Projeto Identidade Santander
Depoimento de Jerônimo Rafael Ramos
Entrevistado por Fernanda Prado e Ana Maria Lorza
São Paulo, 21 de outubro de 2011
Realização Museu da Pessoa
Entrevista BST_HV002
Transcrito por Mariana Wolff
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 – Jerônimo, boa tar...Continuar leitura
Projeto Identidade Santander
Depoimento de Jerônimo Rafael Ramos
Entrevistado por Fernanda Prado e Ana Maria Lorza
São Paulo, 21 de outubro de 2011
Realização Museu da Pessoa
Entrevista BST_HV002
Transcrito por Mariana Wolff
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 – Jerônimo, boa tarde. Primeiro eu queria agradecer a sua presença aqui para conceder essa entrevista e para começar eu queria pedir para o senhor falar para gente o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Muito bem. Meu nome é Jerônimo Rafael Ramos. Eu nasci em Recife, num lugarzinho chamado Casa Amarela, em Pernambuco. Eu nasci no dia 23 de agosto de 1957.
P/1 – Certo. Qual é o nome dos seus pais?
R – Deonísio Rafael e Maria de Jesus Ramos.
P/1 – Qual que era a atividade deles?
R – A minha mãe era do lar, não trabalhava e o meu padrasto trabalhava numa empresa de transporte.
P/1 – Certo. E os seus avós? Você chegou a conhecê-los?
R – Eu conheci a minha avó. Eu saí de Recife quando tinha cinco ou seis anos e eu a conheci nesse intervalo. Ela não morava diretamente com a minha mãe, mas eu tenho uma lembrança dela bem gostosa.
P/1 – E que lembranças que você tem dela?
R – Lembrança de uma senhorinha muito atenciosa, muito cuidadosa, cabelinhos brancos. E, vez por outra, faço uma viagem dessas, lembrando dela. Uma lembrança muito gostosa.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Não. Eu sou filho único, mas tenho um primo que convivemos muito próximos, então eu digo que ele é meu irmão. Ele hoje mora no interior de Pernambuco. Então, a lembrança de um irmão que eu tenho é a do meu primo Ramos.
P/2 – E conta para gente o que você se lembra de Recife, eu sei que o senhor acabou de falar que viveu lá até os cinco anos, mas o senhor tem lembranças de lá, como é que era?
R – Eu tenho lembrança da minha casa. O bairro se chamava Casa Amarela e coincidência ou não, a minha casa também era amarela. Eu lembro um fato muito engraçado mas deve ter dado um baita susto na minha mãe. Eu lembro que a minha mãe e a minha tia saíram para fazer alguma coisa e eram tipo oito, nove horas da noite e elas não chegaram. Eu e o meu primo pulamos a janela e ficamos na calçada da rua esperando por elas. Quando elas chegaram foi um Deus nos acuda, o que a gente estava fazendo ali. E eu tinha de quatro para cinco anos. Então, a lembrança que eu tenho é dessa travessura. Me dá um sentimento gostoso de lembrar dessa fase também.
P/2 – E você falou que saiu de Recife nessa idade, para onde é que vocês foram? Quais foram as circunstâncias da mudança?
R – Eu saí de Recife para o Rio de Janeiro. A minha mãe se separou do meu pai e a minha tia já morava no Rio de Janeiro, então, nós viemos morar no Rio de Janeiro na mesma casa que a minha tia já morava. Eu tinha ali de cinco para seis anos.
P/1 – E como é então que foi a infância no Rio de Janeiro, a casa nova, onde é que ela ficava?
R – Olha, eu lembro que eu brincava bastante, acho que até hoje sou brincalhão por causa disso. Eu brincava bastante, não tinha uma noção exata das dificuldades, mas eu arrumava sempre uma coisinha, um brinquedo para estar distraído. Mais adiante eu ganhei um pouquinho mais de liberdade, brincava na rua, corria muito, jogava bola, soltava pipa. Essa fase ali, dos seis aos oito, nove anos, ela teve muito de brincadeira, brincadeira em casa, brincadeira na rua. Eu lembro dessa fase com muito prazer também. Os brinquedos você fazia, o carrinho de lata você montava, isso acabava colocando muita criatividade.
P/2 – E além do carrinho de lata e da pipa, quais eram outros brinquedos que você disse que arranjava, ou do que mais você brincava?
R – Eu lembro de brincar muito com coisas muito simples, jogar bola de gude, rodar pião. Televisão não tinha, a gente via na casa do vizinho, então, era um evento, né? Eram essas brincadeiras bastante populares que hoje a gente não vê. Então, a gente tinha os amigos ali, jogava bola de gude, soltava a pipa, soltava o pião, coisas muito simples, mas bastante prazerosas.
P/1 – E como é que era a sua relação com a sua mãe, com a sua tia ali nessa nova cidade?
R – A minha mãe sempre foi uma mulher muito protetora e sempre recebi dela talvez o melhor carinho que ela pudesse dar. Dessa fase eu tenho esse senso da proteção, da minha mãe sempre junto comigo ali. Na sequência ela se recasou com o senhor Joaquim Moreira, que foi uma pessoa também que marcou muito a minha vida, tenho grandes exemplos de humanidade e de desprendimento através também do meu padrasto.
P/1 – E o que você se lembra da escola nessa sua meninice? Como é que era ir para a escola, qual é a sua primeira lembrança de lá?
R – A lembrança que eu tenho é de uma escola que tinha muitas crianças muito parecidas, com a mesma idade e o gosto pela leitura. Tinha muita leitura e a leitura tinha muito visual nos livros. E a bendita tabuada, que todo dia minha mãe tinha lá um horariozinho para fazer os exercícios de tabuada. Eu lembro de que eu estudava com muito prazer, tinha vontade de aprender e a minha mãe contava uma historinha que quando eu tinha quatro, cinco anos, eu falava para ela: “Mamãe me bate na escola” (risos), então, essas coisinhas, fica provocando esses assuntos assim, acabo lembrando um pouquinho dessas mensagens que ficam escondidas no coração da gente.
P/2 – E tinha algum professor que marcou no primeiro momento de escola? Como é que foi para você, filho único, encontrar ali um ambiente com mais pessoas da sua idade?
R – Eu lembro que eu tive muitos amigos. Eu sempre tive facilidade de fazer amigos e os professores, não vou dizer como seria hoje, os professores eram muito próximos dos alunos, das crianças. Eu lembro especificamente de uma professora, a dona Silvia. A dona Sílvia era uma professora jovem e sempre que chegava na sala de aula ela cantava umas musiquinhas, deixava a turma muito acesa para as aulas dela. E um dos melhores amigos que eu fiz nessa época foi o Carlos César. Carlos César era um menino gordinho, ele morava num lugarzinho um pouco mais afastado mas a gente, vez por outra, fazia um torneio de futebol de botão. Tem duas coisas da relação com o Carlos César que eu lembro. Uma, quando eu fui campeão no futebol de botão, eu saí correndo como se tivesse ganho a Copa do Mundo. Cheguei em casa para minha mãe: “Mãe, olha, eu fui campeão”. Não ganhei nada, era só um pedaço de papel (risos), mas o sentimento, a alegria de vencer era muito grande. E a outra com o Carlos César foi que eu comprei um sorvete de duas bolas e o Carlos César pediu um pedacinho do sorvete. Quando ele pegou o sorvete caiu no chão. Então, ele saiu correndo para um lado, eu correndo atrás dele (risos) para fazer com que ele me desse um outro sorvete, né? Mas era muito carinhoso o Carlos César, uma figura que eu trago muito próxima também.
P/1 – Ele é seu amigo até hoje?
R – Não. Eu perdi o contato com o Carlos César tem uns 15, 20 anos. Quando eu mudei para São Paulo, um pouquinho mais a frente, eu não tive mais contato com o Carlos César.
P/2 – Só voltando um pouquinho, você comentou a importância do seu padrasto na sua vida pessoal, se você puder falar um pouquinho dos valores, né, como ele contribuiu para a sua personalidade hoje, pela pessoa que você é hoje, tem alguma lembrança disso?
R – Tenho. Primeiro que o meu padrasto era muito trabalhador. Ele saía muito cedo de casa, voltava à noitinha. Ah, o meu padrasto, mineiro, da roça, um homem fisicamente muito forte, muito bruto, mas de um coração, assim, a toda prova, muito ajudador. Ele sempre estava disponível para ajudar as pessoas do nosso entorno. Então a grande referência que eu tenho do meu padrasto, que para mim é a figura de um pai, literalmente, é essa: a atenção com o outro, o respeito principalmente e essa vontade de servir, ele era sempre muito disponível. O que precisasse do senhor Joaquim, ele estava ali para ajudar os amigos. Gostava muito de fazer um churrasquinho e aí um churrasquinho quase que de gato mesmo né (risos), era um churrasquinho muito simples, mas muito alegre. Tem uma passagem com o meu padrasto que ele chegava em casa cinco e meia, seis horas mais ou menos e ele sempre trazia um pão quentinho e ele sentava na mesa para tomar o café comigo e depois que ele ia fazer outras coisas. Então, essas coisas eu acredito que me influenciaram muito, né? Ele tinha uma frase que era muito gostosa que ele falava assim: “Olha, aprende que eu não vou viver a vida toda”. Então, sempre que ele estava fazendo alguma coisa nova, trocando uma lâmpada, ele me chamava para me ensinar dentro da própria capacidade dele. Eu acho que era o melhor que ele poderia me dar naquele momento: carinho, respeito e o que ele sabia, ele transferia para mim. Então, uma pessoa que com muito orgulho mesmo, eu digo que boa parte do meu caráter, dos meus valores foram forjados por essa convivência com o senhor Joaquim.
P/2 – O que o senhor então, com esses aprendizados que o senhor recebia dele, com esse seu primeiro contato com a escola, o que o senhor assim nessa meninice queria ser quando crescesse?
