IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Pedro Orlando Vasconcelos Piauilino, nasci em 24 de dezembro de 1962 em Curitiba, Paraná. INGRESSO NA PETROBRAS Me formei em Geologia na cidade de Brasília, em 1986, e entrei na Petrobras logo depois, sendo meu primeiro e único emprego até agora. Quando a gente se forma em Geologia, em geral, a gente vai fazer mestrado ou vai para a Amazônia, mineração. A Petrobras não tinha concurso há mais ou menos dois anos. Eu estava meio inclinado a fazer mestrado porque não queria sair de Brasília e ir para a Amazônia. No dia da formatura, uns dois dias antes, saiu o edital no jornal e eu fiz um concurso em nível nacional. Há exatamente 18 anos eu entrei na Petrobras, no dia nove de março de 1987. Eu fiz um concurso e passei. Desde então, nunca mais voltei para Brasília. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu vim trabalhar aqui no Rio, fazendo curso de nivelamento. Ao todo, eram 60 pessoas, duas turmas de 30. Eu trabalhei nesse treinamento, fiz o curso de um ano e três meses. Em maio de 1988, eu fui trabalhar em Manaus, no antigo DENOC - Departamento de Exploração na Amazônia Ocidental, e por lá fiquei cinco anos, na Exploração e Produção, na parte de aquisição e controle de qualidade de dados e geofísicos para o E&P. Depois eu passei um ano em Belém, fui transferido para o DENOR - Departamento de Exploração do Norte. Antigamente eram três grandes departamentos. Em Belém, fiquei um ano e depois fui para Macaé, mais cinco anos, na parte de geologia marinha, já de superfície, tudo no E&P. Então me transferiram para a Engenharia em 1997, onde estou até hoje. GEOLOGIA MARINHA Até Belém, eu fiquei na parte de geofísica ligada à exploração, para descobrir petróleo. Em Macaé, eu cheguei em 1992 e fui para a área de mar, até então eu nunca tinha trabalhado nessa área, só em terra, bacias terrestres. Trabalhei numa parte nova, que é a geologia marinha, para dar suporte, no caso, à...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Pedro Orlando Vasconcelos Piauilino, nasci em 24 de dezembro de 1962 em Curitiba, Paraná. INGRESSO NA PETROBRAS Me formei em Geologia na cidade de Brasília, em 1986, e entrei na Petrobras logo depois, sendo meu primeiro e único emprego até agora. Quando a gente se forma em Geologia, em geral, a gente vai fazer mestrado ou vai para a Amazônia, mineração. A Petrobras não tinha concurso há mais ou menos dois anos. Eu estava meio inclinado a fazer mestrado porque não queria sair de Brasília e ir para a Amazônia. No dia da formatura, uns dois dias antes, saiu o edital no jornal e eu fiz um concurso em nível nacional. Há exatamente 18 anos eu entrei na Petrobras, no dia nove de março de 1987. Eu fiz um concurso e passei. Desde então, nunca mais voltei para Brasília. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu vim trabalhar aqui no Rio, fazendo curso de nivelamento. Ao todo, eram 60 pessoas, duas turmas de 30. Eu trabalhei nesse treinamento, fiz o curso de um ano e três meses. Em maio de 1988, eu fui trabalhar em Manaus, no antigo DENOC - Departamento de Exploração na Amazônia Ocidental, e por lá fiquei cinco anos, na Exploração e Produção, na parte de aquisição e controle de qualidade de dados e geofísicos para o E&P. Depois eu passei um ano em Belém, fui transferido para o DENOR - Departamento de Exploração do Norte. Antigamente eram três grandes departamentos. Em Belém, fiquei um ano e depois fui para Macaé, mais cinco anos, na parte de geologia marinha, já de superfície, tudo no E&P. Então me transferiram para a Engenharia em 1997, onde estou até hoje. GEOLOGIA MARINHA Até Belém, eu fiquei na parte de geofísica ligada à exploração, para descobrir petróleo. Em Macaé, eu cheguei em 1992 e fui para a área de mar, até então eu nunca tinha trabalhado nessa área, só em terra, bacias terrestres. Trabalhei numa parte nova, que é a geologia marinha, para dar suporte, no caso, à sonda, plataforma e dutos, e estudar os primeiros 30, 40, 50 metros abaixo