Oxóssi e Iemanjá – Pinturas
Por Angelo Brás Callou
Quando eu fazia mestrado no Rio Grande do Sul, na abertura dos anos 1980, tinha uma colega de Salvador, Ana Mirtes de Sousa Trindade, que se tornou minha amiga até o seu falecimento precoce, em 2005. Era pesquisadora da Embrapa, em Bagé.
O que mais admirava na minha amiga era a forma sincera e direta de dizer o que pensava. Ambiguidades pareciam não fazer parte de seu universo linguístico. Uma vez, vendo-me falar qualquer coisa, olhou para mim, um ignorante em matéria das religiões afro-brasileiras (agora estou estudando, via Muniz Sodré), e me disse, à queima-roupa, que eu tinha duas divindades protetoras, uma de cada lado do meu corpo: Oxóssi e Iemanjá. Desconheço as razões das assertivas.
O fato é que esse momento ficou comigo até hoje. E, ao que parece, reafirmando-se nas telas em que ponho tintas. 2023 e 2024 foram anos pródigos, nesse sentido. Dedicado mais assiduamente à pintura, me dei conta, de maneira espontânea, que meus pincéis e espátulas sempre se voltam para árvores, florestas, montanhas, flores e marinhas, abstratas ou não. Se o humano aparece, é por vestígios.
Pensei: será que Oxóssi e Iemanjá me guiam entre os verdes das florestas e os azuis dos mares, cores que simbolizam essas divindades da natureza? Oxóssi é a entidade das florestas e do conhecimento; Iemanjá não fica atrás, é a rainha das águas e da sabedoria. O renomado escritor e pintor português Mário Dionísio, na sua “Autobiografia” (O Jornal, 1987), ao se referir à pintura, e à sua pintura em particular, diz: “Pintarei, pintarei, queiram ou não, possa eu ou não. É directo, é autêntico, é profundo, é espontâneo. E é como que gostar muito de alguém.”
Estou dentro!
Bairro de Campos Elíseos, São Paulo, 17 de dezembro de 2024.