P/1 – Bom, Marco, primeiramente eu gostaria de agradecer a sua participação. E pra começar eu gostaria que você me falasse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Marco Alfredo Di Cunto Júnior, nascido em São Paulo capital em 14 de maio de 1980.
P/1 – Você pode me falar o nome dos pais?
R – Marco Alfredo Di Cunto, eu sou Júnior e Irene Soares Di Cunto.
P/1 – Tá certo. Você poderia descrever um pouquinho eles pra gente?
R – Com certeza. A minha família é maravilhosa, então, eu posso falar bem deles. Minha mãe é a grande responsável, ela sempre esteve com a gente. Minha mãe muito família, muito amorosa, muito cuidadora, sempre foi. Eu recentemente me casei e já to sentindo saudade dessa mãe, ela tava sempre coladinha com a gente. Minha mãe é uma grande guerreira, sem dúvida, um maravilhoso exemplo pra gente. De uma origem bastante humilde, uma família muito simples. Meus avós chegaram a trabalhar na roça, trabalharam na agricultura durante muitos anos. E minha mãe nasceu dentro dessa família com princípios muito fortes. Então, uma família grande, ela tem quatro irmãos e ela sempre cresceu vendo os pais trabalharem muito, trabalhar muito. E isso fez com que ela tivesse força pra tentar facilitar a vida dos pais – não sei se essa é a palavra – mas ela queria ajudar os pais de alguma forma; fazer com que eles trabalhassem menos, se desgastassem menos. Então, ela começou a trabalhar muito jovem. Tanto que dos cinco irmãos ela foi a única que conseguiu, com o próprio esforço, um título, um ensino superior, se tornou professora. Então, sempre correndo atrás daquilo que ela precisava. Ela mesma bancou os estudos dela, sem dúvida um exemplo muito forte pra mim e pra meus irmãos, com certeza. Então, ela ainda muito jovem foi trabalhar. Deixa eu lembrar algumas histórias da minha mãe que são muito interessantes. (risos) Antigamente, hoje não existe mais isso, é difícil. Vocês são todos jovens como eu. Mas se ia trabalhar mais jovem e o salário era sempre entregue num envelopinho pros pais decidirem aonde que aquele dinheiro tinha que ser aplicado, se pro bem estar da família, enfim, ficava a critério dos pais. Você trabalhava, trabalhava, mas aquele dinheirinho no final do mês era entregue pra tua mãe ou pro teu pai. E eles decidiam o que você poderia ou não comprar. Eu acho que era uma regra quase que geral na minha família. E dentro desse cenário ela conseguiu planejar uma vida pra ela. Com certeza, através do estudo, muitas portas se abriram pra ela e ela conseguiu se tornar uma pessoa melhor. Meu pai? Meu pai... Voltando na minha mãe, a mãe dela é de origem polonesa, ela veio pro Brasil muito jovem, criança ainda. Acho que com seis, sete anos a minha avó veio pro Brasil com a família dela e foram morar no interior. Foi aí que ela cresceu no meio do campo, foi trabalhar na roça desde criança com os pais. Então, essa é a origem da minha avó, muito simples. Meu avô é filho de italianos, por parte de mãe. Ele já era nascido aqui no Brasil, mas também de uma família muito simples que vivia no interior. Foi assim que eles se conheceram e iniciaram a família. A família do meu pai de origem italiana, minha avó e meu avô são nascidos na Itália. Uma cidadezinha muito pequenininha também, uma família de origem muito humilde muito trabalhadora. Inclusive cidade essa que eu estive há pouco tempo conhecendo que é fantástica. Região sul da Itália, a cidadezinha chama San Marco di Castellabate. E meu avô e minha avó paternos eram primos em primeiro grau. (risos). Infelizmente, era muito comum também na cidadezinha deles, em função eu acho que às vezes até da falta de opção. A cidade era muito pequena (risos). As famílias cresciam e às vezes elas tinham que se misturar de alguma forma (risos). Então, foi o que aconteceu. Meus avós tinham uma diferença, se não me engano, de 11 anos de idade. Meu avô era mais, 11 anos mais velho que a minha avó. E, conversando com a minha avó – eu converso muito com a minha avó – ela é viva, graças a Deus, hoje. As minhas duas avós, materna e paterna são vivas, os avôs não, infelizmente já são falecidos. Ela tinha um grande respeito pelo meu avô porque ele era mais velho, eles se tratavam, ela via ele como um adulto e ela era uma criança. A relação era muito curiosa no começo, mas aos pouquinhos esse amor foi crescendo e essa relação de parentesco não atrapalhou em nada, com certeza. Então, meus avós paternos nasceram na Itália e vieram muito jovens pra cá. Depois quando a gente for falar da história da empresa aí a gente vai ver que vai misturar um pouquinho com a história da família do meu pai. Eles vieram pro Brasil muito jovens ainda com tudo por fazer; não tinham patrimônio, não tinham grandes reservas. Então, começaram também de forma bastante humilde aqui. E também formaram uma família bastante grande aí. Minha avó teve quatro filhos: o primeiro deles faleceu muito cedo, com um pouco mais de um ano ele veio a falecer. E meu pai ele é o irmão mais velho dos três. São dois irmãos e uma irmã: o Marco, o Antônio Carlos e a Sandra. Meu pai teve uma condição um pouco mais facilitada em função de quando ele já era jovenzinho a empresa já numa atividade bastante interessante. Então, meu avô pode proporcionar algumas coisinhas a mais pra ele. Mas assim como a minha mãe ele começou a trabalhar muito cedo. Ele sempre viveu na Mooca, nascido e criado na Mooca. Estudou e frequentou os colégios aqui do bairro também, no São Judas, MMDC. Depois um que não existe mais que se chama Brasilux, ele fez o técnico lá. Então, ele começou a trabalhar muito cedo também, com 14 anos. A Companhia Antártica que é muito forte até hoje, hoje junto com a Brahma é a AMBEV. Ele foi trabalhar lá com 14 anos. Ele se orgulha muito de contar essa história, ele era picão. Talvez vocês nem saibam o que é, eu também (risos). Quando ele me contava eu não fazia ideia. Picão era aquele ajudante geral que servia o cafezinho, separa correspondência, levava recado, enfim. Muito jovem, 14 anos, era uma realidade muito diferente da atual. Isso fez muito bem pra ele, com certeza, pra ele e pra minha mãe com certeza foram grandes escolas pra eles, escolas da vida. Conheceu muita gente muito bacana, que deu muito exemplo pra eles. Então, meu pai começou a trabalhar muito cedo e foi na época da faculdade que ele conheceu a minha mãe. Na verdade, na época que ele tava ingressando na faculdade. Essa história tá bem fresquinha que eles sempre contam pra gente, né? Eles se conheceram no dia que meu pai foi prestar vestibular no IMES, uma faculdade lá, Instituto – como é que se chama – é uma escola de administração em São Caetano do Sul que funciona até hoje, é uma Faculdade bastante conceituada lá. E, a muito contragosto, ele foi fazer esse vestibular. Ele lembra que o primo dele passou na casa dele, não sei se era um final de semana, onde ia ter esse processo seletivo pra faculdade e falou: “Marco, vamos lá, vamos prestar, vamos ver se a gente. Vamos estudar lá, o pessoal vai todo, os amigos, vamos prestar lá?” E meu pai não, tava bem desligado, não sabia o que queria fazer e meu pai: “Não, me deixa aqui, quero ficar em casa.” Ele fala que tava tomando guaraná, num dia assim, assistindo televisão, jogadão. (risos) E no quarto dele, né? “Não, vamos lá.” Bom, de tanto que insistiu esse primo e os amigos ele acabou trocando de roupa e foi fazer inscrição. Fez a inscrição, disse que tinha um monte de gente lá conhecida na fila pra fazer a inscrição. E que, inclusive, ele precisou voltar em casa pra pegar uma série de documentos que precisavam e que, no final das contas, o único daquela turma que prestou o bendito vestibular e passou foi ele (risos). Os amigos que queriam que ele prestasse acabaram não passando. E na volta pra casa, depois de ter feito o processo todo lá, ele tava voltando com o carro e ele passou na volta de São Caetano e ele passou na frente da casa onde morava a minha mãe. E ela tava no portão, acho que conversando com a irmã. E minha mãe ela sempre foi muito bonita, muito jovem, loira, de olho claro, ela chamava bastante a atenção. E meu pai passou com o carro e ficou encantado com ela, então, ele deu a volta no quarteirão. Depois encostou e tentou se aproximar pra conversar. E aí começou uma conversinha, uma paquerinha entre os dois e graças a Deus eles engataram um romance em pouco tempo. E estão juntos até hoje. Nem sei se eu me perdi.
P/1 – Não, tá ótimo. Eu só queria que você falasse um pouco como é que se deu isso de você ter o mesmo nome do seu pai, foi uma decisão de quem, como é que foi?
R – Ah, acho que do meu pai, né? A família italiana é muito machista, ainda hoje. Isso vem caindo um pouquinho por terra, mas ainda é muito forte, a cultura italiana, o homem, o patriarca. Isso eu vim aprendendo dentro da minha família ao longo dos anos, às vezes a gente ouve de fora, mas a gente vai vendo que essa cultura é muito presente. Na nossa família mesmo, é só olhar pra dentro dela e prestar atenção. Então, o filho homem sempre era muito desejado. Não é que uma mulher não era desejada, mas todos queriam ter um filho homem, pelo menos, um filho homem. A minha mãe ela teve cinco gravidezes, só três que vingaram; ela perdeu dois filhos ainda na gestação. E meu pai, não sei se era uma exigência, ele fazia questão, mas ele gostava, ele queria ter um filho com o nome dele e minha mãe não se opôs de forma alguma. Eles sempre foram muito, concordaram na maioria das coisas. Então, foi com muito prazer que os dois decidiram colocar, era o primeiro filho homem.
P/1 – Então você tem dois irmãos, é isso?
R – Eu tenho uma irmã mais velha, a Cláudia, e eu sou o do meio. O meu irmão mais novo tem o nome do meu avô paterno, Lorenzo. Aliás, do avô paterno e materno. Eu falei que minha mãe perdeu dois filhos durante a gestação. Engraçado, não sei se isso é uma coincidência, mas a minha avó paterna também perdeu uma criança que já tinha mais de um ano, um bebê. Teve a gestação normal e pouco tempo depois de completar um ano faleceu. E o nome dele era Lorenzo, que era o nome do meu avô. E meu pai queria ter um filho também chamado Lorenzo. Depois que nasceu minha irmã, ela ficou grávida e quando soube que era menino ele ia chamar Lorenzo. Ai a gestação foi interrompida. E aí minha mãe ficou grávida de novo e meu pai queria de novo ter o Lorenzo, Lorenzo era o grande desejo dele. Aí minha mãe falou: “Não, Lorenzo não. Esse aqui não. Você queria ter um filho Marco também? Então, esse aqui vai ser o Marco.” (risos) Então, eu nasci.
P/1 – (risos) E você fala com bastante carinho dos seus avós. Você tem lembranças deles de criança, de ter passado tempo na casa da sua avó?
R – Ah, sim.
P/1 – Você falou que conversa bastante?
