P/1 – Fábio, bom dia!
R – Bom dia!
P/1 – Você poderia começar falando seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Fábio Gonçalves de Oliveira, eu nasci no Rio de Janeiro em 24 de setembro de 1964.
P/1 – Fábio, você poderia contar para a gente em traços gerais a sua traje...Continuar leitura
P/1 – Fábio, bom dia!
R – Bom dia!
P/1 – Você poderia começar falando seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Fábio Gonçalves de Oliveira, eu nasci no Rio de Janeiro em 24 de setembro de 1964.
P/1 – Fábio, você poderia contar para a gente em traços gerais a sua trajetória até o contato com o CDI?
R – Bem, a minha trajetória em termos de trabalho, é isso que você está querendo?
P/1 – É.
R – A minha formação ela é uma formação de base tecnológica. Eu fiz segundo grau técnico, depois fiz engenharia - a minha engenharia é uma engenharia com ênfase em sistemas de computação na UERJ. Na própria UERJ eu comecei já a trabalhar, fiz a minha primeira empresa com sócios e não deu certo. Mas depois nós até continuamos como sócios, a gente montou uma outra empresa mais pra frente, que essa deu frutos. Eu saí da universidade para trabalhar em uma multinacional, curiosamente, na multinacional o que eu fazia era ensinar tecnologia, ensinar as pessoas a utilizarem, na verdade era muito mais um treinamento no uso dos mainframes da Unisys. Eu trabalhei com isso dando aulas durante três anos.
P/1 – Você dava aula para?
R – Eu dava aula tipicamente para os clientes da Unisys.
P/1 – Certo.
R – Então dava aulas de coisas variadas e era uma espécie de meio treinamento e meio formação, porque havia questões teóricas também, era interessante, foi um período interessante da minha vida. Viajava bastante, foi aí aliás que eu tomei um gosto pela viagem, e foi aí também que eu fiz meu primeiro vôo de avião. Falando ainda de trajetória, minha trajetória é toda ela em escolas públicas, eu estudei sempre em escolas públicas, felizmente e de boa qualidade, o CEFET [Centro Federal de Educação Tecnológica] do Rio de Janeiro, depois a UERJ, mas...
P/1 – Você fez CEFET?
R – É, eu fiz CEFET em eletrotécnica. Na Unisys ainda continuei durante mais alguns anos, aí mudei para a área de marketing, mudei primeiro para a área de consultoria, depois marketing, e quando eu saí da Unisys saí para montar minha própria empresa com o Gustavo, Gustavo Viberti, que era meu colega de faculdade, e com ele é que eu montei também a minha primeira - aquela primeira empresa na época da universidade que nós montamos. Na verdade não dá nem para chamar de empresa porque não era legalizada como empresa, a gente saiu fazendo sistemas para pessoas, lá para os terceiros, e com ele, a gente sempre teve essa idéia de ter o próprio negócio, de fazer alguma coisa por conta própria, isso desde a universidade. Passamos oito anos na Unisys e o Gustavo fez nas suas férias uma primeira versão de um site que depois acabou se tornando o site mais popular de busca do Brasil que era o Cadê?. Então nesse primeiro mês de férias o Gustavo fez isso, eu vi valor naquele negócio, de repente a gente tem aí alguma coisa porque as pessoas demandavam mais e mais e queriam inclusão. Ele tinha uma resposta muito positiva de “Parabéns por organizar aquele trabalho todo.”. Aí acabou que nós conseguimos investidor e eu saí primeiro para tocar o Cadê?. Com um ano de funcionamento a gente conseguiu um funcionamento que nos permitiu trazer também o Gustavo, e a gente ficou no Cadê?, saiu o Cadê? de um empregado, que foi quando eu comecei...
P/1 – Era só você?
R – Era eu e mais um. E para 54 pessoas colaboradores nossos lá quando a gente vendeu a empresa.
P/1 – Isso foi quando? Você lembra o ano?
R – O Cadê? começou em 1996 como empresa, em 1995 ele começou como site e como empresa formalizado em 1996, e nós vendemos em 2000.
P/1 – Certo. Ou seja, bem no início de fato quando tem a abertura da internet para uso geral.