R – Olha, eu te confesso que eu não tinha esse desejo: “eu quero ser um médico, um engenheiro”, não passava no meu entorno. O que eu falava muito era que queria trabalhar, isso para mim era algo que estava muito no meu entorno. Do que eu seria? Eu falava muito em ser jogador de futebol, né, que era o que a gente mais fazia naquela época, jogar futebol. Mas o desejo de trabalhar como o meu padrasto trabalhava, o exemplo dele de trabalhar, para mim aquilo era algo muito rico, tinha muito significado naquele exercício do trabalho. Porque por mais simples que fosse o trabalho dele, tinha uma dignidade tremenda. Ele sempre saía de casa muito bem arrumadinho, ele tinha lá o seu desodorantezinho, perfumadinho, tinha um cuidado com a barba, ele usava um bigodinho. Então, essa vontade de trabalhar e o zelo pelas coisas simples, isso era muito próximo. Então, eu digo para você hoje eu dou muito valor às coisas simples, o sentido de você valorizar aquilo que você tem eu acho que vem desse momento, desses aprendizados com o meu padrasto.
P/1 – O senhor falou do seu primeiro momento na escola, como é que foi evoluindo assim, o senhor sentiu dificuldades conforme as séries foram progredindo em termos de mudar do esquema de ter uma professora só para ter várias ou quando chega o momento do Colegial, que era uma hora já de escolher um pouquinho mais o caminho que ia seguir, como é que foi esse percurso para o senhor?
R – Eu não tive dificuldades porque eu tinha prazer em fazer. Naquela época, você fazia muitos trabalhos na própria escola. O gosto, eu sempre tive vontade, o gosto de leitura, eu leio livros, dois, três livros ao mesmo tempo até hoje, então, a evolução, ela foi muito natural, não foi algo pesado: “Você tem a obrigação de estudar cinco horas fora do colégio”. Não tinha isso, era algo rotineiro, espontâneo e a minha mãe estava sempre ali por perto perguntando: “Você já fez as lições?” “Não tem lição de casa para fazer?” Então, o processo foi muito natural, não tive nenhuma dificuldade, não tive dificuldade nenhuma por ser filho único. As coisas foram muito com uma certa disciplina, mas com muita confiança nessa relação com as obrigações da escola.
P/1 – E na sua juventude no Rio de Janeiro, o que você gostava de fazer? Quem era o seu grupo de amigos?
R – Eu morava numa vila e eu tinha dois, tive três grandes amigos nessa fase. Um morava na mesma vila, era o Dida e a Vandinha e a gente compartilhava muito, muitas coisas. Eu fui ser vascaíno por causa do Dida. Ela falava tanto do Vasco da Gama, que eu acabei virando Vasco da Gama por causa do Dida. E o Mário era dois ou três anos mais velho do que eu e ele era uma referência na rua. Ele era um vizinho também muito próximo. Quando jogava futebol, estava no time do Mário, ia soltar pipa, fazíamos as coisas muito próximos. Então, as referências de proximidade mesmo dessa vila era o Dida e a Vandinha e tinha um amigo muito próximo mesmo que também me inspirava era o Mário.
P/1 – E esses passeios de juventude, aonde vocês iam, ao centro do Rio, em cinemas?
R – Cinema, você pode colocar isso no início dos anos 1970, por ali, cinemas eram poucos cinemas, mas cinema a gente ía uma vez por mês, alguma coisa assim e no Rio de Janeiro, você tinha o Aterro do Flamengo, que é um lugar maravilhoso. Nos finais de semana se brincava bastante, tínhamos o parquinho, o futebol que era presente, a praia. O final de semana era muito nesse sentido. Ou você fazia as brincadeiras na rua, ou pegava um cineminha ou ia para o Aterro do Flamengo. Portanto se fazia de tudo, desde um parquinho, jogar futebol, lanchar, fazer um piquenique. Era isso.
P/2 – E como é que foi a sua, quando chegou o momento de decidir por uma carreira, como é que foi a escolha por Propaganda e Marketing, foi logo em seguida ao término da escola?
R – Foi na sequência do Ensino Médio. Ali eu tive um professor que ele era o inspirador da turma. Ele foi dando essas dicas, não se falava Publicidade, naquela época era Propaganda mesmo. E aí ele fez esse encaminhamento para essa formação.
P/1 – E como é que foi o momento da escolha, quando você falou para sua mãe e como é que foi entrar na faculdade, período de pré-vestibular, assim?
R – Falar com a minha mãe... Eu não sei se teve um momento de você fazer esse compartilhamento. Eu acho que foi uma evolução da própria escola. Eu falei para ela o que eu ia fazer por orientação de um professor e tinha uma escola técnica, a Celso Lisboa, Nuno Lisboa, no Rio de Janeiro. Então, eu fiz esse curso nessa faculdade lá, na Celso Lisboa no Rio de Janeiro.
P/1 – E o que te levou, qual foi o momento que essa orientação do professor te chamou a atenção e você falou assim: “Não, é isso mesmo”?
R – Eu acho que foi a capacidade de comunicação, de fazer uma comunicação que levasse uma mensagem positiva para o universo de convívio. Eu acho que é essa síntese, de comunicar, de transferir um pouco do conhecimento e compartilhar aquilo que você sabe com outras pessoas.
P/2 – E como é que foi esse período do curso técnico, quais eram as matérias, o que ficou marcado desse período?
R – Te confesso que eu não tenho uma matéria específica mas o conteúdo que a gente muito fazia era da própria comunicação, como você se comunica, o conteúdo que você transmitia.
P/2 – E tiveram estágios, assim, o senhor teve que fazer?
R – Não, eu não fiz estágio. Não teve estágio.
P/2 – Na sua trajetória profissional, qual foi o seu primeiro trabalho? O que o senhor fazia nesse período do ensino técnico, trabalhava?
R – Não. Eu comecei a trabalhar um pouco mais cedo e fazia esse curso técnico, fiz já trabalhando. Comecei a trabalhar no Rio de Janeiro numa Financeira, na Cevisa Financeira. Trabalhei nessa empresa por 16, 17 anos. Foi uma belíssima escola de como trabalhar, de estabelecer conhecimentos, estabelecer metas.
P/1 – E esse então na Cevisa foi o seu primeiro emprego?
R – Primeiro emprego.
P/1 – E quais eram as suas atividades, você lembra como foi o seu primeiro dia, como foi chegar lá para trabalhar?
R – Me lembro claramente. Chovia demais e no primeiro dia que eu cheguei comecei a trabalhar como office boy nessa Financeira. Fiquei na minha mesa e tocou o telefone. Eu nunca tinha visto um telefone na minha frente, como é que você atende um telefone se você nunca viu? (risos) Então, o primeiro dia foi esse da experiência do novo e eu sempre tive a vontade de aprender e, evidentemente, passaram pela minha vida pessoas que também queriam me transferir algum conhecimento. Nessa jornada de trabalho eu me lembro de várias pessoas: do Batista, da Dona Eulenca, do Amorim, do Claudio Drago... pessoas que tiveram, em algum momento, de parar um instante para transferir um pouco do seu conhecimento para que eu desenvolvesse o meu trabalho.
P/2 – E quais eram as suas primeiras atividades como office boy, o que o senhor fazia?
R – Um trabalho que eu não sei se os office boys de hoje fazem, mas era fazer pagamento de conta em banco, alguma atividade mais burocrática dentro do escritório, datilografar uma nota promissória; ter o cuidado de pagar uma conta no banco, de voltar com os relatórios de prestação de contas era uma atividade que tinha, naquele momento, alguma complexidade. Era basicamente esse trabalho naquela época de um office boy.
P/2 – E o senhor lembra o que o senhor fez com o seu primeiro salário?
R – Eu compartilhei esse meu salário com a minha mãe, com a minha tia e com o meu padrasto (risos). Não ficou muito pouca coisa. Mas, para mim, o salário era algo que poderia transformar meu núcleo familiar. Eu achava que dividindo o meu primeiro salário estaria fazendo um reconhecimento ao trabalho que a minha tia tinha comigo, ao carinho que a minha mãe tinha comigo. Era como compartilhar, era um presente. A partir daí a gente foi fazendo outras coisas, todo mês um pouquinho diferente, mas sempre nesse universo de compartilhar.
P/2 – E como é que foram evoluindo suas atividades, desse período? O senhor começou lá em baixo, como office boy, como é que foram evoluindo suas atividades em decorrência também de fazer um curso?
R – Eu tenho muito orgulho de toda a minha carreira profissional, mas especificamente nesse período da Cevisa é algo que foi marcante para mim. Nesses 16 anos que eu trabalhei na Cevisa, eu entrei como office boy e saí como gerente geral dessa unidade. O outro orgulho foi quando essa Financeira se transformou em Banco: dos 80 e poucos gerentes que haviam na Financeira, eu fui o único gerente a passar para o banco. Isso para mim foi marcante. Estava lembrando ainda há pouco, estava fazendo um cálculo na HP e estava compartilhando com uma pessoa do meu lado e estava dizendo que uma das pessoas que me ajudaram muito nessa época da empresa foi o dono da empresa, doutor Isaac, era o presidente da empresa. Num horário qualquer lá, sobrava uma horinha e ele me chamava para fazer os cálculos dos investimentos dele e, assim, me transmitia esse conhecimento também. Então, nesse período, nesses 16 anos de Cevisa, eu te confesso que ali eu estabeleci uma base profissional de ética, de respeitar o espaço do outro, de reconhecer, de incentivar as pessoas que estavam no entorno, de criar um bom ambiente de trabalho para que cada um desenvolvesse bem as suas competências. Então, esse primeiro trabalho na Cevisa foi algo como um pilar mesmo, que eu trago muitas coisas até hoje.
P/2 – E como é que era o seu cotidiano, como é que depois de office boy foram as suas atividades até chegar a gerente geral?
R – Eu comecei como office boy e eu lembro que logo nesse primeiro dia começou um outro rapaz comigo, o Amaro, também office boy. Três meses de atividade a empresa criou um uniforme para trabalhar e eu falei assim com o Amaro: “Amaro, em três meses eu vou ser promovido aqui porque eu não gosto desse uniforme”. E o Amaro falou assim: “Para mim não, eu economizo roupa”. Em três meses, eu fui promovido para auxiliar de escritório. Passou mais um período, eu fui promovido para chefe de uma seção, depois para supervisor, logo depois para sub-gerente e um pouquinho mais à frente como gerente geral. Então, eu passei dentro de uma financeira, de um banco, por várias áreas, por área administrativa, por área de crédito, por área de auditoria, pela área comercial. Eu tenho um gosto muito grande pela área comercial, você estar em contato com os clientes, é muito prazeroso você estar com o cliente.
P/1 – E qual que era a gama de clientes dessa financeira, aonde que ela atingia, qual que era o público, qual era a atividade fim dela?
