Paulo Roberto Maldonado

Projeto Memória Petrobrás

Depoimento de Paulo Roberto Maldonado

Entrevistado por Eliana Santos

Rio de Janeiro, 09 de março de 2005

Realização Museu da Pessoa

Depoimento PETRO_CB297

Transcrito por Susy Ramos

P/1 – Bom dia!

R – Bom dia!

P/1 – Queria começar pedindo que o senhor nos fale o nome completo, local e data de nascimento.

R – Paulo Roberto Maldonado, sou original do Rio de Janeiro e nasci dia 31 de maio de 1950.

P/1 – Senhor Paulo, o senhor pode contar para a gente quando foi e como foi o seu ingresso na Petrobrás?

R – Ingressei na Petrobrás em 18/11/80, e o que mais você quer saber?

P/1 – Como foi? O senhor tem alguma história...

R – Foi até interessante. Eu fiz todos os exames na Petrobrás e no dia que eu fui admitido teve uma coisa particular lá no (Edisa?), eu sou originário do (Edisa?) e da exploração da Petrobrás, e naquele dia, 18/11 era o Dia da Bandeira, né? Aí teve uma cerimônia grande em frente ao (Edisa?) e chamaram o mais jovem contratado da Petrobrás, que no caso fui eu, e o mais antigo da Petrobrás, que era o _______ – eu cheguei a trabalhar com ele depois. E essa cerimônia foi bonita, hasteamento da bandeira, ____________ era o presidente na época, foi algo que pelo menos assim marcou a minha entrada.

P/1 – Bom. O senhor pode contar para a gente, o senhor falou que foi direto para o (Edisa?), é isso?

R – É.

P/1 – E quais foram os locais que o senhor trabalhou, como era o seu trabalho, o senhor foi para que área? Conta para a gente um pouquinho desse ingresso.

R – Entrei para o (Edisa?) para exploração da Petrobrás e entrei direto para a geofísica marítima. Como qualquer pessoa da Petrobrás nova, eu inicialmente fui fazer alguns estágios, com a equipe sísmica da Petrobrás e para isso eu entrei na Divisão Geofísica, chamada de (Digef?). Na (Digef?) eu fiquei um bom tempo, até 1987, quando ainda pela (Digef?), algo bastante marcante para mim, duas coisas: eu fui chamado para participar e coordenar o Projeto Antártica, que era a montagem de um navio para ir à Antártica, e a gente foi dois anos seguidos, 87 e 88, e nós fizemos um bom serviço na Antártica, e também no Brasil, do norte ao sul, ou seja, do Oiapoque ao Chuí fazendo algo. Depois me tiraram da (Digef?), mas fui sempre ligado a isso aí, à geofísica, eu fui coordenar também a parte de um navio que trabalhava para nós, era nosso navio em convênio com a Marinha, para levantar o que se chama (Leplac?), levantamento da plataforma continental brasileira que foi um projeto enorme com mais de 320 mil quilômetros de dados adquiridos. Ajudou a compreensão maior das bacias brasileiras, isso aí eu tenho orgulho de dizer que uma boa parte do nosso sucesso está ligado a esse trabalho que a gente fez de compreensão geral, e hoje em dia esse projeto está sendo julgado na ONU, eu faço parte também do grupo que vai à ONU, já foi à ONU em setembro do ano passado para defender o Projeto (Leplac?) brasileiro. Nesse caso a Petrobrás participa intensamente com quatro pessoas, eu sou uma das quatro.

P/1 – E esse projeto, quais eram as expectativas que vocês tinham? Porque até então tinha aquela questão “não existe óleo, não existe no Brasil”, e como foi participar desse projeto para o senhor?

R – Ah, fantástico!

P/1 – Quais as expectativas que vocês tinham? Achavam que ia encontrar mesmo nesse levantamento?

R – Fantástico porque a gente partiu de áreas mais rasas para áreas cada vez mais profundas e isso foi um ensinamento grande porque a gente não tinha idéia exata das bacias, como se comportavam. O Projeto (Leplac?) deu um conhecimento amplo para isso daí porque nós tivemos primeiro esticar, em termos de exploração, a Petrobrás investiu um dinheiro grande em cima disso, não era muito econômico na época então nem se pensava, mas como exigia-se, o governo brasileiro, conhecimento de toda a plataforma continental brasileira para poder entrar na ONU, isso era em 87, então na época foi um projeto bem interessante porque a gente não conhecia nada. A gente olhava as (seções?) saindo da ______, a gente: “Pô, coisa nova!”, e hoje quando você vê as coisas caminhando e a Petrobrás cada vez em águas mais profundas você vê que você participou disso aí.

