Projeto Conte Sua História
Depoimento de Francisco Edson Blessa Costa
Entrevistado por Lucas Figueiredo Torigoe e Rosana Miziara
São Paulo, 02/04/2015
PCSH_HV501_Francisco Edson Costa
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Claudia Lucena
MW Transcrições
P/1 – Bom dia, Edson. Eu queria perguntar pra você o seu nome inteiro, o local de nascimento e a data.
R – É Francisco Edson Blessa Costa, nasci em São Paulo, na Avenida Paulista, no Hospital Matarazzo, em 7 de fevereiro de 1953.
P/1 – E o seu pai, qual que é o nome dele?
R – Domingos Bernardo de Oliveira Costa.
P/1 – Ele nasceu quando?
R – Ele nasceu em 20 de fevereiro de 1910.
P/1 – Em São Paulo também?
R – Ele nasceu em São Paulo também.
P/1 – E a sua mãe?
R – Minha mãe nasceu em 10 de fevereiro, também, de 1916, na Espanha. Ela veio pro Brasil com cinco anos de idade.
P/1 – Você sabe como os seus pais se conheceram?
R – Eles eram praticamente vizinhos, moravam no mesmo bairro, então foi dali que eles se conheceram.
P/2 – Mas a sua mãe, você sabe porque ela veio pra São Paulo? Ela veio da Espanha pra São Paulo?
R – Então, é uma história bem legal. Em 1920, veio ela, dois irmãos, um mais velho, um mais novo, um com sete, outra com três, a mãe dela, o pai dela, a avó dela, o avô dela e o tio dela, juntaram todos e vieram de navio conhecer esse país e fazer dele o que ele é hoje.
P/1 – Por que eles saíram de lá?
R – Porque lá estava ruim, a Espanha, em 1920, estava muito ruim, em todos os sentidos, família pobre, não tinha como permanecer, conseguiram a imigração, o Brasil estava aceitando imigrante, apoiando e puxando pra cá, e eles vieram tentar a vida.
P/2 – Ela contou alguma coisa da viagem dela?
R – Muito pouco, ela lembra muito pouco, muito pouco, porque tinha cinco anos de idade, não deveria ser uma viagem de primeira linha, não, devia ser uma viagem bem difícil, né?
P/2 – Ela veio morar aonde aqui em São Paulo?
R – Todos eles, na época, espanhóis, italianos e portugueses, vinham pra ser colonos, a base é essa, então vinham pro interior de São Paulo, chegavam aqui, vinham pro interior de São Paulo, trabalhavam um pouco naquela região, o tempo que desse, depois, aí continuavam a seguir cada um sua vida nessa história.
P/2 – Você sabe em que região de São Paulo ela foi?
R – Eu não sei, não, aqui, interior de São Paulo, bem próximo, não me recordo agora.
P/2 – A sua mãe passou a infância aonde?
R – Uma parte lá e depois veio pra cá.
P/2 – Lá aonde?
R – Lá nesse interior aí que eu te falo, pouca coisa e depois veio pra cá. Acontece que eles eram três irmãos, minha avó tinha três filhos, mas o Brasil era muito bom e eles fizeram mais sete filhos, então dez filhos. Então é assim, é um ajudando o outro a crescer e minha mãe não teve uma infância, assim, muito agradável, brincava como qualquer criança numa época, mas logo foi colocada pra trabalhar e pra ajudar o irmãos, porque ela era das mais velhas e tudo isso. Então eu acho que com 15, 16 anos já estava trabalhando de empregada doméstica, inclusive. Minha mãe deu muita sorte, ela parece que trabalhou com os donos da Gessy Lever na época, aqui. Então foi bem orientada, ela, famílias muito abastadas, isso ajudou bem a criação nossa, ela chegou a dar uma boa formação, mesmo tendo uma formação muito simples, não chegou a completar estudo, nem nada disso, mas tinha um espírito muito evoluído, evoluidíssimo, isso é certeza absoluta. Então ela ajudou muito os irmãos, porque precisava, era um atrás do outro, minha avó batalhava muito, minha avó vendia alho lá na feira, era assim que tocou a vida e ganhou. O meu avô, o marido de minha avó, tinha problema de saúde, foi logo embora, e assim foi indo, outro tio, que era irmão da minha avó, casou e morou perto e foi indo assim. Então nossa família toda foi criada ali no Bairro de Santana, essa é a parte que eu já conheço um pouco mais, entendeu, são dez filhos.
P/2 – E o seu pai e seus avós paternos?
R – Então, o meu avô paterno, ele veio de Portugal com uns 23, 24 anos, completamente diferente do meu avô materno, ele veio sozinho, sem ninguém, inclusive deixou algumas coisas lá, a gente tem até escrituras de imóveis de lá, que ele andou comprando dos irmãos, que era meio uma herança. Ele era meio atirado e, português, só podia fazer pão, foi o que ele fez, ele montou padarias e aí teve sítios, ele foi se dando bem e casou com a minha avó, materna, no caso, que era uma mineira, descendente de índios, e veio pra São Paulo praticamente pra casar com ele, era uma mulher formada pra isso, pra o casamento, e eles trabalhava e ela cuidava da família. Mas aí ele morreu, meu pai tinha oito anos de idade, e aí o bicho pegou, porque ela só sabia cuidar da casa, então tudo o que ele tinha conquistado, chácaras, sítios, tudo, tinha muita coisa, foi tudo embora, foi se perdendo. Meu pai aos oito anos foi colocado no colégio interno de padres, minha avó era muito católica, e aos 16 ele foi pra Itália pra ser padre, graças a Deus não entrou nessa, senão eu não tinha nascido, pelo menos não dele, e aí voltou e foi indo assim a situação.
P/2 – Ele foi pra Itália pra ser padre?
R – Chegou a ir pra Itália.
P/1 – Ele contou histórias desse período pra você?
R – Eu perdi ele em 1999, então ele contava, mas muito pouco, ele não gostava de ter ido, não, ele não gostava da história, ele foi pro colégio interno forçado, o irmão dele mais novo não foi, então ele queria ter ficado com a mãe, ele foi muito endurecido por isso. Foi um pai maravilhoso, nossa, muito mais do que eu poderia imaginar que poderia ser como pai, mas ele não gostava muito dessa história, não, foi tudo forçada, ela era que era católica, ela era que queria ele padre, ele não queria ser padre e aí não deu certo, ainda bem, porque ele não gostou da história de ser padre. Continuou a vida trabalhando e batalhando, depois trabalhar em estrada de ferro e aí acabou no Matarazzo, onde foi a felicidade dele, na Indústria Matarazzo, mas nos escritórios que tem no Anhangabaú ainda, onde hoje é a Prefeitura, ele trabalhou. Eu lembro até desse prédio, que eu ia lá nas festas do Matarazzo e tudo isso, eles faziam muitas festas final de ano, a criançada ganhava muito presente, essas situações todas.
P/1 – Como é que eram essas festas, você lembra?
R – Ah, tinha tudo, porque o Matarazzo, a Família Matarazzo, eles eram muito inteligentes como industriais. O que eles faziam? Eles atendiam bem a família do funcionário, simples, o funcionário não larga nunca, então todas as minhas irmãs trabalharam lá, menos eu e uma, as outras três trabalharam lá e era uma paixão. Tinha desfile, tem fotografia, a minha irmã desfilando, virou uma família, eles faziam assim, pegavam as pessoas e tratavam bem e tinham a certeza de ter funcionário tranquilo e defendendo a vida inteira. Então isso foi muito bom pra ele e ele se aposentou por lá, se aposentou até antes, ele terminou de trabalhar por lá, mas ele se aposentou porque ele teve glaucoma. Glaucoma, aliás, é um segmento da nossa família, minha avó teve, a mãe dele, ficou cega e acreditava num milagre, aquele catolicismo dela, ela achava que Deus ia salvar, com cirurgia marcada, não foi porque: “Deus vai salvar” e não salvou e ela ficou cega. Depois ele teve, ficou cego também, ficou com 20% de visão, 10% no final, uma das minhas irmãs teve. A catarata, normalmente ela, assim, da mãe passa pro filho, do filho passa pra filha, vai trocando o sexo, então minha irmã teve e o meu sobrinho, o último agora, conseguiu pegar também, que a gente achou que não ia mais entrar nessa, e conseguimos. Então tenho um sobrinho que tem o meu nome, que é Edson também, e ele pegou, ele está com 20% de visão, é trágico, nos tempos de hoje.
P/1 – Por causa do seu pai que você nasceu no Hospital Matarazzo então?
R – O meu pai trabalhava no Matarazzo, exatamente isso, então o próprio hospital tinha, a própria Indústria Matarazzo, não era uma indústria só, era um conglomerado, eles tinham um hospital próprio, então só os funcionários é que se davam bem. Então era uma estrutura muito bem, pra época, muito boa, e eu nasci exatamente, aliás, não só nasci como as cirurgias que eu fazia era tudo lá no Matarazzo, tudo era sossegadinho, porque era do lado da casa dele, do Conde Matarazzo, bem ali na região da Paulista, então sou paulistano da Paulista mesmo, nascido ali, vi tudo isso.
P/1 – Nessa época que o seu pai trabalhava na indústria, foi aí que ele conheceu a sua mãe?
R – Não, ele conheceu antes, ele conheceu ela antes, ele trabalhava na indústria, na Matarazzo, quem levou ele pra trabalhar foi a minha irmã mais velha, Maria Ramona, que é o esteio hoje da minha família, é ela, ela é o apoio geral, espiritualmente, ela tem a cabeça muito evoluída. Ela começou a trabalhar lá e ela que encaixou ele, depois foi minha outra irmã, depois foi a outra e foi assim, e uma irmã conheceu um cunhado, essa, tenho uma irmã que faleceu o ano passado, a primeira das irmãs que foi, e o cunhado meu, o marido dela, era de lá também, do Matarazzo. Então muita, o Matarazzo tem muita, a história do Matarazzo tem muito a ver com a minha e da minha família, muito.
P/1 – Mas como eles se conheceram então?
R – Meu pai e minha mãe? Porque eram vizinhos praticamente, moravam próximo, na mesma rua quase.
P/2 – Lá em Santana?
R – Em Santana, a casa da minha avó era na esquina do Bar do Luís, o Bar do Luís é um bar muito famoso em São Paulo, na esquina do Bar do Luís morava minha avó materna e aí o meu pai conheceu a minha mãe naquela região e tudo e foi indo. Era estranho porque a minha mãe era pobre, a minha avó se considerava rica, mas ela já tinha sido rica, não era mais, então ela achava que a minha mãe era muito pobre pro meu pai, o meu pai merecia coisa melhor. Foi tão interessante isso, que a minha irmã nasceu, um ano depois é que ela foi conhecer a minha irmã mais velha, a minha avó, e morava na esquina, coisas de antigamente, que ainda hoje existe, depois a minha avó se arrependeu muito de tudo isso. Era incrível, porque eu era garotinho e ela conversava comigo, cega e morando na nossa casa, e ela agradecia muito a minha mãe, porque houve compreensão, a minha mãe compreendeu que a minha avó vivia aquele momento e ela quem cuidava dela, e muito bem por sinal. Então ela morreu em casa, pedindo perdão e tendo certeza que ia pro inferno, isso que é incrível, ela tinha certeza, uma pessoa sair daqui, certeza que ia pro inferno. Como pode, né? A gente ri, o duro é se eu morrer e chegar lá e ela está lá no purgatório, e agora, né? Porque inda posso quebrar seu galho, se tiver mesmo, a gente não sabe, não sabe se tem ou não. Já pensou? E agora, se ela tiver com a razão? Ela tinha certeza que ia pro inferno e a gente sabia que não, que ela era uma pessoa que conseguiu mudar a vida dela, dos conceitos que ela tinha, pra entender o mundo moderno, uma situação diferenciada, onde ela ia se dava bem, ela cativava, ela tinha estudo, tinha conhecimento, uma pessoa, gostoso de você ter uma conversa com ela.
P/1 – Qual que é essa rua, Edson?
R – A minha rua?
P/1 – É.
R – Augusto Tolle.
P/1 – Em Santana?
R – É em Santana, é onde tem, ali é uma região, minha mãe e o povo chamavam Bairro dos Pelados, porque era um loteamento como os que você vê hoje, não tinha nada, o nosso terreno era de brejo, o meu pai que teve que aterrar, era o que se podia comprar na época a pessoa pobre, que lutava e que vendia alho na feira e que era ferroviário, como o meu pai foi, tudo isso, era aquilo lá, você comprava e ia pagando a perder de vista. Então o Bairro dos Pelados hoje é o que tem o metro quadrado mais caro da Zona Norte, é onde tem a Guilherme Cristoffel, que é uma rua badalada, apartamentos lá de 600 metros dentro do apartamento, caríssimo, fica ao lado do Hospital do Mandaqui, ao lado do Hospital São Camilo, do lado, do Salesiano, do Colégio Imperatriz Leopoldina, que é da colônia alemã, que também atuou bastante e atua na região, o Mazzarello, então é uma região muito grande em termos de desenvolvimento.
P/1 – Mas na época?
R – Na época era barro, lama, só barro. Eu tenho uma história um pouco diferenciada, assim, porque eu sou o último filho, meus pais tiveram quatro mulheres, a mais nova tem dez anos na minha frente, então eu esperei a família ganhar grana, melhorar um pouco de vida, comprar casa, essas coisas, pra depois eu nascer, foi assim que aconteceu. Então, quando eu vim, a rua estava sendo asfaltada, eu tinha sete anos de idade quando eu fui atropelado por uma bicicleta numa rua asfaltada, então, assim, eu peguei já a coisas mais tranquila, sossegada, não peguei sufoco, eu peguei a parte boa já. E com isso tudo, sendo criado por quatro irmãs mais minha mãe, cinco mulheres, então ou eu virava gay ou entendia bem de mulher, não tinha muita opção, eu preferi entender bem de mulheres, que é um pouco do que eu faço, isso, eu entendo mais as mulheres, tenho mais sensibilidade pra esse lado, entender a mulher. Tanto que eu tive dois casamentos, claro que não ia durar pra sempre, como se diz, nada dura, mas durou 16 anos, 17, 18 anos o primeiro e 16 anos o segundo, que eu terminei há um ano. Então esse relacionamento eu devo às minhas irmãs, porque é uma completamente diferente da outra, são personalidades diferentes, minha mãe, que é uma pessoa super evoluída, e meu pai, ele foi o outro peso da balança, porque, como ele não teve pai atuante, ele não aprendeu o que é ser pai, porque ele perdeu o dele aos oito anos. Como é que ele podia aprender o que era ser pai? Então ele foi muito rígido e isso é que deu um peso da balança muito bom pra mim, eu tenho uma visão muito boa da humanidade, do mundo, das pessoas, eu sou bem ponderado nesse sentido, de entender bem as pessoas. Então, correndo pra esse lado, as minhas irmãs são completamente diferentes e eu consegui aprender muito com isso, mulher pra ensinar não tem coisa melhor, quando ela quer, né, vocês sabem disso, quando não quer tira.
