Projeto História das Profissões em Extinção
Depoimento de Jayme Bento
Entrevistado por Cláudia Leonor Santos e Manuel Manrique Gianoli
Estúdio da Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 8 de outubro de 1996
Realização Museu da Pessoa
Entrevista n.º 02
Transcrita por Rosália Maria Nunes Henriques
P - Senhor Jayme, qual o seu nome completo, local e data de nascimento?
R - Meu nome é Jayme Bento, eu nasci em Catanduva, dia 5 do 12 de 39.
P - O nome dos seus pais?
R - Meu pai é Avelino Bento e a minha mãe é Ermínia (Estuginésia?) Bento.
P - Aonde eles nasceram?
R - O meu pai nasceu em Aparecida de Monte Alto e a minha mãe nasceu em Jaboticabal.
P - Sua mãe é filha de suíços, é isso?
R - É filha de suíços, o meu avô veio da Suíça ainda jovem, assim eles contam que a família dele queria que ele estudasse para padre e ele queria fazer outra carreira, aí então teve uma divergência de família e ele veio para o Brasil.
P - Por que ele escolheu o Brasil?
R - Parece que, a minha mãe comenta que ele escolheu o Brasil porque era um país grande, tinha muitos estrangeiros, então ele escolheu o Brasil.
P - E ele foi direto para Jaboticabal?
R - Não, ele veio para São Paulo, depois foi para Campinas e de Campinas ele foi para Jaboticabal. P/1 O senhor se lembra de Jaboticabal?
R - Jaboticabal eu lembro mais de... eu fui duas vezes passear em Jaboticabal. Mas a minha mãe, depois de Jaboticabal que eles já foram para uma cidadezinha, Aparecida de Monte Alto, foi aonde a minha mãe casou e ficou conhecendo o meu pai em Aparecida de Monte Alto, casaram e ficaram, o lugar que eles mais residiram foi em Aparecida de Monte Alto. Até o meu avô mesmo ele faleceu em Aparecida de Monte Alto.
P - O senhor nasceu em Jaboticabal?
R - Não, minha mãe, meu avô veio ter residência em Jaboticabal, casou, e a minha mãe que nasceu em Jaboticabal. E depois é que eles foram para Aparecida de Monte Alto, Catanduva, aquelas...
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Depoimento de Jayme Bento
Entrevistado por Cláudia Leonor Santos e Manuel Manrique Gianoli
Estúdio da Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 8 de outubro de 1996
Realização Museu da Pessoa
Entrevista n.º 02
Transcrita por Rosália Maria Nunes Henriques
P - Senhor Jayme, qual o seu nome completo, local e data de nascimento?
R - Meu nome é Jayme Bento, eu nasci em Catanduva, dia 5 do 12 de 39.
P - O nome dos seus pais?
R - Meu pai é Avelino Bento e a minha mãe é Ermínia (Estuginésia?) Bento.
P - Aonde eles nasceram?
R - O meu pai nasceu em Aparecida de Monte Alto e a minha mãe nasceu em Jaboticabal.
P - Sua mãe é filha de suíços, é isso?
R - É filha de suíços, o meu avô veio da Suíça ainda jovem, assim eles contam que a família dele queria que ele estudasse para padre e ele queria fazer outra carreira, aí então teve uma divergência de família e ele veio para o Brasil.
P - Por que ele escolheu o Brasil?
R - Parece que, a minha mãe comenta que ele escolheu o Brasil porque era um país grande, tinha muitos estrangeiros, então ele escolheu o Brasil.
P - E ele foi direto para Jaboticabal?
R - Não, ele veio para São Paulo, depois foi para Campinas e de Campinas ele foi para Jaboticabal. P/1 O senhor se lembra de Jaboticabal?
R - Jaboticabal eu lembro mais de... eu fui duas vezes passear em Jaboticabal. Mas a minha mãe, depois de Jaboticabal que eles já foram para uma cidadezinha, Aparecida de Monte Alto, foi aonde a minha mãe casou e ficou conhecendo o meu pai em Aparecida de Monte Alto, casaram e ficaram, o lugar que eles mais residiram foi em Aparecida de Monte Alto. Até o meu avô mesmo ele faleceu em Aparecida de Monte Alto.
P - O senhor nasceu em Jaboticabal?
R - Não, minha mãe, meu avô veio ter residência em Jaboticabal, casou, e a minha mãe que nasceu em Jaboticabal. E depois é que eles foram para Aparecida de Monte Alto, Catanduva, aquelas cidadezinhas do Interior de São Paulo.
P - Como foi a sua infância?
R - A gente lembra que a gente, meu pai morava em fazenda, então a gente para estudar tinha que andar aí uma base de cinco, seis quilômetros para fazer o primário. E depois fomos crescendo, que a gente somos em seis, eu e mais cinco irmãos. E depois as minhas irmãs foram casando e quando eu estava com 19 para 20 eu tirei a Reservista e a gente veio para Santo André. Formamos residência em Santo André e continuamos aqui em Santo André.
P - Veio a família toda?
R - Eu vim antes, depois com um ano que eu estava aqui, aí eu já ajeitei um jeito de moradia aí veio meu pai e minha mãe e o meu irmão caçula, as minhas três irmãs já eram casadas e um irmão mais velho casado também. Aí nós éramos em quatro: meu pai, minha mãe, eu e o meu irmão caçula.