R – Basicamente, a financeira fazia crédito pessoal e financiamento de veículos. Tinha outras ofertas como seguro, títulos de capitalização. A filial que eu ficava era no Rio de Janeiro, a matriz era em Porto Alegre e nós desenvolvemos um trabalho muito bacana nessa filial que chegamos a passar a matriz em Porto Alegre. Então, isso chamou a atenção dos diretores da Cevisa no Sul: o que uma filial, que não tinha todo o apoio da matriz estava fazendo para que ela tivesse um desempenho maior do que a própria matriz? Então, eles passaram lá uma época conosco, viram lá as boas práticas, do modo que nós fazíamos, a atenção que nós dávamos para os clientes e esse modelo acabou sendo implementado em outras filiais da Cevisa.
P/1 – Você falou que ela depois virou um banco, como é que foi esse processo, como é que foi para o senhor ser um dos únicos gerentes que ficaram?
R – Acho que o processo de transformação da financeira em banco foi fruto da própria maturidade do mercado financeiro. Naquela época se criaram os bancos múltiplos e a Cevisa, para aumentar a sua gama de ofertas, se transformou em banco múltiplo. Evidentemente tinha uma nova exigência, a referência de trabalho não era mais da financeira e isso fez com que o banco fizesse uma avaliação de quem tinha o perfil para trabalhar nessa atividade bancária e eu fui, desses 84 gerentes, o único gerente que ficou para assumir uma agência bancária plena. Aí nós mudamos de patamar: novos produtos, conta corrente, novos portfólios de investimentos. Foi um desafio profissional muito grande.
P/1 – Eu queria agora saber qual era esse perfil e como é que era tomar conta de uma agência? É uma realidade totalmente nova, cheia de novos desafios? Como é que foi esse período?
R – Esse período foi desafiador. Nós tínhamos 16 funcionários, na unidade da Financeira. Quando a filial se transformou em Banco foi para algo entre 38, 40 funcionários. Nós quase que triplicamos de tamanho. Novas pessoas, pessoas que você precisava treinar, que você precisava capacitar, novos negócios. Naquela época se lançavam muitos produtos de investimentos, principalmente. Então, aquilo exigiu muito que eu me capacitasse também, mas que, acima de tudo, eu gerenciasse um time com a mentalidade vencedora, com a mentalidade de qualidade, com a mentalidade de busca de excelência no atendimento. Então, nós ficamos em primeiro lugar em vários rankings do banco e isso foi basicamente até o início dos anos 1990, 1991.
P/1 – Esse tempo coincide também com a chegada de novos meios tecnológicos. Como é que você sentiu isso chegando na sua área de trabalho, como é que isso influenciou no seu dia-a-dia?
R – Foi mudança de patamar mais uma vez: tecnologia servindo para você mudar, ter mais tempo para se relacionar com os clientes. Eu lembro quando nós colocamos o primeiro ATM dentro de uma agência, os clientes tinham medo de ir lá na máquina, achava que não funcionava, né? Então, foi mudança de patamar efetivamente, novas exigências para você se adaptar nesse novo cenário com mais tecnologia, né, não tantas quanto se tem hoje, mas se diminuiu muito os trabalhos manuais e aí, começamos ali, né, o próprio mercado a estabelecer novas relações de relacionamento com clientes, né, de você intensificar mais relacionamentos com o cliente, entender necessidades do cliente para que você levasse dentro de uma oferta que você tinha no banco aquilo que fosse mais importante para o cliente, que agregasse valor para o cliente.
P/2 – Continuando na sua trajetória, então o senhor falou que ficou uns 16 anos nessa Financeira. Como é que seguiu a sua trajetória de lá?
R – Eu recebi um convite para trabalhar na (Financeira) Aymoré. A Aymoré era do grupo ABN e eu tinha uma amiga que trabalhava lá, a Valéria. E encontrando com ela, ela me disse: “Jerônimo, a Aymoré está buscando se expandir, você não quer mandar o seu currículo para lá?” E nesse sentido, eu mandei o currículo, fui fazer uma entrevista. Fiz uma entrevista com o Wagner Ferrari, uma entrevista muito rica que durou quase quatro horas. Era quase uma sessão com psicólogo (risos), foi muito bacana, muito rica. E naquele momento você tinha a Financiadora Mappin que me fez um convite e eu decidi pela Aymoré. Eu acredito que dentro da gente você tem uma intuição, né, que você tem que respeitar. Naquele momento, eu teria um salário maior na Mappin, mas eu preferi trabalhar na Aymoré. Eu entendi que as pessoas que estavam ali tinham muita identidade ou eram próximas do universo com que eu trabalhava, isso me deu uma confiança muito grande, né? Eu trabalhei na Aymoré direto por seis anos entre Rio e São Paulo, foi uma época muito bacana, pessoas como o próprio Wagner, o Renato que mora no Rio de Janeiro até hoje. Então, a minha transição para a Aymoré foi isso, foi uma escolha entre uma outra empresa e a Aymoré e eu falo que eu acertei na escolha.
P/2 – Você falou de identidade. Identidade em que sentido assim?
R – De comungar dos mesmos valores e dos mesmos sonhos, porque também na Aymoré naquela época era uma financeira muito pequena. Então, a visão de futuro foi que me fez decidir pela Aymoré. Era um produto novo, que estava sendo criado na Aymoré e o desafio era dentro de uma financeira em que, culturalmente, sempre investiu em linhas de crédito de veículos, como era agora fazer uma linha de crédito para financiar pacotes de turismo, financiar móveis, financiar informática. Então, esse desafio para mim foi um fator determinante nessa escolha. E a visão de que no futuro nós poderíamos ter uma financeira competitiva e ser uma das melhores no Rio de Janeiro naquela época.
P/2 – E falando de futuro, qual é a importância de uma empresa, de pensar nessa projeção e de estar preocupado com isso?
R – Olha, a inovação é fundamental em qualquer empresa. A visão de futuro, você buscar uma perpetuação da empresa é fundamental. Eu acho que você faz isso no dia-a-dia, você constrói uma empresa para daqui a 20 anos, 50 anos, pensando em inovação, pensando como que você pode servir o cliente de uma maneira que ele quer, trazer um produto que traga mais conveniência para ele e estabelecendo com esses clientes atuais uma relação de confiança. Essa relação de confiança vai fazer com que esses clientes sejam os teus maiores fomentadores de negócio. Se ele está satisfeito com você, ele vai falar o seguinte: “vai no banco Santander, que lá eu confio”. Você está pensando a longo prazo, eu acho que você constrói a sua história nesse momento, mais efetivamente cuidando muito do presente, do hoje. Como que você entrega para o cliente aquilo que ele precisa dentro da sua necessidade. É assim que eu vejo uma empresa construindo a sua linha de tempo.
P/1 – E falando então das suas atividades na Aymoré, como é que foi essa mudança, quais foram os novos desafios e dificuldades que o senhor teve nesse período?
R – Acho que a maior dificuldade foi cultural, né, porque uma parte do que se queria fazer na Aymoré era um pouco do que eu já tinha feito na Cevisa como financeira, né? O maior desafio foi cultural, foi vencer barreiras, de dar um crédito sem garantia. No automóvel você dá um crédito e a garantia é o automóvel. Você vai financiar um pacote de turismo, fazer um crédito pessoal, não tem uma garantia real. Então, o maior desafio foi cultural e você levar para o mercado uma outra parte da empresa que queria se desenvolver em outros segmentos e, evidentemente, para isso, você faz com pessoas, você faz com a equipe, você faz com pessoas motivadas, né? E no Rio de Janeiro em três anos nós tivemos muito sucesso.
P/1 – E como é que era para sua vida estar em ponte aérea Rio-São Paulo, como é que era o desenvolvimento ou as diferenças entre o trabalho do Rio e aqui, se elas existem.
R – Na realidade, o caminho para São Paulo foi de forma definitiva, né? O ABN [AMRO] naquele momento trouxe a sede para São Paulo e eu vim trazer para São Paulo um modelo de negócios que nós tínhamos no Rio de Janeiro. Então, foi mais uma mudança de base mesmo, de vida mesmo é a mudança para São Paulo. Eu não conhecia São Paulo, ouvia falar de São Paulo, de poluição, mas São Paulo para mim foi um divisor de águas, foi uma grande surpresa. Veio eu, minha mulher e meu filho. Largamos uma parte da família no Rio de Janeiro e viemos para cá, então, isso foi quase que um começar de novo, né, de você estar junto com a esposa, junto com os filhos e esse combustível, esse apoio foi muito bacana mesmo nessa transição de você chegar numa praça que você não conhecia, não dominava bem, mas com o suporte da família, a gente avançou bastante.
P/2 – E qual foi a sua primeira impressão da cidade, se de fato as coisas que você ouvia se concretizaram?
R – É, eu cheguei numa época muito difícil aqui, você imagina: um carioca, uma carioca da gema, chegamos aqui em junho, junho de 1993, fazia dois graus na Paulista. Quase que pegamos a mala e voltamos para o Rio de Janeiro. Mas havia uma determinação de continuar, de vencer, acho que a melhor palavra é essa: vencer num ambiente em que você não conhecia. Então, os primeiros seis meses foram muito difíceis, o aniversário de quatro anos do meu filho nós fizemos num flat, chegamos aqui no início de junho, ele faz aniversário no dia 17 de junho. Então eu, ele e a minha esposa comemoramos ali o aniversário dele. Isso marcou muito porque acho que ali teve uma identidade para todos nós, de que ali, São Paulo começava para nós uma nova trajetória, uma nova história de vida.
P/2 – E aqui em São Paulo, então, como é que foi passar toda a experiência da Aymoré Rio para cá, banco, né, esses primeiros momentos aqui em São Paulo.
R – Foi desafiador, mas ao mesmo tempo, você tinha que ter pessoas também que comungassem do mesmo compromisso. Então, nós fizemos uma equipe, que até hoje tem pessoas dessa época lá na organização, tem a Gil, tem a Zélia, o André, que estão na Aymoré até hoje, com essas pessoas a gente começou a trabalhar. Tive muito apoio do Wagner, o Osório que era um treinador, o diretor na época e nós começamos a desenvolver essas filiais. São Paulo tinha muitas oportunidades, então, em um ano nós nos estabelecemos, nós colocamos o produto no mercado de uma maneira muito rápida, conseguimos clientes como CVC, como Soletur e isso permitiu, fez com que a empresa expandisse naquele momento outras filiais em outros estados do Brasil, Santa Catarina, Recife, Salvador. Foi com esse pilar do Rio de Janeiro e São Paulo que a gente levou os produtos para a filial, para outros estados.