do fundo marinho. Comecei a ver técnicas geofísicas novas inexistentes para a exploração normal de descoberta de petróleo. O trabalho no mar é um meio dinâmico. Na terra, basicamente, tem os parâmetros geológicos não mutáveis com o tempo e no mar já tem ondas, tem diferenças de propriedades na coluna d’água e, no caso, envolve outras ferramentas. Comecei trabalhando com 400, 500, mil metros nos Procaps, nos Programas de Capacitações Tecnológicas: no final do Procap 1000, 2000 e 3000, na parte de geofísica. A gente investiu em tecnologias novas. Em Macaé, eu ficava mais na parte de interpretação e final de processamento, trabalhei cinco anos nessa parte. Lá a gente deu um salto para a área de engenharia submarina. Eu me lembro que começamos a fazer laudos na época que eu estava lá, para dar suporte à engenharia na instalação de dutos e plataformas. Até então, era mais ciências, estudar o mar, o fundo do mar, um pouco abaixo do fundo, para exploração, mas de uma maneira mais acadêmica. O setor cresceu muito e eu, por motivos de trabalho, recebi uma proposta para vir para o Rio de Janeiro e mudar de departamento. RELAÇÕES DE TRABALHO - GEÓLOGO E ENGENHEIRO Na Engenharia, a gente trabalha na aquisição de processamento e interpretação de dados geofísicos de alta resolução, ou seja, de alta definição. Para isso, a gente usa, principalmente, uma ferramenta chamada sonar que é, basicamente, um sensor que registra, digamos assim, fotografias do fundo do mar, para a gente notar a morfologia, os tipos de objetos que são encontrados lá, o tipo de estrutura geológica, um duto ou uma perna de plataforma ampla, um coral. Numa rota de duto, quando o engenheiro projeta o duto de um ponto A para um ponto B, a geofísica está lá para estudar essa rota e dizer: passa aqui, não passa aqui, aqui tem um buraco, aqui não tem. Essa interação com os engenheiros é interessante, porque eles são assim: dá ou não dá para passar? E a geologia é uma ciência que estuda, dá hipóteses, mas eles querem saber: “Daqui a 10 anos vai acontecer isso ou não vai? Dá para passar? Se der para passar e não acontecer um depósito de escorregamento de massa, a gente vai botar o duto mesmo.” Então, a interação é boa e nova, eles acreditam muito no que a gente faz, porque aqui na Engenharia, na parte de dutos e instalações, só existem seis geofísicos e geólogos, sendo que quatro entraram agora, passamos seis anos só com dois, eu e o Paulo Roberto Maldonado. Basicamente, somos os únicos e a maioria dos profissionais de área de geologia e geofísica está na E&P. São 200 ou 300. Hoje, aqui na Engenharia, tem seis. ESTUDOS PARA INSTALAÇÃO DE DUTOS Normalmente, o engenheiro projeta uma linha reta: “Ah, eu quero da plataforma A para B.” Então, a gente diz: “Não é bem assim.” A gente pega um mapa batimétrico prévio, uma imagem de sonar não bem definida, mas para ter um conhecimento prévio da área, a gente faz um estudo e projeta. A Engenharia tem um contrato com o navio, tem o equipamento, que é esse sonar – só existem cinco no mundo e a Petrobras tem um –, e ela define os parâmetros, processa aqui, no nono andar do Edihb, e faz os relatórios. Então, essa memória, esse pensamento, o controle do processamento e da aquisição é importante, porque se a gente justamente contratar, pegar o relatório que a Empresa faz e entregar para o outro, você não detecta os erros que existem e não adquire a cultura, como a gente tem hoje. Poderia ser qualquer um para pegar um relatório e passar para outro, basta fazer um contrato, então essa parte muda muito, a rota que era uma reta passa por curvas de raio de curvatura X. O caminho para os próximos anos será mais estável, mais seguro para o duto ser instalado, evitando que ele fique suspenso, em balanço – num buraco, ele passa de um ponto A para o ponto B e fica vibrando –, então a gente evita esses buracos, esses caminhos tortuosos para a instalação de um duto. