Quando somos crianças não nos projetamos para sessenta anos, projetamos nossa vida, pra sermos apenas uma pessoa, com vontade de crescer. Isso não quer dizer que crescer seja atingir sessenta anos, o que nos anima é a esperança de completarmos maior idade, para podermos entrar em ambientes onde...Continuar leitura
Quando somos crianças não nos projetamos para sessenta anos, projetamos nossa vida, pra sermos apenas uma pessoa, com vontade de crescer. Isso não quer dizer que crescer seja atingir sessenta anos, o que nos anima é a esperança de completarmos maior idade, para podermos entrar em ambientes onde é proibido entrada de menores. Fazia parte da nossa vida encontrarmos a primeira namorada, e quase uma constante era nós apaixonarmos pela primeira professora, esperávamos ansiosos a fase de servirmos o Exercito, e o dia de começarmos a trabalhar, só que nem sempre isso era possível, dependia muito da cidade em que morávamos, pois na maioria das vezes, éramos obrigados a nos mudar de cidade, quase sempre a capital era o nosso destino. Isso
aconteceu comigo e com certeza aconteceu com você, e foi pensando assim que eu resolvi contar aqui Na Parede da Memória, tudo que eu vivi e o que aconteceu comigo, plagiando a musica de Belchior, que diz e eu confirmo, “viver é melhor que sonhar, e que o Amor foi é coisa boa, mais eu descobri que qualquer canto foi menor que minha vida” Por isso é que vou contar apenas memórias, mesmo sabendo que memórias são reflexões do passado até mesmo o ontem ainda tão próximo, já esta no passado, mais não se pode construir uma historia só de fatos presentes, ou futuro, é bom saber que o passado é o mais importante relato de todas as historias de vida das pessoas, esquecê-lo é não poder viver o presente, nem ao menos projetar o futuro, é do passado que vem os fatos marcantes às alegrias, as tristezas, as derrotas as vitórias, tudo que te faz crer se valeu ou não a pena chegar até aqui. É como se você pudesse estar em uma festa lá nos anos que se passaram, ao lado de seus amigos mais chegados, revendo conceitos e lembrando das coisas que fizeram, que hoje certamente não faria, ou faria, quem sabe, ou até mesmo sentindo-se importante por ter feito. Pense comigo é isso ou não, afinal de contas “Saudade não Tem Idade”. Quero antecipadamente agradecer aos Meninos do Alecrim, que fazem parte desta historia, e dizer pra eles, que sem a participação deles nada disso seria possível, vocês vão estarem para sempre no relato da minha historia, pois sem isso nada seria como foi, não tenho grandes pretensões, escritor, novelista roteirista, não nada disso passa por minha mente minha esperança é imortalizar as nossas vidas de meninos pobres do ponto de vista financeiro, mais muito rico do ponto de vista espiritual, pois não lembro de ninguém em nenhum lugar do mundo que fosse assim tão unidos como era a gente, que partilhávamos tudo, desde comida até roupas. Éramos felizes e não sabíamos, pois se soubéssemos que o futuro nos revelaríamos tantas surpresas desagradáveis, mil vezes teríamos ficado com as memórias do passado. Hoje a violência, as drogas, a desunião, a promiscuidade, nos dão a dimensão de como somos vulneráveis e medrosos isso não era pratica rotineira dos nossos dias. Mais está tudo bem vamos em frente, vamos pensar no melhor para assim nos sintonizarmos com o novo que tanto aguardamos e não vemos já estamos no novo milênio e os fatores ainda são os mesmos, estamos envelhecendo no aguardo da esperança renascer e isso não acontece que jeito vamos continuar aguardando, pois enquanto vivermos, haveremos de sermos aprendizes e sonhadores das coisas desta vida, sem nunca pensar em desistir, pois esta vida é só pra cantar, só pra amar, só pra viver, e só pra chorar tanto de alegria como de tristeza. Por isso não desista nunca, seja mais feliz e divirta-se. E no cordão do amor seja também um cantor, um poeta um eterno sonhador, como nossos pais.
A VERDADE QUE MERECE UM VEREDICTO Foi exatamente depois de cinquenta anos, que acordei de verdade pra a vida dando-me conta, de tudo que vivi e o que na verdade aconteceu ao redor da minha vida. Quem eu fui quem eu sou o que faço da vida hoje, o que fiz ontem e o que farei no futuro. Quem sabe? Vou tentar aqui traçar o que fiz e a razão da pergunta será que valeu a pena cinquenta anos depois o relato desta historia. Na foto do autorretrato em que mostro minha avó e meu avô, vale destacar que a vida deles não foi nada fácil. José Inácio Freitas oriundo de Ilhéus, no sul da Bahia, Eulina Ferreira Nascimento, oriunda de Rio Real Bahia, conhecer-se-ão no final dos anos vinte, em Alagoinhas, e em meado dos anos 30 casar-se-ão formando o primeiro casal dos Ferreira Freitas. Juntos construíram uma pequena família sendo essa sua grande luta, pois como Sargento da PM, dos anos 30 e 40, o único destaque era pertencer a volante que combateu o cangaceiro Lampião. E pra mulher dos anos trinta, ser dona de casa, era o maximo que se podia pretender já que a mulher desta época era totalmente submissa e obediente ao marido e não tinha liberdade nem de votar. Mesmo assim morando na provinciana cidade de Alagoinhas, na Baixa da Candeia, pra a época eram bem relacionados. Respeitados pela sociedade foram marcados por fatalidades, e tiveram uma curta passagem pôr este mundo. Com este casal iniciou a família, deles nasceram sete filhos, que são os pioneiros dos Ferreira Freitas. Walter Ferreira de Freitas, (Vava) Waldick Ferreira de Freitas (Didi) Wivaldo Ferreira de Freitas, (Bade) Eulinda Ferreira Freitas, (Linda) Eulenice Ferreira Freitas, (Nicinha) Eurídice Ferreira Freitas, e José Inácio de Freitas Filho. Alem desta pequena parte da família, havia registro da família de Eulina Ferreira de Freitas, a família de seus pais Dionísia Nascimento e Aurelino Nascimento. Este casal também teve filhos, alguns duraram muito pouco, outros viveram um pouco mais: “Eulina pôr exemplo morreu muito cedo, disso falarei mais tarde”. Teve ainda: Vicente Nascimento, José Aurelino Nascimento, Helenita Nascimento, Judite Nascimento e Maria José Nascimento, todos já falecidos, de Aurelino pai, não tenho nenhum dado ele morreu quando eu não havia nascido e nunca foi comentado nada sobre sua vida. Porem Dionísia Nascimento lembro-me muito bem, ela nasceu dia 09 de setembro de 1867, e faleceu dia 30 de setembro de 1962 com
95 anos e 21 dias, tratarei disso também mais tarde mais é bom dizer que Ela foi um amor de pessoa, crente da primeira Igreja Batista de Alagoinhas, foi chamada de mãe Dionísia, pôr ser parteira. A maior parte dos nascidos em Alagoinhas chegaram ao mundo pelas suas mãos amáveis, famílias inteiras como Vila-Flor, lá mesmo de Alagoinhas. Essa é uma parte da família que gosto de lembrar, trata-se das pessoas mais importantes na construção da célula humana Nascimento/Freitas, que através dos anos estão vencendo barreiras no mundo, deixando sempre uma semente plantada pra que a germinação seja eterna enquanto durar os Freitas nesta terra.
I - José Inácio de Freitas (Pai). O ano de 1942 foi marcado pôr dois acontecimentos decisivos na vida da família Freitas, o primeiro aconteceu no dia 15 de abril foi o nascimento de Eurídice Freitas, a filha mais nova entre todos irmãos motivo de esperança, já o segundo foi trágico, pois sem ter um fato convincente, sem uma explicação que pudesse justificar o acontecido, se é possível justificar morte de alguém, o então tenente José Inácio de Freitas morreu acometido pôr um infarto do miocárdio de caráter fulminante e esse fato mudou inteiramente a vida da família, aconteceu em novembro! Uma tragédia. Por isso todas obrigações familiares recaíram sobre dona Eulina, que agora teria que ser pai e mãe de 07 filhos sendo quatro homens três mulheres, onde o mais velho tinha só 15 anos, e a mais nova apenas sete meses pensem nesta situação nos anos 40. A esta altura sem muito conhecimento da vida, viúva e com uma filha recém-nascida, qual seria o caminho para uma dona de casa conduzir sua família. É verdade que a mulher dos anos 40 não era tão integrada a realidade social do seu tempo, trabalho era coisa muito difícil, e só pra homem como fazer para levar em frente aquela cruel realidade. Primeiro o poder da mulher para segurar os seus filhos e segundo como fazer para sustentar a família. Só tinha um caminho a seguir procurar alguma coisa para fazer, mais o que? O que estaria à disposição de uma dona de casa nos anos 40, que levou 17 anos de sua vida casada, dedicando todo o seu tempo a ser mulher de Militar, dona de Casa, e crente da Igreja Batista, quando a igreja também não tinha vocação social, não deu outra pôr ter uma sorte pequena o jeito foi ser lavadeira de roupa, honrada profissão não tem duvida, mais seria esse realmente o fim de uma pessoa prendada para ser dona de casa, e esposa de militar, que futuro teria viver nesses padrões. Essa batalha durou dez anos, e pra aumentar ainda mais a humilhante situação, as roupas que ela lavava eram de famílias de militares da época do seu falecido marido, e do batalhão de policia da cidade, mesmo assim ela não se intimidou, ficou sozinha no comando da sua família, pois não há registro de um outro casamento na vida de dona Eulina. Um sacrifício aqui outro ali e lá vão os anos passando, suas filhas ainda meninas ajudavam na tarefa de lavar roupa em fim era uma família lutando pela sobrevivência, na provinciana Alagoinhas, cidade que moravam. O resultado de lavar e passar tantas roupas com ferro de brasa eu conto adiante aguarde.
II
- Porque Morrer Tão Cedo?
Com passar dos anos era difícil imaginar que mais tragédia pudesse acontecer àquela família mais aconteceu são fatos tão marcantes que parece ficção, mais é a pura realidade. A morte prematura do Ten. José Inácio desencadeou uma onda de morte na família que nos anos seguintes só reservaram tristeza para todos. Pôr isso essa pergunta porque morrer tão cedo? na família da viúva Eulina Freitas, o sofrimento aumentava a cada ano que se passava saiba porque: era do conhecimento de todos, que os dois filhos, mais velhos deste casal, Walter (Vava) e Waldick (Didi), alem de irmãos eram muito unidos, amigos inseparáveis que nunca brigavam. “Talvez esteja faltando isso aos remanescentes Freitas dos dias de hoje” porem a fatalidade da vida quis que ambos morresse sem completar 30 anos, um golpe fatal pra uma mãe que acabara de perder o marido, foi ter que enterra dois filhos antes de completarem 30 anos, sem serem vitima de acidentes automobilísticos álcool ou drogas, fato comum nos dias de hoje. Vamos aos fatos, ao completar 18 anos os jovens tinham a obrigatoriedade de servir Exercito Marinha, ou Aeronáutica. No caso de Alagoinhas era Tiro de Guerra, isso não foi diferente pra Walter, (Vava) após o exame de seleção ele foi matriculado como atirador e passou a servir pôr o período de um ano, no TG de Alagoinhas, prestando serviço militar, comenta-se que ao pegar um peso de mau jeito, sofreu uma entorse e isso lhes causou muitas dores, nas costas essas malditas dores duraram-lhes muito tempo, pois sem ter um tratamento medico adequado tinha afetado a pleura membranas serosa que envolveu os pulmões, razão pela qual adquiriu uma gripe que nunca curava, como conseqüência das dores não tratadas, e dessa “gripe” quatro anos depois ele, veio falecer pelo que hoje chamaríamos de tuberculose ou enfraquecimento dos pulmões, tinha ele 22 anos e o ano foi 1949, esse foi o segundo desastre na família Freitas, Eurídice que era filha mais nova estava com sete anos. Sofrimento pra dona Eulina, pois não era possível aceitar calmamente aquela fatalidade mais era isso, tentar entender e compreender os desígnios da vontade de Deus, em lhe tirar um precioso bem, o seu primogênito difícil aceitar mais era preciso. Porem quando tudo parecia estar em paz, eis que surge um novo problema, Waldick, Didi que por pouco tempo assumiu o posto de primogênito era também homem honesto, trabalhador, e uma pessoa de ótima qualidade, que também passou pelo Serviço Militar Obrigatório e logo tornou-se funcionário de um curtume de couros que ficava no começo da rua XV de novembro, lá mesmo em Alagoinhas. Ali exercia a função de curtidor de peles, vai se saber na vida o que é um curtidor de peles, boa coisa tenho certeza não era, mas convenhamos era a sua profissão e ele gostava do trabalho mesmo sabendo que não era nada bom pra sua saúde, mais com o resultado do seu trabalho ele ajudava sua mãe no que era possível. Exercendo esta profissão ele era obrigado a lidar com vários produtos químicos a base de solvente, neutrol, e outros produtos tóxicos, altamente poluentes, alem de uma variedade de tintas químicas. O trabalho era na base da coragem, pois naquela época a palavra ESI (equipamentos de segurança industrial) não existia, algo como mascara contra gases, cheiros tóxicos, pó residual, e outros agentes poluentes eram complemente desconhecidos da maioria dos operários da época, exames médicos toxicológicos alérgicos, nem se ouvia falar, como conseqüências deste convívio nocivo, mas necessário pelo salário, muito trabalhadores perderam a vida por contrariem doenças alérgicas. Waldick foi um deles, contraiu alergia crônica pela inalação de agentes poluentes, essa alergia virou gripe que virou pneumonia que se agravou e como conseqüência, veio o enfraquecimento dos pulmões (tuberculose) que era doença incurável, após varias internações em um posto de Saúde, veio a falecer ainda muito jovem apenas 21 anos por insuficiência respiratória, consequência da tuberculose o ano foi 1950, Eurídice a filha mais nova, estava com oito anos. Será que existe explicação para fatos desta natureza, espero poder ter estas respostas, quando da breve volta de Jesus. Espero poder encontrar entre as muitas pessoas que a vida me tirou, esses meus dois tios, para que eles possam me contar o que na verdade aconteceu, e minha Vó Eulina que eu nunca conheci, mais todo mundo que conheceu fala coisas lindas dela no seu curto período de vida neste mundo.
EULINA FREITAS – UMA GUERREIRA Contando a historia de tanta crueldade, até parece que não havia alegria nesta família, mais não e bem assim. Com a morte do marido e posteriormente dos seus dois filhos mais velhos, dona Eulina, vendo-se viúva e só, afinal ela não era filha de gente rica, sentiu-se abandonada pela Igreja Batista, por falta do Amor dos irmãos, e sem ter uma orientação espiritual sustentável, afastou-se da Igreja, passando a ter uma vida complemente livre se pode chamar de livre alguém com uma carga de sofrimento tão grande. Pra aproveitar essa “liberdade” ela começou freqüentar festas tornando-se assim uma dançarina de primeira, isso contrariava terrivelmente a matriarca da família Dionísia, que queria todos os filhos na igreja, mais é bom deixar claro que o livre arbítrio é também obra da vontade de Deus, a salvação é individual, porem o amor que deveria ser coletivo, também estava no individual, só que quando as festas acabavam lá estava dona Eulina de volta a vida, de luta e sofrimento no rio lavando roupas, o desafio era criar seus cinco filhos, o primogênito agora era Wivaldo (Bade), que tinha mais ou menos 18 anos não sei ao certo. Pela ordem os filhos agora restantes: Wivaldo, Eulinda, Eulenice, José Inácio, e Eurídice é importante lembrar! Só quem trabalhava nessa epoca era dona Eulina. “quero aqui fazer um registro que venho omitindo, pôr força da historia: mais sempre que cito dona Eulina, e da minha avó que eu estou falando, quando citar dona Dionísia, é da minha bisavó que falarei”. Fico imaginando a vida de uma senhora, que foi casada com um policial militar nos anos 40, quando a mulher completamente alienada, era obrigada a ser mãe e dona de casa, tendo agora que ser o pai, e cuidar da educação dos filhos com o seu trabalho. A bíblia a respeito da mulher diz: Multiplicarei grandemente a tua dor no parto; em dor darás à luz; mais terás desejo pelo teu marido, e ele te dominará. Pôr força desta determinação bíblica a mulher era dominada pêlos afazeres domésticos, sua vida era inteiramente voltada para o lar, só que pra dona Eulina as coisas mudaram e o jeito foi enfrentar o rio catu, que passa pôr dentro da cidade de Alagoinhas, e lavar trouxas e mais trouxas de roupas de várias pessoas, inclusive dos militares, do quartel de policia onde seu falecido marido fio tenente, alem de familiares amigos, entre esses a família de um senhor de nome Maneca Valverde dono do único posto de gasolina da cidade quer humilhação maior. Era uma luta desigual, mais necessária pra sua sobrevivência. A vida não lhes foi amiga, mais mesmo assim teria valido a pena não fosse o fatídico dia em que após terminar uma lida de passar roupas, com aquele ferro de brasa, que era soprado no fundo pra esquentar, e ela com o rosto tão suado, pelo calor das brasas inocentemente resolveu lavar o rosto com água fria, isso gerou uma reação que se consignou em choque anafilático, causando anafilaxia geral no organismo levando-a um estado febril de quase 40 graus ela sentia tanto frio e tanta dor que não podia ficar em pé, fragilizada de tanto trabalhar, sem tomar vitaminas sem consultar medico, a situação se agravou de tal forma que levou minha avó a morte imediata, isso aconteceu no ano de 1951, foi a provação mais difícil que Deus colocou na família Freitas, pois com a morte tão prematura da minha avó, causou a orfandade geral dos seus cinco filhos, começou ali o maior sofrimento para os meninos, pois a pergunta que mais se ouvia era: e os filhos de Nininha, o que serão deles agora, era quatro de menor idade, sendo três mulheres, duas com idade adolescente, os outros dois crianças, apenas um com maior idade cinco pessoas no total, mais uma vez pela ordem Wivaldo (18 anos) Eulinda (16 anos) Eulenice (14 anos) José Inácio Filho (11 anos) e Eurídice (9 anos). Qual seria o destino dos filhos do Tenente José Inácio de Freitas, falecido em Novembro de 42, e dona Eulina Ferreira de Freitas, falecida no ano de 1951 é difícil imaginar, ninguém queria responsabilidade com filhos dos outros, até porque não era isso que se esperava, uma família se acabar assim tão cedo, como foi a família de José Inácio de Freitas e Eulina Ferreira de Freitas, que não tiveram o prazer de conhecer nenhum dos seus netos, estava aberta a temporada de sofrimento e a pergunta que não queria calar era, quem vai ficar com os filhos de Nininha.
I
- Meu Deus! Quem Cuidara dos Meus Filhos: Conforme esta sendo relatado a vida foi terrivelmente cruel para os fundadores da família Freitas, em 1942, após no nascimento da ultima filha, a morte do Pai, José Inácio. 1949 morre o Filho mais velho Walter, mais à frente 1950, morre o segundo mais velho Waldick. E como se não bastasse dois anos após a morte do Waldick, e nove anos após a morte do marido José Inácio, morre a mãe Eulina, não sei se ela coitada teve tempo de pensar quando estava em seu leito de morte, mais o imagino pensando: Meu Deus e se eu morrer como será a vida dos meus filhos? Que ira cuidar deles, Eurídice coitada a mais novilha, Eulenice minha baixinha, e Eulinda tão vaidosa, meu filho Zequinha, e o Bade com esse gênio, o que será da vida desses meninos se eu vir a faltar. A casa de mãe (Dionísia), é pequena, pôr lá tem muita gente, o que será da vida dos meus filhos. Ficarão em tuas mãos meu Deus cuida deles pra mim, assim o imagino pensando.
II
- O Destino de Cada Um Wivaldo (Bade) – O mais velho dos remanescentes porem o mais revoltado com a situação, devido ao seu gênio forte era muito difícil para ele associar situação de pobreza e orfandade sem reclamar da vida, e da falta de sorte. Não é possível viver desta forma pensava ele sem Pai sem Mãe, e com uma turma de pequenos para criar. Essa situação se agravava ainda mais, pois Bade não tinha um emprego, que pudesse transformá-lo no Primogênito ideal para conduzir a família, vivia praticamente de bico, fala-se que tinha um envolvimento com uma mulher de nome Carmelita, esta mulher até gostava dele mais não era nada serio, pois de tanta revolta ele não gostava nem dele mesmo. Tendo uma vida assim foi muito fácil para o rapaz se envolver com o mundo do alcoolismo. ‘Cabeça vazia é oficina do diabo’. Naquela época Alagoinhas era uma cidade que se movimentava através da rede ferroviária passando a ser conhecida em todo pais como o maior entroncamento ferroviário brasileiro pois todos os trens que circulava no Brasil com passageiros e cargas, passava pôr ali. O movimento era intenso de pessoas em viagem pra todos os estados brasileiros. Tanto no sentido sul como no sentido norte, tinham duas estações, (tem até hoje em ruínas) a Estação de Alagoinhas que era à base de apoio a passageiros destinados ao estado de Sergipe, e a estação de São Francisco que era como se fosse um aeroporto ferroviário, pois passava trens de todos os lugares, destinados a vários estados, Minas, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceara, Maranhão etc. Alem das cidades de Juazeiro, Itabuna, Ilhéus, Vitória da Conquista, no estado da Bahia. Tinha um trem chamado de Pirulito, que era a opção mais barata de se chegar a Salvador, este trem era diário, saia da Estação de Alagoinhas as 04:00 da manhã, chegando a Salvador às 08:00, retornava de Salvador as 18:00 horas e chegando em Alagoinhas as 22:00hs. Este foi o cenário da vida de Bade, pôr não ter instrução colegial passou a ser um ambulante, ou perambulaste da vida naquelas estações construiu ali seu mundo particular, pôr lá dormia pôr lá vivia. Esquecido de tudo e pôr todos amargurava-se na bebida, às vezes pedindo outras vezes trabalhando como vendedor de bugigangas, tudo pra esquecer tanta tristeza que a vida havia o deixado como herança. Uma vês ele apareceu na casa da Sua avó Dionísia, pra rever os irmãos e não se conteve, começou a chorar dizendo sempre, isso é muita miséria vó, um homem sem Pai sem Mãe, sem trabalho, com muitos irmãos pequenos pra criar, isso não é vida pensava ele. Coitado desse meu tio passava fome tinha varias necessidades vestia-se mal cheirava apenas a álcool não tinha basicamente apoio de ninguém, e nem de longe se parecia com o filho do Tem. José Inácio. Que falta que o pai e a mãe fizeram na vida deste filho, pôr conta deste total desprezo pra com a vida, ele acabou morrendo quase que como indigente, foi preciso que sua irmã Eulenice juntamente com a sua avó Dionísia fosse ao local fazer o reconhecimento do corpo para o sepultamento. Isso aconteceu exatamente no ano de 1953, o ano que eu nasci os amigos dele me contaram que ele era um excelente cantor, tinha uma voz muito bonita. Confesso gostaria de conhecer esse meu tio mais do que os outros, te-lo
podido ajudar a tirar do vicio, ser seu amigo, quem sabe ajudar a confortar na sua revolta poder chamá-lo de tio teria sido uma alegria muito grande pra mim e pra ele, com certeza, mais Deus não quis assim eu vou aguardar para poder vê-lo um dia já que o seu destino também foi à morte, mais a partir daqui vou falar dos remanescentes que viveram e mantém a viva a esperança Freitas ainda no ar, hoje, Silva Freitas e Freitas Conceição.