R – Minha mãe ela tem uma gratidão da minha avó materna, tem uma gratidão muito grande pela minha avó porque ela permitiu que minha mãe fizesse algumas escolhas na vida. O fato de ela trabalhar fora, ela sempre, ela teve uma família por opção, ela queria ter os filhos. Ela quis, não foi nada acidental. E ficou muito feliz quando nasceu cada um dos filhos dela. E ela queria estar junto dos filhos, ela queria criar a família dela, como ela fez. Só que pra isso ela precisou de ajuda também, uma ajuda muito valiosa que foi da minha avó, a vovó Natália. Com certeza, a gente tem um carinho muito forte por ela porque ela, sem dúvida, ajudou na nossa educação. E nos períodos que minha mãe tinha que se ausentar pra trabalhar quem ficava conosco era a minha avó. Minha mãe morria de medo de deixar a gente com babá, com uma empregada. Sempre ouviu histórias. Então, a minha avó fez esse papel aí de tomar conta dos filhinhos dela durante bons anos. Então, sem dúvida, essa é uma memória muito presente, muito forte pra gente. E dos meus avós paternos não tão intenso quanto da minha avó materna, nessa questão, porque minha avó ela praticamente ela ficava todos os dias com a gente. Mas nos domingos, a gente tem uma lembrança muito forte. A gente eu falo eu e meus irmãos. No domingo, que era o almoço na casa da vovó. Inclusive algumas das fotos que eu mostrei pra vocês foi feita com certeza num desses domingos lá na casa dos meus avós. Então, família italiana, aquela mesa farta, toda família reunida. E isso durou muitos anos até a morte do meu avô. Com certeza aí praticamente todos os domingos a gente tava junto. Meu pai, ele tem dois irmãos, o Antônio Carlos e a Sandra. Então, os três filhos aí com as suas famílias, a gente ficava quase em 20 pessoas, todos os domingos lá na casa da avó, que era grande. Podia correr, tinha uma praça na frente que a gente podia brincar.
P/1 – E você comentou que os seus avós maternos trabalhavam na agricultura, né, e os seus avós paternos quando eles chegaram aqui no Brasil como é que foi?
R – A minha avó trabalhou pouco tempo. Ela foi trabalhar numa empresa, acho que numa empresa alemã, se eu não me engano é a Wolff, não me lembro o nome, empresa que fazia talher, trabalhava com metais e fazia talheres de inox. Ela trabalhou não sei quanto tempo, mas ela trabalhou pouquíssimo tempo porque ela acabou se casando com o meu avô e a obrigação era cuidar da família. O meu avô veio pro Brasil já com o objetivo de montar a padaria. Não foi ele que iniciou, mas ele reiniciou um processo que foi começado pelo pai dele, o Donato Di Cunto. A gente vai chegar lá quando começar a falar da empresa. O meu avô ele já veio com um objetivo bastante definido, ele e os irmãos: os irmãos Di Cunto, que inclusive hoje é o nome da empresa. A razão social é Irmãos Di Cunto. Foram quatro irmãos, meu avô Lorenzo e mais três irmãos que formaram essa sociedade. Então, eles vieram pro Brasil já com o objetivo de recuperar um casarão que o pai tinha deixado. O pai que tinha deixado o casarão aqui onde outrora funcionava uma padaria. Eles vieram com o objetivo de reabrir essa padaria, reformar a casa, reabrir a padaria e tocar a vida aqui no Brasil. Eles vieram pra cá pra ficar, não é que vieram e por acaso ficaram. Eles vieram pra ficar. Eles vieram no pré-guerra, pré Segunda Guerra. Então, teve um grande êxodo aí da Europa inteira. Acho que isso também ajudou, motivou a família a buscar outros ares.
P/1 – Tá certo, agora vamos focar um pouquinho em você. Eu queria que você descrevesse um pouco pra gente a sua casa na sua infância. Como é que era a sua casa, como é que era a rua?
R – Olha, eu nasci e morei no mesmo lugar até dois meses atrás (risos). Um apartamento, bem diferente dos meus pais que contavam aquela história de rua. Mas, nossa, eu só tenho boa lembrança. Fiz muitos amigos do próprio condomínio, dos condomínios vizinhos. Sempre estudei no mesmo bairro que eu morei, então, na Mooca as famílias se conhecem bastante. A Mooca é um bairro muito tradicional, foi colonizado por muitas famílias italianas. Até hoje esse traço de italiano é muito presente muito forte. E as crianças, as pessoas criam raízes. Então, as famílias, gerações após gerações continuam. Isso favorece com que esse vínculo perdure. Então, meu pai tem amigos que hoje têm filhos da minha idade, dos quais eu sou amigo também e frequentamos os mesmos lugares. Então, isso favorece e eu me sinto privilegiado de ter nascido num bairro como esse daí. Num prédio maravilhoso, que não oferecia estrutura nenhuma de lazer pra criançada, mas que não fez falta, a gente improvisou sempre. Uma quadrinha, tinha um cantinho, um quintalzinho quase que virava a nossa quadra de esportes. A gente brincava de jogar bola, quebrava as janelas do salão de festas porque era um espaço totalmente improvisado. Pulava o muro e fazia bagunça. Dessa forma a gente conheceu o pessoal dos prédios vizinhos. Às vezes de uma rixinha com o prédio vizinho nasceram grandes amizades que a gente carrega até hoje. Então, foi dentro de um prédio. A nossa área de lazer era praticamente esse quintalzinho ali. Minha mãe sempre fez muita questão de trazer os meus amigos pra dentro de casa pra que dessa forma ela pudesse conhecê-los. Foi uma estratégia, né? (risos) Ela sempre quis ter muito perto. O meu pai tinha um outro pensamento, ele queria a casa dele um santuário, preservado, ele queria ter privacidade. Então, às vezes algumas discussões surgiram, mas minha mãe sempre venceu nesse sentido que ela queria saber com quem os filhos dela andavam. Então, desde pequenininho a gente sempre recebeu muitos amigos em casa. Nosso apartamento era grande pra nossa família, então, a gente brincava, inclusive, dentro do apartamento, andava de bicicleta (risos), jogava bola dentro do apartamento, levava os amigos lá pra jogar video-game e fazia muita bagunça dentro de casa. Então, essa lembrança é muito forte, curtir a minha casa e ter os meus amigos próximos, dentro da minha casa ou dentro do prédio, com a minha mãe sempre supervisionando (risos).
P/1 – E que recordações que você tem do comércio na sua infância?
R – É uma visão um pouco limitada aí, a gente, não sei o que que marcaria aí.
P/1 – De repente alguma loja que você gostava de ficar parado na frente, alguma vitrine que chamava a sua atenção ou dos seus amigos.
R – Olha, quando você é criança, eu lembro que a gente ia bastante em shopping centers com a minha mãe e a gente odiava entrar nas lojas. Meu irmão fazia pirraça pra caramba, ele chegava a deitar no corredor do chão (risos) pra que minha mãe não demorasse nas lojas. Essa é uma lembrança forte. Independente do tipo de loja ou qual loja, mas especificamente do bairro que a gente morava a gente costumava ir muito num mercado que é muito forte até hoje, ele é muito regionalista e muito querido por todo mundo que mora lá que ele é o Yamauchi, que ele é um restaurante – um restaurante, não, um mercado – (risos) e ele é de uma família japonesa e ele é bastante antigo ali. Eu não sei qual é a idade, quantos anos têm de fundação, mas a minha infância foi muito marcada lá. Porque eles tinham uma área que ficava no andar superior que vendia brinquedo, tinha uma papelaria, tinha uma série de coisas que a gente gostava de visitar, queria alguma coisa de lá (risos). Então, me marcou muito o Yamauchi. Era completamente diferente do que é hoje. Hoje eles se modernizaram, estão bem mais dinâmicos. Com certeza uma lembrança muito forte. Alguns outros comércios, talvez de pet, porque a gente gostava muito de, a gente tinha peixe. Tinha uma turminha do prédio que todo mundo tinha um aquário e a gente comprava muito nas lojas, eram os pet shops aí. E eram lojas especializadas. Eu lembro que tinha na Rua Oratório, certamente ela já fechou, faz bastante tempo. E na Rua Juventus também, ficava no calçadão. Então, minha lembrança de infância era de frequentar esse tipo de lugar, de ter interesse direto de ir comprar algo.
P/1 – E você se lembra de ir pra Di Cunto quando era criança, às vezes você acompanhava seu pai em alguns momentos, como é que era?
R – Pra gente conviver com o meu pai a gente tinha que ir pra empresa, porque era (risos). Meu pai sempre trabalhou muito, a empresa trabalha de segunda-feira a segunda-feira. Então, eu acho que 90% do comércio aos finais de semana são os dias mais movimentados, o comércio tem maior faturamento. Então, meu pai sempre teve envolvido com o negócio também. A gente sempre frequentou. Para conviver com o meu pai a gente tinha que estar indo visitá-lo. Mais uma vez voltando nas fotos, aquela lá que a gente tá de caipirinha, provavelmente alguma festa na escola que a gente saiu e a minha mãe nos levou pra empresa pra ver o pai, pra que ele também pudesse nos ver daquele jeito, com certeza. Mas pouquíssima coisa mudou com relação à empresa, porque eu sempre frequentei (risos). Eu tenho 31 anos hoje, e pouquíssimas transformações assim físicas foram feitas na Di Cunto. A lembrança é reforçada todos os dias quando eu chego pra trabalhar. Algumas coisas mudaram bastante. Por exemplo, a nossa loja, que é o coração da empresa, a nossa loja de fábrica, que a gente recebe milhares de pessoas, ela tá praticamente do mesmo jeito há uns 25 anos, que é a partir do momento que eu tenho alguma lembrança. Então, é uma viagem no tempo a Di Cunto. (risos)
P/1 – (risos) E fala pra mim qual é a primeira lembrança que você tem do período da escola.
R – Olha, da escola? Estudei num Colégio que chama Liceu Santa Cruz, ele existe até hoje. Ele passou, a administração foi modificada acho que duas ou três vezes depois que eu deixei o colégio. Mas é um colégio que tem tradição, é muito forte no bairro. Colégio pequeno, mas é bastante tradicional. Eu fui muito cedo pra escola, eu queria ir pra escola. Eu via a minha mãe levando a minha irmã, minha irmã era o contrário, ela não queria ir pra escola (risos). Ela tinha três, quase quatro anos de diferença. Minha irmã com seis anos aproximadamente ela não queria ir pra escola; e eu, com dois, queria acompanhar, eu queria ir junto. E por insistência minha, que eu queria ir pra escola, queria ir pra escola, porque eu ia levar junto a minha irmã. Minha mãe resolveu fazer teste, até com dor no coração porque eu era muito novinho ainda, tinha pouco mais de dois anos, e ela me levou lá no Liceu Santa Cruz e eu me saí muito bem lá. Então, entrei muito cedo no colégio que eu fiquei até a conclusão do segundo grau, médio hoje. Como eu fiquei o tempo todo no colégio, o tempo todo, completei o médio no mesmo colégio eu fiz muitos amigos lá, muitos que eu conheci pequenininho que cresceram junto comigo. Também dou muito valor pra isso, acho muito especial, então, minha mãe com certeza acertou na escolha do colégio. Tive grandes amigos, tive grandes exemplos, a direção, grandes professores. Com certeza isso contribuiu muito pra que eu me tornasse quem eu sou. Então, as lembranças que eu tenho do colégio? Das festas, das festas de final de ano. A gente tinha um diretor da escola, que era o proprietário, ele chamava Afonso. Ele, nossa, ele fazia discursos longuíssimos, isso pra criançada era um porre. (risos). As festas a gente queria brincar. Mas eram grandes festas que eram feitas, muitas vezes, no Clube Atlético Juventus no salão nobre, que era um salão muito grande. Então, tenho grandes lembranças aí dessas festas de final de ano onde a gente preparava um número pra apresentar pros pais. Ou era fantasiado de alguma coisa fazendo dança, bem bobinha, bem simplesinha; são coisinhas bem marcantes pra gente. Aí um pouquinho mais pra frente, já adolescente, o que me marcou muito foi a chegada de um novo diretor que se chamava Marco Antônio, era sensacional, com ideias novas, chegou revolucionando o colégio. E ele criou, em pouco tempo, criou olimpíadas, mas olimpíadas que visavam integração entre todas as classes, integração de todas as matérias, professores. Foi uma ideia maravilhosa. Isso mexeu completamente com a escola nos três anos que eu consegui participar, foram acho que o primeiro, segundo e terceiro colegial ou oitava série também, quatro anos, que foram muito marcantes pra gente. E a gente pode conhecer muita gente que, às vezes, passava despercebido. Sem dúvida essa parte das olimpíadas que eram esportes de todas as áreas. E eu cheguei a praticar em olimpíada atletismo, salto a distância, lançamento de dardo. Até pra dar oportunidade pro aluno conhecer modalidades que ele só vê pela televisão de quatro em quatro anos. Foi muito bacana, isso aí proporcionou uma integração muito grande no colégio, marcou não só a mim, mas a todos que participaram, com certeza. Um ponto alto disso foi a abertura de uma das olimpíadas que eu participei, que os alunos de todas as séries participaram de uma coreografia orquestrada aí onde a gente formava imagens, não sei se isso tem um nome específico. Mas sabe quando um grupo muito grande de pessoas, quando você tá olhando de cima, à distância? A gente formou várias imagens interessantes com mensagens de paz. Isso exigiu uma bateria de ensaios muito grande, durante muitos meses. Dessa forma também a integração entre os alunos foi muito bacana, isso marcou todo mundo que participou. Então, com certeza essa época do colégio foi um dos grandes pontos que ficaram registrados.