P/1 – Esses produtos de financiamento eram para pessoa física?
R – Basicamente para pessoa física, que eram os financiamentos de pacotes de turismo, financiamentos de móveis e de informática, né, mas evidentemente você tinha uma parcela desses clientes que eram também destinados a pessoa jurídica.
P/2 – E como é que foram sendo desenvolvidas as suas atividades aqui em São Paulo depois desse período (pausa). Um minutinho que a gente vai trocar a fita. Porque mais ou menos em seguida que veio o...
R – Aí teve o Real, né, a compra do Real.
P/2 – E isso já trouxe também mudança.
R – Trouxe mudança. Muitas mudanças.
P/2 – Eu estava perguntando como é que foram mudando as atividades porque aí no caminho vem a compra do Real. Como isso influenciou e interferiu nas atividades, no cotidiano do Banco?
R – A aquisição do Banco Real pelo ABN (AMRO) fez com que eu mudasse também de atividades. O Wagner [Ferrari] veio trabalhar numa área do Banco e ele me convidou para criar uma outra área que era uma área de Recebíveis. Recebíveis eram os descontos de boletos de cartões de crédito, duplicatas, de cheques e, de novo, para começar do zero. De novo, mais um desafio. O Real não tinha cultura nessa modalidade de crédito, então, tivemos que ir para o mercado fazer algumas pesquisas de quem era, como fazia, qual era a percepção dos lojistas e nós montamos a que foi chamada de Mesa de Recebíveis, muito gostosa a atividade de 2000 a 2003 que eu trabalhei nessa área. Muito bacana começar do zero, você vê as mesas chegarem, se montando, as pessoas chegando, o telefone tocando, os clientes ligando querendo abrir uma conta por causa dos recebíveis, foi muito bacana. Tive a oportunidade de conhecer todo o Brasil nessa época para falar dos novos produtos de recebíveis, foi muito bacana mesmo. Hoje o Banco Santander tem uma participação muito forte de recebíveis também, então, naquele momento, aquilo foi muito bacana como mais um desafio e eu olho e vejo como mais uma entrega nessa relação com a organização.
P/2 – E teve alguma viagem que ficou marcada, que marcou mais por conta de ser um lugar diferente ou por conta de ter acontecido algum evento inesperado assim?
R – Acho que a viagem mais inesperada foi a viagem para Manaus. Eu fiquei 36 horas no ar porque atrasou o vôo em Manaus, tinha fuso horário aqui em São Paulo, três ou quatro horas de fuso horário. Eu saí de Manaus eram dez horas da noite, eu cheguei aqui eram quase três horas da tarde, atrasou o vôo, foi marcante nesse sentido, né, mas eu tive muitas viagens mesmo de conhecer pessoas, de conhecer clientes, de conhecer locais que eu não imaginava que tinha tanta fortaleza né? Por exemplo, Caruaru, interior de Pernambuco, era se você visitava os clientes, né, os clientes tinham orgulho de falar que eram clientes do Banco, né, e queriam ter aquele produto, queriam aumentar o relacionamento com o banco. Se eu pudesse sintetizar numa dessas viagens mais gratificantes nessa época, foi essa viagem para Caruaru. Não sei se tem um pouco também ser em Pernambuco também, mas foi muito gostosa.
P/1 – E como é que é esse sentimento de passar por esse período de aquisição, como é que forma essa equipe nova para integrar, o que se precisa ter em mente para escolher e formar uma equipe?
R – Eu acho que para você ter sucesso, você tem que fazer a coisa que gosta. Fazer com amor aquilo que está fazendo, fazer com comprometimento. Mas de uma maneira muito genuína, você entender quais são os objetivos da organização e evidentemente perceber que você pode colaborar. Então, a partir desse entendimento, você se doa, você vai buscar as melhores pessoas para trabalhar com você, você vai transmitir um pouco da cultura da empresa para essas pessoas, de modo que você tenha essas pessoas na mesma página com muito entusiasmo. Eu acredito que uma área motivada, uma pessoa motivada, ela supera seus compromissos, supera seus objetivos porque aquele entusiasmo vira uma causa, né, eu acho que é isso e até hoje, quando eu olho para as pessoas que estão ao meu redor, eu procuro ver um brilho nos olhos dela, se o que ela está fazendo é contagiante para ela em primeiro lugar. Porque se você quer ter um cliente satisfeito, quer ter um cliente com bom relacionamento com a organização, esse funcionário em primeiro lugar tem que estar satisfeito, ele tem que estar feliz com aquilo que ele está fazendo. E o cliente percebe isso, eu acho que nessa relação, se você está feliz, se você tem brilho nos olhos, o cliente percebe isso, né, e isso evidentemente estimula uma relação comercial, estimula uma relação de negócios, mas se não tiver esse gostinho, esse lado mais emocional também, as relações não se constroem.
P/2 – E como é que foram sendo desenvolvidas as suas atividades nesse período de Real. O senhor falou que até 2003 foi essa etapa dos recebíveis, como é que ela foi se desenvolvendo até a chegada do Santander nessa história?
R – Foi muito rica essa trajetória de 2003. Na sequência da Mesa de Recebíveis, eu fui convidado para ser o superintendente da área de Pessoa Jurídica. Naquele momento, ainda no Real, você tinha um perfil de clientes de pequenas empresas, então, todo aquele meu relacionamento que eu tinha na época de financeira, ele se mostrou nesse momento muito importante, porque aquele cliente era um cliente simples, era um cliente que queria uma entrega pontual, uma entrega sem você fazer coisas mirabolantes, mas que você levasse para essa pequena empresa algo que permitisse que ela se desenvolvesse. Então, eu fiquei quatro anos na área de Pessoa Jurídica do Banco, um momento em que o Banco investiu muito nesse nicho de pequenas empresas. Aprendi bastante, conheci novas pessoas, né, o Felix Cardamone, que era o diretor de segmentos na época, pessoa que eu aprendi bastante pela disciplina de fazer as coisas, também pela busca da excelência. E nesse momento, de 2004 a 2006, eu acho que na minha vida teve um momento mágico. Eu trabalhei com quatro pessoas com quem eu tenho um carinho tremendo até hoje, que é o Giovanni, o Gigio, o Reinaldo Assunção e com o Valada. Nós éramos os quatro de segmentos. Giovanne, o segmento Clássico, o Reinaldo do Especial, o Valada do Premium, hoje Van Gogh e eu Pessoa Jurídica. E nós cortávamos o Brasil, tinha períodos que nós fazíamos uma semana de viagens, né, e isso gerou uma relação muito bacana, uma relação de carinho, uma relação de respeito, uma relação de quando você precisa de apoio, pega o telefone e liga para o Reinaldo. Quando a gente se vê, você tem um, dá um abraço gostoso. Isso tudo é fruto de você também por um lado que você tem os seus objetivos profissionais, mas você não pode descuidar das relações pessoais. Então, nesse momento foram dois, três anos muito intensos, de muita inteligência, de muita doação, né, na criação desses segmentos e correr o Brasil inteiro aí, naquela época, o Real tinha mil agências, então: Como que você compartilha essa nova segmentação do banco de uma maneira harmoniosa, de uma maneira que o gerente que está lá na ponta se sinta valorizado para que ele no dia-a-dia leve para o seu cliente uma melhor oferta para ele ter um cliente fiel com a organização?
P/2 – E vendo uma organização do tamanho que era o Real, qual foi a importância da segmentação, o que é importante de ter essa política?
R – Eu acho que na hora que você segmenta, você coloca clientes com as mesmas necessidades. Eu lembro que quando nós fomos fazer a segmentação da pessoa jurídica, nós percebemos que nós tínhamos uma oferta para um cliente de alto faturamento e a base de clientes do Banco Real era empresas de baixo faturamento. Então, não dava para você fazer uma oferta focada exclusivamente numa empresa de alto faturamento, quando um cliente de pequena empresa tem necessidades mais básicas também. Isso aconteceu também na própria segmentação de pessoa física. Então, você ter uma oferta segmentada, esse cliente percebe que ele está sendo tratado com mais atenção, com mais especificidade nas suas necessidades. Eu entendo que a segmentação é a forma mais correta de você entender necessidades de um cliente e que o Santander possa levar para esse cliente algo que efetivamente ajude esse cliente a se desenvolver, a ter seus negócios com a organização, mas de uma maneira que aquela oferta faça a diferença no seu dia-a-dia.
P/2 – Então foi mais ou menos nesse período que o senhor teve contato com o microcrédito?
R – O microcrédito seguiu um pouquinho mais a frente. Eu tive por dois anos, de 2006 a 2007 na área de Folha de Pagamentos, trabalhei com o Cleber Moreira, um camarada fantástico também e o microcrédito surgiu na minha vida à partir de 2007.
P/2 – Certo. Então como é que foi a mudança desse período de Pessoa Jurídica para Folha de Pagamento, que tem aí também bastante mudança, outro público, outras dificuldades?
R – Foi simples, a transição foi muito harmoniosa porque como eu já tinha trabalhado com empresas e entendia que essas empresas tinham uma necessidade de serviços, né, o cash deles, principalmente a folha de pagamento e isso agregava muito valor à organização. Como você administrar uma folha de pagamentos de mil funcionários, de cinco mil, de dez mil funcionários? Eu tenho um exemplo para te citar que foi a folha de pagamentos da Votorantim. A Votorantim tinha na época 30 mil funcionários extremamente capilarizados pelo interior do Brasil e você ter o desafio de ir lá no interior da Paraíba, lá em Caaporã, montar o PAB, montar uma estrutura que representava o banco, que era o banco dentro da empresa para aqueles 600, 700 funcionários que estavam distantes de um centro financeiro, né? Então, o valor de você levar uma boa oferta de folha de pagamento para as empresas, já tinha isso lá atrás, na época da segmentação de Pessoa Jurídica. Então, foi uma transição muito tranquila. Nós levamos essa experiência do relacionamento com o cliente para conquistar mais folhas de pagamentos.