P - Voltando um pouquinho, o senhor se lembra da casa onde morou quando criança?
R - Ah, a gente lembra porque aquelas casas do Interior elas têm muito pomar, muita fruta, então a gente lembra muita fruta, aquela "coiseira" que tinha tudo com bastante abundância que hoje é tudo diferente porque quando quer uma fruta precisa comprar em feira, essas coisas, aquilo lá não, a gente pegava no próprio pomar.
P - Que frutas tinha no pomar?
R - Ali tinha: era banana, laranja, mexerica, manga, jabuticaba, todas aquelas frutas do Interior, jaca, era tudo fruta mesmo, colhida tudo na hora.
P - Quem ajudava a tomar conta do pomar?
R - Ali o pomar era assim, cada residência tinha o pomar do quintal, então ninguém quase não precisava tomar conta porque todo o pessoal tinha, então quase não invadia as frutíferas dos outros.
P - Vocês ajudavam quando eram crianças?
R - Sempre quando precisava de poda e essas coisas assim, era sempre o meu pai que fazia, ele gostava. (PAUSA)
P - Bom, retornando,o que o seu pai fazia, ele trabalhava em quê?
R - O meu pai sempre trabalhou com animais, ele era retireiro, amansador de boi, de cavalo, desses burros bravos, sempre foi, mexia mais com animais de fazenda, gado, essas coisas.
P - Qual era a tarefa do retireiro?
R - De manhã cedo eles levantava às 4 horas da manhã para tirar o leite. Aí vinha os caminhões dos laticínio buscar os leites na fazenda. Quando tinha 7 horas, no máximo 7 horas, chegava os caminhão para pegar os leites e levar para os laticínio e depois, no final o resto era cuidar de gado, algum gado machucado, animais. Então isso era o mais que ele gostava de fazer.
P - Trabalhava para os fazendeiros?
R - Para os fazendeiros, trabalhava para os fazendeiros e ganhava, eu acho que ganhava mensal, naquele tempo era mensal e ganhava por mês uma quantidade para trabalhar.
P - Vocês moravam na fazenda?
R - Na fazenda, nós moramos na Fazenda Água Milagrosa e numa Fazenda Boa Vista, era uma fazenda muito grande, lavoura de café, de gado, de cereais.
P - Como eram as brincadeiras lá?
R - Ah, as brincadeiras no Interior eram mais mesmo... as meninas gostavam de brincar de roda, de passar anel, agora os garotos eram mais era aquelas bolinhas de meia, gostava mais de fazer um racha lá de bolinha de meia.
P - E a escola, o senhor estudou...
R - Então a escola, a gente, o meu pai ele tinha pouca leitura porque aquele povo antigo tinha pouca leitura, aqueles pessoal que morava no Interior era, o curso que a gente mais avançava era o primário, então o meu pai todos os filhos dele enquanto não terminou o primário não saía da escola. Tinha uma irmã, a terceira, ela não gostava muito de estudar, então ela saiu da escola com quinze anos mas teve que sair com o primário completo porque senão não tinha jeito não, tinha que estudar.
P - Em que escola estudou?
R - Eu fiz o primário na escola do Grupo Escolar de Tabapuã, uma cidade perto de Catanduva, Tabapuã. Depois de Tabapuã que eu terminei o primário, aí que nós mudamos para Catanduva novamente e de Catanduva viemos para Aparecida de Monte Alto onde que o meu pai foi criado. Depois de Monte Alto fomos morar num sítio em Fernando Prestes, depois de Fernando Prestes nós viemos para Santa Ernestina. Aí foi quando eu já tinha dezoito para dezenove anos, aí foi, naquele tempo o povo gostava muito de migrar para São Paulo, foi onde nós migramos para Santo André, fomos crescendo, trabalhando e criando a família, fazendo a família, e formando família tudo aqui.
P - Por que ocorreram essas mudanças, de Monte Alto para Santa Ernestina, para Catanduva?
R - Ocorria para melhorar, porque às vezes, o pessoal ia ficando naquelas fazendas e não tinha melhora, então sempre mudava para melhorar, era onde dava melhores condições de vida, o pessoal ia mudando. Quando nós mudamos para Santa Ernestina foi que tinha aquele tempo o Horto Florestal e eram umas terras da estrada de ferro, então eles precisavam de uma família, uma família grande para tomar conta de um sítio do Horto Florestal, então era o meu pai, tinha um irmão da minha mãe, o meu irmão o Anércio, eu, nós éramos em quatro para trabalhar com o pomar. Então foi onde que encaixou para a gente vir para Santa Ernestina.
P - Foi o seu primeiro trabalho?
R - Trabalho remunerado foi o primeiro.
P - Como era? O que o senhor fazia?
R - A gente trabalhava mais com o pomar, com o mamão, na plantação do mamão, na colheita quando já dava os frutos para colher o mamão e nos canteiros do pomar de laranja que tinha, como é que fala? Os enxertos da fruta, o limão galego, então tem o enxerto, aí ele forma a laranja. Aí plantava a laranja para colheita da laranja.
P - Onde aprendeu fazer essas coisas?