P/1 – Eu queria voltar um pouquinho. Como é que era o seu pai?
R – Em termos de pai era muito...
P/1 – Como ele era com você, a personalidade?
R – Comigo era ótimo, mas era rígido e foi o que me ajudou, porque ele era uma pessoa rotineira, ele era o rei de um reinado que tinham cinco mulheres e eu cheguei depois de dez anos da última, a minha irmã mais nova Carmem, ela tem dez anos na minha frente, tirei o reinado dela, porque ela era toda paparicada, e tirei do meu pai, que ele era o homem da família. Então ele era rígido, mas maravilhoso, assim, era o pai que eu desejava mesmo, não poderia ter sido melhor pra mim, dentro das normas da época, trabalhador, lutador, bebia muito pouco. Meu pai era um cara que ganhava o salário, ia lá no bar, tomava uma dúzia de cerveja e pronto, sozinho, sem ninguém, voltava pra casa, ele não ia ficar todo dia bebendo, então ele fazia essa história dele. Era um pai maravilhoso pras minhas irmãs, todas elas adoram, adoravam ele, faleceu em 99, e pra minha mãe excelente, eu acho que inclusive ele amava muito a minha mãe, nem sei se ela amava tanto ele, mas ele amava muito ela, era uma coisa assim, bem... Eu sou um privilegiado em muitos sentidos, esse é um deles, a minha família foi maravilhosa, minha avó do lado, a minha avó morava ao lado, duas casas depois, teve dez filhos, era uma espanhola raçuda, entendeu? Aprendi muito com ela, mas pouco tempo, porque quando eu percebi ela já tinha ido embora, foi mais ou menos isso.
P/2 – Como que era a sua casa de infância?
R – É a mesma que eu moro hoje, por incrível que pareça, eu sou uma das poucas pessoas, eu tenho 62 anos hoje, que moro na mesma casa que nasci e fui criado, eu lembro da reforma dela e eu moro no mesmo quarto, foi reformado. Uma coisa incrível como a vida dá voltas, por isso que eu te falo assim, é privilégio da minha parte, porque nasci, a casa já existia, eles começaram comprando um terreno, minha família começou comprando um terreno, fez uma primeira casinha lá no fundo, aí ele colocou a família, foi nascendo filho, aí botou uma segunda casinha, alugou a outra, aí fez uma casa, um sobrado bom. Era o primeiro sobrado na rua, não existia sobrado, não existia quase que sobrado em São Paulo, principalmente na região mais simples que era a nossa, sobrado é estrutura diferente, não existia isso, não existia esse concreto que se faz hoje, é totalmente diferente a história, foi o primeiro sobrado com planta, que eu tenho a planta desse sobrado e tudo isso. E aí eu, quando eu fui morar, já fui morar na frente, quando eu nasci já morei nesse sobrado, quer dizer, a parte difícil da minha família já tinha sido passada, de luta, enfim, sacrifício, mas eu entendi muito bem essa luta e sacrifício, porque aos nove anos de idade eu ia pra feira fazer carreto, juntava jornal, garrafa, nem precisava, mas meus amigos faziam, eu fazia junto. Por que eu ia ser diferente? Então jornal e vendia garrafa pra ter um dinheirinho pra ir no cinema, que era o Cine Colonial que existia na época e tal, ia pra igreja pra ganhar os cartõezinhos, era uma chantagem que a igreja fazia, a Igreja de Santa Terezinha lá, maravilhosa, linda, mas só que tinha chantagem. Você vai na missa e ganha o cartãozinho, junta esse cartãozinho e no final do ano você ganha um belo de um presente, era uma bola, era um presente bom mesmo, então a gente ia e ganhava, eu ia com os amigos e ganhava, até uns oito, nove anos, quando eu descobri e pensei: “Isso é chantagem” e parei de ir, meus amigos continuaram, mas eu parei de ir, coisas desse tipo na época existiam. Era uma chácara dos padres, hoje onde é o Salesiano, uma estrutura enorme, era uma chácara com vários campos de futebol, passava um rio. Meus cunhados, porque quando eu nasci, a minha irmã mais velha, Maria Ramona, Nena, ela já namorava o meu cunhado, por incrível que pareça, ela já namorava o meu cunhado, e aí aquelas histórias, pra época, a minha mãe com uma criança pequena, minha irmã com um namorado, já grande, o filho era dela, aquelas histórias. Então era cômico até, porque minha mãe tinha mais de 40 anos, não esperava mais filho e pra época era mais complicado do que hoje, eu nasci grande, eu já nasci bem grande, eu tinha pra mais de cinco quilos, mas bem grandão. Então a história, ela vai se juntando, então esse Salesiano é onde a gente se reunia, a minha irmã conheceu esse meu cunhado próximo do Salesiano, onde eu tirei aquela foto que eu cheguei a te mostrar, que deve aparecer na minha história, foi no Santa Terezinha. Nessa Santa Terezinha, que é do fotógrafo, existia foto desse meu cunhado, que alguém mostrou pra ela, uma amiga dela: “Esse daqui está interessado em você”, aí aproximaram e ele é meu cunhado hoje e eu como pizza na casa dele todo sábado à noite e ele não lembra de nada, porque ele tem Alzheimer, que é a doença, pra mim, do século, ô doença ruim.
P/1 – Edson, o que mais você gostava de fazer na infância, na sua rua ou no bairro, onde você ia?
R – Então, uma infância assim.
P/2 – Quais eram as brincadeiras?
R – Eram todas que tinha de bom, porque bola, o principal, a gente sempre teve dois campinhos próximos de nós, então bola, na época de balão tinha os balões que a gente fazia, fogueira, taco, carrinho de rolimã quando veio o asfalto, porque uma época não tinha, depois veio o asfalto, então ia no carrinho de rolimã. A juventude daquela, a criançada daquela época era uma loucura, era uma diversão total, era outra história e a gente não tinha virtual, não existia virtual, existia você sair e se divertir, não tinha outro jeito. E ali era uma região em que todos se conheciam, a minha avó teve dez filhos, então vocês imaginam, todos morando próximos.
P/1 – Primos.
R – Trinta e cinco primos, hoje eles estão casados, já dobra, 70, mas na época 35, mais os amigos e tudo, então saía pra ir ao campinho, se você fizesse qualquer coisa errada, a sua mãe ficava sabendo antes de você chegar em casa, porque todo mundo se conhecia e as famílias protegiam. Então a minha tia me protegia, a minha vizinha me protegia, a Guiomar, que era mãe do Sérgio, da Rosana e do Beto, ela me protegia se ela me via fazendo alguma coisa errada, porque era todo mundo protegendo as crianças, então a gente tinha o mundo fora, mas total proteção, não fugia à regra. Então as brincadeiras era carrinho de rolimã, a gente apanhava, tem um certo barranco lá, que a gente apanhava casca do coco, fazia dele canoa, fazia um canalzinho no barranco de dez metros e soltava ali e, quando a gente não gostava muito do garoto, a gente colocava água, despeja um copinho de água, porque ele ia direto pra dentro do rio mesmo. Então funcionava assim, a gente inventava, criava passarinho, criava cavalo, criava, eu criei pomba, macaco, tive tudo o que você pode imaginar.
P/2 – Macaco?
R – Macaco, a gente conseguia sagui, o meu cunhado, ele faleceu também, as pessoas vão morrendo, eu não sei porque, mas elas morrem, aliás, sem avisar e sem fazer curso nenhum, é um absurdo isso, a gente vai questionar isso depois. Esse meu cunhado, ele conseguiu, ele era, Edson Flosi, ele faleceu o ano passado, ele era jornalista e muito doido e professor também da Cásper Líbero, e na época, eu não sei como, ele conseguiu um macaco, não era saguizinho, não, era um macaco. A gente não conseguiu ficar com o macaco muito tempo pelo cheiro do animal, o cheiro do animal é horrível, você não pode dar banho num macaco como você dá banho num cachorro, então aí foi embora, mas a gente chegou a ter um macaco durante uns três, quatro meses, ele se desfez, deve ter entregado pra algum zoológico eu não sei como. Ele fazia muita matéria, reportagem, trabalhava na Folha de São Paulo, e numa dessas eu acredito que ele deve ter conseguido esse macaco, eu não sei de que jeito. Mas macaquinho, sagui, pomba, pomba gigante, que nem se vê mais, tem pomba desse tamanho, muito grande, pomba de topete, de todos os tipos você vê, mas a pomba grande eu nunca mais vi, ela é um, parece um pavão, muito grande, coelho, porque a minha casa tem 400 metros, são três casas, eu tenho 60 metros de fundo no terreno. Eu moro na mesma casa hoje, hoje eu colho ainda lá lima da pérsia, eu tenho goiaba, eu tenho amora, eu não plantei nada disso, elas nascem, eu faço questão de deixar elas nascerem assim, de onde vem, você encontra, então eu tenho uma pequena floresta dentro de casa, mato, mas tudo com cimento, é tudo cimentado, elas nascem sozinhas, a natureza, ela busca a vida e ela consegue achar a vida.
P/1 – Esse macaco você teve por quatro meses, é isso?
R – É, o macaco grande quem teve foi meu cunhado, uns três, quatro meses ficou com a gente.
P/1 – Ficou na sua casa?
R – É porque são três casas, tem um sobradão na frente, minha irmã nessa época morava na última casa, minha irmã Nancy morava na última casa e ele apareceu com esse macaco.
P/1 – Vocês deram nome pra ele? Ele brincava?
R – Não lembro, não, mas devia ser Chico, meu apelido, que era naquela época, que sou Francisco, deveria ser Chico, alguma coisa assim. Mas ficou muito pouco tempo, mas o cheiro do animal eu acho que é até uma defesa animal, o cheiro não deixa ele conviver com o ser humano, é muito complicado, é igual qualquer animal que está no mato, o cheiro dele, ele espanta, glândulas, não é cheiro de sujeira, é glândulas mesmo que ele tem que expande esse cheiro pra o ambiente, a gente não conseguiu ficar muito tempo, não.
P/1 – Edson, você tem alguma história marcante desse período de infância?
R – São, todas as histórias nossas são muito gostosas e divertidas, né? Eu tenho um amigo que é amigo até hoje, ele me enche bastante porque eu sou petista e ele é contra o PT, ele não é, é que nem, petista e corintiano, eu sou os dois, então você não tem pessoas que tem lógica, elas são contra o Corinthians, não importa, é contra o PT, não importa, não importa porquê. Ele brincando num riozinho, que existe até hoje, numa ponte em frente à minha casa, tem o riozinho e tem, só que o rio não é limpo, naquela época era menos ainda, hoje é até mais limpo, ele, na época de calor, ele, todas as casas despejavam os seus dejetos naquele rio, então você imagina. A gente estava na ponte e ele com um bambu medindo a profundidade, que era, a profundidade no máximo era isso aqui, ele ficava medindo, medindo, medindo, e o bambu quebrou, ou madeira, sei lá, e ele foi e estatelou, mas ele ficou cheio de fezes de ponta a ponta, a gente não sabia se ria ou se socorria, se fazia o que, ele, pum, pum, pum, correu pra casa pra tomar banho, por sorte a mãe dele não estava, e a gente atrás. Porque nós éramos 20 homens, nós fomos criados em 20 homens, especifica, 20, 20, desde que nasceu até 30 anos, pra vocês terem uma ideia. E aí, chegando na casa dele, que era ao lado da casa da minha avó, tudo perto, foi tomar o banho, aí, quando ele virou o chuveiro, ele ficou preso no chuveiro, porque dava choque e ele esqueceu e ele ficou preso, a gente conseguiu puxar ele e ele estremecendo, aí, quando ele tava tomando banho, chegou a mãe dele (risos), ele tomou uma surra, porque tinha caído no rio, porque tinha esquecido do chuveiro, porque tava cheirando que ninguém aguentava. Até hoje essa história é maravilhosa pra gente, porque só quem passou é que lembra, mas é muito divertido, umas bobagenzinhas nossas, coisas desse tipo de infância. Depois não, depois a gente pegou a libertação da mulher, a gente levou essa vantagem também, os últimos 60 anos foram os anos, pra mim mais evoluídos da humanidade, quem passou pelos últimos 60 anos é inacreditável o que viu, viu o que a humanidade, com os seus milhões de anos, não conseguiu ver, desde do telefone, que você ficava de baterite. O meu primeiro telefone, no meu trabalho, era assim pra conseguir linha, era um pretão, com um cabo, pra conseguir linha, hoje eu puxo o celular, tenho três chips, quer dizer, tenho três linhas de telefone no meu celular, então quem passou por essa, uma loucura. Nós pegamos a libertação da mulher e aí eram esses 20 homens com carro, porque a gente tinha carro na época, e paquerando, então tinha que travar as portas pras meninas não entrarem, porque todas as meninas queriam sair, porque era isso mesmo, a história era essa, era bom demais, então nós pegamos essa faixa toda e pegamos a conscientização da mulher, a liberdade dela.
P/2 – Vamos voltar um pouquinho. Como que era na sua casa as festas, comemoravam as festas?
R – São João, por exemplo, tinha na casa da minha avó, então eram esses 30 primos e mais a vizinhança e faziam-se as fogueiras e se comemorava com bingo, com tudo o que você pode imaginar, pipoca, tudo o que você imagina tem, balões que a gente fazia na época e tudo isso, então era muito divertido, era mesmo família, muita gente, a casa da minha avó era muito cheia, muito cheia, espanhola, raçuda e gostava de festa, então fazia.