P/1 – Bacana! Em relação à descoberta da Bacia de Campos, quais eram as expectativas que vocês tinham em relação àquela área?

R – Quando eu entrei para a Petrobrás a Bacia de Campos já era descoberta, então a idéia foi ir cada vez para águas mais profundas, as seções sísmicas eram maravilhosas, e a gente ficava se perguntando: “Por que a gente não vai para águas mais profundas?”, mas a tecnologia...

P/1 – Mas quando o senhor ingressou na Petrobrás estava mais ou menos em que nível o trabalho lá na Bacia de Campos?

R – Estava-se trabalhando em 150, 300 metros no máximo. Isso foi aliás uma coisa bem interessante porque a gente ficava: “As seções são maravilhosas, por que não vai lá?”, a tecnologia não permitia e a gente teve que fazer uma série de adaptações para poder continuar avançando para águas mais profundas. Até hoje a gente continua com os mesmos problemas, nós já chegamos a, no nosso trabalho aqui a 3000 metros, mas sempre com os problemas que a gente tem que conviver, bolar as soluções e com isso obter imagens cada vez melhores para o pessoal acertar. Nós somos parte de um conjunto que prepara as imagens para alguém fazer um projeto, para alguém perfurar um poço, e quando se tem uma boa imagem você permite o sucesso disso aí e essa é a nossa parte hoje. Cada vez que você vai para águas mais profundas as dificuldades aparecem, são novidades, quem já foi em águas tão profundas? Via de regra a gente é pioneiro nisso até no mundo, apesar de existirem equipamentos, a gente às vezes encomenda equipamentos, mas sempre tem surpresa, você olha e diz: “Por que?”, e começa a pensar por que, a teoria na prática às vezes é um tiquinho diferente.

P/1 – E quais eram os desafios que vocês sentiam em relação à Bacia de Campos? Quando o senhor ingressou já estava em 150, 300, mas o que vocês sentiam de desafio?

R – O desafio é acompanhar essa necessidade de ir cada vez mais para o fundo e atender a demanda disso aí, ou seja, foi muito rápido, muito rápido.Quando eu entrei, saí, após sair, cumprir o (Leplac?) e a Antártica e vir para a engenharia, hoje estou na engenharia, a gente estava trabalhando a 300 metros no máximo, aí quando eu dimensionei os equipamentos para cá, que eram um pouco diferentes do que os que eu trabalhava na EP, esses equipamentos eu bolei: “Ah, 300 metros? Seiscentos metros, daqui a pouco eu estou até aposentado trabalhando com 600!”, aí 1800, 2000 metros, a gente já foi a 3000 e aí nem sei (RISOS).

P/1 – Vocês não tinham essa noção, né?

R – Não tinha, foi muito rápido, muito rápido. Porque o petróleo aparece, a gente vai ter que atender isso aí porque tem um risco grande, sempre há um risco grande envolvido e você tem que conhecer bem o fundo do mar para não causar nenhum acidente.

P/1 – E o que precisou ser modificado, senhor Paulo, à medida que iam chegando a profundidades mais elevadas? O que o senhor aponta na sua área?

R – O posicionamento. Você conhecer o que está no fundo do mar sem saber onde está não dá. Quando você está na superfície, hoje em dia você tem os satélites que te posicionam, antigamente era rádio, a coisa funcionava por rádio, mas o rádio tinha um limite, um alcance limitado e já em 87 nós jáutilizávamos o sistema GPS que o pessoal está utilizando hoje, nós fomos um dos primeiros no mundo a usar para ir à Antártica e fazer esse (Leplac?). A Petrobrás já usava isso aí em um naviozinho que a gente montou. Então na superfície ficava mais ou menos fácil de se posicionar e à grande distância da costa era fácil, mas quando a gente começa a imagear lá no fundo, e aí é como se você removesse a água, no fim das contas a água é um pacote que você tem que vencer, e a forma de vencer isso aí e conhecer bem o que está no fundo é através do som que é transmitido em sensores que a gente coloca no fundo e vem para a superfície. A propagação do som nisso aí é complicada porque existem várias camadinhas de água e isso muda um pouco o sentido da transmissão, a forma que é transmitida, e pode enganar a quem não prestar atenção e tentar investigar cada vez mais profundo essa propagação. Essa é uma grande dificuldade, vamos dizer, remover a água para os outros enxergarem, e você mesmo enxergar e com isso saber: “Eu estou aqui.”, e com isso você chegar em uma cabeça de poço lá no fundo com pouco erro e poder fazer o que tem que fazer.