R - Ali quase que a gente aprende quase por necessidade, porque ali a vidinha do pessoal... então a gente aprende com facilidade fazer essas coisas.
P - Quem ensinava ?
R - Meu pai, ele era prático, de lavoura ele era prático em quase todas as coisas, era prático para lidar com animais, com gado, de roça. Então ele sabia também, e tinha as próprias pessoas, porque dizem que para fazer um enxerto da laranja tem que ter a mão boa, então tem muitos que fazem, vamos supor, mil enxertos, desses mil quatro, cinco que não pegam. O meu pai tinha a mão muito boa, eu também tinha. Então a gente, dificilmente aquele que não vingava, quase todo eles vingavam perfeitamente para ficar da altura de meio metro para levar e plantar nos pomar, para plantar nas roças que formava os pomar de laranja.
P - O Horto é quem vendia essas mudas?
R - Não, o Horto plantava para ele mesmo, ele fazia o canteiro, plantava e quando as mudas estava no tempo de ir para a roça, eles mesmos plantavam. Então não fazia comércio, era mais para usar ali mesmo, nos pomar ali mesmo.
P - Quando vocês saíram de Santa Ernestina foram para Santo André?
R - É, nós viemos para Jardim Ana Maria, Santo André, aí aonde que a gente foi fazendo cursos profissionais e foi entrando nas indústrias.
P - O que levou à escolha da cidade de Santo André para se fixar?
R - O que foi é que tinha um irmão da minha mãe, era o Euclides (Estruginésio?) ele era diretor do... ele trabalhava em química, nas indústrias químicas e ele então era diretor do sindicato, então a gente, ele já escolheu para ele Santo André e ele foi diretor do Sindicato dos Químicos, então quando nós viemos ele mesmo que já indicou: "Olha, vem para cá, Santo André, Ana Maria, que é uma cidade muito, tinha indústria." E naquele tempo lá tinha muito mais emprego do que agora, então nós escolhemos Santo André para vir, ele foi a raiz para gente já continuar morando em Santo André e construindo família ali em Santo André.
P - Qual a primeira impressão que teve de Santo André?
R - Ah, a gente estranha muito porque a gente acostumado lá no Interior, quando a gente chega aqui aquelas indústrias, aquelas coisas, então a gente estranhamos um pouquinho. Mas aí eu já tinha o meu irmão mais velho que veio uns anos antes de mim. Então a gente já foi habituando, eu trabalhei na Rhodia Química e aí já foi desenvolvendo, foi desenvolvendo e fomos tocando para frente.
P - Logo que chegou já procurou emprego?
R - Quando eu cheguei, a Firestone, que é Firestone, gostava muito do pessoal que vinha do Interior porque diziam que eram mais interessados para trabalhar talvez porque no Interior o serviço é pesado e a Firestone fazia pneu. Então eles escolhiam por altura, por bem dizer. Então quando eu cheguei numa sexta-feira, na segunda-feira eu tirei a Profissional, na terça-feira arrumei emprego. Quando a gente era grandão, molecão de altura de 1 metro e 70 para cima, então eles escolhiam no dedo: "Oh, você e você." E eu fui um daqueles grandão lá que fui escolhido para fazer parte dos funcionários lá.
P - Mas como fez? Foi para a porta da fábrica arrumar esse emprego? Como conseguiu?
R - Porque o meu tio já tinha conhecimento, porque ele veio foi em 45 para São Paulo, então ele já tinha boa experiência. E nós viemos em 59, aí meu tio já tinha mais de 20 anos, 14, 15 anos aqui de São Paulo, então ele entendia, ele falou: "Oh, vai na Firestone que lá o pessoal lá gosta de gente do Interior, gente grandão, quem sabe você dá certo." Eu fui e graças a Deus deu certo e na terça-feira eu já comecei a trabalhar.
P - Fazendo o quê?
R - Eu trabalhava na produção de pneu, era ajudante, trabalhava com lona, essas lonas que fazem pneus, então a gente trabalhava naquela repartição. Depois eu fiquei acho que um ano mais ou menos lá, só que trabalhava em três horários e não tinha condições de estudar e a gente queria fazer uns cursinhos. Daí foi aonde que eu vim para Rhodia Química, aí eu trabalhava só de dia, trabalhava de auxiliar de laboratório e trabalhava só de dia e à noite, foi quando eu comecei a estudar à noite, foi quando eu fiz três anos de desenho mecânico. E depois quando eu sabia de medida, desenho, uma boa experiência nisso daí, foi quando que eu procurei entrar, naquele tempo as firmas automobilísticas aonde que pagava mais. Foi aonde que eu saí da Rhodia e fui para Willys, naquele tempo era Willys Overland do Brasil.
P - Certo, mas voltando um pouco, na Firestone o senhor era ajudante de produção?
R - Era.
P - O que fazia exatamente?
R - Ali, porque a lona ela vai dentro, tem uns rolos de pano e a lona fica dentro. Então tinha lona 8, lona 10, cada tipo de pneu era um tipo de lona para fazer, então a gente separava. Tinha aquelas máquinas que fazia, que cortava lona e deixava elas na metragem certa então os operadores daquelas máquinas eles quando chegava na metragem certa eles iam deixando de lado. Então a gente tinha que pegar essas lonas, aqueles tubos de lona e levando, chamava as prateleiras tudo separado, Lona 5, Lona 8, Lona 10, enfim, todos os tipos de lona a gente deixava tudo separado para outra pessoa vir e já levar para as máquinas de pneus, onde que o pneu já saía pronto.
