IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Pedro José Perez. Eu nasci em Tupã, uma cidade no interior de São Paulo, em 29 de janeiro de 1952. INGRESSO NA PETROBRAS Me formei em Engenharia Mecânica na Unicamp, em Campinas, em 1975. Trabalhei um tempinho na General Eletric, com projeto de geradores, hidrogeradores. Passei no concurso da Petrobras em 1976. Fui admitido no dia 21 de janeiro. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Inicialmente, trabalhei na Ascam, um grupo específico dentro do que hoje é E&P - Exploração e Produção, para desenvolver a Bacia de Campos. O nome Ascam é qualquer coisa como uma Assessoria Especial para Desenvolvimento da Bacia de Campos, não me lembro direito. Foi um grupo criado para desenvolver inicialmente Garoupa e Enchova, e tinha também Badejo, mas foi cancelada. Eram as três primeiras plataformas da Bacia de Campos. Depois, com a exploração maior e descoberta de novos campos, como Namorado e Pampo, aumentou o número de plataformas e o grupo ficou pequeno. Então, eles criaram o Gecam – Grupo Executivo de Desenvolvimento da Bacia de Campos –, que já era um órgão independente, ligado diretamente à presidência, para dar continuidade ao desenvolvimento da Bacia de Campos. Acho que isso foi até o início da década de 80, quando acabaram os empreendimentos e acabou o Gecam. Uma parte do grupo foi pro E&P, em Macaé, e outra parte pra Engenharia, que antigamente era o Segen. Eu fui para Engenharia. BACIA DE CAMPOS – DÉCADA DE 70 Havia grande expectativa, não se pensava nesse tamanho, não tinha essa idéia, mas se sabia do potencial. Começamos com três plataformas. Meu primeiro trabalho foi o template de Garoupa, porque Garoupa tem um template lá em baixo, onde foram furados os poços, e foi usado isso como gabarito. Garoupa é uma plataforma fixa. Então, foi feito esse template lá na Bahia, na Equipetrol, que hoje nem existe mais, fechou. Era uma empresa nova, muito boa, na época, no...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Pedro José Perez. Eu nasci em Tupã, uma cidade no interior de São Paulo, em 29 de janeiro de 1952. INGRESSO NA PETROBRAS Me formei em Engenharia Mecânica na Unicamp, em Campinas, em 1975. Trabalhei um tempinho na General Eletric, com projeto de geradores, hidrogeradores. Passei no concurso da Petrobras em 1976. Fui admitido no dia 21 de janeiro. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Inicialmente, trabalhei na Ascam, um grupo específico dentro do que hoje é E&P - Exploração e Produção, para desenvolver a Bacia de Campos. O nome Ascam é qualquer coisa como uma Assessoria Especial para Desenvolvimento da Bacia de Campos, não me lembro direito. Foi um grupo criado para desenvolver inicialmente Garoupa e Enchova, e tinha também Badejo, mas foi cancelada. Eram as três primeiras plataformas da Bacia de Campos. Depois, com a exploração maior e descoberta de novos campos, como Namorado e Pampo, aumentou o número de plataformas e o grupo ficou pequeno. Então, eles criaram o Gecam – Grupo Executivo de Desenvolvimento da Bacia de Campos –, que já era um órgão independente, ligado diretamente à presidência, para dar continuidade ao desenvolvimento da Bacia de Campos. Acho que isso foi até o início da década de 80, quando acabaram os empreendimentos e acabou o Gecam. Uma parte do grupo foi pro E&P, em Macaé, e outra parte pra Engenharia, que antigamente era o Segen. Eu fui para Engenharia. BACIA DE CAMPOS – DÉCADA DE 70 Havia grande expectativa, não se pensava nesse tamanho, não tinha essa idéia, mas se sabia do potencial. Começamos com três plataformas. Meu primeiro trabalho foi o template de Garoupa, porque Garoupa tem um template lá em baixo, onde foram furados os poços, e foi usado isso como gabarito. Garoupa é uma plataforma fixa. Então, foi feito esse template lá na Bahia, na Equipetrol, que hoje nem existe mais, fechou. Era uma empresa nova, muito boa, na época, no centro de Aratu. Eram 300 toneladas e isso foi colocado lá no fundo. Foi praticamente a primeira atividade, porque Namorado I, que veio da Escócia, afundou, teve um problema