P/2 – E natal?
R – A mesma coisa, no natal a gente ia lá, beijava, a tradição era ir lá, beijar os pais, os avós em casa e a gente fazia na nossa casa, tinha árvore de natal, meu pai nunca deixou de colocar árvore de natal, e era natural na época, se usava, você sentia o perfume do natal, tudo enfeitado, com os presentes embaixo. Era um sonho, era uma mordomia, porque eu já cheguei numa fase melhor, meu pai já estava mais bem encaixado, minhas irmãs já trabalhavam, ajudavam em casa, era sem tristeza. Minhas irmãs chegavam com o salário e entregavam totalmente pros meus pais, ninguém ficava com o salário, eles é que davam dinheiro pra elas irem trabalhar e almoçar e comprar as roupas, era assim que funcionava e muito bem, por sinal. Naquele Bairro dos Pelados, que minha mãe falava, os vizinhos falavam, hoje vale uma fortuna, mas com a luta de todos, só eu que cheguei pra aproveitar, mas as minhas irmãs lutaram muito, trabalharam muito.
P/1 – Quem são suas irmãs, o que elas faziam nessa época?
R – A primeira é Maria Ramona, que é a Nena, ela, essa foi a que já namorava o meu cunhado quando eu nasci, então namorou, namorou e casou e foi indo, foi tendo os filhos, eu já tenho sobrinhos com boa idade, sobrinhos-netos eu tenho 12 já, tenho 12 sobrinhos normais e 12 sobrinhos-netos. Então essa minha irmã, ela, eu acho, assim, cada uma das minhas irmãs tem o seu perfil, elas são personalidades completamente diferentes, completamente diferentes, mas essa, no caso, o que eu percebo, é a que mais se identificava com o meu pai, a minha mãe se identificava mais comigo, então a gente, sabe, essas noções todas. Ela, gostando muito de família, sempre foi muito família, ela é que trabalhava na Caixa Econômica Federal na época, de Santana, aí ela conseguiu uma situação acho que no Matarazzo e aí foi quando ela levou o meu pai pra lá, a coisa, mais ou menos essa história, não sei se é isso ou é o inverso, é mais ou menos por aí. Aí o meu pai foi e ele se encaixou muito bem lá no Matarazzo, ele trabalhava diretamente com o Conde Matarazzo, é como se fosse um assessor, tudo o que precisava, uma secretária, na época se usava muito o secretário, então ajudava muito, o meu pai foi muito feliz naquela época, tudo por causa dessa Maria Ramona. E aí ela levou a Nancy também, que é depois dela, depois foi a Alice, a Carmem, a mais nova, não chegou a trabalhar, foi levando e foram se adaptando e aí todos tiveram um grande esteio do Matarazzo. Aí elas foram casando e todas elas casaram e não trabalharam, pararam de trabalhar, na época era muito isso, começava a cuidar só dos filhos, entendeu, a mais nova é que, depois dos filhos crescidos, é que começou a trabalhar, trabalhou no Hospital do Mandaqui e tal, a Carmem, as outras não, as outras pararam e criaram os filhos, graças a Deus muito bem. Eu tenho vários sobrinhos formados por USP e tudo isso, então elas fizeram a parte delas, e o interessante é que dessas minhas quatro irmãs, os primeiros dois filhos delas sempre foram casais, só o terceiro é que definia o que seria, mas os primeiros, a primeira teve um casal, todas foram casais, é uma coisa que a gente não entendeu muito, mas é uma sequência legal.
P/2 – Política se discutia na sua casa?
R – Não, não me lembro, não, a minha mãe, ela tinha uma conscientização muito do que era real, a política da época era uma política diferente da de hoje, então a gente tinha pessoas que, tinha um comitê do lado da nossa casa pra certos partidos, né? Em 64 teve o golpe, eu nasci em 53, então eu tinha 11 anos, não entendia nada, praticamente nada, entendia que não podia fazer nada dali pra frente, eu, com 11 anos, fiquei esperando a banda passar, porque não tive aprendizado nenhum, o meu pai operário, minha mãe tinha parado de trabalhar. Então a política que a gente tinha era dos politiqueiros, que é igual a hoje, eles vêm fazer a história na sua casa na época da eleição, não muda nada.
P/2 – Mas tinha, ia gente na sua casa?
R – Chegava a ter comitê, próximo da eleição chegava a abrir comitê de partido, vamos dizer, Arena, na época tinha Arena e MDB, do lado de casa, aí era o deputado tal, fazia aquele, aí o povo trouxa, que não sabia de nada, não tinha informação, ia lá e votava, colocava o cara, colocava os Adhemar de Barros da vida no governo, que roubou aí à vontade, e vários outros.
P/2 – Mas o seu pai não comentava na sua casa, como se vivia isso?
R – Não, não tinha essa abertura, a gente não conversava muito de política, não.
P/2 – E religião?
R – Religião sim, mais. Política, por exemplo, nós temos um clube que chama Pinheiral, foi fundado em 52, um ano antes de eu nascer, pelo meu tio e mais vários moradores, ele é colado ao Hospital do Mandaqui, ele existe até hoje e muito bem, naquela época você usava um político: “Olha, eu preciso passar uma máquina”, então era troca de favores, era assim que funcionava a população, do mesmo jeito que é hoje, do mesmo jeito. Hoje, o que eu quero dizer é que é o povo mais simples, porque hoje você tem uma internet, você pesquisa, o povo tem mais aculturado, ele busca, ele briga, ele luta, ele faz de outra forma, mas o povo mais simples é do mesmo jeitinho, o político vai lá naquela região dele, promete um monte de coisas, consegue duas coisinhas e pronto, ele ganha o voto daquela região, ou não, hoje o cara fala que vai votar e não vota, naquela época falava que ia votar e votava mesmo. Então isso era política, era muito pouco difundida e eram dois partidos só, Arena e PMDB, você não tinha muita situação, e depois, com o militarismo, foi tudo embora, antes do militarismo, em 64 eu tinha 11 anos, depois que vieram os partidos, mas dois partidos que um era o próprio governo militar, o outro era a oposição que o próprio governo militar tinha colocado, então para, né? Então tudo a gente não sabia, a gente está aprendendo o que é política agora, como todo jovem está aprendendo, por isso que a gente fica tudo confuso, não sabe como cobrar.
P/2 – E religião, como é que era? Já que o seu pai tinha sido...
R – O meu pai era ateu, completamente ateu, acho que inclusive porque a mãe dele era tão católica.
P/2 – E ele chegou a fazer seminário.
R – Fez, estudou em colégio de padre.
P/2 – E ele era ateu.
R – Completamente, não queria nem essa história perto dele, porque ele, no caso dele, no entender dele a religião tirou ele de perto da mãe dele, pra ele era lógico e é verdade, então ele não queria saber, não. A minha avó não, ela continuou católica, a mãe dele, até morrer, morreu, não morreu, ela morreu num asilo, mas ela ficou muito tempo na nossa casa, ela ouvia naquele rádio de válvula, que eu tenho até hoje, a missa das seis, ela sabia da Bíblia mais do que padre. Os padres iam lá pra conversar com ela, porque ela tinha ajudado muito a igreja, muito, muito, muito a igreja, foi indo muito, e eles vinham conversar, ela dava aula pra eles, mesmo cega, ela tinha um conhecimento muito forte do que era a igreja. E o meu pai completamente neutro, não tinha, mas a vantagem: ele me dava liberdade, e minha mãe era racionalista cristã, é espiritismo, mas com relação a Cristo, é muito, na barriga dela eu já ia pra lá, pra esse racionalismo cristão. Depois que eu tive 16, 17, 18 anos, eu fui ver o que era religião, aí fui budista, fui em umbanda, eu conheci tudo o que podia, acabei voltando pro racionalismo, na realidade Deus é uma coisa só, você pode interpretar ele, na minha opinião, de várias formas, de várias maneiras, mas é uma coisa só. É como eu te disse há pouco, quem sabe eu não chego lá e minha avó está lá no inferno ou no céu, fala: “E agora? Estou no purgatório”.
P/2 – Mas a sua mãe falava o que pra vocês, como é que ela passava esse ensinamento?
R – A minha mãe, ela me levava, por exemplo, né?
P/1 – Era em Santana mesmo?
R – É em Santana mesmo, do lado da Estação Santana do metrô tem uma grande igreja. Lá é assim, esse racionalismo cristão, você nunca dá um tostão, você não dá dinheiro nenhum, nunca coloca dinheiro, eles têm uma estrutura que eles se sustentam, o fundador do racionalismo, ele deixou uma grana e essa grana vai multiplicando, não precisa dar dinheiro nenhum. Eles estão lá pra ajudar e pra tentar colocar racionalismo na cabeça das pessoas, a minha base é essa, quer dizer, se você faz o bem, você vai receber o bem, se você faz o mal, você vai receber mal, são as correntes que você se liga, então vai receber de acordo com o que você tá fazendo. Então pra mim ajuda, quando eu vou pra lá, me limpa, eu me sinto limpo, eu não preciso de milagre nenhum, eu não precise que nenhum dos que estão do outro lado me ajudem, nada disso, eu preciso só ter o meu caminho limpo, não posso ter, ser atrapalhado, e isso existe, existe o negativismo.
P/2 – Mas e lá na época, como é que você ia, como é que isso se manifestava? A sua mãe conversava com vocês?
R – Ela me levava, eu ia na barriga dela já, depois ela ia, eu acompanhava, no início eu não gostava, porque era um pouco escuro, tanto que hoje é mais claro, pra criança aquilo não era um ambiente bom, escuro, mas é uma mesa fechada, ninguém baixa santo, ninguém, são as pessoas conversando, é só através de diálogo. Então o espírito, ele vem, ele toma uma pessoa e essa pessoa fala o que o espírito está querendo dizer, normalmente tiram da própria plateia, então uma pessoa que acabou de, um exemplo, pra quem é do ramo, não sei.
P/2 – Conta um que você viveu quando você era pequeno, que você viu, que você lembra.
R – Eu vi da minha irmã, Alice, essa que faleceu, isso não foi na igreja, mas foi na praia, ela começou a passar mal, passar mal, passar mal e esse passar mal, já estava indo embora, estava indo embora, a gente não sabe se foi camarão, o que é que foi, eu sei que ela estava indo embora. E aí começou a minha mãe a irradiar, irradiar nada mais é do que você rezar e pedir apoio pra tirar o que tem perto de você e te leva, irradiou, irradiou, eu lembro da irradiação até hoje, e aí de repente a minha irmã voltou, então com certeza ela estava do lado lá e foi buscar e trouxe pra cá. Então isso eu acredito que exista, eu acredito que exista tanta coisa que a gente não sabe, tanta coisa que a gente vai saber depois, mas que já se sabia. Eu vou tentar me explicar, você faz um caminho que não era o que você queria: “Poxa, mas não era por aqui”, e depois você entende porque que você está ali: “Ah, então é por isso”, isso eu acho que acontece pra todo mundo: “Ah, agora entendi”. Então, se você não tinha entendido e estava contra e de repente você entendeu, é porque já estava determinado que você ia passar por ali, então esse lutar contra que o humano faz é muito relativo, pega os sinais, fica esperto, vê o que está a sua volta, isso a experiência te traz e o racionalismo me ajudou muito nisso.
P/2 – E na escola, com quantos anos você entrou?
R – Sete anos, Grupo Escolar Frontino Guimarães, que é o próximo de casa, que existe até hoje, que todos os meus 20 amigos que moravam na região iam, então primário normal, a escola normal. Na minha época eu acho que já estava menino com menina, teve uma época no Brasil que as classes só tinham menino e outras classes só menina, não era junto, não tinha misto, ah, quem sabe, vai ter sexo aos sete anos, hoje faz, naquela época não fazia, mas então era separado e depois começou, virou misto.
P/2 – Mas na sua época foi junto?
R – Na minha já foi junto.
P/2 – Você lembra de alguma professora que tenha te marcado?
R – Não lembro, não, eu sei que, eu tenho uma memória geral, eu não tenho uma memória fixa, eu lembro, eu estudei no Colégio Salete quando eu fiz o ginásio, o ginásio foi no Colégio Salete, eu lembro de um professor de Português, que ele era maravilhoso, eu não lembro o nome dele, é o Peru que fala, que é do Silvio Santos, porque ele era um professor muito bom de Português, mas que só que, se você constrangesse ele de alguma forma, ele fica vermelho, mas vermelho, vermelho, igual eu fico às vezes e acho que todo mundo, e isso fazia a gente rir muito. Mas ele era um professor de muita paz, de muita calma, a um ponto de que um dia nós fizemos uma macumba pra ele, na mesa dele, no dia do professor, e ele não percebeu, porque um chegou com presente de dia dos professores, um chegou com a vela, o outro chegou com não sei o que, nós tínhamos armado uma macumba pra ele, com certeza a gente tinha. Só que as classes na época, eu não sei hoje, tem um vidro na janela, aí o diretor passou e viu a macumba em cima da mesa e ele todo feliz que ele tinha ganhado um monte de presente (risos), mas era brincadeira, porque ele era um excelente professor, e aí todo mundo recebeu suspensão, a classe inteira, de três dias, foi muito divertido. Naquela época, nessa escola, que era o Salete, eu deveria ter, sei lá, uns 13, 14 anos, era a época que se brigava, mas se brigava de soco, que era uma delícia, você dava porrada e tomava porrada, que bater só não tem graça, gostoso é apanhar também, pra ver que você... E tinha dois amigos, que eram amigos, e eles se encrespavam pelo menos uma vez por semana, aí eles já se encrespavam na sala de aula e já marcavam pro banheiro, então a gente já ia se divertir no banheiro, mas eles iam pro banheiro, vocês não acreditam, era, que MM, como é que chama aí, de luta? Nossa, passa longe, não, passa longe, mas eles se arrebentavam, saiam os dois sangrando e abraçados, assim, coisa a esse nível. Então, assim, naquela época, e eram amigos, não tinha problema nem coisa, a gente brigava, mas era de mão, era uma situação diferente, hoje mudou tudo isso, né? E eu tinha aos 12 anos de idade uma espingarda cartucheira de 32, calibre 32, era um cartucho desse tamanho que a gente fazia em casa, o cartucho, socava e tal, um tiro dele fazia um estrago que vocês não têm ideia, e eu tinha ganho. Como? Porque meu pai me ensinava a montar e desmontar, eu era expert nisso, pegava o revólver dele, desmontava, e todos os garotos faziam a mesma coisa. Então pra nós não era brinquedo aquilo, era uma coisa séria, a gente já estava passando a ser homem, mais ou menos você está passando a ser homem, é uma responsabilidade. Então a gente tinha essas diferenças, que hoje ficou um pouco perdido, mas está tudo certo, não tem nada errado, o mundo é melhor hoje do que era na minha época.