III - Eulinda Freitas (Falecida em 2013) Das mulheres a mais velha nasceu em 07/06/35. Morena bonita e vaidosa gostava muito de dançar, não tinha nada a ver com vida cristã, pôr isso nem cogitou ir pra a casa da sua Avó Dionísia. Já mocinha aos 16 anos, achou que podia trabalhar, logo achou emprego na casa do Sr. Maneca Valverde, ideal pra ela morar e trabalhar. Este senhor era um dos clientes que dona Eulina lavava roupas. Morando nesta casa Eulinda viveu dois anos, trabalhava, e nos finais de semana ia à casa da avó Dionísia pra rever suas irmãs e familiares, sempre que podia pegava as irmãs pra dar um passeio, nesta época Eulenice (Nicinha) estava com 14 anos e Eurídice com 10 para 11 anos. José Inácio Filho que tinha 12 anos, não ficou em Alagoinhas, falarei dele mais tarde. Estou relatando esses filhos, pois são esses os remanescentes da família Freitas, que como disse ainda estão vivos, pra contar a historia desta sofrida gente que começou com nove pessoas e agora tem apenas quatro filhos. Pois bem a vida de Eulinda não foi fácil, pois de tanta festa que ela freqüentava, estava na cara que ela logo arranjaria um namorado. Pior que ela arranjou dois, um para ela, de nome Oscar, e outro para Nicinha de nome Paulo. Eles dois também eram irmãos. Pra Oscar foi Amor a primeira vista pra ela apenas um namoro casual, que deixou macas de profunda tristeza principalmente nele. Não é tão difícil adivinhar o porque, ela uma menina indefesa sem pai sem mãe, atirada a festas, não foi difícil ser seduzida queria segurança, esperança de dias melhores, e por isso claro tornou-se preza fácil de ser atraída pôr uma boa cantada. Nesse particular ele foi perfeito porem na hora de assumir a responsabilidade, pulou fora e disse não ser ele o responsável pelo acontecido, e que não casaria com Linda de jeito algum, acho que ele disse isso orientado pelo pai, pois Oscar era um grande sujeito, eu conheci e posso afirmar isso, só que essa sua atitude gerou problema de tamanha gravidade pra a família de Linda, pois acabava de acontecer o primeiro caso de perda de virgindade, em uma família que só tinha mulheres no comando, não havia homens, e os que podia dar moral para as meninas, já eram falecido, no caso dos seus irmãos, ou já não morava mais em Alagoinhas, como era o caso dos tios Vicente e José, que era filho de dona Dionísia, ambos já estavam vivendo um no Rio de Janeiro e o outro em Sergipe. Contar com a Igreja na época era impossível às meninas estavam fora, então a situação ficou assim Oscar não assumiu, e Linda ficou como se dizia na época, ‘mulher solteira’. Só que Oscar sempre queria se dar bem, nem sempre dava certo Linda não aceitava mais às vezes ela cedia. Foi após estas “vacilações” que se descobriu o x da questão, Oscar era estéreo, não podia gerar filhos. Ai a coisa mudou Linda passou a não querê-lo mais ele arrependeu-se mais como diz o ditado arrependimento chega sempre pôr ultimo. Linda deixou Oscar e passou a ter sua vida livre e foi pôr causa desta “liberdade” que ela acabou sofrendo outras conseqüências, se envolveu com um rapaz “comprometido”, e acabou ficando grávida, foi o fim, pois era brigas pôr todo lado com a família e também com o pessoal da casa em que ela trabalhava, que de imediato tratou de mandá-la embora, sobre a alegação que era difícil manter em sua casa uma empregada grávida. Mal sabiam eles que Linda não era tão, mais que uma criança grande, desprotegida e órfã, que naquele momento precisava em muito de apoio, carinho, e um ombro amigo, mais o que achava era apenas não, não e não. Parecia moda naquela época mais os caras sempre se negavam a tudo, um negou a culpa sobre a virgindade, o outro agora negava a paternidade do filho que ela esperava. Sem ter muita opção ela foi tentar viver na casa da avó, onde já estava Eurídice e Nicinha, também não foi possível ficar pôr lá, mais dona Dionísia conseguiu falar com uma amiga de nome Maria da Luz, que levou Linda pra Santo Amaro de Ipitanga, hoje Lauro de Freitas, onde se casou lá teve filho Edson Freitas de Santana, vive lá até hoje. Falarei mais tarde quando eu nascer.
IV - Eulenice Freitas (Nicinha) Segunda das irmãs mais velhas nasceu em 22/07/37, e com apenas 14 anos já era órfã. Veio ao mundo com a missão de ser dona de casa, não era tão vaidosa, mais era bonita não era geniosa como o Bade, era carinhosa com os outros irmãos, só que também tinha as mesmas necessidades das suas irmãs, precisava urgentemente de segurança e afirmação, pois vivia uma vida de profunda tristeza, sabia que era muito difícil encontrar o que procurava, e sua primeira dificuldade foi saber onde iria ficar, inicialmente a casa de sua vó Dionísia isso apenas amenizava o sofrimento, imagino que até para dormir não era fácil, pois Eurídice irmã mais nova já estava lá, a resistência encontrada foi outra: Judite Nascimento, filha de Dionísia e tia de Nicinha fez uma força tremenda pra que a velha Dionísia recusasse ficar com Nicinha, a alegação era, que ela já estava com Eurídice e ter mais uma seria muito difícil sustentar. Poderia ser comovente se não fosse cruel, pois se não fosse ficar com a vó, com quem iria ficar a pobre Nicinha. A verdade é que dona Dionísia não foi na conversa de Judite, e aceitou Nicinha. Mais as condições eram as mesmas ter que se acostumar com a situação de pobreza, e ao mesmo tempo ser crente seguindo as instruções da Velha, que era uma espécie de matriarca de todos, pois como eu já falei, não havia homem, na família a não ser o marido de Judite, um padeiro de nome Sebastião, que não tinha muito que fazer com as meninas, muito menos com as irmãs de Judite, que no Caso era Helenita, e Maria José, que não levavam em conta a vida de Judite. Nesse clima de completa insatisfação Nicinha, veio morar com sua avó Dionísia. Há comentários que o problema das brigas de Judite, era pôr causa de uns pães que ela dava para a sua mãe Dionísia, e chegando uma boca a mais as coisas iria piorar, é bom lembrar que o pão que ela dava era o chamado “pão dormido” pois o do dia era para alimentação dela, e o que sobrava do dia anterior ela mandava pra sua mãe tinha também um outro problema Judite criava um rapaz de nome José Rivadavel apelidado de “Bio” nome que se tornou uma cruel marca em sua vida, ela queria que ele fosse doutor ou pastor mais o que ele realmente foi depois eu conto. A velha Dionísia ficava uma arara com tanta “sovinice” como ela mesmo chamava as atitudes de mana, mais assim mesmo aceitava os tais pães, porque realmente precisava isso revoltava a todos mais fazer o que. Querendo encontrar o que procurava, Nicinha não ficou muito tempo na casa de sua avó logo foi mandada para a casa de umas mulheres chamadas de as Oliveiras, não sei bem mais parece que essas Oliveiras era uma espécie de ONG, que tinha como finalidade instruir e educar melhor a vida de pessoas carentes. Não foi bem isso que aconteceu no que se refere à educação, porem no que diz respeito a trabalho culinário as coisas foram bem pra Nicinha, pois ela se tornou uma excelente cozinheira, sabe fazer tudo em matéria de comida, que vai de Feijoada Vatapá e Caruru a pratos nobres com Peru a Califórnia e etc.. ela foi forçada a aprender tudo isso com apenas 14 a 15 anos de Idade, não tendo direito a ter adolescência juventude, e muito menos festa de quinze anos. Conclusão a educação proposta pelas Oliveiras era apenas culinária, mais acho que valeu a pena, pois disso Nicinha nunca reclamou mais mesmo assim é de se lamentar. Estes fatos aconteceram no final do ano de 1952, quando caminhávamos para o ano de 1953 ano do meu nascimento é só aguardar que já conto como tudo aconteceu, e também revelo quem é minha mãe, pois até aqui eu ainda não tinha entrado na historia, o sofrimento estava apenas começando, ou as emoções mais fortes ainda iriam acontecer. No próximo capitulo que chama-se os fatos aconteceram assim, revela uma menina de apenas 16 anos dando luz a seu primeiro filho, fruto do desconhecimento e da orientação materna e paterna, alem da irresponsabilidade de um jovem que se dizia pai do garoto que iria nascer, mais que nunca assumiu este fato, e jamais o procurou para saber informações, ou mesmo conhecer o menino que nasceu no dia 29 de Setembro de 1953.
OS FATOS ACONTECERAM ASSIM Nicinha não era uma moça namoradeira mais sem ter a quem temer pelo fato de ser órfã de Pai e Mãe ela resolveu procurar alguma coisa na vida que lhe desse segurança, morar na casa de sua avó ou trabalhar como uma escrava na casa das Oliveiras não lhe garantia futuro algum, assim aos 15 anos ela arranjou o primeiro namorado, lá na baixa da candeia, um rapaz de nome Paulo que era irmão de Oscar o ex-namorado de Linda. Não sei mais acho que isso foi não foi muito bom, comentavam-se que Paulo era feio mesmo assim o namoro começou, ela esperava encontrar alguma coisa em que pudesse confiar, pois ela não agüentava mais viver da forma que vivia na casa da sua avó, houve rejeição mais ela resolveu ir em frente contrariando todas as opiniões inclusive da sua avó que envelhecia, preocupada que esse namoro apresentasse as mesmas conseqüências de Linda, e não foi por falta de conselhos que acabou acontecendo o inevitável, pois vitima da sedução e das promessas de Paulo, o resultado não poderia ser outro se não perda de virgindade de Nicinha sendo o segundo caso na família. Pôr não saber exatamente como lidar com o período de fertilidade, e outras coisas ligadas à vida sexual da mulher por falta de orientação, materna ela ficou grávida, pois apesar de irmão de Oscar, Paulo não era esteiro, e não sendo possível fazer aborto, a família era toda de Cristãos, o único jeito foi Nicinha enfrentar uma gravidez, entre 15 e 16 anos complemente sozinha, e ter o filho. Ao tomar conhecimento da situação, Paulo sumiu abandonando ela e o filho que ela esperava, chegando a dizer que ele não era o pai. As coisas ficaram pretas pra Nicinha, as Oliveiras trataram logo de mandar a moça embora, pra não “manchar” o nome da instituição o jeito foi ela voltar pra casa da avó Dionísia, e seja lá o que Deus quiser, critica, desaforo, insultos de Judite, meu Deus parecia que Nicinha era a pior das piores. Apesar de dona Dionísia que também não se conformar com a situação recebeu a neta de volta, não iria de forma alguma colocar o seu sangue nas mãos de satanás como ela sempre falava. Ficaram morando na casa “que casa” Dionísia, Maria José (Zezé) Eurídice e Nicinha. Nicinha ficou tão magra coitada que parecia não ter saúde para chegar até o fim da gravidez, o problema era a pobreza tirana que aquela gente vivia, tanto que o acompanhamento medico no período de gravidez, foi no lactário “aquele posto medico onde morreu meu tio Waldick (Didi)”. A alimentação também não era lá estas coisas, comia-se o que tinha, como pré-natal não existia não se podia esperar que Nicinha fosse uma pessoa cem pôr cento sadia numa situação dessas estando grávida. Foi assim neste morre e vive que ela deu luz a seu primeiro filho. Paulo! Desapareceu complemente nunca mais o procurou não quis saber nem mesmo se nasceu ou morreu o filho que ele disse não ser pai. Vamos agora falar dos dois últimos filhos de dona Eulina, em seguida falaremos mais de Nicinha, período em que entro na historia, é só aguardar falta pouco.
I
- 29 de Setembro de 1953 Vamos voltar a falar de Nicinha, e do dia 29 de setembro de 1953, que foi um dia de muita agonia na vida dela, que tinha apenas 16 anos, e Eurídice sua irmã mais nova apenas 11. Ambas estavam na casa da avó Dionísia, quando começou as dores do parto, foi difícil pra Nicinha, ter que ir pra um hospital dar a luz a uma criança. Como ela era muito nova dona Dionísia concordou que ela fosse ter o filho com uma parteira formada, por recomendação do medico dos pobres, o lendário Dr. Israel, ele pediu a parteira Milu que acompanhasse o parto pelo fato de Nicinha ser menor e não era tão comum garotas novas dar a luz fora do hospital. Como disse o nome da parteira era Milu, que era chamada pôr todos os recém-nascidos de mãe Milu, não sei porque eu não herdei essa bobagem. Assim Nicinha deu luz ao seu primeiro filho que sou eu as 04:00 horas da manhã, do dia 29 de setembro de 1953, uma quarta feira, na cidade de Alagoinhas, no Hospital Dantas Bião, e três dias após o meu nascimento fomos pra casa da avó Dionísia que já morava no Alecrim de Baixo, por isso é que sou um menino do alecrim. Nasci sadio já chorando não precisei tomar o tapinha na bunda pra acordar, só não tinha nome, aliais está foi a primeira briga como vai se chamar o menino, as opções eram Manoel, Miguel, Ivan e até se pensou em nomes bíblicos tipo Tiago ou Jeremias, por idéia foi da minha bisavó Dionísia mais nada disso prevaleceu., e eu acabei me tornando Luiz Alberto Freitas, pôr opção de Nicinha minha mãe biológica, ainda bem que não se cogitou chamar-me de Paulo. Passado esta fase do nome veio a Segunda bem mais difícil: Judite levantou a questão! Quem vai criar esse menino, e foi logo dizendo eu não posso, pois já estou criando Bio, e a senhora mãe (referindo-se a Dionísia), não tem idade pra cuidar de criança pequena, já basta à mãe dele que a senhora se responsabilizou, e deu no que deu, ela que leve ele pra a onde ela for, ou entregue ele pra ser criado no Lar de Mãe Helena, uma casa que prestava serviço de Filantropia a criança carente, coordenada pelos Espíritas de Alagoinhas. Pra Nicinha era mais uma humilhação não bastasse o que acontecera com ela, agora era o seu filho que estava sendo julgado e condenado mais uma vez, o que ela podia fazer coitada, foi então que dona Dionísia, do alto dos seus 86 anos respirou fundo e determinou: Mana! (era assim que ela chamava Judite), você com esse coração de pedra nem devia ser crente, como é que você quer entregar o nosso sangue pra ser criado pelo espiritismo isso não é coisa de crente, é ir contra a vontade de Deus. Se você quer saber já criei você que hoje só falta me bater, também posso criar ele que é meu bisneto até o dia que Deus quiser e nem você nem ninguém vai me impedir, se quiser continuar dando os seus pães dormidos continue se não o problema é seu mais tenha certeza de fome ele não morrera, e olhando pra Nicinha disse minha filha vou arrumar um lugar pra você ficar lá na Bahia (no caso Salvador), tão logo você possa trabalhar, e seu filho ficara aqui mesmo com a gente, Euridice me ajuda no que ela puder fique tranqüila deixe Mana pra lá, quando você puder você toma conta dele, e fez isso mesmo quando eu estava com quatro meses de vida ela entrou em contato com sua comadre Maria Mirandela lá de Barracão, (Rio Real-Ba) que morava em Salvador e desse contato Nicinha veio morar com esta mulher em Salvador eu fiquei em Alagoinhas na casa da minha bisavó Dionísia pra ser criado pôr ela, Maria José, e Eurídice era janeiro de 1954.
MINHA BISAVÓ DIONÍSIA NASCIMENTO 95 ANOS EM 1962, EU TINHA 9 ANOS: Aproveitando a deixa quero falar de minha bisavó Dionísia, conforme eu havia prometido anteriormente, ela foi tudo pra mim apesar da sua idade, cuidava de mim, na esperança que eu fosse pastor, pois até aquela oportunidade, eu era o único representante homem que acabava de entrar pra a família, dizem que avó estraga a vida dos netos, não é o caso das bisavós, são carinhosas mais não são tolas, na hora da verdade é verdade mesmo, pelo menos foi assim comigo minha bisavó me amava muito tinha um cuidado especial por mim, principalmente com a alimentação, mais chegava junto. Aliais falando em alimentação eu era um comilão de primeira no mínimo dois pratos. Queria ver ela virar um Jeep, era alguém dizer que eu era feio ela colocava a bíblia de lado e dava porrada para todos os lados, a velha realmente me amava. Tem um episódio que marcou a vida da minha bisavó, que é muito interessante. Certa vez uma mulher da alta sociedade de Alagoinhas estava pra dar luz ao primeiro filho, e o parto parecia estar complicado, procuraram as parteiras famosas de Alagoinhas que eram Maria Jaqueira e Milu, e as duas não encontravam-se na cidade foram então atrás da minha velha bisavó. Detalhe nesta família de pessoas ricas tinha um dos membros cursava medicina, era irmão mais novo da senhora em questão. “omitirei nomes pôr questão de respeito”. Pois bem quando esse irmão chegou e encontrou a sua irmã pessoa famosa da cidade sendo assistida pôr uma velha de mais ou menos 89 anos, pobre sem nome tradicional, ele deu a louca, e disse como pode minha irmã ser amparada pôr uma velha deste jeito, quem chamou esta mulher aqui, onde estão as parteiras desta cidade. Mal sabia ele que ali junto a sua irmã estava uma verdadeira serva do Senhor e que aquele parto estava sendo assistido pelo maior de todos os médicos Jesus Cristo e que os anjos do Senhor estava ali prestando toda ajuda possível para o trabalho daquela “mulher” ou “velha” como ele mencionou. Inconformado com a situação, ele mesmo foi até Maternidade, e lá encontrou a parteira titular a própria Maria Jaqueira que já estava de volta a cidade, ela era a dona da maternidade, e veio com ele as presa, pois ele não confiava no trabalho daquela “velha”. Quando chegou a casa da irmã com a parteira que ela viu a minha bisavó realizando o parto, olhou pra o homem e disse, vocês estão com a melhor parteira de Alagoinhas em sua casa e vai me incomodar! Pra que? Essa senhora que você chamou de velha é bem melhor do que eu, que sou formada: Ela tem uma coisa que nenhum de vocês prestaram atenção, ela tem a benção de Deus na vida dela, eu que não sou crente acredito muito no trabalho dela, vou embora não vou ficar aqui perdendo tempo não, e você que é estudante de medicina fique ai e ajude ela pois ela tem muito pra te ensinar, e foi embora. Logo em seguida a mulher deu luz ao seu primeiro filho, e minha bisavó estava recompensada pela graça de Deus, pois nada de grave aconteceu. O homem se arrependeu, e quis se redimir fazendo do pagamento, sua forma de pedido de desculpa perguntou quanto é seu trabalho senhora? Minha bisavó disse: O senhor chegou aqui me tratou muito mal não respeitou nem mesmo a minha idade, mais eu te perdoou, com relação ao preço não posso cobrar pela obra que Deus realizou isso não tem preço peço apenas que o senhor não duvide nunca, mas da minha capacidade, pois se ela não tem letra, com certeza tem a mão de Deus. E agora pôr favor me leve pra minha casa, amanhã mande me buscar pra eu cuidar do menino até o umbigo cair O homem ficou pasmo, aprendeu uma lição que nunca mais esqueceu, pois ele ficou tão amigo da minha bisavó que...Bem eu conto depois e digo o seu nome. Vendo lições deste tipo num mundo de pessoas limpas e honestas apesar de pobres eu crescia poderia não ter a minha mãe do meu lado mais tinha Euridice, que era minha tudo, e Maria José (Zezé), que eu identificava como a figura de mãe. Euridice, que é minha tia, na verdade é como se fosse uma irmã mais velha eu já falei, pois ela me levava pra todo lugar que ia, e eu viciado a andar nos braços dela, não dava descanso a pobre coitada. Ela tomava conta de mim, a seu jeito, mais com muito carinho e cuidado, Nicinha coitada estava em Salvador trabalhando, eu imagino os problemas que ela passava, tão nova já era mãe e não podia estar com o filho que tristeza. Quando fiz três anos, Euridice fez 14 e nesta época as coisas foram piorando foi ai que ela teve que sair da casa da minha bisavó, pra trabalhar nas casas que eu citei acima. Aos 17 anos, ela começou a namorar um cara chamado Carlos, e esse cara foi o fim da vida tranqüila de Euridice, pois ela seguiu caminho das suas duas irmãs mais velhas e isso fez com que fosse embora de Alagoinhas, como eu era muito criança, nunca soube ao certo o que ela fez e nem pra onde foi comentava-se na época que ela teria ido morar com sua madrinha só que eu não sabia nem que ela tinha madrinha, eu só tinha 4 anos. Nesta época cometi o meu primeiro erro, disse um palavrão e acredite não sei como e de quem tinha ouvido isso, mais disse para uma pessoa que passava na rua chamei de Pu.., Isso foi vergonhoso principalmente para minha bisavó que não admitia em hipótese alguma e disse não vejo graça nenhuma nisso um menino criado na igreja, nunca ouviu essa palavra aqui dentro de casa, não te dou boas palmadas, pôr que você é criança mais aprenda que isso é feio nunca mais diga isso, nem pensando. Isso foi como uma maldição, pois eu tomei uma queda de um jegue que fiquei um bom tempo com a boca quebrada.