P/1 – E você se lembra como você ia pra escola, a escola era perto da sua casa, como é que era?
R – Muito perto, sempre foi. Eu estudei no Liceu em duas unidades, a primeira, não sei se era um prédio alugado, mas desde pequenininho nesse colégio se falava do Liceu novo, que eles iam construir. Acho que era um sonho da diretoria comprar um terreno e construir com os padrões que eles queriam o colégio. Então, eu estudei até a oitava série, não, até o primeiro colegial na mesma rua, na Avenida Paes de Barros - eu sempre morei na Avenida Paes de Barros no 1136 - e o Colégio devia estar no número setecentos, seiscentos, sei lá, eram duas quadras da minha casa. Então, desde muito jovem eu já ia a pé pra escola sozinho, praticamente. Sozinho, não, com um grupo. Tinha um grande, um dos meus melhores amigos com certeza, ele estudou comigo durante boa parte dessa trajetória lá no Liceu. E morou também no mesmo prédio, ele morava no segundo andar e eu no sétimo, então, a gente sempre foi junto pro colégio, estudava na mesma classe. E tinham outros amigos que moravam no caminho também, então, a gente no caminho ia encontrando o pessoal e chegando junto pra escola. Então, também era uma grande farra ir pra escola já começava bem, era um momento de alegria. Nunca foi difícil ir pra escola, nunca foi chato ir pra escola, A gente encontrava os amigos e passava momentos bem legais.
P/1 – E você se lembra daquela coisa de ir comprar o material escolar, você saia com a sua mãe, vocês iam a algum lugar específico?
R – Eu me lembro do Yamauchi, engraçado. Eu lembro de ir com ela (risos). E não que era um grande evento esse, porque a gente nunca foi de ligar pro material, de ter tudo certinho. O estojo era tudo bagunçado, um usava o do outro, um emprestava pra outro. A gente tinha algumas pessoas na sala que eram mais organizadas que tinham o estojo todo bonitinho, separados os lápis, lapiseira. Mas não é algo que me marcou a compra do material escolar. Mas era a gente que fazia. Hoje as escolas quase que vendem um pacote (risos). Não existe mais aquele ritual.
P/1 – Depois, entrando mais na juventude, como é que foi a escolha do curso, você fez faculdade, como é que foi, como é que surgiu a escolha?
R – Então, conforme eu fui amadurecendo, aos pouquinhos, eu fui tomando mais contato. A Di Cunto é nome de família, é o nome da empresa, a empresa que hoje tem 76 anos. Mas ela já é bastante conhecida na nossa região de atuação, ela é muito conhecida há bastante tempo. Então, o sobrenome Di Cunto era bastante conhecido, falava “Di Cunto.” “Ah, Di Cunto, lá da Confeitaria? Ah, que delícia a coxinha e isso e aquilo.” (risos) Então, a gente sempre cresceu com esse nome mágico. Di Cunto sempre trazia boas lembranças pra todas as pessoas que conheciam a gente e isso era muito bacana, era gostoso. “Pô que legal ouvir esse tipo de história.” Então, o interesse pela empresa foi crescendo a cada dia quando a gente foi tomando consciência disso, tomando contato com isso. E uma outra questão que pra mim foi determinante é que eu sentia falta do meu pai, eu queria estar com ele, eu queria estar próximo a ele. Sem dúvida, esse foi um dos grandes fatores que me aproximou da Di Cunto. Então, com 15 anos mais ou menos eu lembro de já ir pra Di Cunto ajudar de alguma forma. Era um trabalho assim não sem compromisso, porque a gente tinha compromisso, assumia determinada responsabilidade e tinha que dar conta do recado. Mas era um reforço em datas especiais. O movimento sempre foi muito maior nas datas de festas, Dia das Mães, Dia dos Pais, Natal, Reveillon. Então, de que forma podia ajudar? Ia ajudar a fazer pacotes, atividades bem simples, mas que de alguma forma fizeram que eu gradualmente fosse tomando contato com a empresa mais e mais. Depois ajudar a retirar pacote na loja, o primeiro contato com o cliente. Depois de algum tempinho eu era ajudante de motorista, ia ajudar a fazer entrega. Não podia dirigir mas eu ajudava a fazer as entregas maiores. Isso, de uma forma bem devagarzinho fez com que eu fosse incorporando e vestindo essa camisa da Di Cunto, querendo fazer parte daquilo.
TROCA DE FITA
P/1 – Então, Marco, você tava falando pra gente, eu te perguntei dessa escolha por fazer uma faculdade e você falando que foi até atrelada, uma coisa gradual dentro da Di Cunto. Conta pra gente?
R – Essa vontade de estar perto do meu pai, esse vínculo crescente com a empresa, de estar atuando de alguma forma, de estar ajudando de alguma forma fez com que eu me interessasse cada vez mais. Então, foi a época de vestibular se aproximando, segundo colegial você já começa: “Opa, tá chegando a hora, que que eu vou escolher?” Então, eu descobri, eu nem conhecia o curso chamado Engenheira de Alimentos, que é relativamente novo. Não sei se tem 30 anos aproximadamente que essa profissão é reconhecida. E eu não conhecia, eu falei: “Nossa, Engenheiro de Alimentos, que que será? Vou pesquisar a respeito e tal. Tá aí, é o tipo de profissional que a Di Cunto precisa pra continuar crescendo.” Dei uma olhada no currículo o que era Engenheiro de Alimentos. “Poxa, vai ser bacana, eu acho que eu vou escolher essa proposta.” Eu queria algo relacionado à empresa. Eu já tinha como meta uma colocação na empresa pra suceder meu pai de alguma forma, continuar com a história da família à frente do negócio. Então, foi esse o critério que eu adotei. “Onde eu vou estudar?” Eu vi as faculdades que ofereciam esse curso. Naquela época eram duas aqui em São Paulo. Eu não tinha ideia de sair pro interior. E eu acho que no interior mais próximo que tinha, que era uma ótima faculdade era a UNICAMP, Campinas. Falei: “Campinas como uma faculdade diferenciada e tal. Se eu conseguir entrar lá tenho como administrar a minha vida aqui e lá.” Então prestei Campinas, a UNICAMP e a Mauá, Faculdade Mauá. E entrei na Mauá (risos). Aí eu fui ver o que era bom pra tosse (risos), como falavam os antigos. A minha escolha foi baseada em um critério muito pouco estudado assim por mim, na verdade. Eu queria estar próximo do meu pai, eu queria me inserir na empresa e achei uma profissão legal, inovadora. Engenheiro de Alimentos era um negócio legal, “Pô, Engenheiro de Alimentos!” Só que quando eu entrei numa faculdade de engenharia boa como a Mauá, que exige muito do aluno, eu comecei a entender o que era efetivamente ser um engenheiro. Eu nunca fui um grande aluno, mas eu nunca fui um péssimo aluno, sempre tive notas satisfatórias, médio. Fui mediano, medíocre é meio (risos). Mediano é um pouco mais light? Mas eu sempre passei com facilidade. Eu nunca fui muito estudioso, mas sempre pegava rápido e de uma forma relativamente fácil essas coisas. Às vezes dava uma blitz, estudava um pouquinho, eu ia com alguns amigos e era o suficiente pra eu sair bem nas provas. E eu achava que ia ser, de certa forma, tranquilo fazer esse curso, mas encontrei muita dificuldade. Fui pra uma área de exatas que nunca foi o meu forte naquela época. Então, eu acabei sendo reprovado nesse primeiro ano. Só que eu tenho uma característica muito marcante também, eu sou persistente, um pouco teimoso também. “Então eu vou me dedicar mais e vamos avante. Vou me tornar um Engenheiro de Alimentos.” Nessa época eu só estudava, porque o curso de Engenheiro de Alimentos ele só era oferecido no período que era semi-integral, eu tinha aula de manhã e à tarde. Era uma época que eu tava completando, eu entrei com 17 pra 18 na Faculdade. Tava pegando carro e queria poder trabalhar pra ter um dinheirinho, tava começando a sair, diferente de você pedir a mesada pro pai, pedir dinheiro pros pais pra sair, você queria começar a sair à noite. Então, eu queria trabalhar e não tinha como trabalhar num local que um dia eu poderia ir num horário e no outro dia não poderia. Então, algumas coisas começaram a pesar nesse sentido, o fato de eu não poder trabalhar, não ter um rendimento. E eu acabei reconhecendo que eu não tinha vocação pra área de Engenharia. (risos) Eu fui amadurecendo isso ao longo do segundo ano. E quando eu fiz novamente o primeiro ano, passei. Mas antes de começar o segundo ano eu repensei se eu queria continuar ou não o curso. Foi um ano muito difícil porque eu sabia que de alguma forma eu ia frustrar o meu pai, ele colocou, depositava uma grande esperança, ele tava muito feliz com a ideia de me ver um Engenheiro de Alimentos trabalhando com ele. Então, foi muito difícil essa decisão e abandono do curso, eu tive que abrir mão. Mas foi com certeza um grande alívio pra mim, foi um momento importantíssimo na minha vida. Sofri naqueles dias que eu decidi, tomei a decisão, contei pros meus pais. Mas com certeza foi a coisa mais inteligente de fazer naquela ocasião. Eu fiquei um ano sem estudar pra tentar botar a cabecinha no lugar e descobrir realmente qual que era a minha verdadeira vocação, o que eu gostaria de fazer e faria bem. Essa época eu tinha banda já (risos). Era uma grande válvula de escape pra mim. Então, esse ano inclusive, como eu tinha mais tempo livre, eu tive condição de intensificar as minhas atividades com a banda, a gente foi tocar bastante. Viajou bastante numas cidadezinhas do interior e foi muito gostoso, com certeza foi muito marcante pra minha vida. Ao longo desse ano fui amadurecendo, pesquisando, tentando me conhecer melhor e respeitar aquilo que me interessava mais, respeitar mais essa minha opinião e não ficar balizando em ideias como aconteceu quando eu escolhi o curso de Engenharia. Eu cheguei na área de comunicação, então, ao término desse ano eu prestei vestibular novamente e iniciei o curso de Comunicação na Metodista, Comunicação Social com ênfase em Propaganda. E graças a Deus foi muito bacana, eu conheci muita gente boa, me interessei muito pela área, foi muito tranquilo o estudo. Não foi algo que me exigiu demais porque eu fazia tudo de uma forma muito simples, com muito prazer. Entrei de cabeça, estudei bastante, me dediquei porque tudo me interessava, era tudo novo e me interessava, era fácil de fazer pra mim. Foi dessa forma que eu consegui reconhecer e entender o significado da palavra vocação. Quando a gente tem alguma pré-disposição pra alguma coisa e tem facilidade em aprender determinado tipo de coisa o interesse ele é natural. Então, eu me descobri aí como estudante de Comunicação. Aí desde o princípio da faculdade eu fui procurar trabalhar, alguns estágios e foi muito bacana pra mim, com certeza. Me formei no curso de Comunicação Social. Eu era um dos alunos mais velhos da classe, fui estudar à noite porque eu precisava trabalhar, então, eu já fui estudar à noite. A diferença de três anos, quatro anos. É o tempo que eu fiquei na Mauá, dois anos mais um ano parado, eu tinha mais ou menos três, quatro anos de diferença do restante da turma. Eu era o, às vezes faz alguma diferença pra quem tem 18, tem 21 algumas coisas já passaram, alguma experiência anterior você já tem. Então, foi muito bacana pra mim, conheci muita gente legal, professores muito bacanas. E através desse curso também eu comecei a me aproximar da empresa, que não tinha uma área que se preocupava em pensar a parte de comunicação e marketing da Di Cunto. Então, encontrei um espaço fértil aí, uma área, um espaço bastante aberto pra eu poder entrar de alguma forma e contribuir da melhor forma que eu achava que era possível. Já na faculdade, desde o princípio eu comecei a assumir a responsabilidade por toda essa área e a interferir em todos os serviços que tinham comunicação no meio. O