durante a navegação. Então, na verdade, Garoupa foi a primeira plataforma, dentro das fixas, foi a primeira estrutura. Foi lançado esse template e foram perfurados os poços. Durante a perfuração dos poços, se construiu a jaqueta e o convés, também na Bahia, no canteiro de São Roque. E os módulos foram construídos ao longo de diversas cidades, como Rio de Janeiro e a própria Salvador. Posteriormente, terminaram a perfuração dos poços, a jaqueta foi encaixada em cima desses poços e foi dada continuidade com a operação chamada tieback, e ela começou a produzir. E eu participei também da fabricação da jaqueta, em São Paulo, no canteiro, e da instalação. PIONEIRISMO Foi interessante acompanhar essa primeira instalação, porque éramos os pioneiros. Ali já começou a mostrar a potencialidade da Bacia de Campos. Durante a fabricação de Garoupa, começou a surgir Cherne 1, Cherne 2, Namorado, que desmembrou em 1 e 2. E teve Pampo. A gente chamava de as sete irmãs: Garoupa, Enchova, Namorado 1 e 2, Cherne 1 e 2 e Pampo, então, tivemos um potencial realmente muito grande. Garoupa foi uma escola para todos que participaram, porque a gente não conhecia bem a Bacia de Campos, em termos de comportamento, para instalação dessas unidades. É relativamente calma no verão, mas no inverno é complicado e tem um swell, quer dizer, uma onda que vem de longe, que atrapalha as embarcações que trabalham com guindaste. É uma onda longa, que vem lá do Rio Grande do Sul, chama-se swell. Em português, acho que é marulho ou qualquer coisa assim, não tenho certeza. Isso realmente prejudica muito a instalação e foi uma surpresa, porque o próprio instalador de Garoupa chegou lá de helicóptero, olhou e falou: “Ah, isso daqui em um mês nós instalamos.” E levou 11 meses. Quase quebrou a empresa, que era a Micoperi, porque a embarcação estava lá, o mar tranqüilo, mas estava balançando e não tinha condição de fazer os içamentos que são utilizados. Essa embarcação tinha um guindaste de 1,6 toneladas para fazer as movimentações, instalar jaqueta, os conveses e tal. Realmente, foi surpresa pelas condições de mar, porque o mar parecia tão bonito, calmo, mas ele tem o famoso swell que complica. BACIA DE CAMPOS / GAROUPA Garoupa foi uma escola, porque, por exemplo, a gente procurou fazer as instalações no verão, quando o mar é bem mais comportado. Era as instalações com içamentos, estrutura. As próprias instaladoras procuraram dirigir a instalação no período de verão. Em outras plataformas, durante a própria instalação, a gente também foi aprendendo e aplicando nas demais. Em seguida foi Enchova, depois veio Namorado I, e assim por diante. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Nessa época, depois de participar da fabricação de Garoupa, fiquei centrado na instalação, porque o Gecam não era um grupo tão grande e não tinha como atender o crescimento das demais plataformas. A Engenharia, que era o Segen, estava encerrando as construções das refinarias – a última foi em São José dos Campos. Então, eles estavam com mão-de-obra ociosa, que foi incorporada. A gente tinha muita obra e eles, ao contrário, pouca mão-de-obra. Isso foi dividido. O Gecam ficou com a parte de empreendimento, a parte de gerência dos contratos e a parte de instalação das estruturas no mar. E o Segen absorveu essa parte de construção dos diversos canteiros do Brasil. Depois, havia o hook-up, que era a interligação final dos módulos dessas plataformas. Basicamente, o convés e a plataforma são vários módulos e é preciso interligá-los: parte de tubulação, parte elétrica, cabeamento elétrico, enfim. Isso também foi feito pelo Segen. GAROUPA Swell ou Marulho Essa onda foi realmente uma surpresa para nós e ocasionou problemas com Garoupa, por exemplo, acidentes de rompimento de cabos. Devido a essas solicitações dinâmicas não previstas, isso tornou-se um desafio, quer dizer, um aprendizado. Na época, a gente procurou estender o conhecimento que nós tínhamos de Aracaju, que havia sido o berço inicial da offshore no Brasil. Mas Aracaju era bem modesto em relação à Bacia de Campos. A