seriam cinco diretores. Aí eu falei baixinho: “Você está cometendo um...”. Disse qualquer coisa pra ele entender que o Gracindo deveria ser [diretor também]. Ele disse: “Está bom, você quer colocar, coloca”. E eu disse: “Mario Gracindo Cardoso Rodrigues vai ser o quinto diretor”. Neste momento só existia como diretor denominado [com] alguma coisa, o Zury, diretor-administrativo, os demais eram todos diretores. Dois anos depois, o Ramiro foi diretor vice-presidente, o Jorge Silva, diretor-financeiro e o Gracindo diretor de benefícios. Mas essa nomenclatura foi criada posteriormente.
No dia 14 de outubro de 1981, às 14;30, foi fundada a Ambep, no auditório do Sindicato dos Bancários, na Avenida Presidente Vargas, número 534, 22º andar. [A diretoria] permaneceu até dezembro de 1983, quando eu e o Gracindo tivemos outras atribuições. Eu tenho um primo que era diretor de umas áreas que pertenciam ao Ministério da Agricultura e eu ganhei um terreno muito grande. Ele dizia que lá tinha muita coisa pra fazer, então, tive que ir trabalhar nesse terreno. No final de contas, acabei vendo que não adiantava e voltei para o Rio de Janeiro. Em 1984, ficaram ainda o Bastos, o Ramiro e o Jorge Silva e entraram o Edilberto Ferreira de Abreu e Maria Amélia Jening Canedo em substituição às nossas pessoas.
AMBEP / CONQUISTAS
O serviço que a Ambep se propunha – e que está fazendo na melhor qualidade – era primeiro reconhecer o aposentado do Sistema Petrobras como uma pessoa de fato de direito, com reuniões, com grandes bailes, com serviço médico e serviço jurídico também, tudo que nós podíamos dar através de nossos associados. Nenhum desses elementos médicos, ou jurídicos, ou dentistas era de fora. Todos eles eram associados da Ambep. A principal conquista da nossa administração, 1981, 1983, o Jorge Silva deverá explicar melhor, foi uma conquista grandiosa. Dona Zélia Cardoso de Mello era ministra da Fazenda do governo Collor naquela época. Então o que acontecia? Ela queria tirar, não era recuperar, tirar mesmo da Petros, que era a nossa fundação, 25% do ativo financeiro da Petros para colocar aonde ela quisesse. Eu digo sempre, a Ambep é a muleta da Petros, porque a Petros não pode impetrar ela mesma qualquer ação na justiça, e a Ambep foi criada para ser essa muleta. Nós impetramos uma liminar, obstaculando aquela pretensão do ministério da Fazenda através da dona Zélia. Ela queria entregar esse dinheiro, 25% do ativo da Petros, a uma firma qualquer aí do Tanure e companhia, os construtores de navios lá em Angra dos Reis, qualquer coisa assim. Nessa liminar a justiça deu ganho a Ambep, que conseqüentemente impediu que a Petros, nossa associação, para a qual nós contribuímos, fosse desonerada em 25% do seu ativo para uma entidade qualquer. Ou seja, se naquela época a Petros recolhia 100 mil reais dos aposentados, 25 mil reais iriam ser jogados fora. Mas isso é um assunto de maior profundidade a ser explicitado pelo Jorge Silva porque ele, além de ter tudo isso por escrito, tem na cabeça direitinho, porque ele era o financeiro e tem todas as particularidades.
Outra conquista média nossa foi que o nosso salário era pago em duas parcelas. Uma era feita quando a Petrobras pagava no dia 25 de cada mês e outra era feita ao “Deus dará”, quando o INSS pagava a outra parcela que constituía uma só. Nós achávamos que aquilo não estava certo e aí realmente começamos a trabalhar junto ao INSS. Fomos a Brasília com um grupo de trabalho fazer um lobby junto ao INSS de Brasília, de tal maneira que no final realmente o INSS concordou em fazer uma espécie de ajuntamento – a palavra é outra –, de fazer o nosso pagamento no dia 25. Ela adiantava à Petros aquilo que iria pagar no dia seis e a Petros juntava e fazia um pagamento num dia só, como é agora, a partir desse nosso trabalho.