R – É, o Cadê? contemporâneo é da internet comercial, porque a internet já existia há muito tempo nos meios acadêmicos, mas comercialmente ela é de 1995.
P/1 – Certo. Imediatamente ________.
R – Hum, hum. E foi no Cadê? que começou nosso relacionamento com o CDI em 2000, porque nós pegamos, recebemos no Cadê? quatro egressos de cursos do CDI para serem estagiários e conhecerem o mundo do trabalho.
P/1 – Ex-alunos de EIC’s?
R – Ex-alunos de EIC’s do CDI, do Rio de Janeiro, o escritório do Cadê? principal era no Rio de Janeiro, embora naquela época a gente já tivesse em Brasília e em São Paulo também, mas o escritório principal do Cadê? é que teve os quatro estagiários do CDI. Foi uma experiência muito rica. A gente viu que o trabalho do CDI funcionava, que aquelas pessoas que tinham uma educação formal deficiente, que não tinham um contato com o computador a não ser nas EIC’s, e agora no ambiente de trabalho elas passaram rapidamente a se tornar produtivas dentro da organização. Isso foi uma coisa, não só obviamente a nível de trabalho, mas também a nível social, eles foram recebidos como, sabia-se obviamente o histórico, um histórico em forma de linhas gerais que vinha de comunidade, mas participavam das festas, uma coisa que nós não precisamos dizer: “Tem que incluir”, não, eles foram incluídos porque eles estavam lá, o mundo do trabalho ajudou a os incluir porque eles viam que eles realmente sabiam fazer as coisas, eles nos ajudavam, eles passaram a fazer parte da equipe e foi com esse sucesso, com essa experiência de sucesso que nós começamos a ter um contato mais, eu e o Gustavo, a ter um contato mais freqüente com o Rodrigo Baggio.
P/1 – E como vocês entraram em contato com o CDI para trazer essas quatro pessoas?
R – Isso aí foi um desejo de dar alguma coisa em troca, aquela coisa, a vida nos tem favorecido, “Quando é que a gente começa a dar alguma coisa em troca?”. De certa forma essa preocupação para mim, pessoalmente, ela estava muito mais ligada ao mundo da política, então o que eu fazia? Panfletei para o Lula ser libertado quando ele foi preso como sindicalista, isso nas ruas do Rio e fim do regime militar, então era até uma coisa de transgressão, uma coisa bacana participar daquele mundo, mas eu não tinha pessoalmente, nem na minha formação nem sequer a nível de desejo eleger como caminho a parte de organizações da sociedade civil. Eu acreditava e ainda acredito na representação do sistema político como um caminho válido. A partir daquela experiência com os alunos do CDI a gente, até acho que dá para dizer eu mais, fiquei sensibilizado por essa possibilidade de participação, que é a participação do terceiro setor. E foi aí que realmente veio essa idéia de dar alguma coisa em troca e tivemos esse programa, eu me esqueço o patrocinador desse programa, havia uma organização, bom, mas isso era dentro de um programa do CDI, não fomos nós que fomos bater à porta do CDI, a gente simplesmente havia um contato e eles lembraram da gente e nós quisemos receber essas pessoas. A partir daí é que esse trabalho do CDI nos despertou para a importância da organização da sociedade civil para resolver nossos problemas do dia-a-dia, não esperar pelo governo e não simplesmente fazer as ações individuais.
P/1 – E isso levou para uma atuação, para uma outra atuação nesta área do terceiro setor, uma aproximação, como foi isso daí?
R – Mais tarde. Na verdade a partir dessa experiência, depois que nós vendemos o Cadê? nós nos tornamos, tanto eu quanto o Gustavo, sócios do CDI. Um convite que o Rodrigo nos fez para que nós passássemos a ser sócios, obviamente não fundadores porque o CDI foi fundado lá, formalizado em 1995 se não me engano e nós entramos aí em 2000 se não me falha a memória. A partir daí, com esse convite do Rodrigo para fazer parte de sócio do CDI nós também nos tornamos voluntários, e participei dentro do CDI com um programa de microcrédito que a gente experimentou, com o pessoal de captação de recursos, também foi o pessoal de captação de recursos, o pessoal de microcrédito e, foram quatro coisas. Ontem eu fiz aquele exercício lá, eu fiz um timeline que vocês haviam pedido, deixa eu ver aqui, uma coisa bem de engenheiro, né? [RISOS] A linha do tempo _____.