P - No início houve algum treinamento lá na fábrica?
R - Não, não teve não, a gente tinha já assim um pouco de leitura, de primário. Porque o primário antigamente era bem mais... a gente nos quatro anos que ficava na escola aprendia muito mais do que os oito anos hoje de ginásio. Então a gente já tinha uma boa leitura, dependia mais da leitura e conhecer números, era coisa simples, era fácil.
P - Por que decidiu estudar desenho industrial?
R - Porque você sabe que o desenho e medidas é quase um essencial para quem, para quase todo trabalho, para assim ferramenteiro, torneiro. Naquele tempo as partes, quem estudava tornearia e ferramentaria era um profissão muito boa, quase que até hoje ferramenteiro de uma indústria é os que ganham mais. Então a gente tinha aquela vocação para um dia ser um torneiro, um ferramenteiro, então foi aonde que a base era saber desenho, medidas, foi aonde que eu fiz três anos de desenho e depois fiz outros cursos profissionais.
P - Aonde cursou desenho industrial?
R - Naquele tempo tinha uma escola que era uma das melhores de Santo André, que era "Antônio Gonçalves Leite", era uma escola que ficava na Oliveira Lima e tinha uma base, acho que umas três escolas de desenho mecânico e "Antônio Gonçalves Leite" era uma das preferidas por aqueles jovens da época, 1963, 64. Então foi aonde que eu fiz o curso nessa escola aí.
P - O senhor disse que ao chegar em Santo André já tirou a carteira profissional .Foi registrado lá na Rhodia?
R - Na Firestone.
P - Na Firestone, desculpe.
R - Fui registrado, a gente foi tudo registrado tudo certinho, foi início quando eu comecei a pagar, naquele tempo não era INPS, aquele tempo era IAPI. Foi no início que eu comecei a pagar o IAPI que hoje é o INSS, então foi aí que eu iniciei.
P - Eram boas as condições de trabalho lá na Firestone?
R - Ah, as condições era boa porque hoje as firmas já estão tudo... é esteira, o pessoal tem aquelas bandejas para pôr refeição, então é tudo separado, arroz, feijão, mistura, sobremesa. Então naquele tempo a Firestone era aqueles pratos fundos que o pessoal que trabalhava bastante queria comer bastante e podia repetir, o pessoal se quisesse fazer duas, três vezes a refeição eles fazia. Então a alimentação era boa, tinha café com leite, café com leite na parte da manhã, na parte da tarde. Então a Firestone sempre o pessoal lá, acho que continua até hoje, o principal é o povo alimentar, para dar produção tem que estar bem alimentado porque se não tiver bem alimentado ele não tem força para produzir. Então ali sempre foi uma boa alimentação.
P - Por que saiu da Firestone?
R - Era isso que eu te falei, porque ali a gente trabalhava das seis horas às duas, das duas às dez e das dez às seis, então a gente, como na semana em que a gente pegava das duas às dez ou das dez às seis, a gente não tinha condições de estudar, então a gente não queria parar naquilo, a gente queria estudar. Então foi onde que na Rhodia eu trabalhava só de dia, fui lá e trabalhava das sete às cinco da tarde e na parte da noite a gente estudava à noite.
P - O que fazia na Rhodia?
R - Na Rhodia eu trabalhava, era auxiliar de laboratório. Então todos os remédios que vencia o prazo eles são devolvidos, eles eram devolvidos. Então eu trabalhava numa sala de recuperação, então naquele tempo a penicilina, a terramicina, era todas aquelas, a Rhodia era uma das pioneiras na penicilina, então quando vencia o prazo voltava todos aqueles medicamentos para uma sala que eu trabalhava. Então a gente tirava aquele produto vencido e punha em bujões separados e aquilo, eles diziam naquele tempo que aquilo lá era recuperado para veterinária, ia para fazer remédio veterinário.
P - Certo, mas o quê fazia exatamente, o senhor tirava dos...
R - Porque os vidros de penicilina ou terramicina, todos aqueles produtos, eles vinham em frascos, então a gente tinha um alicatinho, tirava aquele lacre, tirava aquela rolha de borracha e os produtos, cada bandeja era um produto certo que a gente não podia misturar de maneira alguma, então a gente pegava aqueles frascos virava naquelas bandejas e tinha o funil com os galões já tampados com aquelas tampas vedadas e a gente colocava lá dentro. E era isso aí o serviço. E quando estava fraco de devolução, eu ajudava as meninas nas embalagens da produção de penicilina, de todos os remédios que fabricavam lá, Fenergan, todos os remédios que fabricavam ali, eu ajudava as meninas na embalagem e à noite ficava disponível para fazer uns cursinhos.
P - A escola era longe da sua casa?
R - Ah, era uma base de Ana Maria para Santo André, é uma base e acho que uns seis quilômetros, uns 15 minutos de ônibus, então era pertinho. Quando a gente saía do serviço, chegava em casa jantava, voltava para escola que a escola começava às 7 horas, das 7 às 10 horas, e dava para descansar tranqüilamente.