P/1 – Conta para a gente mais um pouquinho dessas tecnologias desenvolvidas para o trabalho em águas profundas ao longo desses anos que o senhor têm acompanhado.

R – Nós fizemos desde equipamentos e métodos próprios até a concepção de alguma coisa feita sob encomenda no exterior. Até hoje a gente continua com os mesmos problemas, não os mesmos, sempre brinco: “Acabaram-se esses problemas, agora eu tenho outros que eu nem sei quais serão!”, e à medida que vão surgindo: “Ôpa, deixa eu pensar nisso um pouquinho e tentar resolver.”, mas via de regra, hoje o meu serviço, o meu trabalho é sempre e está voltado ao imageamento do fundo para projetos de engenharia e ao conhecimento do solo e subsolo marítimo para permitir fornecer dados para a engenharia de projetos. Então, você me perdoe, acho que aqui eu estou perdido. Você fez a pergunta...?

P/1 – Em relação às tecnologias adaptadas para águas profundas.

R – Via de regra hoje os equipamentos até que transmitem direito e tem algumas alternativas, antes a gente mandava o som da superfície para o fundo, agora a gente está pensando em mandar o som do fundo para a superfície e melhorar a performance da aquisição. Isso tudo faz parte de uma geometria que você bola e não dá para fugir muito, mas a concepção de como o som vai se propagando varia, e você mudando essa: “Olha, não vou mandar da superfície para o fundo, mas do fundo para a superfície.”, causa uma diferença grande. Aí vai melhorando a recepção aqui na superfície, porque no fim a gente está na superfície de um navio, e com isso a gente cada vez mais obtém dados com mais segurança, dados com menos erros, dados com maior poder de resolução. Nós hoje estamos envolvidos com mais um equipamento, por exemplo, nós temos o equipamento de imagem de fundo, para imagear o fundo, chamado sonar, só tem três no mundo, o nosso é um deles. Nós estamos trazendo, e já trabalhou agora pelo menos por uns seis, sete anos direto com esse equipamento, está mais do que pago, está muito bom para a Petrobrás, não dá para trabalhar em tanta profundidade sem ter esse equipamento. E hoje nós estamos partindo, é o mesmo equipamento, mas com novas tecnologias, são progressos que a eletrônica fez e que a gente está tentando se adaptar e ver se com essa adaptação nós vamos melhorar. Acredito que sim, a eletrônica evolui rápido, acredito que em torno de alguns meses devemos ter esse equipamento entrando em operação.

P/1 – Que equipamento é esse? O senhor me desculpa.

R – É um sonar de águas profundas e antes ele era um sonar comum, agora esse sonar, esse é outro detalhe, uma das coisas que a gente tem é que quando você emite o som da superfície o som vai como se abrindo em ondas, chega lá embaixo com o que nós chamamos footprint, uma marca no fundo muito grande, isso faz uma série de deformações que você tem que tentar corrigir e atrapalha a qualidade, então se Maomé não vai à montanha, a montanha vai à Maomé. O que nós fizemos? Não vou da superfície, vou botar lá fundo, tudo que eu tinha na superfície nós trouxemos para o fundo e o nosso sonar navega no fundo a faixa de uns 30 metros do fundo, qualquer profundidade que seja. Às vezes está com 7 quilômetros de cabo do navio, você está vendo o sonar lá embaixo obtendo as imagens, ele lá no fundo. Existia um sonar em superfície, mas para melhorar a qualidade essa é uma das soluções. Já que eu não posso, as deformações vão me atrapalhar, eu ponho esse no fundo e o negócio é saber onde ele está. Essa é a dificuldade hoje, ainda, sempre vai ser, a gente está sempre tentando melhorar.

P/1 – E esse trabalho é principalmente para estar mapeando esses campos, seria isso?