lâmina d’água lá era de 30 metros, no máximo. A profundidade de Garoupa era de 120 metros e, na época, eram consideradas águas profundas. Hoje, isso é rasa. Mas era um desafio para nós. Hoje, águas profundas são acima de mil metros. Nós trouxemos muita coisa, muito conhecimento de Aracaju para cá. Isso não se mostrou muito adequado, tivemos muitas dificuldades e fomos evoluindo: “Ah, lá nós fazíamos assim, vamos fazer.” Mas o resultado não foi muito bom. Então, já para a seguinte, para Enchova, houve uma mudança muito grande. DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO Em Aracaju era muito mais fácil o acesso por meio de mergulho, eram 30 metros. Em 120 metros já era complicado, tinha que usar o mergulho saturado, e as operações eram mais difíceis. Nós tínhamos a ROV [Remotely Operated Vehicle], um aparelho que tem uma câmera e mostra pra gente o que está acontecendo lá embaixo. Era mais rudimentar, na época, o ROV mais famoso era o 225, uma bolinha, uma espécie de bola mesmo, e só tinha a câmera. Hoje você tem ROVs com braços e com grandes potências, que fazem muitas coisas, e até muitos sistemas preparados para utilizar o ROV. Aquela época foi um período de aprendizado. Improvisávamos muito em sistemas, cimentação da plataforma, a própria instalação dos módulos. Isso foi uma evolução bem razoável, tanto que as outras, as seguintes, a gente instalou em muito menos tempo. Foi a escola de tudo, a gente mudou sistemas de fixação, de instalação, alteramos, foi bem interessante. Os equipamentos foram evoluindo ao longo do tempo, até pela necessidade de se ter uma ação efetiva lá embaixo. Porque o tempo de saturação do mergulho é grande, o tempo de permanência é relativamente curto e, depois, o tempo de dessaturação para o mergulhador é grande. Então, era uma operação muito cara, o mergulhador ganhava muito bem, porque havia um certo risco, hoje é bem mais controlado. Era muito valorizado e só tinha eles. Depois, com a evolução do ROV, partimos para a própria estrutura ter condições para o ROV operar, com hastes e tudo. O próprio ROV, com a manopla dele, ia lá, abria e fechava, não precisava de mergulhador, diminuía o risco e aumentava a velocidade dos trabalhos. Isso foi uma evolução grande, a gente passou a automatizar, a usar mais equipamentos, ao invés do homem, porque realmente as condições lá embaixo eram complicas. Mergulho saturado é uma situação de risco, embora seja controlado. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL No meu caso, por exemplo, depois disso, eu passei por outros empreendimentos, mas acabei indo para a embarcação da Petrobras, a partir de 1994 até hoje, porque antes eram contratadas. A embarcação que nós tínhamos, a BGL-1 [Balsa de Guindaste e Lançamento], que era base de lançamento de dutos e também de instalação de plataformas, tinha limitação de até 50 metros, atendia só o Nordeste, basicamente Aracaju. Com esse desenvolvimento, foi feita uma reforma para atingir 200 metros, que era o universo que nós tínhamos dentro dessas sete plataformas – a mais profunda era Namorado 2, com 172 metros de lâmina d’água. Então, isso foi modificado, a embarcação foi preparada para poder lançar dutos e plataformas até 200 metros e o guindaste aumentou a sua capacidade de 600 para mil toneladas. E falavam pra mim: “Pô, Perez, essa experiência aí, essas empresas estrangeiras te fiscalizavam, vem pra cá, vem aqui aplicar esse conhecimento.” Até porque a balsa, depois dessa reforma, também começou a operar na Bacia de Campos. Ela trabalhava só no Nordeste e, hoje, praticamente não sai da Bacia de Campos. Eu fui um dos que foi pra lá e trouxe essa toda experiência da balsa com os dutos. Hoje ela faz até 200 metros, e está trabalhando aí. Antes era importado, mas hoje é essa balsa que faz. PRIMEIROS DUTOS Inicialmente, naquela fase, foi estudado e se achou o melhor ponto para chegar no ponto A, que é Cabiúnas, perto de Macaé, porque a lâmina d’água rapidamente atingiu uma profundidade boa para essa balsa de lançamento poder chegar. Esse trecho de terra para o mar nós fazemos da seguinte forma: a balsa chega ao mais próximo possível, a gente coloca um guincho em terra e passa um cabo de aço ligando esse guincho até a cabeça do duto que vai ser lançado. Aí o pessoal começa a soldar esse duto na balsa, de 12 em 12 metros, e o guincho começa a puxar. A gente vai soldando lá e, para diminuir o atrito no fundo, a gente coloca bóias no tubo, ele vai com um atrito controlado, suficiente para chegar até a terra. Então, o melhor ponto era esse ponto A, de Cabiúnas, pois a balsa podia chegar próximo, ficava a 1.500 metros da praia. Também na época se estudou para atender a essas sete plataformas, e que seriam necessários dois escoamentos. Garoupa seria uma plataforma central-norte e Enchova seria a central-sul. Então, Garoupa receberia óleo de Namorado 1 e 2, Cherne 1 e 2, e Enchova receberia de Pampo, e ambas mandariam para terra. Em Garoupa, seria um duto de 22 polegadas para óleo e de 12 polegadas para gás, e em Enchova seria de 24 para óleo e 12 para gás. Então, saíam esses dutos, mais ou menos 100 quilômetros, cada um, e se encontravam lá no ponto A, convergiam no ponto A. Isso foi lançado numa balsa estrangeira, na época a gente não tinha condições de chegar até lá. Não acompanhei esse lançamento, mas acompanhei outros. Nesse daí eu estava na instalação das plataformas e tinha um outro grupo que acompanhava o lançamento desses dutos. E nessa mesma campanha foi feito também o lançamento dos dutos que interligavam essas plataformas, Garoupa a Cherne 1, Cherne 2, Namorado e tal. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Às vezes, comemorávamos um empreendimento maior. Mas o trabalho era tão contínuo que você acabava ali e já tinha outro pra começar Não dava nem tempo, infelizmente. Mas, uma vez ou outra, internamente, fazíamos alguma comemoração, estendíamos aquela mesa, quer dizer, acabou a instalação da plataforma de Garoupa, aí fazíamos a festa, na própria embarcação. O pessoal estrangeiro, no caso, os italianos da Micoperi, adoravam festa, como todo latino. Então eles promoviam isso internamente. Tanto que, no início, quando a gente começou, eles eram aptos a ter vinhos na mesa. Na época, havia uma restrição da Petrobras: “Não pode ter bebida alcoólica.” Nós chegamos lá e vimos aquelas garrafas: “Pô, o que é isso, recolhe tudo isso.’’ E eles falaram: “Sem vinho, sem trabalho.” Aí, devolve-se as garrafas. E foi ótimo, não teve problema nenhum, eles já estavam acostumados e nunca tivemos acidente. Não fazemos isso na nossa embarcação, mas eles se comportavam muito bem. No final, era aquela comemoração um pouquinho mais regada com vinho em uma maior quantidade, aqueles salgadinhos e tudo mais. Foi uma época interessante. No início, o navio veio abarrotado, porque eles tinham uma campanha grande, havia muito produto estrangeiro e era um tal de visita até lá para ver a obra, entre aspas. Na verdade, eles estavam atrás daquela manteiga, daquele vinho todo especial que os estrangeiros tinham. Eles traziam produtos estrangeiros. Na época, em 1980, nós tínhamos restrições, então eles tinham coisas muito interessantes. Com o tempo, foi sendo substituído por produtos brasileiros e a freqüência de visitas também diminuiu, foi proporcional. P-18 O que marcou foi o desafio de tentar acompanhar as águas profundas com a nossa balsa, a BGL-1. Um pouquinho antes, eu participei da construção da P-18, que foi a primeira plataforma de produção a ser submersível para águas profundas. Ela é do Campo de Marlim e, na época, era a maior do mundo, processava 100 mil barris por dia. Hoje esse número é modesto, já que as maiores unidades que nós temos processam 180 mil barris. Mas era uma semi-submersível nova, que foi construída em Cingapura e eu participei da construção. Ela está ancorada, se não me engano, na lâmina d’água de 940 metros, em Marlim. Eu participei da construção. Ela é considerada a maior plataforma, a que mais produziu até hoje. DESAFIOS / P-18 Foi um grande desafio, porque a gente tinha conhecimento de águas até 200 metros. A ancoragem, principalmente, foi um grande desafio, porque era a primeira vez que