No final do ano de 1955 tivemos noticias de Nicinha, que ainda morava em Salvador, não trabalhava mais na casa de Mirandela pois havia se envolvido com um homem de nome Almiro, e pela segunda vez estava grávida, ela veio a Alagoinhas pra ter o filho no mês de janeiro de 1956, nasceu uma menina, muito bonita pôr sinal, cabelos pretos e olhos verdes. Era uma coisinha fofa, como fala as pessoas. Após o nascimento da menina, Nicinha voltou para Salvador, levando a sua filha recém nascida e eu fiquei em Alagoinhas sendo criado pôr minha bisavó, preservarei o nome da menina, apenas pôr problema de relacionamento. O Tempo passava, eu crescia estávamos no ano de 1958, onde completaria 5 anos de vida, estava firme indo para a igreja com o propósito de ser o pastor da minha bisavó, que estava ficando mais velhinha e iria completar 91 anos, apesar de ter um problema na perna, ela não era doente e sua saúde ia bem apesar da idade, não sei se ela veria eu ser realmente o pastor que ela queria que eu fosse. Abrindo um parêntese vou voltar a falar de dona Judite e seu filho adotivo o José Rivadavel, que tem o apelido de Biu: ”nego biu”. Apesar de toda atenção que Judite dedicou a este rapaz, dizendo que ele ia ser medico para curar as doenças das filhas de Nininha, ser pastor para pregar ao mundo, ela esqueceu de dar a ele vergonha na cara e senso de responsabilidade, pois o que ele realmente aprendeu nem de longe teve a ver com o que ela previa. Ele se tornou um marginal e começou sua vida de crime pegando as coisas dentro da própria casa da mãe, nesta época ela tinha uma pequena mercearia, onde ele roubava tudo o que encontrava pela frente, só que ela sabia, e não procurava exemplar o rapaz, e às vezes acusava pessoas inocentes, Eurídice era preferida, isso transformou ele em uma ameaça para as mulheres da casa, sim pois não havia homem, e o único que havia era eu com apenas cinco anos. Lembro-me que uma vez ele queria entrar na nossa casa, e lá só estava eu e minha bisavó, a porta do fundo era fechada com uma tramela, que até o vento abria sem fazer força. Toda vez que ele entrava na nossa casa ele sempre roubava alguma coisa. Nesse dia eu com apenas 5 anos, me encostei na porta, a minha bisavó estava sentada em frente a mim ele por fora usou toda á força possível para invadir a casa, mais com a força de cinco anos de idade eu conseguir impedir e ele não conseguiu entrar. Acabou indo embora, pois logo chegou Judite e ele teve medo. Hoje eu sei que quem o impediu de entrar foi um anjo de Deus que estava do meu lado segurando aquela porta eu fui apenas um instrumento humano mais na verdade foi de Deus a providencia, pois a minha bisavó estava orando todo tempo, só que eu não percebia. Esse rapaz teve um final trágico, foi preso varias vezes causando vergonha para todos nos acabou morrendo num estado complemente deplorável, não se sabe até hoje onde ele foi enterrado, que pena um final infeliz pra uma pessoa que em momento algum soube dar valor a sua própria vida. Também com cinco anos eu fui para a escola não seria bem uma escola, era uma amiga de Judite, que dava curso de alfabetização, e como eu precisava aprender a ler o caminho era esse, só tinha um problema eu me achava muito burro, e foi
difícil aprender as primeiras letras, da minha vida. Ninguém entendia o porque da minha incapacidade, mais era assim mesmo eu tive muita dificuldade no inicio, mais foi só no inicio, eu acho que era pelo fato de ter muito medo da professora eu achava ela muito feia e isso impedia de me aproximar dela, pois ela gritava muito. Mais mesmo assim eu aprendi a conhecer as letras do nosso famoso ABC dario, logo passei a dominar o alfabeto, e aos poucos fui me alfabetizando. Não fui nenhum Rui Barbosa, mais confesso que burraldo também não fui. Quando fiz sete anos já sabia ler e escrever, estava no primeiro ano, sim porque na minha época, o ensino primário obedecia a seguinte ordem cronológica: Alfabetização ABC, Cartilha, Primeiro ano, Segundo ano e assim pôr diante, até o terceiro ano colegial, que hoje equivale à conclusão do ensino fundamental. Voltamos a ter noticia de Nicinha ficamos sabendo que ela já tinha outra filha, ainda vivia com o homem de nome Almiro e morava na Vila América no bairro do Rio Vermelho soubemos também que ela teria ficado doente mais já estava se tratando. Quem nos deu a noticia foi Eurídice que também já era mãe de uma filha que se chamava Elienai, essa menina teve uma vida curta, eu nem cheguei a conhecer mais foi ela a primeira filha de Eurídice. Como eu já estava com sete anos e sabia ler e escrever mandei um bilhete pôr Eurídice para Nicinha que dizia mais ou menos assim: Nicinha minhas lembranças, estou escrevendo este bilhete para te dizer que já estou no primeiro ano, já sei ler e escrever, e se eu passar para o segundo ano, quero que você me de uma bicicleta, igual a do filho de seu Nena. Mal sabia eu que a vida de Nicinha era um sofrimento só, pois o tal de Almiro era uma porcaria de homem, tanto que ela o deixou levando suas duas filhas com ela o cara era tão ruim que nem a filha registrou, não é mérito só dele Paulo também não me registrou. Nicinha reencontrou-se com Eurídice, e foram viver juntas em Salvador, agora morando num bairro distante do Rio Vermelho, no São Caetano mais precisamente na formiga, isso já era pôr volta de 1960. Neste ano Nicinha conhece o homem que muda sua vida um feirante do mercado modelo, um negro simpático, bem falante alegre, um ser humano muito bom no começo seu nome Walter, que vendo o sofrimento dela, a carência, de uma mulher de 23 anos mãe de três filhos, solteira, precisando realmente de alguém que te desse segurança amor respeito e acima de tudo compreensão e como ter um braço forte pra segurar era importante, pois até aquela data isso ainda não tinha acontecido na vida dela, Walter tratou de entrar em ação, e pela primeira vez chegou a oportunidade na vida de Nicinha, pois foi a primeira vez que ela pode sentir o amor nascer no seu coração, ela que sempre foi vitima dos homens que passaram pôr sua vida acreditou que com Walter seria diferente era amor mesmo. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba; mesmo havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; (I Cor,13 4:8). Apenas o amor prevalecera. Assim com esta maravilhosa promessa foram viver juntos Walter Nicinha e as duas meninas, que bom seria se eu pudesse também estar neste meio, teria evitado um monte de problemas que contarei mais adiante aguarde. Até Eurídice veio morar em Catu, pra deixar os quatros começarem uma nova vida, pois até aquela data, Nicinha não tinha vivido apenas sobrevivido e não podia perder sua grande oportunidade. Enquanto isso em Alagoinhas eu passei pra o segundo ano não ganhei bicicleta coisa nenhuma mais foi tranqüilo, pois pelo menos a vida seguia o curso normal, eu iria completar nove anos. Na igreja entrei pra os Embaixadores do Rei, que é um seguimento da Igreja, como se fosse escoteiro isso era tudo que eu queria. Atenção Meninos do Alecrim fiquem atentos, pois começa aqui os seus nomes. Apesar de ser criado sendo levado todo domingo pra a Igreja, eu também tinha amigos que não eram crentes, que eu gostava muito. Aqui estão alguns nomes dos Chamados Meninos do Alecrim que não eram da Igreja. Waltinho, Nivaldo, Ubirajara, Edinaldo, Kleber, Antônio Carlos, Pedro Ivo e José Rocha, Índio, Luiz Fernandes, Nilson José, Jairo, Francisco, Almiro, Zezinho, Clovis, e outros que eu não lembro agora. e mais as meninas Idalice Ilalucia, Jandira, Alda, Jacira, Éster, Morena, Sidinalva Gildete, Gracinha, Rosemeire, as colegas de colégio Ana Consuelo, Sueli, Tânia e a mais inteligente minha amiga Julia. Mais tarde outros colegas de colégio: José Lages, Ariosvaldo e Artur, os amigos da Igreja: Edson, Valdemir, Eliel, Jair e Pedro Morais, Everaldo, Guedes, e os filhos de seu Romeu Vila Flor, que são tantos, que eu vou citar apenas dois, Jorge Luiz e Carlos Alberto, um aliais tem minha idade, o Jorge, inclusive foi meu colega de colégio até o quatro ano primário. E as meninas Raquel, Nancy, Rute, e Margarete. Tem mais falarei depois. No ano de 1962 tivemos a primeira surpresa, Nicinha veio a Alagoinhas, agora em outra situação, até a viagem não foi de trem e sim de ônibus, juntamente com ela veio o seu Companheiro Walter, e suas três filhas, sim três filha, pois Walter já era pai de uma menina que ele botou o nome de Evanice. Eu pude conhecer Walter, e ele a mim é claro, pra mim foi uma festa, ele muito bem vestido, olhou pra mim e perguntou e ai rapaz quer ir morar comigo e com sua mãe lá em Salvador, eu disse não, “mais uma coisa ficou no ar a palavra mãe, pois apesar de sempre citar o nome Nicinha, ela é a minha mãe, e nesta época a mãe que eu conhecia era minha tia Zezé”. Ele perguntou o que é que houve não gostou de mim, respondi gostei só que eu nunca imaginava trocar meu mundo de Alagoinhas, pôr nada desta vida, muito menos sair de lá pra morar em Salvador ou qualquer outro lugar. Ele não gostou muito, mais entendeu situação, eu tinha apenas oito anos, e esta era a primeira vez que ele mi via. Numa conversa entre Nicinha Walter e minha bisavó Dionísia, que já estava bastante doente, eu pude ouvir o seguinte: Dizia Dionísia para Walter e Nicinha, meus filhos que Deus abençoe vocês, eu já posso morrer feliz estou vendo Nicinha em boas mãos, só peço-lhes uma coisa, assim que Deus me levar, venha buscar o menino, eu sei que Zezé, não sabe criar nem ela própria, quanto mais filho dos outros, pôr isso prometa que fará isso. Nicinha chorou muito, Walter também, mais ficaram alegres, pois sabiam que tinha ganho a confiança e o carinho da velha. Quando retornaram pra Salvador, Nicinha deixou em Alagoinhas a sua filha mais velha, para passar ferias com tia Judite ela estava com 6 anos e continuava sendo uma linda menina, seus olhos continuavam lindos era uma gordinha muito linda pelo menos eu achava, só que nesse período agente brigava muito, mesmo assim eu a adorava. Nesta época Walter já trabalhava na Petrobrás, havia deixado a vida de feirante, e havia se mudado de casa, estava morando agora no São Cristóvão bairro da liberdade. Um mês apos a visita de Nicinha e Walter, a saúde da minha bisavó começou a se agravar, ela completaria 95 anos, e não era fácil manter saúde de ferro apesar de tudo, não sei qual era a doença, só sei que os melhores médicos de Alagoinhas se revezavam de plantão na nossa humilde casa. Liderados pôr aquele estudante agora medico irmão daquela senhora rica e famosa de Alagoinhas, lá estiveram Dr. Jairo Azi, Dr. Jairo Maia, Dr. Renato Bittencourt, e Dr. Israel, que era muito amigo da velha. Cada dia um visitava, e aos sábados eram os quatros que iam fazer uma avaliação da saúde e dos 95 anos da velha, eles tentaram de todas as formas aumentar o tempo de vida da minha bisavó, mais ela com a voz calma e serena dizia, meus filhos não adianta mais nada meu tempo é marcado pôr Deus, minha hora só ele saberá. Os médicos ficavam impressionados com a fé e a segurança daquela mulher que do alto dos seus 95 anos era temente a Deus, e lhes foi fiel até a morte. Um episódio precipitou a morte da minha bisavó, mais isso é insignificante, perto da fé e do amor da minha velha, pôr isso eu não vou contar, só não deixo de falar é como foi sua morte, e sua despedida de todos nos, era nove horas da manhã do dia 30 de Setembro de 62, um dia após eu completar nove anos, um dia de domingo, estava no quarto com ela as seguintes pessoas, Dona Antônia Góes, esposa do Pr. Góes Tia Judite, Tia Nita (Helenita), e Maria José, (Zezé), eu estava na frente da casa brincando com uns amigos, quando ela mandou me chamar. Dona Antonia ainda tentava colocar um soro em sua veia, mais ela rejeitava, irmã não insista, deixe-me falar com meus filhos, pois Deus está me avisando que e chegada à hora de ter o meu encontro com Jesus eu preciso dar umas ordens pôr favor aguarde, e começou a falar com as filhas a primeira foi Judite a quem disse Mana, eu sei que você tem um coração muito duro, mais pôr favor seja mais amiga das suas irmãs principalmente de Zezé, eu sei que ela vai sofrer muito não seja tão dura com ela e não deixe de dar os pães, pois ela ira precisar que Deus te abençoe. Para Helenita disse Nita Minha filha, venha logo para os braços de Jesus pois o mundo em que você se encontra não tem mais nada pra te oferecer venha pra Cristo, e faça sua casa aqui ao lado junto à casa de Zezé, pra que vocês estejam sempre unidas e que Deus te abençoe. Com Zezé ela foi mais enfática disse: tenho certeza que quem mais vai sentir a minha falta, é você por isso preste bem atenção ao que eu vou te pedir, escreva pra Nicinha, e diga a ela pra vim buscar o filho dela, conforme a gente combinou, quando ela esteve aqui esta ouvindo? Zezé respondeu sim mãe! Que Deus lhe abençoe e não esqueça de nada. Agora chame aqui o menino, estou aqui vó, ela disse me de a mão, eu fui pra bem perto dela e passei a minha mão na sua testa, ela me disse meu filho, vá morar com sua mãe, pois agora ela vai poder te dar o que a gente não pode, aquele homem e um homem muito bom ele gostou muito de você, não fique aqui, pois Zezé não vai saber lhe criar, que Deus te cubra de bênçãos e seja muito feliz, sair do quarto chorando muito, e em seguida minha bisavó faleceu foi um dia de Juízo em Alagoinhas, quase toda população veio ao sepultamento. Tinha médicos, enfermeiros, políticos, gente de todas as classes, só das igrejas Primeira e Segunda, quase todos os membros estavam presente. Tem gente de profundo mau gosto, que acha enterro um evento bonito, eu acho extremamente triste mais o da minha bisavó eu sou forçado a admitir que foi um evento bonito. Uma serva do senhor que levou a sua vida a fazer o bem, estava deixando este mundo, para ser a primeira da fila na breve volta de Jesus. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus. Ap. 2:7, Eu tenho certeza que a minha bisavó e uma vencedora, e estará no paraíso de Deus, no grande dia do senhor. Eu espero também está lá e rever a minha velha que eu amo tanto. A morte da minha bisavó trouxe um serio problema pra minha vida, pois segundo o acordo firmado entre ela, Walter e Nicinha, tão logo ela morresse, eu deveria ir para a casa de Nicinha, e até mesmo em seu leito de morte ela me disse que isso deveria ser cumprido, pois ela acreditava que Zezé não ia saber me criar. Tudo certo porem o meu coração já sentia amor pôr Zezé, e essa situação começava a ficar confusa na minha cabeça, ela que também tinha se apegado a mim, pelo fato de nunca ter tido filhos, me mandar pra Salvador não era nem meus planos e nem os dela, apesar de saber que eu teria uma vida muito melhor pois como disse antes, Walter tinha bom emprego, e poderia ajudar em muito o meu crescimento pessoal, mais nada disso era importante pra mim, pois eu gostava mesmo era de viver uma vida pacata de cidade no interior, pra isso Alagoinhas era ideal. Tinha também a igreja que eu era membro, e tinha meus amigos, como fazer, seria possível deixar tudo isso assim sem mais nem menos, foi uma barra pesadíssima acompanhe mais tarde. Vamos em frente, no mês de dezembro de 62, Nicinha e Walter, resolveram casar-se, e veio a Alagoinhas para buscar a sua filha, e ao mesmo tempo levar algumas pessoas para o casamento. “Após um longo período de sofrimento, de falta de amor, de orfandade de insegurança, sendo mãe de quatro filhos, finalmente Nicinha iria unir-se em matrimonio a um homem realmente de verdade, diferente de Paulo o covarde, e Almiro o irresponsável, estava nas suas mãos um homem com uma única missão fazê-la feliz até que Deus o separasse”. Tem uma coisa muito bonita, que se fosse nos dias de hoje seria matéria para televisão: Eu Fui o Pai, e a Minha Irmã, foi a Mãe, da nossa própria mãe. Foi pôr nossas mãos que ela foi conduzida a presença do noivo, Walter, que diante de Deus, do Juiz de Direito, de Mim e de minha irmã, jurou amá-lo, respeitá-lo, e viver para sempre ao lado dela na alegria e na tristeza, até que a morte o separasse. Eu tenho uma grande magoa disso, pois no meu casamento minha mãe não foi, eu fiquei muito triste, e olha que meu casamento foi propositadamente marcado no dia do aniversario dela 22 de julho. Mais voltando ao passado, independente do casamento me levar com ela tinha outro significado, ela queria me tirar de Alagoinhas pêlos fatos expostos acima, e em acordo ela pediu, a Zezé que deixasse eu passar uns dias com ela, pra que fosse me acostumando logo até porque eu estava de ferias, só iria estudar no mês de Fevereiro de 63, então eu poderia ficar até as ferias acabarem, seria uma boa oportunidade de me entrosar mais com Walter, a formula de me trazer para seu lado era ótima, restava saber se era isso que eu queria. Com muita dor no coração, Zezé concordou, e após o natal voltou pra Alagoinhas, eu fiquei na casa de Nicinha, totalmente deslocado, não tinha com quem brincar, na casa só tinha mulheres, eu era um peixe fora da água. Neste período recebi uma ordem que eu não estava nada preparado e nem sabia como obedecer, teria que chamar Nicinha de mãe, e toda vez antes de dormir dar a benção a ela dizendo “bença Mãe”. Era simples, mais pra mim era a coisa mais difícil pois eu até os dez anos de idade nunca tinha feito isso, na igreja isso não foi ensinado, nem a minha bisavó, nem minha “mãe Zezé” cobrava isso de mim, por muito tempo tive dificuldade de chamá-lo mãe, sempre que me referia a ela dizia Minha Mãe e não Mãe como todo mundo se refere a sua genitora. Passando este tempo na Casa da Minha Mãe, muita coisa me atrapalhava, a saudade dos amigos, da minha tia mãe Zezé, e da igreja, pôr isso eu chorava muito escondido no banheiro, e nas minhas orações pedia a Deus que chegasse logo o dia de voltar pra Alagoinhas. Um dia minha Mãe encontrou-me chorando perguntou o motivo, eu não disse, mais ela imaginava pôr isso falou, já que você não vai me dizer fique sabendo que você é meu filho e não vai mais pra Alagoinhas, sua mãe sou eu e não tia Zezé, fiquei louco pois tudo que mais queria era ir para Alagoinhas, dizer isso pra mim era como me matar. Lembro-me que nesta época ganhei uma patente como presente, de natal, e no ano novo pela primeira vez eu andei de lancha, pela Bahia de todos os Santos, eu minha mãe, Walter e uma irmã, fomos acompanhar aquela famosa procissão de fim de ano mais nada disso me motivava o que eu queria mesmo era ir pra minha casa lá no alecrim de baixo em Alagoinhas, rever tudo que me fazia falta, na casa de minha mãe me sentia isolado das minhas irmãs, não conseguia ser mais chegado a elas, e isso me deixava longe da minha verdadeira vontade. No começo do mês de fevereiro, sem que eu esperasse, minha mãe recebeu uma carta de Alagoinhas, era de Zezé, nesta carta ela pedia a minha mãe para me mandar de volta, pois ela estava com muita saudade de mim, e que as aulas já ia começar, e etc. Minha mãe ficou com tanta raiva e disse eu até estava pensando em te mandar para lá mais pôr causa desta carta você não vai mais mesmo. Tia Zezé precisa entender que ela já fez a parte dela sua mãe sou eu, e você vai ficar comigo, isso era o fim pra mim. Pra não dizer que não havia nada de importante, dois fatos eram interessantes, o primeiro, é que agente morava numa avenida com 10 casas, a nossa era a numero sete, como nossos vizinhos do lado direitos Diva, que não tinha filhos, e do lado esquerdo Carminha, que tinha três filhos: Carlos, Washington, e Lêleu havia também os filhos da dona da casa que era: Evangivaldo, Lêleu, e Bira, e mais Gracinha e Sandra, alias Sandra era uma menina muito bonita, tinha 10 anos era moreninha dos cabelos lisos, linda, mais nem assim eu me enturmava a eles minha psicose era Alagoinhas. Outro fato nada interessante foi a primeira vez que eu apanhei. Como morávamos em uma avenida até o banheiro era coletivo um dia eu não sabia que o mesmo estava consertando, fui tomar banho, de repente eu ouvir a dona das casas gritar: menino diabo, não vá tomar banho pois o banheiro esta em conserto. Eu realmente não sabia mais tive a infelicidade de dizer as seguintes palavras: Que Mulher chata, eu ainda vou embora daqui e me vejo livre dessa desgraçada. Não sabia que uma das filhas dela estava na casa que eu estava em frente, ela saiu da casa e disse ta vendo Nicinha ele esta chamando mãeinha de sacana. Minha mãe disse venha cá eu fui, ela estava com uma vassoura na mão, me deu uma vassourada na perna que eu passei uns dez minutos me urinando não só pela dor mais também pelo medo. Minha mãe acabava de quebrar um tabu de 10 anos, me bater, com violência, para deixar marcas, ninguém nunca tinha feito isso comigo fiquei com a perna roxa. Contei a Walter o que aconteceu ele me perguntou você chamou a velha de sacana, eu disse não! Chamei de desgraçada. Ele riu e disse da no mesmo. Eu disse mais só pôr isso minha mãe devia me bater assim tão forte. “Não sabia eu que as emoções mais fortes ainda estavam pra acontecer” ele disse ela é sua mãe tem direito. Eu disse mãe não bate no filho para matar. Senti que ele ficou comovido, pois gostava de mim pediu a minha mãe que me perdoasse, e que eu nunca mais faria uma coisa tão feia assim, até me prometeu que eu iria voltar para Alagoinhas. Neste período eu tive contato também com tio Zé, lembra-se dele, e com Eurídice, que apareceu pôr lá. Para mim foi uma festa, estava perto do carnaval e ela apareceu porque gostava muito de carnaval. Numa tarde ela disse vamos ali que eu quero te apresentar uma pessoa, fiquei meio em duvida mais disse tudo bem, só perguntei quem era, ela disse ser um amigo seu que eu precisava conhecer, me pediu que eu não falasse nada nem para Walter, nem para minha mãe. Eu perguntei pôr que? ela disse esse amigo que vou te apresentar é Paulo, seu Pai. Eu tive vontade de não ir, mais como eu não podia dizer não eu gostava muito de tia Eurídice, aceitei conhecer o tal homem. Mais foi tudo a contra gosto, eu tinha dez anos e não estava preparado de forma alguma para conhecer ninguém, ainda que fosse meu “pai”. Ela falou com minha mãe alguma coisa, e lá fomos nos. Chegamos a um conjunto de casas que mais parecia uma favela, varias casas de madeiras, ainda pôr cima corria um esgoto a céu aberto no local. De repente chegamos a uma avenida de quatro casas também de madeira, e na terceira casa, ela disse é aqui. Entramos na casa vi dois homens sentados em duas camas, uma em frente à outra, um banco no meio servindo de centro, com duas garrafas de bebidas em cima, um estava tocando violão, e um outro que estava com um cavaquinho nas mãos. Exatamente o que estava com o cavaquinho perguntou é ele, Eurídice respondeu sim. Ai o homem aproximando-se de mim, disse alguma coisa que eu não me recordo, me deu um abraço e falou você é meu filho, eu sou seu pai e você parece comigo. No momento em que ele me deu o abraço tive medo e minha vontade foi sair dali correndo, lembrei-me de uma historia que tia Zezé me contou sobre ele. Quando fiz quatro anos tive problema na visão, meus olhos eram constantemente lacrimejantes e vermelhos tivemos que vir a Salvador pra consultar um oftalmologista que disse a minha mãe o valor da consulte (um mil cruzeiros), como nem Zezé nem Nicinha tinha o valor, minha mãe teve uma idéia ir atrás de Paulo, pedir nem que fosse a metade, isso foi em vão pois Paulo não ajudou, foi indiferente a minha mãe, dizendo simplesmente não ter, e se quer teve a curiosidade de saber algo sobre minha vida. Pela primeira vez eu vi minha mãe chorar pôr mim, um choro de raiva, com certeza que se ela pudesse voltar atrás ela jamais iria se envolver com Paulo. Agora eu estava ali frente a frente com ele me dizendo eu sou seu pai, entrei em pânico comecei a chorar quis sair dali correndo, Eurídice ficou com medo segurou meu pelo braço e me trouxe de volta a casa de minha mãe, e pediu pelo amor de Deus que eu não falasse nada, mais o meu medo foi tanto que contei tudo para minha mãe e foi uma briga danada, Eurídice com raiva foi embora, na mesma noite, de sábado, deixando o carnaval que começava aquele dia. Tenho certeza que ela ficou com muita raiva de mim, porque falei tudo, depois disso nunca mais eu vi Paulo. Só que esse episódio fez minha mãe abri o coração pra mim, e ela me fez a seguinte pergunta, você quer ir para Alagoinhas? eu perguntei tá falando serio! ela disse sim, eu respondi quero. Ela então me disse vou fazer uma proposta pra você, vou mandar uma carta para tia Zezé. A proposta era a seguinte, como você já esta matriculado lá em Alagoinhas, você vai este ano para lá, termina o segundo ano primário, no final do ano você volta a morar comigo pra sempre tá certo. Eu disse mãe porque a senhora não espera que eu complete todo o curso primário lá em Alagoinhas e venha para cá na época do ginásio, ela disse, não senhor é muito tempo, você só vai se me prometer que no final deste ano volta, eu já tenho tudo acertado com Walter, se você não vier vai perder uma oportunidade muito boa de estudar num colégio com bolsa de estudo sabe o que é isso. Como já tinha na minha cabeça todos os meus planos, de só voltar após terminar o curso primário, fiz que concordei, pra ela não se arrepender e desistir de me mandar de volta para Alagoinhas, que na verdade era o que eu mais queria. Assim no dia 09 de fevereiro de 63, um dia de Sábado eu voltei de Salvador para Alagoinhas, após ficar 60 dias na casa de Nicinha, que eu agora chamava de Minha mãe. Parecia o dia mais feliz da minha vida. Pôr volta da uma hora da tarde, eu fui com Walter até a rodoviária de onde viajei de volta para Alagoinhas, peguei um ônibus que saia de Salvador as 14:30, engraçado naquele ônibus eu senti uma saudade imensa de minha mãe e chorei muito, estava me sentindo dividido mais assim mesmo preferir voltar para Alagoinhas. Dentre as coisas que me pertencia, eu trazia também o meu presente de natal a patente que Walter havia me dado que era motivo de grande orgulho pra mim e inveja pra meus amigos. Minha vida voltou a caminhar normalmente, em Alagoinhas eu até arranjei um trabalho, onde já estavam Nivaldo (Liba) e Ubirajara (Data) era uma fabrica de carroceria de caminhão onde eu era ajudante de aprendiz de pintor, lá conheci um outro amigo Luizinho Paulista, a gente fazia quase tudo no que diz respeito à ajuda no trabalho foi pôr pouco tempo, mais valeu o dono chamava-se Vicente. Voltei a minha vida na igreja todos os domingos, e no colégio meu progresso no segundo ano primário era evidente. Só que tem uma coisa, escondi a carta da minha mãe e não entreguei pra tia Zezé, o ano foi sem muitas novidades pra mim. Nas ferias de Junho eu fui pra Oricangas, cidade que ficava próximo a Alagoinhas nesta cidade moravam algumas pessoas que era parentes de Sebastião marido de Tia Judite, e sempre que ela ia pra lá me levava. Em dezembro eu passei para o terceiro ano, só que tia Zezé resolveu não viajar para Salvador, onde passaríamos as ferias, indo comigo pra Feira de Santana. Explico: Ela tinha uma irmã em Cristo de nome Noemi e esta irmã havia se mudado de Alagoinhas para Feira de Santana, para montar um hotel que era o seu comercio, pôr isso a convidou para passar o natal e ano novo com ela, como Zezé não sabia viajar sozinha me levou junto. Era uma viagem complicada, pois tinha que sair de Alagoinhas pra Salvador, em Salvador pegar outro ônibus pra Feira de Santana, e foi assim que lá chegamos. O fato importante desta época, foi à conquista do campeonato baiano deste ano, pelo Fluminense de Fira, os torcedores fizeram uma grande festa na cidade, e cantavam um refrão engraçado que dizia assim: ‘Olha a Cabeleira do Bahia será que ele ia ganhar todo dia” foi um grande carnaval fora de época, isso me deu um alento, pôr causa deste fato aos dez anos de idade eu aprendi a gostar do Bahia, sem nem saber por quê. Fiquei com pena do time que perdeu, eu achava que era o mais fraco, adorei não ter ido para Salvador, para não ficar confinado na casa da minha mãe, e mais ainda o medo de não voltar pra minha vida de liberdade em Alagoinhas. Esquecendo, Salvador fiquei em Alagoinhas, e ao completar 12 anos apareceu o primeiro problema escolar, pela primeira vês repeti o ano, o terceiro ano primário que eu achava muito difícil, alem dos problemas de saúde da professora que nos ensinava que era a maravilhosa Maria Helena. Tivemos que sair da escola Alcindo de Camargo, para irmos estudar em uma sala sem nome escolar, que ficava em frente a Estação de São Francisco, que era distante quase 8 quilometro do local onde eu morava. Ainda pôr cima no horário matutino não teve jeito acabei perdendo o ano. Mais no ano de 1964 que alias foi um ano de miséria para o Brasil, pra mim foi ótimo, pois me matriculei numa escola que ate hoje faz parte da minha vida, Escola João de Castro, de
onde só sair pra o ginásio, com mérito de melhor aluno. Vou contar como aconteceu: ao repetir o terceiro ano primário na Escola João de Castro, tive como colega as melhores cabeças que Alagoinhas já viu, me lembro, de Julia Celino, Ariosvaldo Brito, José Lages, Estelita Dantas, Artur Filho, Kleber Monteiro e Josélia Lima, e outros que não lembro agora, era uma escola publica e ninguém pagava, a professora era, Maria Helena. A gente o chamava de divina, pela sua preocupação com seu alunos, seu cuidado era quase materno e mais ainda a maneira com que ela fazia para manter a igualdade entre os alunos mesmo sabendo que alguns tinham mais capacidade, que outros, como no caso de Julia, Ariosvaldo e Artur, os mais inteligentes da classe, Lages e Kleber os mais bonitos, e das meninas Josélia era a mais linda. Engraçado nunca fui apaixonado nem pela professora, e nem pelas minhas colegas de classe, eu gostava de uma menina, que ela era de outra turma, seu nome era Sueli, porem não havia nada serio a não ser que estudávamos na mesma escola em sala diferente, convivendo com uma turma dessa já sendo repetente de terceiro ano passei pra o quarto ano fácil, fácil. Nas ferias deste ano eu fui passar na casa de Eurídice, que morava com um homem de nome Otávio, que ficou conhecido com tio Tavinho, na cidade de São Sebastião do Passe, ela tinha um filho que se chama Otávio Luiz Freitas da Silva. Veja que eu não estava mais indo para Salvador. Com treze anos eu estava um ano atrasado, mais já estava fazendo o quarto ano primário, que não deixava de ser satisfatório, pois eu tinha alguns amigos que com a mesma idade estava no segundo ano, de tanto repetir ano colegial. É bom lembrar que eu ainda estava freqüentando normalmente a igreja, todos os domingos, terças e quintas, e às vezes participando de cultos nos lares nos dias de sexta feiras. Neste período eu também fiz um acordo com tia Zezé eu estava ficando rapazinho e queria ter um dinheiro para gastar no Natal propus a ela que eu ajudava a entregar as roupas, para no final do ano ela me dar um dinheiro, ela aceitou. Durante 52 sextas feiras do ano eu entregava as roupas, e no natal ela me dava 500,00 (quinhentos cruzeiros) para eu gastar na festa, pois roupas eu também ganhava dela ou de tia Judite.