desenvolvimento de um material simples, um cartão de visita, o material impresso, a aplicação da logomarca, a padronização da apresentação da logomarca. Desde o princípio eu comecei a atuar na Di Cunto, mesmo que não de uma forma integral, não era full-time porque eu comecei a fazer estágios, fui trabalhar numa empresa de amigos meus que era um guia de internet que era uma grande novidade também, a internet crescendo. Os amigos me convidaram pra trabalhar junto, era um guia que chamava Guia Mooca, que era um grupo de internet que juntava, catalogava diversos prestadores de serviço, todos que tinham sede na Mooca pra oferecer uma ferramenta pra quem procurassem por esses produtos e serviços e encontrassem de uma forma bem fácil na internet. Era um catálogo digital e vivia de anúncios. Sem nenhuma experiência na área, desde o princípio eu fui trabalhar numa empresa que trabalhava com pura comunicação no meio que era ainda muito novo, a internet a cada ano ela cresce assustadoramente. Então, com certeza em 2002 eu acho que quando eu comecei a trabalhar com esse amigo meu, de lá pra cá muita coisa mudou, pouco menos de dez anos. Eu lembro, pra você ter uma ideia, o Google era novidade. (risos). Pouquíssimas pessoas conheciam o Google, uma ferramenta de busca (risos). Eu lembro que quando esse meu amigo, que era o dono da empresa, falou: “Putz, dá pra fazer muita busca.” E tinha, já existia o “Cadê?”, o “Cadê?” sumiu. (risos) Eu acho que era um dos grandes aqui no Brasil, foi um jovenzinho que criou e fez fortuna. E ele falou: “Putz, consulta isso aqui, isso aqui é novo. É legal também, o Google.” A primeira vez que ele me apresentou eu falei: “Nossa, que legal, Google, interface simples, resposta rápida.” E conheci o Google. Só pra... algo que me marcou. E o Google de lá pra cá acho que dobrando (risos) a cada dia de tamanho. Comecei desde o princípio do curso a ter atividade na área. Então, eu tive uma experiência muito intensa, mas bem curta. Foi de um ano e meio aproximadamente. E depois desse um ano e meio eu fazendo esses pequenos trabalhos em paralelo pra Di Cunto, folhetos, aos pouquinhos aprendendo a mexer nas ferramentas, começando esse trabalho mesmo que de fora assumindo, isso foi ganhando um espaço dentro da minha agenda e eu tive que fazer uma opção. Então, eu resolvi ir pra Di Cunto e trabalhar junto com meu pai. De uma forma bastante estranha no começo porque eu queria trabalhar com meu pai, mas o meu pai eu acho que não fazia muita questão que eu fosse trabalhar com ele nessa época. Não sei se era pra testar até onde eu tinha interesse nisso, mas isso fez com que eu sofresse um determinado momento. Eu queria trabalhar de forma oficial na empresa, eu queria não ser o filho do Marco que é um dos sócios. Eu queria poder colaborar e queria poder entrar no trilho normal, assim como qualquer outro colaborador da empresa. Se eu tivesse que ser um funcionário comum eu seria um funcionário que trabalhava nessa área, que é uma área importante dentro de qualquer empresa. E isso demorou pra acontecer, na verdade. Mas mesmo assim eu não me abalava. Comecei a trabalhar lá sem ganhar nada. O meu pai muitas vezes me ajudava com alguma coisa, mas sem salário, sem nada, de uma forma muito solta, muito gradual. Aos pouquinhos eu fui assumindo responsabilidades. Já que eu tava lá no meio e eu me interessava, sempre fui muito interessado em aprender, em estar junto, em querer saber como as coisas funcionam; então, eu colei no meu pai. Colei, era um carrapato nele. E o meu pai ele tem uma característica muito forte ainda, ele é bastante centralizador, coisa que eu condeno hoje, mas que facilitou o meu processo de aprendizado, com certeza. Eu, por estar muito próximo a ele, essa minha integração, essa introdução aí na Di Cunto, estar do lado do meu pai foi a maior escola que eu podia ter, com certeza. Escola de como se relacionar com colegas de trabalho, com colaboradores, como se relacionar com clientes, com os parceiros e fornecedores. Com certeza, em pouco tempo eu adquiri uma experiência que muitos amigos, que trabalhavam já há algum tempo, com certeza não tinham ainda. Uma experiência muito forçada em função de eu estar junto com o gestor de uma empresa. Com certeza foi lá que eu fiz a minha grande escola. Se eu fosse te contar qual que seria a forma que eu entendo que seria ideal pra que eu pudesse me aprimorar na profissão seria ter tido a oportunidade de trabalhar com alguém na área de comunicação, alguém que tivesse uma experiência bacana e que tivesse uma característica de querer ensinar. É importante hoje isso, mas eu não tive. Na área de comunicação não tive. Fui trabalhar com pessoas que eram jovens no começo, no estágio que eu mencionei com meu amigo. Todos eram pioneiros lá, eles estavam criando uma empresa nova, com poucas referências. A gente estava descobrindo como fazer diferente. De uma certa forma isso fez também com que a gente desenvolvesse coisas diferentes e criativas, desenvolvesse esse lado criativo. Mais adiante na minha história, já na Di Cunto, não especificamente na área de comunicação, mas como gerir uma empresa foi a grande escola que eu fiz estando perto do meu pai. E isso até hoje, com certeza. Em sete anos que eu to com ele full-time, full-time, todos os dias na empresa. Trabalho seis dias por semana, às vezes sete. É uma grande luta lá dentro, espero não repetir o que ele faz (risos), porque meu pai trabalha sete dias por semana. Pelo menos dez, doze horas por dia. Essa é uma das partes chatas de quem tá no comércio. Mas eu entendo isso ainda como uma forma um pouco ultrapassada de se pensar. Mas exige muito, o comércio exige muito. Eu aprendi a trabalhar no comércio trabalhando. Foi a escola, foi junto com meu pai. Aprendi, tenho alguns mentores que com certeza me ensinam até hoje, pessoas com muito mais idade que eu. Desde muito cedo comecei a conviver com pessoas com muito mais idade que eu. Isso me forçou a amadurecer num tempo menor também. É muito gostoso estar com gente da sua idade, com o mesmo espírito, mesma pegada, mesma alegria. Às vezes eu fiquei um pouco privado disso porque, por uma escolha. Eu queria fazer parte da empresa e a empresa grande a maioria das pessoas que trabalhavam lá eram pessoas já maduras, com muitos anos de casa. Como eu colei no meu pai, ele é uma pessoa que sempre lidou com empresários, sejam eles clientes ou fornecedores, esse contato também fez com que eu pudesse ter uma escola muito bacana também. Me relacionar com donos de outras empresas, aprender a ver a visão deles também a respeito de muitas coisas, me fez interagir em diversos tipos de áreas, não só a área de comunicação. O contato com um advogado que é um grande amigo nosso, que presta assessoria jurídica pra gente, me deu experiências maravilhosas. Com certeza ele é uma das pessoas que é um dos grandes mentores, Dr. Rui Fernando, um grande amigo nosso. Funcionários antigos, que trabalham conosco até hoje, com 40 anos, 50 anos de empresa, é algo raríssimo, só empresas que tem essa longevidade que a gente tem vão conseguir ter esses feitos aí. Então, com certeza a troca com essas pessoas foi a melhor escola que eu fiz. É a escola que eu faço todos os dias, é um grande aprendizado estar à frente de uma empresa. A história de família é muito forte, a gente têm grandes exemplos aí. Na Di Cunto eu não precisei começar nada, já tava tudo pronto. (risos) E é lógico que eu posso, hoje eu tenho liberdade, hoje eu tenho autonomia pra isso, pra dar uma cara nova pra algumas coisas. A gente interage muito, somos duas gerações convivendo de uma forma harmônica, mas às vezes conflitante também. Eu trabalho junto com o meu pai, um primo dele, que é meu tio – chamo de tio – primo de segundo grau, que é o Reinaldo. São os dois sócios-diretores da empresa hoje. Tenho mais um tio meu que trabalha na área operacional, que é o Antônio Carlos, que é irmão do meu pai. E trabalho junto com a minha prima, que é filha do Reinaldo, que é minha prima de segundo grau também, que é nutricionista. Trabalho frente a frente com ela. Aliás, foi até ideia minha isso porque eu não tive contato com a minha prima na minha infância, ela tem um pouco mais de idade do que eu, mas como é prima de segundo grau as famílias não....O link é na Di Cunto. Então, em eventos de família, eventos da empresa a gente estava junto, mas a gente não desenvolveu grandes laços na infância e na adolescência. E só depois de adultos é que a gente começou a se relacionar mais. A minha prima é nutricionista e eu digo que foi ideia minha, a ideia da gente trabalhar junto no mesmo ambiente. Eu trabalho numa parte administrativa e ela produtiva, operacional, da produção. E eu achei que era muito importante, como a gente não tinha esse relacionamento anterior a gente tá estreitando porque somos a geração sucessora. E hoje em qualquer empresa que pretende ter uma continuidade é muito importante se pensar em continuísmo, como que ele vai se dar. E com certeza no nosso caso passa pelos filhos, os sucessores. Então, muito legal, a gente troca muita ideia, a gente interage, a gente diverge mas a gente aprendeu a pensar junto no futuro de uma empresa. Essa é uma outra escola que eu não ia aprender em lugar nenhum a não ser na prática, no dia-a-dia, relacionamento. E como pensar uma família, uma empresa e a pensar família também que interfere demais na gestão. É importante se pensar isso. Então acho que é isso, Lucas. Não sei se eu passei muito rápido aí por essa história. Têm alguns pontos marcantes da minha, nessa curta trajetória na Di Cunto de sete anos. Com certeza me ajudaram a crescer bastante.
P/1 – E como é que se deu a sua inserção com uma relação mais profissional, é algo que você já trabalhava, já fazia determinadas funções. Mas como é que foi essa relação depois, “Agora eu tenho o meu salário, agora eu sou contratado.” Como é que foi?
R – Olha, são sete anos. Eu fiquei alguns anos aí flutuando nesse ambiente com uma condição bem indefinida. Mas eu acho que em função da minha personalidade, da minha persistência eu sabia o que eu queria, eu não estava passando tempo, eu não tava querendo fazer um cabidão de emprego lá na empresa. Eu queria estar lá, eu queria construir. Cada dia que passava, cada história nova que eu conhecia eu queria fazer parte daquilo. Eu sempre fui muito de pensar numa linha de tempo assim, tentar ver um pouquinho mais pra frente, o que a escolha que eu faço hoje pode me dar como consequência lá na frente. Sempre fui assim, sempre desejei muito estar lá na Di Cunto. Então, essa questão, essa indefinição eu brigava com meu pai, eu cobrava dele esse posicionamento. Mas eu respeito muito essa condição, ele tinha medo também, ele tinha sócios, essa questão de trazer o filho pra trabalhar. Então, vamos dizer que eu mostrei o valor que eu podia trazer pra empresa e eu acabei em pouco tempo me tornando indispensável em muitas questões porque eu sempre me interessei, eu fui buscando isso. Eu fui tirando do meu pai algumas coisas sem querer saber se eu ia ter um reconhecimento ou não, se eu ia ter salário maior ou não. Esse meu interesse, essa minha busca por fazer parte daquilo e fazer daquilo o melhor cada dia fez com que, aos pouquinhos, eu me tornasse uma peça indispensável pra muitos processos. Então, quando eu menos, quando eu me dei conta eu já tava no meio do negócio. E graças a Deus isso já tem algum tempo.
P/1 – E você lembra o que que você fez com o seu primeiro salário?