R – Meio ambiente e engenharia, porque surpresas e surpresas aparecem. Existiam coisas, que é quase igual usar óculos, você não vê porque não usa, mas no momento que você coloca os óculos: “Estou enxergando mais isso, estou enxergando mais aquilo.”, no geral você até enxerga sem óculos, mas quando você põe você vê com mais detalhe. E isso é igual, nosso trabalho é igual, o refinamento do que a gente faz permite enxergar cada vez mais e tem histórias e próprio desconhecimento. Como nunca foi em águas profundas e muito pouca gente já foi, o que vai surgindo de imagem é sempre uma novidade que a gente se delicia enxergando, olhando e tentando entender. E muitas das vezes têm situações em que essas imagens são coisas estratégicas, não posso nem dizer muito, mas que permitem a gente identificar: “Aqui tem um ponto de petróleo.”, só com a imagem.

P/1 – Para a gente conhecer mais um pouco do que o senhor está atuando agora, o senhor pode explicar para a gente um pouquinho como está o seu trabalho hoje, que o senhor falou que está na área de engenharia, como está isso? Como que isso relaciona, já que o senhor botou que é engenharia e maio ambiente?

R – É como eu digo, você não pode, e isso aí a engenharia há muito tempo faz assim, a única coisa é que, é quase igual trabalhar em terra. Como eu também iniciei as minhas atividades em terra, geofísica terrestre, no mar você tem que ter praticamente tudo que você tem em terra, a única coisa é que você tem um meio ambiente desfavorável para você chegar no fundo. Em terra, quando você vai construir alguma coisa, você tem que construir, montar um mapa da situação que você vai construir alguma coisa para você não cometer nenhum engano. Você construir em um local onde teria problema de fundações, em um local onde você poderia estar na beira de um barranco em terra e esse barranco deslizar em cima da tua construção, isso você vê toda hora em terra. No mar, é a mesma coisa. Se você partir para fazer alguma coisa lá sem conhecer, você está arriscado a ocorrer a mesma coisa, no mar, o fundo do mar é simplesmente o prolongamento da terra debaixo d’água, então tudo que existe em terra praticamente vai existir no fundo do mar.

P/1 – Precisou mudar muita coisa? Vocês precisaram adaptar muita coisa desse trabalho em terra para o mar?

R – Ah, estamos sempre adaptando. Até idéias novas a gente está avançando aí, algumas coisas tipo para referenciar as imagens, nós estamos lançando, em terra você coloca marcos porque não no mar? A única coisa é qual é o tamanho do marco, não tenho a menor idéia, bom, vamos ter que bolar, estudarmos isso com atenção para quando passarmos aquele nosso sonar eu enxergar, e a coisa vai assim. Mas tem uma correspondência direta, a dificuldade é: no mar a gente adaptar o que vem de terra para o mar, essa é a dificuldade.

P/1 – E o senhor destacaria alguma coisa que foi um marco de uma mudança precisa para esse trabalho no mar?

R – Basicamente a grande mudança foi na década de 90 quando, aí eu já estava aqui, a gente fez a modificação. Todos os sistemas eram analógicos, de 91 em diante tudo passou a ser digital, e o dado digital permite você primeiro, obter um grande volume de informações e tratá-los posteriormente; os analógicos não, eram todos em papel, então se você tinha uma boa imagem, tudo bem, se não teve, não vai dar para fazer nada depois, e isso era uma dificuldade grande. Esse foi um passo enorme, a mudança de analógico para digital.

P/1 – O senhor estava explicando para a gente também um pouquinho a sua atividade hoje em relação a esse trabalho na engenharia. Vamos retomar um pouco.

R – Hoje justamente, a gente já tem um modus operandi, as coisas funcionam, e hoje eu fico tipo aquele cara mais velho que fica olhando os jovens fazendo o que você já fez muito, mas sempre bolando situações novas para tentar melhorar a qualidade de tudo que é feito. A gente nunca deve ficar satisfeito com a qualidade do que você está obtendo, apesar de muitas das vezes você achar: “Tá satisfatório.”, sempre pode ser melhor. Eu acho que isso impulsiona o nosso trabalho, tudo pode ser melhor, eu sou um eterno insatisfeito, pelo menos eu.

P/1 – Você ficou quanto tempo no (Edisa?), senhor Paulo?

R – Fiquei de 80 a 91.

P/1 – 91? E o trabalho era sempre em terra ou o senhor embarcava, acompanhava?

