IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Paul Edman de Almeida. Eu nasci no dia 28 de março de 1967, em Caçapava, aqui em São Paulo.
INGRESSO NA PETROBRAS
Meu ingresso na Petrobras foi em 1986. Eu achei um anúncio de jornal que estavam procurando operadores de refinaria, pra refinaria aqui de São José dos...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Paul Edman de Almeida. Eu nasci no dia 28 de março de 1967, em Caçapava, aqui em São Paulo.
INGRESSO NA PETROBRAS
Meu ingresso na Petrobras foi em 1986. Eu achei um anúncio de jornal que estavam procurando operadores de refinaria, pra refinaria aqui de São José dos Campos e ingressei em 86, pro curso de formação de operadores. Eu entrei como bolsista na primeira parte e, em 87, em 1º de julho de 87, eu fui contratado como operador de processamento. Fiquei como operador de processamento até 1997 - dez anos, praticamente - quando eu fui pra área comercial da empresa a convite do gerente comercial, na época, o Virgílio. Ele me convidou pra ir pra área comercial, porque eu tinha formação já em marketing e a empresa, nessa época, precisava de profissionais em marketing. Fui pra lá pra ajudar a estruturar o SAC Petrobras na Revap e, em 1999, eu fui pra área de comunicação e estou lá até hoje. Estou fazendo, neste ano, dez anos na área de comunicação.
Na verdade, quando eu entrei na Petrobras, eu já estava quase por concluir a faculdade de comunicação. Parei por conta do curso de formação de operadores e, em 92, me formei em comunicação social. Sou publicitário e deixei adormecido um pouco isso. Fui ser operador de refinaria. Em 95, eu fiz um curso de pós-graduação em marketing - em 97 concluí o curso -, e daí, logo depois da conclusão, eu fui pra área comercial aqui da Revap.
REVAP / PRIMEIROS TEMPOS
Eu era bem novo quando eu entrei, mas tenho uma lembrança da refinaria, de antes de entrar, porque, praticamente, o meu pai, militar, morou em vários lugares. A gente ficou um bom tempo aqui em São José dos Campos. Então, eu acompanhei a construção da refinaria porque eu cheguei aqui em 73, quando a refinaria foi concebida, em 74, quando começaram as obras. Eu era uma criança e o meu tio fazia transporte de pessoal aqui. Ele tinha uma Kombi, fazia transporte de pessoal e por várias vezes eu, criança, acompanhei o meu tio nessas vindas aqui e sabia que estava sendo construída alguma coisa, mas não tinha noção do que era.
Era uma coisa grandiosa, muita gente. E como eu morava num bairro aqui ao lado - meu pai era militar, nós moramos numa vila militar aqui, que se chama CTA -, da minha casa você avistava a obra da refinaria. E eu acompanhei todo esse processo de longe, até o momento da partida da refinaria, que eu me lembro de dias e dias com a tocha muito alta, que é uma coisa diferente pra cidade. Só que não tinha noção do que era exatamente. Aí, em 86, naquela perspectiva de entrar no mercado de trabalho, procurando emprego, tinha feito várias formações técnicas, tinha feito desenho técnico mecânico, tinha feito escola técnica agrícola, não sabia pra onde ia e como a formação exigida era nível médio, não tinha nada assim muito específico, eu fiz o concurso e passei pra função de operador.
COTIDIANO DE TRABALHO
Eu não tinha plena consciência do que era a função de operador. A gente sabia que era um serviço altamente perigoso, tinha os riscos todos envolvidos, mas a formação foi muito boa, a formação nos deu uma noção muito precisa do seria exigido da gente enquanto profissional e sempre gostei muito. A Petrobras foi, praticamente, a minha escola. Eu entrei aqui muito novo, com 19 anos, foi o meu primeiro emprego também. Então, até eu julgo que eu tive muita sorte na vida de ter entrado, pra um primeiro emprego, dentro de uma empresa como a Petrobras.
Eu fiquei apreensivo porque, na verdade, durante o curso de formação, nós não tínhamos noção pra que área nós iríamos, onde nós iríamos trabalhar. Existiam áreas perigosas, áreas menos perigosas, então ficava sempre aquela expectativa. A gente, molecão ainda na época, fica bastante apreensivo: “Puxa, pra onde eu vou? Que área eu vou cair? Que tipo de conhecimento que eu vou precisar ter?” Mas também nesse aspecto eu dei muita sorte: caí numa área de produção muito - como toda área de produção -, com muito risco, mas uma área de produção muito boa de se trabalhar. Era a área de hidrotratamento e geração de hidrogênio, que faz tratamento de diesel, de querosene de aviação, retirada de enxofre desse produto. E outra coisa, que eu julgo muito importante, é que eu caí na mão de pessoas muito boas, em termos de tutoria. Então, os meus tutores aqui dentro, as pessoas que me formaram, eram pessoas muito experientes de uma época diferente do que a gente está vivendo hoje. Tinham uma formação até bem simples, eram pessoas muito simples que entravam como operadores e também me ensinaram muita coisa. Então, acho que eu sempre dei muita sorte dentro dessa minha trajetória na Petrobras, por esses aspectos.