PERÍODO ESCOLAR 1966 ESCOLA JOÃO DE CASTRO Em 66 estava cursando o quarto ano primário, tinha 13 anos, que parecia ser 15, era tão forte que meu apelido era Luiz Gordo, só um detalhe eu não era flácido, não era cansadão, pôr causa do meu peso em fim eu era gordo mais não era desajeitado, e pôr incrível que pareça estava me tornando o gordinho mais inteligente da classe, como dizia a pró Helena, falando de inteligente não posso deixar de falar da minha maior dificuldade escolar, que foi aprender efetuar as quatro operações. Principalmente conta de dividir com mais de dois algarismos, ou duas letras como a gente chamava foi dose para aprender. Lembro-me até de ter sido acusado pôr Ariosvaldo, de colar do seu teste o resultado de
uma conta desta, só a professora Maria Helena tão justa como humana, fez ele me pedir desculpa, pois ao corrigir meu teste descobriu que minha conta estava errada. Só conseguir aprender esta operação com um método que criei e fui obrigado expor pra classe principalmente aos colegas que como eu, também tinha esta dificuldade, tem gente que me agradecem até hoje. O método era o seguinte, alias se você ainda não sabe esta operação veja se aprende agora, consiste em você multiplicar o divisor de 1 até 9 e encontrar o dividendo para o numero em questão a ser dividido, e completar o divisor. O consciente será sempre e 1 a 9 de acordo com o divisor baixado. Aqui neste caso o consciente mínimo foi o numero 1 e o máximo 6. Acompanhe este exemplo de como eu aprendi a resolver operação da conta de dividir com mais de dois algarismos que na época era realmente terrível pra mim parecia até que eu nunca o conseguiria. Tem até uma curiosidade certa vez eu pedi a um amigo para resolver um dever de casa para mim, e tinha duas contas dessa para ser efetuada, pois bem o amigo que estudava em colégio particular me ensinou errado, ele também foi um dos que só aprendeu corretamente, quando eu ensinei através do método que criei, o que quer dizer que nos anos sessenta, estudar em escola particular não era sinônimo de bom aprendizado, era só papai pagou Filhinho passou. Não foi tão fácil, mais com esta minha forma muita gente aprendeu o número após a vírgula é os que são baixados do dividendo, os anteriores a vírgula são os que sobram pra completar a divisão, foi assim que eu descobri o método e nunca mais tive que passar pelas humilhações que passei como no caso de Ariosvaldo, o resultado do divisor é sempre igual ou menor que o dividendo. Na classe tive moral de grande mestre, é mole nos anos 60 adolescente de 13 anos fazer algo assim, dava pra professora um cartaz danado, ela ficava badaladíssima no conceito estudantil da época, ainda mais se tratando de Maria Helena a pró que todos os alunos da cidade queriam estudar. Como eu já era seu aluno a mais de quatro anos foi uma maravilha, foi assim que eu passei do terceiro pra o quarto e do quarto pra o quinto ano primário, quando completei 13 anos, quinto ano, aliais que eu não cursei, pois eu tive a maior alegria de toda a minha vida exatamente neste período, eu pude acompanha os meus colegas que se adiantaram de mim quando eu tive que repetir o terceiro ano. No ano de 1966 o governo brasileiro através dos militares, criou o curso de Admissão ao ginásio, como alternativa para acabar o quinto ano primário, que eles consideravam desnecessário, e era mesmo, pois tudo que seria dado no quinto ano, já teria sido feito no quarto ano, então foi criado o concurso de admissão ao ginásio, que funcionava da seguinte forma: o aluno que estivesse cursando o quarto ano e fosse aprovado pra o quinto com nota mínima de 6,5 estaria apto o participar do concurso, se fosse aprovado apenas no limite coma nota 5,5 seria obrigado a fazer o quinto ano primário e não faria a admissão ao ginásio.
PASSEI EM PRIMEIRO LUGAR NO CURSO DE ADMISSÃO AO GINASIO: Quando terminaram de ler todos os 45 nomes houve uma pausa de dez minutos para os agradecimentos, quase que eu vou embora mais como eu esperava a consagração dos meus favoritos, aguardei. Recomeçou a cerimônia escolhendo as autoridades que iriam presentear os cinco primeiros colocados: Dr. Adalberto iria anunciar o quinto Lugar, Dilce Maia o quarto Lugar, Carlos Navarro o terceiro lugar o Prefeito Murilo Cavalcante o segundo lugar, e finalmente Maria Helena que sendo professora do aluno (a) vencedor (a) anunciaria o primeiro lugar. Não tive duvida, seria Julia Ariosvaldo ou Artur. Com todo clima preparado, deu inicio a premiação havia uma grande expectativa do pessoal que estava presente para saber de quem seria o primeiro lugar, estava próximo a uma senhora e falei olha senhora será Julia Artur ou Ariosvaldo os vencedores. A senhora perguntou como você pode saber? Eu respondi a professora que vai entregar o prêmio é Maria Helena eu estudo com ela o os três são meus colegas, e são alunos mais inteligentes da cidade, a senhora que estava do meu lado rui e perguntou é você não passou? Respondi não, meu nome não estava na lista dos 45 citados antes. Ela falou que pena você bem que podia estar lá também, o meu filho passou. Eu disse tudo bem eu estou feliz assim mesmo vou fazer o quinto ano. Boa sorte pra seu filho ele estuda aqui mesmo, ela respondeu que sim e que o nome dele, era Lauro eu achei que conhecia, pois eu tinha um amigo chamado Lauro, que estudava pela manhã. Neste instante começou a anunciar os últimos cinco nomes.
II - A Classificação Final Ficou Assim. (Dr. Adalberto 5º) Lugar: Estelita Dantas Souza
(P.
Dilce Maia
4º) Lugar: Ariosvaldo Oliveira Brito
(Dr. Carlos Navarro 3º) Lugar: Artur Noronha Filho (Dr. Murilo Cavalcante 2º) Lugar: Julia Alves Celino
(Pró. Maria Helena
1º) Lugar: Luiz Alberto Freitas
Tomei um susto, a senhora que estava do meu lado perguntou é você? respondi sim, ela me abarcou, e disse parabéns, você foi o vencedor, naquele momento passou pôr minha cabeça um filme que relatava minha vida até ali. Filho adotivo de uma lavadeira ser primeiro colocado em um concurso foi demais, realmente eu não esperava. Minha mãe nem estava ali pra me representar, eu estava sozinho, e ainda pôr cima com uma calça remendada no joelho foi muita emoção, ainda lembro que a Pró Maria Helena chorava de alegria quando explicou a formula que inventei para aprender conta de dividir que mostrei acima e me chamou. Tomei coragem e fui à frente lá onde estavam os outros colegas, eles me abraçaram chorando eu vi o salão inteiro de pé me aplaudindo, como testemunha da minha humildade, e sobre tudo da minha grandeza espiritual, quando falei agradeci aos presentes, aos professores, à professora Maria Helena, a quem eu não tive palavras, pra agradecer, pois em toda minha vida jamais encontrei alguém com tanta vocação pra ensino como ela então desabafei disse que não me achava preparado pra ser primeiro colocado, acreditava que quem fosse ficar com esse titulo seria Julia, Artur, ou Ariosvaldo, sendo que minha preferida era Julia, mais os três eram os alunos mais inteligentes de Alagoinhas, pelo menos eu achava, eles sorriram e me abraçaram agradecidos. Finalizei dizendo que a minha alegria era saber que a partir de março 67 eu que iria cursar quinto ano primário, estava com vaga garantida, na primeira série do Ginásio Alagoinhas. Melhor colégio no estado. Naquela época essa foi a maior vitória da minha vida, pra se ter ideia, Artur hoje é medico, Ariosvaldo é Advogado, e Julia, formou-se em professora.
FUTEBOL AMADOR DENDÊ UM ÍDOLO AMIGO: Bahia do Alecrim 1x0 Dois de Julho. Fomos campeões invictos do primeiro turno, e eu acabei como herói que a 30 minutos do segundo tempo defendi o pênalti, mesmo sem ser goleiro. Aqui esta o time daquele dia: 1 Luiz – 2 Gil – 3 Reginaldo – 4 Robertão – 6 Torpedo - 5 Miguel – 8 Babinho – 10 Dendê – 7 Olival – 9 Moisés – 11 Silvio,
O gol foi marcado pôr Dendê aos 40 minutos do segundo tempo cobrando falta. Falando em Dendê, quero ressaltar que ele foi o único jogador de futebol de Alagoinhas, que levou o nome da cidade mais longe, por isso merece o reconhecimento de todos nos, não só pelo seu excelente futebol, como pela sua humildade, personalidade e caráter. Sua trajetória pelo mundo do futebol começa no ano de 67, quando ele tinha 14 anos e jogava no Internacional da Praça Kennedy, time onde jogava Eliel, Claudinho, e muitos outros da minha época, após esse período Dendê veio jogar com a gente no Bahia, indo em seguida pra o Galácia de Santa Terezinha, onde segundo ele recebeu o primeiro presente de um dirigente esportivo, ganhou de seu Toninho da Laranja, um par de chuteiras da marca gaeta, no Galícia ele ficou até 69, quando foi convocado pra seleção de novos de Alagoinhas, indo a seguir pra a divisão de base do Atlético de Alagoinhas, quando se profissionalizou no ano de 72 aos 18 anos, razão pela qual ele não serviu o Tiro de Guerra, foi considerado pela imprensa esportiva baiana o jogador revelação do campeonato baiano daquele ano. Isso lhe rendeu a disputa do seu primeiro Campeonato Nacional pelo Esporte Clube Bahia, clube de onde fugiu de volta pra Alagoinhas, para casar-se com dona Nadja Vasconcelos, aliais estão casados até hoje, e juntos são pais de três filhos: Mauro, Anderson e Thomas, nesta mesma época ele foi sondado por vários clubes, brasileiros entre eles Cruzeiro de Minas Gerais, e Flamengo do Rio, e ele juntamente com um jogador de nome Merica vão ao Rio de Janeiro jogar no Flamengo ficando por lá uma temporada, volta pra o Vitória da Bahia, neste clube ele perde um titulo histórico e pensa em abandonar o futebol, pra trabalhar na Prefeitura de Alagoinhas, desiste desta ideia e vai jogar em Sorocaba-Sp, no São Bento, de volta a Bahia, joga no Leônico e é esquecido, pelos chamados grandes clubes, até aparecer jogando na Catuense de Antonio Pena, um time que é um misto de empresa de ônibus e clube de futebol, que se torna famosa no Brasil pelo globo esporte por promover a troca de um ônibus por um jogador. Dendê reencontra seu verdadeiro futebol, e a Catuense foi vice-campeã baiana da temporada, revelando o jogador Bobô. O tempo passava e ele ainda jogou em outros clubes, até chegar ao Lagarto Esporte Clube, da cidade de Lagarto-Se, onde finalmente nos encontramos. Ali eu tive a felicidade de realizar meu sonho, fazendo com ele um programa esportivo, em seguida ele retornar a Alagoinhas e encerrar a carreira onde começou no Atlético de Alagoinhas. Certa vez perguntei a ele, qual a maior partida que ele fez e por que time jogava, ele respondeu que foram três e destacou! Primeiro em Alagoinhas, uma partida pelo Atlético, contra o Leônico onde vencemos por 3X2, perdíamos de 2X0, e nesse jogo fiz dois gol, no seu Bahia, Jogando o nacional, de 72 contra o Curitiba que empatamos 2X2, também perdíamos por 2X0, e também fiz os dois gols, e no Flamengo foi no meu jogo de estréia em Porto Alegre contra o Grêmio, vencemos por 2X0, com gols de Zico, joguei de lateral direito. Eu sou suspeito pra falar alguma coisa sobre Dendê prefiro achar que sua maior partida foi aquela em que ele fez o gol de falta contra o 2 de Julho no campo do 4º Batalhão de Alagoinhas, pois foi dali que surgiu o grande jogador que ele realmente foi, se hoje não é rico de dinheiro com certeza é um cara feliz com a família que tem, pois tem amigos verdadeiros, que acredito ele sabe quem são, e quantos são, continua sendo a mesma pessoa humana digna verdadeira, a você José Alberto Dendê da Silva Vasconcelos, sua esposa Nadja Vasconcelos, e seus filhos, Mauro Vasconcelos, Anderson Vasconcelos, e Thomas Vasconcelos, esta pequena lembrança pela nossa amizade, na certeza que você continua sendo meu jogador preferido, como eu disse antes, não só pelo seu futebol mais acima de tudo por suas intermináveis qualidades morais e éticas pena que Alagoinhas até hoje ainda não o reconhece como deveria, só espero que não o façam depois que você já não estiver mais com a gente será deveras lamentável, e de minha parte inaceitável.
PRIMEIRA NAMORADA: Envergonhado e decepcionado por ter sido visto pelado pela garota da Avenida Silva, e longe da igreja, resolvi mudar de rota, e certa vez conversando com Pedro Rocha, (Pedro twist na época), ele perguntou, bicho, porquê você não freqüenta a casa de mãe Petra? Respondi! Não sei nunca fui convidado, mais acho que era pôr causa da igreja, eu era muito ligado à igreja e não dava muita importância às outras coisas também por que tinha quase 14 anos e dormia sempre cedo. Ele então convidou! Vamos lá hoje à noite você aproveita pra conhecer uma menina linda que apareceu pôr aqui, irmã de Raimundo o namorado de Inêz, de nome é Josefa é linda e inteligente, são de Lagarto-Se, eu só não namoro com ela porque acho nova pra mim, mais pra você vai ser ideal você precisa conhecê-la “nunca entendi essa conversa afinal ele namorava e casou com uma menina desde que ela tinha nove anos e disse que Josefa com quatorze anos era nova vai saber”. Vou te aguardar lá hoje à noite tá certo, eu falei ta. Era primeira vez que alguém falava alguma coisa me ligando diretamente a uma garota, e também me convidava pra alguma coisa que não fosse ir a igreja, minha vida era muito voltada pra a igreja eu era um “crente” de verdade. Teria que me atualizar, pois os adjetivos usados pra se comunicar, naquele meio jovem eram gírias trazidas das musicas da época, coisa do tipo papo firme, bicho, gatinha manhosa, bom rapaz, tremendão, e assim pôr diante. Foi primeira vez que me olhei no espelho, de modo especial, não sei se me achei feio ou bonito, seguir o clima da idade, que vivia, aceitei o convite de Pedro e fui à casa de dona Petra, que pra muitos era mãe Petra, pela primeira vês, por dois motivos primeiro conhecer a menina bonita e inteligente de nome Josefa, que ele havia falado, e segundo me enturmar com a galera que era uma outra realidade ou seja conhecer melhor meus velhos amigos. Aquela noite vesti-me o que tinha de melhor, calça marrom, camisa verde, e sandália branca, não parecia em nada com o rapaz que estava sempre indo pra a igreja, quando cheguei à casa de mãe Petra, já estava pôr lá Pedro, Zé Mingau, “que virou meu rival eterno” José, Clovis, Mário, Eraldo, e Manoel, também as meninas Sidi, Morena, Éster, Regina, dona Petra e Maria Gorda. Estranharam-me, nunca tinha ido aquela casa principalmente à noite, ainda mais me vestido como achava que estava eu era tímido após cumprimentar todos fiquei calado apenas observando movimentos, quando de repente a garota apareceu. Pedro tinha razão realmente uma garota muito bonita, morena olhos pretos cabelos bem lisos pretos tinha como eu mais ou menos 14 anos, falava tão manso, que seu apelido era gatinha manhosa. As pessoas que freqüentava a casa de dona Petra tinha cada um seu apelido fruto do clima da época dos Play Boys baratos, Pedro era Twist, Clovis era Bico, Mingau era Polunga, José era Lugubinha, Ivo era Grilo, e por ai vai, tive um apelido completamente diferente, pôr causa do meu comportamento tímido e calmo fui chamado de bom rapaz pôr causa da musica do Wanderley Cardoso. A garota causava pânico na galera, todos da minha idade e até mais velhos, estavam a fim de namorá-la, muita gente querendo registrar na historia da sua vida, o nome Josefa, por isso pensei comigo, tô fora tem caras bem mais bonitos que eu nesta parada, não vai dar pra mim, vou ficar aqui até as dez horas depois vou embora, essa garota, é bonita demais pra ser minha namorada Pedro tá por fora. De repente ela olhou pra dona Petra e perguntou: madrinha! Quem seria aquela nova alma vivente assim tão calada? “não desconfiei de nada”. Dona Petra respondeu você ainda não conhece o nome dele é Lpupulpapa, parece um bom rapaz, mais é muito calado disse Josefa. Tudo isso na minha frente e eu não estava entendendo absolutamente nada nem ao menos que era de mim que falavam. Como eu não falava só ouvia, não fumava, não bebia, eu era realmente calado, Josefa olhou pra mim e perguntou e você Lula não fala nada? Fiquei meio bobo e perguntei esta falando comigo? Ela disse tem mais algum Lula aqui. Eu perguntei como é que você sabe meu nome, ela falou segredo, respondi falo sim, tudo bem, o que quer saber: Seu nome o que você faz pôr que esta vindo aqui hoje pela primeira vez, e porque seu apelido é bom rapaz, respondi! Meu nome é Luiz Alberto, e o seu? Ela falou “Josefa” Josefa de Jesus Doerá “Zefinha para os Íntimos” cumprimentei dizendo prazer e continuei: sou estudante fui crente, e estou vindo aqui hoje pela primeira vez para conhecer melhor os meus amigos, e saber como é está aqui na casa de dona Petra quanto ao bom rapaz não sei é você que está dizendo (menti claro o principal motivo de está ali era conhecê-la). Foi só o que conversamos, o resto do tempo foi pra ouvir mãe Petra contar as historias de castelos e princesas. Mãe Petra era especialista em filmes épicos adorava contar Bem-Hum, Manto Sagrado, e El Cid sempre que contava um desses filmes ela acrescentava uma nova personagem que era ela mesma e o final nunca era o mesmo. Hoje me refiro a ela como nosso entretenimento do passado, não havia ainda o advento da televisão, e o radio era provinciano de cidade do interior, no maximo cinema para alguns. Pois bem próximo das dez horas da noite me levantei, dei Boa Noite e ai já chamei de Mãe Petra, Tchau Pedro, Tchau Sidi, Tchau Éster e Tchau Menina, ela respondeu Tchau Menino, fui embora. O pessoal continuou na casa de mãe Petra sair mais cedo porque era a primeira vez que ia ali, também estudava pela manhã, e tinha que acordar cedo. No dia seguinte a caminho da escola lembrava a menina bonita, e cheguei a seguinte conclusão, “não é papo pra mim”. “Menina linda” tem gente mais bonita na minha frente, ela mexeu comigo mais com certeza não tenho chance alguma. Tenho medo de me dar mal, pois já passei pôr um problema serio na igreja, e não estou a fim de sofrer outra decepção. Achei que teria me dado mal, mais a coisa foi outra eu entrei na parada com mais de 10 garotos na concorrência, e venci todos eles, tudo começou por causa de um aniversario: Aquele sábado à noite seria o nosso provável encontro, ela foi ao aniversario na casa de Éster eu também fui e os chatos idem, como sempre ela estava linda, só que eu não tive oportunidade de me aproximar, d’ela o assédio dos caras era insuportável, pra não ficar igual a eles, aproximei-me de outra garota amiga, minha de nome Lucinha ficamos conversando, só que Lucinha tinha apenas nove anos, como era minha amiguinha e estava lá no aniversario foi legal pra mim que não fiquei sozinho, percebi que Josefa ficou curiosa ao me ver conversando com Lucinha, e não o assediando como os outros faziam, não estava interessado, em Lucinha, só que ela era minha amiga, e eu gostava muito d’ela “alias gosto até hoje” pra não ficarmos isolados, resolvemos ficarmos juntos. “Falarei d’ela depois”. Quando a festa acabou íamos embora percebi Josefa pedindo pra Sidi me perguntar quem era aquela menina que estava conversando comigo, teria ela ficado com ciúme? Sidi falou é Lucinha, uma amiga da gente, e o tranqüilizou dizendo! Ela não é namorada d’ele se é isso que quer saber, ele não tem namorada disso você já sabe. Ela curiosa chegando perto de mim falou Lula! “ela só me chamava assim” gostaria de conversar com você amanhã na casa de madrinha Petra, você pode estar comigo amanhã à tarde, respondi que sim. Como o dia seguinte era domingo e geralmente domingo à tarde a coisa era mais calma, pois a maior parte dos “fãs” d’ela iam a matinê dominical, eu nunca tinha ido a cinema aceitei o convite fui conversas com ela na casa de mãe Petra. Cheguei bem na hora marcada, ela já estava lá, bem mais bonita, estava sentada na sala da frente em um sofá, lendo ou foliando uma revista. Eu entrei dei boa tarde, ela levantou a cabeça e respondeu boa tarde. Eu estava tão sem jeito que fiquei em pé na sua frente, ela perguntou não vai sentar, respondi aqui mesmo ao seu lado ela disse sim e enfatizou tá com medo de mim, quase respondo estou, mas disse não é isso, ela brincou dizendo: entendi pode sentar-se eu posso ser feia, mais não mordo. Sentei-me junto a ela, e a primeira pergunta que ela fez foi: aquela menina que estava com você ontem à noite no aniversario de Éster, bonitinha! É sua namoradinha? Rindo