P - Senhor Jayme, como ia da sua casa até à fábrica?
R - De ônibus também, tinha o ônibus, naquele tempo o bairro que a gente morava já tinha ônibus e ali hoje é o corredor do trolebus que vem de Jabaquara, Diadema, São Bernardo, Santo André e São Mateus, então ficava ali naquela faixa da Rua Oratório, então ali sempre teve transporte para ligar São Mateus de Santo André, então era facinho para a gente ir e voltar.
P - Em quanto tempo fazia esse trajeto?
R - Ali depende, era uma base de 15 minutos, 15, 20 minutos no máximo.
P - Ia com outros colegas de trabalho?
R - Tinha, ia outro rapaz também, o Nivaldo que hoje aposentou, está morando no Interior, em Bocaína, então, ele é que cursava o desenho mecânico, ele já tinha, ele era sempre um ano na minha frente. Então por intermédio dele a gente já, nós íamos os dois juntos e voltava, por intermédio dele, quase que foi ele mais que incentivou mesmo para a gente fazer o desenho mecânico que era uma base de continuação.
P - Durante esse trajeto o que vocês faziam?
R - Ah, a gente naquele tempo tinha aí acho que 20, 20 e poucos anos, 22 anos, que nem os jovens de hoje sempre olhando para alguma menininha, isso e aquilo, o tempo passava rápido.
P - Então, aos sábados e domingos quais eram as programações?
R - Ah, de sábado e domingo então a gente tinha cinema, a gente gostava muito de cinema mas no domingo mesmo era futebol. Lá na nossa vila, no Jardim Ana Maria, tinha um time de futebol que era o "tan-tan" ali da redondeza. Então nós éramos, mais era jogar futebol mesmo, domingo tinha o primeiro quadro, segundo quadro. Então a gente gostava, disputava torneio em Santo André, jogava com aqueles times ali: o Torino, Sete de Setembro, Nacional, Estrela Azul, tinha muito time bom, Vila dos (Rifles?). Então, o pessoal não gostava de perder não, queria era ganhar.
P - Jogava de quê?
R - Eu jogava de centro-avante. O meu apelido era Macarrão porque era meio molão, assim então era Macarrão. E depois eu parei porque acontecia muita rixa, muita discussão, aí eu deixei e apareceu outros melhor do que eu também. Aí eu passei para diretoria, eu fui secretário, de secretário fui para tesoureiro e depois fui a presidente do clube.
P - De Ana Maria?
R - Do Jardim Ana Maria, fui presidente do clube uma boa parte. Depois casei, depois a gente casa, parei um pouco de freqüentar o esporte.
P - E no cinema, quais eram os seus filmes preferidos?
R - Ah, naquele tempo tinha em Santo André tinha o Cine (Rafi?), que hoje é uma discoteca lá, tinha o Tangará e o Carlos Gomes, hoje parece que todos os três fecharam. O Carlos Gomes hoje é teatro, o Tangará parece que ultimamente viviam dizendo que ia vender para uma igreja evangélica, o prédio, e o (Rafi?) é discoteca. Então eram os filmes que passavam mais naquela época que a gente gostava era "bang-bang," filme de Mazzaropi, então era mais comédia. Era que o pessoal mais gostava de ver era o bang-bang."
P - Com quem ia ao cinema?
R - Ali sempre nós tínhamos, nós sempre tínhamos colegas, tinha esse Nivaldo, tinha o (Jubel?), o (Toniel?), que o pessoal chamava de Teté. Então nós tinha sempre aqueles amigos que andava, daquela faixa da idade da gente, então quando a gente arrumava uma namoradinha, às vezes ia com as namoradinhas. Era desse jeito a vidinha ali.
P - O senhor se lembra da primeira namorada?
R - Olha, minha primeira namorada eu acho que eu tinha uns 15 anos, tinha 15 anos quando tive a minha primeira namoradinha, depois ali foi seguindo. Acho que eu tive bastante namorada, a gente gostava um pouco de namorar, acho que diziam que o meu avô era muito namorador também, o pai do meu pai e comentavam: "Ai, puxou o avô, aquele namorador" Mas acho que é coisa da época, a gente tinha as namoradinhas da gente.
P - Na época em que trabalhava na Rhodia, o que fazia com o seu salário?
R - Porque quando nós viemos do Interior então era uma vida difícil, nós viemos pagando aluguel, e então a gente, a intenção da gente era ter uma casa própria. Então, a Rhodia tinha uma cooperativa que ela fazia empréstimo para o pessoal, então quando eu fiz um ano e já tinha direito de fazer empréstimo, eu já fiz o empréstimo logo. Daí a gente pagava em oito vezes, 12 vezes, então foi aonde que eu já peguei essa parte do meu salário, comprei um terreno e foi aonde que construímos uma casa, uma casa até confortável, um terreno bem grande que hoje mora o meu irmão.
P - Bom, o senhor continuou na Rhodia até quando mais ou menos?