TRAJETÓRIA NA PETROBRAS
Fui trabalhar com marketing. Isso foi importante porque eu vinha de uma formação de comunicação, embora eu não tivesse exercido a função de publicitário. Sabia que a empresa precisaria fazer um concurso e a empresa não tinha tantos concursos antigamente pra gente poder participar. Quando eu vim pra área de marketing, eu tinha acabado de me formar em marketing, eu estava muito entusiasmado com o que eu tinha aprendido e você cair dentro de uma área que estava nascendo, naquela época, também dentro da empresa... Foi logo na transição da lei do petróleo, na hora em que a Constituinte mudou a lei do petróleo e a empresa foi obrigada a se abrir pro mercado com a quebra do monopólio. Eu cheguei nessa hora em que a empresa precisava se estruturar pra atender as demandas da abertura de mercado. E foi um recomeço porque a partir dali, eu pude, de fato, exercer alguma coisa que eu tinha aprendido tecnicamente em uma universidade. Então, foi um momento muito feliz da minha carreira, aquela coisa de você acordar com vontade de trabalhar porque você está fazendo o que você gosta. Foi um momento muito rico. Rico e bem curto. Foram dois anos, praticamente, dentro dessa área em que, vamos dizer, se você for pegar em termos de currículo, em dois anos, eu consegui encher um currículo que eu não consegui encher em dez. Então, eu julgo que foi muito rica essa fase pra minha carreira. Julgo também que me fez repensar algumas coisas em termos de carreira, em termos de profissão, em termos de como que eu queria conduzir a minha vida dentro da empresa também. E a Petrobras coloca na tua frente muitas oportunidades e essa foi mais uma que apareceu.
O grande desafio nosso era criar uma cultura voltada para o cliente. Uma empresa monopolista, até então com alguns pequenos esforços, ela nunca pensou em atendimento ao cliente: “Olha, tem isso aqui e o produto da nossa empresa é esse. Vocês tem que comprar o nosso produto. O mercado não está aberto pra outras coisas, pra outras empresas.” Então, essa cultura de atendimento ao cliente - que eu diria que é uma cultura que ela vem se consolidando, não se consolidou totalmente -, mas imagine isso logo depois da quebra do monopólio Então, nós viemos pra implementar o SAC Petrobras, que não existia, o serviço de atendimento ao cliente. Viemos pra ser mais pró ativos nessa relação com o cliente. Foi um momento de muito desafio, de muita dificuldade, de fazer com que as demais áreas da empresa entendessem a proposta de atender bem o cliente e, principalmente, porque também o departamento comercial - até então ele não era vinculado à refinaria, ele era como os antigos departamentos da Petrobras, Depin, departamento industrial... E era o Decom. Então, o Decom tinha recém chegado na refinaria com outra estrutura. Essa coisa comercial era uma coisa meio que afastado do dia a dia da refinaria. Então, o propósito de fazer essa transição foi um desafio bastante interessante. Diga-se de passagem, eu saí da produção pra ganhar menos do que eu ganhava e pra ganhar mais trabalho, mas foi uma fase muito feliz porque eu sabia que eu estava construindo uma coisa que seria definitiva pra minha vida profissional.
O convite para a Comunicação, na verdade, foi uma surpresa porque eu já vinha dessa formação de comunicação e com alguns assédios da comunicação. Algumas vezes já tinham me procurado, perguntavam se eu queria ir pra lá, mas nada muito concreto. Em 1999, o que aconteceu? As pessoas que estavam na área de comunicação se encontravam no limite. Elas queriam se aposentar e foi uma fase engraçada porque um colega nosso, o Andrade, ele já tinha ido pra lá a convite do gerente geral, pra comunicação, mas ele ficou sem equipe porque todo mundo se aposentou. Ficou uma pessoa ou outra lá só e daí veio o convite porque eu tinha sido indicado, também, pra ir pra área como gerente, mas acabou se consolidando o nome do Andrade e o Andrade veio me fazer o convite. Falou: “Pô, você não quer aproveitar e vir pra cá também? Porque eu estou precisando de gente. Você é da área de comunicação. A gente é da mesma universidade, contemporâneos de universidade.” E eu falei: “Tá bom, vou aceitar o desafio de ir pra comunicação.” E estou lá até hoje. Toda a minha formação, eu tive que reaprender, vamos dizer assim, na prática, no dia a dia, a lidar com as coisas da comunicação, e daí eu digo que se existe a questão da felicidade no trabalho, é o que eu faço. Eu acho que essa dedicação que eu gosto de ter com as coisas da comunicação, que é um universo amplo de possibilidades, não é só a comunicação interna, não é só assessoria de imprensa, não é só o patrocínio, é trabalhar com memória, é trabalhar com a comunidade, é fazer relacionamento, é fazer lobby - no bom sentido -, lobby político, é ajudar a Petrobras no dia a dia a colocar os seus empreendimentos em prática. Então, eu acho que eu sempre tive muita sorte e compreensão por parte dos gerentes gerais com quem eu trabalhei. Eles sempre entenderam a comunicação como um valor pra companhia. Isso foi fundamental pra que a gente conseguisse desenvolver um bom trabalho e hoje, graças a esse trabalho, tem uma boa referência dentro da empresa.