nós usávamos, nós pré-instalamos as âncoras. E foi até uma sugestão nossa de pré-instalar as âncoras primeiro, porque os barcos também não estavam aparelhados para lançar a essa profundidade. Hoje não, hoje existem barcos excelentes. Era um lançamento convencional de âncora, com amarra, com cabo de aço normal. Essa era uma composição, a única. Depois houve uma evolução do sistema de fixação, e diferentes lançamentos. A âncora passou a estaca de sucção e, depois, a âncoras-torpedo. E hoje, também, o cabo é de poliéster. Antigamente a gente ainda usava cabo de aço, mas pesava muito na embarcação, quer dizer, uma parte da flutuação dela era para segurar esse componente do sistema de ancoragem. Por isso que substituímos os cabos, para diminuir esse peso exercido à plataforma. Isso foi um desafio, porque as dimensões eram todas um pouco maiores, monstruosas, para a época. Saía de cabos de duas e meia para três polegadas e meia, as amarras eram enormes. Então, havia isso tudo e a duvida era: “Será que isso tudo vai dar certo?” E foi um espetáculo. Tinha os sistemas todos flexíveis, que até hoje, principalmente os poços produtores, ainda usa-se muito. E ele era todo pendurado na plataforma, pra não ter um cacho de flexíveis. Hoje já mudou o conceito, tem manifolds embaixo e sobem menos linhas. Mas, então, foi ótimo. A P-18 foi considerada a melhor plataforma da Petrobras, a que mais produziu até hoje, até por sua idade. Foi a primeira plataforma semi-submersível de produção. E, na época, era a maior do mundo, tinha uma planta de 100 mil barris por dia. E hoje ela está produzindo bem. Não tenho certeza, mas acho que está acima de 80 mil. Ainda é uma produção muito boa. COTIDIANO DE TRABALHO A P-18 foi a que me deu mais prazer, porque eu peguei do início ao fim. Depois, eu vim para a BGL-1, para a nossa balsa. Foi uma experiência realmente gratificante e um desafio grande, porque lá nós éramos os empreiteiros. Até aquele momento, a gente fiscalizava, sim, tínhamos atuação, mas, na verdade, o executor era outro, era contratado, eram os italianos, os chineses. A própria instalação dessas sete plataformas iniciais foi feita pelos italianos e a Heerema, uma empresa holandesa que existe até hoje. Então, também participei ali, mas como um fiscal, acompanhava e tal. A gente tinha muito conhecimento, auxiliava, mas eles que executavam. A partir do momento que eu fui para a BGL-1, nós passamos a executar. Nós tínhamos um cliente, que era o próprio colega da Petrobras, e a BGL-1 que executava. Aí o desafio era complicado, nós tínhamos que resolver os problemas que ocorriam, que não eram poucos, e responder também perante o cliente. Foi interessante. Dentre esses desafios de águas profundas, a balsa participou do lançamento das estacas de sucção, que são as âncoras, no caso, da P-19 e da P-18. Ela ficou ancorada a 720 metros e eu e um colega, o Manoel Henrique, da balsa também, ficamos no rebocador. Pegávamos as estacas de cinco metros de âmbito por 15 metros de altura, 80 toneladas, e tinha uma bomba em cima que, quando você colocava no fundo, ia tirando a água. E a estava ia descendo pela pressão e pelo vácuo, porque saía a água e você via ela penetrar e espetar, e é ela que segura a plataforma. Hoje tem a P-19 e P-26, que nós fizemos, e tem outras que eu não sei, que foram feitas por outro órgão. Então, nós somos os pioneiros nisso também e nessa profundidade. Na época, recebemos até visita de americanos, porque eles iam fazer no Golfo do México e vieram ganhar experiência aqui conosco, vieram aprender. E isso foi realmente um desafio grande, pra mim, pro Manoel, porque nós ficávamos sozinhos no barco. Um comandante que fornecia o barco e nós é que comandávamos a equipe, tinha ROV também para ver e tinha um pessoal da balsa, trabalhadores de convés, que fazia o manuseio dos cabos todos. BGL-1 – BALSA DE GUINDASTE E LANÇAMENTO A BGL-1 tem 120 metros de comprimento, por 30 de largura. Ela é de uns oito metros de altura, com deslocamento para oito mil toneladas. Lança dutos de três a 40 polegadas, até 200 metros, e instala também. Aqui