R – Praticamente eu fui à terra, mas depois que eu entrei no navio, tinha até naquela época “Entrei de gaiato num navio”, aquela musiquinha, nunca mais saí. Fiquei nos navios da EP direto, no caso era fiscalizando, só tinha eu mesmo, aí depois a gente começou a montar equipe, no fim culminou uma equipe brasileira só fazendo geofísica, foi à Antártica, fez a Plataforma Continental...

P/1 – Quantas pessoas eram mais ou menos nessa equipe?

R – Na equipe tinha 21 pessoas efetivas, mas outro dia teve um CDzinho que a Marinha nos mandou e eu juntei todo mundo, 40 pessoas, tudo trabalhando no navio em rodízio. Trabalhando efetivo era 21, mas total 40 e poucos, uns 43, por aí. Todo mundo trabalhando no navio e eu tenho orgulho de dizer isso porque fora a Petrobrás ninguém nunca mais fez isso no Brasil, e só cinco países no mundo fazem, e a gente fez só com brasileiro e se tiver que fazer a gente faz de novo.

P/1 – Essa equipe que o senhor fala, esse trabalho?

R – É. Depois de concluído esse trabalho gigantesco de levantamento da plataforma, a equipe foi desfeita, a Petrobrás não achou interessante manter por vários motivos, e nós concluímos um trabalho, que é isso que está sendo julgado hoje na ONU, a partir daí a equipe foi desfeita, em 95, eu acho. Mas foi feito tudo só por brasileiro, todo mundo foi treinado, um grande serviço.

P/1 – Depois o senhor veio direto para o _____?

R – Aí vim para cá, vim para a engenharia onde estou até hoje. Acho que estou a mais tempo na engenharia do que fiquei no EP.

P/1 – E foi uma escolha sua vir para cá?

R – É, eu acho que eu sou eterno curioso. Na época lá no EP a gente trabalhava com levantamentos tridimensionais e aqui estava na fase do analógico – isso eu comentei com você -, então o pessoal: “Não dá para você ir para lá para a gente trabalhar junto?”, e eu adorava o pessoal daqui, a gente se dava muito bem. Com alguma dificuldade saí de lá, vim para cá e estou aqui até hoje, mas estou mais tempo agora na engenharia do que no EP, mas sempre em contato porque nosso mundo é muito pequeno, o número de geofísicos na Petrobrás também é pequeno, então os problemas são comuns. Quando eles têm problemas às vezes conversa sobre os problemas: “Qual a tua experiência?”, falo sobre a minha experiência, e aí a gente troca sempre muita coisa, os congressos também ajudam nisso, a gente não deixa de ter contato porque a ciência é uma só. A única forma, eu estou com a parte mais profunda, e nesse sentido eu já cheguei a trabalhar, o (Leplac?) obtinha dados de 18 quilômetros de profundidade. Petróleo, vamos dizer, a uns 3, 4 quilômetros, e hoje em dia estou aqui com 5 metros, 10 metros abaixo do fundo, varia, mas com muita resolução. Então, a geofísica é uma só.

P/1 – A conversa da geofísica com os engenheiros tem algum problema? Como isso funciona? Vocês estão lá mapeando e eles?

R – O pessoal sempre é muito afobado, sempre corre: “Eu estou com pressa!”, “Preciso disso urgente!”, mas eu acho que isso é até pertinente, mas o tempo mostra que se você se organizar direitinho ele rende bem. A gente está acostumado a suportar essas pressõezinhas.

P/1 – O que o senhor acha que mudou com a descoberta da Bacia de Campos? O que o senhor acha que significou para o país já que o senhor participou desse projeto tão amplo que foi o mapeamento do Brasil inteiro?

R – Do Brasil inteiro. Bacia de Campos é economicamente o coração de tudo que tem hoje no Brasil. Inicialmente começou na Bahia, até por mais facilidade porque é em terra, mas como a quantidade de óleo não era tão grande, a Bacia de Campos é quem deu essa abertura toda. Ela sendo centro é impressionante como a indústria responde ao estímulo, o petróleo é o ouro negro, onde ele estiver e a quantidade se for boa, os esforços aumentam e o homem é muito criativo. O homem é muito criativo, o que a gente vê de solução para a exploração é espetacular, é uma mistura de disciplinas, impressionante o mundo do petróleo. Você utiliza satélite, imagem de satélite, geologista, cartógrafo, geógrafo, oceanógrafo, biólogo, engenheiro químico, mecânico, naval, é muito grande, o próprio pessoal de apoio, secretárias, o mundo do petróleo é um mundo muito diverso, se você se acostumar e se adaptar e conseguir conviver com isso tudo junto é engrandecedor, é espetacular. Poucas pessoas podem ter a oportunidade de ver isso e ver: “Eu me encaixo aqui.”, isso é muito bom.