REVAP / CARACTERÍSTICAS
Eu acho que cada refinaria tem a sua particularidade. A Revap tem uma particularidade diria que até um tanto quanto difícil, porque ela foi uma refinaria que chegou numa cidade, que você imagina em 1973 pra 74, governo militar ainda, Médici estava no governo, a cidade era uma cidade que era área de segurança nacional por conta do Centro Técnico Aeroespacial, comando da aeronáutica estava aqui e tudo mais. E o prefeito daqui era biônico, o Sérgio Sobral de Oliveira, um prefeito biônico. A refinaria chegou nesse contexto de imposição porque a Petrobras tinha áreas em Tremembé, uma cidade vizinha, pra construir a refinaria e por uma manobra política, o prefeito Sobral conseguiu trazer pra cá essa refinaria, só que em meio a uma imposição muito forte porque aqui já era uma reunião de loteamento pra casas, construção de casas, e o governo Médici mandou desapropriar: “Desapropria, vamos fazer uma refinaria aí.” Então teve muita negociação e a chegada da Revap aqui foi muito traumática pra cidade, foi bastante traumática. Reconstruir essa confiança junto com a comunidade foi bastante complicado. Durante muito tempo, a refinaria muito fechada e tudo mais, mas eu diria pra você que a Revap se fez com pessoas de vários lugares diferentes do país e é uma característica da cidade. A cidade aqui também é assim. É uma cidade bem cosmopolitana, uma cidade que sempre recebeu muita gente pra trabalhar. Até dizem que São José não tem muita identidade, o primeiro joseense deve ter nascido há uns 20 anos atrás, então muita gente de fora. Essa mistura de culturas fez com que a Revap fosse uma coisa diferente. Então, aqui é como você sempre se sentisse muito em casa, muito à vontade, a gente não criticando nenhuma tipo de cultura. Mas a gente roda algumas outras refinarias em que ou você é daquela cultura e você entende aquela particularidade daquela refinaria, ou você vai achar que eles são muito frios, vai achar que eles tem uma dificuldade de relacionamento, mas não é o temperamento. E aqui na Revap é sempre uma coisa que até quem nos visita, fala: “Poxa, aqui se é sempre muito bem recebido. Vocês tem uma hospitalidade muito grande.” Então, aqui a gente é muito companheiro um do outro, em termos de relacionamento no dia a dia, a gente se comporta bem como uma família mesmo. Essa é a grande característica da Revap, é todo mundo se ajudar, todo mundo se conhecer. Isso que é bacana aqui.
REVAP / PROJETOS SOCIAIS
Eu diria que nós temos inúmeros projetos, nos últimos anos, realizados com a comunidade, mas tem alguns particulares que eu gosto muito. Existe um projeto que, atualmente, está sendo patrocinado pela Revap, que é um projeto de inclusão social por meio de música erudita. É uma orquestra sinfônica popular que foi constituída aqui pela ação de algumas pessoas, de uma comunidade vizinha aqui a Revap, a Vila Tesouro, e que tem dado resultado fantástico do ponto de vista de inserção social e de, vamos dizer assim, repercussão até internacional, na mídia. Até a UNESCO já premiou esse projeto. Chama-se “Orquestra Cidadã”. É o nome do projeto. As crianças vão tendo formação de música erudita e tem obtido uma repercussão bastante boa. A gente fica muito feliz com isso. Outro projeto, também, que nós recentemente patrocinamos, chama “Óleo da Solidariedade”. É um trabalho ambiental e social, um trabalho em que se busca conscientizar as pessoas pra não descartar o óleo de casa, o óleo de cozinha usado, no esgoto. É para recuperar esse óleo e transformar ou em sabão, pra ser vendido, ou mesmo, agora, em biodiesel. Então, a grande fonte agora está sendo o biodiesel e todos os ganhos que esse projeto traz em meios ambientais. Porque cada litro de óleo que você despeja na pia da tua casa, tem um impacto violento em termos de saneamento básico. Depois, precisa tratar e recuperar esse óleo e tudo mais. É um projeto que está começando, está ganhando posto, a mídia já está batendo muito em cima desse projeto, positivamente, e a gente fica bastante feliz, porque é uma contribuição. Fica aquela coisa de a pessoa ter a atitude de não jogar o óleo da cozinha no local inadequado. Então, a gente está vendo que a entidade está conseguindo chegar num ponto de sustentabilidade com o projeto, com a venda do sabão, do óleo pra se fazer biodiesel. Isso tem dado uma alegria bastante grande pra gente também. São projetos que eu destacaria dentro de vários outros projetos que a gente está fazendo, voltado para o socioambiental.
REVAP / MEMÓRIA
Eu queria deixar registrada essa tentativa que a gente está fazendo de comemorar os 30 anos da Revap de uma maneira adequada. Que a gente pudesse abraçar o maior número de possibilidades, que não deixasse escapar nada em termos de lembrança, memória, porque eu tenho trabalhado nessa pesquisa junto com a minha equipe, nessa área de comunicação, e é muito rico a gente ver um pouquinho da vida das pessoas que ajudaram a fazer isso aqui, a construir a Revap. E no ano que vem, quando chegar 2010, a gente vai poder comemorar esses 30 anos aqui da Revap. Que a gente possa, de fato, fazer aquilo que a Olga Mattos fala que é: “A bela morte do herói grego.” Que ele morre no combate porque ele sabe que morrendo no combate ele vai se tornar rememorado pelo tempo todo e por isso vai ser imortal. A gente quer imortalizar um pouquinho dessa unidade aqui, pelo menos, agora, na marca dos 30 anos. A gente quer deixar isso bem lembrado pras futuras gerações que passarem por aqui.