P/1 – Então nessa mudança depois então da Folha de Pagamento para o Microcrédito, como isso se deu?
R – Na época, eu me encontrei de novo com o Wagner Ferrari e ele me disse: “Jerônimo, eu tenho um desafio para você”. Eu já conhecia o Microcrédito de ouvir falar. O superintendente responsável na época já era o Giovanni, com quem eu trabalhava na Aymoré e o Giovanni fez uma movimentação de ir trabalhar na Aymoré e o Wagner me chamou para trabalhar no Microcrédito. Eu te confesso que quando ele falou: “Jerônimo, eu tenho um desafio para você”. Eu falei: “Para onde que eu vou agora?” Mas dessa vez eu não precisava sair de São Paulo e quando ele falou que era o Microcrédito eu te confesso que eu me apaixonei na hora, porque eu já conhecia um pouco do microcrédito, tinha lido alguma literatura e nesse universo de microcrédito, você falava com pequenos empreendedores, mas empreendedores que tinham sonhos. Eu falei “eu acho que esse negócio vai ser legal”. E embarquei, fui estudar um pouco mais o que o Banco tinha e naquele momento como oferta de microcrédito e te confesso que nesses últimos quatro anos, eu posso dizer que são os quatro anos mais felizes que eu falo de relação com clientes. Clientes de comunidades, clientes simples, clientes que precisam de uma orientação financeira, precisam de um crédito, precisam desse relacionamento com a organização fala hoje, né, que está na nossa missão, no nosso compromisso, que é um atendimento humano e próximo e isso eu vejo muito no microcrédito, né? O microcrédito é um instrumento que ajuda a transformar, ajuda a potencializar a vocação desses empreendedores que não têm acesso a crédito. Então, isso para mim é extremamente gratificante, eu quando vou visitar um cliente em Paraisópolis, e Heliópolis, que é a maior comunidade aqui de São Paulo, é extremamente gratificante quando você percebe o valor do microcrédito na vida, na história daquele empreendedor. Eu tenho escutado histórias maravilhosas de empreendedores que há três, quatro anos atrás receberam do Santander um microcrédito de 500, 600 reais e que essa linha de crédito mudou a sua história de vida. Pessoas que conseguiram se desenvolver, pessoas que conseguiram ampliar os seus negócios e cresceram tanto economicamente, como socialmente mesmo, né, passaram a ter acesso a bens, a televisão, a carro, tudo isso pelo valor do microcrédito. Então, eu te digo com muita tranquilidade, esses quatro anos têm sido muito intensos e extremamente gratificantes.
P/2 – Antes da gente mergulhar mais nesse mundo do microcrédito, eu queria saber como é que foi para o senhor e para as suas atividades a aquisição do Real pelo Santander, né, e o que isso trouxe de mudança no seu dia-a-dia, como é que foi esse processo de aquisição?
R – Olha, quando começou a se falar que o Real ia ser vendido, nós perguntávamos: “Para quem o Real vai ser vendido?” E quando se definiu que o comprador seria o Santander, a primeira coisa foi mergulhar: “O que o Santander está construindo no Brasil?” E descobrimos coisas fantásticas, né, que o Santander havia adquirido o Banespa e que fez uma transformação e que era um banco voltado para inovação. Eu acho que essa foi a grande liga do Santander com o Real. Um banco extremamente focado em relacionamento, mas como que essa cultura do Santander trazia para esse relacionamento, inovação e mais negócios. Então, a partir desse entendimento, nós, eu, né, a área em que eu trabalhava nos apropriamos dessa fortaleza do Santander, né, que é a inovação, é o olhar de futuro e trouxemos para o nosso dia-a-dia. Então, o processo foi, pegar a inovação, pegar essas fortalezas do Santander, um banco global, um banco com uma história de 180 anos para trazer para esse novo banco que nós estamos construindo. Acho que a organização acertou muito quando fala de construir um novo Banco com o melhor dos dois Bancos. Eu acredito que o Real tinha muitas coisas boas, mas é um banco. O Santander tenha muitas coisas boas, mas é um banco. Como é que a gente converge essas melhores práticas para construir um novo banco? Eu acho que nós estamos no caminho certo.
P/2 – E como é que foram os impactos assim para a sua área, como é que o pessoal sentiu essa integração, tanto a integração de sistemas por exemplo, integração de pessoal, mudança de prédio?
R – Dois cenários. A mudança de prédio foi um divisor de águas. Naquele momento que nós saímos da Paulista para Torre Santander, ali, realmente, agora nós somos Santander de fato e de direito, então a camisa passou a ser vestida unicamente. Então, esse momento da transição aconteceu ali, não tinha ainda integração das marcas, mas a vinda de um grupo para essa torre, aqui a Torre Santander, teve um significado muito grande, de rupturas: “agora nós somos um novo banco.” E como ganhos da área, nós tivemos um desenvolvimento tecnológico muito grande e em um ano de convivência nessa nova bandeira Santander, nós construímos uma nova plataforma de negócios para o microcrédito, por isso o valor da inovação, por isso o valor da busca de um desenvolvimento da qualidade, de excelência. Eu vou tangibilizar dois cenários: a vinda para esse prédio, a construção de uma nova plataforma de negócios e esse mês, nós estamos entregando para os nossos agentes de crédito, um notebook para ele trabalhar. Então, tudo isso são significados, são transformações extremamente transformadoras tanto no dia-a-dia, quanto no relacionamento com o cliente, que é entregar para o cliente uma oferta, um crédito num menor espaço de tempo. Então, eu acredito, tenho certeza que a fortaleza do Santander na inovação é um dos pilares que vai fazer com que nós sejamos o melhor Banco do Brasil.
P/1 – E qual é essa nova plataforma que surgiu para o microcrédito?
R – Nós tínhamos uma plataforma que fazia o gerenciamento de microcrédito. Era uma plataforma que não tinha como receber nenhum aplicativo para se desenvolver. Então, a equipe de tecnologia do Santander criou uma nova plataforma de negócios para você gerenciar créditos, para você gerenciar os créditos vencidos, para você gerenciar a liberação dos créditos, para você fazer o gerenciamento do cliente de forma integrada. Então, essa é a plataforma de você ter segurança, de você ter confiança num sistema, que você pode produzir, que você pode buscar o cliente, que você vai cumprir rigorosamente o que você está tratando com os clientes.
P/1 – E qual que é a importância do microcrédito para a economia e para o desenvolvimento local?
R – Muito legal a sua pergunta. Se olharmos para o país, para o Brasil, mesmo com tantos desenvolvimentos que o Brasil já teve, o Brasil tem uma base da pirâmide extremamente importante, né, e uma parte dessa base da pirâmide estão os empreendedores. Então, como você levar o crédito? Um crédito consciente, um crédito que vai fazer com que esse empreendedor se transforme? O Brasil hoje tem o maior índice de empreendedorismo do mundo. Nós falamos muito de mobilidade social, né, um momento mágico, mais de 50 milhões chegando a classe média, metade dessas pessoas estão vindo, estão ascendendo de classe social via o empreendedorismo, né? Então, o microcrédito vem para fortalecer essa estrutura do empreendedor levando para ele crédito, levando para ele orientação financeira, levando para ele orientações de como ele gerir melhor o seu negócio e dentro dessa grande bandeira de sustentabilidade que a organização tem, nós estamos levando dicas de sustentabilidade para esses empreendedores, de uma maneira muito básica, uma linguagem muito simples, mas nós estamos falando de consumo consciente de água e consumo consciente de energia. Então, através do agente de crédito que é um elemento fundamental na relação com esses empreendedores, nós estamos levando essas dicas que vão fazer com que ele também no seu dia-a-dia, ele tenha bastante ganho, tanto econômico, né, sociais e de uma certa forma, influenciando também o meio ambiente de uma maneira positiva.
P/2 – E como é que é feita a concessão do crédito, né? A análise, para esse aqui dá para dar tanto, para esse não...
R – Fernanda, eu digo que no banco tradicional, o cliente vai até o banco. No microcrédito, é o banco que vai até os empreendedores. Se você pegar aqui em São Paulo, em Paraisópolis, Heliópolis, não tem banco lá dentro. Nós temos um orgulho muito grande pois, no Complexo do Alemão, antes da agência ser inaugurada, nós já tínhamos operações de microcrédito no Complexo do Alemão. Então, através de um agente de crédito, nós vamos até esse empreendedor, nós batemos literalmente na porta dele, sabendo se ele, perguntando se ele tem uma necessidade de crédito, mas acima de tudo: qual é o seu sonho? E essa linguagem dos sonhos é muito bacana quando a gente fala com os empreendedores. Esse empreendedor, do que se convencionou na base da pirâmide, ele não fala em planejamento, ele fala em sonho: “Olha, o meu sonho é fazer um puxadinho aqui”, “O meu sonho é aumentar o meu negócio aqui”. Então, nós temos que ter uma imensa responsabilidade para fazer parte da realização dos sonhos desses empreendedores. O que é? Levando o crédito correto, identificando a correta capacidade de pagamento dos empreendedores, nós desenvolvemos no microcrédito uma ferramenta que nós chamamos de levantamento sócio-econômico, para entender como esse empreendedor compra, como ele vende, qual é a margem dele de cada produto, se ele tem compromissos pessoais para chegar na sua renda final e à partir dessa identificação, você atribuir um limite de crédito e à partir daí, desse limite de crédito, do crédito concedido, o agente de crédito continua em contato permanente com o empreendedor, levando para ele orientações financeiras para que ele se desenvolva. A figura do agente de crédito é uma figura fundamental no desenvolvimento do microcrédito. As pessoas às vezes me perguntam: “Jerônimo, como é que você contrata um agente de crédito?” Eu não posso contratar um agente de crédito no Bradesco, porque não tem. Não posso contratar um agente de crédito no Itaú, porque não tem, então, o que nós fazemos? Nós procuramos de pessoas que gostam de gente. À partir desse indivíduo tendo esse valor, nós transferimos para ele competências, treinamentos através de capacitação que o Santander faz constantemente para que ele possa se relacionar cada vez melhor com esses clientes.
P/2 – E tem alguma história de algum micro empreendedor que o senhor acompanhou e que o senhor se lembra, guarda com mais carinho?