R – Olha, eu acho que eu fui viajar. (risos) Era bem pequeninho, mas eu acho que eu fui viajar, eu e a minha esposa. Minha esposa hoje, que eu sou recém-casado. A gente tá junto há mais de dez anos. A gente começou a namorar muito jovem ainda. Depois de dez anos a gente conseguiu casar. (risos) E a gente sempre gostou muito de viajar, viajava com a família, sempre muito duro. Eu acho que a gente fez uma viagem legal aí. Com certeza a gente foi viajar pra algum lugar.
P/1 – E você comentou agora da sua esposa, como é que foi que vocês se conheceram?
R – Ela estudou no mesmo colégio que eu, não o tempo todo, mas alguns anos. Ela é da Mooca também. Na época do colégio – ela é três anos mais jovem do que eu – na época do colégio que eu a conheci ela era uma criança pra mim, eu tava no colegial e ela tava... Eu estava com 17 e ela estava com 14. E ela já chamava a atenção, ela sempre foi muito bonita. Ela chamava a atenção e eu tinha até amigos que: “Nossa, olha, quando ela crescer”, esses papos bestas. (risos) E eu sempre achei ela bonita mesmo, mas eu não tinha interesse nela porque ela era uma menina. E as meninas de 17, por exemplo, já estavam com o corpinho mais em cima e ela era muito franzina, ela era bonitinha mas tinha corpo de criança ainda. Então, meu interesse por ela... eu conheci ela nessa fase, achava ela muito bonita, mas era uma criança. Depois de alguns anos a gente se reencontrou na balada. A gente se aproximou em função de um grande amigo meu que era vizinho meu e saía comigo regularmente. Ele ficava com a irmã dela e fez um esquema. Como ele ficava com a irmã dela, acho que pra irmã poder sair agitou da gente pegar um cineminha juntos. Eu já conhecia a Beatriz, já achava ela bonita, a essa altura ela já tava mais mulher. E eu topei na hora: “Vamos, pegar um cineminha.” Que a gente tinha..., não se conhecia muito bem. Conhecia ela da época do colégio, mas a gente não tinha amizade nenhuma. Então, a gente foi pro cinema e rolou uma afinidade quase que imediata. (risos) Não esqueço, a gente foi no Shopping Metrô Tatuapé assistir Star Wars, assistir no cinema. Isso foi em 2000, talvez; 1999, mais ou menos. A gente acabou ficando nesse dia, não assistiu nada do filme, a gente só ficou se beijando. E de lá pra cá a gente foi ficando, começou a nascer um relacionamento. No começo sem compromisso, ficava. Depois de um tempo se encontrava e ficava de novo. Aos pouquinhos isso foi se intensificando. A gente ficou nesse vai-e-vem durante um ano e meio, dois anos. Até que eu caí na real, a besteira que eu tava fazendo: “Eu vou perder essa mulher, não posso.” (risos) E eu pedi ela em namoro e a gente começou a namorar. E de lá pra cá direto e esse amor foi crescendo, crescendo. Eu nunca tive dúvida de que seria ela. Quando chegou a hora certa pra nós dois em termos de maturidade, em termos financeiros também, a gente tá mais equilibrado, a gente decidiu dar esse passinho aí. Então, foi bem planejadinho esse casamento.
P/1 – Tá certo. Agora voltando um pouco pra loja você comentou bem no início da entrevista que o espaço físico da loja mudou muito pouco no decorrer dos anos. Queria que você descrevesse pra gente esse espaço, como é que é, quando eu entro na loja o que eu vejo?
R – Olha, é como se estivesse em casa, pra mim é tão... Mas só pra ilustrar a reação de alguns clientes. Eu já peguei cliente na loja olhando pra um lado, olhando pro outro e meio embasbacado com a loja. A gente até fica curioso “O que que tem de mais assim?” E depois indagando o cliente ele tivera aquele reencontro com a infância dele. Ele tava entrando na Di Cunto sei lá, depois de 20 anos, e tava surpreso porque ele tava encontrando exatamente aquilo que ele tinha deixado há 20 anos, esse reencontro com a infância dele, muito bacana. A nossa loja é muito grande, ela é repleta de vitrines. A nossa vitrine é o nosso grande argumento de venda, ela tá sempre repleta de produtos de todos os tipos. A gente tem mais de mil produtos de fabricação própria. A Di Cunto faz hoje pão doce, bolos, massas, tem uma linha de rotisserie muito extensa, salgados, petit fours, chocolate. Então, cada metro quadrado percorrido na nossa loja é uma tentação à vista, entendeu? Vocês conhecem lá, já tiveram lá? Ela tem a mesma carinha que, eu vou arriscar, há uns 25 anos, eu acho que foi a última vez que ela foi mexida, foi reformada. Pra época com certeza era um marco aí arquitetônico, é uma loja muito diferenciada. A grande proposta na época com certeza era do cliente vir buscar comida e levar pra casa. Até hoje é um formato que já não funciona mais. A gente tá ansioso pra estar mexendo nesse formato de loja, a gente tá se preparando pra tentar mexer nesse formato de loja, que a gente tá se preparando pra quem sabe o ano que vem fazer uma reforma bastante grande na loja pra trazer ela pra um molde mais dinâmico, um molde atual do comércio hoje, onde o cliente quer velocidade, quer bom atendimento, quer tranquilidade, quer saber onde ele tá pisando, onde ele vai encontrar as coisas de forma mais fácil. A gente trabalha com vários segmentos, então, a gente pode mensurar dentro da nossa atividade o que tá crescendo e o que que não tá crescendo. A alimentação fora do lar cresce de forma assustadora porque a mulher foi pro mercado de trabalho. Basicamente acho que o principal motivo é esse. A mulher entrou de vez no mercado de trabalho nos últimos anos e isso só tem se intensificado, cada vez em posições de destaque e mais destaque. Então, a mulher tá no mesmo nível que o homem. E quando se fala numa família com filhos os papéis ficaram muito parecidos também, o da mulher e do homem tá muito dividido. Pra uma família tradicional que a mulher cuida dos filhos, toma conta da casa e faz comida em casa tá um pouco em extinção – se já não tá extinto (risos) – que nas novas gerações a gente percebe isso. Se olhar pros círculos de amizade você vai ver as famílias que estão nascendo agora – como a minha que acabou de nascer – ela tem um perfil bastante diferente da gente. A refeição fora do lar é muito mais frequente hoje, você trabalha, vocês trabalham aqui. Mas certamente, a não ser que vocês morem aqui no quarteirão vizinho, vocês vão almoçar em algum restaurante, não sei se vocês têm um refeitório aqui ou vocês vão frequentar um restaurante aqui perto. E a gente trabalha como restaurante também. Voltando naquele molde de loja, a gente tem uma loja que foi concebida pra que as pessoas viessem buscar comida e levar pra casa. Existia essa tradição muito forte do almoço de família em casa. As famílias se reuniam, os filhos vinham visitar os pais. No final de semana, principalmente aos domingos, todo mundo ia buscar comida lá na Di Cunto e levava pra casa, fazia o almoço em casa. Você tava dentro de casa mas sem ter o trabalho de fazer e preparar toda aquela alimentação. Mas ficava um outro trabalho, o trabalho de arrumar a casa depois. Então, a gente com o restaurante hoje sabe que as pessoas têm prefiro ir com a família pro restaurante e deixar todo o trabalho por nossa conta. A gente vê que dentro da própria Di Cunto o restaurante vem ganhando cada vez mais proporção e aquela loja com as vitrines onde o cliente vinha buscar comida pra levar pra casa tá perdendo espaço pra isso. A refeição no local é algo que os clientes estão priorizando hoje e é o sentido que a gente quer dar pro nosso comércio daqui em diante: favorecer ao máximo o consumo no local. E já tem um restaurante. No meio dessa loja a gente criou algumas áreas, como se fosse uma praça de alimentação onde o cliente vai tomar o cafezinho dele, comer uma coxinha, uma empadinha, comer um docinho. Mas não foi uma área concebida pra isso. Eles estão no meio de um monte de vitrines, isso não favorece o consumo no local.
TROCA DE FITA
P/1 – Você tava falando pra gente das mudanças até no perfil do cliente, desse consumo no espaço dentro da loja e nas alterações na disposição da infraestrutura da loja. Você pode continuar?
R – A gente tem muita vitrine, muito produto em exposição. Você tem que manter essas vitrines sempre bonitas pra que a casa fique atraente. O importante quando você tem vitrine é ter elas bem bonitas e isso significa muito produto em exposição. E essa dinâmica de venda mudou um pouquinho. Com certeza o grande desejo não só meu, mas de toda a direção aí da empresa é trazer essa loja pra uma nova realidade do comércio onde a gente consegue oferecer um atendimento mais dinâmico, mais rápido. O cliente vai ser atendido de forma mais rápida. E oferecer mais conforto pra que ele possa passar uma, duas, três horinhas na tranquilidade, fazendo a refeição dele, levando pra casa também, de uma forma mais estruturada também. Dar um ambiente mais acolhedor.
P/1 – E com relação a equipamentos, o que tem na loja? Tem balança, refrigerador? Até por ser fabricação própria como é que é a cozinha?
R – Na Mooca a gente tem a nossa sede administrativa e fábrica. A nossa loja tem aproximadamente oitocentos metros quadrados, uma loja muito grande. Grande de segunda-feira a sexta-feira; pequena de sábado e domingo, que é onde a gente concentra a maior visitação. É pequena em função da forma do atendimento que a gente tem oferecido. A gente tem muito espaço perdido em balcão que a gente utiliza, por exemplo, pra retirada de pacotes. A gente tem um atendimento que pras algumas pessoas é um pouco confuso, pra quem tá habituado, normal. Mas, por exemplo, você vai consumir uma coisa na hora, você vai tomar um refrigerante, comer um doce, a gente tem uma ficha de atendimento, você vai ter lançado isso na sua ficha de atendimento, que é um papel. Você vai consumir o quanto você quiser e depois você vai até o caixa e paga isso, você se dirige até o caixa e paga. Essa área de caixas é muito grande também, ocupa um espaço muito precioso na nossa loja, a gente precisa diminuir isso. E uma outra forma de atendimento é aquele produto que você vai levar pra casa, aquele pra viagem. Você vai levar uma massa, um bolo, um doce, o que você encomendou, o que você escolheu na hora. Você vai receber essa ficha de atendimento do mesmo jeito, esse produto ele vai ser pesado várias vezes. Vários produtos são vendidos por peso, alguns por unidade. Então, isso vai ser marcado na sua ficha e você vai com a ficha até o caixa. Uma vez paga essa ficha é carimbada e você volta com a ficha até o balcão pra retirar esse alimento que é pra viagem. São as duas formas de atendimento que a gente tem. Ela é um pouco frágil, principalmente nos dias que a gente tem muito movimento. Graças a Deus a gente não tem como mensurar muito, mas a gente sabe que é pouco. Tem algumas pessoas mal intencionadas, pelo fato da gente não ter um controle de acesso, uma vez dentro da loja você pode pegar uma fichinha de atendimento ou duas ou três, dependendo da quantidade de coisas que você vai levar, é uma fichinha de papel. Então, algumas pessoas, espertinhas (risos). Vão lá, comem uma coisinha e aproveitam aquele tumulto, aquela loja movimentada às vezes pra sair e deixar aquela comandinha escondidinha no bolso, ou rasgar simplesmente pra depois sair. Isso é algo que a gente tá sujeito, infelizmente, por não ter um controle de acesso. Como a maioria das padarias hoje, você vê, você vai entrar você ganha uma bolachona, lá, um cartão. Aquilo nada mais é do que um controle de acesso: cada cliente que entrou vai ter uma comanda única – e não duas. No momento que ele sai ele tem que apresentar essa comanda. Se houve ou não consumo ele tem que apresentar. Esse é o grande desejo nosso pro ano que vem, conseguir modificar, criar o controle de acesso e dispensar essa área de pacote. Porque uma vez tendo o controle de acesso a gente pode oferecer pro cliente o que ele quiser, mesmo sem ele ter pago, uma vez que ele vai antes de ir embora ser obrigado a passar no caixa e tendo que liberar aquela comanda. Se ela tem alguma coisa lançada ele vai ter que pagar. Esse é um grande desejo pra que a gente possa ter um controle melhor daquilo que a gente ta produzindo. E também liberar espaços importantes como essa bancada de retirada de produtos, que é imensa. A gente tem uma fila tremenda aos finais de semana que é o pessoal que ta pegando comida pra levar pra casa. Pega fila pra escolher o produto, pega fila pra pagar e pega fila pra retirar a encomenda. A gente sente que alguns clientes deixaram de vir com tanta frequência em função de, às vezes, perder muito tempo lá. A nova dinâmica do comércio exige velocidade. Você quer entrar numa loja, resolver o que você tem pra resolver e em alguns minutos, não em uma hora e meia. Às vezes tem gente que fica lá uma hora e meia, até duas horas. São coisinhas que a gente precisa corrigir, atualizar.