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Nos últimos sete anos e meio que eu entrei na Engenharia, a gente sempre usa o sonar, uma sísmica de alta resolução. São métodos únicos para a Engenharia, o E&P não usa porque esse método não descobre petróleo, ele penetra pouco e, a partir dos 40, 50 metros, você não vê mais nada, mas o que me interessa é exatamente para instalar um duto, uma plataforma. Atualmente, na Engenharia, a gente está trabalhando em quase todo o Brasil, até em travessias de rios, para ver como é que estão os dutos nessa história, nessas travessias de rio, em tudo que envolve água. Hoje a gente tem a ferramenta chamada sonar, tem a sísmica, temos outras ferramentas tão importantes quanto essas. Eu trabalho na coordenação da Engenharia, na parte de geologia, geofísica, geotecnia, oceanografia, engenharia de dutos e instalações, essa parte de geociências em geral. INSTALAÇÃO DE DUTOS Quando eu trabalhei no E&P, a gente fazia um trabalho para descobrir o petróleo, ou seja, a gente gerava uma geofísica, um outro setor processava, o outro interpretava, dava o ponto, tinha sucesso. Aqui eu já passo do ponto que o geólogo do E&P descobriu, virou um campo, aí: “É comercial? Vamos produzir?” Para isso temos que levar do fundo do mar até uma plataforma, um ponto interno, vamos pesquisar: “Ah, é comercial? Vamos colocar um duto lá?” “Engenheiro Pedro, vamos fazer uma geofísica para transportar o petróleo desse campo até a plataforma X, ou até o ponto A em terra.” A gente trabalhou ultimamente na definição do gasoduto de Golfinho, na Bacia do Espírito Santo. Foi muito difícil encontrar uma passagem para ele, porque atravessava diversas ravinas e cânions no fundo do mar, de zero a 1.200 metros de profundidade, a gente pesquisou. As ravinas e cânions são feições morfológicas do fundo do mar e são, geralmente, perigosas para a instalação dos dutos, porque os deixa instáveis, pode escorregar, pode haver algum processo geológico que pode romper um duto desses. Então, a gente trabalhou em todo o programa de PDET - Programa Diretor de Escoamentos de Tratados - e PDEG - Programa Diretor de Escoamento de Gás -, para a Bacia de Campos inteira, da P-51, P-52, P-53. São projetos que chegam até a plataforma. Os projetos até a terra virão de uma plataforma mais próxima, de re-bombeio e autônoma, e seguirá um duto de 32 polegadas, se não me engano, até Barra do Furado, que é o ponto interno ao Norte de Macaé, próximo ao Cabo de São Tomé, onde já chegam os cinco dutos da Petrobras. Então todo esse escoamento é feito por dutos ou navios, que também podem guardar e transportar. Mas vai haver um no futuro, eu creio, que vai escoar. Esse duto do norte de Macaé vai ser o novo, mas já tem cinco, nessa mesma região, chegando a 30, 40, 50 metros um do outro, é uma região de 200 metros. Meu trabalho encerra na chegada do duto na praia, inclusive, a gente estuda o enterramento dele, porque na praia ele é enterrado, ou seja, na região de zona de arrebentação. A praia é uma região dinâmica: no verão, ela tem um formato e no inverno ela tem outro mais cavado, ou seja, aquilo pode descobrir ou cobrir um duto. Então, a gente estuda um nível mínimo para que ele seja enterrado, para evitar que ele fique em vibração e tenha que interromper no futuro, como aconteceu na Baía de Guanabara em 2000. MONITORAMENTO DE DUTOS Vazamento de óleo na Baía de Guanabara / Programa Pegaso O nosso setor, a sessão de geociências, cresceu estupidamente após o acidente da Baía de Guanabara, onde rompeu um duto, vazou óleo. Isso foi, se não me engano, em janeiro de 2000. O duto estava sendo carregado, a refinaria estava sendo abastecida por óleo quente e esse duto fazia há muito tempo processo de dilatação e contração. Com o tempo isso quebrou, é como você pegar um arame. Rompeu uma fenda e foi de noite. Quando é para ser, acontece de noite, sexta-feira, não dá para ver. Só se descobriu no outro dia, quando já tinha vazado muitos litros de óleo e deu aquele problema todo. A partir disso, a Petrobras lançou o programa Pegaso, para monitorar todos os dutos