R – Olha, eu lembro de vários clientes, mas eu vou contar duas pequenas histórias para você. Tem a história da dona Sheila. A dona Sheila é uma empreendedora aqui de Heliópolis, que quando ela conta um pouco da história dele e você não sabe se ri ou se chora, né, porque as emoções são muito fortes. Ela pegou o primeiro crédito conosco há três anos atrás, um crédito de 600 reais. Se você vê o que esse pequeno valor fez de mudança na vida dela. Ela pegou esse crédito para comprar uma banca para trabalhar na feira, o marido dela é feirante, hoje ela tem um pequeno mercadinho em Heliópolis, comprou um imóvel em frente a esse supermercado para ampliar o seu negócio, tem quatro filhos, os quatro filhos estão na escola, se você falar com a dona Sheila, é uma lição de vida. E ela sempre nos recebe na casa dela, recentemente eu estive na casa dela fazendo uma visita para um novo crédito, é impressionante a visão de futuro, a vontade que ela tem e os sonhos para realizar. Uma outra cliente que para nós é muito especial é a dona Bernadete e o Joab que é o filho dela. Ela é cliente nossa também há três, quatro anos, ela vende produtos de beleza e com essa renda do microcrédito, ela paga uma escola de música para o Joab. Joab é um menino de dez, 11 anos, toca um violino que é a coisa mais linda do mundo. Então, se eu pudesse simbolizar dos 250 mil clientes de microcrédito, eu colocaria a dona Sheila, a sua família, dona Bernadete e o Joab como símbolo de transformação do microcrédito.
P/1 – E falando assim do microcrédito do Banco Santander, de um banco internacional, qual que é a relação dessa área com o Santander Espanha? Se isso existe, se há outras políticas de microcrédito no Santander de lá ou em outras matrizes.
R – É, eu tive a oportunidade de o ano passado ir a Madrid compartilhar esse modelo de microcrédito. O que eu posso te dizer hoje é que o compromisso que o Santander tem dentro dos países em que atua, especificamente na América Latina, há um desejo, há uma vontade de expandir o microcrédito para América Latina através do modelo do Brasil. Eu já estive conversando com o pessoal do México, nós fizemos uma conferência recentemente. O México também tem características muito parecidas com as do Brasil, né, e o Santander quer ampliar o modelo de microcrédito para outros países. Tem uma pequena experiência do microcrédito no Chile, que também está se desenvolvendo, tem uma oferta diferenciada, mas aonde está mais maduro essa relação do compartilhamento é com o Santander do México.
P/2 – E como é que funciona assim o microcrédito em termos de pagamentos em relação a Economia de modo geral, né? Então, se eu faço um microcrédito e de repente muda o sistema econômico, muda a taxa de inflação, como é que todas essas outras áreas econômicas influenciam o microcrédito?
R – Na realidade, o microcrédito é uma linha de crédito pré-fixada, o cliente solicita um crédito e ele recebe um carnezinho já com tantas parcelas contratadas. Se ele opta em pegar 800 reais em dez parcelas, ele recebe um carnezinho. O que eu posso te dizer é que a Economia, aquele ambiente do empreendedor quando ele recebe as ofertas de crédito, há toda uma relação que nós chamamos de ciclo virtuoso. Esse cliente empreendedor, quando ele recebe o microcrédito, o primeiro beneficiado é ele próprio como indivíduo, na sequência, o núcleo familiar e a comunidade que ele trabalha. Há uma estatística que diz que 80% da renda gerada dentro de uma comunidade é consumida na própria comunidade, isso nós chamamos de ciclo virtuoso. Por isso que o Santander investe tanto em comunidades, para transformar aquela comunidade em uma comunidade melhor, consequentemente transformar o Brasil num país melhor.
P/1 – E qual é a posição do Santander em relação ao microcrédito se comparado aos outros bancos?
R – Com muito orgulho, eu te digo que o Santander é o primeiro banco privado em volume de microcrédito produtivo e orientado. Isso é um motivo de orgulho muito grande para nós. Eu sempre falo quando a gente vai compartilhar algumas histórias de microcrédito, eu digo que fazer microcrédito não é fácil, é muito mais fácil você fazer um relacionamento aqui nos Jardins, em Moema, do que você ofertar crédito em Paraisópolis, no Complexo do Alemão, no interior de Pernambuco, da Paraíba, né, então, essa fortaleza, de servir, de contribuir para o desenvolvimento do país através do microcrédito é um motivo de orgulho muito grande para nós. E ter essa posição de destaque, primeiro banco internacional no Brasil em volumes de microcrédito. Num contexto geral, nós estamos no segundo lugar, a maior operadora de microcrédito do Banco de Nordeste, que é um banco oficial, um banco do governo, mas entre os bancos privados, nós estamos em primeiro lugar.
P/2 – E como é que são feitas essas campanhas de microcrédito, como é que, o senhor falou, né, que batem a porta, mas como é que eles ficam sabendo da campanha? Qual que é a reação do cliente em relação a marca Santander?
R – Primeiro lugar que a marca Santander nessa relação com esses empreendedores, ela é muito bem percebida, porque quando nós chegamos na casa desse empreendedor ou no seu local de trabalho falando: “Nós somos do Santander, Microcrédito do Banco Santander”, esse cliente se sente valorizado, então ele já percebe que nós somos um banco diferente. E através do relacionamento, do atendimento do agente de crédito, nós fazemos toda a diferença à partir desse momento, né? O agente de crédito, como eu disse um pouquinho antes, ele não dá só o crédito, né, ele não leva só orientação de crédito, ele leva orientações financeiras para que esse cliente continue se desenvolvendo de uma maneira sustentável.
P/2 – E qual é a importância da sustentabilidade não só para o Banco Santander, mas também para o micro negócio? Nessa preocupação do agente passar isso para o microempreendedor?
R – Eu entendo que você não tem mais como fugir desse grande compromisso com a sustentabilidade, na busca de um país melhor, de um país mais envolvido com essas causas e isso a gente faz em pequenos grupos mesmo. O tema sustentabilidade para nós num primeiro conceito é tornar esse cliente sustentável economicamente. Que ele tenha, no final do mês, um faturamento líquido que permita a continuidade do seu negócio, para que ele possa sonhar maior ainda, ter um sonho mais alto e buscar no Santander um parceiro para continuar se desenvolvendo. E como é que nós levamos sustentabilidade para esse empreendedor? Através do agente de crédito. Então nós ministramos cursos, conferências com esses agentes de crédito para que ele leve para esse empreendedor dentro de linguagem simples aquilo que ele pode oferecer. Nós do microcrédito temos um orgulho muito grande também de que em conjunto com a área de Sustentabilidade, nós desenvolvemos uma peça de teatro que levam para essas comunidades conceitos de sustentabilidade. Desde o conceito do lixo reciclável, da coleta seletiva, da educação financeira. Então, nós fizemos essa peça de teatro em conjunto com a área de Sustentabilidade, a Malú (Maria Luisa de Oliveira Pinto e Paiva, Diretora Executiva da Área de Desenvolvimento Sustentável do Santander) foi uma das primeiras a se apaixonar por esse modelo e nós já fizemos várias apresentações, mas a apresentação mais impactante foi em São Luiz. Nós reunimos 800 empreendedores, pessoas que nunca tinham ido ao teatro, você tinha que ver a alegria dessas pessoas quando chegaram no teatro, extremamente bem vestidas, parecia que era uma festa e de fato era, era uma festa. Nós disponibilizamos alguns ônibus para trazer os clientes de algumas comunidades e você tinha que ver o prazer, a felicidade dessas pessoas. Na sequência, nós fizemos uma pesquisa com esses empreendedores para ver o que eles tinham levado para o seu dia-a-dia, você não acredita a aderência do tema comunicado, né, da coleta seletiva do lixo, do consumo consciente de água, de energia, foi muito bacana. E hoje, a área de sustentabilidade do banco está transformando essa peça de teatro num DVD para que a gente possa compartilhar, disseminar mais ainda essas culturas. Vale a pena dar uma olhadinha nesse DVD.
P/2 – A gente falou, o senhor falou bastante também no comecinho da importância do futuro, de uma empresa pensar mais para frente, mesmo no presente, mas estar sempre olhando lá para frente. Então, quais são as ações desenvolvidas pelo banco nessa área de microcrédito visando o Brasil do futuro, visando 2030, existem metas de crescimento?
R – Olha, eu acho que o Brasil está passando por um momento de transformação muito rico. Falar de 2030, de 2040 talvez esteja muito longe, né, eu acredito talvez em prazos mais curtos, 2015, 2020, né? Agora mesmo, nós estamos com um planejamento para o Rio de Janeiro de em cinco anos dobrarmos de tamanho no Rio de Janeiro. Evidentemente pegando todo esse cenário que está acontecendo no Rio de Janeiro de Olimpíadas, de Copa do Mundo. Eu acredito que você tem que cada vez mais levar produtos simples para esse cliente, evidentemente a tecnologia pode ser usada muito a nosso favor, mas o que eu acredito mesmo é no relacionamento próximo e humano entre as pessoas. Através desse relacionamento, da relação de confiança, que é o que nós vemos dentro do microcrédito, o microcrédito não tem garantias, 96% pagam em dia. É um índice tremendo, né? A perda dos clientes do microcrédito chega a menos de 0,5%, é um indicador tremendo para um crédito sem garantias. Mas por quê? Porque há estabelecimento de uma relação de confiança do agente de crédito, evidentemente do banco com esses empreendedores. Então, olhando para o futuro, acho sim que a tecnologia vai continuar se desenvolvendo, ofertas mais significativas para esse cliente, entendendo necessidades específicas desse cliente, mas o que não vai mudar é o conceito da relação humana entre um gerente, entre um agente de crédito e esse cliente.
P/2 – Já que você está falando de atender todas essas necessidades, o microcrédito, para um leigo, ele tem que estar vinculado a um negócio ou pode socorrer uma emergência de uma pessoa que precisa para consertar a casa? Tem isso também ou é só microcrédito para um empreendimento?
R – Muito legal a sua pergunta. O microcrédito não é uma exclusividade do Santander, é um conceito mundial, o Muhammad Yunus é o grande patrocinador deste tema microcrédito, já ganhou Prêmio Nobel. No microcrédito, você tem que fazer algumas escolhas para o bem do negócio em si, para o bem do cliente. Então, nós do Santander Microcrédito, do Banco Santander, nós escolhemos o microcrédito produtivo e orientado que é voltado para o empreendedor. Então, o que nós fazemos nessas escolhas? Nós buscamos identificar aquele empreendedor que já tem uma iniciativa, que já tem a vocação empreendedora e nós potencializamos o crescimento desse empreendedor. Basicamente é isso, o microcrédito que nós escolhemos, ele veio para potencializar a vocação daquele empreendedor.