Nós estamos ainda na fase de elaboração do projeto, mas a gente já tem alguma ideias centrais do que a gente imagina fazer. Uma das coisas marcantes nesses 30 anos, é que a gente está vivendo dois períodos distintos, em termos de refinaria, mas ao mesmo tempo semelhantes também. Porque há 30 anos atrás, a gente estava começando a Revap aqui em São José dos Campos e, agora, com 30 anos, a gente vai partir uma nova refinaria, após o projeto todo de modernização, e também com a chegada de uma nova geração de pessoas aqui na Revap, que talvez não tenham noção do que foi a primeira fase. A gente está chamando o projeto de “Travessia”. Uma travessia de 30 anos. E pra esse pessoal que está chegando agora - que talvez não saiba o é viver sem um Windows -, a gente quer mostrar um pouquinho da dificuldade que foi essa trajetória até agora em termos de tecnologias disponíveis que nós tínhamos na época, pra se projetar uma refinaria. Então, levantando dados históricos, fotos que nós temos aqui, da época, a gente está vendo o quanto era difícil projetar uma refinaria. Tinha que se fazer mesmo uma maquete de tudo, da planta e, hoje em dia, você tem tudo isso computadorizado. Quer dizer, as pessoas talvez não saibam a dificuldade que foi. Então, a gente está querendo, primeiro, intitular esses 30 anos como travessia. A gente está colocando isso como o mote principal do nosso projeto de 30 anos e contar, dentro dessa travessia, um pouco da história de pessoas que vieram, na época pra cá, pra construir a refinaria, pra projetar a refinaria, enfim, e que muitos deles estão aqui até hoje. Então, a gente vai poder fazer essa ligação histórica daquele período com o período que a gente está vivendo agora, com o ponto de vista de diferenças, que existem, e, ao mesmo tempo, mostrar pras pessoas novas que estão chegando. A grande leva de pessoas novas chegou a partir de 2004, 2005, então eles não tem essa referência histórica do que seja a Revap. Então, a nossa ideia é constituir um documento - que eu estou chamando de “documento” porque a gente não está querendo chamar muito de livro não -, a gente quer gerar um documento histórico com recortes das épocas todas que nós vivemos, a partir de documentos oficiais, boletins, de jornais internos nossos. A gente está contando a história a partir do que já foi contado e fazendo a costura disso com a algum texto complementar, alguma coisa que precise ser incorporada, depoimentos, tentar fazer essa ligação histórica dessa maneira. A gente já está constituindo esse trabalho, a ideia é a gente fazer o livro, colocar um momento em que as pessoas possam comemorar isso também, ou seja, uma festa de comemoração em que a gente possa mostrar um pouquinho do que foi a Revap, até agora, pras pessoas que estão chegando. Enfim, a coisa vai ser austera, mas vai ser marcante do ponto de vista de causar emoção. A gente não quer fazer nenhuma firula em termos de comemoração, mas quer colocar o marco referencial importante. Uma das idéias, também, é se criar a partir do convite que nós estamos fazendo a um escultor local, um marco histórico do ponto de vista de uma escultura que marque esse momento, uma escultura que simbolize energia. Esse foi o tema dado ao escultor. A gente quer que ele trabalhe o tema energia, ligado aos 30 anos da refinaria. E essa escultura, também, vai ter réplicas em tamanho menor pra que seja a láurea oficial pras pessoas, pra distinguir pessoas. Então, um determinado empregado que merece destaque, alguém da comunidade que mereça um destaque, essa vai ser a forma de se reconhecer as pessoas do ponto de vista de láurea, de colocar um tipo de medalha, vamos dizer assim, pras pessoas. Esse também é outro ponto que a gente está trabalhando. Nós estamos trabalhando junto com vocês alguma coisa, alguma perspectiva de trabalhar no projeto memória também, documentando a história de vida de algumas pessoas aqui da refinaria. Enfim, basicamente, a espinha dorsal do projeto é essa. E vamos tentar trazer também, pras comemorações, os antigos superintendentes, os gerentes gerais que passaram por aqui. A gente deve reinaugurar a galeria com a imagem deles, com a foto deles e tudo mais, e devemos convidá-los para estar aqui também. A gente já fez os primeiros contatos, a gente tem visto que as pessoas já ficam emocionadas em ser lembradas nesse momento em que a refinaria está por fazer 30 anos. Então, a gente acredita que vai ser uma parte emocionante do trabalho também.