P/1 – A linha do tempo individual!
R – Exato! Então foi o microcrédito, desenvolvimento institucional - que é a captação de recursos, nós trabalhamos também na definição do novo portal do CDI, uma coisa que está ficando pronta e está sendo implementada agora e também na identificação na rede de boas práticas, de coisas que funcionam para que a gente pudesse replicar isso. Tivemos lá no Morro dos Macacos vendo o webcafé que eles montaram, e definindo a nível de, como se fosse um plano de negócios aquele webcafé para poder passar para a rede, para a rede se julgasse aquilo interessante implementar.
P/1 – Talvez você pudesse falar um pouco mais de cada uma dessas experiências, daria para você lembrar de alguma...
R – Dá, para lembrar, dá.
P/1 - ...Por exemplo o microcrédito, a experiência do microcrédito, como é que foi?
R – O microcrédito foi uma experiência bastante interessante porque havia um dos, eu acho que ele ainda é conselheiro do CDI, não, peraí. Bom, o Eduardo, da Esso, me falha o, Eduardo Lopes, da Esso, tinha uma – acho que a coisa começou com ele – tinha lido o livro do Banco, eu esqueço o nome do indiano que fez o...
P/1 – (Amiar?) ______?
R – Não, (Amiar?) _____ é o desigualdade mas não é o, foi o cara que fez...
P/1 – Em Bangladesh?
R – É, em Bangladesh a experiência do microcrédito, o (Hamari?) _____. Ele falou isso em uma reunião e a gente viu: “Pôxa, será que a gente consegue ter esse mesmo impacto aqui? Pegar empréstimos de pequena monta, fazer essa interferência na comunidade, ou seja fazer com que esses negócios aconteçam? E como a gente montaria esse tipo de coisa?” Nós fizemos um piloto com o dinheiro, na época da Esso, e nós acompanhamos 12 projetos, fizemos primeiro a coleta, acompanhamos, avaliamos e 12 projetos foram escolhidos das comunidades que o CDI atua, principalmente fundados em tecnologia ou que a tecnologia poderia representar para eles uma diferença, então teve projetos de filmes, projetos onde já não era tão importante
o computador, mas ele era usado por exemplo para desenhar as peças de camiseta, serigrafia, silk screen, uma série de projetos que não eram comunitários, isso é interessante, eram projetos de empreendedores locais, pessoas que a gente identificou que tinham potencial para com o dinheiro montar um negócio. Nós fizemos esse acompanhamento durante cerca de um ano e a gente fazia reuniões de ______, hoje em dia a gente fala mentoria, que é aquela coisa de você orientar, você desenvolver capacidades nessas pessoas e no sentido daqueles projetos decolarem. Essa iniciativa não foi à frente porque nós vimos que aquilo ali estava fora do foco do CDI, mas serviu para a gente ver como a coisa funcionava e fazer parcerias com entidades de microcrédito, ou seja, embora a gente, a gente CDI naquela época, houvesse decidido que não fazia parte, porque é uma coisa exaustiva acompanhar aqueles projetos todos, a gente teve um bom resultado porque as pessoas pagaram os empréstimos, algumas seguiram adiante, outras não, a coisa normal em qualquer empreendimento. Até isso daí também, teve uma das coisas que reforçou essa história do microcrédito porque mais ou menos nessa época eu tinha já vendido o Cadê? e estava com um fundo de investimento para empresas emergentes, para empresas de tecnologia, de pequena monta e com esse fundo eu estava apoiando algumas empresas, mas buscando empresas incubadas em universidades e tal, e o trabalho do microcrédito era similar, a gente usou até os mesmos instrumentos de avaliação adaptados ao nível de densidade do empreendimento, mas os mesmos instrumentos que a gente usava no nosso fundo de investimento a gente usou com o microcrédito a nível de acompanhamento e tudo, então foi uma experiência rica mas que acabou gerando uma coisa: “Não queremos fazer isso, porque é muito difícil e vamos entregar para quem faz!”, e essa coisa, a gente continua identificando empreendedores nas comunidades mas vamos buscar pessoas que possam contribuir com essa gestão.