do Brasil inteiro, ver como os dutos estão, mais ou menos, ou no fundo do mar, ou um pouco enterrados. O sonar também servia para isso, não só para projetar um duto, como para ver hoje como ele está, era uma maneira mais barata e segura para a Petrobras dizer: “Esse duto está ruim aqui, esse duto está bom ali, está enterrado, não está enterrado.” Essa fotografia do fundo do mar, obtida através de um sonar de varredura lateral, é importante para a gente ver a malha de todos os dutos que estão no fundo, principalmente, na Bacia de Campos. Recentemente, a gente fez um levantamento na região de Guamaré, na RNCE, para saber como estão todos os dutos da Bacia Potiguar. ÁGUAS PROFUNDAS A Bacia de Campos já tinha sido descoberta quando eu cheguei, se não me engano, em 1974. O que me marcou foi o aumento de pesquisas em águas profundas, cada vez mais profundas. Nós chegamos, com esse equipamento, a pesquisar, ainda não tinha produção lá, mas nós chegamos a pesquisar três mil metros de profundidade, então é muita coisa. É um trabalho ligado à geofísica e ao Procap 3000, cada vez mais. Desde que eu estou na Engenharia, as nossas lâminas d’águas, médias, passaram de 500 para mil, para 1.500 metros. PROCAP O Procap é um trabalho em conjunto com a biologia marinha, com E&P, com o Cenpes, então nós entramos com o nosso know how nessa área de aquisição de processamentos de métodos geofísicos de alta resolução, porque só a Engenharia possui esse conhecimento na Petrobras. Eu cheguei a coordenar o Projeto 11-C, no final do Procap 2000, basicamente a parte de aquisição de dados geológicos e geofísicos na Bacia de Campos. Eram diversos campos que a geologia marinha, no caso, definia para estudar: Espadarte, Roncador, Marlim, Marlim Sul. A gente teve uma integração boa e, no final, eu assumi a coordenação para pegar os relatórios, isso foi em 1999, se não me engano. Fechou o Procap 2000 e começamos o 3000, no qual eu já participei mais na parte de aquisição e processamento aqui na Engenharia. Fizemos 11 áreas pré-determinadas e, inclusive, uma de três mil metros de profundidade, todas na Bacia de Campos. SONAR É um equipamento muito difícil de operar, porque ele sempre anda a 40, 50 metros acima do fundo do mar, independente da lâmina d’água, rebocado por um cabo. Imagine você a três mil metros rebocando um cabo eletromecânico e ele sempre numa altura fixa, se você der um pouco mais de cabo, ele pode bater, se você sobe muito, ele não fotografa. Já perdemos um. É claro que acidentes acontecem. Já perdemos um irmão desse sonar, a Petrobras perdeu. Hoje em dia esse equipamento está custando uns 500, 600 mil dólares lá fora, pagando os impostos sai por um milhão. Mas a gente já economizou muito na instalação de dutos, porque se você definir uma boa rota, você elimina calços: “Não, essa área é perigosa, coloca um calço.” Vai lá depois e coloca mil calços, se quiser, mas cada calço custa 30 mil dólares. Eu não sei definir direito o que é um calço, que é parte de engenharia, mas, digamos, é uma coisa que pode ser um amortecedor, que o prenda para ele não vibrar, para não ficar perigoso. Por exemplo, uma pequena rota, de Marlim até a plataforma de Namorado, era uma reta e nós escolhemos um melhor caminho e se economizou em calços o equivalente a 1,5 milhão de dólares, então essa é a grande vantagem. Isso foi em 1999, depois disso, com a economia que a Petrobras está fazendo, nós estamos partindo para uma tecnologia única no mundo. Eu vim recentemente de uma visita a uma empresa americana que está fazendo uma tecnologia de batimetria de varredura, em que a gente vai ter o sonar e a forma do fundo ao mesmo tempo em 3D para facilitar a instalação de dutos e diminuir o risco e uma maior economia para a Petrobras. SONAR MULTIFEIXE Eu estou em fase de preparação do relatório, acho que já convenci os gerentes mais imediatos a ter essa tecnologia para nós, porque assim como a gente criou uma cultura nesse sonar, que só existem cinco, estamos precisando evoluir. A