na Bacia de Campos, ela participou da instalação de manifolds. Nós também, ousadamente, fomos até 620 metros, ancoramos e lançamos manifolds de 420 toneladas pra produção. Lançamos vários manifolds. Ficava aquela tensão pra ver se tudo dava certo, era adaptado, nós tínhamos que tentar. Fizemos emendas de cabos elaboradas, guincho, e tudo no limite pra conseguir atingir ali e deixar dentro da posição almejada. Adrenalina ficava lá em cima sempre, durante toda a operação, mas quando dava tudo certo, era um alívio muito grande. Mas foi tudo bem, tivemos grandes desafios e a gente conseguiu cumprir todos, com a balsa. Essa estaca de sucção mesmo, a primeira foi 1.080 metros, variava. A P-19 variava de 920 a 980 metros, a P-26 de mil a 1.080 metros. E foi a primeira colocada com esses cabos. Tinha a estaca, um pedaço de amarra, porque esse cabo de poli não pode ficar roçando no fundo senão desgasta. Tinha um pedaço de amarra, o cabo de poli e lá em cima outro pedaço de amarra. No caso, as plataformas semi não tinham vindo, então a gente colocou umas bóias para ficar esperando a conexão, estávamos instalando antes, pré-instalando. Havia uma expectativa muito grande na Empresa toda, porque ela jogou toda a produção, todo o desenvolvimento dessas plataformas seguintes com esse cabo, foi um pioneirismo total da Petrobras. Depois os outros começaram a notar, os gringos até falaram: “Estamos esperando vocês pra ver o resultado. Se der certo, a gente aplica.” Então, era o primeiro cabo que nós estávamos instalando e o Cenpes participou muito desse desenvolvimento. Isso foi na P-19. Eles ficavam muito ansiosos perguntando: “E aí, já foi tudo?” Depois que nós instalamos, puxamos e colocamos lá: “E aí, deu certo, foi tudo certo?” Estavam aflitos, e a gente até brincou. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS BICHOS ESTRANHOS Nessa lâmina d’água, a mil e poucos metros, a gente viu uns caranguejos albinos, brancos. Eram caranguejos grandes, enormes Tentamos até pegar alguns com o ROV, mas não conseguimos, eles correram. É muito turvo, tem a lama, então não conseguimos capturar o caranguejo. Aí a gente brincou com o rapaz do Cenpes. Ele perguntou: “E aí, o cabo, foi tudo legal?” Falei: “Não, o cabo está tudo bem.” Era um cabo branco também, desses de diâmetro oito. Falei: “Tá tudo bem, mas tem uma série de caranguejos branquinhos aqui que estão picando o cabo.” E o cara: “Ah Não é possível, não acredito” Mas era verdade, o caranguejo era realmente branco, albino. Havia vários, dezenas, mas acho que não picou nada, porque até hoje ela continua lá. Isso fica na mente, mas não porque a gente ficou impressionado. Eram uns caranguejos enormes, como esses que tem no Chile e na Espanha também. Eu conheço Cingapura, porque estive lá com a P-18, e lá também tem um caranguejão, eles chamam de siri e é de um quilo, um quilo e 100, um quilo e 200. A gente não cansava de pesar, porque eles ficavam em exposição, você escolhia o maior, pesava e cobrava, e preparava ali. Víamos outros bichos estranhos à beça, porque a luz não chega até lá, então você vê coisas muito estranhas: formato de cobra, umas coisas penduradas – acho que para ter alguma sensibilidade –, parece um olho pendurado, tipo desenho japonês, aqueles monstrinhos, uma coisa feia, meio peixe, meio cobra. O caranguejo era mais comum. A gente instalou 24 estacas de sucção e, volta e meia, estavam lá os colegas, os bichinhos passeando. Eles não se interessaram pelo cabo de poli. Tentamos pegar um caranguejo, mas não foi possível, ele foi mais rápido. Era muito perto, mas o solo é de lama e, na hora que revolve, a gente não vê mais nada, porque o ROV se move com hélices, então ele vai atrás com o braço tentando pegar. O braço também não é muito prático pra pegar aquilo, tentou, mas não conseguiu. É tipo um vídeo-game, com o menino lá em cima controlando. Seria interessante, não sei o que ia acontecer, mil metros, lá em cima, explosão, porque a pressão é muito grande lá embaixo. TRABALHO EMBARCADO BGL-1 – Balsa de Guindaste e Lançamento O meu amigo, Manoel Henrique, não mora