REVAP / MODERNIZAÇÃO
Estamos vivendo uma fase de modernização. O interessante é que esse projeto, basicamente, moderniza a especificação dos combustíveis no país. Isso é uma coisa nacional, está sendo feita em todas as unidades. Esse é o ponto técnico da modernização. Do ponto de vista da comunicação nossa, aqui da nossa área, a gente trabalhou bastante a questão, vamos dizer, relação com a sociedade e o projeto. Porque a refinaria chegou aqui, em 1974, de uma maneira muito unilateral, não houve discussão, não houve participação da sociedade, se ela queria ou não uma refinaria na cidade. Nesse momento, agora - e agora que eu digo é 2005 -, as coisas já estão bem diferentes. Nós tivemos que ir a campo no momento em que a diretoria executiva falou: “A refinaria vai receber um investimento pra modernização.” Então, nós fomos a campo pra começar a escutar, primeiro, e, depois, conversar com a sociedade, conversar com a comunidade pra entender em que contexto nós colocaríamos essa questão da modernização da Revap pra sociedade. Foi um trabalho longo, um trabalho que começou em 2003 quando nós tínhamos algum indício de que o investimento já vinha pra cá. Começamos a conversar com a comunidade e já começamos a enfrentar as primeiras dificuldades, porque hoje a sociedade está muito bem organizada do ponto de vista ambiental, do ponto de vista dos movimentos sociais e nós precisávamos conversar, com uma linguagem adequada, com cada um desses públicos. Nós fomos a campo fazer isso. Projetamos, durante dois anos, como seria essa conversa, como seria essa aproximação e a gente julga que foi muito bem sucedido, apesar de algumas coisas pelo caminho. A gente, praticamente, fez cerca de oito ou nove audiências públicas por nossa conta junto das comunidades. Nada oficial do governo, mas nos reunimos com os vários bairros da região pra entender, pra saber quais eram as dúvidas, pra saber o que eles queriam, entender sobre o projeto. Levamos essa discussão toda pra comunidade e aí fomos, oficialmente, pra audiência pública, com alguns embates políticos, que nós tivemos. Na primeira audiência pública marcada, com todo mundo no local, só esperando entrar o Conselho Estadual do Meio Ambiente pra começar a reunião, chega uma liminar dizendo: “Está suspensa a audiência pública porque determinado partido, aqui, entrou com uma liminar.” Aí desfaz tudo é aquela coisa toda. Voltamos a campo, depois dessa liminar, pra tentar, de novo, entender, buscar o convencimento junto às pessoas. Daí sim, em 20 de janeiro de 2005, nós conseguimos fazer a audiência pública que culminou com a licença de instalação das novas unidades.
São 14 novas unidades. Muda, completamente, o perfil da refinaria, de produção. A gente, hoje, produz 20% do óleo combustível e o óleo combustível é um produto que, praticamente, o mercado não aceita mais. E a Petrobras também fez uma intensificação muito grande da entrada do gás natural. Então, é meio que um canibalismo, em termos de negócio, mas um canibalismo importante do ponto de vista ambiental. Entramos com o gás natural, estamos entrando cada vez mais no mercado e o óleo combustível, a partir do momento que ele está sem espaço, nós vamos converter esse óleo combustível em coque, que é o combustível sólido usado em siderurgia, usado em cimenteiras, em fornos. É um combustível sólido que é queimado em altos fornos. Hoje, o Brasil importa esse coque, principalmente da China, e a gente deixa de importar. Passa a ser autossuficiente nessa produção de coque, inclusive, com baixo teor de enxofre. Então é um coque que o mundo também vai ficar de olho nele, porque ele é um coque melhor. A partir da unidade de coque, você fracionou esse óleo combustível em uma série de outros produtos novos. O valor agregado da refinaria aumenta em termos de produção e isso se reflete também em benfeitorias pra cidade, no ponto em que o ICMS aumenta, o recolhimentos de impostos aumenta, a cidade também ganha muito com isso. A refinaria, hoje, já é a grande fonte de riqueza para a cidade. A gente responde por 41% do valor adicionado aqui do município, em termos de ICMS e a gente hoje está recolhendo na faixa de 800 milhões de reais. A gente vai passar de um bilhão de reais de recolhimento de ICMS. Isso, para o orçamento municipal, é muito importante, e isso também a gente tentou levar pra sociedade...
E, além disso, todo esse trabalho de modernização abriu novas vagas de trabalho. A gente teve que abrir o projeto em várias frentes, justamente porque tinha o lado social muito forte que as pessoas precisavam entender. É fundamental a questão ambiental, é indiscutível. A refinaria, depois de pronta, vai emitir 10% menos do que ela emite hoje, de emissões atmosféricas, efluentes hídricos, enfim, mas do ponto de vista social, ela é muito importante porque as obras tinham a previsão de gerar em torno de dez mil empregos. A grande batalha passou a ser por essas vagas de emprego. Apesar de a Constituição proibir a segmentação desse emprego, aqui em São José, nós trabalhamos num projeto de qualificação de mão de obra pró ativamente, desde 2005, pra que a gente pudesse qualificar e deixar as pessoas aqui da cidade numa condição de empregabilidade adequada. Até setembro desse ano, nós vamos qualificar cerca de nove mil pessoas, nas mais diferentes áreas. E essa qualificação, ninguém tira da pessoa nunca mais. Ela pode usar aqui, acabou a obra, ela vai continuar usando em outros locais. A gente está conseguindo manter o nível de empregos locais na faixa de 65%, que é um número bastante expressivo. Infelizmente, ou felizmente, a gente também está contribuindo com outras regiões trazendo algumas pessoas também pra cá. Então, a mobilidade desse pessoal é grande porque eles também vão passar a incorporar as obras do litoral que estão acontecendo em Caraguatatuba, que vão acontecer em Santos. Então, essa passagem de pessoas por aqui é muito importante. Só que a gente superou essa expectativa. Hoje, nós atingimos um pico de 12 mil e 500 trabalhadores e, hoje, a gente está com 12 mil, quer dizer, a obra já passou da metade, a curva já está flexionando pra baixo e daqui pra frente é a desmobilização da obra mesmo. Até 2011, é a desmobilização, mas o nível de emprego é muito alto desse período.