P/1 – Você falou bastante de atendimento. Existe algum tipo de treinamento pros funcionários?
R – A gente não tem programas instituídos, ainda. Mas com alguma frequência, pelo menos uma vez por ano, a gente reúne todo o pessoal de atendimento, traz um profissional de fora, uma empresa especializada em treinamento de fora, pra fazer uma abordagem bem específica da atividade de cada um lá no atendimento. Recepcionar o cliente, como atender o telefone, por exemplo; como atender no balcão; pras lideranças, como lidar com situações críticas e de repente alguma reclamação, algum problema dentro da loja, como resolver isso daí. Pelo menos uma vez por ano a gente tem feito. A gente fez recentemente, há um mês e meio que a gente concluiu o curso pra todo pessoal de atendimento pra unidade lá da Mooca. Então, não é que a gente tem um programa instituído, mas pelo menos uma vez por ano a gente tenta fazer esse trabalho de reciclagem. Ele serve pra motivar o pessoal também. Existe uma rotatividade, no nosso caso ela é pequena. Se pudesse comparar com outras empresas do mesmo segmento a gente tem uma rotatividade que pode ser considerada baixa. Então, os funcionários continuam com a gente, é questão de atualizar. E no caso dos novos funcionários pegar e bater forte na cultura da empresa, fazer com que eles se situem numa empresa que tem 76 anos de atividade. Muitos clientes chegam lá e conhecem muito mais às vezes do que o nosso próprio atendimento (risos) determinado tipo de produto. Então, esse tipo de cuidado a gente tem, mas precisa fortalecer mais, precisa subir um degrauzinho a mais no que diz respeito ao atendimento.
P/1 – E com relação a entrega das mercadorias? A gente tava dando uma olhada no site da Di Cunto e viu que tem toda uma tradição com relação à entrega a domicílio. Como é que é, conta pra gente?
R – Olha, cada vez mais difícil isso (risos). Sem dúvida, a gente talvez seja uma das empresas mais antiga a oferecer esse serviço aí de delivery. A gente continua atendendo todo o centro expandido de São Paulo, o que é uma loucura hoje, uma loucura; com certeza no nosso segmento pouquíssimas empresas fazem isso. Sair da Mooca com um bolo pra entregar no Morumbi, por exemplo. Ou, às vezes, em Alphaville (risos) ou na Granja Viana (risos). E a gente faz isso. É difícil administrar isso. A gente cobra, tem uma taxa que é simbólica às vezes. Mas a gente tem um valor de frete, dependendo da localidade, e a gente faz isso há muitos anos. Como eu te falei, talvez uma das primeiras empresas a estar trabalhando com esse sistema. A gente, lá atrás, chegou a fazer entrega em carroça (risos). Legal, né? Eu lembro de histórias que passam aí de pai pra filho, uma história oral. Até trouxe uma parte dela por escrito aqui pra passar pra vocês. A gente começou como padaria lá na Mooca. A gente viveu aquela fase da Segunda Guerra. Uma empresa de origem italiana, italianos os proprietários. Depois da entrada do Brasil na Guerra os italianos tiveram alguma perseguição aqui no Brasil também, uma situação bem complicada. E existia racionamento de uma série de itens que era difícil encontrar. Combustível foi racionado muito, farinha foi o que trouxe o maior transtorno pra uma padaria. Faz pão, se não tem farinha como é que você vai? Por alguns poucos anos quando existiu esse racionamento se usava até, se fazer macarrão, triturar o macarrão. O macarrão é essa massa seca pra obter a farinha e com essa farinha fazer o pão, que era o alimento primário aí, de base. Então, se chegou a fazer esse absurdo: moer o macarrão e pegar essa farinha e fazer o pão. Não fomos os únicos, com certeza, que fizemos isso. Na época da Segunda Guerra sem dúvida é uma época muito marcante pro meu avô, pros irmãos dele. A empresa teve início aí em 1935, o início da Segunda Guerra em 1939, se não me engano que começou, e foi até 1945. Essa fase foi muito difícil. E a padaria, era uma padaria só no começo, a Di Cunto. E era credenciada, não sei se eu posso dizer isso credenciada. Enfim, ela é uma das poucas que podia, que tava credenciada a fornecer o pão pra população porque as famílias também tinham cotas pra consumo. Não era assim: “Ah, ele pode pagar mais, ele compra mais e come o quanto ele quiser.” As famílias tinham cotas. E como existia um racionamento muito grande de muitos itens, pra que as pessoas não passassem fome existia essa cota, que tinha como intuito fazer com que todas as famílias tivessem acesso ao pão. De acordo com o tamanho da família tinha direito a comprar “x” unidades de pão, “x” quilos de pão. E as filas eram tão grandes, isso era controlado de forma tão séria que a polícia do exército vinha lá acompanhar. Isso com certeza tá na lembrança de muita gente que é viva ainda, quem tá aí na faixa dos 70, 80 anos tá lembrado de ter, que é da região, que frequentou, que viveu nessa época, deve estar lembrado dessas filas, da polícia, às vezes, ter ido colocar muita gente pra fora que queria furar a fila, com medo de ficar sem. Então, as famílias eram muito controladas, essas cotas elas tinham que ser respeitadas pra que todos tivessem acesso ao pão. Foram momentos bem difíceis aí, mas que os irmãos Di Cunto conseguiram passar e com categoria. Nessa época, eu comecei a falar do racionamento, foi por isso. O racionamento do combustível, apesar de já existir uma frota na Di Cunto, na década de 1940 no comecinho já existiam alguns carros, eles tiveram que deixar os carros parados e voltar a trabalhar com carroça, com cavalinho pra fazer as freguesias. Se usavam, se falavam freguesia e não eram só na região, não; tinha freguesia até pra esse lado aqui. Acho que a cidade era totalmente diferente do que é hoje. Talvez aqui só existissem algumas chácaras. Mas existiam as freguesias e meu avô fazia uma dessas freguesias, o irmão dele fazia uma outra e tinham outros funcionários que faziam outras freguesias. Carregavam a carroça com pão, um monte de pão e ia de porta em porta vender o pãozinho. Existia um sistema de financiamento, se é que a gente pode falar, que era da caderneta que as famílias compravam e todo dia anotavam. A família do Lucas um pãozinho aqui (risos). No final do mês o Lucas ia lá e acertava a continha dele, era a antiga caderneta, fiado, fiadinho? E isso, com certeza, era uma prática muito comum, não só na nossa empresa como de muitos comerciantes nessa época. A gente fazia as entregas em carroça desde aquela época. E não foi diferente. Depois que terminou o racionamento a gente voltou a trabalhar com as frotas, com a nossa frota, com carro. E esse atendimento só foi crescendo. Conforme a linha de produtos da Di Cunto foi sendo ampliada, o que era só uma padaria passou a ser uma confeitaria, a gente passou a trabalhar com pães doces, docinhos, tortas, bolos. Mais tarde salgados, itens de rotisserie. Mais tarde as massas de fabricação própria. Até chegar em mil produtos de fabricação própria, que é uma loucura. Essa ampliação na linha de produtos fez com que as nossas entregas também crescessem bastante. A gente passou a atender alguns revendedores que trabalham com os biscoitos, alguns tipos de pães, alguns tipos de massas. Então, essas entregas passaram a ser regulares em algumas regiões pra comércios que revendiam os nossos produtos. E não paramos mais. Hoje a gente atende, não existe um pedido mínimo, se você quiser aqui, Alto de Pinheiros, aqui em Pinheiros fazer uma encomenda: “Marco, aquele bolo, a gente vai comemorar o aniversário do pessoal.” A gente pode trazer pra você, uma entrega programada, aquele delivery express que a gente chama. Liga: “Me manda um almoço.”, a gente faz uma entrega programada, sempre agendada de acordo com o prazo de fabricação de cada produto. Dificilmente a gente faz entregas pro mesmo dia porque também se fizer entregas em toda São Paulo você precisa traçar itinerários, trabalhar com algum prazo. Fazemos entregas em toda grande São Paulo, entrega agendada, com horário marcado. Isso é diferenciado com certeza até hoje.
P/1 – E você comentou que na Mooca fica a loja e a fábrica, loja de fábrica. Existem outras Di Cuntos em outros lugares, como é que é?
R – Mooca é loja e fábrica, e sede administrativa. Tatuapé a gente atua há mais de 30 anos e dos 30, 15 anos, nos mais de 30 anos aí pelos menos 15 a gente tá numa unidade própria, num prédio próprio na Padre Estevão Pernet. A gente começou na Tuiuti, que é uma loja de comércio muito forte no Tatuapé, a mesma rua onde fica o Shopping Metrô Tatuapé. A gente ficou muitos anos lá, a empresa criou uma clientela muito fiel, só que era imóvel alugado. E, apesar de pagar um aluguel muito bom pro proprietário, ele precisava do imóvel, queria o imóvel. Então, forçou a gente a buscar um outro terreno e a gente não queria sair daquela região, a gente já tinha uma clientela muito fiel. Então, poucos quarteirões daquele ponto a gente conseguiu comprar e construir uma unidade própria, moderna, maior. Isso aconteceu em 1996, se não me engano, 1997 foi inaugurada essa nova unidade no Tatuapé, que tá firme até hoje. Em 2006, a gente abriu uma nova unidade no Itaim Bibi, não é uma unidade própria da Di Cunto, é uma espécie de licença ou franquia, mas que é de uma Di Cunto, de uma tia minha, inclusive herdeira. Só em função disso que a gente abriu essa loja nesse formato, nesse molde. É uma unidade menor, uma confeitaria, uma cafeteria. É uma unidade pequena, ela fica no térreo de um prédio comercial na Tabapuã, tá mais pertinho de vocês aqui. Mas trabalha com qualquer um dos itens de fabricação da Di Cunto por encomenda. Se você for na loja você não vai encontrar tudo que a gente tem lá na Mooca, mas se você encomendar você pode ter acesso a qualquer um dos produtos que a gente faz. E tem uma linha reduzida de doces, salgados, tortas, pratos rápidos.
P/1 – E como é que se deu a escolha dos pontos. Por que do Tatuapé e por que, talvez, a sua tia escolheu a região do Itaim?