batimetria também é um método biofísico, basicamente, para determinar a profundidade de onde você está, da lâmina d’água, digamos assim, mas hoje em dia a gente tem a batimetria de feixe único, que só é adquirido quando o navio anda. Com esse novo sistema de varredura, estaríamos economizando em voltas de navio. Todo mundo sabe que a diária de um navio também é cara, então há essa economia principal para a Engenharia, minimizando os vãos livres e minimizando também a colocação de calços. DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO O sonar é o grande destaque tecnológico dos últimos tempos. Hoje, nós temos um operando campo de Jubarte, ele trabalha 24 horas, vem para o abastecimento a cada 15 dias, tem fiscais da Petrobras e uma empresa contratada para operar, já ensinada pela Petrobras. Os dados chegam e nós os tratamos aqui, geramos um relatório, para ter um controle de qualidade. Quando a gente entrega para o cliente, entrega com o carimbo da Petrobras, não é um trabalho da contratada. É um trabalho elaborado com o conhecimento da Petrobras. É o que a gente está tentando há muito tempo na Petrobras: não perder essa memória, ou seja, não contratar tudo e não deixar o processamento, a interpretação por conta da contratada, porque todos os trabalhos, 99% dos milhares de relatórios que já passaram por mim, têm muitos erros, erros de concepção, erros no orçamento. São relatórios da entrega de uma área de A para B, de um ponto A para B, na análise de uma rota. Hoje nós temos 14 pessoas na geofísica, mas mesmo assim é pouco, então, às vezes, a gente tem que contratar terceirizados. As contratadas querem dinheiro, depois elas não querem mais saber. Nós já tivemos acidente com esse feixe, as âncoras de mono-bóia foram cortadas, mas aí a gente foi atrás. A Petrobras deixou de produzir petróleo na P-13 por 12 dias, 14 mil barris por dia, deu uma baixa sensível na produção nacional. Um acidente é perigoso, um erro acontece numa operação difícil, mas um tipo de erro desses e a maioria dos erros foram imprudência. MEMÓRIA DE CONHECIMENTO Aos poucas, as pessoas vão se aposentando. Para mim, eu entrei ontem na Petrobras. Como disse no início da entrevista, tenho hoje 18 anos de trabalho, já é uma maioridade, com responsabilidade, mas tem colegas que já estão se aposentando. Isso cresceu muito e, às vezes, a gente não pode dar mais assistência aos novos que estão chegando. A gente precisa oxigenar e treinar, porque as pessoas vão embora, um dia elas se aposentam, um dia elas vão para outro trabalho, e a memória é uma coisa que precisa ser dita, guardada e passada. Eu tento passar, ensinar, mas, às vezes, também fico na área de coordenação. Eu gosto muito da área técnica, eu tenho um laptop, alguma coisa, um programa que eu fico sempre me atualizando, tento. HISTORIAS / CAUSOS/ LEMBRANÇAS ONÇA PINTADA História interessante eu tenho na Amazônia. No início, a gente trabalhou em regiões inóspitas e fazíamos as linhas, tinha que abrir uma picada, porque era uma selva densa, para passar os equipamentos e havia uma onça pintada aterrorizando as turmas de campo. A onça devia estar faminta e aquele pessoal, a cada dois dias, mudavam o acampamento e ficavam na selva mesmo, dormindo em barracas. Ali eu entendi um pouco o capitalismo selvagem. Eu ficava numa balsa e já achava complicado, e eles ficavam numa selva. Então, a onça devia procurar resto de comida, coisas desse tipo. E esse caso é que a onça passou debaixo da rede de um rapaz, segundo me contaram, e com a unha pegou um escorredor de arroz. Depois, o pessoal viu e mostrou o escorredor, eu fiquei assim... Era proibido ter arma, sempre foi, para não se matar bicho, mas aí também fiquei com medo de um trabalhador sumir por causa de uma onça. A gente autorizou o uso de uma espingarda com uma bala, na época, e eu sei que um trabalhador encontrou a onça na picada. Ele vinha vindo e ela também, ele estava com a arma e teve que matar a onça pintada. Cheguei a ver o corpo, era uma onça