R - Eu continuei na Rhodia até mais ou menos 64, foi quando teve o Jânio Quadros presidente, e depois ele renunciou. Eu saí da Rhodia e fui, antes dele renunciar eu já estava na Willys, depois ele renunciou e daí veio o João Goulart, aí o povo não aceitava o João Goulart porque diziam que ele era da esquerda, comunista. Então foi aonde que começou o início da Revolução aí do Brasil que foi os generais que passaram o comando. Então foi nessa época aí que eu fui para...
P - O que o senhor fazia na Willys?
R - Na Willys eu trabalhava na linha de montagem, tinha, era, naquela época ela fabricava a perua, fabricava caminhonete e o jipe, eu trabalhava na montagem da perua Willys, que naquele tempo também se falava perua Willys, eu trabalhava na montagem dela.
P - O que o senhor fazia exatamente?
R - Eu trabalhava na parte do assoalho, então naquele tempo ela era uma perua mais rural, então ela tinha um assoalho de madeira, então eu colocava aquelas madeiras e carpete dentro dela, na traseira dela.
P - Tinha um nome essa função, essa profissão?
R - Ali então essa parte que nós fazia era a parte da tapeçaria, então a gente fazia o assoalho e outros funcionários fazia o teto que era a tapeçaria. Então já vinha a outra linha perto, era aonde tinha o chassis e o motor. Então eles pegavam a carroceria da perua, da caminhonete, do jipe e colocava já tudo com as tapeçarias pronta em cima do chassis onde já outros funcionários já apertava e o carro já saía, saía para o teste já.
P - Quanto tempo levava para um carro ser montado?
R - Olha, eu não me recordo bem da produção mas eu desconfio que era uma produção mais ou menos de 40, 50 carros por dia, já saía bastante, aí foi quando veio, ela aumentou a ala de produção foi quando começou a fazer o carro 61, 62, o Willys 64 até chegar o Willys 65 que era o carrão do ano, era o carrão da época naquele tempo lá.
P - E assim, quantas pessoas trabalhavam na fábrica?
R - Na fábrica?
P - É, mais ou menos.
R - Na fábrica ou no setor?
P - No setor.
R - No setor acho que nós éramos mais ou menos uma base de 80 a 100 homens, de 80 a 100.
P - Existiam alguns regulamentos internos?
R - O regulamento era a produção, quando a linha ia correndo não podia parar não, tinha os seus limites mais ou menos certos. Era uma distância de cinco metros para parte da gente ficar pronta, quando ela saía da pintura ela entrava na linha ali, então os primeiros serviços já eram feitos, quando ela saía no fim ela já saía pronta para pôr em cima do chassis para a produção, para o carro já sair pronto.
P - Eram oito horas de trabalho?
R - Era oito horas, oito horas de trabalho. E trabalhava só de dia também.
P - E nessa época o senhor foi para Willys, teve a saída do Jânio Quadros, a entrada do Jango. Esses fatos refletiram na fábrica?
R - Ah, refletiu. Refletiu porque principalmente ali nas firmas automobilísticas muita gente foi dispensada. Eu mesmo, aqueles meninos que trabalhava mesmo, que dava a produção que eles queriam, tinham bastante saúde então eles escolheram aquele pessoal que tinha de um ano até dois anos e dispensaram tudo, só ficou o povo mais velho, mas a produção caiu, depois que começou a normalizar. Mas naquele época mesmo, uns seis meses teve muito desemprego, então os patrões parece, acho que não concordava com o regime do João Goulart, então teve bastante desemprego.
P - Ocorreram greves, senhor Jayme?
R - Ocorreram, naquela época não, então ali não teve greve porque até era proibido a greve, era proibido. Então tinha uma lei que não podia ter greve não, então depois que foi mais para a frente, 70, 72 por aí que começou a iniciar as primeiras greves para mudar, terminar aquele tempo dos militares para entrar as democracias.
P - E até quando mais ou menos o senhor ficou na Willys?
R - Eu fiquei na Willys acho que uma base de um ano mais ou menos, depois eu vim para Vemag. A Vemag era onde fabricava carro também, então eu vim para a Vemag, e a Vemag era uma firma muito boa também, era tão boa que a Volkswagen ficou com medo porque os táxis eram tudo Vemag, o DKV. Então eu fui trabalhar também na montagem do DKV, acho que eu trabalhei uns dois anos lá e eu acho que a Volks viu que ela ia perder mesmo a concorrência para carro de táxi, aí ela comprou. A Volks comprou e deu o direito de transferência, quem queria transferir da Vemag para Volks tinha o direito de transferir normalmente. Então foi na época que eu já tinha comprado o terreno e estava construindo e queria terminar a nossa casinha então entrei em acordo para ser dispensado: "Eu não quero ir para Volks não, quero ser dispensado." Aí foi onde que dispensaram, eu peguei aquela indenização, já regularizei muita coisinha que a gente tinha. Aí depois descansei um pouco, daí fui para fui para Volks, e comecei a trabalhar na Volkswagen.
P - Fazendo o quê?
R - Na Volkswagen eu trabalhava na linha de motor então tinha a montagem do motor, então eu trabalhava na montagem do motor. Eu como já tinha um pouco de experiência na Willys, de Vemag, de montagem. E aprendia também com facilidade eu era o curinga, eu trabalhava na linha de montagem do motor, então quando um precisava ir na enfermaria eu ia fazer, cobrir o lugar dele, outro precisava ir no departamento de pessoal, no banheiro, qualquer coisa, aqueles que atrasavam a montagem porque não podia atrasar ali a linha ia correndo, então o pessoal que saía da área deles de três, quatro, cinco metros, então eu era o curinga, ia ajudar para ir adiantando, ia adiantando porque tinha que sair, 300, 400 motor tinha que sair.