P/2 – Do que você mais gostava na escola?
R – De brincar, menos de estudar, estudar nunca é bom, a gente estuda porque tem que estudar, mas tem tanta coisa melhor pra fazer do que estudar, não tem, mulher é diferente, mas o homem, ele gosta de brincar, a gente brincava muito, mas eu gostava de sair da escola, porque aí a gente ia roubar litro de leite, fazia essas coisas todas. Antigamente o leite era em vidro e leiteiro deixava na porta da casa, que beleza, a gente furava, porque era uma tampinha de alumínio bem levezinha, você furava um pouquinho, tomava um pouco ou tomava todo e deixava lá tudo direitinho e os pais ficavam doidos, porque sabiam que era a gente que passava, assim a gente ia se divertindo. A minha infância foi incrível, levo mais 60 anos pra contar da minha infância, foi muito boa, muito, eu e meus amigos, nossa!
P/1 – Quem são esses 20 amigos?
R – Então, você vê, dez, primo 35, que a maioria morava ali, mas quando eu falo amigo, é assim, é da mesma idade, da mesma faixa de idade, de diferença de três, quatro anos, então eu tinha 17, um tinha 18, 19, o outro tinha 16, e todos juntos, nós, primos, quatro, cinco, assim, do lado, é tudo vizinho, esses 20 amigos que morava na região, iam jogar bola juntos, estudavam na mesma escola junto, iam pro cinema junto, iam catar revista, jornal, garrafa velha, tal, pra vender, juntos, todos juntos, e a gente foi crescendo junto, entendeu? O único ponto é assim, a maioria, depois não sei, não se chegava ao término de uma faculdade, você ia até um ponto, depois parava, porque o trabalho começava a envolver você, ganhava dinheiro de outro jeito, a maioria ganhou dinheiro sem, então hoje não estudam, hoje não se consegue mais isso, hoje você tem que estudar. Então, assim, nós começamos no primário junto, quando já deu ginásio, eu já era um pouco mais fresco, aí fui estudar no Colégio Salete, hoje não existe mais, que era um bom colégio na época, mas não quer dizer que tinha mais qualidade do que o Cedom, que era do estado, que era muito melhor. Pra entrar no Cedom você fazia praticamente, um colégio do estado, um tipo de um vestibular, senão você não entrava naquele colégio naquela época, com piscina semiolímpica, tudo o que você imagina, um excelente colégio, hoje está degradado, está lá o colégio, existe, a piscina está criando dengue, a diretora disse que não, que ela joga cloro, mas não se usa, então a estrutura é a mesma, o que falta é a administração, que não está boa nesse sentido. Naquela época era melhor, porém, naquela época você não chegava facilmente à faculdade e hoje você chega facilmente à faculdade, então não sei.
P/1 – Na época do Salete, você já tinha alguma coisa que você pensava em fazer já?
R – Não, eu não tinha a mínima noção de nada, porque era diferente de hoje, quando eu prestei vestibular, eu prestei primeiro pra Economia na Santana, pra Administração na FMU, eu prestei pra Engenharia em São José dos Campos e mais uma, Direito em algum lugar que eu não lembro, então não tinha a mínima noção, fui dar tiro pra onde nem sabia o que era. Aí eu tive que fazer dois anos de Economia na Santana pra descobrir que não era nada daquilo que eu gostava, nada, nada a ver, não tinha nada a ver, minhas notas de zero a dez era dois, três, quatro, quatro era maravilhoso, dois anos, eu sou persistente. Aí nisso esse meu cunhado que é Edson Flosi, ele abriu uma agência de propaganda, eu trabalhava com ele, eu comecei a trabalhar com 16 anos, fazendo inscrição pra Madureza, que hoje é supletivo, nem sei como é que está essa história aí. A gente pegava o público e levava pra fazer exame fora de São Paulo, normalmente cidade do interior, outros estados e tudo, e eu ganhava muita grana fazendo isso e também estudava muito, porque tinha muita apostila. Aí eu fui à Blumenau e antes de terminar o segundo grau, que seria hoje, eu prestei dez matérias lá e passei nas dez, porque eu estudava muito, tinha facilidade, então entrei na faculdade de Economia com 17 anos, ia completar 18 em fevereiro, sou de 7 de fevereiro, em Santana, na Faculdade Santana, e fiz dois anos, mas um lixo. Aí meu cunhado, nesse tempo, fechou a Madureza e abriu uma agência de propaganda, que ele trabalhava na Editora Abril, alguma coisa assim, com a Folha de São Paulo, ligação, aí eu fui trabalhar com ele. Aí eu descobri que o meu negócio era propaganda, nossa, aí era o meu negócio mesmo, aí passei pra Faculdade Anhembi, que na época não era Anhembi Morumbi, só Anhembi.
P/1 – Voltando um pouquinho, o que você fez com o seu primeiro salário, você lembra?
R – Eu não lembro, não, mas eu gastei.
P/1 – Gastava com o que, o que você fazia?
R – Eu gastava, eu sempre gosto de viajar, então, por exemplo, a gente fazia muito isso, 16 anos, 17 anos, eu aprendi a dirigir com nove anos de idade, com nove, eu aprendi muito bem, porque a minha mãe foi ter aula de volante e eu estava no banco de trás, meu pai foi ter aula de volante, eu estava no banco de trás, a minha irmã, Carmem, foi ter aula de volante, eu não banco de trás, aí um dia eu peguei o carro e saí dirigindo, lógico, assim, né? Então eu pegava, com nove anos, eu pegava o carro, dava uma lavada: “Pai, lavei, mas está tudo sujo lá, porque encheu de barro”, a gente ia pra chácara, tal, voltava, aí: “Tira o carro”, eu tirava um pouquinho, aí na outra lavada um pouquinho mais, aí já estava dando a volta no quarteirão e com dez anos já dirigia na estrada, ele já tinha confiança, eu sempre fui alto, né, eu tenho um metro e 92, eu já dirigia na Fernão Dias pra ir pra chácara. Então carro é a minha paixão, então nesse lance, quando deu 17 anos, eu não me lembro bem, mas eu acho que eu me emancipei por alguma outra razão e acabei tirando carta mais cedo, 17 pra 18. Naquela época você tirava carta de forma diferente, eu peguei o fusca da minha irmã, Nancy, que era um fusca bordô, a gente comprava uma faixa escrito: “Autoescola”, colocava nele e ela saía comigo, mas eu já sabia dirigir muito bem. Mas aí ia prestar exame, na época, como se fosse hoje, pagava quatro fichas lá, quatro taxas de dez reais cada uma, 40 reais, entrava no Detran, ia lá com o carro da minha irmãzinha, o fusquinha dela e tal, fazia, fazia baliza, tirou a carta, era desse jeito, entendeu? Então eu tinha muita facilidade, então com certeza todo o meu dinheiro era pra carro, já pegava o carro do meu pai, o meu pai estava ficando cego, não esquece que ele teve glaucoma, ele foi ficando cego, então a gente, quando ia pra Atibaia, isso eu tinha nove, dez anos, 11 anos, o meu pai comprou a chácara em Atibaia eu tinha nove anos de idade. Então a gente ia pra lá e tinha o túnel da Fernão Dias, que era único, a viagem podia levar, daqui pra Atibaia, de uma hora e meia a oito horas, daqui a Atibaia, depende de como estava o tráfego, pista única, um túnel. E quando a gente entrava no túnel, o túnel é em curva: “Pai, você está enxergando?”, “Nada”, aí tinha que alguém catar o volante, porque ele simplesmente deixava a gente entrar no túnel e todo mundo já sabia, a Família Buscapé, imagina, se nós éramos em cinco irmãos, mais a mãe e pai e alguns, sei lá, alguém sempre estava junto, primo, alguma coisa assim.
P/1 – No mesmo carro.
R – Era uma DKW Vemag alemã, esticada, nossa, aquilo pegava fogo, rapaz, você não acredita, qualquer coisa pegava fogo e ia toda a Família Buscapé. Quando furava um pneu, você tinha que tirar toda a mala, que era tudo embaixo, mala, biscoito, pão, tudo o que tivesse tinha que tirar, arrancar tudo pra trocar, então era uma viagem, tudo isso era maravilhoso.
P/1 – Vocês iam muito pra Atibaia então?
R – É, tinha a chácara, tinha comprado o terreno, depois ele mandou construir a casa lá e aí a gente, nossa, chegamos a ir pra Atibaia de trem, pra vocês terem uma ideia, se tivesse mantido, seria uma maravilha. E aí tudo isso está na minha memória, uma delícia de vida, como reclama da vida, nossa, e eu dirigia, ele deixava eu dirigir na estrada, nossa, aquelas DKW louca, e aí a gente foi. Então o meu primeiro salário, no caso, foi bem gasto, você pode ter certeza, como todos eles até hoje, isso sempre foi bem gasto.
P/1 – Você saía muito e andava de carro, o que você fazia na juventude pra se divertir?
R – Ah, o quente era carro, nossa, eu e a turma, carro, então, assim que o meu pai foi perdendo a visão, eu fui tomando o carro dele, claro. Ia deixar ele correr risco? Imagina, imagina, não podia correr risco, aí fui pegando o carro, fui trocando, aí quando eu fiz 18 era uma Aerowillys, quatro portas, que a gente chamava de ambulância, porque só andava bêbado dentro dele e era branca. E a gente bebia, era incrível, mas a gente era mais consciente do que hoje, mas naquela época bebida não tinha a influência que tem hoje, a quantidade de carros era muito menor, o risco era muito menor, acidente, muito pouco na realidade, tiveram alguns, mas muito pouco. Então nessa faixa de idade, nossa, aí é demais, carro, libertação da mulher, dinheiro no bolso, você tinha, porque não é que o dinheiro de riqueza, nada disso, é de trabalho mesmo.
P/2 – Você tinha namorada?
R – Eu tinha algumas, tinha algumas, porque era a libertação das moças, não tinha jeito, não dava pra segurar uma só, minha primeira namorada foi com 18 anos, entendeu, fiquei dois anos e depois aí não quis mais, uma só era muito pouco, aí fui namorando até casar, casei acho que com 27 anos.
P/1 – Como é que vocês faziam pra paquerar na época?
R – Todos os jeitos que a gente, na época, a parte mais tranquila era o carro, você passava com o carro e a moça vinha, é simples assim, não tinha muita complicação, tinha cabelo, eu tenho um metro e 92, barba, tudo o que era da época, carro, até eu me gostava muito, então estava mole. E ainda não pode esquecer-se de uma coisa, eu fui criado por cinco mulheres, tenho a manha, tinha a manha, entendeu? Não tem, não tem essa complicação. O meu filho hoje, com 24 anos, fala: “Eu não acredito, pai, eu não acredito”, porque é diferente, ele fala: “Não, você, pai, é mais focado em mulher, é mais focado, a minha geração não é assim, é diferente”, e é diferente mesmo, tem que ser diferente, que a gente também é excesso, é meio, ficou, é outra época, outro tempo. Hoje os meninos querem namorar, que nem o meu filho, e as meninas não querem namorar, está mais ou menos por esse lado, porque, é claro, elas se libertaram, elas entenderam, elas podem. Por que não? E os meninos não, eles querem, eu fico, não entendo muito isso, eu prefiro não.
P/1 – Vocês iam pra onde? O que vocês gostavam de fazer? Pegavam o carro, o que vocês faziam?
R – Então, existe o Bar do Luís, que é da esquina da minha casa, então eram 20 homens que nasceram juntos, que se criaram juntos e que se reuniam juntos numa quinta-feira, numa sexta-feira e num sábado, no Bar do Luís, que na época ele teve a criação das batidas, então a gente fazia batida e era uma coisa nova, tal, no pedaço, começou na Casa Verde e foi pra lá, eu até fazia batida e ficava nos litros de leite. Tem até hoje lá, você vai lá, você vê os litros de leite Paulista e ele mantém as batidas ali. Então imagina 20 rapazes encostados na esquina e a gente dali ia pro Clube Espéria, pro Clube Tietê, o Tietê, a Prefeitura absorveu o ano passado e transformou num público, ficou ótimo, todo mundo usa, e o Espéria está lá forte, bonitão e é a nata da região que frequenta, um excelente clube. Então nós íamos pra lá pros bailes de sábado, normalmente, e domingo, então o esquema nosso era baile, sempre nos bailes, aí tinha as paqueras.
P/1 – Como é que era o baile?
R – O baile é igual hoje, as baladas de hoje, igual, então, quando surgiu a luz estroboscópica, que falava, os globos, que ficava, é igual, é a mesma bagunça, o baile começa um pouco antes, quando você começa a beber, que aí você já está integrando, lá no Bar do Luís já começava o baile, não tinha jeito. Aí você ficava bebendo: “Ah, hoje tem Espéria, tem não sei aonde, tem aniversário, não sei o que”, aí esses 20 pegavam quatro, cinco carros e iam pros locais e aí de lá se distribuía, voltava no dia seguinte. A gente fazia muito, era, quando dava madrugada, ir pra praia só pra ver o sol nascer, isso de monte que a gente fazia, nossa, era direto, eu principalmente, adoro.
P/1 – Pra onde vocês iam?
R – Normalmente pro litoral sul aqui, Ilha Porchat.
P/1 – Ia direto.
R – Direto, saía direto e ia embora.
P/1 – Pegava o carro e ia embora.