Outro trabalho que eu poderia dizer significativo e que hoje existe em termos mais abundantes foram as excursões pelo Brasil a fora, [organizada] pela nossa delegacia do Rio de Janeiro, que tem três pessoas que se encarregam de verificar o que tem de melhor em Salvador, em Fortaleza [e outros lugares] e se faz um plano de excursão bonita e se coloca no nosso jornal Ambep. Temos um jornal muito bonito, vou pedir para que se traga uma meia dúzia aqui. A nossa delegacia faz o apanhado dos valores que poderão ser feitos entre a ida e volta de avião, e a estada do local onde será a excursão, que é sempre acompanhada de um elemento da nossa delegacia, que é o responsável. Isso tudo com o pagamento feito em suaves prestações que nós pagamos a Ambep. Essa foi uma conquista do meu tempo. Outras conquistas, como disse, serão melhores explicitadas pelo Jorge Silva e pelo Ramiro. O Gracindo talvez tenha algumas outras também, de modo que eu não quero matar, como se diria na gíria, todas as informações que os outros podem dizer.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Continuo participando da Ambep. Como disse, tinha ido ao Amazonas, quando me desiludi, até pelo calor que eu tinha sofrido. Imagina que quando eu cheguei ao Amazonas – depois de nove anos ou dez anos de ausência –, que o avião abriu a porta e eu senti aquele bafo tremendo, passei uma noite inteira de cama, com febre, diarréia, tudo que tinha direito, em função daquele choque térmico que recebi. Depois me adaptei. Em 1991, o Ramiro, que virá aqui, se encontrou comigo e disse: “Cara onde é que tu andas? Vai lá pra Ambep rapaz, tem muita coisa pra você fazer”. Então o Ramiro me nomeou assessor da presidência da Ambep. Eu era relações públicas, era a pessoa que fazia contato com os órgãos da Ambep, para dar e receber informações que interessassem ao trabalho da Ambep. Fiz isso até 2002. Em 2003 entrou um novo presidente da Ambep, meu amigo, muito amigo mesmo, e ele me convidou para outra função. Aí eu peguei, devagarinho, fui me orientando e hoje vou lá cumprimentar as pessoas como foi na semana passada, na quarta-feira. Era a reunião de todos os chamados delegados, de cada uma das representações no Brasil, são 33 delegacias e alguns serviços que vocês vão ver depois através desse mapa. Todas essas pessoas eram minhas conhecidas e alguns colocados, vamos dizer, ao tempo de Petrobras, por mim dentro da Petrobras. O próprio doutor Ivan me disse: “Zury, vai lá na quarta-feira que o pessoal está com saudade de ti”. Saudade foi a forma muito graciosa de ele me dizer. Telefonou pra [minha] casa e quarta-feira eu fui. Mas fui num momento em que estava numa reunião de trabalho e fiquei lá atrás, escondidinho. Quando a reunião terminou, as luzes se abriram, a Déa [Marques Santos] disse: “Um momento. Está aqui a estaca viva da Ambep. O fundador da Ambep que muitos de vocês não conhecem”. Ela me chamou, eu fui lá pra frente, era autógrafo (maneira de dizer), todo mundo em cima de mim. Sabe, aquilo enche a gente. Todo mundo me abraçando, dizendo: “Você não veio mais”. Quer dizer, isso enche a gente, não de orgulho, de satisfação mesmo. Dois ou três disseram: “Olha, foi o Zury quem assinou a minha carteira na Petrobras”.
AMBEP / DIREÇÃO
Foi uma satisfação muito grande. Hoje eu estou aqui com outra satisfação de poder dar às informações da Ambep. Uma das coisas importantes que fiz na minha administração foi que nós alugamos uma sala na Rua Senador Dantas, n.º 32, Edifício Astória, que era da Petros, uma sala qualquer, sem absolutamente nada. Ficou aquela outra pergunta, um olhando para o outro: “E agora? O que a gente faz se não tem dinheiro?”. O Ramiro teve uma idéia: “Zury, você conhece o comandante Reinaldo?” Eu disse: “Conheço, o comandante Reinaldo da Fronape, meu amigo com quem eu estive muito tempo”, e ele disse: “Pois é. Lá com o comandante Reinaldo, que é da Petrofértil, tem uma sala abarrotada de mesas, cadeiras, estantes, tudo, tudo de unidades que foram recolhidas, que não existem mais. Está tudo lá. Dá um pulo lá e vê o que você consegue com ele”. Vocês já estão vendo mais ou menos o meu tipo. Antes de ir pra lá, peguei um pedaço de papel e botei cadeiras, mesas, blá, blá, blá. Enchi e assinei e fui lá com o Reinaldo, que disse: “Olha, nós temos realmente muita coisa aí, mas eu preciso da autorização do doutor Portos Augusto Lima, que era o presidente da Petrofértil, na qual o Reinaldo era subordinado e disse: “Me dá esta relação que eu vou falar com o doutor Portos pra ver o que ele pode fazer, porque está lá, mas eu não posso te dar nada porque a autorização é dele. Volta aqui amanhã”. Voltei no outro dia, estava escrito: “Entregar ao senhor Zury todo o material acima elencado. Assinado: Portos Augusto Lima”. Peguei na rua dois ou três desses caras que andam fazendo qualquer coisa e disse: “Sobe aqui. Vem ganhar um dinheirinho”. Aí cheguei lá com o Reinaldo: “Estão aqui os homens que vão levar, é pra já”. Ele chamou o chefe de serviços-gerais e disse: “Dá toda essa relação que está aqui para o Zury levar ali para o [edifício] Astória”, que era praticamente aos fundo do [Edifício] Serrador, só que a gente não podia passar por dentro porque tinha parede e então fomos pela rua. Eu perguntei: “É tudo isso que está aí?” “Tudo isso”. Como ele não estava observando nada, eu disse: “É tudo isso que está aí e mais alguma coisa que eu vi”. O fato é que a nossa associação foi mobiliada. Tinha cadeira que ainda estava com o invólucro, novinha, porque a empresa tal que pediu não funcionou e devolveu as cadeiras. Tudo isso foi cedido pela Petrofértil, pelo doutor Portos Augusto Lima e comandante Reinaldo. Foram os homens que nos ajudaram a constituir o mobiliário da Ambep. Hoje a Ambep está muito melhor ainda.