P/1 – Você lembraria de alguns dos casos que deram certo? Porque você disse que teve, para narrar para a gente.
R – Sim, já faz agora três anos e a minha memória, estou até surpreso com a qualidade da memória, acho que foi ontem esse exercício que me ajudou a me lembrar essas coisas todas.
P/1 – Quer atender?
R – Não, foi só agenda. Mas eu me lembro de um projeto que foi adiante que era, aliás tem vários, agora lembrando de um já vou lembrando de outros, um projeto que o rapaz tinha o talento de filmagem, ele precisava do dinheiro para colocar captura de vídeo no computador, editar seus filmes, filmes de casamento, festas, batizados e tudo, e comprar uma câmera, então ele pegou aquele dinheiro, comprou uma câmera e comprou uma placa de captura de vídeo, o CDI, esse é um ponto interessante porque o CDI entrava com o dinheiro e com o computador, então o objetivo também era estimular o uso da tecnologia da informação nos empreendimentos. Então nós entrávamos com o computador e esse dinheiro foi utilizado para comprar a câmera e a placa de vídeo, a placa de captura de vídeo, porque é transferida da câmera para o computador aquele vídeo capturado. Essa coisa foi adiante, ele fez vários eventos e tal, infelizmente eu não tenho essa informação dele hoje, eu sei que ele continuou depois do processo, eram dois irmãos, eles pagaram o empréstimo até o fim, ou seja, aquele empréstimo serviu para comprar a câmera, com o recurso do empreendimento deles eles pagaram o empréstimo e ficaram com a câmera, ou seja, a gente viabilizou uma coisa que eles não tinham, era exatamente o objetivo do projeto. Outros
foram...
P/1 – Esse projeto, ele era aonde? De onde eram esses irmãos, você lembra de que lugar?
R – Se não me engano era no Morro do Estácio, se não me engano, tenho quase certeza.
P/1 – Tá. Você estava falando de outro.
R – Havia outros projetos ligados por exemplo à telemensagem, uma coisa que nas comunidades mais carentes é muito comum, você faz comunicação para dar parabéns às pessoas por um carro, ou uma carrocinha com alto-falante que a pessoa fala: “Parabéns pra você...”, toca uma música, eu achei, fiquei maravilhado com esse negócio, não conhecia [RISOS] e surgiram, não foi um só não, havia dois ou três projetos de telemensagem porque as pessoas precisavam do dinheiro para comprar alto-falante, para comprar amplificadores, coisas que eles precisavam para poder gerar aquela renda.
P/1 – Mudamos de assunto. [RISOS] Vamos talvez passar para, então você ficou quanto tempo mais ou menos como voluntário nesse tipo de atividade?
R – No caso do microcrédito tenho a impressão de que levou cerca de um ano, mas voluntário no CDI, considerando aquela coisa do voluntário que não tem aquele comprometimento de estar lá toda semana, a gente havia períodos que sim, estava lá toda semana determinado número de horas, mas esses períodos eram curtos, aí havia um espaço, depois a gente voltava para atuar em outro projeto.
P/1 – Certo.
R – Durante esse período de 2000 até agora 2004, eu fui voluntário do CDI, com certeza, pelo menos em cada semestre eu aparecia lá para começar a trabalhar alguma coisa.
P/1 – E você atuava em outras organizações do terceiro setor? Esse contato com o CDI te despertou, te levou a alguma...?