R – Pegava o carro e ia embora e a vantagem que você não tinha pedágio, a gasolina era barata, então você tinha que ter o dinheiro da continuidade da cerveja lá embaixo, ia pra Ilha Porchat e ficava vendo o sol nascer, normalmente acompanhado das meninas que a gente encontrava no baile, os amigos e tudo isso. Então essa era a vida, no domingo você dormia até mais tarde e já programava pra tarde o futebol, batia alguma coisa, jogava bola, tinha o Pinheiral e tudo isso, e domingo à noite também saía, que eram as tradicionais domingueiras da época, nada mais nem menos do que balada. A gente passava as mesmas dificuldades que o jovem de hoje, tinha as mesmas inseguranças que o jovem de hoje, os mesmos problemas, tudo igual, porque não muda, a essência é a mesma do ser humano, só o que muda é o externo, é o celular aqui, é um WhatsApp ali, isso que muda, que naquela época não tinha essa comunicação rápida, mas tinha outras formas.
P/1 – O que vocês ouviam naquela época?
R – Então, a gente teve a vantagem dos Beatles também, porque eles mudaram da água pro vinho, então a calça era larga, hoje eu estou pobre, calça rasgada, mas naquela época você usava uma calça larga, o cabelo grande, nossa. O meu pai me levava e eu cortava reto assim, era, não tinha, eu não escolhia quando eu era garoto, sete, oito, nove, dez, eu não escolhia, eu ia no barbeiro da família e chegava lá, ele raspava e acabou, não tinha história, a história era essa. Aí chega um bando de louco lá, cantando, tocando, rebolando, rebolando, para, rapaz, a gente é duro, não tinha essa, então aí começou a mudança e a gente embarcou nisso, entendeu? Os Beatles era o principal, depois veio muita coisa, música romântica, teve música boa, a gente teve os festivais no Brasil, foram maravilhosos, coisa boa. É isso que eu digo, essa época, nossa, foi preferencial, quem viveu essa época, os festivais da Record eram incríveis.
P/2 – Você chegou a assistir?
R – Não indo lá, porque eu era muito novo, mas assistia todos, tenho eles na memória até hoje, o Jair Rodrigues cantando “Disparada, “Na boiada já fui boi”, nossa, a Elis competindo, uma loucura aquilo lá, não tinha limite pra criatividade, pra competência e pra querer e tudo do bem, tudo do bem, ninguém pensava nada que não fosse do bem, não existia a história que não fosse boa, então a gente vivia bem, assim, tudo, é bem, pra onde você olha só tem coisa boa, maravilhoso, muito maravilhoso, de música, né? E aí você vê que a produção da humanidade estava ali atrás, Rolling Stones até hoje, brincadeira, os caras aí, e aí a gente foi vendo tudo isso e mudando e mudando e mudando, eu não sei se pra pior ou pra melhor, eu acho que melhor sempre é o que tem hoje. Eu não sou saudosista, de acho que aquela vida era maravilhosa, eu quero viver hoje, hoje, se está ruim, vai melhorar.
P/2 – Os seus pais tinham alguma expectativa pra você seguir alguma carreira?
R – Não, não existia isso, a gente que escolhia, porque meus pais não estudaram, eles não tinham, pessoas simples, eles não tinham cultura de banco de escola, então não tinham como orientar, a única coisa que diziam: “Tem que estudar, tem que estudar”, isso era constante.
P/2 – Quando você entrou na faculdade, quem que pagava, você já com o seu salário?
R – Eu pagava, eu já pagava, apesar de que meu pai sempre, quando precisei de qualquer coisa, estava sempre presente, mesmo simples e tudo isso, ele fazia questão de bancar o que precisasse, tudo, mas eu já bancava. Eu ganhava bem, aliás, eu não terminei a segunda faculdade por fator financeiro, eu fazia Anhembi-Morumbi, Propaganda e Publicidade, lá minhas notas eram oito, nove, dez, oito, nove, dez, sem estudar, sem nada, tanto que era tão tranquilo que a gente adorava, que a gente entrou no DA, Diretório Acadêmico Cinco de Maio. A gente revolucionou aquela história do diretório acadêmico da época, porque os trotes eram meio ainda pra desrecalcar, a história, ninguém era recalcado, mas eles diziam e aprontavam e tal, e a gente não, a gente começou a mudar esse trote naquela época. Então o trote era um livro, você trazia um livro, isso a gente conseguiu, num certo ano, no segundo ano que eu acho que eu tava, 300 livros pra biblioteca da escola, quer dizer, é um benefício, e fora a diversão, a molecada se divertia, não existia história ruim pra ninguém. O DA, na minha opinião, diretório acadêmico, ele era o congraçamento entre os alunos e a diretoria, às vezes a diretoria pedia pra gente resolver algum problema que eles não estavam conseguindo resolver, pra conversar com os alunos, a gente fazia isso, e às vezes os alunos recorriam à gente pra resolver junto à diretoria, então era uma coisa maravilhosa.
P/1 – Isso em que ano? Nos anos 70 já?
R – É, a gente fazia, eu tinha, 23 anos, então, 50, 60, 73, 74, por aí.
P/1 – Você começou a ter algum envolvimento político lá na faculdade?
R – Não, eu não gosto de política, não, só sou porque tem que ser, você tem que ter uma posição política, senão não existe, o ser humano e brasileiro, mas não tinha, não, política nenhuma, a gente não tinha interferência nenhuma. Eu sou petista hoje, porque pra mim, assim, é o único partido que nasceu do povo, só, só por isso, é por isso que eu sou petista, ele é o único partido que nasceu do povo. “Ah, está fazendo muita abobrinha”, claro.
P/1 – Você gostava muito da faculdade de Publicidade, você se encontrou lá, você acha?
R – É o meu negócio, eu descobri depois de um tempo, claro, tem que errar pra acertar, aí era a propaganda, e aí a gente fez muita coisa, porque, quando você gosta do que faz, nossa, o resultado é outro, e naquela faculdade a gente fez história. Nós fizemos um show com o Gonzaguinha na época, nossa, mas bombamos, e assim foi.
P/1 – O DA organizou?
R – O DA, sempre o DA, a cabeça era o DA.
P/1 – O que mais vocês organizaram lá?
R – Olha, o trote já foi um arraso, porque foi diferenciado, nós fizemos um, existia na época a Feira da Bondade.
P/2 – Ah, eu lembro.
R – Lembra disso? Então, e era grande, ah, nós pegamos: “Deixa com a gente”, nós bombamos, nós levamos um stand da Anhembi para a Feira da Bondade, era o maior stand que tinha na época, porque a gente agitava, a gente ia atrás do Hermes, do Reimão, que era todo doido, o Reimão era uma maravilha de pessoa, era o dono e todo doido, ele botava a ideia na cabeça dele, ele corria atrás pra fazer. Nós levamos o maior stand que a Feira da Bondade teve, dentro do Parque do Anhembi, tinha jogo, tudo o que você imaginasse, e levamos também o indianista, que até no rascunho, fugiu o nome dele, Álvaro Vilas Boas, e foi junto, nossa, mas aquela feira foi um sucesso. Então tudo isso começou lá no DA, o único problema é que a gente não estudava, que a gente tinha tanta atividade que a gente não corria, mas a gente era muito bom, eu gostava muito, então pegando simplesmente assim, sem rolo, sem nada, as minhas notas eram muito boas, sete, oito, nove, dez, sete era ridículo. Só que aí o que aconteceu? Depois eu tive que sair da faculdade, no ano seguinte a gente trocava, o DA já era outra diretoria, nós fizemos durante um ano isso, e aí eu tive que parar a faculdade, trancar, porque eu estava ganhando muito dinheiro trabalhando em Guarulhos com propaganda, que era a minha praia. Então eu entendi assim: “Bom, melhor ganhar dinheiro”, porque propaganda eu descobri que era o meu negócio, e aí eu trabalhava numa equipe de contatos de publicidade da Folha Metropolitana, que é a proprietária do Metro News, era uma equipe maravilhosa. Sempre onde eu estou me envolvendo as coisas são energias boas, eram 15 pessoas, mas eram sete perfeitos, a gente não, nós não tínhamos gerente, porque não precisava, ali, aquela equipe era toda, toda ela dominava a área comercial. Então qual era a função de um contato de publicidade? Você ir buscar publicidade no mercado, empresas, comércio, e trazer pra dentro do jornal, o jornal na época chegava a sair com cem páginas, 170 páginas, standard, era uma loucura. Por quê? Porque era uma equipe que trabalhava organizada, se auto responsável, ela se chamava de auto responsável, não tinha gerente, não precisava de gerente, e a gente competia entre nós mesmos. Então nós competíamos da seguinte forma, eu me juntava com o Tadeu Galvão e competia com o Valdir e com o Lauro Ishida, por exemplo, quem negociasse menos naquela semana ia pagar o almoço na segunda, e o almoço era chato, porque a gente começava a almoçar onze horas da manhã e terminava às cinco e meia da tarde, mais ou menos, e quem tinha perdido tinha que servir. Era uma situação muito interessante e a gente ganhava dinheiro, mesmo perdendo o almoço você ganhava dinheiro, porque você competia, então era assim que se trabalhava, competição sadia, e o jornal só crescia, o jornal agradecia muito. Em 8 de dezembro era o aniversário de Guarulhos e aquela edição pra nós era décimo terceiro salário, décimo quarto e décimo quinto. Porque Guarulhos é uma cidade assim, muito louca, é a maior cidade caipira que existe no planeta, isso você pode ter certeza, eu achava que era só uma grande cidade caipira. Aí o gerente do Hotel Matiz falou: “Não, Edson, você está com a razão, é a maior cidade caipira do planeta”, porque com um milhão e 200 mil habitantes que tem hoje, um milhão e 300 mil, é a maior. E por que é caipira? Porque se você ficar uma semana sem aparecer vão reclamar, onde você estava? É assim que funciona, então um conhece o outro, que conhece um, que conhece o outro, é incrível como Guarulhos é assim, então conhece o bairro, que estudou com não sei quem, que está não sei aonde. Então esse congraçamento é maravilhoso, é uma cidade que tem Pfizer, tem Aché, tem empresas monstruosas, tem um parque industrial muito grande ali e não é poluente, nada de indústria poluente, e colada a São Paulo, está entre a Dutra e a Fernão Dias, quer dizer, é uma loucura essa cidade. Inclusive agora, que as construtoras descobriram, ela explodiu pra cima, que anteriormente ela só era na horizontal, hoje está verticalizada.
P/1 – Você foi parar lá por causa do seu primo, foi isso?
R – Então, rapaz, não foi, não foi exatamente, foi assim, eu trabalhava com o meu cunhado na EF Publicidade, era na Consolação, Conjunto Zarvos, ele montou uma agência bem sofisticada e atendia o Grupo Abril, Abril Tec, se não me engano, eu era garoto, novo, tinha 22 anos, 20 anos, eu acho que isso, fui com ele pra cuidar do escritório e tudo isso. Ele saía negociando e eu comecei a gostar e entender o processo e me descobri um contato, eu sabia que conversava bem, que conseguia convencer as pessoas, porque eu trabalho com muita honestidade, eu sempre, tudo o que eu tiver é honesto, não coloca nada de rolo na minha vida, porque não interessa, eu só trabalho com honestidade e explico pra pessoa tudo o que ela vai ter e é verdadeiro, e aí eu convenço e vendo, porque também só vendo o que é bom, não vou vender o que não interessa, na área de publicidade. Mas meu cunhado não acreditou nisso, porque eu também era muito moleque, nem eu sabia direito, e aí a EF teve um período e depois parou, fechou e ele voltou a trabalhar acho que com Folha de São Paulo, que ele trabalhava e tal. Nisso um anúncio me chamou pra Guarulhos no jornal, chamava Correio do Povo, que precisava de contato de publicidade, aí eu fui pra lá nesse jornal, era um jornalzinho pequeno de um advogado que chamava Galvani, e comecei a trabalhar lá e descobri uma prima minha que trabalhava lá, a Regina Blessa, e que também estava fazendo faculdade comigo lá na Anhembi, eu não acredito, nem sabia, porque é muito primo, não sabe onde um está, o outro está. Aí ela saiu e eu fiquei, aí esse Galvani teve um problema de saúde, teve que fechar o jornal, aí a Folha Metropolitana, que era grande, era concorrente grande, me chamou, eu fui pra lá e fui todo feliz, porque tinha um monte de cliente, carteira de cliente enorme, era só eu que trabalhava, já tinha me tornado gerente e rapidinho tinha dominado. Quando eu cheguei, aquela carteira não valia nada, porque aqueles meus clientes, todos eles, já estavam sendo atendidos pela equipe antiga. Aí o que eu vou fazer agora? Começar tudo outra vez. Propaganda é uma coisa muito interessante, você pega lá o pequenininho e ele vai crescendo, crescendo, crescendo, crescendo, crescendo, crescendo, quando ele tiver bem grandinho, o grandão vem e te pega, uma agência de propaganda vem e pega ele e você perde ele, então assim que funciona na mídia pequena, que a gente fala. Quando eu cheguei lá, já era, meus clientes estavam todos, me esforcei, me esforcei, conseguia muito pouco, mas cliente pequeno, você precisa de grandes clientes pra fazer uma carteira boa. Aí o pessoal viu, porque a equipe era assim, eles esperavam você mostrar que você queria, aí começaram a me apoiar, um me deu um cliente, outro me deu outro, outro me deu outro, um passou Hatsuta, que era uma grande empresa da época, o outro o Hospital Menino Jesus, que ainda existe e tal: “Não, eu libero pra você”. Aí eu comecei a formar uma carteira, eu trabalhei praticamente 20 anos nessa empresa aí, e cheguei a assessor da diretoria, e aí era desse jeito, e esse equipe então, com esse rol de amigos, que eram profissionais que trabalhavam juntos, a competição era nesse nível de auxílio, eu cresci muito, nossa, eu me desenvolvi bastante profissionalmente lá em Guarulhos, isso tudo em Guarulhos, e morava em Santana, nessa mesma casa, porque eu era solteiro ainda.
P/1 – O que te chamou atenção na propaganda que deu o estalo pra você?