respondi que não, é Lucinha só tem nove anos, não tem idade pra namorar é filha de dona Eloina uma senhora que é como se fossa uma mãe pra mim. Eu gosto muito d’ela, mais ela não é minha namorada, acho que ela não tem idade pra isso, e continuei quando cheguei a casa de Éster, que avi bastante assediada pelos seus fãs, fiquei com receio de ir ate você, como Lucinha estava lá, é minha amiga, e estava sozinha, fui conversar com ela, que estava tão deslocada quanto eu ontem a noite na festa ela mora perto da casa de Éster pôr isso foi convidada pra o aniversario, mais porque a pergunta? Ela sorriu e disse nada só curiosidade, e perguntou: quem são meus fãs? Respondi tantos que nem da pra falar nomes mais com certeza o mais chato você sabe quem é talvez seja pôr você ser tão bonita, que provoque tanto interesse assim n’eles. Ela retrucou bonita eu! Sim você é linda, eu acho. Ela ficou tímida mudou logo o assunto e perguntou você gosta de musica eu respondi sim, ela disse já ouviu o novo disco de Roberto Carlos, eu perguntei qual ela respondeu, Jovem Guarda Roberto Carlos, respondi que não! Ela perguntou quer ouvir? Sim respondi, ela convidou então vamos a minha casa, eu moro perto no inicio da Avenida São João, vamos lá. Eu falei por mim tudo bem, ela falou madrinha já vou, da cozinha mãe Petra respondeu pra onde? A minha casa com Lula, pra ouvirmos o disco de Roberto Carlos disse ela, mãe Petra falou tudo bem, e perguntou! Sua mãe esta em casa? Ela respondeu está sim, então tudo bem podem ir, e disse pra mim Lula cuidado com a gatinha manhosa, dei um sorriso disse tudo bem mãe Petra, confia em mim. Chegamos à casa d’ela que era realmente perto e pra minha surpresa, a mãe dela não estava em casa como ela havia dito. Eu falei sua mãe não está e agora, ela disse tudo bem eu sabia ele deve ter ido aqui por perto já volta, não tenha medo tá tudo certo. Eu falei não é medo, apenas me preocupo com o que pensam as pessoas mais confio em mim. Ela me disse também confio em mim, falei ótimo, entramos e começamos a ouvir o disco de Roberto Carlos, uma musica me chamou atenção, canção de Helena dos Santos, Sorrindo Para Mim, que é mais ou menos assim “na minha viagem levarei como recordação um beijo seu você vai ficar longe de mim, mais não quero vê-la triste assim.” Ouvíamos outras musicas, quando a mãe dela chega, entra e vai logo perguntando? Zefinha quem é esse rapaz? Ela respondeu é Luiz Alberto, (Lula) amigo meu, e me apresentou a sua mão que se chamava Maria Santa, ou dona Santa pra os amigos, fiquei com medo de dona Santa, mais administrei numa boa, e por volta das seis horas da tarde fui pra casa, não aconteceu absolutamente nada. Na segunda-feira à noite fui à casa de mãe Petra, quando cheguei ela já estava e ao me ver chegar veio ao meu encontro dizendo estava te esperando, verdade! Pra quer, ela disse, soube que você tem o disco de Rossini Pinto, eu falei não é meu é da minha tia, mais eu sempre ouso, pôr que você quer ouvir, ela falou se você me emprestasse eu gostaria, perguntei quando, ela disse o dia que você quiser amanhã tá bom ela disse tá, a que horas ela disse a mesmas de ontem, as três da tarde, eu disse tudo bem pode esperar. Notei neste momento todos calados ouvindo nossa conversa, no seu fã clube, o gelo comigo foi total, não entendia nada, mais tudo bem. Ela sentou-se junto a mim e continuamos conversando, ela me fez perguntas do tipo, você lê fotonovelas, eu disse não, que tipo de revista você gosta de ler, falei revista intervalo, que é divertida e trazia noticias da Jovem Guarda, ela falou ih ele é avançado “Jovem Guarda Intervalo”. Nesta época eu era tão menino, que não percebia que ela estava realmente a fim de mim, eu também sentia que algo me motivava a estar perto dela, que ia alem de amizade mais não tinha maldade nenhuma, e faltava coragem de falar em namoro. No dia seguinte as três da tarda fui a casa dela, levei o disco pra a gente ouvir, mais uma vez a mãe dela não estava em casa, como eu era muito tímido já tinha sido apresentado como seu amigo, estava tudo bem. Ela perguntou Lula, qual a musica mais bonita deste disco, eu falei tem varias, Mentira, São Francisco de Assis, Ford Bigode, mais a que eu gosto mesmo é Quase Chorei, primeira faixa do lado dois, a musica de Madalena que é mais ou menos assim “ela foi embora que tristeza, fiquei chamado pra ela voltar, do meu coração eu não consigo a dor desta saudade acalmar, e clamando eu vou pelo caminho pedindo ao bom Jesus em oração, pra que ela regresse novamente e não mais sofrer desilusão”, ela disse puxa você é realmente romântico, suas musicas são todas apaixonadas, fiquei meio sem jeito e falei sou mesmo assim, você não gosta né. Ela falou não pelo contrario adoro, me fale mais de você eu quero saber mais de sua vida, como você é, quem é sua mãe, seu pai, onde você mora o que você pretende ser na vida porque você não fuma. Olha a minha historia não é muito bonita, eu sou um ex-crente, me conte por que saiu da Igreja? Contei a ela o motivo, ela falou que maldade dessa senhora, disse que não conhecia meu pai sabia, que ele morava em Salvador, que chamava-se Paulo mais não morava com minha mãe, que também morava em Salvador era casada com Walter meu padrasto, em Alagoinhas eu morava com minha tia Zezé, que é a mãe que me criou, falei que estudava no Escola João de Castro, e estava fazendo Admissão pra o Ginásio, pretendo ser jogador de futebol e medico, esse é o meu sonho e não fumo porque só tenho 14 anos. Neste momento chega à mãe dela, mais uma vez de surpresa me encontra em sua casa, ela confiava muito na filha pôr isso não desconfiava de nada. Ela ficou sem jeito e disse jogador de futebol! Respondi que sim e falei ainda vou jogar no Bahia meu time do coração, ela disse tá! Tudo bem. Que mancada eu acabava de dar, a garota querendo falar de outra coisa e o burro querendo colocar bola e Bahia pelo meio. Não deu pra perguntar nada sobre ela, pois com a mãe de vigia ficou difícil. Era mais ou menos cinco da tarde quando falei olha eu vou pra casa, você vai hoje em mãe Petra, ela disse não, eu disse também não, mais e amanhã a gente se vê? Ela disse sim e pediu pra deixar o disco com ela, eu falei tudo bem pode ficar. Quando eu estava voltando pra casa, encontrei Pedro Rocha, que foi logo gritando JÁ SEI, e me falou e ai já está firme com a garota, sei que você esta vindo da casa dela, ontem você estava lá, e ai qual é? vai abrir o jogo ou não. Ainda não tem nada certo eu disse mais acredito que a gente vai começar a namorar, alias como é namorar eu não sei nada, e Pedro disse deixa comigo que eu te dou todas as dicas, de como você se dar bem, não vá ficar gamado logo não pra ela não te dominar, respondi tudo bem: mais o que é gamado? Ele respondeu o mesmo que apaixonado. Isso gerou um problema enorme, nos amigos da minha faixa de idade eles passaram a ser meus rivais, era todos contra mim, eu me sentia Só contra Roma, pois esta garota era muito assediada pôr eles, que não estavam dispostos a perdê-la pra mim, eis crente, que não fumava, não bebia, e nunca tinha ido a cinema, era muito pra eles, isso não ficaria assim, se realmente eu estivesse namorando a garota teria que me entender com eles um por um, até Clovis que era bem mais velho ficou enciumado, pela atenção que ela me dava, isso incomodava toda turma. No dia seguinte eu fui à casa de mãe Petra a esta altura já me sentindo namorado de Josefa, minha intenção era só encontra-la pois eu achava que ela também queria o mesmo, só que ainda não estávamos namorando, havia muita torcida de Sidi, Éster, Pedro e outras, alem da revolta dos outros amigos. Porem eu não tinha coragem de me declara, ela também não, aliais era comum a menina terminar, o namoro mais à frase “Quer namorar comigo” tinha que ser dita pelo homem, pra mulher responder o clássico “vou pensar”. Por eu ser muito tímido isso não tinha acontecido e pelo jeito não iria acontecer tão cedo, a não ser que aparecesse um motivo especial. Finalmente veio a minha grande oportunidade, através de um caderno de confidencias sentimentais, que também era moda da época, todo mundo usava, esse artifício para se declarar a alguém, esse em particular era o “caderninho” dela. Neste caderno eu fui o numero quatro ela como dona foi a numero um. As perguntas eram mais ou menos assim: Vamos Confidencia, Qual o Seu Nome, assim pôr diante, bem lá na frente tinha perguntas mais interessantes tipo: Vamos Falar de Amor, Tens Namorado, como se chama. Foi a partir dai que descobri pelas respostas dela, que eu tinha chance, era só uma questão de tempo, e coragem pra em fim conseguir minha primeira namorada. Na Pergunta tem namorado, a resposta dela foi: Não, mais estou de olho num gordinho que é lindo. Outra pergunta dizia Como se chama, ela respondeu, Já disse que estou de olho mais a primeira letra do nome dele é L. pensei sou eu, e seguir imitando as respostas dela. A ultima pergunta pedia pra falar sobre a dona do caderno, tinha varias declaração mais nada comparado ao que eu declarei. “Uma Linda menina, pôr quem estou perdidamente apaixonado, só que tenho medo de perguntar se ela quer namorar comigo, pôr causa da minha timidez, e pra não magoá-lo, mais tenho no fundo do coração com muito amor e carinho, e finalizei perguntando, Josefa quer Namorar comigo? Diga que sim pois eu te amo. Quando os caras leram as minhas respostas, não acreditaram mais quando ela leu, não teve duvida, me procurou e disse eu quero namorar com você, e fez um pedido quero que você mostre isso pra todos nossos amigos, pra que todos fiquem sabendo que a gente se ama e que desde a primeira vez que eu vi você, foi diferente de todos os outros você marcou no meu coração, eu respondi e você também no meu. Eu gosto de todos mais com você foi diferente, eu te amei assim que te vi aquela noite lembra, respondi que sim. Pela primeira vez fui levá-la em casa, quando chegamos na porta da casa perguntei você já beijou alguém ela disse não, e você respondi, também não então perguntei posso te dar um beijo, ela disse sim meu filho, perguntei onde ela disse você quem sabe, pode ser na boca, ela nem respondeu apenas fechou os olhos, quando estava quase chegando nos lábios dela com meus lábios, escutei o barulho, da mãe d’ela abrindo a porta, e dizendo êpa, estou aqui, fiquei gelado, quase urino na calça, ela ficou fria, só que a velha não percebeu nada, ou se percebeu, não fez absolutamente nada que nos reprovasse, perdi o primeiro beijo, mais fiquei alegre, ganhei a minha primeira namorada aos 14 anos de idade, era a garota mais linda do bairro Josefa de Jesus Doerá seu nome, o nosso primeiro beijo aconteceu no dia seguinte na boca, no mesmo lugar em frente a casa dela. Pedro não estava presente, ao acontecimento, quando contei, ele vibrou, alias é sempre assim até hoje ele vibra comigo, e eu com ele. O restante dos meus amigos também se conformaram, pois não seria uma linda menina que iria quebrar nossa amizade de infância, só Zé Mingau, não se conformou, e dobrou o assedio, chiclete chocolate e mingau, era com ele mesmo, as ofertas era uma tentativa de perguntar? Josefa, o que é que esse cara tem que eu não tenho. Confesso que nesta época se dependesse disso eu teria perdido a namorada, pois o meu dinheiro era somente aquele que tia Zezé me dava no final do ano, eu não trabalhava, a coisa era meio barra, mais pra minha sorte ela gostava mesmo de mim e disse pra ele, Zé você é meu amigo, eu gosto de você, mais pôr favor entenda o meu namorado é Lula, se você continuar insistindo, vou começar a recusar tudo, pois fica feio me comportar assim, pôr favor pare com isso, se quiser continuar com minha amizade. Interessante é que eu não pedi nada a ela e ele com raiva deixou de falar comigo, Clovis que era bem mais velho que eu e ela, uma vez tentou me tirar da jogada, e disse a ela na minha presença “que moleque feio esse Lula Gordo” só que se deu mal, pois ela disse a ele eu sei mais eu amo ele assim mesmo. Sei que até havia caras mais bonito do que eu mais descolado ia a cinema fumava e tudo, mais era de mente pequena, não estava fazendo admissão pra o ginásio, e nem sabia ensinar ninguém fazer conta de dividir com mais de dois algarismos, e nisso eu era craque e ainda tinha o apoio do líder da galera da matriarca da turma e das meninas que também gostava muito de mim, pôr ordem Pedro, mãe Petra, Sidi, Éster e Morena, só que nem tudo foram flores, entre nos, pois Zé Mingau não desistia. Certa vês namorávamos normalmente quando aconteceu a primeira briga envolvendo Eu, Ela, Zé Mingau e Regina, e quase nosso namoro acaba, Zé pagou a Regina pra ela tentar me “seduzir” depois contar pra Josefa o acontecido para que ao tomar conhecimento ela ficasse brava e terminasse o namoro, comigo abrindo o caminho para ele. Como eu não sabia o que estava rolando, dei um beijo na mão de Regina, pois ela estava dando mole, só que eu não sabia o acordo dela com Zé nem a grana que ela estava recebendo, foi o bastante pra ela contar a Josefa, que ao saber do beijo na mão pirou, pois um beijo na mão era a prova mais verdadeira que você podia dar a alguém que você estivesse afim, pois significava amor e respeito e só era dado na mão das mães, ou de pessoas queridas por isso Josefa ficou brava comigo, não acreditou em nada que falei a ponto de ficarmos mais de quinze dias sem nos vermos, sofri tanto que deixei de freqüentar a casa de mãe Petra, fui a Salvador curtir minha “fossa” na casa da minha mãe, não suportava a idéia de perder Josefa por nada, só que não adiantou voltei quinze dias depois, preferir sofrer estando perto d’ela, meu medo não era Zé Mingau, e sim Clovis, quando cheguei fui informado do que estava acontecendo, ela não estava namorando nem Zé Mingau nem Clovis, só que a gente não se falava, até que um dia a verdade apareceu, Regina brigou com Zé por causa de um cigarro, e contou tudo a Josefa, que arrependida pediu a mãe Petra que o ajudasse a sermos amigos, fui procurado por Sidi, e como eu ainda era louco por Josefa e ela por mim, voltamos a namorar. O pior acabou sobrando pra Zé Mingau, que ainda voltou a aprontar, e por causa dessas e de outras varias, de suas bobagens, não nos falamos mais e nunca mais tive noticias dele.
FATOS INUSITADOS QUE ACONTECERAM; 1966 - 1969 Faltava alguns dia pra a micareta de 67 e mais uma vez tivemos uma surpresa engraçada, coisa de adolescente burro e apaixonado, e desta vez, Almiro entra em cena, pois ele foi o escolhido para ser o galã. Não tendo mais oportunidade com Josefa desde o caso Regina, Zé Mingau não desistia de levar a serio a musica namoradinha de um amigo meu, resolveu armar mais uma das suas, e pra me tirar da jogada fez a seguinte proposta a Almiro, disse ele: Eu no caso d’ele, ainda sou apaixonado pôr Josefa, só que ela voltou a namorar o chato do Lula Gordo, como não tenho chance com ela, eu pago, R$: 20,00 pra você namorar a garota, assim eu me vingo d’ele. Almiro perguntou Lula Gordo é Coelho? Ele respondeu é! Almiro concordou tudo bem topo. Na verdade ele queria ganhar a grana à garota seria conseqüência. Não contaram a Zé Mingau que Almiro era o melhor amigo, que eu tinha na minha faixa de idade, até a historia dele era parecida com a minha, pois eu fui adotado, pôr gente da minha família, e Almiro, foi adotado pôr dona Maria Baiana, uma senhora que gostava muito de mim, e me colocou o apelido de Coelho, que até hoje eu não sei por quê. Almiro furou varias bolas minha, andava na minha patente, mais ainda não frequentava a casa de mãe Petra, ele morava no alecrim de cima, mais dos meninos da minha idade, era um dos mais bonitos, era inteligente, gostava de desenhar de cantar, era um bom aluno, bastante descolado em cinema, era muito interesseiro, mais nem tanto interessante, um páriu duríssimo pra mim, mas pra me tirar da jogada era preciso ser bem mais que eu, não só na beleza física como em muitas outras coisas mais com Almiro sentir que poderia perder a parada. Zé Mingau sabia disso Regina que o provasse, mais como ele não se emendava, levou Almiro a casa de mãe Petra, pra conhecer Josefa, e bolar como seria a forma de entrarem em contato com ela. Quando chegaram pôr lá eu já estava, e sem saber de nada falei com eles, achei estranho Almiro por ali, mais ainda assim apresentei ele a Josefa, como sendo ela minha namorada. Senti que ele ficou meio sem jeito mais foi em frente, cumprimentou, e em seguida saiu com Zé Mingau todo desconfiado. Bolaram então um bilhete como forma de pedido de namoro de Almiro pra Josefa, onde o próprio Zé Mingau entregaria o bilhete. Só que Almiro se arrependeu me procurou e contou-me toda historia inclusive me mostrou o bilhete que eu li e perguntei: posso ficar com esse bilhete até amanhã? Ele disse pode. Eu falei amanhã agente acerta os detalhes ele falou tudo bem, era minha chance de acabar com aquele idiota definitivamente. Levei o bilhete, mostrei a Josefa, contei que foi assim mesmo o caso de Regina, ela ficou uma fera, mais eu pedi calma e que ela não contasse nada a ninguém, a idéia era a seguinte: aceite o bilhete que ele vai te entregar amanhã, e peça pra ele trazer Almiro, sábado à noite na casa de mãe Petra, pra você dar a resposta certo ai você aproveita e fala desse e do caso Regina, com isso ele paga a Almiro, agente divide, a grana e vamos passar a micareta curtindo com a grana dele. Ela aceitou, mas disse é a ultima vez que vou topar estas brincadeiras idiotas, amanhã mesmo acabo com isso de uma vez pôr todas, eu disse tudo bem faça como quiser. Voltei a Almiro e disse pegue a grana do otário, pra a gente dividir e gastar na micareta, e pode mandar o bilhete eu já falei com Josefa ela vai pedir pra você ir com ele no sábado pra ela dar a resposta. Almiro fez conforme combinamos recebeu a grana me deu a metade, e mandou o tal bilhete pelo próprio Zé Mingau, que na cara de pau entregou a Josefa, ela recebeu leu e fez conforme havíamos combinado. Sábado era primeiro dia da micareta, estávamos todos reunido na casa de mãe Petra, Eu, Josefa, Pedro, Clovis, Sidi, Éster, Morena, José, Eraldo e Zé Mingau, que chegou com Almiro. Preparávamos pra irmos a rua apenas desfilar, pois sábado era só abertura da micareta, normalmente a gente só entrava em ação domingo pela manhã. As fantasias já estavam prontas, eram todos de calça pintada com tinta óleo, criação Pedro Rocha, sandália de couro, um colete, e uma fita amarrada na testa. De repente a resposta de Josefa a Almiro, ela pega o bilhete e começa gente quero fazer uma revelação, todo mundo ficou esperando, ela disse agora é o fim, pois eu fui vendida a esse menino aqui Almiro, pôr (vinte cruzeiro), o pessoal caiu na risada ela disse é verdade, Zé me vendeu a ele pôr esse valor. Aqui está o bilhete, que ele mandou Almiro escrever pra mim me pedindo em namoro e agora eu vou dar minha resposta, e leu o tal bilhete. A Parte que eu lembro {Meu nome e Almiro, e quero Namorar você, aguardo a sua resposta sim ou não pelo portador Zé. Um Beijo} e perguntou Almiro você recebeu mesmo dinheiro? Almiro disse sim. Ela respondeu minha resposta sobre namoro é não! Olhou pra Zé Mingau e disse que seja essa a sua ultima brincadeira sem graça, eu não sou Pu.., pra você fazer essas coisas comigo, é ultima vês que falo, meu namorado é Lula, vocês viram que agente estava brigados e mesmo assim eu não namorei ninguém, vocês são meus amigos, não vejo necessidade nenhuma de você ficar nesta insistência pra namorar comigo, já pensou o que Almiro poderá pensar de mim, que sou uma qualquer, que se vende por vinte cruzeiros, pensei que Regina fosse sua última tentativa, mais você continuar insistindo. Vou contar pra a sua mãe, pois isso não é justo, isso não é coisa de amigo, e correndo pra meu lado me deu um beijo ali bem na frente de todos e disse está satisfeito com a resposta. Zé Mingau pediu desculpa a ela na maior cara de pau, e ficou de mal comigo e com Almiro. No domingo eu Josefa e Almiro, fomos juntos tomar cerveja, na praça do correto de Alagoinhas em plena micareta com a grana dele, esse nome Zé Mingau é apelido, ele vendia mingau não é menosprezo é coisas de adolescente, apesar de não nos falarmos a um bom tempo, hoje ele é um amigo que não vejo desde esta época.