R – Me levou a pensar essa questão e curiosamente o que me afetou muito foi, isso na verdade é uma preocupação com a política que eu já tinha, em 2002 eu fiz uma pós-graduação em sociologia que me deu até uma fundamentação teórica que eu não tinha. Porque como você imagina, um engenheiro e técnico e depois empresário, eu não tinha uma fundamentação, eu era instintivo em relação às ciências humanas, era uma coisa que sempre me interessou mas nunca formalizei esse conhecimento. A pós-graduação em sociologia que eu fiz na PUC, no Rio de Janeiro, me deu uma visão mais acadêmica da questão, e em 2003, isso foi em 2003, 2002 eu estava fora do Brasil, 2003 essa pós-graduação, em 2004 entre fazer o projeto, a proposta que foi justamente para ações afirmativas, “O papel das ações afirmativas na superação da desigualdade entre negros e brancos”, enquanto fazia esse estudo e me preparava para algum caminho nessa área, estava procurando alguma coisa em ONG, eu estava procurando talvez montar uma ONG em algumas coisas que eu via como interessantes em relação à cidadania ou seguir a carreira acadêmica. Foi justamente quando eu estava nessa encruzilhada que o Rodrigo me fez, na verdade nem chegou a me fazer um convite, ele me ligou para pedir a indicação de um nome para atuar como número dois no CDI, ia ser número dois com a tarefa de ter o dia-a-dia, a parte de operações do CDI - que é uma ONG imensa, especialmente para os padrões brasileiros que é, não sei, se não for em abrangência do número de pontos, é provavelmente até a maior do Brasil, realmente não tenho esse dado mas tenho um feeling de que isso aí pode ser verdade, inclusive fora do Brasil. Então, quando ele me pediu para sugerir um nome, eu: “Pôxa! Será que eu posso entrar nesse processo para participar desse processo, porque eu gostaria, esse desafio é o que eu estou buscando.”, e ele falou: “Claro, eu te liguei justamente para isso, para de repente você se sensibilizar.”, aquele negócio todo. E eu participei de um processo que foi intermediado por uma consultoria porque o CDI apesar de ser uma ONG e não ter muitos recursos como toda ONG, a gente consegue mobilizar muitos parceiros, então uma coisa curiosíssima a gente contratou, ou melhor, eu fui me entrevistar com uma pessoa da Korn Ferry International que é uma firma de headhunters que eu já havia contratado lá atrás para que me substituísse, à mim e ao Gustavo, na operação do Cadê?, e foi caríssimo! A volta deu, eu voltei para falar com a mesma firma sabendo que eles estavam fazendo um serviço ______ para o CDI, então foi uma coisa curiosa porque o nível de profissionalismo que o CDI estava atingindo era equivalente ao de uma empresa norte-americana porque eu vendi a minha empresa para uma empresa norte-americana que estava, fez esse recrutamento com a Korn Ferry. Foi uma coisa curiosa e acabou que a coisa foi favorável, avançou e eu há um mês atrás assumi essa posição de número dois, de diretor de operações do CDI.
P/1 – E qual a tua atividade hoje em dia, Fábio? Como você está vendo o CDI hoje? Talvez primeiro a tua atividade.
R – O meu papel?
P/1 – Qual o teu papel lá dentro?
R – O meu papel na estrutura do CDI é o de cuidar do dia-a-dia basicamente, Então é o dia-a-dia ele fica todo comigo, por quê? Porquê isso libera o Rodrigo para fazer o que ele é realmente insubstituível, que é nos representar fora, nos representar junto aos parceiros, nos representar junto aos organismos multilaterais, ao governo, à sociedade civil, que é o que ele é extremamente demandado e não tinha tempo. Ele fazia isso e além disso geria a organização, quer dizer, uma coisa de louco, trabalho insano que eu vejo que só fazer o que eu me proponho a fazer já me toma muito mais do que eu imaginava, estou aqui agora de domingo a domingo, trabalhando de manhã cedo desde às sete horas da manhã até dez, 11 da noite nesse planejamento que o CDI está fazendo. A rotina de trabalho do CDI é uma rotina bastante pesada mesmo em comparação à empresas de tecnologia, as que eu estava acostumado. Esse é a questão do dia-a-dia, o dia-a-dia envolve tudo na verdade, tudo que tem a ver com a operação do CDI hoje é minha responsabilidade, isso inclui a área de captação, desenvolvimento institucional, isso inclui a parte obviamente de administrativo- financeira, inclui o pessoal pedagógico, a nova política pedagógica do CDI que a gente está finalizando agora em 2005, inclui a rede do CDI, essa rede maravilhosa aí que se espalha por 11 países. Isso tudo é responsabilidade minha e eu reporto ao Rodrigo.
P/1 – E você tem algum contato com o conselho também?
R – Ah, direto, tanto eu como o Rodrigo a gente participa das reuniões de conselho.