R – Olha, do Tatuapé eu não sei. A gente tá lá há 30 anos. Com certeza, o Tatuapé, àquela altura não era a potência que é hoje (risos). Vamos dizer que é uma visão de longo prazo que meu avô e os irmãos tiveram, com certeza. A cidade de São Paulo, se a gente for avaliar nos últimos 50 anos, ela eu acho que dobrou algumas vezes de tamanho. E Tatuapé é um bairro muito próximo da Mooca. Acho que enxergaram um potencial muito grande lá na área de comércio. Então, foi muito importante a criação dessa loja pra história da Di Cunto, fez com que ela crescesse bastante e se tornasse conhecida numa outra região. Na mudança da Rua Tuiuti pra Padre Estêvão Pernet foi uma mudança forçada. Mas mesmo eu, eu não fiz parte desse processo, mas conheço a história. Meu pai fez parte e ele que me contou isso. Naquela oportunidade, quando a gente foi obrigado a procurar um novo ponto se pensou já em uma possível expansão com outras unidades na região da zona leste. Então, a ideia era criar uma mini-fábrica, uma estação intermediária que produziria alguma linha de produtos limitados e que essa unidade atenderia lojas satélites, quiosques, lojas pequenas. Porque é uma loja que tá muito próxima à Radial Leste, que tem fluxo de acesso rápido pra toda a zona leste. Existia um projeto de expansão pra lojas menores em shopping centers, nos principais pontos de comércio na zona leste. Então, essa loja que é maior, um prédio próprio que tem quase mil metros quadrados de área construída, pra um café, pra uma confeitaria, pra uma rotisseria é muito. O projeto inicial era esse, era ter uma loja nessa unidade, mas que essa unidade abastecesse também outras unidades menores em shopping centers, em ruas de comércio intensivo. Mas é um projeto que não avançou, ficou no papel. Então, essa unidade ela foi simplesmente transferida da Tuiuti pra Padre Estevão Pernet e se tornou mais, na verdade foi transferida, ela foi modernizada. A gente trabalhou com o que tinha de melhor na época. É uma loja muito bonita até hoje, com esse apelo mais moderno. Só que ela não cumpriu o papel de ser um ponto de distribuição pra outras unidades, esse projeto de expansão acabou ficando engavetado. Essa nova unidade no Itaim Bibi que nasceu em 2006 foi uma questão até de oportunidade. Existia um desejo até antigo de estar trabalhando nessa região, mais pro sul que é uma região muito nobre de São Paulo, o comércio é muito forte, tem muita gente de poder aquisitivo muito bom, que é o nosso público. E o pessoal que sempre frequentou a Mooca, mas a cidade em função da transformação e trânsito tem mais dificuldade em atravessar a cidade ou tem menos disposição de atravessar a cidade, às vezes, pra procurar um determinado produto. Então, a gente sentiu a necessidade de se aproximar desse público. Com certeza foi um grande reencontro, quando a gente inaugurou essa unidade no Itaim, muitos clientes que tinham deixado de frequentar a nossa casa pelo um único motivo da distância, voltaram a frequentar o Itaim por a gente estar pertinho deles aqui. O grande raciocínio era o seguinte: “Poxa, o cliente vai sair de casa pra ir até a Di Cunto, antes ele fazia isso porque a Di Cunto sempre foi pioneira, era uma das poucas que fazia e com qualidade que fazia. Hoje, no caminho da casa dele até a Di Cunto existem dezenas de confeitarias que trabalham muito bem também. Então, ele precisa de um motivo muito forte pra atravessar a cidade, pra enfrentar trânsito e tudo o mais.” Daí a necessidade de ter um ponto próximo dessa turma.
P/1 – Tá certo. Voltando um pouquinho você falou da distribuição dos deliverys, que tá cada vez mais difícil. Vocês planejam encerrar esse tipo de atividade até em decorrência das transformações da cidade?
R – Não, encerrar não, mas limitar um pouco. Limitar áreas de atuação, a gente vai ter que deixar de atender algumas regiões porque o serviço se torna muito caro. É difícil você custeá-lo, o motorista custa caro, o carro custa caro, o tempo custa muito caro hoje. Às vezes pra fazer uma entrega, vamos dizer em Pinheiros, dependendo do horário, eu vou levar duas horas pra ir e voltar da Mooca pra fazer uma entrega. Então, você fica muito, que potencial eu tenho de atendimento diante desse cenário? Ele é muito restrito. Eu consigo atender quantas encomendas com um motorista, que desempenho esse motorista vai me dar atendendo esse tipo de encomenda? Então como a gente atende revendedores e a gente tá trabalhando em algumas lojas do varejo – Yamauchi é uma delas (risos), Pão de Açúcar – é uma linha restrita de produtos, mas que a tendência é que cresça. A gente tem priorizado a nossa frota própria pra atendimento dessas unidades, onde a gente tem possibilidade de uma flexibilidade de horário e entregas de valor maior. Tá sendo difícil atender as duas coisas. A tendência é que a gente restrinja o atendimento pra encomendas menores pra áreas próximas às unidades.
P/1 – Você falou também da gama gigantesca de produtos que a Di Cunto oferece. Quais são os produtos mais vendidos, se você tivesse que elencar o top três?
R – Três? Coxinha é o top one (risos). Disparado (risos). E é curioso, faz tempo que eu não acesso mas se vocês têm orkut, por curiosidade dá uma olhadinha e ver se ela existe ainda. Um cliente nosso criou uma comunidade que ela chama “Eu amo a coxinha da Di Cunto.” (risos) E tinha uma porrada de gente que fazia parte da comunidade. Então é muito gostoso ver, as pessoas se manifestam de uma forma muito legal. Gostam muito da Di Cunto. Então, com certeza, a coxinha é o top one. Um outro produto é a parte de doces, que com certeza o que traz mais faturamento pra empresa é a parte de confeitaria, bolos e doces, é a bomba de chocolate. E os doces de forma geral. Os doces especialidades, os doces de sobremesas são os produtos mais procurados ali.
P/1 – E qual é o seu preferido?
R – É difícil, viu? Coxinha, com certeza, dos salgados é aquele que é impossível parar de comer. Você come um, come outro e não para. Apesar da gente ter um controle bem (risos). Bem em cima assim. Às vezes as pessoas me perguntam: “Você não enjoa de todo dia estar aí?’ “Não, não dá pra enjoar; não dá tempo, tem tanta coisa. Um dia eu como um negocinho.” Eu almoço todos os dias lá, não dá pra enjoar, é muito bom. Doce, eu acho que olha o profiterole é um doce magnífico, são receitas super-tradicionais que a gente não mexe uma palhinha há muitos anos, não tem o que fazer é só preservar. É assim que o cliente quer encontrar, do mesmo jeito que ele vê há 30 anos, há 40, 50 anos. Aquela receita do mesmo jeitinho. Essa é uma regrinha nossa, manter padrão. Acho que a de zeppola, é um doce típico da Itália, é o doce de São José, uma tradição católica. São José era marceneiro, pai de Jesus Cristo, foi quem criou Jesus Cristo. Na Itália e em alguns países católicos da Europa, se comemora o dia dos pais no dia de São José, no dia 19 de março. E o doce tem uma tradição que foi atrelada ao dia do santo. E no dia 19 de março é uma loucura, todo mundo quer a da zeppola, a tal da zeppola. É um tipo de rosquinha frita recheada com creme, depois ela é passada no mel de flor de laranjeira e passada na castanha de caju. É um doce muito delicado, muito saboroso, e simples. Os mais procurados são aquelas receitas simples e que têm um sabor muito marcante. Então, eu acho que a zeppola é um dos doces mais saborosos. E dia 19 de março eu acho que ela fica com uma magia no ar, ela fica mais saborosa ainda. No dia de São José eu costumo comer aí além da conta (risos).
P/1 – (risos) E como é que funciona o estoque da Di Cunto?
R – Olha, a gente tem estoque de matéria-prima, material de revenda e de embalagem. A gente não tem estoque de produto acabado. A gente produz de acordo com a nossa demanda. Mesmo esses produtos que a gente tem colocado no varejo, em outras lojas, são produtos que com muita frequência você vai pegar no Yamauchi a trança da Di Cunto com a data de fabricação de ontem. (risos) A gente acabou de produzir, preparou, embalou, entregou no mesmo dia e tá à disposição pro cliente aqui e no Pão de Açúcar aqui perto, um dia depois, dois dias depois. Essa tá sendo uma grande vantagem, mas que limita muito a nossa atuação também. E a gente não trabalha com estoque, a gente trabalha em cima da demanda. O estoque basicamente é de matéria-prima, de embalagem que a gente tem um estoque maior porque você tem necessidade de produzir quantidades maiores pra não se ver em dificuldade, não se ver sem. Matéria-prima hoje você tem um tempo de resposta muito rápida do atendimento do teu fornecedor, às vezes você recebe determinado tipo de produto a cada dois dias. Então, você conta com o teu estoque lá no fornecedor, você não precisa ter muito espaço pra guardar. E o produto é sempre fresco.
P/1 – E quem são esses fornecedores?
R – São muitos fornecedores. A gente trabalha com alguns fabricantes, muitas vezes fabricantes, muitas vezes distribuidores. Quais são os principais? Farinha, a gente é um grande cliente de farinha porque a gente faz massa, a gente faz pão, torta, alguns bolos e doces que usam farinha também. Moinho Santa Clara que é o nosso fornecedor há muito anos. A gente tem essa característica de permanecer como parceiro quando essa receita tá dando certo. Então, o fornecedor é parceiro, atende uma condição legal de preço, competitivo, o atendimento é bom, é rápido, você sabe que você pode contar com ele, não tem porque você trocar o fornecedor. Às vezes aparece alguém: “Ah, eu cubro esse preço”, às vezes começa a trabalhar com valor melhor. E a gente não abre mão de zelar por essa parceria que é uma via de duas mãos aí. Grandes empresas, a Sadia é uma grande fornecedora nossa de carnes, toda parte de aves, carnes. Principalmente agora no final de ano que a gente tem um grande número de encomendas pra Natal e pra Reveillon, bastante peru, lombo, frango, vários tipos de carne, peito de peru; então a Sadia é uma grande fornecedora da Di Cunto hoje. E muitas outras de hortifruti, de especiarias. A gente não é cliente de indústrias que trabalham com misturas porque a gente tem certeza que o nosso produto é diferenciado. Pra gente tá respeitando as receitas tradicionais, a gente gosta de fazer a massa folhada com a nossa receita, da forma como a gente gosta de fazer e não comprar uma mistura pronta, uma mistura pra cobertura, o que é muito comum hoje na maioria das padarias que precisam trabalhar com velocidade, com preço baixo e ter um produto que tem um tempo de prateleira um pouco maior. Essa é uma grande dificuldade na Di Cunto também, a gente trabalha com produto essencialmente fresco, que deve ser vendido de preferência no dia que é produzido. Na grande maioria das vezes alguns produtos mantém a qualidade durante dois, três dias, mas a grande maioria ele tá sendo produzido pra ser consumido naquele dia. Isso é muito difícil, exige que você tenha uma produção diária, não se tem estoque. Então, a nossa produção tem essa característica. Ela é muito artesanal, tem muita gente envolvida. A gente depende muito do talento daquelas pessoas que vão trabalhar de forma bastante manual, que conhecem o ofício. Mas é o que faz com que a gente seja diferenciado também e esteja posicionado como empresa que oferece produtos de primeira linha e de qualidade. Então, sem dúvida, esse é um dos fatores.
P/1 – E agora pensando no final de toda essa linha de produção, que é o cliente, quais são as principais diferenças que você vê das exigências dos clientes de antigamente pros clientes de hoje em dia?
TROCA DE FITA
P/1 – Ô Marco você tava falando pra gente, você ia falar pra gente da diferenciação das exigências dos clientes de antigamente pros clientes de agora. O que que mudou, se é que mudou?