R – A criatividade e a propaganda, bem usada, ela muda o mundo pra melhor, ela muda pra pior, mas também muda pra melhor. Infelizmente, hoje, a gente parece que tem carência de publicitários mesmo, mas a publicidade, nossa, ela é maravilhosa! Então você pega o nível da televisão brasileira hoje, ainda a Globo se mantém, com toda, infelizmente, falta de qualidade que ela tem, ela não tem qualidade nenhuma, ela tem qualidade técnica, mas potencial de criação nenhum, zero, imagina essa Globo produzindo com a cabeça da TV Cultura, imagina o que o Brasil seria, né? Mas aí o que precisa? Precisa o publicitário ir lá e trazer a propaganda para a Cultura, pro nível de intelectual da Cultura, que é o que a Globo precisa. A Globo, ela está se abaixando, está regredindo, e os outros, ao invés de aproveitar esse espaço que a Globo está deixando, eles vão cada vez mais pra baixo. Você pega uma Record, que tem tudo, porque tem grana pra fazer um canal de televisão maravilhoso, é isso que a gente está vendo, então puxa pra baixo, então a televisão brasileira, ela está que nem o futebol brasileiro, ela está perdendo porque não está vendo o profissional, que profissional bom existe, só não está tendo chance, publicitário bom está assim, só não tem a chance, entendeu?
P/1 – Nessa época você namorava, na faculdade?
R – Namorava bastante, bastante, então, aí eu tinha uma namorada, acho que 18 anos, comecei a namorar firme, fiquei uns dois anos com ela, aí não deu certo, separei, aí fiquei até os 20 e, acho que casei com 27 anos, sem namorar, 26, eu sei que eu namorava seis meninas, a base que era, seis, tinha seis e assim que funcionava.
P/2 – Ao mesmo tempo?
R – É, porque não tinha como ser diferente, eram três casadas e três solteiras, mas namorava, era desse jeito, e assim funcionava e ia indo assim. Até que uma delas, eu fui me apegando mais, me apegando mais, eu fui me separando das outras e eu acabei casando com ela lá na frente. Mas sempre foi assim, porque a minha turma era assim, a gente pagava motel por mês, não tinha jeito, principalmente em Guarulhos, porque nós pegamos a época dos motéis, antigamente era drive. Aí o que aconteceu? Começou a vir motel, aí tinha que colocar o anúncio de motel no jornal, mas as donas do jornal, que eram as mulheres, como que vai deixar? Eu queria na página social: “Como? Você está louco”, e aí foi, foi, mas é pequenininho, a gente foi abrindo espaço, a cabeça delas foi abrindo e aí eu consegui, em Guarulhos, eu consegui soltar duas páginas de motéis. Porque o que acontecia? Era drive, era ruim, motel era seguro, tudo melhor, o cara podia levar a esposa dele e a gente criou esse mito ainda: “Leve sua esposa ao motel antes que outro o faça”, e isso era real mesmo. Então existia tudo isso e os motéis eram maravilhosos pra época, com segurança, eu ganhava muito dinheiro com eles, porque eles ganhavam muito, eu conseguia anunciar. Nós chegamos a levar a diretoria da Folha Metropolitana pra inauguração de motel, com festa e tudo, e era só motel, motel, simples, nada mais do que isso, então ganhei muito dinheiro e naquela época, por trabalhar com motel, por isso a gente pagava por mês, porque era conhecido, eu atendia eles, então era sossegadinho. Chegava a ir pra motel três vezes num dia, com mulheres diferentes, libertação da mulher era assim, você saía sexta, saía lá do Bar do Luís, aí ia pra um Espéria da vida, aí conseguia as garotas, porque a gente andava em dupla, normalmente o homem não andava sozinho, andava em dupla no carro.
P/1 – Por quê?
R – Ah, porque era mais seguro, era melhor, se não conseguisse nada, estava com o amigo do lado, então a gente ia em quatro carros, por exemplo, em oito rapazes, nove, seis, sete, mais ou menos isso. Então ia pro Espéria, tinha o baile, saía com as garotas, aí saía com as garotas, era pro motel, não ia pra jantar, não ia nada, era pro motel, a lógica era essa mesmo, ia quatro, então a gente pegava dois quartos lá no motel, duas suítes, e saía no dia seguinte, tipo, depende da hora das meninas. Existiam vezes que a gente saía duas da manhã, três da manhã, quatro da manhã, cinco, depende do horário das meninas, às vezes a gente ia pra praia, aquele esquema de sair e ir pra praia, entregava a menina nove horas na casa dela, à tarde a gente já tinha compromisso com outras meninas e ia pro motel, e à noite a gente ia pra balada no sábado, saía da balada e ia pro motel. Então era assim, então não tinha grana assim simplesmente, então ia pondo na conta, funcionava assim e era muito divertido e bom pra todo mundo, as meninas se davam muito bem, estava tudo certo, era limpo, honesto e não tinha problema nenhum. O problema é que o homem nunca liga no dia seguinte e é verdade isso, não tem jeito, ele é desligado pra isso, até quando ele começa a se interessar por uma ou outra, mas é muito difícil, naquela época elas reclamava disso e hoje eu acho que reclamam da mesma coisa, porque é assim que funciona, mas hoje eu percebo é que os meninos é que estão querendo mais uma relação.
P/1 – Como é que foi nessa época que você tinha seis namoradas, como é que foi que você foi se aproximando da que ia ser sua esposa depois?
R – Então, essa daí, inclusive ela foi com um amigo meu, que trabalhava comigo nesse jornal, Valdir Figueiredo, ele conheceu essa menina e falou: “Ó, tem uma menina que vai sair, uma carioca, vai sair comigo, só que ela não quer ir sozinha, quer levar uma prima”, eu falei: “Ô, que bom, então vamos”, e a gente foi pra um baile na Vila Galvão. Eu não sei porque naquele dia, no baile, eu entrei viado e saí viado, sabe como é que é? Eu resolvi que naquele dia eu ia ser homossexual, então um metro e 92, cheio de, mas atacado mesmo, eu sou muito assim, feliz, e brinquei muito e diverti todo mundo e tudo isso. Logo depois, um tempo depois, ele não ficou com ela, nem chegou a ficar, ele deixou ela em casa, não rolou mais e tal, mas ela se interessou por mim e eu por ela e aí a gente começou a conversar e tal, e as primas dela que tinham ido naquele baile inclusive, mas elas eram novas, eu estava só brincando mesmo, não tinha interesse sexual nenhum naquele momento. Aí foi indo, nessa época eu tinha cinco namoradas, ela era a sexta, e aí a gente ficou dois anos namorando, foi tirando, foi separando uma, foi me tirando uma, aí depois casou, aí foi assim que aconteceu. Ela tinha quatro anos na minha frente, carioca, e a gente ficou uns 20 anos casados mais ou menos, que aí rolou o Bernardo, que é o meu moleque de 25, vai fazer 25 anos agora em setembro.
P/1 – Qual que é o nome dela?
R – Dela é Janete, carioca, Janete.
P/2 – Vocês foram morar aonde quando vocês casaram?
R – Então, antes de casar, eu tinha comprado um apartamento, que eu trabalhava nessa Folha Metropolitana, bem próximo do Hospital Stela Maris, um apartamento pequeno, naquela época era bom, pagava em quatro anos, eu ganhava razoavelmente bem. Ela, antes de casar, a gente já estava namorando e tudo, ela já era formada no Rio de Janeiro, tinha feito concurso pra dar aula aqui e conseguiu aprovação, mas só que tinha que dar aula em Miracatu, sul de São Paulo, porque você pega a classificação de acordo, quer dizer, você pega a escola de acordo com a sua classificação, como ela não tinha ponto, era o primeiro concurso dela, pegou lá longe, foi lá pra Miracatu. Então ela ficou lá morando quatro meses, quatro ou seis meses, dando aula e morando lá em hotel e tudo isso, muitas vezes eu saía daqui e levava ela lá, porque você vê que a mulher está amuada e tal, eu não tenho esse tipo de problema, eu levava ela, 200 quilômetros daqui, deixava ela lá e voltava, então foi assim. Quando ela voltou, eu consegui um encaixe na secretaria, por trabalhar no jornal a gente tem certa facilidades, na Secretaria de Educação, com um amigo meu, e ela veio trabalhar na Secretaria de Educação de Guarulhos, então por ali, ela trabalhou ali, depois ela já conseguiu escola lá e continuou a vida dela por esse lado. E, antes disso, ela trabalhava no Banco Itaú, que era do Borba Gato, e morava com o irmão, nesse tempo o apartamento ficou pronto e a gente era solteiro ainda, aí ela foi morar um período nesse apartamento que eu tinha comprado ainda solteiro. Aí quando nós casamos, eu fui morar com ela nesse apartamento, nós moramos um pouco de tempo lá, um ano ou dois, logo eu comprei uma outra casa e essa casa foi uma história boa também, porque eu comprei a casa, dei um cheque sem fundo, uma casa boa com um bom de um cheque sem fundo, eu falei pro cara: “Não tem fundo, mas eu estou esperando a grana”, que eu tinha vendido o apartamento. Naquela época, o Bradesco e todos os bancos, você entrava com o pedido de financiamento e o Almir, que tinha comprado o meu apartamento, tinha entrado com esse pedido, só que isso era em março, mais ou menos, e estava enrolando, enrolando, enrolando, quando dava novembro, outubro, novembro, os bancos fechavam com os financiamentos e só reabriam em março. Eu não acredito, e a casa e o cheque e eu, como é que vou fazer? Aí eu fiz uma melosa, melosa é uma carta que explica a situação, só que era carta telegrama, pago a preço de telegrama, e mandei pro Amador Aguiar, que era o dono do Bradesco, expliquei a situação todinha, o financiamento tinha sido pedido pelo Bradesco do Tatuapé por esse Almir, que era o comprador, expliquei a situação todinha pra ele e embaixo coloquei: “Pra que tudo termine na grande paz de Deus”, porque o Bradesco sempre usou Deus, certo, Cidade de Deus e não sei o que. Aí o gerente chamou a gente, eu e o Almir, o comprador, no dia seguinte que eu mandei o telegrama, ele falou: “O senhor não precisava ir tão longe”, eu falei: “Como que tão longe?”, “É, o seu dinheiro está na conta amanhã”, “Amanhã, vou ter que esperar seis meses, amanhã vai está o dinheiro?”, “É, o senhor foi muito, meu amigo”, santo não resolve, vou falar com Deus. Então sempre fui assim, não tenho, eu converso com porteiro, adoro qualquer um, eu converso com uma pessoa, quando alguém olha pra mim: “Quem era aquele negrão que você estava falando?”, “Negrão?”, não vejo, pra mim é tudo igual, é humano, é ser humano, é tudo igual. Então pra mim falar com ele, só que com ele você tem que escrever o que ele quer ouvir e o que ele precisa ouvir e o que ele não sabe que está acontecendo na empresa dele, que a maioria dos empresários não sabe o que acontece na sua empresa. Então como é que em 48 horas estava o dinheiro na minha conta? Aí pumba, quitei aquele cheque sem fundo e fomos morar numa boa casa, uma boa de uma casa, 160 metros de casa, mas era um porão, era 80, os outros 80 embaixo, eu comprei de acordo com o que eu podia, inteligência, eu procurei seis meses uma casa. Isso, na realidade, funciona sempre, você usa bem o seu dinheiro na hora de comprar, porque pra gastar é rapidinho, pra ganhar é muito difícil. Aí a rua era de terra, mas eu já tinha planejado que ia conseguir asfaltar e consegui asfaltar, a parte de baixo, fiz uma parte maravilhosa de lazer, e a gente ficou casados dez anos sem filho, a gente não queria, primeiro estruturar a vida, pra depois ter a criança, que é o Bernardo. Então essa casa foi desse jeito, ela, carioca, diferente, mulher, mulher, mulher pensa diferente, tem um episódio gostoso inclusive. A gente comprou a casa, mas a casa, e colchão? Não tem. E cama? Não tem. E cozinha? Não tem, comprou a casa, meu, aguenta, espera um pouco, aí ela não esperou muito e comprou o fogão quatro bocas, seis bocas, sei lá, e colocou na vizinha, pra me convencer que ia, e a gente comia no fogão de duas bocas. Eu nem vi o fogão, porque, né: “Porque eu comprei”, “Então você devolve”, porque não é assim que funciona na minha cabeça, então, se eu deixasse ela entrar com aquele fogão, a partir dali a coisa não seria de igual, assim, não seria decidido a dois, elas decidiria a parte que ela achava e eu a minha, então não era assim. O lógico era assim: “Nós vamos fazer uma cozinha planejada”, demorou, mas saiu a cozinha planejada que ela queria, entendeu, se você comprasse o fogão, não saía a cozinha planejada. A gente, devagar, com tempo, porque a gente, ela professora e eu ganhava razoavelmente, a gente montou a casa direitinho, foi pagando, teve dificuldade, porque os preços subiam e desciam e assim foi indo. Nós levamos dez anos pra ter o moleque, aí a coisa.
P/1 – Onde era essa casa?
R – No Bom Clima, do lado da prefeitura de Guarulhos, então eu morei lá uns 20 anos, praticamente, mesmo depois de separado eu ainda morei um ano e meio na parte de baixo.
P/1 – Quando você estava casado, você trabalhava em Guarulhos?
R – Na Folha Metropolitana.
P/1 – E ela dava aula lá.
R – E ela dava aula.
P/1 – Do que ela dava aula?
R – Português e Inglês, ela é excelente professora.
P/2 – Quando nasceu o seu filho, o que mudou?