Em meados de 2011, a gente deve estar com tudo pronto já, com tudo funcionando. Então, essa parte social foi importante e considerando, também, que o emprego gerado aqui gera outros empregos na cadeia de serviço, materiais, então não para por aqui. Aqui são 12 mil, mas aí fora tem um efeito multiplicador muito grande. A gente nota que, do ponto de vista comercial, a cidade aumentou enormemente. Você não encontra casa pra alugar, o preço dos imóveis subiu absurdamente, a gente viu um crescimento na área de saúde, por exemplo, novos planos médicos entrando, porque todo mundo da obra tem assistência médica particular, não usa rede pública. Então, é um ganho muito grande pra sociedade de uma maneira geral.
CRISE ECONÔMICA / 2008
A palavra impacto é sempre complicada de explicar porque dá a impressão de negativo. No nosso caso, o impacto foi positivo. Podemos dizer que enquanto o mundo todo se viu diante dessa crise... A gente com vizinhos aqui passando por grandes dificuldades, GM, de um lado, Embraer, do outro lado... Embraer foi a maior demissão em massa que o Brasil já fez. Mais de quatro mil trabalhadores de uma única vez. A gente se viu aqui num oásis porque continuamos contratando, continuamos no mesmo ritmo, até superando esses dez mil empregos, que a gente esperava gerar e começando a ser olhado pela mídia, pela imprensa: “Espera aí. Alguma coisa está diferente.” Isso, do final do ano passado pra cá, de 2008 pra 2009. A Petrobras, inclusive, retardou o anúncio do plano estratégico, de como seria o plano estratégico, e a sociedade toda achava o seguinte: “A Petrobras também vai cortar os investimentos.” E a Petrobras, numa demonstração de acreditar no país, de acreditar no desenvolvimento, aumentou os níveis de desenvolvimento. Saímos de 112 bilhões de dólares pra 174 bilhões de dólares de investimento, na Petrobras inteira. Aqui, nós já tínhamos a carteira de investimentos aprovada, então, não houve modificação no que estava acontecendo. O que ficou pra sociedade: “Pôxa, a Petrobras vai continuar realmente investindo.” Porque uma indústria do porte da nossa, acaba alavancando muitas outras empresas, muitos outros tipos de negócios e foi isso que aconteceu, quer dizer, nós viramos um paradigma de que: “Olha, existe uma crise aí, mas em alguns lugares não tem essa crise.” E daí, São José começou a figurar como uma cidade... As cidades que tem obras da Petrobras começaram a figurar como cidades que eram locais de oportunidade. Isso ficou muito marcado nesse período de crise. A gente não sentiu tanto a crise.
PRÉ-SAL
O pré-sal é uma coisa interessante. É como quando a gente lê na história, que as pessoas já sabiam que existiam as Américas e, uma hora, o Colombo resolveu ver se era isso mesmo. Então, o pré-sal é uma coisa que a gente já escuta - não com esse nome - na refinaria, há algum tempo. Se não estou enganado, desde o final dos anos 90, início dos anos 2000, a gente já ouviu falar: “Olha, o Brasil tem uma reserva de petróleo que vai do Espírito Santo até Santa Catarina, que é um negócio gigantesco.” E as pessoas já tinham essa noção, por menor que fosse. A gente já ouvia falar disso. Então, na verdade, quando apareceu a questão do pré-sal, Tupi, Iara e outros campos, a gente viu que, na verdade, estava se confirmando uma coisa que já se falava há algum tempo. Então, pra gente - pelo menos pra mim -, não foi grande surpresa. Agora, o pré-sal meio que deu uma invertida na perspectiva porque a Petrobras tinha com ela o seguinte: “O petróleo brasileiro é ruim, então nós temos que ter refinarias muito robustas e preparadas e com metalurgia adequada pra evitar corrosão. E nosso petróleo é muito ruim.” E o que está sinalizado pra gente é que o petróleo do pré-sal, e das primeiras explorações que estão sendo feitas, é um petróleo de excepcional qualidade. Quer dizer, a gente se preparou pra uma batalha pesada e, na verdade, está vindo um petróleo de altíssima qualidade pra gente. Aí nós voltamos ao tempo em que a Petrobras, praticamente, importava todo o petróleo, processava o árabe. Então, a gente está com sinalizações muito positivas em termos de óleo bom, mas, por outro lado, se a gente está bem preparado, a gente pode talvez vender esse óleo bom, refinar em outros lugares. Há outras refinarias sendo construídas no Nordeste, mais quatro ou cinco refinarias, quer dizer, não vai faltar espaço pra gente processar esse óleo. Vai precisar de uma logística um pouco mais adequada pra circular com esse óleo de um lado pro outro, mas foi uma surpresa. O investimento da Revap, hoje, se a gente começasse a pensar nele hoje, do ponto de vista de negócio pra empresa, ele se mostraria inviável porque a gente se preparou pra uma outra coisa e os valores de retorno sobre o investimento não recomendariam mais esse investimento aqui. Hoje. Mas como a gente já está quase pronto, na verdade, esse negócio nosso tem outras possibilidades. Esse petróleo deve ir pra algum outro lugar ou compor a nossa cesta de petróleos aqui, de uma maneira que a gente até faça produtos melhores.