A SAUDE DE JOSEFA:
Segure as emoções pois as mais fortes ainda vão acontecer a partir de agora, ainda não estava bem certo, mais sabia que Josefa tinha problemas serio de saúde, estava demonstrado no seu estado físico, aos 14 anos, não tinha seios, calçava sapato 32 não tinha pêlos, e ainda não havia despertado puberdade, sua aparência física era de uma garota de 10 anos, porem sua mente era perfeitamente normal eu adorava ficar perto dela, pra sentir aquele cheirinho de bebê que usa talco infantil. Certa vez cheguei a casa de mãe Petra, e o clima era de preocupação comigo, eles estavam preparados pra me dar uma noticia ruim, mais faltava coragem, pra falar, pôr não saberem qual seria a minha reação olhei nas caras e perguntei, gente pôr que tanta tristeza, qual o motivo de tanta preocupação, o que aconteceu mãe Petra? Quer mesmo saber disse ela, claro que sim respondi: cuidadosamente ela começou falar olha sua namoradinha foi internada ontem à noite no hospital, devido a uma crise que teve pôr causa de uma doença que sofre. Perguntei doença! que doença é esta que precisa ficar internada, ela disse é meu filho o caso é serio, é nos rins, ela precisa receber sangue e só ficando no hospital pra ser tratada, mais fique tranqüilo, que ela está bem, se você quiser visitar, só amanhã, pois hoje não tem visitas. A conversa com mãe Petra não me convenceu, mais eu tive que respeitar afinal ela era nossa, mãe Petra e não podia ser colocada em duvida. De repente chega a mãe de Josefa, dona Santa, nervosa, chorando muito, e relatou a situação em que Josefa foi levada pra o hospital, e como estava sendo tratada. Não posso negar neste momento eu tive uma crise, e comecei a chorar, alias eu era muito chorão, chorava por tudo, e depois desta noticia entrei em pânico, foi difícil pra meus amigos me controlarem. Eu perguntava em estado desesperador ela vai morrer dona Santa, e ela disse não meu filho ela já esta bem melhor, pois assim que chegou ao hospital ela recebeu sangue e logo reagiu, só não pode vir pra casa, porque os médicos já conhecem o caso, e sempre a deixa pôr lá no mínimo 20 dias. A mãe dela olhou bem nos meus olhos e disse, olha seja forte, pois eu sei tudo que há entre vocês dois, espero que ela fique logo boa e esse namoro seja de verdade. Ela já me falou sobre você, só falta autorização do Raimundo, até tentei compreender que ela falava, pra me animar, mais era difícil, eu chorava muito não suportava a idéia de ficar nem um segundo longe de Josefa. As visitas só podiam ser feitas nos dias de quintas, e domingos e pra aumentar meu desespero eu que era menor de idade, só podia entrar acompanhado pôr uma pessoa mais velha. Esse fato aconteceu no inicio de dezembro de 67 se fosse passar 20 dias, ela passaria o natal internada, não estava nos meus planos passar natal com a minha namorada internada em hospital algum. Na quinta feira à tarde eu fui visitá-la pela primeira vez, quando cheguei ao hospital fui informado, que ela estava no pavilhão infantil. Já estava pôr lá quase toda tropa, alem de dona Santa e Raimundo, estavam mãe Petra, Sidi, Pedro, Clovis, Zé Mingau, Éster, Morena, e eu que cheguei com Almiro. Ela já havia perguntado pôr mim varias vezes, quando de repente entrei no local, cheio de crianças, ela estava deitada numa daquelas camas de hospital, junto a uma outra garota com o mesmo problema, eu falei, oi sou eu ela me olhou e começamos a chorar. Naquele momento todos naquele local se emocionaram pôr pouco não choraram junto, pra quebrar aquele clima de tristeza, a mãe dela falou. Zefinha minha filha, trata de ficar logo boa, pra casar logo, pois seu namorado a vida é chorar sentindo a sua falta. Às quatro horas da tarde as visitas foram encerradas, e fomos todos pra casa, os meus amigos vinheram me confortando, pois minha tristeza era grande. Acabei descobrindo que Pedro, era amigo de Waldir, um dos enfermeiros que cuidava do departamento infantil onde Josefa, estava internada, como ele também era amigo dela, isso tornou mais fácil pra mim visitar Josefa, até nos dias que não era pra visitas, o colégio que eu estudava era próximo do hospital, e quando terminava as aulas eu sabia que o plantonista era Waldir, vinha direto do colégio ao hospital, ficava lá no departamento infantil até as seis horas da tarde namorando, claro sem poder beijar, pôr causa das outras crianças, mais sempre de mãos dadas. Às vezes as meninas que estava lá gritavas, namorando, namorando, mais agente não se incomodava com isso. Nesta época eu ganhava algum dinheiro, que Laura me dava, “depois eu conto quem é Laura e o porquê do dinheiro”, e comprava pra ela, maçã, uva, e outras frutas, pois no hospital só aceitava entrar frutas, nada de chiclete balas e etc. Ela adorava. O plantão de Waldir era as terças e sextas feiras, pôr isso eu era privilegiado, e visitava Josefa, nos dias: terça, quinta, sexta, e domingo. Nessa época quase perco ano, estava namorando muito e estudando pouco, precisei estudar muito para passar de ano, na minha cabeça Josefa era sempre o primeiro lugar em tudo. Eu sofria muito com a ausência dela ao meu lado. Não sabia como tudo seria administrado dentro da minha cabeça, muito apaixonada pôr ela, e com certeza ela pôr mim, até quando brigávamos parecia briga de namorados bem mais velhos, só tínhamos 14 anos. Foi Primeiro Amor. Faltavam cinco dias para o Natal, quando fui visitar Josefa no hospital, “Waldir autorizando”, fiquei com ela, toda tarde, no meu semblante muita tristeza, pois ela ainda não sabia se ia passar o natal em casa se teria alta ou não. Eu precisava fazer a ultima prova e minha preocupação era grande alem da tristeza de ter minha namorada internada em um hospital, que foi difícil administrar qualquer coisa na cabeça de um menino de 14 anos, que como todo adolescente apaixonado, ainda jogava gude. Às seis horas da tarde fui pra casa e no dia seguinte comecei a estudar pra prova que eu faria neste mesmo dia. A tarde fui ao colégio, e fiz a tal prova, e como sabia que o plantonista não era Waldir, não fiz questão de passar no hospital pra visitar Josefa isso era dia vinte e dois um dia de sexta-feira teria mesmo que esperar a visita, pra o dia de Natal, que coisa chata pensava, meus amigos curtindo natal, e eu com minha namorada no hospital, não por está com ela e sim por ser num hospital. Confesso que só me dava vontade de chorar. No dia vinte e três um sábado, eu estava em casa na parte da tarde, quando Éster e Sidi, chegaram me dando um recado de mãe Petra: Lula era assim que Sidi me tratava, e disse: mãe esta te chamando lá em casa agora, pra você ver a nova revista INTERVALO, que Clovis comprou, estava me preparando pra ir jogar bola no campo que tinha próximo da minha casa, mais disse tudo bem vou daqui a pouco, Sidi insistiu daqui a pouco não! Tem que ser agora, eu falei pôr que só pra ver uma revista, ela respondeu você sabe como é mãe. Eu falei tudo bem vamos lá. Meus amigos entendiam minha tristeza, mais era preciso continuar tentando ser adolescente eu tinha só 14 anos, precisava brincar me divertir, mais minha cabeça só pensava em Josefa era preciso mudar isso, até para o nosso próprio bem eu era louco pôr Josefa fazer o que. Quando cheguei à casa de mãe Petra, senti algo me tocar, pôr incrível que pareça senti o cheiro de Josefa, mais pensei não pode ser ela não estar aqui, pois quando estávamos no hospital ela me disse que não sabia se teria alta, pra passar o natal em casa, é só impressão minha. Fui direto ao fundo da casa, e vi mãe Petra, estava sentada numa cama que tinha na cozinha, ela olhou bem seria pra mim e disse Lula, vá ai no meu quarto, pegue a revista que esta em cima da cama, pra você ver a reportagem que tem sobre Os Panteras, “Os Panteras era o conjunto de rock, que eu falei do show de Jerry Adriany que eu gostava muito avi varias vezes no programa Sabatina da Alegria em Salvador.” Eu disse serio, ela disse sim pode ir, quando abrir a cortina, que entrei no quarto, quase morro de susto, estava ali na minha frente sentada na cama ainda pálida pôr ter saído naquele dia do hospital, mais com um sorriso de alegria nos lábios, a minha namorada Josefa, fiquei alegre e dei um beijo tão demorado, que quase suguei todo sangue. Esqueci de bola, de almoço de tristeza de tudo em fim, e ficamos juntos aquela tarde, ela me contou como foi que teve alta, disse-me: que quando nós saímos o medico, apareceu mandou chamar mãe, pra dizer que ela iria passar o Natal e o Ano Novo em casa, e que só deveria voltar ao hospital no dia oito de janeiro, que foi um dia de segunda feira, pra fazer uma avaliação do meu estado, pra até no máximo dia quinze de janeiro, ir a Salvador, no Hospital das Clinicas pra avaliação medica e conforme for serei operada e finalmente serei curada desta doença. Não ficou muito claro na minha cabeça esse negocio de operação, era palavra estranha mais eu esperava ver minha namorada totalmente curada e feliz fosse qual fosse nosso destino, ela era muito linda pra sofrer tanto, fiquei muito preocupado, mais ela estava bastante otimista, acreditava que sua única esperança era esta operação. Uma menina amiga dela, que tinha o mesmo problema, fez a operação e graças a Deus ficou boa, eu e todos nossos amigos esperávamos e acreditávamos nessa possibilidade. Como no natal eu sempre tinha aquela grana que tia Zezé me dava, me preparei para passar o natal bem legal ao lado dela. Na véspera do saímos juntos e pela primeira vês entrei em uma igreja católica. Foi no convento de São Francisco, lá ela rezou e eu orei, acredito que o nosso pedido foi o mesmo: Pedi a Deus que tomasse conta da vida dela e que não deixasse que nada de mal pudesse acontecer, e que a operação que ela iria fazer fosse um sucesso, que ela voltasse de Salvador, muito mais linda ainda. Saímos juntos também no ano novo, mais não fomos à igreja. Ficamos passeando na Praça Ruy Barbosa, local onde era armado um parque de diversão, com roda gigante, trem fantasma, e outras diversões, e muitas barracas com venda de cerveja etc. Estava bastante preocupado mais me mostrava tranqüilo, o medo às vezes se confundia com a insegurança, eu não me imaginava de forma alguma longe de Josefa, quanto mais perdê-la, minha primeira namorada, bonita e inteligente. O dia de voltar pra o hospital estava próximo, como também o dia de ir a Salvador na minha cabeça tudo isso era confuso, mais o que fazer apenas aceitar. Assim, dia oito de janeiro segunda-feira, ela voltou ao hospital em Alagoinhas pra fazer a avaliação medica e segundo o medico estava normal, isso é! Ela podia fazer a cirurgia. Só tínhamos mais uma semana, pois a viagem foi marcada para o dia quinze de janeiro, próxima segunda-feira, quatro e trinta da manhã, no primeiro ônibus que sai de Alagoinhas pra Salvador. Esta semana foi aproveitamento total namoramos tudo que tínhamos direito e com toda intensidade, fizemos um pacto de não brigarmos pôr nada, nem mesmo pelas bobagens de Zé Mingau que não parava de atormentar nosso namoro com ofertas bobas de mingau, e chiclete, era tanta bobagem que eu resolvi não mais me preocupar, o dia quatorze de janeiro, foi um domingo, nos ficamos juntos durante todo dia, a noite namoramos até as nove horas, na casa de mãe Petra, quando de repente ela fez um pedido, gente não quero despedida melancólica, não precisa me levar em casa à gente se despede aqui mesmo, rezem pôr mim por minha saúde. Confuso perguntei também to no meio amor? Claro que não respondeu! Fomos os dois de mãos dadas até a sua casa caminhamos sem falar uma palavra, quando chegamos a sua porta me preparei pra despedir-me e voltar pra minha casa, quando ela disse ainda é cedo vamos entrar mãe não esta em casa, eu quero falar com você, com uma copia da chave ela abriu a porta e entramos os dois. Fiquei apreensivo e pedir que ela falasse, ela me fez a declaração de amor mais importante da sua vida, é como se fosse jura de amor eterno. Começou dizendo filho hoje quero te contar uma coisa seria, recebi uma cantada de alguém que nunca esperava receber, perguntei quem foi? Ela falou Clovis! Porque ele fez isso, ela o disse não sei, ele sempre te achou feio pra mim, mais hoje foi demais, falei F. da P. Ela continuou fique calmo ouça o que quero te dizer, meu desejo é ser sua pra sempre, e pra provar que te amo de verdade e que nada mais possa nos separar, gostaria de me entregar a você agora, te dando a pureza da minha virgindade, e começou a tirar a calcinha por baixo da saia, eu fiquei perplexo e recusei dizendo não, não, isso não, eu não posso fazer isso, eu te amo muito pra te fazer isso, por favor não. Ela então me falou: pôr favor me espere guarde-se todo pra mim, pois ninguém te ama mais do que eu o nosso amor será eterno. Pegou os meus braços bem forte e disse Luiz, eu te amo mais que tudo na minha vida desde a primeira vês que eu ti vi que meu coração bateu forte não se esqueça disso nunca, nada vai separar você de mim eu te amo. Despedimos-nos com um longo beijo, jurei me guardar pra ela, disse que também o amava muito, que nada iria nos separar que ela ia ficar boa e a gente casaria e seriamos felizes para sempre, e não rolou sexo nenhum por medo e porque eu só tinha quatorze anos. Voltei pra a casa tão confuso que não conseguir dormir pensando nas palavras de Josefa, que parecia uma seta cravada no meu peito, e na tentativa maldosa de Clovis. No dia seguinte ela viajou pra Salvador, no horário marcado, fiquei em Alagoinhas bastante triste mais esperançoso sabia que nosso amor venceria aquela etapa das nossas vidas. Fui conversar com Clovis sobre o assunto, mais ele disse que tudo não passou de uma brincadeira, que ele iria visitá-la em Salvador e tudo se resolveria, pois não queria de forma alguma perder nossa amizade, pois ele gostava muito da gente, e isso era verdade. Pra mim visita Josefa só indo a Salvador, isso até que era possível, mais pelo fato de ter fugido da casa da minha mãe, estava com medo sabia que uma surra era no mínimo o que me esperava, sabia que era impossível dominar a ira de minha mãe que jamais me perdoaria, principalmente se eu fosse culpado. Comigo a tolerância era zero, não era assim com os outros filhos, como não tinha jeito eu teria que arriscar, pois pôr um grande amor tudo valia a pena até apanha. No dia vinte e dois de janeiro, convidei Clovis e fomos a Salvador visitar Josefa, chegamos e fomos direto pra casa da minha mãe era um domingo. Confesso que se soubesse que ela seria tão cruel comigo, não teria ido a casa dela aquele dia, ela me deu uma surra tão brutal que eu fiquei com as mãos completamente inchadas, e roxa, as costas o rosto, em fim em todos os lugares do meu corpo estava as marcas da violência com que ela me bateu. Só parou de me espancar porque caiu desmaiada aliais era sempre assim me batia, depois desmaiava. Naquele domingo à tarde, eu e Clovis fomos visitar Josefa, chegamos ao hospital às duas horas da tarde, e logo entramos como era apenas nos dois subimos juntos até onde ela estava era no quarto andar pavilhão infantil do hospital, ao chegarmos Clovis cumpriu o que havia prometido pediu desculpas a Josefa, e tudo se normalizou. Ela estava entristecida pelo fato de estar sozinha, mais animada pôr saber que logo ficaria boa e teria a vida normal pra uma garota da sua idade, conversamos muito eu falei da violência de minha mãe fizemos planos mais nada de beijo como gostaríamos trocamos uns beijinhos de leve. Eu não percebia, mais quando estávamos juntos um jovem, medico nos observava, achando engraçado dois adolescentes de 14 pra 15 anos, namorarem daquela forma, hoje isso é normal as novelas ensina, mais nos anos sessenta não era bem assim. Esse medico acompanhava aquele pavilhão, e já tinha feito amizade com Josefa, ela já havia falado do nosso namoro a ele. Tanto que quando fomos embora, ele me chamou ainda no roll do elevador e perguntou: então você é Lula? Respondi sim o Senhor me conhece, ele disse, pessoalmente estou conhecendo agora, mais sua namorada já me falou de você só não me disse que você era gordinho. Eu falei namorada.. que namorada, ele disse, não seja modesto, Josefa, quem mais, pensa que eu não vi lá em cima você beijando a mão dela, “eu adorava beijar mãos” mais ele me tranqüilizou dizendo tudo bem, isso fará bem pra ela, e perguntou você vai voltar pra Alagoinhas, disse não, quem vai é ele, me referindo a Clovis, vou ficar aqui na casa da minha mãe passando as ferias, pra poder visitar Josefa mais vezes. Ele falou ótimo, onde é que sua mãe mora? Eu respondi é na Rua da Alegria nº 42 Liberdade. Olha meu nome e Dr. Carlo Augusto disse ele, vou te dar uma autorização, pra que toda vez que você vier visitar sua namorada, entrar ser precisar ser identificado na portaria, é chegar e subir combinado, respondi combinado e agradeci. Voltei a ver Josefa nos dias 26, 28 e 29 de Janeiro. No dia 29 de Janeiro foi um domingo neste dia fiquei sabendo que ela faria a cirurgia, que na verdade era um transplante de rins, no dia 01 de fevereiro terça feira. Neste domingo estiveram no hospital: Raimundo e Inêz, que eram namorados, a mãe dela dona Santa e um rapaz de nome Mário, que era amigo deles, ela estava alegre, pois tinha certeza que logo iria voltar a Alagoinhas, e ter a vida que ela tanto sonhou que era ser uma garota normal. Não sei se nossos planos seriam concretizados se nos casaríamos, nossos planos são diferentes dos planos de Deus, mais me alegrava muito saber que ela podia ser uma garota normal, pois ela era a menina mais linda que eu havia conhecido, era carinhosa, verdadeira, um ser humano de causar inveja a qualquer um. Não é à toa que ela vivia assediada pôr vários dos meus amigos, mais foi leal a mim de verdade, e apesar de tudo ela não me deixou pôr nada, nem mesmo pôr Almiro, que era um menino muito mais bonito que eu, e naquele tempo como até hoje, beleza é fundamental. O primeiro dia de visita após a cirurgia seria no dia 03 de fevereiro, uma quinta-feira, como eu estava muito ansioso, pra saber logo das novidades, pois sabia que podia não haver ninguém de Alagoinhas lá, a não ser eu, fiquei clamando pra este dia chegar logo pra poder visitar Josefa. Finalmente a quinta-feira chegou, logo depois do almoço eu já estava de banho tomado, e não pensei duas vezes, sai em disparada pra o ponto do ônibus, fui encontrar com Josefa, no hospital. Como tinha autorização do Dr. Carlo Augusto, não era preciso me identificar, só que quando eu cheguei, ao hospital ele estava na portaria, como que me esperando, Não sabendo de nada ia entrando, quando ele gritou, Gordinho, eu parei e voltei atrás pra conversar com ele que colocando a mão no meu ombro e disse vamos subir entramos no elevador e ele apertou o botão do 3º andar, eu falei não é 4º andar ele disse sim, mais primeiro vamos passar no terceiro, que eu quero ver um negocio lá, depois a gente sobe, inocentemente disse tudo bem, no terceiro andar ficava o consultório dele, e lá ele começou a conversar comigo. Falou sobre o filme, Romeu e Julieta, falou de futebol, do Bahia que ele também era torcedor, e essa conversa tirou a minha ansiedade de ver Josefa, mais sempre que ameaçava subir ele me continha dizendo espere um pouco também vou subir com você. Eu não pude conter mais a curiosidade e perguntei Dr. Carlos, porque o senhor esta me cortando de subir pra ver minha namorada, olhei nos olhos dele e vi lagrimas e perguntei por que está chorando? Ele nada respondeu, e sutilmente como já tinha seu plano preparado, virou-se pra mim com uma seringa na mão e perguntou mais uma vez, onde é mesmo que você mora, escreva aqui neste papel, enquanto escrevia o endereço no papel, ele enfiou a agulha da seringa no meu braço aplicando-me rapidamente uma injeção, e em seguida começou a falar disse ele: meu amigo, o problema da sua namorada era serio demais, ela teria que se submeter a um transplante de rins fizemos tudo certo, mas o organismo dela rejeitou o rim transplantado, devido ao estado avançado de inflamação do pâncreas, sabe o que é isso eu já em pânico falei não doutor pôr favor seja mais claro, ele me abraçou chorando como uma criança e disse Luiz sua Josefa, nossa Josefa, que eu havia prometido que casari com você, não resistiu a cirurgia e faleceu. Eu disse O QUE! Ele respondeu isso mesmo ela MORREU, vamos agora lá em baixo pra você ver, devido à injeção que ele me aplicou, eu estava assim parecendo estar dopado, meio que paradão na verdade estava sedado. Fui com ele, quando chegamos lá em baixo na chamada pedra, já estava presente dona Santa e Raimundo, que me lembro bem, mais tinha mais algumas pessoas que eu não me recordo, quando eu vi o corpo de Josefa no caixão fiquei louco, o rosto era o mesmo parecia esta dormindo só que bastante pálida como se houvesse perdido sangue. Fiquei desesperado lembrando das nossas palavras chorei muito, abraçado a dona Santa, intimamente, perguntei Meu Deus porque isso, como vai ser a minha vida agora sem minha Josefa, não namoramos nem um ano, e já o perdi, porque logo a minha primeira namorada assim tão cedo, foi uma cena de muita tristeza para todos. Após certo período, foi feito o sepultamento de Josefa, se não estou enganado, na área da Universidade, no Cemitério do Campo Santo, ali mesmo na federação, o pessoal foi pra rodoviária retornaram pra Alagoinhas, eu fui com Dr. Carlo Augusto, pra a casa da minha mãe. Ele contou o acontecido pra minha mãe, e pediu a ela que tivesse um pouco de cuidado comigo, pra que quando o efeito do sedativo passasse, eu não gritasse muito, que ela procurasse manter a calma até que tudo em mim fosse se normalizando, e assim foi o fim do nosso namoro perdi a menina mais linda a namorada que nunca esqueci há um ditado que diz primeira professora e primeira namorada, ninguém esquece hoje quarenta e oito anos depois quero homenagear esta garota, que com seu jeito simples, verdadeiro, bonito, inteligente e humilde, ensinou-me a lição que está guardada comigo até hoje, não é só beleza física que faz a diferença que me perdoe Vinícius de Morais, eu era feio e fui o adolescente mais feliz dos anos sessenta, em matéria de amor é importante ver a beleza interior, isso mesmo beleza interior, pois apesar de gordinho feio, amei e fui amado, pôr a linda garota que fez a diferença em minha vida, que guardo na lembrança até hoje. Obrigado Josefa por você ter existido ainda que por pouco tempo, minha vida jamais seria a mesma sem sua participação, fica a saudade dos amigos que como eu também te amaram muito, o seu nome até hoje é lembrado por todos nos, continue descansando em paz.
1972 - TIRO DE GUERRA 06/110 FORMAÇÃO DE CIDADÃES: Vamos falar do TG, era dia 16 de Janeiro de 72, um domingo, pela manhã quando mais de 150 jovens se apresentaram aos sargentos José Couto, e Robson Oliveira. Com a difícil missão de serem selecionados para servir o Exercito. Com cuidado pretendo mostrar como foi à experiência de passar onze meses, na companhia de 150 jovens, sobre a liderança de dois homens, que ajudou na formação de muita gente, inclusive na minha, foi muito choro lamentação lutas, mais com um final de interminável saudade, até hoje quando nos encontramos pra falar de alguma coisa vem sempre a lembrança dos anos que passamos no TG impossível esquecermos os acontecimentos. A convocação do dia 16 de Janeiro de 1972 que selecionou os 150 jovens eu fui um dos escolhidos. Mais a frente contarei como foi a minha escolha, agora vamos conhecer o perfil de cada um dos instrutores, e fazermos uma analise do comportamento deles homens que com muita tenacidade ajudaram a nossa formação de cidadãos.
Sargento José Couto (foto) – Disciplinador enérgico respeitador honrado e integro, era homem de caserna, que fez do RDE, Regulamento Disciplinar do Exercito, a sua bíblia. Não tinha preferência por ninguém, fazia questão de dizer, “maravilhas” daqui vocês vão ter que sair verdadeiramente cidadãos, afim de que sejam respeitados, e aprendam a respeitar os outros. Não parecia, mais era um ser humano de primeira qualidade, também era extremamente radical, quando alguém tentava ferir princípios éticos de lealdade, disciplina, e espírito de coletividade, com discriminação. Ele podia tudo, mais não permitia que nenhum aluno subestimasse o outro de forma moral ou ética, se houvesse erro, teria que ser esclarecido e resolvido. Essas eram as suas principais características. Não era nada do homem cruel que muitos reservistas diziam, pra mim como pra muitos ele foi o Pai que não tivemos.
Sargento Robson Oliveira - Um pouco diferente do Sargento José Couto, um grande amigo, mais em si tratando de disciplina, era a mesma coisa, era rígido nas suas punições. Por ser novato em Alagoinhas, seu trabalho estava por ser apresentado, mais não tenham duvida ele também tinha a mesma autoridade do sargento José Couto, também excluía os indisciplinados, eu diria que para mim foi um tio que eu nunca tive. Aliais tem um ditado popular que diz, quem não serve para o Exercito, não serve pra mais nada. Há casos onde esta afirmação é verdadeira, Obrigado Sgt. Robson. No dia da seleção ficamos toda manhã recebendo orientações, de como nos comportarmos a partir daquela data, qual seria o tratamento que receberíamos durante os próximos nove meses, imagino que os sargentos instrutores já estavam de saco cheio, de tanto repetir a mesma coisa ano, após ano. O procedimento era o seguinte, era chamado o nome por completo, de cada aluno, em seguida ele recebia um numero e um nome, de guerra com o qual seria tratado a partir daquele momento, bem como a turma que ele ia pertencer até o final da temporada, em alguns casos por toda vida as turmas eram dividida em Par e Impa. Quando fui chamado pelo nome completo já esperava ter o nome de guerra que recebi. Foi mais ou menos assim. Luiz Alberto de Andrade Freitas seu numero é 110, seu nome de guerra é Freitas você pertencera à turma par procure gravar logo. Quero neste momento prestar uma homenagem aos meus irmãos de armas, alguns já não estão mais entre nos, mais o carinho é o mesmo. Abaixo os nomes de todos eles, com os respectivos números e a função de cada um, essa gente tem hoje 62 anos e alguns ainda moram em Alagoinhas.
A TROPA DO TG TURMA DE 1972 - PAR E IMPA
01 – Ademar. (Soldado) 02 – Adilson. (Soldado) 03 – Agostinho. (Cabo). 04 – Ferreira. (Cabo) 05 – Ailton. (Soldado) 06 – Jesus. (Soldado) 07 – Aloísio. (Soldado) 08 – Altamiro. (Cabo) 09 – Antoniel. (Soldado) 10 – Alves.
11 – Barreto. (Soldado) 12 – Antônio. (Soldado) 13 – Bispo. (Soldado) 14 – Carlos. (Soldado) 15 – Campos. (Cabo) 16 – Nery. (Soldado) 17 – Portugal. (Cabo) 18 – Trindade.
19 – Schramm. (Cabo) 20 – Antônio Silva.
21 – Brasil. (Soldado) 22 – Arinho. (Soldado) 23 – Clarindo. (Soldado) 24 – Augusto.
25 – Arlindo. (Soldado) 26 – Bacelar. (Soldado) 27 – Carlos Alberto. (Cabo) 28 – Cessar. (Soldado) 29 – Rosário. (Cabo) 30 – Claudemir. (Soldado) 31 – Cleoni. (Cabo) 32 – Crispim. (Soldado) 33 – Domingos. (Soldado) 34 – Dorival.
35 – Maia (Soldado) 36 – Ednaldo. (Soldado) 37 – Eduardo. (Soldado) 38 – Edson. (Soldado) 39 – Elias (Soldado) 40 – Amanso. (Soldado) 41 – Edivaldo. (Soldado) 42 – Nicasio.
43 – Eraldo. (Soldado) 44 – Braga. (Soldado) 45 – Estevão. (Cabo) 46 – Eugênio. (Cabo) 47 – Evandro.(Soldado) Falecido. 48 – Everaldo.
49 – Fernando.(Soldado) Falecido.
50 – Fidelis.
51 – Florisvaldo. (Soldado) 52 – Matos. (Soldado) 53 – Felex. (Soldado) 54 – Dantas. (Soldado) 55 – Francisco. (Cabo) 56 – Lago. (Soldado)
57 – Gabriel. (Cabo) 58 – George. (Soldado) 59 – Gildasio. (Cabo) 60 – Gilson. (Cabo) 61 – Gesse. (Soldado) 62 – Hélio. (Soldado) 63 – Humberto. (Cabo) Falecido. 64 – Santos. (Soldado) 65 – Itamar. (Soldado) 66 – Jairo. (Soldado) 67 – Diógenes. (Soldado)
68 – Borges. (Soldado) 69 – Assunção. (Soldado) 70 – Cardoso. (Cabo) 71 – Oliveira. (Soldado) 72 – Mendes. (Soldado) 73 – Serra. (Cabo) 74 – Ribas. (Cabo) 75 – Dias. (Cabo) 76 – Chagas. (Soldado) 77 – Jorge. (Soldado) 78 – Aristeu. (Cabo) 79 – Araújo. (Soldado) 80 – Anjos. (Soldado) 81 – José Carlos (Cabo) 82 – Souza. (Cabo) 83 – Perivaldo. (Cabo) 84 – Santos Gomes (Cabo) 85 – Santana. (Soldado) 86 – Curssino. (Soldado) 87 – José. (Soldado) 88 – Marques. (Soldado) 89 – Jailson. (Soldado) 90 – Epifanio. (Cabo) 91 – Henrique. (Soldado) 92 – Elito. (Soldado) 93 – Gonçalves. (Soldado)
94 – Nascimento.
95 – Leopoldo. (Cabo)
96 - Jailton (Soldado)
97 – Nivaldo. (Soldado) 98 – Gonzaga. (Soldado) 99 – Catarino. (Soldado) 100 – Purssino.(Soldado) 101 – Caetano. (Soldado) 102 –Walter. (Soldado) 103 – Joelito. (Cabo)
104 - De Jesus. (Cabo) 105 – Joselito. (Soldado) 106 - Julio.(Soldado) 107 – Juracy. (Soldado)
108 – Jurandy. (Soldado) 109 – Leonardo. (Soldado)
110 – Freitas. (Cabo) 111 – Da Silva. (Soldado)
112 – Luiz Carlos.
113 – Silva. (Soldado)
114 – Luiz.