aqui, ele mora em Brasília, porque trabalho embarcado você tem essa possibilidade de morar fora. Ele reveza comigo lá na balsa. Nós trabalhamos embarcados na balsa, que faz instalações no Brasil todo. Eu vou para o Brasil todo. O último trabalho foi no Espírito Santo e agora ela está na Bacia de Campos, lançando um duto em substituição a outro antigo, que está lá desde aquela época, em Garoupa. Depois, acho que ela volta para o Espírito Santo, depois vai pra Tramandaí, no Rio Grande do Sul, e pra Bahia. A gente não pára. Onde tem dutos a lançar e estruturas a instalar, a balsa esta lá. É a única que nós temos, em termos de lançamento de dutos rígidos de aço e instalação de estruturas. A balsa é da Petrobras e atende o mercado de águas profundas até 200 metros. Acima disso, se contrata empresas de fora, com sistema de lançamento já apropriado pra águas profundas, ou então usamos lançamento de flexíveis, que também é feito por outro tipo de barco. Agora mesmo também lançamos uma plataforma no Espírito Santo, Peroá-Cangoá, em 67 metros de lâmina d’água. BACIA DO ESPÍRITO SANTO Eu acho que isso, aparentemente, está se estendendo. Os nossos dinossauros começaram por aqui e acho que ficaram ao longo da costa. Você vê, no Espírito Santo tem Golfinho agora, que está na nossa agenda, no nosso cronograma pro lançamento de dutos. Tem petróleo em águas profundas lá no Espírito Santo, mas pro sul, vamos dizer, Guarapari. Onde nós estamos agora é mais em cima, um pouco acima de Vitória. Peroá-Cangoá é gás, mas é água rasa. E estamos lançando o duto de um terminal mais ao norte, quase com a divisa da Bahia, pra exportação de óleo mais pesado, de terra. Eles têm, no Espírito Santo, um óleo ótimo para lubrificantes, que tem valor para lubrificante. Mas antes, nós não íamos para o Espírito Santo, e agora estamos dividindo um pouco do tempo com a Bacia de Campos, então eu acho que a tendência é subir. Estivemos recentemente na Bahia, por causa de obra que nós vamos fazer depois de Tramandaí, como eu falei, lá pra junho, julho, lançar também plataformas e dutos, gasodutos, em Manati. Em Manati já tem três poços pioneiros programados esse ano, pra águas profundas, no sul da Bahia, quer dizer, já na continuidade da Bacia de Campos, passando para o Espírito Santo. Tem pessoas otimistas que acham que isso vai até Aracaju e, eventualmente, ao Rio Grande do Norte. Tanto que Aracaju também vai ter a primeira plataforma em águas profundas, porque hoje é tudo água rasa, até 42 metros, então vai ter uma, em formato cilíndrico, também em águas profundas, já mais ou menos naquela área de interesse. Então espero que a gente tenha toda essa costa, já pensou? INTEGRAÇÃO ENTRE SETORES Há muita interação, obviamente. Eu vou dizer que é difícil, não é nada hipocrisia, porque essa Empresa é grande, cada um tem o seu universo nos departamentos, tem o seu objetivo. Como nós crescemos ali, a gente tinha muito contato, o grupo não era tão grande, então o relacionamento poderia ser melhor em termos estruturais, mas era bastante efetivo em termos pessoais. Teoricamente, deveria funcionar melhor, estruturalmente, conforme a organização. Mas funcionava relativamente bem e era um grupo que começou e se espalhou. Eles já entendiam o trabalhou todo, então foi interessante. Agora, está entrando um pessoal novo, que não conhece, não passou por aquilo, temos que explicar e colocá-los também nesse trabalho, mostrar como foram as nossas experiências, porque, às vezes, eles vêm com um pensamento, acham que é mais fácil, porque operacionalmente é complicado. Aqui no escritório é muito fácil, mas pra mim, que estou sempre na linha de frente, é complicado. No escritório, papel facilita tudo, agora lá, no local, na execução é difícil. Então a gente precisa de muita interação, porque, às vezes, na prática é bem diferente. A gente tentou passar isso, existe um intercâmbio, poderia ser maior, mas tem problemas de pessoal também, tem o seu trabalho aqui, é difícil se ausentar, até ter espaço, porque as embarcações também têm limites de poder receber, às vezes não tem balsa. Por