P/1 – Tá. E como você está vendo a situação do CDI hoje em dia? Porque você entrou em 2000, ele devia ser uma coisa, como ele está hoje em dia? Você podia talvez traçar um esse plano, esse arco todo. Como você está vendo hoje em dia?
R – Eu já peguei o CDI em uma fase de caminhando para a formalização. Quando eu conheci o CDI havia, isso há até hoje, felizmente, aquele ideal de movimento social, eu ia dizer que havia uma coisa muito mais de movimento social do que de uma organização não governamental realmente, e esse movimento social ele estava se formalizando já em 2000, tanto que havia essa preocupação em tentar fechar o círculo. Nós treinamos as pessoas em informática, os incluímos digitalmente, mas e aí? Foi nesse “E aí?” que entraram aqueles quatro alunos trabalhando para conhecer o mundo do trabalho, o objetivo deles não era continuar na organização, mas era conhecer o mundo do trabalho e voltar para propagar aquela experiência. Embora, o que vem acontecendo? Nos últimos anos, nos últimos dois anos, o CDI teve uma aceleração muito grande no sentido da profissionalização e daquela apropriação de técnicas das empresas do segundo setor... Ih, rapaz, desculpa, a gente já estourou o tempo...
P/1 – Não, não tem problema nenhum, da nossa parte...
R – Eu tenho que voltar porque...
P/1 – Então vamos concluir o tema.
R – Vamos concluir. Eu acho que eu tenho dificuldade de falar de mim mesmo, mas talvez falar do CDI seja muito fácil.
P/1 – É claro.
R – Eu tenho já um envolvimento, uma paixão...
P/1 – Fábio, o teu tempo você tem quanto?
R – Cara, eu tenho menos cinco minutos.
P/1 – Então vamos concluir isso daí em dois minutos, assim, talvez concluir a situação que está o CDI hoje em dia e talvez voltar um pouco para o teu momento pessoal, né? Como é que está hoje em dia, o que você pensa...
R – Tá. Em relação ao CDI.
P/1 - ...ou mesmo a sua própria vida de atuação.
R – Em relação ao CDI, a gente vive um momento em que nós temos uma rede muito grande que opera muito se relacionando através da matriz. O nosso grande desafio para os anos que vêm, com essa formalização, é se tornar cada vez mais uma rede onde esses pontos se comunicam sem que nós precisemos promover essa comunicação. Claro que a matriz está ali formalizando as práticas, fazendo captação de projetos que sejam estratégicos, mas a rede caminha muito mais no sentido do auto-enriquecimento entre os nos e também da sua auto-sustentabilidade. O momento novo do CDI é justamente buscar essa promoção da comunicação em rede, e a gente está hoje aqui, esse encontro é justamente um grande exemplo disso, a gente está com as pessoas da América Latina toda aqui discutindo o futuro da rede e planejando os nossos objetivos em conjunto. Do ponto de vista pessoal, na verdade eu acho como todas as pessoas, eu vou reagindo muito ao que se apresenta, na minha vida pessoal o que me orientou foi sempre ter uma meta, mas essa meta era uma meta relativamente genérica, a minha meta já foi ser empresário, ter o meu próprio negócio, ter uma independência financeira, e hoje a minha meta está muito mais de dar alguma coisa em troca, alguma coisa em troca que não seja simplesmente dinheiro, doação, até porque nosso país ele tem muita dificuldade em lidar com isso, eu tentei voltar na minha universidade fazer alguma doação e eles não recebem, por incrível que pareça se eu faço uma doação para minha universidade ela cai no caixa do governo do estado e é distribuído no orçamento estadual, quer dizer, sabe-se lá onde vai parar esse dinheiro.
P/1 – É claro.
R – Essa coisa de dar em troca me parece que um bom caminho é justamente atuando no terceiro setor, nas organizações da sociedade civil, e o meu plano está ligado à isso, ser uma pessoa que dá sua contribuição nessa área e, tendo isso em mente, quando pintou o convite o Rodrigo eu não tive duas vezes, a área acadêmica ficou para um segundo plano, talvez um outro momento, quem sabe, mas essa é uma área que eu acredito a um tempo realizar coisas importantes e me realizar.
P/1 – Perfeito! Obrigado, Fábio.Recolher