REVAP / MUDANÇAS
Quando se fala de mudanças, marcante é a tecnologia. Eu começo a ter dificuldade de acompanhar, acho que estou ficando velho, estou começando a ficar com dificuldade de acompanhar, não consigo. Outro dia, me perguntaram o que é Twitter? Eu fui tentar explicar e eu não sei se eu expliquei direito. Já estou ficando um pouco pra trás e eu não posso. Mas a tecnologia foi uma coisa muito marcante. Estamos procurando deixar bem registrado no documento que a gente está preparando, de 30 anos, de mostrar o seguinte: o quanto era difícil e como a lógica do pensamento era outra. Então, quando eu entrei, quando eu passei a ser operador, as coisas eram analógicas, eu trabalhava num painel de controle em que todo controle dependia da sensibilidade da pessoa que estava ali do lado de trás da máquina. Não existia, em momento algum, a possibilidade de você ter uma inteligência colocada no ponto de vista de nova tecnologia digital. Eu peguei um pouquinho dessa transição do analógico para o digital, em meados dos anos 90. A gente entrou numa fase de automação muito pesada e se mudou, completamente, a tecnologia. Então, hoje tem muita inteligência colocada no processo. Antigamente, a única inteligência tinha que ser do cara que estava atrás da máquina para um controle analógico e manual com a experiência das pessoas. Não que hoje não precise disso, mas a lógica é diferente. As possibilidades, hoje, de uma manobra operacional da precisão das coisas... Porque, antigamente, era, mais ou menos, alguma coisa e hoje em dia não. Hoje em dia, você tem a precisão, o sistema de controle da unidade em termos de emergências. Hoje, você tem controles lógicos programados em que você tem redundâncias, em que se escapou do teu controle você tem mais alguns controles que te falam o seguinte: “Se você não parar a refinaria agora, eu vou parar sozinha.” E ela para mesmo, não tem conversa. E numa condição mais segura do que se parava no passado.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Eu fui operador de campo durante muito tempo e no verão, às quatro e meia da tarde, tinha um bendito raio que caía antes da chuva e que derrubava, invariavelmente, a refinaria. Isso era praticamente todo dia, na época de verão. Derrubava energia, derrubava casa de força, derrubava tudo, então era fatal. O tempo fechava, começava a cair uns pinguinhos de chuva, dava o raio das quatro e meia. Você podia se preparar pra correr debaixo d’água pra poder apagar forno, acender forno, fechar válvula e tudo mais porque era tudo manual. Isso, hoje em dia, é uma coisa, praticamente, inconcebível. Você é uma refinaria que não tem continuidade operacional, não faz o menor sentido e, naquela época, era assim. Algumas vezes, isso acontecia à noite. Aconteceu uma vez. Acho que uma das piores vezes que eu vivenciei, em que acabou toda a energia da refinaria à noite, você tinha dificuldade de achar as coisas, caminhar na área pra achar as coisas: “Onde está o equipamento pra eu poder fechar a válvula? Pra eu poder rearmar aqui o forno?” Então, isso acontecia muito e uma vez aconteceu a noite, foi bastante marcante. Resolvemos porque uma hora amanhece e daí você começa a achar as coisas. A gente ia pra área e conseguia resolver. Então, uma coisa marcante, de lá pra cá, é a tecnologia.
REVAP / MUDANÇAS
Essa tecnologia implicou também, muito sutil, numa redução de pessoas. Quando eu entrei, nós éramos 14 pessoas na nossa unidade, uma unidade relativamente pequena em que você revezava sempre com alguém. Eram muitas pessoas. E isso a gente notou, que ao longo do tempo foi se reduzindo. Então, a exposição da pessoa ao risco... Hoje, praticamente, a minha unidade trabalha com um terço do que trabalhava na época em função da coisa analógica. Hoje, com a coisa digital... Mas não houve demissão, não houve nada porque foi uma coisa natural, uma transição, então a refinaria que chegou a ter quase duas mil pessoas da Petrobras trabalhando, hoje, trabalha com menos de mil. É uma coisa marcante. Até o coral. O coral que era uma coisa natural, ainda é em algumas unidades, a gente teve dificuldade de manter um coral porque não tinha gente suficiente, disponível pra manter. Agora, com a entrada dos novos, eles estão querendo reativar isso. Então, as coisas marcantes são essas, tecnologias, a forma de se trabalhar que mudou muito. E uma coisa interessante é o nível de formação. Nas pessoas que estão chegando, a gente nota o acesso a um ensino de melhor qualidade do que as pessoas tinham, naquela época. No começo, eu entrei com uma formação técnica básica. Hoje em dia já não é mais assim. As pessoas estão chegando muito mais preparadas dentro do ambiente de trabalho, são pessoas diferenciadas, são pessoas de uma geração diferente, de uma geração que já nasceu dentro da informática, nasceu dentro da tecnologia da informação e coisa que a gente vivenciou a transição. Então, a gente tem a comutação de pensamento, é um pouco diferente. Essa turma já é mais ágil, mais rápida, nasceu com o mouse na mão. Eu vejo isso pelo meu filho que está com sete meses. Você dá um brinquedo, ele gosta, mas também gosta das coisas que não são brinquedo, como do controle remoto da TV, o computador. É uma coisa meio natural dessa geração.