P/1 – Mas o conceito em si poderia englobar outras…
R – Sim, poderia. Você poderia ampliar essa oferta, mas dentro do processo de escolhas, você opta. Nós optamos aqui por esse cliente que já tem uma iniciativa, até porque ele tem que ser testado em alguma vocação empreendedora, então, se ele é uma pequena costureira, se ele é um boleiro, se ele faz salgadinho, se ele é um pequeno comerciante, ele já tem aquela vocação e aí, o capital de giro ou a linha de crédito, de microcrédito vem para potencializar essa realização ou desenvolvimento desse empreendedor.
P/1 – Acho que vamos entrevistar a Sheila.
R – Isso, mas já agendou?
P/1 – Não. Eu consegui o telefone dela com a Natália, então… se ela aceitar… (risos) o convite.
R – Não, eu tenho certeza! Você sabe que nós fizemos um negócio muito bacana para a dona Sheila. A Planet Finance é uma organização internacional de microfinanças e eles têm uma premiação global e nós inscrevemos a dona Sheila e ela está na fase final aí. É um negócio muito chique, se ganhar, ela vai ter que fazer o sacrifício de receber o prêmio lá em Paris.
P/1 – Ah é? Que legal. (risos)
R – É muito legal. Você vai se encantar com a história de vida da dona Sheila.
P/1 – Com certeza. Só o que a gente sabe já é muito interessante.
R – E no Nordeste também tem outras histórias maravilhosas. E tem histórias do próprio agente de crédito, né, esse é um outro lado do microcrédito. Nós falamos muito de fazer a inclusão do cliente…
P/2 – Você quer voltar e gravar essa partezinha que a gente estava agora conversando no intervalo sobre as histórias do microcrédito para esses empreendedores, mas que tem também as histórias dos agentes? Então, se o senhor pudesse contar uma que o senhor conhece de transformação ou de alguém que…
R – Muito legal. É o outro lado que é tão forte, que tem tanto significado quanto as histórias de sucesso dos nossos clientes. Nós falamos do microcrédito de inclusão, né, o crédito é acreditar, o crédito ainda no Brasil é algo ainda como cidadania, né, a pessoa se sente cidadão quando ele tem um crédito, quando ele tem um cartão de crédito. Então, a gente vê isso do lado dos empreendedores. O outro lado muito rico é você fazer a inclusão também de funcionários, de pessoas no mercado de trabalho. Especificamente no Complexo do Alemão, nós temos funcionários da própria comunidade. Em Heliópolis, nós temos agentes de crédito da própria comunidade, mas a coisa mais bacana é você fazer uma reunião, você reconhecer, ou você trazer aqui para São Paulo agentes de crédito para fazer um treinamento e você ouvir desse agente de crédito: “Pela primeira vez eu viajei de avião”. Esse é um testemunho tremendo. Nós fizemos uma campanha recentemente em que nós levamos para Buenos Aires 16 funcionários do Microcrédito, pessoas que nunca tinham viajado de avião, na primeira vez que viajaram foram para uma viagem internacional. Você não sabe o encantamento, o valor, o peso que isso tem na vida dessas pessoas. Eu lembro do João. O João é um agente de crédito nosso de Imperatriz-MA. A história do João é a coisa mais fantástica do mundo, se você falar de grandeza, não em termos financeiros, mas de realização, o que ele construiu a partir desse trabalho que ele fez no microcrédito e da satisfação, do prazer que ele tem. Do outro lado também a própria organização, o próprio banco Santander, voltado para o desenvolvimento dos funcionários, nós temos agentes de crédito que têm bolsas de graduação de universidades. Você não imagina a dedicação desse profissional. Primeiro, que ele tem identidade com a causa que ele está fazendo, aquele trabalho para ele tem um significado. Eu sempre falo isso, quando a gente trabalha no Microcrédito, algumas coisas se ressignificam, né, tem um novo significado. Então, as relações de grandeza para nós tem muito valor nessa relação de confiança, então, quando você tem o banco investindo num agente de crédito, num reconhecimento, em uma premiação, mas no desenvolvimento dele, isso para essas pessoas, tem um significado tremendo. E eles dão muito mais valor à organização que trabalham.
P/2 – Para a gente também continuar falando um pouquinho de futuro e de potencialidade, a gente viu que 2030 ficou meio longe, mas como é que o senhor percebe assim que pode ser que fique o relacionamento entre o banco e as agências e o Governo, o Banco e os microempreendedores, num espaço curto assim, cinco, dez? O que você acha que a Copa, esses eventos internacionais podem trazer para o Brasil? Como é que vai estar o Santander nesse…?
R – Eu vou te dar um exemplo da importância de um… Eu estive visitando recentemente o Ceará e tava conversando lá com um grande sujeito, o Joaquim, do Banco Palmas e ele contou uma história de um município que tem oito mil pessoas no Bolsa Família e que nesse município, nessa localidade não tem agência bancária. O que acontece que quando essas pessoas vão receber o Bolsa Família, eles gastam o dinheiro num outro município que tem banco. Esse município que não tem banco está empobrecendo e o município que tem banco, está enriquecendo, está prosperando. Eu atribuo a relação de bancos, canal banco um dos instrumentos mais importantes de transformação e de crescimento em qualquer sociedade, em qualquer município, em qualquer localidade. Então, a presença de um banco com todos os cenários adversos que quem está fora da indústria bancária coloca, imputa aos bancos, o banco tem uma importância extremamente relevante na vida do indivíduo, na comunidade, naquela cidade. Entendo que os eventos de Copa do Mundo, de Olimpíadas podem trazer novos significados para as regiões que estão recebendo esses eventos. Vão ter mais investimentos, vai ter geração de renda, vão ter novos postos de trabalho sendo criados e o banco pode apoiar não só com o crédito, mas com orientação de como essa pessoa ter o melhor investimento. O Brasil hoje vive o que é chamado bônus demográfico, né, como a gente transporta essa população hoje, que está no mercado de trabalho, para consumir novos produtos? Numa previdência, como o jovem hoje que está ingressando no mercado de trabalho, como é que ele tem acesso a uma previdência para daqui a 30, 40 anos não estar dependendo de uma previdência do Governo? Então, a presença de um banco e de um banco como o Santander que tem experiências internacionais, como é que isso traz para o Brasil e ajuda no desenvolvimento? Eu vejo a presença de um banco fundamental no crescimento de um país.
P/2 – E como é que o senhor vê assim o papel dos bancos nesse futuro próximo por aqui? Você está falando de crescimento, tal, mas será que como ele vai agir, vai mudar um pouquinho o perfil, tem hoje a internet, será que isso influencia...
R – Sim. Com certeza. A internet ou os canais de relacionamento com os bancos vão se amplificando. Hoje o cliente faz transações por telefone, por internet e no auto atendimento, mas como eu disse, a presença do gerente na orientação vai fazer toda a diferença do mundo. Não é só ir lá no caixa ou na internet apertar um botão e ler o descritivo de um produto. Numa linha de de clientes diversificados, o gerente pode fazer toda a diferença na correta orientação tanto na tomada de um crédito ou como esse cliente pode investir ou guardar melhor o seu dinheiro. Então, numa relação de tempo, acredito que a presença dos bancos continua sendo fundamental nessa relação, mas o papel das pessoas, o papel do gerente que tem o privilégio de estar no dia-a-dia com os clientes continuará sendo fundamental para estabelecer essa relação de confiança e levar do banco para esses clientes os melhores produtos, os melhores serviços para esse cliente possa estar utilizando no dia-a-dia.
P/1 – E agora retomando assim para a parte pessoal só para... Você quer fazer uma pergunta?
P/2 – Só voltando um pouquinho, né, que um dos objetivos do projeto é resgatar a memória do banco, né, e a questão do microcrédito vem do Real também. Então, eu queria que o senhor falasse um pouquinho o que o Real trouxe para o Santander, o que agregou que o Santander forte na inovação e o Real, juntando esses dois, esse casamento, né?
R – Legal. Muito bacana a tua pergunta. Eu, por acaso, trouxe aqui um livro que conta a história da Santander Microcrédito. Essa história começa em 2002 com a criação da Real Microcrédito e como é que isso surgiu? Surgiu de um grupo de trabalho estimulados pela direção do Banco à época, do Fabio Barbosa, do Majolo e outros executivos, e nós criamos um grupo de trabalho para fazer uma leitura do livro “Banqueiro dos Pobres”. Naquele momento, esse grupo se reuniu e viu que no Brasil tinha uma população que não tinha acesso a crédito. Como é que nós criávamos um modelo de concessão de crédito para identificar a capacidade de um cliente que não tinha balanço, que não tinha uma estrutura de crédito? Então, naquele momento se definiu que através do microcrédito, o banco poderia fazer a inclusão financeira dessas pessoas. Então, nós começamos ali em 2002, foi a grande semente do microcrédito, nessa relação de tempo, vários aprendizados. Em 2008 nós tivemos um salto tremendo que foi da expansão do microcrédito para o Nordeste. O Nordeste pulsa a economia popular e nós hoje estamos presentes em Pernambuco, na Paraíba, Sergipe, Bahia e em algumas localidades, o principal agente de crédito é o Santander Microcrédito levando desenvolvimento e à partir de 2010, nós adotamos a nova razão social que é Santander Microcrédito. Temos todas as nossas mídias, todas as nossas folheterias já são com Santander Microcrédito, nosso agente de crédito tem um fardamento específico, né, gravado aqui no peito, Santander Microcrédito e nas visitas que nós fazemos nas comunidades nós também usamos esse fardamento que dá um sentido de unidade e a comunidade percebe, que bacana, ali vai um agente da Santander Microcrédito.
P/2 – Qual é a importância dessa unidade, de ter todos com a mesma cara, mesmo fardamento?