P/1 – Senhor Paulo, nesses anos todos de trabalho, o senhor teria alguma história marcante, engraçada que o senhor queira contar aí para a gente, que o senhor possa contar?

R – Só as pessoas que eu acho que trabalharam conosco, aliás, a gente vive fazendo, como eu disse, tem muita coisa que é surpresa, e as surpresas acho que são muitas das vezes causadas por nossos erros, a gente tem que admitir, então ainda bem que os erros, quando acontecem, não prejudicando ninguém, nem a empresa, nem acidente com ninguém, os erros se diluem, você acerta mais do que erra. Como a gente trabalha sempre na linha de fronteira, errar é uma coisa que você tem que admitir: “Errei!”, eu sempre falo: “Droga, errei!”, então quem me conhece, quem conhece, quem conhece, a gente trabalha com isso, essas coisas acontecem com freqüência, muitas das vezes a gente pode chegar e não querer admitir, ser teimoso, mas acontece. Eu sou conhecido por muitas dessas histórias (RISOS), tenho até vergonha, não vou falar não (RISOS).

P/1 – Não tem nenhuma que possa contar?

R – Quem me conhece sabe, todos eles brincam muito comigo, tem muita situação em que a gente investe em uma idéia e quer a solução, até todo mundo concorda que é a solução, mas a forma de fazer, às vezes o encaminhamento pode não ter sido o melhor, aí acaba: “Não deu certo.”, “Vamos refazer, aí dá certo.”, isso aí é comum. Eu tenho muita coisa, aí é muita história.

P/1 – E tem alguma descoberta que tenha marcado mais o senhor e tenha sido mais importante na sua carreira?

R – Descoberta?

P/1 – Em relação a esses mapeamentos, algum campo, algum trabalho que tenha marcado.

R – Isso foi fora até do Brasil. Lá na Antártica teve uma Bacia, que nós montamos o navio, tudo que era feito aqui era feito tudo dentro do navio, então você adquiria, processava, interpretava e já saía com o relatório pronto. Tinha um CPD, processamento e interpretação tudo a bordo, e quando terminava o trabalho já tinha o relatório pronto, isso é uma coisa incomum, até hoje não é comum. Então, em 87, você ter isso era um assombro, a gente fez, então lá nós descobrimos uma bacia nova para a região Antártica e que demos um nome para ele e ninguém sabia. Agora, se tem óleo ou não aí é outro assunto. Antártica é até um celeiro que o pessoal tenta preservar para a humanidade, lá certamente tem óleo. Nós descobrimos uma bacia lá que foi dada Bacia do Câmara, que era o nome do navio que nós estávamos, então nós descobrimos e foi dado esse nome. Isso é legal!

P/1 – Bacana! Senhor Paulo, queria saber o que o senhor achou de ter participado do projeto Memória e ter contribuído com o seu depoimento?

R – É a surpresa de que eu não tinha idéia de como seria. Você me deixou isso na curiosidade, eu acho que a pressão pode ter subido, mas eu não morri por causa disso.

(RISOS)

R – E tentar dar um depoimento é sempre algo que pode contribuir, eu sempre penso em quem vem atrás de mim já que eu chego às vias de me aposentar, mas eu sempre me preocupo com quem vem atrás. O que quem vem atrás vai fazer, vai continuar, porque a gente passa na empresa, contribui, mas a empresa fica e cresce, e você se preocupando com quem vem atrás, eu acho que é essa a forma de trabalhar. Então vocês com esse tipo de projeto, eu acho que é importante porque uma empresa ou um país sem memória não pode ir adiante e uma empresa que se preocupa com isso é uma empresa que eu acho que está fazendo tudo certo. E para fazer certo você tem que ter as pessoas pensando certo, e isso é muito bom, é isso que eu acho do projeto.

P/1 – Queria agradecer pela entrevista, muito obrigada!

R – Acabou?

P/1 - Acabou!

(fim da fita ____________).