115 – Pinheiro. (Cabo)
116 – Ramos. (Cabo) 117 – Mário. (Soldado)
118– Carmo. Excluído 119 – Marivaldo. (Cabo)
120 – Nova.
121 – Moacir. (Soldado) Excluído.
122 – Moisés.(Soldado)
123 – Natanael. (Soldado) 124 – Ney. (Soldado) 125 – Normando. (Cabo)
126 – Orlando. (Soldado) 127 – Osmar. (Cabo)
128 – Pedro. (Soldado) 129 – Rogério. (Soldado) 130 – Rafael. (Soldado) 131 – Romilton. (Soldado)
132 – Raimundo. (Soldado) 133 – Renato. (Cabo)
134 – Roberto. (Cabo) 135 – Roberval. (Cabo)
136 – Rogens. (Cabo) 137 – Romildo. (Cabo)
138 – Ronaldo.(Soldado) 139 – Ruy. (Soldado)
140 – Sebastião. (Soldado)
141 – Silvio. (Cabo) Falecido
142 – Ubirajara. (Soldado) 143 – Serafim. (Soldado)
144 – Valdir. (Soldado) 145 – Valdemar (Soldado)
146 – Prachedes (Cabo)
147 – Valdelirio. (Soldado)
148 – Brito. (Soldado) 149 – Wilson. (Soldado)
150 - Zacarias. (Soldado).
Como parte desta turma, conheci valores que era inteiramente desconhecidos do meu dia a dia, exemplo coletividade, vida em sociedade, respeito, dignidade, verdade, disciplina, hierarquia, união, espírito solidário e igualdade de direitos. Palavras que já faziam parte do meu dia, dia mais não eram aplicadas, pra me mostrar a igualdade de direitos sempre que alguém quisesse ultrapassar os meus, e ajudar na formação do meu caráter. Tem gente que não gostou, mais eu afirmo de peito aberto, que adorei ter servido o Tiro de Guerra em Alagoinhas, apesar de no inicio querer ser dispensado, e dos acontecimentos futuros vividos dentro da corporação. Ainda neste dia foi feita uma seleção para escolha dos monitores que participariam do curso de cabo, “são os que na relação tem seu nome graduado a cabo”, e eu fui um deles, isso causou inveja a muitos amigos do meu bairro, eles alegavam que eu só tinha cursado até a 2ª serie ginasial, mais na época da apresentação eu já estava no 3º Colegial, e eles não sabiam de nada. Por ser morador de um bairro pobre, com certeza a discriminação seria maior pra mim e mais alguns da minha rua, decidi então que teria que ser melhor que todos os 149 alunos comecei analisando as possibilidades, e conclui que o melhor a fazer pra, chegar ao final de tudo, tão integro como entrei era: Respeitar as regras mais simples, como por exemplo não bancar o engraçadinho, pra não perder pontos, não chegar atrasado, evitar faltar dias, ser disciplinado, e acima de tudo exercitar minha inteligência, pra não ser voador, ou seja mocorongo, que é o mesmo que mentecapto, me esforçando o maxmo nas aulas de ordem unida. Se conseguisse administrar bem essas qualidades, chegaria ao final do período, sem ser excluído, e sem perder pontos, que era extremamente necessário. Assim eu conseguir chega ao final do serviço militar, sem perder um ponto sequer, passei também no curso de Cabo, o que valorizou minha estadia dentro do TG, e por ser classificado entre os primeiros, foi promovido a sargento comandante de um grupo de combate. Meu namoro com Vandete continuava a todo vapor, a gente se via sempre, eu cumpria a risca as ordens do seu Antônio, nunca passava das 21:00 horas, mais começou a faltar grana. O trabalho na radio, ficou condicionado apenas aos dias que eu trabalhasse, por isso eu só recebia o equivalente as minhas participações em jornadas esportivas, havia a promessa de que quando eu saísse do Tiro de Guerra, voltaria a trabalhar de forma normal, recebendo vencimentos integralmente, teria a minha carteira de trabalho assinada passando a ser empregado definitivo da emissora. Só que isso não aconteceu eu conto mais tarde. Nesta época voltei a freqüentar casa de Lucinha, pois apesar de sermos muito ligados eu não estava freqüentando sua casa por causa do TG. Tinha amizade com toda a família, mais estava desligado, por isso voltei a freqüentar e participar das festas, com dona Eloina, onde havia picniques e tinha que ser pago mais mesmo sem ter dinheiro quando tinha oportunidade eu ia a todos, um detalhe Vandete nunca participou de nada desses acontecimentos. Isso deixava as pessoas perplexas, pois ninguém conhecia minha namorada, era difícil acreditar até que eu tivesse, nas festas só dançava com Lucinha isso levantava suspeita. Eu tinha dificuldade de explicar porque ninguém conhecia Vandete. Lembro-me que uma vez o irmão mais velho de Lucinha Luizinho, me
perguntou porque eu só dançava com ela, e se era verdade o que as pessoas falava que ela era minha namorada? Minha resposta foi pergunte a ela, você esta duvidando da sua irmã, que eu considero também como minha irmã, e falei pra ele a minha namorada chama-se Vandete. Ele se conformou dizendo que estava tudo certo, mais deixou no ar a seguinte interrogação, como é que ninguém nunca viu essa Vandete? Respondi! isso é problema meu. Eu resolvi falar um pouco mais de dona Eloina, pois ela se tornou uma segunda mãe pra mim, gostava de mim de verdade, e me incluía em tudo como se eu fosse um filho seu, era uma pessoa maravilhosa, eu tinha por ela um grande respeito, isso esta confirmado, até hoje, pois ainda sou amigo dos filhos dela, todos moram em Salvador, em particular Lucinha que é a minha irmã do coração e hoje posso dizer sem medo que a amo muito, e que valeu a pena vivermos no passado estar vivendo no presente e que ainda viveremos no futuro. Dona Eloina morreu do dia 01 de abril de 1973, num hospital em Salvador, em respeito a sua memória quero deixar registrado aqui a minha mais intensa prova de amor e carinho por ela. É uma pessoa interminável para mim, pois a historia da sua vida permanece viva até hoje em nossos corações é uma das pessoas inesquecíveis da minha vida. Dona Eloina eu o amo tenho certeza que nos veremos no céu, quando da volta de Jesus para podermos conversar, e sabermos que pelo Amor de Cristo por nós, somos o que vivemos.
I
- Os Acontecimentos do TG. Foram períodos de muitas novidades, primeiro fazer amizade com todos alunos, poder nos conhecermos melhor, começar o processo de integração social, uma das funções do Exercito, e entender os critérios de hierarquia disciplina e respeito. Como havia vários bairros interligados, tínhamos colegas de Alagoinhas Velhas, Santa Terezinha, Dois de Julho, Santa Isabel, XV de Novembro, Barreiro, Praça Kennedy, Alecrim de Baixo, Pirinéu e outros, no inicio era comum notarmos reunidos grupos do mesmo bairro, por serem mais conhecidos, isso durou pouco pois logo, estávamos nos reunindo em maior numero, gerando uma maior integração, pois contar experiências de bairro a bairro era interessante. Quando iniciou-se as atividades propriamente ditas, já nos conhecíamos melhor, éramos tratados pelo numero ou nome de guerra, a identificação era bem mais simples. Na época, sem contar os amigos que já conhecia da minha rua como: Maia, Matos, Moisés, Ubirajara, Ney, Gonçalves e Itamar, também fiz amizade rápida com: Prachedes, Anjos, Cardoso, De Jesus, Leopoldo, Dias, Humberto, Joelito, Antônio Silva, Eugênio, Gilson, Roberto, Souza, Santos Gomes, Aristeu, Zé Carlos, Nova, Serra, Estavam, Cleoni, Schramm, Altamiro, e muitos outros, mais é certo que durante todo ano tivemos um relacionamento bom e verdadeiro com todos, pois só assim era possível conviver com 149 homens todo dia. Até porque tínhamos atividades esportivas e físicas, e era muito bom sermos amigos. A minha turma a turma par se desatacou pela homogeneidade nas atividades físicas, éramos campeões de corrida individual e coletiva, enquanto que a turma impar era completamente desorganizada, nas corridas, em compensação era mais cadenciados em ordem unida, por sermos mais acelerados, nossa cadencia era rápida. Só que quando se unia turma Impar e turma par, no curso de cabo, não havia diferencia entre cadencia, só em corrida, pois os cabos da turma par liderava em organização, tanto que a frente era formada por Mim, Ribas, Eugênio, e Prachedes, para não perder a cadencia nas corridas. Quando começou a fase de educação física, o guia era Humberto da turma impar, mais nossa turma também teve o seu guia que era tão bom quanto Humberto, 74 Ribas, um tempo depois isso passou a ser através de revezamento, e muitos foram guia não sei porque eu nunca fui guia, mais estava capacitado, caso fosse chamado estaria pronto para desempenhar esta função.
Em março teve inicio o período de guardas na sede do Tiro de Guerra lembro-me da minha primeira guarda, foi composta pêlos seguintes elementos: Sargento comandante: 104 De Jesus, Cabo da guarda: 110 Freitas, Soldados da guarda, 107 – Juracy, 108 – Jurandy, 109 – Leonardo. Iniciavam-se as 06:00hs. Da manhã, e terminava as 18:00hs, foi uma experiência ótima pois estávamos com responsabilidade sobre um quartel, e todo seu material bélico. Não houve anormalidades todos nós seguimos a risco os deveres, e a noite fomos substituídos por outros e passamos o serviço sem novidades. Naquela época o Brasil vivia no clima da Ditadura Militar, o presidente era o então General de Exercito Emilio Garrastazu Medice, que é tido como chefe supremo das Forças Armadas, aliais é assim até hoje. Falar de socialismo era sinônimo de subversão, por isso as aulas de OSPB eram todas de combate ao comunismo. Tudo era feito no sentido de que os comunistas comiam crianças, e não acreditavam em Deus. Por causa disso aprendeu-se a seguinte norma, se você não fosse torcedor de uma equipe de futebol, como Bahia, por exemplo, e quisesse provocar o torcedor daquela equipe bastava dizer se o Bahia jogar contra a Rússia, eu sou a Rússia dando a entender que a Rússia era o inferno. Quando íamos praticar treinamentos no stand de tiro éramos treinados como se estivéssemos atirando em russos. Essas orientações eram muito confusas na minha cabeça, eu procurava ver os russos como seres humanos, pois havia crianças russas, os russos não nasciam grandes. Mais isso era só na minha cabeça, pois expressar essas opiniões poderia gerar grandes aborrecimentos. Naquele ano, teria eleição para prefeito na cidade de Alagoinhas, e era do interesse de todos, que o prefeito atual vencesse as eleições, com o seu candidato. Qualquer disposição em contrario seria considerado subversão. Mais voltando ao stand de tiros, eu tenho uma experiência impressionante, que vale a pena ser contada, já que se tratava do efeito de aprendizado no Tiro de Guerra. Como eu fui aprovado com boas notas no curso de cabo, e fui escolhido pra ser Sargento Comandante de um grupo de combate, assumir o comando do grupo operação chave. O treinamento com os grupos tinha missão preventiva de tranqüilizar cidades, nos casos de perturbação da ordem publica, coisa que não tinha naquela época, pois não havia greves, mais os treinamentos eram necessários o soldado teria a obrigação a conhecer as formações das esquadras, até para guerra se por acaso acontecesse alguma. Isso hoje e mostrado na TV, quando vemos a PM desobstruindo ruas quando ha greves. Claro que ação da PM às vezes e exageradas, mas isso é constitucional e tem que ser respeitado. As esquadras são formadas em Linha e Justapostas, e é importante destacar as posições, dentro dos grupos de combate. Vamos ver aqui abaixo os componentes do grupo operação chave, em uma função tática para desobstrução de vias publica esta formação é em esquadra Justaposta em V :
II -
Grupo de Combate Operação Chave.
66 –Jairo (Soldado Atirador)
114 - Luiz (Cabo Atirador)
44 – Braga (Soldado Atirador)
112 – Luiz Carlos (Atirador de Elite)
110 – Freitas (Sargento Comandante)
120 – Nova (Atirador de Elite)
142 – Ubirajara (Soldado Atirador)
126 – Orlando (Cabo Atirador)
98 – Gonzaga (Soldado Atirador) Vamos ao fato ocorrido no stand de tiros.
Estávamos em manobra com o grupo de combate, fazendo reconhecimento do terreno, quando de repente passamos próximo a um sitio com uma imensa plantação de laranja, dentro deste sitio havia uma fonte, com água potável, muitos grupos já havia entrado lá para tomar água, e ao mesmo tempo, operar bem nas laranjas do sitio. Subitamente meu atirador de elite 120 Nova, diz Freitas, estamos com sede, vamos entrar aqui para bebermos água, na verdade a vontade deles era também se locupletarem das laranjas, eu então determinei, só entraremos ai se for em ordem unida, eles disseram que eu era muito Caxias, mais aceitaram. Impus a seguinte condição, se alguém pegar uma só laranja terá o numero anotado e entregue diretamente ao sargento, quantos de acordo, todos levantaram o braço direito, em sinal de afirmação ao comprimento desta ordem. Formamos em linha e entramos no sitio, fomos até a fonte onde eu mesmo tirei a água, em um balde de 10 litros, e fui servindo a eles, um por um, por ultimo tomei água, e determinei vamos sair como entramos, sem pegar nas laranjas, quem desobedecer já sabe as conseqüências terá o nome entregue diretamente ao sargento por mim, e comandei em frente, e saímos. Um senhor estava nos observando, do lado de fora do sitio mais não nos disse nada, apenas olhava. Nesse dia que era um domingo tinha um jogo muito bom em Alagoinhas, era AtléticoxBahia, toda cidade estava motivada para assistir a partida, eu também pois já tinha marcado com uma galera grande para irmos juntos ao Carnearão já que eu não iria trabalhar. Era alguns amigos que jogava futebol comigo no estádio Mofogozão, e mais alguns do TG. O tempo deveria dar, pois o final do treinamento de tiros era só até as doze horas, e ao que tudo indicava mais ou menos uma e meia estaríamos todos em casa, pois o jogo era as quatro da tarde. Engano meu, na hora que nos preparávamos para ir embora, formamos os grupo com o líder de cada grupo a frente, o homem que estava observando agente na hora da água, chega, com um monte de casca de laranja nas mãos e diz. Senhor sargento olha o prejuízo que seu pessoal me deu, jogou as cascas no chão, e começou a fazer alegações, falou que estava com medo de perder o laranjal, pois as formigas podiam destruir tudo por causa das cascas espalhadas ao redor das laranjeiras. Os dois sargentos ficaram indignados, e perguntou o senhor pode dizer destes que estão aqui, quem foi? O homem olhou e disse eu posso dizer quem não foi, pois só uma turma entrou lá e ninguém saiu da fila, ficaram esperando pelo chefe deles, que tirou água deu a eles e saíram sem mexer em nada. O sargento disse pois não! pode falar? Ele apontou para mim e disse foi aquele Gordinho e os que estavam com ele, foram os únicos que não invadiram as minhas laranjas. O sargento me chamou 110? Sim sargento respondi! Que são os que estavam com você, eu falei o meu grupo de combate! Ele disse reúna eles e pode ir embora, eu chamei todos pelo numero, 44, 66, 98, 112, 114, 120, 126, e 142 eles saíram de forma e viemos todos embora. Quando estávamos saindo eu ouvir a voz do sargento Couto comandar TG ao meu comando, em direção ao stand, marche, e sob um sol de quase 40 graus comandou mais 40 minutos de ordem unida. E mais condicionou todos que ficaram ali, a pagar as laranjas do homem. Durante a semana eu recolheria o dinheiro, e no domingo seguinte me incumbiu de entregar o valor ao dono do sitio. Cada aluno deveria trazer 0,10 centavos. A turma ficou furiosa, pois muita gente que não participou, da farra da laranja, “como ficou conhecido o episódio” mais por causa da irresponsabilidade de alguns, tiveram que pagar alto perderem o jogo do Bahia pois chegaram todos muito cansado, e não viram o Atlético ganhar o jogo por 2X1. III
- Tem Exercito na Rússia? Havia no Tiro de Guerra três alunos que eram considerados como liderança intelectual da tropa, só que eram vistos pelos instrutores como
lideres negativos, sempre contestavam tudo, apesar de não se manifestarem diretamente. Eram eles o 63 Humberto, o 70 Cardoso, e o 80 Anjos. Não sei por que me liguei a esse pessoal, sem levar em conta nada disso, apenas por amizade. Certa vês em uma alua de OSPB, não pude conter a minha curiosidade e fiz a pergunta mais idiota de toda minha vida em plena ditadura militar perguntei! Sargento tem Exercito na Rússia? Nesse momento houve um silencio total na sede, as atenções se voltaram para a resposta do Sargento, que sem entender me perguntou, porque 110? eu aproveitei e fiz uma pequena explanação, mais idiota ainda: é que na ultima aula que tivemos sobre OSPB, pelas explicações do sargento Robson, entendi, que não havia Exercito na Rússia. Mais ontem assistir um filme de guerra na TV, onde mostrava o Exercito Russo, pensei, será que o sargento não está enganado. Ele respondeu o que o sargento Robson falou foi, que o exercito russo, não serve de referencia para os padrões brasileiros, mais tem Exercito Russo, sim senhor, agradeci e me sentei. Só que a partir daquele dia nunca mais minha vida foi à mesma no Tiro de Guerra. Primeiro com os três considerados lideres negativos, um deles procurou-me e fez o seguinte comentário 110, estou pasmo com seu desconhecimento político, fazer uma pergunta daquela ao sargento, ele vai ficar com você na mira, e enfatizou você não sabe nada mesmo sobre os russos, respondi não e enfatizei: Tem mais alguma coisa que eu preciso saber? Ele me perguntou e sobre socialismo, tem alguma idéia? Também não, ele me disse vou te emprestar um livro pra você ler, e depois a gente comenta e você me devolve o livro sem contar nada pra ninguém. O livro chama-se, As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, um chileno, que escrevia sobre política socialista que era como se fosse a bíblia desse pessoal. Li, mais na época não entendi absolutamente nada, era um livro cheio de metáforas como meu raciocino
político era curto, não me esforcei para entender, e logo devolvi o livro ao seu dono. Por outro lado por parte do Tiro de Guerra o meu numero começou a aparecer no quadro negro. Quando o numero aparecia você era obrigado a permanecer na sede, após as aulas de instruções, pra ter uma conversa com os sargentos. Minha primeira conversa foi com o sargento Robson, que se disse desapontado, comigo, por que eu perguntei sobre russos, e não sobre comunistas, como ele sempre falava, para que ficasse claro que o que ele era contra era os comunistas, dando entender que comunismo, era um câncer incurável, que produzia morte, e as pessoas que viviam neste sistema de vida, não acreditava em Deus. Foi assim muitas vezes, eles tentavam me fazer falar coisas que eu não sabia, me perguntaram se eu havia lido algum livro, eu respondi que não. Um dia eu criei coragem e numa dessas entrevistas, falei, sargento o senhor sabe, que eu não tenho preferência por política, mais mesmo assim continua me amedrontando, isso é para me exclui do Tiro de Guerra, se for isso o senhor me diz, que a partir de amanhã, eu não venho mais. Ele fingiu não entender, mais ficou me sondando aparte. Até que uma vês foi organizado uma guarda, com o objetivo de saber se havia alguém ligado a algum movimento alternativo no TG. Foram escalados os seguintes elementos: Comandante da Guarda 141, Silvio, Cabo da Guarda 110, Freitas, Soldados: 47 Evandro, 26 Bacelar, e 28 César. Essa guarda seria num domingo à noite, estranhei, eu era sempre escalado em guardas diurnas, nunca noturnas, mais tudo certo, chegamos cumprimos os procedimentos normal, de recebimento da guarda, e assumimos nossos postos, ficamos em estado de alerta. Passava da meia noite, tudo parecia normal, quando um carro preto tipo veraneio passou em frente à sede, em alta velocidade, tomamos um susto e ficamos em alerta geral pensávamos tratar-se de assalto ou algo assim. Como aquele local área era considerada de segurança nacional, àquela hora não era permitido trafego de veiculo com aquela velocidade. Para a minha surpresa era quase uma hora da manhã, quando sargento, aparece na sede totalmente camuflado com um chapéu usava uma capa escura, ele adentra a sede e me pergunta pelo 63 (Humberto), eu o respondo, passou aqui logo cedo dizendo que iria ao colégio reunir-se com o diretor para a festa de São João, e digo mais ele, não esta de serviço, o sargento responde tudo bem, e pergunta sabe onde é o colégio que ele está, acho que é CENEC, não tenho certeza respondo! Ele então me pede pra trocar a guarda, pois ele quer conversar com o meu amigo, no corpo da guarda, em particular. Nesse momento passa a viatura outra vez, agora em baixa velocidade, e fazendo vários sinais de luz. Ele conversou por quase dez minutos com meu amigo, eu não podemos ouvir, a conversa, ao termino ele pede para tomar as seguintes providencias: fechar todas as portas e janelas da seda, e me pede a chave do portão do fundo, e da sala de instrumentos pediu não abra a porta por nada entendeu, respondi sim Sargento. Apenas argumentei que o comandante da guarda era o 141 (Silvio), estava fora, pois havia recebido um recado que a sua mãe estava passando mal, estava a caminho do hospital, como seria na hora dele voltar, ele disse tudo bem nesta hora você pode abrir a porta. Após esta conversa as luzes da sede se apagaram, e a veraneio estacionou na lateral, da sede, e pela fresa da janela vimos, quatro homens fortemente armados, que conduzia dos outros, um deles estava algemado, na hora eu identifiquei como sendo o 63 Humberto, o outro era um candidato vereador da oposição em Alagoinhas, chamado Paulo Juliano, ambos sofriam muito ele foram colocados na sala dos instrumentos, e a veraneio saiu em disparada, deixando dois homens armados, como escolta aos dois algemados. No espaço de meia hora a veraneio estava de volta desta feita trazia mais dois homens, eu olhei mais não reconheci, só mais tarde é que eu vim saber que era Nelson e Mário. (fictícios) Passava de duas horas da manhã, quando as luzes da sede foram acessas, eu ouvia o sargento bater na porta do fundo chamando a mim, eu não sabia do que se tratava, mais estava morrendo de medo, alguém chega perto de mim, e diz 110, fique tranqüilo que eles não têm nada contra você, vamos lá diga sempre que não sabe de nada do que te perguntarem. Quando chegamos do lado de fora da sede, bem em frente à sala dos instrumentos, eu vi dois homens, um deles estava com uma metralhadora na mão e perguntou a mim vamos lá, qual o seu nome, eu respondi Freitas e você com meu amigo ele respondeu Carlos, ai eu pedi socorro ao Sargento e disse: sargento, por favor, me explique o que está acontecendo, um dos homens falou você vai saber de tudo é só responder o que queremos saber, e perguntou: há quanto tempo vocês são militantes da resistência eu perguntei mili o que? Ele insistiu entrem aqui e vocês vão entender, quando entrei vi o 63 Humberto, quase morto, de tanta pancada, o cara colocou o cano da metralhadora no queixo dele, e fez ele levantar a cabeça, e perguntou, e esse aqui, ele falou é inocente e baixou a cabeça. Ele tornou a perguntar, ele nunca leu nenhum daqueles livros suspeito, quase eu entro pelo cano, ia falar do livro de Eduardo Galeano, As Veias Abertas da América Latina, mais olhei para a mão de Humberto, e vi seu dedo indicador fazendo o sinal de não, eu respondi nunca li coisa alguma, por favor, me tire daqui, que eu não estou entendendo nada. Então alguém me perguntou, ainda quer saber se tem Exercito na Rússia? Veja o absurdo estava sendo indiciado como “subversivo” apenas por que perguntei se havia Exercito na Rússia em uma aula de OSPB do Tiro de Guerra, claro que não era isso o fato de ser ligado aos caras, também me comprometia, mais na verdade eu não sabia de nada. Essa agonia durou até as 04:30 da manhã, quando saímos da sede, na veraneio, preta, e seguimos numa velocidade estonteante a Salvador a viagem de duas horas pareceu ter durado apenas 20 minutos. Fomos direto pra o Quartel da Policia do Exercito a PE, todos juntos, Eu, Humberto, e meu amigo, do Tiro de Guerra, e mais Paulo, Nelson, e Mário. Chegamos sem dormir, completamente perturbados, maltratados pela viagem, fomos a uma sala nos fundos do quartel, respondemos um imenso questionário de perguntas, preenchemos uma ficha com todos os nossos dados, ficamos detidos para possíveis averiguações. Este sofrimento durou exatamente cinco dias, pois começou na segunda-feira, e só terminou na sexta-feira, antes porem na quinta-feira, Humberto e mais os outros três deixaram o local onde nos estávamos ficando ali somente Eu e meu amigo, podemos garantir que não houve morte nem tortura física, mais o Humberto, eu só revi no ano de 1986, 14 anos após termos nos separados naquele dia lá na PE em Salvador. Ainda falarei dele e direi como fez para se livrar das garras da ditadura militar aguarde a segunda parte da parede. Quanto aos outros não era realmente nossos amigos, mais passou a ser nossos conhecidos, e após um ano todos estavam vivendo condicionalmente vigiados em Alagoinhas isso durou até o período de Anistia que só aconteceu 79 com a abertura de João Figueiredo. Deixamos a PE, sem sermos incomodado por ninguém, tudo foi feito de maneira que parecesse que nós nunca tivéssemos estado ali, saímos numa sexta-feira, a tarde, vestidos com o uniforme do TG, que é completamente diferente do uniforme da PE, passamos no portão das armas, (portão principal), sem sermos se quer identificados, eu é que perguntei ao sentinela, como fazia para chegar a estação rodoviária, e ele nos informou. Um detalhe, nos não tínhamos um centavo, por isso descemos a ladeira do funil, chegamos à sete portas e fomos andando até a rodoviária de la pedimos carona para Alagoinhas e pela graça de Deus conseguimos. As noticias que eram passadas pra nossas famílias é que estávamos a serviço do em Salvador, e logo voltaríamos. Quando chegamos em Alagoinhas fomos direto a sede, mais ou menos 17:30hs, e nos apresentamos diretamente ao sargento que já estava saindo pra a sua residência. Ele tomou um susto, mais nos recebeu e perguntou, que fazem aqui? Respondemos estamos de volta, pois nada consta que desabona a nossa conduta, e perguntamos, fomos excluídos, e ele respondeu que não. Nesse momento meu amigo desabafou: Sargento onde estão os direitos e deveres do cidadão que tanto o senhor fala aqui nas suas aulas, será que é isso que merecemos, pra que tanta disciplina se isso não nos da direito a nada, e enfatizou, nos voltamos, mais e se a gente morresse, seria isso justo nós não sabemos até agora que fim levou o 63 Humberto. O sargento Robson apenas, disse estão liberados, domingo, pode se apresentar, para o stand de tiros, ninguém perdera pontos a situação continuara como se nada tivesse acontecido. Respondemos de forma alguma, não temos a menor condição de estarmos aqui no domingo, quanto à “se nada tivesse acontecido” será impossível ficarmos indiferente aos nossos amigos, pois nós fizemos falta, pelo menos a alguns deles. Só nos apresentaremos na segunda-feira, nos não estamos em condições de enfrentar uma tropa imensa como essa logo no domingo, compreenda a nossa situação. Ele aceitou, mais voltou a pedir que fossemos discretos com os comentários. Quem sabia dos fatos era apenas, o 141 Silvio, o 26 Bacelar, e o 28 Cezar. Eles estavam de guarda com agente no dia da agonia humana, da veraneio preta, acredito que o sargento os pressionou para não comentarem nada e isso mesmo eles fizeram por causa da pressão. Na segunda feira as 06:00hs da manhã, eu e meu amigo nos apresentamos, e antes de entramos em forma, fomos muito cumprimentados pela nossa turma, e pela turma impa, e pela primeira vez eu tive do ódio do exercito, apesar de nunca relacionar a Ditadura Militar, ao Tiro de Guerra, pois eu achava que o TG estava ajudando na formação do meu caráter e os militares do poder não. Por isso o meu mais profundo desprezo era aos militares do poder, adotei a postura de um homem de esquerda a partir daquele dia, e mesmo sem compreender muito bem tudo aquilo, resolvi me envolver na política militante existente do pais naquela época. Foi muito difícil conter tantas perguntas, todo mundo queria saber onde estávamos o que aconteceu com a gente, se saibamos de alguma noticia de Humberto, às vezes eu contava alguma coisa mais na maioria das vezes eu saia do papo, pois isso já havia virado uma coisa muito chata. Só fui saber ao certo o porquê da minha detenção, mais ou menos trinta dias mais tarde, só porque eu era amigo de meu amigo, do Humberto e do Cardoso, considerados liderança tendenciosa pelo sargento, e pelo fato de perguntar sobre o Exercito Russo, por isso é que fui pra lista dos subversivos. Foi uma revolta grande, achei covardia mais em fim como não podia sair do TG, tive que continuar servindo. Ainda no sábado que chegamos a Alagoinhas, a noite fui à casa de Vandete, senti que eles estavam preocupados comigo, pois queriam saber detalhes do acontecido, morava em frente a casa dela um primo seu, que também servia com a gente, e ele havia comentado sobre meu desaparecimento, o clima era de expectativa, mais as pessoas poderam ver que eu estava bem e nada de mal tinha me acontecido comigo. Foi gratificante saber da preocupação das pessoas principalmente de seu Antônio e dona Maria, recebi a solidariedade de vários amigos muitos queriam a verdade, outros queriam saber se eu tinha apanhado, se tinha passado fome, falavam sempre aquele chavão que enchia o saco, “logo você que não sabia de nada”. Vandete sofreu um pouco, achava que nos não passaríamos por este fato, desapercebido ela conhecia meu amigo do estadual, e com Humberto, teria cursado segundo ano colegial no Ginásio Alagoinhas, ela sabia que ele exercia forte liderança no meio estudantil, sempre foi ligado a militância politico-partidaria e movimentos radicais da época ela contou que ficou com medo que algo ruim acontecesse comigo e Humberto.