R – Não sei se é a mesma cara, mas o mesmo valor. A identidade visual é importante, mas o que está dentro, qual é o conteúdo que está dentro desse fardamento? Então, o fardamento ele exterioriza, externaliza uma identidade visual, mas o conteúdo é da ética, é da responsabilidade social, o conteúdo é de levar a orientação para fazer esse, como eu sempre digo: que o microcrédito ajuda, contribui para o desenvolvimento do indivíduo, da família e da comunidade.
P/1 – Agora a gente vai retomar assim, as questões pessoais, o senhor falou que veio para São Paulo com sua esposa e seu filho, como o senhor a conheceu?
R – Muito bem. Eu conheci a Sandra, a minha esposa, saindo do trabalho, nós começamos a namorar rapidamente, nos separamos um período rápido e ela foi muito esperta, porque quando nós voltamos a namorar ela falou: “Nós vamos marcar logo a data do casamento”. Então, esse ano eu fiz 30 anos de casado, a Sandra é uma belíssima companheira, me deu um filho maravilhoso, o Rafael, e eu digo que nesses 30 anos de casado, algumas coisas eu trago desde o primeiro dia. Eu não sei se ela sabe disso e nem se a mãe dela lembra disso, mas no dia do casamento quando nós estávamos saindo da festa, a mãe dela falou assim: “Jerônimo, cuida bem da minha filha”. Eu não sei se estou cuidando do jeito que ela recomendou, mas todos os dias essa frase para mim é muito presente. Então, estamos numa maturidade do relacionamento, muito bacana, andamos de mãos dadas, tomamos café da manhã juntos sábados e domingos e o meu filho, Rafael, talvez seja o grande fruto desse casamento. Eu olho para o Rafael e me inspiro. É um jovem que tem tantos sonhos e que me resta ajudá-lo a realizar esses sonhos, né? Filho maravilhoso, extremamente carinhoso, né, então, essa relação que eu tenho muito próxima que eu tenho com a minha mulher e com o meu filho.
P/1 – E quais são as suas atividades de lazer, o que gosta de fazer quando não está trabalhando?
R – Costumo dizer, já não falo isso tão intensamente, (risos), mas o meu prazer mesmo é estar junto com a minha esposa e com o meu filho. Meu filho já está com 22 anos, ele tá com identidade própria, né, já faz as suas coisas. Mas eu estou muito próximo da família, né, a gente costuma viajar ou para o Rio de Janeiro, ou no final de semana na época de frio, passamos um final de semana em Campos de Jordão, vamos ao cinema juntos. Final de semana para mim é o estar junto, né? Preparo o café da manhã do sábado e do domingo, isso para mim também tem um significado de fazer o outro feliz. Eu acho que casamento é um pouco disso, você não casa para ser feliz, você casa para fazer o outro feliz. Então, nesse momento em que estamos juntos, o meu desejo mesmo é de fazê-la feliz, então, pequenas coisas, pequenos gestos ali eu procuro estar muito atento.
P/1 – Certo. E uma parte avaliativa, final, da sua carreira, de tudo isso que a gente conversou da trajetória de vida. Quais foram os seus maiores aprendizados? Desse trabalho no Banco, também na área do Microcrédito.
R – Olha, eu acho que talvez o grande aprendizado na prática seja o respeito pelas pessoas. Eu acho que isso faz toda a diferença, quando você respeita, você é respeitado. Eu acho que no momento que eu estou na minha carreira profissional, do cargo que eu tenho, eu tenho que servir o meu time, eu tenho que fazer o meu time, a minha equipe tenha melhores condições de trabalho, tenha condições para eles se desenvolverem, desenvolver sua competência, desenvolver a sua criatividade e isso eu vejo muito próximo, eu tenho um retorno muito gratificante das pessoas. Quando eu fui trabalhar na área de Microcrédito, as pessoas não eram muito juntas e eu percebi isso no segundo, terceiro dia e pensei: “puxa, como é que a gente transforma isso?” Então, quando eu comecei chegar, eu ia na mesa de cada um e cumprimentava, cumprimentava com aperto de mão e desejava um bom dia. Fui fazendo isso. O que aconteceu foi que as outras pessoas quando chegavam mais tarde também, começou a ir de mesa em mesa cumprimentar o colega e desejar um bom dia. Você não imagina, isso virou uma marca da nossa área. Hoje as pessoas quando vão embora também se despedem, dão beijo no rosto, a sensação que eu tenho é que eles falam assim: “Eu vou ali dormir e volto amanhã para trabalhar”. Então, eu acho que no papel de um gestor, principalmente, você tem que ser esse grande facilitador e tem que ter evidentemente o foco nas grandes atribuições da área, mas como que você proporciona um bom ambiente de trabalho para que a sua equipe desenvolva seus objetivos, o respeito à diversidade, né, eu tenho na minha equipe, desde um menor aprendiz de 16 anos ao funcionário de 50 e poucos anos. Então, nessa química, como é que você extrai o melhor das pessoas convergindo para uma entrega de excelência, convergindo para uma entrega de resultado. Eu disse no início que você só pode ter um cliente satisfeito se você tem um funcionário satisfeito. Nós na Santander Microcrédito já estamos há quatro anos entregando todos os objetivos, todos os compromissos com a organização, eu acredito que isso é fruto desse entendimento e proporcionar que cada um desses funcionários da equipe desenvolva com tranquilidade nas datas da entrega, os objetivos, o que ele tem de melhor.
P/2 – E qual o senhor considera a sua principal realização nessa sua carreira?
R – Eu não vou dizer realização, eu vou dizer do estar feliz. É fazer o que você gosta, não é lugar comum. Ficou muito próximo, presente, as frases do Steve Jobs, né? Steve Jobs falava: “Faça o que você ama”. O Fabio Barbosa falava isso muito aqui na organização: “Faça o que você gosta. O resultado é consequência. Não vá buscar ganhar mais por ganhar mais. Faça o que você gosta”. Então, isso está muito presente. Eu digo com muita tranquilidade, hoje eu faço o que eu gosto, eu amo o que eu faço e isso acaba você tendo mais produtividade, mais alegria em trabalhar, você contagia as pessoas com essa vontade, as pessoas percebem, né, então eu acho que isso é um valor muito grande. Eu quero continuar nessa tocada.
P/1 – Certo. Qual que é o seu sonho agora?
R – Meu sonho agora. Pergunta difícil. Outro dia meu filho perguntou assim: “Pai, qual é o seu sonho?” eu disse um sonho que era um sonho dele e ele disse: “Não pai, esse é o meu sonho”. Então, o meu sonho hoje? É que eu não quero perder nunca a capacidade de me indignar, de ver uma coisa errada e deixar que ela continue errada. O meu desejo é esse. Eu procuro ter um senso de justiça muito grande, né, acho que são valores que você não pode mais abrir mão, né? Amar o que você gosta, ser feliz naquilo que você faz, o respeito, né? E do lado mais pessoal mesmo, é de que essa indignidade continue muito clara para mim e nesse prazer de falar com as pessoas, com os clientes do Microcrédito e constantemente ter esse aprendizado. Eu acho que quando você tá nesse universo e que as pessoas falam, falam com coração, falam com a alma e transmitem aquilo que ela tem de melhor e você retém isso, né? Então, nesse momento profissional que eu estou, eu estou talvez fazendo uma colheita e evidentemente me impregnando daquilo que as pessoas têm de bom também e eu te confesso, isso está me fazendo uma pessoa melhor a cada dia.
P/1 – Já que você falou de sonho. E o sonho Santander? Existe? Tem um espaço aí para um sonho Santander, de meta, de tentar chegar no microcrédito em cada portinha?
R – Muito legal. Nós hoje na Santander Microcrédito estamos com um desafio tremendo. O nosso presidente, o Marcial Portela, no último Conselho, ele nos colocou uma demanda muito especial, que é fazer um projeto para que a Santander Microcrédito dobre de tamanho. Talvez esse seja para nós, do Microcrédito, um projeto, a possibilidade de você reescrever uma história de gigante. Então, esse projeto de levar para o Microcrédito uma capacidade maior do que ela é hoje, dobrar de tamanho, isso hoje com certeza é uma motivação profissional que a gente está levando muito a sério. Nós concluímos esse projeto, esse projeto está com o nosso diretor executivo, está com o Pedro (Coutinho) para gente levar para o Portela para ter a aprovação e levar aí talvez o microcrédito para o Brasil inteiro, para o mundo inteiro. E onde houver um empreendedor, que o Santander possa levar um pedaço do microcrédito para que esse empreendedor realize os seus sonhos.
P/2 – E o que o senhor acha de o Banco buscar definir essa identidade através de diversas histórias, através da trajetória de diversos dos seus colaboradores?
R – Olha, primeiro lugar, eu me sinto um privilegiado de fazer parte dessa memória; segundo, dizer que a sua história você faz respeitando o seu passado. Os aprendizados, as colheitas de quem trabalhou aqui há 20, 30, 40 anos atrás não tivessem acesso aos recursos que nós temos hoje, mas ele não se limitou, não criou a dificuldade como barreira, ele continuou se desenvolvendo. Então, acho que você olhar um pouco para trás pavimentando a história do futuro é isso que vai fazer com que o Santander daqui há 50 anos, ou cem anos, 200 anos tenha essa valorização dessas pessoas que construíram o Banco Santander no Brasil.
P/2 – Certo. O que o senhor achou de ter participado dessa entrevista, contando um pouco da sua trajetória, da sua vida para gente hoje?
R – Olha, participar desse encontro foi um grande privilégio. Ter a oportunidade de você revisitar a sua própria história é uma oportunidade que no dia-a-dia muitas vezes nós não temos e vocês me proporcionaram essa busca de pessoas que foram tão importantes na minha vida, né, meu padrasto, minha mãe, meus amigos, pessoas também profissionais que me ajudaram transmitindo um pouco mais de competências, de aprendizados. Então, esse momento aqui para nós é um momento muito especial, saiba que tem um significado muito bacana de ver onde estavam as pessoas e hoje como estão essas pessoas para intensificar o relacionamento, voltar a ter relacionamentos, dar um abraço, ou até mesmo para agradecer.
P/1 – Está certo. Tem alguma coisa que a gente não perguntou, que o senhor gostaria de deixar registrado? Acha que ficou faltando?
R – Não. Eu acho que vocês foram muito felizes nas perguntas aí.
P/1 – Tá certo, então, em nome do Santander e do Museu da Pessoa a gente agradece a sua entrevista.
R – Obrigado. Eu agradeço.
Fim da entrevistaRecolher