pintada grande. Isso era próximo a Urucu, onde eu vi também uma sucuri. ATAQUE DOS ÍNDIOS Há muitos casos, principalmente na Amazônia, a gente vê muito. Foi um aprendizado terrível. As pessoas, inicialmente – lógico que tem uma certa anedota –, diziam que quem descobriu Urucu foram os índios, porque teve um incidente em 1982, se não me engano. Uns índios “caceteiros” invadiram a equipe, mataram um indianista da Funai, quebraram os helicópteros e alguém deu um tiro para o alto e eles saíram correndo, porque não conheciam arma. Desde então, a equipe que estava na fronteira, na Colômbia ou Venezuela, próxima a Tabatinga, foi para Urucu pesquisar. Então, o pessoal fala: “Quem descobriu? Foi a Petrobras que descobriu” Esse é um caso interessante. PERDA DO SONAR Agora a gente está trabalhando mais em navio, mas em terra, no escritório, a gente não tem tantos casos assim, histórias hilárias. Tem a história da perda do sensor do sonar. Essa perda foi numa quinta feira antes do carnaval, em 1998. Nós passamos seis dias, oito horas por dia, em cima do helicóptero procurando. O sonar é do tamanho de uma ferramenta de uns quatro, cinco metros, com uns 80 centímetros de largura, quase um metro de altura, e ele bóia; era para boiar. Então, a gente mapeou a área onde se perdeu: se boiasse, onde ele poderia ir, pela corrente do Brasil, pela velocidade. Eu comecei a pesquisar aquilo e ficamos, todo dia, oito horas, dois de um lado na cabine, fazendo uma espécie de sonar humano, e dois no outro, programando uma linha de helicóptero. Ficamos procurando qualquer coisa laranja, mas tinha muita bóia laranja da Petrobras, a gente descia: “Ah, não é.” No final da tarde de um dia desses, no meio do carnaval, sábado ou domingo, um funcionário da P-34 que já estava aqui mais para baixo, se não me engano em Barracuda – o sonar foi perdido em Roncador, lá em cima, numa lâmina d’água de mil metros –, ele viu esse bicho passando: “Ah, tem um bicho boiando.” Mas eram cinco horas da tarde, o helicóptero não podia mais voar. Aí, no outro dia, eu falei: “Vamos achar” Ele estava mais ou menos previsto na rota calculada, porque tem diversas derivações para as correntes marítimas, mas a situação ficou ruim e nunca mais achamos. Aí também foi aviso aos navegantes, até hoje não sabemos se ele viu mesmo, se o sonar boiou afinal. Aquilo era para boiar, porque tem flutuadores. Perdemos e aí tivemos, logicamente, que comprar outro imediatamente. Então, hoje nós temos um, que já foi perdido duas vezes, mas acharam porque caiu com a poita, um depressor. Para estar lá embaixo, ele é submergido com um depressor de uma tonelada, então nessas duas vezes que perdemos o sonar, perdemos com ele, cortou antes. Ele cai e fica igual um balão, então a gente sabe onde perdeu, porque a imagem vai embora e tem que saber onde perdeu, com a coordenada, o GPS. Depois, vai lá, corta o cabo e ele sobe. PROJETO MEMÓRIA PETROBRAS Eu tento participar diretamente do meu trabalho desse projeto de memória, eu tenho falado com meu chefe, mas no dia-a-dia temos que continuar a nos atualizar, temos que passar para as pessoas mais jovens, temos que treina-las. Recentemente, eu dei um curso para os novos, só para os novos da minha área. Para a memória que eu tenho não ficar só comigo, eu acho importante passar isso para as pessoas de outros órgãos. Principalmente nos últimos dois, três anos, entrou muita gente nova. A Petrobras deixou de contratar durante 10, 12 anos, desde a era Collor, então ficou um gap de gente muito nova com gente bem mais velha. Antigamente, a oxigenação era em dois, três, quatro anos. A Petrobras também cresceu muito, está com uma auto-suficiência prevista para o próximo ano, 2006, assim espero. E cresceu muito trabalho e a gente tem que passar essas informações, mas tem que arrumar tempo. Então, eu gostei de ter participado, de ter dado a minha contribuição para isso, nesses 18 anos de Petrobras. Obrigado pela oportunidade.
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