AMBEP HOJE
[A Ambep hoje é] para os aposentados, para as pensionistas e para todos os dependentes beneficiários. Hoje nós somos cerca de 34 mil associados em todo o Brasil, que pagam meio por cento do seu salário bruto. Exemplificando, como eu fazia nas minhas palestras, quando estava por aí afora, até pra experimentar. Quanto é meio por cento de cem reais? Aí um ficava olhando pra um, outro ficava olhando pra outro. Amigos, meio por cento de cinco reais compra uma caixa de fósforos e um cigarro “ratuino”. Está se pagando muito pouco para receber todas as benesses que a Ambep dá, como a de assistência médica e assistência de funeral. Ah sim Assistência funeral, que a Ambep promove, só que o próprio não paga. Vamos dizer, eu não pago, se eu morrer e claro vou morrer, estou pronto aliás pra isso, a Ambep, através de uma seguradora, manda uma assistente social em [minha] casa e ela vai com a minha mulher e faz todos os procedimentos e eu vou para o lugar que a minha mulher achar desejável; cremado, incinerado, biscoitinho, qualquer coisa assim. Nós estamos aqui nesse mundo pra isso. Ninguém se imagine perpétuo. Nós não nascemos para morrer, mas nascemos para a vida eterna. Prestem bem atenção neste slogan: “Nós não nascemos para morrer, nós nascemos para a vida eterna”. Em síntese, nós nascemos e morremos, mas a vida eterna nós vamos ter de acordo com nossos próprios benefícios, nosso merecimento.
Hoje em dia, tendo 34 mil associados, pagando meio por cento, a Ambep tem finanças suficiente para bancar os seus associados, beneficiados e dependentes em tudo aquilo que ela promove que você vai ver neste livro. É bom ver. Quando eu fui chamado pelo doutor Ivan para fazer a história da Ambep, a primeira coisa que eu fiz: um e-mail para todas as outras unidades. Claro que eu não tinha tudo de cabeça, nem todo material estava na mesa para eu ver e fazer o livro. Falei: “Favor enviar todos os dados concernentes a essa delegacia” (delegacia é um nome que eu acho que vai ser mudado um dia, porque delegacia é de polícia); data de fundação, localização, funcionários, se tem, que são aqueles pagos com dinheiro da Ambep. Colaboradores são aqueles que foram empregados da Petrobras e hoje em dia estão aposentados e são colaboradores de livre e espontânea vontade para fazer qualquer tipo de serviço. Feito esse e-mail, joguei pra todo o Brasil e enquanto vinha, comecei a escrever as coisas que eu já conhecia. Quando todas essas informações chegaram, me juntei à Déa, que é a chefe do setor de benefícios, e fomos aí calibrando, cortando, retirando, queimando e colocando algumas outras coisas que nós sabíamos que iriam dar realmente um bom proveito. No final de tudo, como reconhecimento a todos aqueles que estiveram conosco, coloquei o nome de todos que participaram daquelas três reuniões iniciais. E achei por bem também, junto com a Déa, colocar a fotografia de cada um deles, sendo que a mais bonita está aqui do lado esquerdo, viu? (risos). Não, todos eles são simpáticos. Daphines Ferreira Souto era uma sumidade, Antônio Jorge de Almeida deve-se fazer uma homenagem especial a ele, porque já está nos braços do pai, e foi ele quem nos cedeu a sala e a máquina de escrever no sindicato de petróleo. Só não deu a secretária porque eu contratei uma secretária e paguei do dinheiro que não tinha. Todos os outros estão aqui. Todas as pessoas que de uma maneira ou de outra contribuíram para a grandeza da Ambep, que é uma grande instituição e eu costumo dizer em artigos que eu escrevi: a Ambep hoje é uma grande nação. E se você achar que esse depoimento foi bom, grave; se não achar bom, delete-o.
MEMÓRIA PETROBRAS
Há uns oito anos, eu fiquei surpreendido e fui até a Petrobras. Fui até o 24º andar onde foi editada uma revista da história da Petrobras. Se esqueceram que existiu um cara que foi chefe de pessoal na Amazônia, na base de Manaus, e colocaram uma outra pessoa com uma carinha bonitinha que eu acho que nunca passou nem pela estrada da refinaria. Eu fui lá, pedi a retificação, que nunca foi feita. Eu espero e agradeço a vocês pela oportunidade que nos foi dada, de oferecer não somente algumas informações como me postar ainda com outras que possam ser interessantes à memória da Petrobras. Tenho dito e muito obrigado.
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