R – Então, o meu filho mudou tudo pra mim, já de cara eu reduzi meu trabalho, falei: “Bom, agora eu vou cuidar do meu filho”, aí foi uma briga muito legal, porque ninguém aceita que você reduza ganhar dinheiro, não, vou reduzir, aperta mais, porque eu vou ver o meu filho crescer, não vou deixar meu filho crescer. Então eu que ia, três horas da manhã acordava pra ver se ele estava coberto, trocava fralda, eu que cuidava dele mesmo, eu era a mãe dele, isso determinado por mim, ela não contestou, era excelente mãe, excelente, e assim a gente foi, mas eu me liguei a isso, mudou bastante a minha vida, bastante. Inclusive, aí o que aconteceu? A gente descobriu na Folha Metropolitana que o diretor responsável estava roubando, e roubando muito, e ele era um cara que a gente conhecia bem, chamava Wanderley Simone Figueiredo, chama até hoje, deve ser vivo, ele era sobrinho do Paschoal Thomeu, que era o dono do jornal. Esse Paschoal Thomeu é uma pessoa muito rica na cidade, fez muito pela cidade, chegou a ter 34 empresas, que eu me lembre, é dono da empresa de ônibus, tal, tal, uma pessoa maravilhosa, eu gostava muito dele. Aí esse Wanderley queria que a gente entrasse nesse rolo. Como que você rouba num jornal? É fácil pra caramba, você tem um anúncio, o cara coloca um anúncio, custa cinco mil reais, aí ele sai hoje e você diz que saiu errado, que você tem que compensar na semana seguinte, só que você não compensa, o cara está pagando o segundo anúncio e o cinco mil reais você enfia no bolso. Então isso, começou a fazer muito rolo, o problema do ser humano, quando ele cresce e não tem estrutura emocional, é que ele extrapola, aí ele acha que sempre mais, ele era sobrinho do dono, não precisava nada, ele era sobrinho, casado com a sobrinha, não precisava nada, era só ficar na dele que ele ia se dar bem. E começou a querer que a gente fizesse esses rolos com ele, os anúncios que a gente descarregava com o Estadão, por exemplo, na Folha de São Paulo, na Globo, onde a gente tivesse anúncio ele queria que descarregasse na agência dele, que ele tinha montado pra fazer rolo, e a gente não compactuou e nós fomos ao Paschoal e falamos pra ele. Claro que ele não ia acreditar, por que como é que vai acreditar? É a minha palavra contra a do marido da sobrinha, eu falei: “E por isso nós estamos montando um jornal, porque a gente não vai ficar nessa”, e nós saímos e montamos um jornal, nossa, era mais sócio do que outra coisa. Saiu praticamente a equipe inteira, comercial, porque era uma equipe limpa, como eu te disse, e mais alguns da redação também, que não estavam satisfeitos, nós montamos o Jornal de Guarulhos, um jornal quinzenal que bombou na cidade, quinzenal, mas bombou.
P/2 – Como era o nome do jornal?
R – Jornal de Guarulhos, ele, muito bom, era quinzenal e ele durou quatro anos praticamente, nesse período, a gente, puxa, pagou duro pra ter aquele jornal, e meu moleque estava lá na parada. Acho que é isso, se eu não confundi um pouco, eu sei que o jornal foi andando, andando, andando, nós arrasamos, nós entrevistamos o Lula, por exemplo, nesse jornal tem uma entrevista de uma página com o Lula e o moleque dele sentado do lado, e tinha cachaça de trás do sofá, como eu bebo cachaça, como meu pai bebe, o Lula é um cara normal e, graças a Deus, brasileiro, né?
P/1 – Como é que foi essa entrevista?
R – Eu não estava no dia, mas foi excelente, a equipe: “Nossa, o cara é dez, muito bom, um brasileiro mesmo, raçudo”, pra chegar aonde chegou. Com toda estrutura que eu falo pra vocês que tive, pai, mãe, irmã, todo mundo me paparicando, não fiz nada perto do que esse cara fez, entendeu? Mas só que ele é o Lula, mas, se fosse um lenhador lá dos Estados Unidos, que quebrou um monte de empresa e depois se tornou em Abraham Lincoln, que foi um dos melhores, aí lá pode, mas aqui não pode ser o operário, lá pode ser lenhador, mas aqui não pode e assim vai, a gente é um pouco complicado no Brasil. Então teve ele, a gente entrevistou Marília Gabriela na época do Programa TV Mulher, acho que era dela, nossa, bombava, aquela mulher bombava, ela gostou tanto da entrevista, chamava, era uma página inteira dedicada a uma pessoa, que ela foi almoçar com a gente lá em Guarulhos e tudo isso. Entrevistamos o Clodovil, que trabalhava com ela, só naipe, a gente fazia isso e a gente era duro pra caramba, às vezes a gente tinha que ir pro Rio de Janeiro fazer uma entrevista, era nos aviões da FAB, porque a gente estava em Guarulhos, juntos com batata, ia todo mundo feliz. Fórmula Um, nós fizemos a cobertura de Fórmula Um lá no Rio de Janeiro, uma loucura, uma delícia, tudo por prazer, eu nunca trabalho se eu não tiver prazer, é igual mulher, eu não consigo conviver com uma pessoa que eu não gosto dela e me dedico muito a ela e ela tem que se dedicar a mim também, senão não funciona. Então nesse sentido o meu garoto, ele estava em primeiro plano, então eu parei, parei não, diminui bastante a minha vida profissional pra cuidar dele e por isso que a gente é agarrado até hoje. Só que eu tive um problema, quando a gente se separou, ele tinha seis anos, mais ou menos, de idade, aí eu saí de casa, esse foi o grande erro, fiquei um ano morando na parte debaixo, a casa era grande, estava tudo bem, mas aí o negócio enroscou, eu fui morar na chácara de Atibaia, essa que a gente levava oito horas pra chegar. Eu fiquei morando lá e simplesmente o meu filho começou a ir mal na escola, a gente teve uma reunião marcada pela diretoria da Escola Pequeno Príncipe, que ele estudava, e lá psicólogo, a professora, a diretora, a Janete, mãe do Bernardo, e eu, aí conversamos, conversamos, conversamos. Aí eu: “O que aconteceu?”, “Ah, o Bernardo sobe na cadeira – seis anos de idade acho que ele tinha – e fica gritando que o pai dele foi embora de casa, que o pai dele sumiu”, a gente, primeiro, nunca tinha separado, nunca tinha nem casado, como é que eu ia saber? Então a gente não informou a escola que tinha a separação, hoje tudo, naquela época a gente fez um monte de besteira por desconhecimento mesmo, nem a escola a gente informou, eles ficaram sabendo porque o moleque subia na carteira e gritava que o pai dele tinha ido embora de casa. Aí a gente conversou, conversou, conversou, como a gente está conversando agora, aí o psicólogo chegou à conclusão de que a mãe do Bernardo era eu e não ela, porque toda atenção, dedicação eu que dava. A gente ia almoçar, o Bernardo queria que ela saísse: “Você fica lá e eu fica almoçando”, ele ama a mãe dele, tanto que ele mora com ela hoje, nunca deixou de amar, mas é que a gente se aproximou demais, entendeu, é coisa desse tipo, eu tenho duas cachorrinhas que é a mesma coisa, você vai se aproximando, fica humanizado. Então foi uma falha nossa nesse sentido, como pais, todos erram. Aí o que aconteceu? Eu comecei a visitar ele todo dia, mesmo morando em Atibaia, eu visitava ele todo dia, tudo, aí fui acalmando, acalmando, acalmando, beleza, foi bem, aí consegui, depois de alguns anos, fazer com que ele fosse morar comigo e com a segunda esposa, que deu a maior força cinco anos.
P/2 – Mas você não falou que você ficou no primeiro casamento 20 anos?
R – É, praticamente.
P/2 – Mas com seis anos, eu não entendi.
P/1 – Com seis anos vocês se separaram?
R – Não, é que dez anos eu não tive filho.
P/2 – Aí você se separou com seis, então você ficou casado 16 anos.
R – É, praticamente isso, entendeu? Dez anos a gente não teve filho. A turma, você tava falando de turma, né, da Augusto Tolle e tudo isso, então eu acho que eu concluí isso, como é que era.
P/2 – Você tinha falado da separação, aí vocês separaram, aí você começou a ver seu filho todo dia.
R – É, mesmo morando em Atibaia, porque eu morava em Atibaia e trabalhava.
P/2 – Como é que você conheceu sua segunda esposa?
R – Ah, depois de um ano e meio, lá em Guarulhos mesmo, essa era baiana, a próxima acho que vai ser do Ceará, porque carioca, baiana, subindo.
P/1 – Mas é um ano e meio depois que você se separou, é isso, que você conheceu ela?
R – É, um ano e meio depois, morando em Atibaia praticamente, eu morei um ano, um ano e pouco na mesma casa, mesmo separado, que a casa era grande, e aí conheci essa moça, que é a Ângela Márcia, em Guarulhos também. A gente é muito caçador, naquela época, então está andando no carro, olhou, gostou da menina, vai lá, para e conversa, e foi assim que eu conheci a Ângela, estava ela e uma amiga dela, lá em Guarulhos também. Só que o problema é que ela tinha 20 anos e eu 45, 25 anos de diferença, aí a gente ficou, foi ficando até o ano passado, a gente separou o ano passado.
P/2 – Quantos anos?
R – Uns 16 mais ou menos.
P/2 – Qual é o nome dela?
R – Ângela Márcia.
P/1 – O que ela fazia, estava estudando?
R – Estava nada, ela é a toa, ela tinha acabado de vir da Bahia, porque a mãe dela tinha vindo pra cá, ela veio atrás da mãe dela, ela estava com uma amiga passeando, que morava em Guarulhos essa amiga e a mãe dela morava perto de Diadema. Aí conheci, ela endureceu um pouco, eu levei seis meses pra conseguir paquerar ela mesmo, indo e vindo, tal, tal e aí acabou dando certo. O meu pai era vivo, aí eu falei pra ele: “Vou casar com uma moça aí, vamos juntar”, amigar, casar, pra mim é tudo igual, vai viver junto, juntar a escova de dente, é igual, lá em Atibaia, ele conheceu ela, gostou também, se não gostasse, também ia aceitar, não tinha problema, cabeça boa, né? Daí a gente foi morar em Atibaia, um ano e meio, a gente morou dois anos.
P/2 – Você trabalhava em que nessa época?
R – Boa pergunta, eu realmente não estou recordando.
P/2 – Você vivia como?
R – Ah, eu trabalhei junto do Espéria, no Clube Espéria, tive uma revista, o Clube Espéria tinha uma revista e eu fui lá pra desenvolver a revista pra eles, que era muito lenta, eu sempre desenvolvo empresa, meu negócio é desenvolver empresa, e aí desenvolvi, cresceu bastante e tudo isso. Depois eu trabalhei com o Jornal Pool, que era de Guarulhos também, só de imobiliárias, isso eu estava com ela já, e aí foi indo. Depois trabalhei com internet, Fábio Martinelli, ele tinha um projeto maravilhoso, que era um Google, um guia, só que em Guarulhos, né, eu conheci ele em 2000, quando ele montou, depois, em 2002, acho, que eu fui trabalhar com ele, acho que foi isso, mais ou menos isso. Ele tinha um guia, ele fazia um guia em que você, que nem o Google, você quer uma pizza, você olha, entra ali, a maioria das pessoas não sabia nem o que era internet, mal sabia exatamente o que era computador, mas já estava, ele pegou na hora certa, ele estava no momento certo e eu vi: “Você tem um bom negócio”. Só que ele é técnico, ele faz a parte técnica, mas e como é que joga isso pro mercado? Como é que desenvolve? Isso eu sei fazer e ele não sabia, aí eu juntei, a Ângela chamava ele de pé de galinha, porque ele ficava assim no computadorzinho dele o tempo inteiro, era ele e a mesa dele, a mesa vazia e só, e uma sala vazia. Ele tinha ido lá praquele prédio, inclusive, porque eu tinha puxado, eu queria juntar todo mundo, o cara do Jornal Pool, que era um birô também, com ele, que fazia um guia, e com um outro cara que tem internet, o cara era como se fosse a GVT, ele é um provedor de internet, depois eu trabalhei com ele também. E esse Fábio tinha uma bela de uma ideia e o guiazinho dele ia, assim, tal, ia indo, tinha 30 mil visitantes por mês, pra Guarulhos estava ótimo, pra época, muito bom, só que, quando eu saí dele, eu trabalhei com ele três anos, aí já tinha 300 mil visitantes/mês, era o maior guia da cidade de Guarulhos, nós estamos falando de uma cidade que é a oitava de grana do país, oitava cidade em faturamento.
P/2 – Ela recolhe muito imposto, né?
R – Oitava, ali tem muita empresa, é muito forte, tem o aeroporto, uma situação boa, Guarulhos é uma cidade boa de morar, por isso que eu fui pra lá, inclusive, porque é calma, pacata, grande cidade caipira, todo mundo se conhece, é pertinho, eu vim de Santana pra cá, agora lá não, você atravessa a cidade, eu fazia tudo de bicicleta em Guarulhos e ainda faço.
P/1 – Mas aí o seu filho voltou a morar com você, foi isso?
R – Aqui em Santana, porque, quando eu morei lá em Atibaia, na chácara, foi um ano e meio, dois anos, com a Ângela, depois o meu pai morreu, em 99, aí o bicho pegou, porque a casa que eu moro é a casa que eu nasci, são três casas grandes, num lugar muito bom de Santana, na Vila Santana, e o meu pai morreu e a casa ia ficar sozinha, então alguém tinha que, né, vir morar.
P/2 – E sua mãe?