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Há várias histórias, histórias marcantes, mas uma coisa que fica, principalmente, da fase da operação é o nível até de uma certa irresponsabilidade que existia, no bom sentido, em termos de trote. Acho que em todo lugar acontece isso, mas aqui na Revap, a gente até chegou a escrever um livro de causos, em 2000, porque tem muita coisa interessante. E uma das mais interessantes - que eu não vivi diretamente -, mas marcou a minha chegada - e aí eu fui entender a natureza da turma que estava aqui e que foi muito bom -, é que numa entrada de alguns operadores aqui na refinaria, isso em 86 - eu entrei em 86, mas fui pra campo mesmo em 87 - alguns engenheiros, algumas pessoas que coordenam o turno aqui da refinaria, armaram uma brincadeira com três operadores dizendo que eles tinham que levar uma caixa da casa de controle até o setor de segurança que, antigamente, chamava Sesin. E prepararam essa caixa de uma forma que ela parecesse uma coisa muito complicada e perigosa. Encheram de coisa dentro pra ficar bem pesada e meteram um monte de símbolo radioativo na caixa. Pediram pra esses três levarem a caixa, um peso danado Esse pessoal arrastou essa caixa pela refinaria inteira: vai num lugar e manda pra outro lugar e tal. E quando chega, enfim, lá no setor de segurança, o inspetor falou assim: “Espera aí gente Quem mandou vocês trazerem isso aqui? Isso é uma caixa radioativa. Vocês devem estar contaminados, vocês tem que tomar banho.” Aí mete água nos caras - isso de madrugada -, mete água nos caras e gente já chorando: “Pô, eu estou contaminado.” “Vocês tem que ir pro setor de saúde.” E vai pro setor de saúde. Passaram a madrugada com essas pessoas, um deles a ponto já de denunciar na polícia e tudo mais, porque alguém o tinha feito carregar uma caixa radioativa pela refinaria inteira. Enfim, depois eles fizeram a brincadeira, ao final do turno, e isso aí ficou muito marcado, mas todo dia tinha uma dessas, era muito divertido.
Há também o operador novo, que é chamado de borracho. Borracho é o pombinho que está treinando pra ser pombo-correio. A gente era tratado assim e até hoje se trata desse jeito porque o borracho leva e traz as coisas. Os novos chegavam, os borrachos, e mandavam: “Olha, vai buscar a conta de luz do setor lá na casa de força.” Conta de luz? Não tem o menor sentido. A energia é toda gerada aqui dentro. O que compra na concessionária não é o setor que paga. Então, o cara ia buscar, tomava banho, se ajeitava e era bastante divertido.
SER PETROLEIRO
Eu ouvi, uma vez, de um brigadeiro da Aeronáutica – eu fui na cerimônia oficial da sua despedida - que a maior dificuldade que ele sentia era tirar a segunda pele, que era a farda dele: “Isso aqui, realmente, me vai fazer diferença. Não vou saber viver sem isso aqui. Vou ter que me acostumar.” E o petroleiro eu acho que é a mesma coisa. E eu que não vim de nenhum outro lugar, eu vim da minha casa pra cá, eu não passei por nenhuma outra indústria, eu me sinto muito petroleiro.
O petroleiro tem uma essência de brasilidade muito grande. Eu acho que a Petrobras é o Brasil que dá certo, que deu certo. É a demonstração de superação de desafios mesmo. Acho que slogan mais feliz do o da Petrobras é impossível: “O desafio é a nossa energia.” É essa coisa de não ter barreira, de não ter um limite que seja intransponível, do ponto de vista de fazer as coisas, fazer as coisas acontecerem. Então, a Petrobras foi uma escola pra mim, na minha vida. Isso eu transfiro pra casa, quer dizer, pros filhos. A gente transfere muito daqui de dentro pra lá, de mostrar que não existe nada que seja impossível. Pode ser um pouquinho mais difícil de fazer. Acho que, às vezes, até esse mais difícil de fazer é até muito mais gratificante do que o muito fácil fazer. Então, fica muito essa questão de o petroleiro. É sentir essa essência de Brasil, de entender que as coisas podem ser boas, podem ser bem feitas, podem ter qualidade e da gente não ter limites pra superar desafios. Acho que isso marca muito a minha trajetória dentro da empresa e é o que me faz sentir muito petroleiro.
MEMÓRIA PETROBRAS
Sou fã do trabalho de vocês. Eu julgo que cada vez mais, a Petrobras com esse tino que ela tem, percebeu o valor que tem a memória. Então, a gente entender que a memória é um valor pra organização, isso é importante; cria os marcos referenciais e eu acho que a história é a história contada, é a história vivida, que faz a gente avançar. Não existe ninguém que possa avançar sem ter um referencial de um passado, do que aconteceu e como é que vai ser daqui pra frente. Então, eu acho que entender a história como um valor - que é o trabalho de vocês - é maravilhoso e eu adorei participar com meu depoimento.Recolher