P - Era montador de motor?
R - É, montador de motor na Volkswagen.
P - Quem determinou que fosse o curinga ali?
R - Ali eles eram, tinham um feitor chamado Rodolfo então ele via aqueles pessoal que desenvolvia mais, então eu entrei trabalhando numa bancada, duma bancada já fui para outra quando faltava alguém por motivo de doença, qualquer coisa: "Oh Jayme, você vai lá?" Eu era curioso, gostava de ver então eu acabei sendo o curinga da linha de montagem.
P - Passando um pouco mais para a frente, quando começou a ser inspetor de qualidade?
R - Eu passei a ser inspetor de qualidade foi na Mercedes Benz, que estava muito em falta naquele tempo lá, hoje estão até querendo acabar com a profissão de inspetor de qualidade, que é uma pena. Naquele tempo tinha que ter o inspetor de qualidade para ele inspecionar as peças, as montagem, para ver se tem qualquer probleminha, o inspetor já, ele não deixa a peça seguir. Então tinha muita procura de inspetor de qualidade, eu fiz o teste, que eles dão o desenho mecânico daquelas peças todas e como a gente foi aprovado naqueles desenhos, naqueles croquis de montagem e tudo. E foi onde eu iniciei a carreira de inspetor de qualidade.
P - Quando foi isso, mais ou menos?
R - Acho que isso daí foi mais ou menos em 72, 74, mais ou menos de 1970 para a frente.
P - Quando passou a inspetor de qualidade estava trabalhando ou procurando emprego?
R - Eu estava trabalhando numa firma que hoje não tem mais, ela fazia máquinas, foi quando surgiu o plástico, então o plástico foi muito aceitado, que acabou aqueles canos galvanizados para encanamento de água e começou a entrar o plástico. Aí tinha uma firma da Alemanha que ela começou a fabricar umas máquinas para recuperar os plástico porque tinha umas máquina, ela fazia toda a moagem do plástico e o plástico entrava novamente em produção. Então eu fui trabalhar nessa firma de máquinas, eu tanto montava a máquina como fazia assistência técnica. Aí eu tive vontade de partir novamente para firma automobilística, então eu fui para Mercedes Benz. Saiu um anúncio que estava precisando com conhecimento em medidas e desenho, eu fui e continuei trabalhando.
P - O senhor disse que a própria profissão de inspetor de qualidade está acabando. Quando começou a notar isso?
R - Ah, foi, já está com uma base de uns oito anos mais ou menos que eles começaram a deixar mais responsabilidade para a pessoa que trabalha nas máquinas. O operador naquele tempo, agora ele faz aquela operação da máquina tudo de computador, uma tecnologia mais avançada, então ele mesmo já fica responsável do que ele está fazendo e antigamente não, o inspetor de qualidade tinha que quase, dizendo assim, inspecionar quase todas as peças para ver se está nas medidas certa para fazer a montagem do motor, porque as peças mais que são fabricadas dentro da fábrica, para montagem do motor, de caixa de câmbio, entende? Então elas precisa ter todas as medidas mesmo bem inspecionadas, então agora ultimamente já estão deixando mais a responsabilidade para o próprio operador.
P - Que habilidades são necessárias para ser um bom inspetor de qualidade?
R - Ali o mais mesmo era os aparelhos de medição, tinha o paquímetro, o micrômetro, relógio comparador, diversos aparelhos de medições, então tem que ter aquela tolerância, para peça estar 100% então tem aquele limite certinho para fazer uma montagem do motor ou da caixa de câmbio, ela tem que ter aquele limite.
P - Por que a responsabilidade da qualidade da peça passou para o operador, tirando a importância do inspetor de qualidade?
R - Mais para, mesmo nessa época, era a redução de emprego, porque a firma, vamos supor que tinha 100 operadores de máquina. Precisava ter quase 30 funcionários como inspetor de qualidade.Então deixando mais a responsabilidade para os próprios operadores, enntão reduzia aqueles 30 inspetores às vezes para cinco. Então foi mais para reduzir mesmo o operário, a mão-de-obra.
P - E com isso houve demissões?
R - Ah, teve muitas, muitas firmas aí, principalmente as automobilísticas, muitas delas os inspetor de qualidade tem poucos, é uma profissão que ultimamente está acabando, a bem dizer.
P - Fale sobre a sua participação no sindicato, o senhor falou que na década de 70...
R - Então, eu sempre quando trabalhava nessas firmas a gente gostava da participação do sindicato, então eu sempre fui sindicalizado. Então desde quando eu entrei na Volkswagen, eu entrei em 65, eu já era sócio do sindicato mas as minhas atividades mais mesmo partiu quando eu trabalhava na Scania, na Mercedes, porque eu trabalhei duas vezes na Mercedes: trabalhei uma época, saí e depois que eu troquei de profissão mais uma vez, que eu passei para almoxarife, eu voltei na Mercedes. Então a gente participava de muitas greves quando era proibido, mas a turminha do ABC eles não tinha muito medo não, tinha prisão e todas aquelas coisas mas eles partiram para a frente, então a gente estava sempre em atividades junto com o pessoalzão lá.