IV
- Votei contra o R.M Depois dessa triste experiência, minha vida passou a ser outra completamente, começou com o trabalho na radio, fui proibido de falar qualquer coisa, no ar, isso me deixou aborrecido, o diretor da emissora também fazia parte do jogo, a radio pertencia a um grupo político considerado dominante, e não ficava bem relatar fatos que tivesse a participação dos militares, que na verdade era quem mandava em tudo. O time da cidade, faria uma partida no estádio Carneirão, contra o Itabuna um dia de domingo, eu estava escalado para participar daquela jornada, juntamente com Lourival de Andrade (Narrador,) Belmiro Desudeth comentarista,
Augusto Saraiva, (Reportagens), eu na técnica. foi exatamente neste jogo, que fiz a minha despedida do radio, quando ninguém esperava, não falei o motivo que estava saindo, mais deixei claro que estava bastante descontente com a atitude profissional da direção da emissora com relação a minha pessoa, isso foi no mês de setembro de 72, não lembro o dia exato mais sei que o mês foi mesmo setembro, assim vi acabar o sonho de ser um narrador esportivo em Alagoinhas. Mais a coisa não para por ai pra me vingar das injustiças, resolvi me tornar um eleitor de esquerda, e como teria eleição para prefeito neste ano, resolvemos criar uma opção alternativa, contra os candidatos da Arena 1 2, e 3 que mandavam na cidade. No TG as aulas de OSPB, ministradas pêlos instrutores, mudaram de tom, começou-se a falar de eleições, como votar nos candidatos do governo, até porque votar nessa gente tinha como finalidade continuar apoiando os militares que era governo dominante no Brasil. Pra se ter uma idéia, não havia eleição de prefeito nas capitais, e os governadores eram indicados pela culpa militar, afim de não haver duvida, de que o poder estava garantido nas mãos deles. Os candidatos da situação em Alagoinhas eram: José Libório pela arena 1 apoiado pelo prefeito, Murilo Cavalcante, e Jéferson Vilanova arena 2 que fazia o jogo de tirar voto da oposição, que aliais ainda não havia se definido por não haver, um grupo de pessoas da sociedade organizada de Alagoinhas, com idealismo capaz de criar uma. E Edmercio na arena 3 Foi então que se resolveram criar o MDB a Zebra, veja os nomes que formaram a chapa de oposição de Alagoinhas, em 1972 ano da Esperança de dias melhores iniciadas no final de 1971, pelo partido era MDB, única bandeira de oposição do Brasil, tendo como líder o deputado Ulisses Guimarães. (falecido).
OS IDEALIZADORES DA OPOSIÇÃO DE 72 EM ALAGOINHAS (MDB)
Jornalista:
Carlos Navarro Filho (Vereador e Idealizador) Apoio:
Altino Ribeiro Rocha (Empresário Colaborador) Apoio:
Celso Magalhães Dantas (Empresário Colaborador) Jornalista:
Judelio de Souza Carmo (Candidato a Prefeito) Empresário:
Ruy Conceição Pedreira
(Advogado do Grupo)
Estava criada a campanha Zebra, que aos poucos foi ganhando espaço e começou a incomodar os tubarões, a juventude de Alagoinhas, resolveu acreditar e abraçou a idéia. Foram vários os candidatos a vereador juntando-se ao grupo, entre eles Carlos Navarro que recebeu meu primeiro voto e José Francisco de Jesus, que fez o histórico discurso do dia que caiu o palanque. A nossa luta era incansável pela eleição de Judelio, porem tinha que ser em total descrição, dentro do TG, pra não despertar a ira dos Sargentos, e também de alguns colegas, que eram nossos vigias, e representavam as duas turmas Impar e Par respectivamente. Eram chamados de os certinhos do Sargento. Quando eles apareciam agente usava um código identificador que era assoviar o hino da independência do Brasil na parte que diz Ou Ficar a pátria Livre ou Morrer pelo Brasil, e despistávamos pra não deixar pista do que estávamos conversando. Havia também outro grupo que nós chamávamos de secretos, eram os que nos vigiavam fora do Tiro de Guerra, a função deles era contar nossas atividades no colégio, em festas, ou em qualquer manifestação popular, tipo comícios ou palestras com candidatos da oposição. Fiquei por muito tempo na lista negra do sargento, mais isso não me incomodava, procurava sempre chegar no horário, evitando punições, não fui desobediente a ponto de ser repreendido perante a tropa, mais em surdina conspirava a favor da oposição a prefeitura de Alagoinhas. O meu numero continuava a ser uma constante no quadro negro, eu já sabia que após as aulas de instruções teria que permanecer na sede até as 08:00hs, para ter uma conversa com um dos sargentos, o assunto era sempre o mesmo. Falar sobre a minha atitude com relação ao acontecido na PE, e se eu ainda estava magoado, era uma espécie de lavagem cerebral, eles queria me dizer que estava disposto a perdoar, no entanto eu é que deveria perdoar a eles pelas injustiças cometidas a mim e aos outros. Eu fingia aceitar tudo numa boa, mais quando era liberado voltava o ódio ainda mais pertinente, pois me fazia lembrar aqueles malditos cinco dias de detenção em Salvador, a incerteza de não saber o que tinha acontecido com o 63 Humberto, que ninguém nós dava noticias, nem mesmo a família sabia o paradeiro dele. Todos tínhamos medo de falar qualquer coisa. Pois bem no dia 15 de Novembro de 72, um dia de quarta-feira, aconteceu a tão esperada eleição, eu ia pela primeira vez votar em alguém, não escondia de ninguém que meus candidatos seria da oposição, que eu acreditava ser um militante. Entrei na zona de votação cantarolando o trecho da musica, Eu vou porque não, porque não. Quase que a presidente da mesa não me deixa votar, mais como eu estava com o cabelo cortado estilo v.o, ela me deixou votar em paz. Lá dentro cravei, Judelio Carmo pra Prefeito, e Carlos Navarro, pra vereador, pra mim foi o ponto mais alto da minha vingança contra a chamada Ditadura Militar que repito não fazia parte do Tiro de Guerra que eu servia. No dia da apuração vencemos a eleição com uma margem tão grande votos, que cobria os dois candidatos da Arena 1 e 2 e ainda nos dava uma margem de mais de 5.500 votos de frente, foi a maior vitória de um candidato, a prefeito acontecida em Alagoinhas, o que não significou que o prefeito eleito representasse tão bem seus correligionários eleitores, pois nesse ano aconteceu o primeiro crime de mando político na historia da cidade e isso frustrou toda ação do prefeito eleito. Foi um crime com requintes de crueldade, tudo foi preparado nos mínimos detalhes, até uma partida de futebol a noite com portões aberto foi realizado no estádio, pra atrair a atenção das pessoas, um jogo sem nenhuma importância, Atlético e Palestra, um amistoso que não valia nada, a não ser desviar os desportistas para o jogo, afim de que o crime acontecesse. A Idéia era unir o prefeito eleito, e o vereador mais votado, as nove e meia da noite, na casa do vereador, onde ambos seriam executados a bala. Consta nos autos que o crime aconteceu assim: Foi feita uma ligação telefônica para a casa do prefeito eleito, dizendo-se ser da parte do vereador, e que este estaria lhes esperando para uma conversa, sobre o dia da posse de ambos, a ligação pedia que o prefeito fosse ter com o vereador, no caso o empresário Celso Magalhães Dantas, ocorre que o prefeito também interessado em ver o tal do jogo, foi mais cedo à casa do vereador, quando chegou em frente ao portão da casa não desceu do carro, pois viu tudo fechado, imaginou o Celso se esqueceu da conversa deve ter ido, ao jogo, e pensou,.. vejo ele outra hora, e foi ao estádio ver o tal jogo. Consta também nos autos que nesta hora os dois homens encomendados para efetuar o crime, estavam escondidos em uma obra, que ficava em frente à casa do vereador Celso, e que um dos bandidos, ao ver o carro chegar perguntou ao outro é esse, o Judelio? e o outro bandido que conhecia muito bem a Judelio respondeu: não! deve ser algum amigo dele mais não é Judelio não. Consta ainda que ele não confirmou ser Judelio, por ter se arrependido. Após a saída daquele carro, não chegou mais ninguém, eles então resolveram ir até a casa do vereador Celso, bateram a porta, foram recebidos pelo próprio vereador, eles estavam mascarados, anunciaram assalto e em seguida efetuaram os disparos que culminou com a vida do vereador eleito que não teve tempo de nada. Acho que isso transformou a vida do Prefeito Judelio Carmo, amor virou ódio e acabou frustrando todas as expectativas e esperanças nele depositadas, para uma administração competente e progressista para a cidade de Alagoinhas. Mais tarde esse crime veio à tona, com a prisão dos assassinos, e foi comprovado, ser um crime político, com os mandantes, sendo reconhecidos e presos. Mais como cadeia no Brasil foi feita para três P, que são Preto, Puta e Pobre, logo os mandantes estavam soltos, deveria ser acrescentado mais um P o de políticos. Os pistoleiros ficaram presos e foram condenados a pena máxima de 30 anos de reclusão. Um já é falecido o outro não se sabe o seu paradeiro. Esse crime é comentado até hoje em Alagoinhas e destruiu toda atuação publica do prefeito Judelio Carmo, e essa sua administração foi péssima.
V - A Reta Final do TG - Voltando ao TG, o mês de novembro significava o final do serviço militar, poderia ser motivo de tristeza, pois iria acabar o convívio de 149 jovens pra começar a vida pessoal de cada um, mais confesso que pra mim, foi motivo de alegria, pois já não suportava mais morar em Alagoinhas. Primeiro precisava me livrar do complexo de comunista, e segundo era preciso acontecer alguma coisa em minha vida, pois eu já tinha atingido a maior idade e ainda não tinha trabalhado em nada que fosse realmente serio. A reta final foi essa: Dia 05 de Novembro 72 Ultimo Treinamento no Stand de Tiros. Dia 12 de Novembro 72 Passeio com a Turma à praia de Monte Gordo, Dia 19 de Novembro 72 Marcha de 24 KM com saída dia 18/11/72, e Dia 26 de Novembro 72 Inspeção da Tropa Com Major Nogueira. Feito tudo segundo a ordem acima, após a conclusão de todas as etapas estávamos livres das aulas de instruções, estando a disposição do Tiro de Guerra apenas o pessoal de serviço, durante a ultima semana, indo até o dia 03 de dezembro, quando seria o dia de baixa.
Minha ultima escala de serviço foi dia 27 de novembro 1972, segunda-feira, tendo inicio as 06:00hs, e termino as 18:00hs. Foi concluída com pleno êxito, no final nos despedimos só iríamos nos ver no dia 02 de dezembro 72, sábado, quando era esperado o confronto esportivo final entre a turma par e turma impar. Aqui está a homenagem aos meus amigos na nossa ultima guarda. (foi tudo absolutamente normal sem traumas)
Comandante da Guarda:
Cabo 110 – Freitas.
Cabo da Guarda:
Cabo 78 – Aristeu.
Soldado Numero 01
Aluno 22 – Arinho.
Soldado Numero 02
Aluno 66 – Jairo.
Soldado Numero 03
Aluno 35 - Maia. Chegamos ao sábado, dia 02 de dezembro de 72, penúltimo dia no TG, dia do grande tira-teimas, quem é melhor, turma par ou turma impar, era só aquele dia, no dia seguinte já não havia mais nada a ser disputado, a não ser os agradecimentos finais, os abraços de um até breve, na certeza que valeram os nove meses. Aqui esta o quadro demonstrativo que me lembro, quem ganhou mais turma impar ou turma par.
TURMA IMPAR: TURMA PAR: Cadencia - 10 Cadencia – 08 Cabos -
26 Cabos –
14 Futebol Militar – Vice. Futebol Militar Campeão. Tiro ao Alvo – 07 Tiro ao Alvo – 10 Marcha de 24 Km – 05 Marcha de 24 Km – 10 Corrida em Tropa – 05 Corrida em Tropa – 10 Corrida Individual – 3º Lugar Corrida Individual – 1ºe 2º Lugres. Aula Teórica – 10 (Francisco e Sílvio) Aula Teórica – 10 (Cardoso e Freitas) Melhor Soldado – 07 Aloísio - 10 Melhor Soldado - 22 Arinho – 09 Melhor Cabo – 75 Dias, Nota 10 Melhor Cabo – 78 Aristeu, Nota 10. Excluídos – 4 Excluídos – 3 Futebol de Salão – Campeões Futebol de Salão – Vice. Futebol de Campo – Vice Futebol de Campo – Camp A festa final seria no dia seguinte na Praça Graciliano de Freitas, em solenidade aberta a toda sociedade de Alagoinhas, com a presença de autoridades civis, e militares, e convidados de outros quartéis da capital que deveriam acompanhar a incorporação e o juramento da tropa. Cada aluno deveria trazer uma pessoa para ser sua madrinha, na entrega do certificado de reservista, havia algumas exceções, os dez considerados melhores receberia um diploma de honra ao mérito, por terem se comportado bem na avaliação dos sargentos instrutores: Lá estavam Os Certinhos. Claro que eu não estava no meio, era impossível pra os militares premiar um “subversivo”, apesar de eu não ter perdido ponto algum durante todo período que prestei serviço militar, confesso que isso não me fez falta alguma, pois até hoje nunca usei nem a carteira de reservista pra nada, porem eu sempre fiz separação entre o TG que eu servi, pois acreditava que estava sendo feito o melhor na minha formação pessoal, do poder militar que comandava o Pais com mão de ferro eu acredito que era pelo fato de eu gostar muito dos meus irmãos de arma, termo que chamamos os atiradores de qualquer tiro de guerra. Minha madrinha poderia ser Vandete. Ocorre que ela já tinha sido convidada, por um primo, que morava em frente a sua casa e também servia comigo, como as minhas tias estavam na Igreja, minha amiga Julia estava de ferias em Salvador, Estela e Aninha também seria madrinha de outras pessoas lá da rua delas, a minha madrinha acabou sendo uma outra grande amiga que tenho até hoje que é Esterlita de Souza Dantas (Éster). Foi à solenidade mais importante que participei diretamente, não pensei que era tão emocionante, tinha familiares de todos os nossos colegas, inclusive as minhas tias que ao saírem da igreja foram assistir o final da solenidade, que terminou as 12:00hs. O que mais me emocionou, foi o juramento de incorporação ao Exercito Brasileiro, e também a execução do Hino Nacional. Ao lado de Eugênio, Epifanio, Pinheiro, e Gilson éramos guarda bandeira e eu conduzia a bandeira da Bahia, chorei quase todo tempo, movido pela emoção. Quando passava próximo dos meus amigos ou pessoas que estavam nos assistindo, éramos muito aplaudidos, foi uma festa cívica de muita emoção, a gente se despediu jurando sermos amigos pra sempre. Aqui esta o juramento ao Exercito Brasileiro:
“INCORPORANDO-ME AO EXERCITO BRASILEIRO PROMETO CUMPRIR RIGOROSAMENTE AS ORDENS DAS AUTORIDADES À QUE ESTIVER SUBORDINADO RESPEITAR OS SUPERIORES HIERÁRQUICOS TRATAR COM AFEIÇÃO OS IRMÃOS DE ARMAS E COM BONDADE AOS SUBORDINADOS, DEDICAR-ME INTEIRAMENTE AO SERVIÇO DA PÁTRIA CUJA HONRA INTEGRIDADE, E INSTITUIÇÕES DEFENDEREI COM O SACRIFÍCIO DA PRÓPIRIA VIDA”
O Juramento à Bandeira do Brasil, foi a solenidade que marcou de fato a nossa saída do Exercito Brasileiro. Após o juramento cada atirador era chamado pelo nome completo, por sua madrinha, que recebeu um cartão com o nome e numero do aluno pra fazer a chamada e entregar o certificado, o aluno recebia, agradecimentos, e voltava para o seu lugar, conduzido pela madrinha, pra esperar o final da solenidade com a execução do Hino Nacional Brasileiro. Fui convocado de acordo com o meu numero de guerra, e Éster com a voz calma e serena chamou-me ao microfone 110, Luiz Alberto de Andrade Freitas. Fui à frente muito emocionado, acenei pra mutirão, e recebi um papel enrolado, que na verdade nem era o Certificado de Reservista, a entrega era simbólica, mais mesmo assim foi emocionante, fui abraçado por Éster, que me deu um beijo, “Vandete que assistia não gostou nada”, recebi os cumprimentos das pessoas ali presentes a aquele palanque, e em seguida voltei pra meu lugar conduzido por minha madrinha, onde aguardei juntamente com todos os outros atiradores, o final, da solenidade quando cantaríamos o Hino Nacional Brasileiro haja coração nessa hora No final do hino tivemos 10 minutos pra confraternização com os presentes e com os colegas ali mesmo na praça, e em seguida saiamos em ordem unida até a sede do Tiro de Guerra, no Alto do Capinam, quando finalmente seria decretado o tão esperado
FORA DE FORMA. A multidão estava tão entusiasmada que nos acompanhou até a sede lembro-me que Vandete e Éster foram até a sede me acompanhando lado a lado, na guarda bandeira não sei porque mais chorei muito nesse dia. Estava começando a sentir saudade dos três grandes amigos, Humberto Lima Primo 63 José Carlos dos Anjos 80, e Jorge Bonfim de Oliveira Cardoso 70. Finalmente chegamos à sede o sargento fez a leitura da ordem final do dia, agradeceu um por um dos alunos, eu continuava chorando, quando ele comandou Tiro de Guerra Fora de Forma Marche, ouviu-se um só grito por toda Alagoinhas, Brasil. Finalmente estávamos livres. Foi uma comoção geral, saímos dali e fomos de casa em casa dos nossos colegas, cada grupo reunia seus amigos mais chegados e iam a suas casas com o mesmo pretexto comemorar o nosso ultimo dia no Tiro de Guerra, pra mim as coisas tinha outro sentido. Ao sair dali fui direto pra a casa do 120 Nova, juntamente com Éster e Vandete, de lá saímos pra outras casas que eu não me lembro, mais com certeza fui à casa do 36 Dorival, que mais tarde seria a casa de “Didi”, as meninas foram pra suas casas. Marquei com Vandete Estela e Aninha, pra nos encontrarmos as oito da noite na festa daquele domingo no clube. Ela entendeu, tratava-se da nossa confraternização final, pra namorar naquela hora era impossível, só mesmo à noite, porem na minha cabeça já rolava outro pensamento, como não havia mais futuro em Alagoinhas, o radio que era minha paixão, havia sido deixado de lado, por causa do problema no Exercito, ser Policial Militar, não estava nos meus planos, apesar dos vários convites recebidos, cobrador da Catuense nem pensar, só havia uma sadia par mim se quisesse ter ambição de crescer na vida teria que deixar Alagoinhas, em caráter definitivo do contrario seria impossível tentar alguma coisa. Conseguir com muita determinação conclui o segundo grau, que podia não ser tudo, mais servia de referencia pra alguma coisa, era uma bagagem a mais pra lutar por algo melhor. Veio então a solução, fiquei sabendo que a minha mãe tinha se mudado pra um bairro melhor estava morando em um apartamento que ficava no Conjunto São Judas Tadeu, rua Thomaz Gonzaga em Pernambués, pelo menos a morada era bem melhor que todas as outras casas que ela havia morado, tia Eurídice, que me deu está noticia afinal ela também estava morando em Salvador, no bairro do Uruguai, e veio a Alagoinhas pra deixar uma das suas filhas, por uma semana, e voltaria na semana seguinte para buscar a garota. O problema era fazer a minha mãe acreditar em mim, mais tudo era possível jurei, que mesmo se não ficasse na casa dela não voltaria pra Alagoinhas, com uma mão na frente e outra atrás eu pretendia dar uma satisfação a Vandete que era uma garota muito legal, pois em dois anos de namoro não tive condição de ficar noivo e se continuasse em Alagoinhas isso jamais aconteceria. O primeiro pensamento foi mandar uma carta pra minha mãe por tia Euridice, e aguardar resposta dela na semana seguinte quando ela deveria voltar a Alagoinhas pra buscar a sua filha. Estamos chegando ao final da primeira parte, devo fechar esta parte, destacando a festa do tênis, onde as coisas aconteceram, e que ficou sendo a nossa despedida e até hoje é lembrada assim, veja o capitulo seguinte.Recolher