exemplo, a BGL-1 está sempre cheia, dependendo do tipo de operação ela não comporta. E seria ótimo que essa turma nova, que está trabalhando e fazendo o projeto, fosse lá ver como é aquilo que ele fez ou projetou, porque, às vezes, a gente tem que alterar. Existe a interação, mas poderia ser melhor, confesso. Mas existe. O MAR COMO PATRÃO Agora, obviamente, a gente tem experiência, a gente já sabe, já tem antecedentes e tal, mas existe a preocupação porque sempre é tudo caro. Na área offshore, as coisas são muito caras, então existe a preocupação de dar tudo certo. E lá é o reino da lei de Murphy: se alguma coisa que pode dar errado, ela está lá, na área offshore, é o que realmente mais acontece. Então, como as estruturas que a gente manuseia são muito caras, a preocupação existe, não vou dizer que não, mas obviamente que a gente já tem um cabedal, às vezes, até lançamentos idênticos ou próximos, semelhantes. A gente sabe o que vai acontecer, conhece as etapas passo a passo, as operações já são feitas de forma a ficar tudo ajeitado, só mesmo um imprevisto, aquela coisa, porque dependemos do mar. Na verdade, o nosso grande patrão é o mar, não é nem o Dutra (José Eduardo de Barros Dutra), a gente depende do mar. Com mar bom, tudo é ótimo, tudo vai bem. Com mar muito ruim, também, suspende a operação, se tivermos lançando um duto, a gente abandona o duto no fundo, porque pode quebrar, então a gente abandona no fundo, devido aos movimentos. E como abandona, sobe uma cabeça, passa um cabo e o guincho, a balsa vai para frente e o duto fica no fundo. Na hora que melhora, porque a gente fica balançando lá em cima, a gente recupera, traz de volta, corta a cabeça e continua. Se tiver lançando uma estrutura, plataforma, tem que esperar, içamento, tem que parar e ficar esperando até acalmar, isso é ótimo. O chato é aquela fase intermediária, de não estar nem bom e nem ruim, não sabe se tá indo. Hoje as previsões de tempo são melhores, isso ajudou muito, porque antigamente era aquele sentimento, um filho. Antigamente era tudo adivinhação. Hoje já tem um grau de sofisticação maior, a gente tem uma previsão um pouco melhor, mas às vezes somos pegos de calças curtas porque ela erra, não na intensidade, mas erra no tempo. Às vezes atrasa um pouco ou adianta, adiantar é a morte, atrasar a gente ainda dá jeito. Mas essa parte melhorou bem. O chato é aquela fase intermediaria em que você começa a correr risco e tal, não, vamos, não vamos... Se você ficar, não, espera o sol, ótimo. As taxas de diárias das embarcações são muito caras, então realmente a gente tem que fazer até onde pode, e esse é o problema. O risco maior é esse. No caso da Petrobras, estamos em casa, então existe uma taxa de diária só para contabilidade interna. A nossa balsa é da Petrobras. Mas as outras são alugadas, e a um preço bem significativo. As taxas de diárias são em dólar, acho que agora vão passar pra, porque o dólar caiu. São de empresas de fora, normalmente, as embarcações menores, de apoio, tipo supply, uns rebocadores menores, brasileiros, mas os maiores são de fora, de empresas dinamarquesas, norueguesas, americanas também. A maioria é européia. Mas é isso, com o mar, não tem jeito, ele é o nosso patrão. AVALIAÇÃO Eu acho que, de uma forma geral, eu abrangi todo meu universo. No ínício, o Ascam, o Gecam, depois a Engenharia na P-18 e, recentemente, a BGL-1, a Balsa de Guindaste e Lançamento. Esse é o meu universo. São 29 anos de Empresa. Estou “aposentável”, mas, por enquanto, vale a pena, dá para resistir um pouco mais. O dia em que estiver ficando difícil subir nos helicópteros, o que não é muito fácil, aí acho que está na hora de parar. Mas foi ótimo; foi muito bom. PROJETO MEMÓRIA PETROBRAS Excelente, acho que tem mais é que fazer isso mesmo, porque senão as pessoas vão saindo e perde-se a memória. A gente que começou na Bacia de Campos – agora pode até ser rotina – mas foi uma coisa, uma aventura Foi muito interessante e até hoje é. Você vê: nem estou aposentado ainda, acho que vale a pena.
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