P - Qual era a sua atividade: piqueteiro, negociador...
R - Na Brastemp mesmo uma vez nós fomos fazer, são casos assim meio engraçados, teve uma greve lá então nós fomos uns cinco, seis, para fazer piquete e não deixar o pessoal entrar. Aí aquele pessoalzão foi encostando, encostando, mas a polícia estava sempre em atividade. Então chegou um carro do Tático Móvel, sei lá, já determinado mesmo para assustar o povo, deram uns tiros não sei se foi de festim ou se foi para o alto, aquilo o povo saiu tudo correndo, quando a gente via só tinha três pessoas, eu mais dois do sindicato, nós falamos: "Como nós vamos fazer? Vamos correr também.". Sempre nas greves tem essas coisas, agora não, porque as greves agora são mais pacíficas mas antigamente a polícia não dava oportunidade mesmo, era para acabar mesmo. Ali na matriz de São Bernardo, ali mesmo a gente precisou correr uma porção de vezes, se ficasse ia preso ou apanhava, não dava para enfrentar mesmo.
P - Chegou a negociar com os patrões?
R - Não. Ali já participava para... negociações era para mais diretores, então a gente era assim mais colaboradores, aquele pessoal que gostava de sindicato, eu nunca fui diretor do sindicato, eu fui mais sócio e colaborador. Então a gente conhecia todos os diretores antigos e os atuais, então a gente participava, de diretoria mesmo de sindicato eu nunca participei, eu era colaborador.
P - Voltando um pouco à profissão, quando percebeu que os postos de trabalho de inspetor de qualidade estavam diminuindo, que providências tomou?
R - Aí eu fui trabalhar de montador, montador industrial, entende? Então tinha muitas firmas, que é um emprego que ultimamente está quase acabando também, porque as firmas não estão querendo aumentar, parece. Então naquele tempo as firmas todas queriam expandir, então era onde que a parte de montador industrial tinha bastante emprego. Então eu fui trabalhar como montador industrial, era fazer estruturas para as firmas que iam expandindo. Numa dessas firmas de montagem industrial tinha os almoxarifados e tinha um rapaz que trabalhava no almoxarifado entrava todo dia, quando era onze horas que ele ia almoçar não tinha muita vontade de voltar, algum problema dele que não voltava. Aí o encarregado falava: "Oh, Jayme, dá para você ficar no almoxarifado que o Chiquinho não veio trabalhar, como sempre?" Então eu ficava no almoxarifado, eu já tinha um conhecimento de todas as peças de montagem, tanto parte elétrica quanto hidráulica, então o pessoal pedia qualquer ferramenta, eu conhecia e ficava. Aí passou mais ou menos uns 15 dias sempre com esse problema, aí ele falou: "Vou te dar um reajuste, você quer ficar no almoxarifado definitivo?" Eu falei: "Se me der um reajuste eu fico." Aí ele me deu um reajuste um pouco mais do que eu ganhava de montador industrial. Aí acabei ficando no almoxarifado e daí continuei. Quando eu me aposentei agora, acabei me aposentando como almoxarife.
P - Iinfelizmente a entrevista está terminando.Mas antes queria lhe perguntar o que gostaria de mudar na sua vida, se isto fosse possivel.
R - Ah Se fosse mudar, para mim acho que seria voltar na minha terra de origem, ter uma casinha no Interior para mim acabar a minha aposentadoria e os meus anos de vida que a gente não sabe quantos, espero que seja bastante, igual a minha mãe que já está com 88 e que eu seja um pouquinho mais do que ela. Mas para mudar meus planos eu gostaria mais que tinha espaço para os filhos trabalhar e estudar, porque ultimamente para fazer uma faculdade para os filhos está meio difícil, porque eu tenho sete filhos e o único que está na faculdade é o mais velho, os outros prestaram exame, essas coisas, e quase não teve chance, e uma faculdade hoje está aí os seus... dá muito mais do que a pessoa ganha. O que eu mais gostaria mesmo era de ter espaço para os filhos poder estudar e prosseguir na vida deles.
P - Eu queria também que nos contasse como conheceu sua esposa.
R - Então a minha esposa, ela é de uma família meia grande, meu sogro e a minha sogra tem oito filhos e eles vieram de Pernambuco, Caruaru, que é uma cidade que quase todos conhecem, e vieram crianças. Então eu morava nesse bairro e conheci ela de jovem ainda, acho que namoramos uma base de oito anos entre namoro, noivado e casamento. E conheci a família dela, ela desde pequena, então eu acho que entre namoro ficamos uns oito anos namorando, entre namoro para casar.
P - Quantos filhos vocês tem?
R - Nós temos oito filhos também, igual ao meu sogro, oito filhos, sendo que tem sete vivos e um faleceu com seis meses. Então tem quatro filhos homens e três filha mulher.
P - Está o.k., agradecemos sua ajuda, obrigada.
R - A gente procura responder, eu falei razoável aí, então eu também agradeço vocês por dar essa oportunidade de fazer essa entrevista com vocês.
P - Obrigada.
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