R – Minha mãe já é falecida há mais tempo, já há bastante tempo, ela foi com 77 anos. Aí nessa história toda, como eu vim pra cá morar, porque as minhas irmãs falaram: “Edson, você vai deixar a casa sozinha? Você vem pra cá, por favor”, aí eu vim e trouxe a Ângela e estou na casa morando, morei com a Ângela muitos anos lá, até o ano passado. E coloquei essa casa à venda a partir do ano 2000, mas aí um amigo meu, acho que é um dos melhores amigos, um dos melhores humanos que eu conheci, chama José Gonçalves Mestrener, ele é um cara que eu conheci lá há muitos anos, em Guarulhos, ele era um corretor de imóveis. Ele é a mesma pessoa que ele era naquela época hoje, eu conheci os filhos dele pequenos, hoje eu beijo eles no rosto, tudo grande, casado, mas ele é a mesma pessoa, ele conquistou o mundo de corretor, ele abriu uma imobiliária, que eu trabalhei com ele também, aí ele comprou um pedacinho de terra lá em Minas Gerais, no sul de Minas, aquele pedacinho ele transformou em uma fazenda boa de café, ele melhorou a cidade, ele colocou água despoluída na cidade, ele melhorou a qualidade da cidade, Turvelândia. E depois ele cresceu, aí um cara pediu ajuda pra ele lá em São Gonçalo de Sapucaí, que era uma rádio que estava quebrando, um carioca, chama Minas FM, aí ele pôs a mão lá, aonde ele põe a mão vira ouro, a rádio, pumba, cresceu, hoje, nossa, tem muitos ouvintes lá, então ele fica lá e cá, comprou fazenda. Ele cresceu, cresceu financeiramente, mas a cabeça do cara é a mesma, é humilde, é gente, ele respeita as pessoas, ele não passa ninguém pra trás, é um orgulho ter esse cara como amigo. Então esse cara me deu a luz aqui quando o meu pai morreu: “Edson, monta uma área”, “O que é montar área?”, “Porque você vai vender um terreno de sete de frente por 60 de fundo, os caras vão dar muito pouco, fala com os seus vizinhos – era tudo casa – e monta uma área, aí uma construtora compra, o valor vai em cima, é incorporação que chama”, “Ah, legal”. São 24 vizinhos, comecei a conversar, conversar, conversar, eu levei seis anos pra montar essa área e consegui montar, oito mil metros, é área pra caramba num lugar muito nobre de Santana, muito legal. Aí visitei construtoras, várias, várias construtoras, que tem um corretor específico pra isso e foi, aí a coisa andou, quando deu 2006, estava quase vendida, aí chegou uma pessoa e comprou um pedaço dessa área e aí melou aquela negociação. Porém, essa pessoa que comprou era ligada à Totvs, Totvs é a maior empresa de software do país, e ela montou um salão de beleza, ela já tinha um salão de beleza próximo, na rua do Salesiano, mas aí ela montou ali e gastou 20 e poucos milhões pra montar ali, porque é o salão, é o maior salão de beleza da América Latina, tem 120 funcionários, pra vocês terem uma ideia, é muito grande e é colado de parede com a minha casa. Então cresceu muito e a região foi crescendo, o Bairro dos Pelados, que minha mãe falava, foi crescendo, foi crescendo, foi crescendo, hoje eu sou o único morador residencial do meu quarteirão, de frente pra Augusto Tolle, o resto é tudo comércio. Então você tem pizzaria ali que trabalha com 25 motoqueiros, 22 motoqueiros, uma loucura, tudo ali virou comércio, comércio de altíssimo padrão, então está tudo pra melhor e eu estou lá esperando a casa vender, porque uma hora vai vender, vende a de todo mundo, mas a nossa não vende. Os amigos de frente agora, que fomos criados juntos e tudo, os gêmeos, Narciso e Reinaldo, eles venderam a casa rapidamente, tal, energia boa, e eu não consigo vender a minha, que estou há muito tempo. A gente já teve negociação, quase deu certo, não deu, mas é isso que eu falo sempre, é a hora, porque todo trabalho está sendo feito, tudo o que vocês imaginarem foi realizado e a gente não conseguiu vender ainda. Agora deve negociar, se negociar ou não negociar, eu devo mudar, porque é muita casa pra mim, eu sou sozinho, hoje estou sozinho, separado, e duas cachorrinhas, eu vou lá pra chácara, vou pra algum lugar, porque não tem como ficar ali mais.
P/2 – Você trabalha em que agora?
R – Então, eu trabalhava até janeiro com esse provedor de internet. Esse cara, o que ele fez? A GVT, ela distribui internet, a Vivo distribui internet via, como você tem aqui, chega via cabo e chega no teu computador, mas e como é que faz esse fundão, esse povão que mora lá nesse canto mais longe? Ele não recebe, a GVT não vai colocar cabo até lá, não vai colocar fibra até lá, não vai colocar nada, eles ficam sem. Então o que que a Anatel fez? Ela criou empresas de ponta, você compra da GVT ou compra Telefônica, eu compro da Vivo, ela descarrega pra mim cem, 200, 300 megas na minha empresa, aí eu mando via rádio pra um ponto lá no povão, nesse povão eu distribuo, então eles têm internet via rádio, entendeu? Então eu trabalhei com ele, comecei em 2009, 2010, acertamos entre 2009 e 2010, trabalhei com ele até o ano passado, ele tinha 150 clientes, ele não sabia exatamente o que ele tinha na mão, ele tinha um bom negócio, mas não sabia o que que era. Porque ele tinha uma lan house e o que acontece? O vizinho dele: “Ó, eu venho toda hora aqui, puxa um cabo lá”. Aí ele puxou um cabo pro vizinho do lado, aí o outro: “Ó, você puxa pro meu vizinho”, aí ele foi ver, tinha um radinho que mandava, aí ele foi entendendo o que era, aí ele começou, então ele tinha 150 clientes em volta da lan house. Quando eu vi a situação dele, conheci ele, o Marcelo, eu falei: “Marcelo, isso daí é um bom negócio, pode fechar a lan house, se manda e monta um escritório, é só isso daí mesmo”, aí ele fez isso mesmo, saiu e foi nesse prédio que eu trabalhava no Jornal Pool e começou. Mas só que é aquilo que eu falo, ele é técnico, ele sabe fazer essa parte, mas e quem vende? Quem negocia? Quem cai no mercado? Não sabe nada disso, esse é o Edson, o Edson que vai conhecer mercado, vai descobrir e vai fazer a empresa crescer, e foi o que eu fiz. Aí começamos, um ano, pá, pá, pá, pá, foi indo, fui mudando toda a história daquela empresa de internet via rádio, que chama, bom, eu saí de lá, ele tá com quatro mil clientes nesses cinco anos, então fez assim, blum, blum, que não tinha um papel, não tinha um recibo, não tinha nada, então eu organizei toda a empresa dele, tudo bonitinho e ele distribui hoje pra quatro mil clientes. Então aquele meu povo maravilhoso que tem nesse fundão, quando você pega uma Fernão Dias, você vê, assim, parece uma favela de tijolo, tijolo aparente, mas entra nas casas, tem geladeira de último tipo, tem televisão de qualidade, a garotada está dentro do computador, a garotada está bem vestida, não está mal alimentada, não tem barrigudo, criança, não, aquelas famílias cuidam muito bem daquelas crianças e a internet é muito importante e eles têm internet hoje, então estudam mais, melhor.
P/2 – Aí você ficou trabalhando com ele, você foi fazer esse trabalho.
R – Eu fazia diretoria comercial, gerência comercial, diretoria comercial, porque tinha que desenvolver isso, então pegava equipe, levava, trazia, eu assumo a empresa, eu cuido da empresa mais do que o dono, eu falo pra ele.
P/2 – Você está lá até agora?
R – Não, eu saí em janeiro.
P/1 – Você voltou a estudar, foi isso?
R – É, eu saí.
P/2 – Por que você saiu?
R – Eu saí porque, infelizmente, o ser humano, como eu também falho, eles falham muito, você faz tudo isso e a pessoa não reconhece, então, quando ele chega, ele atinge um poder de grana, que ele chega num estágio mais alto, aí ele já não precisa mais de ninguém, então ele pega você e começa a não te dar o valor devido, entendeu? Aí começa a correr pra outros lado e aí já não me interessa mais, porque, se você não reconhece o trabalho que eu fiz, nossa, eu me dou todo, essa minha esposa, Ângela, dormia na empresa, chegava a dormir, porque eu começava a trabalhar: “Espera mais um pouquinho, mais um pouquinho”, estava dormindo, passava a noite. Então eu sou assim, eu me envolvo, é como se fosse minha, aí não reconhece, não paga direito, não registra, não, não, não, não, tem alguma coisa errada, então eu saio, então é o que aconteceu e provavelmente, todas as vezes que eu fiz isso, a empresa tem a tendência a declinar, porque você não dá conta, cresce muito, não dá conta.
P/2 – Hoje você está fazendo o quê?
R – Estou parado, porque eu saí dia 5 de janeiro, eu estou fazendo Administração de Empresas, voltei pra fazer Administração de Empresas, que eu vou concluir aquela que eu comecei e vou concluir Propaganda também. Então esse semestre está muito pesado, o semestre passado foi mais calmo, mas esse está muito pesado, Contabilidade e Matemática, então eu só vou me movimentar a partir de maio pra emprego. Emprego, nunca tive problema, nunca, nunca, porque eu olho e sei se eu posso ou não, se eu falar pra pessoa que eu posso, ela pode ficar sossegada que eu vou desenvolver pra ela, entendeu, eu faço a empresa dela crescer mesmo, então isso daí não tem questão.
P/1 – E o seu filho, o que ele está fazendo hoje?
R – Ele é um trouxa, porque ele entrou na minha, ele vinha trabalhando até o ano passado, três anos ele trabalhava na Pernambucanas, meu filho é maravilhoso, não tenho nada a reclamar dele, é muito melhor do que eu imaginei que pudesse ter como filho, exatamente como pai, eu tenho um filho maravilhoso, ele trabalhava na Pernambucanas até o ano passado. Eu que tinha intuído ele a ir trabalhar no comércio, porque no comércio você desinibe, você aprende a lidar com pessoas de todos os níveis, desde do cliente, desde do teu chefe, então a Pernambucanas não tem coisa melhor, e ele foi, pegou um gerentão que foi uma faculdade pra ele. Só que tem três anos, para, porque senão vai ficar, vai ficar três, quatro, cinco, aí esquece, porque não é um bom emprego.
P/2 – Ele se formou em quê?
R – Não está formado, esse é um grande problema, porque ele é muito físico, quando a pessoa gosta muito de físico, Educação Física e tudo, pra estudo é complicado, então aquele que gosta muito de estudo não gosta nada de esporte, é muito difícil, exatamente, mais ou menos, você tem um contexto aí. Então ele tinha feito a, começou a fazer a faculdade de Educação Física, mas, por problema de horário de trabalho, acabou parando, então agora vai recomeçar na UNG, lá de Guarulhos mesmo. Estamos até com um problema, porque coincidentemente a UNG foi vendida, ele tinha um acordo com a UNG de fazer esse semestre de 2005, que ele parou lá atrás por problemas profissionais e agora ia recomeçar, mas está pago esse semestre, só que houve mudança, quem comprou foi a Ser Educacional, do nordeste, de Recife, basicamente a base é lá, comprou a UNG, de Guarulhos, do Veronezi, e eles não tão assumindo. E aí como é que fica? Pagar seis meses outra vez? Estão discutindo e por isso ele não começou as aulas, nós estamos nesse impasse, que deve ser resolvido, o pessoal do nordeste eu acho que é inteligente o suficiente pra saber que melhor deixar seis meses que a UNG já recebeu e receber mais três anos e meio, em Educação Física, que é o que eu quero que ele faça, porque é o que ele gosta. Ele corre todo dia dez, 15 quilômetros, ele adora Educação Física, então o caminho dele é esse.
P/2 – Está tocando a vida.
R – Ah, é, sozinho.
P/2 – Agora a gente vai caminhando pro final. Qual que é o seu maior sonho hoje?
R – É viver a vida o máximo possível, o maior tempo possível, com saúde, esse é o grande ponto, porque se a saúde começa a pipocar, coisa desse tipo, você... E esse planeta é maravilhoso, não existe planeta melhor do que esse, dizem que é um planeta escola, que é o mais, não existe, inferior a esse não existe, Deus não criou nenhum planeta mais bonito do que esse, só pras pessoas que não querem olhar. Se você ver uma orquídea, tem em Mairiporã um lugar que vende plantas, tem uma orquídea lilás, assim, que as raízes vêm dela assim, assim e termina no nada, ela respira o ar ambiente e ela é tão linda. Como é que existe? Não existe nada, nada, pra nós, humanos, melhor que esse planeta, então esse planeta é pra ser vivido bem, o máximo possível, é isso que eu quero, o máximo possível, porque eu peguei toda essa mudança que teve esse planeta para os seres humanos, desde o telefone, que era aquele bateirite, que você pegava linha, a libertação da mulher, o muro de Berlim que caiu, a União Soviética que acabou, coisas que você não espera que acontecem, desse Brasil que está melhorando, mesmo tendo piorado por um lado, mas está muito melhor. Eu andava de estilingue no bolso, hoje a molecada não usa e se assusta quando você fala isso, então está melhorando, eu quero só viver mais, com saúde, esse é o meu planejamento, agora, como, terminar minha faculdade, isso é tudo meio, né, relativo.
P/2 – Por que você resolveu contar a sua história pro Museu da Pessoa?
R – Porque eu sou brasileiro e, já que vocês criaram esse projeto, eu achei maravilhoso, vocês estão de parabéns mesmo, porque nós somos, assim, estava te falando, as pessoas comuns, porque as pessoas anormais são aquelas que fazem sucesso, é o Gugu, é o Silvio Santos, eles não são normais, eles são anormais, por isso que eles fazem sucesso. O pessoal do Rolling Stones, os Beatles, eles não são normais, eles fugiram do padrão, o DNA deles é diferente, eles chegam ao sucesso, ao dinheiro, às loucuras, às coisas maravilhosas, os pintores, são todos, tudo. Vocês criaram uma coisa pra pessoa normal, que somos nós, porque a gente estava esquecido, o normal fica esquecido, passa batido, nós somos os que fazemos esse planeta e esse universo, então nós somos os normais, só que nós não tínhamos espaço, vocês criaram esse espaço pra gente. Então, já que eu descobri que vocês existem, agora vocês têm que descobrir que eu existo também.
P/1 – Tem alguma coisa que você ache que a gente não perguntou pra você e você queria que a gente perguntasse?
R – Não, assim, a grosso modo não. A história de vida minha, da maioria, é muito rica, é maravilhosa, tem história que não acaba mais, é coisa maravilhosa, o mais importante é sempre acreditar que amanhã vai ser melhor e tudo dá certo, isso é o que eu acredito, tudo dá certo, mesmo que dê errado, é o que a gente estava falando, agora, mas lá na frente você vai entender porque que deu errado: “Pô, mas aquele caminho lá”, aquele lá não era o certo, entendeu? Então é só viver bem, tranquilo e fazer o bem, porque é o bem que você recebe.
P/1 – O que você achou de dar a sua entrevista hoje pra gente?
R – Maravilhoso, nossa, pena que eu não me preparei melhor, eu deveria ter me preparado melhor, porque eu ofereceria melhor pra vocês.
P/2 – Foi ótimo, a gente queria agradecer.
R – Obrigada vocês, nossa, orgulhoso, meu olho tá brilhando, lindo isso.
FINAL DA ENTREVISTA
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