R – O nível de exigência é muito maior, parece que a cada dia ele é maior. Mas é normal em todos os sentidos. Prestação de serviços hoje é um grande diferencial, o atendimento. Antes, eu vi muito na faculdade isso, se vendia um produto ali, a própria linguagem da comunicação é toda voltada em cima de um determinado produto, o produto é assim, assim e tal. E os processos ficaram muito semelhantes nas indústrias, então, o produto deixou de ser muitas vezes, o produto em si, de ser não, de apresentar um grande diferencial pra que... Esse discurso foi mudando ao longo dos anos pra tentar convencer as pessoas de que um era melhor do que o outro. Eu acho que essa é uma realidade atual e a tendência é essa, as pessoas vão se acostumando cada vez mais a novos padrões de qualidade e esse nível de exigência vem crescendo a cada dia. Eu faço papel de ombudsman (risos). Eu e meu pai, se não é ele sou eu, e eu acho que é um diferencial nosso também, ter essa abertura e dar essa abertura pro cliente. Porque toda empresa pisa na bola em determinado momento, por mais que ninguém queira fazer errado em algumas ocasiões você não deu a atenção devida e uma coisa não sai como devia ser. O nosso cliente ensina a gente a ser melhor a cada dia. A gente tem, graças a Deus, pouquíssimas reclamações. Mas quando a gente recebe algum tipo de reclamação sou eu que to ouvindo, ou eu ou o meu pai, a gente tá diretamente envolvido e interessado em solucionar aquilo ali. Então, o tempo de resposta normalmente é bem curto pra gente identificar o que houve e porque houve, dar uma satisfação pro cliente e fazer com que aquilo não volte a se repetir. Mas a gente tem percebido também que muitas vezes alguns clientes se queixam de algumas coisas que, com certeza, há um tempo não se queixariam, entendeu? Seria a maioria passar de uma forma despercebida. Por exemplo, eu falei da dinâmica do comércio, hoje as pessoas têm mais pressa, querem as coisas mais rápido. Hoje é um grande problema pra mim quando tem uma fila que simplesmente existe por causa do grande número de pessoas que eu to atendendo, não é porque a gente tá lá de braços cruzados, dando risada enquanto o cliente tá querendo ser atendido. É um número muito grande de pessoas, talvez é um sistema um pouco diferente de atendimento que cria etapas a mais, mas o cliente se sente no direito de estar se queixando e falando pra você que você precisa mudar, que aquilo lá não funciona mais. Então, eu digo que o nível de exigência dos clientes vem crescendo e vem acompanhando. E não importa o que você faça pra melhorar ele sempre vai estar querendo que você melhore cada vez mais. A gente há um ano a gente transferiu o nosso restaurante que a gente não considerava, a gente internamente não considerava um restaurante na Mooca e a gente chamava de praça de alimentação. Mas funcionava como restaurante, com cardápio, funcionava todos os dias. O cliente vai lá e escolhe o prato dele, é preparado na hora sempre fresquinho, gostoso, feito na hora, quentinho. Mas o ambiente não era um ambiente tão aconchegante. Ele tava mais suscetível, era uma área que tinham aquelas telhas tipo zetaflex, quando chove a água faz um barulhão naquela telha. Então, fazia barulho e não tinha um ambiente climatizado, não tinha ar condicionado e tava sempre muito calor e o cliente sofria com o calor. A minha cozinha bastante distante dessa praça de alimentação e o serviço era um pouco mais demorado. Isso gerava algumas queixas do atendimento às vezes ser um pouco demorado, do barulho, do frio, do calor. E hoje, um ano depois que a gente transferiu da praça de alimentação pra um novo espaço com ar condicionado, próximo à cozinha que agilizou o atendimento, o atendimento melhorou o padrão, a gente consegue oferecer mais velocidade e mais agilidade nesse atendimento a gente percebe que nunca vai estar bom. (risos)
P/1 – E você conseguiria dividir os clientes pelo tipo de produto que eles consomem, por exemplo, os clientes mais antigos compram determinadas coisas e os que surgiram agora compram outras ou não, como é que é?
R – Eu não sei se a gente poderia dividir assim por preferência dos clientes. Não, acho que não por produto. Não saberia te dizer.
P/1 – E voltando um pouquinho você falou de toda preocupação com o estoque de embalagens até. A Di Cunto possui embalagens específicas pra cada tipo de produto ou embalagens especiais pra presente ou pra um bolo de aniversário, como é que é?
R – Bom, a gente trabalha assim com embalagens específicas próprias pra cada finalidade. O objetivo primário da embalagem é a proteção do produto, fazer com que ele chegue da forma como deve, no caso do alimento, à mesa do cliente. Outro papel que ela tem que cumprir é o transporte, a facilidade do transporte e cumprir uma parte importante também que é de comunicar, que é um produto Di Cunto que ela leva. Ela tem que ser bonita, tem que ser diferente. A gente tem embalagens pra presente. Mas no que diz respeito às embalagens tem muita embalagem, às vezes o cliente nem sempre, acha que embalagem é só sacolinha ou a caixinha que tiver o bolo. Tem muito produto que vai com uma forminha embutida ou uma assadeirinha. Um muffin, por exemplo, aquele papelzinho que você tira (risos) pra comer aquele é um tipo de embalagem que você é obrigado a utilizar pra levar ao forno. As formas, no caso do panettone, as formas no caso das tranças Rosalie, são produtos do carro-chefe. São produtos que você sempre tem que ter um saldo bom, alguns deles são importados. Algumas formas são importadas que a gente tem. A gente é obrigado a trazer quantidades maiores do que a gente precisa pra cobrir, às vezes, seis meses de necessidade. Então, isso acaba fazendo com que a gente tenha muito dinheiro parado em estoque aplicado em embalagem. Mas em tudo que a gente faz o cuidado tem que ser muito grande, a gente tá transportando alimento, embalagem específica tem que ser um tipo de material que é próprio pra estar em contato com o alimento, que seja o fornecedor homologado, que trabalha com padrão de qualidade excelente pra garantir que a tua embalagem não tenha nenhum tipo de contaminação. Se isso, por acaso acontece, vai te trazer um problema, o culpado é você porque o teu produto tá lá dentro e vai fazer mal pra alguém. Então, a gente trabalha com um número bastante expressivo de embalagens.
P/1 – E qual é a principal forma de pagamento hoje em dia?
R – O cartão, indiscutivelmente. O cartão de débito e crédito responde hoje, lá na unidade da Mooca, uns 70% aproximadamente da minha venda. A tendência é crescer, continuar crescendo. Já vem crescendo. Há um tempo era 50, antes era muito menos, tá dobrando. Há cada “x” anos tá dobrando. E com o acesso das pessoas à conta bancária, todo mundo tem cartão hoje. É uma modalidade segura, pro comerciante é tranquilo. O cheque hoje é desestimulado na grande maioria dos comércios. É uma forma segura de comercializar, tem o inconveniente de taxas de administração e prazo, mas faz parte de todo comércio. Hoje você precisa colocar isso no teu planejamento.
P/1 – Agora indo pra uma outra área, como é que a Di Cunto atrai os clientes, é só por toda essa tradição, que já é bastante coisa, ou vocês anunciam, vocês fazem algum tipo de promoção, como é que funciona?
R – É muito pequeno o trabalho que a gente faz na parte de comunicação. Eu como representante legítimo aí posso falar que eu preciso ganhar mais espaço lá com essa área (risos). Mas graças a Deus a gente tem uma marca que tem muito prestígio e a gente se beneficia muitas vezes de forma espontânea de estar participando de algumas mídias aí de grande impacto. Isso faz com que a gente sempre esteja em contato com nosso cliente através de reportagens, de matérias, de informações que são feitas na própria empresa e de forma espontânea. Anúncios são muito raros. Em algumas datas festivas a gente faz algumas pequenas campanhas que a gente até apelidou de basic. A gente tem um trabalho intenso junto à base de clientes que a gente já tem. A base de clientes são aqueles clientes que frequentam as nossas três lojas semanalmente, alguns diariamente ou mensalmente. Então, sempre que a gente quer comunicar alguma coisa o primeiro trabalho é focado na nossa base de clientes. Aí dentro das lojas é feito o trabalho de sinalização com banner, com material impresso, trabalho no site que é uma ferramenta fantástica hoje. A cada dia sei lá quantas mil pessoas engrossam esse caldo aí na internet que é uma população que não para de crescer. A gente sente isso através das demandas que são geradas pelo site, fale conosco, as solicitações por e-mail. Isso cada vez mais crescente, dinamizou o atendimento, o tempo de resposta exigido do cliente também é muito rápido. Ele te mandou um e-mail de manhã, se você não respondeu até à tarde, ele: “Que aconteceu, não viu meu e-mail cara?” (risos) “Quero orçamento” Então, o site é uma grande ferramenta pra gente hoje. A gente tem um trabalho muito bem consolidado na parte de comunicação nas ferramentas de baixo custo. O site é uma ferramenta maravilhosa de baixo custo, a gente investiu num visual legal, a administração é barata. Como a gente não dispõe, hoje eu não disponho de uma verba pra administrar a parte de comunicação pra fazer grandes ações. Então, eu tenho que usar a criatividade. As minhas campanhas que a gente fala de ativação da base trazem muita resposta, a resposta é muito rápida. Eu consigo falar com o meu cliente rapidamente. Faço ações na loja, com impressos, com banners, no site, através do e-mail marketing, um cadastro próprio que a gente tem e às vezes de mala direta através do cadastros também de clientes que compram com frequência. Dessa forma a gente consegue ativar a nossa base de clientes e isso de alguma forma vai ecoando. Eventualmente em mídia, através de alguns anúncios, revistas regionais de bairro e por algumas vezes através de mídias espontâneas. Falei do dia de São José, normalmente no dia de São José é uma rádio, que normalmente eu faço essa recepção, eu faço esse contato com a imprensa, dou entrevista até falando. Tem alguma matéria no jornal falando sobre a data, então, isso gera uma mídia bem legal pra gente e também traz resultado e cliente pra nossa loja.
P/1 – E a Di Cunto ela sempre foi e ainda é uma empresa de administração familiar. Eu queria entender um pouco como é que funciona a hierarquia dentro da empresa. Você falou do seu pai, do seu tio, dos sócios-diretores. Como é que é a estrutura da Di Cunto?
R – A gente tem essas duas diretorias basicamente: diretoria administrativa e comercial; e a diretoria industrial, que cuida de toda parte produtiva, de produção, de produto, fabricação, tá ligada à fábrica na verdade na unidade da Mooca. Hoje são, tá dividida ao meio assim em duas áreas. A gente deve ter aproximadamente umas cem pessoas envolvidas com a parte de produção, fazendo toda essa loucura, esses mil produtos. Mais umas 60 pessoas aproximadamente na área de administração, de vendas, de áreas anexas, logística, financeira e tal. (Então, tá falhando, tá acabando a gasolina aqui, parece. Tá pegando bem a minha voz, tá saindo baixinho, baixinho aí né?
P/1 – Tá ótimo.)
R – Eu não sei se é geral, mas uma administração familiar os papéis se misturam muito às vezes. E às vezes uma pessoa assume diversos tipos de responsabilidades em áreas às vezes completamente diferentes. É um pouco difícil definir o papel exato de cada um, até onde cada um vai interagir. Todas as decisões principais são tomadas nesse nível de diretoria, entre o Marco e o Reinaldo. Hoje eu sou um grande influenciador decisivo em alguns casos, mas o que é estratégico tem que ser tratado num ambiente de diretoria. O acesso é muito rápido, é muito fácil no meu caso. Vamos dizer que é o segundo escalão, o primeiro escalão seria essa parte de diretoria; depois tenho eu e minha prima Fernanda que é nutricionista, como se fosse uma gerente da área produtiva também. E eu segui essa linha administrativa junto com o meu pai, e eu respondo pela área comercial e administrativa como um todo também. Atendo o cliente, compro muito, vendo pra vários clientes corporativos, clientes pessoa física, revendedores, abro novos clientes, faço a parte de comunicação e marketing quando consigo (risos), me preocupo com a contratação de funcionário. Os papéis se misturam bastante. A gente tem um organograma, têm algumas pessoas que são bem estratégicas, vitais aí pro funcionamento da empresa. Hoje a gente tem o controller, que estaria no mesmo nível da diretoria: uma pessoa contratada, mas que participa hoje de todas as decisões estratégicas, que vem ajudando a gente no processo de reestruturação que a gente precisou ser mais competitivo pra continuar de pé. A gente durante uns anos tava com muito funcionário, custo muito alto e começou a se transformar em problema financeiro. Já se readequou pra uma nova realidade, teve que revisar uma série de procedimentos, de processos. Então, a gente deu uma enxugadinha, às vezes o que era feito por duas, três pessoas hoje é feito por uma pessoa; e o que era feito, mas não era tão necessário assim deixou de ser feito. A gente tem uma administração muito rápida, muito de cima pra tornar a empresa mais competitiva. Muita gente entra no mercado, entra forte. Se você não é competitivo não consegue se manter. A gente aí, depois de mais de 70 anos, se não fizesse algumas adequações ia se encontrar em dificuldade. Então, os papéis se misturam. Tem o responsável pela área de Departamento Pessoal, que a gente chama, na verdade é o nosso diretor de – não é diretor porque só existem duas diretorias – mas ele é o responsável pela parte de recursos humanos. Faz toda a parte de admissão, demissão, controle dos horários, introdução do novo funcionário, acompanhamento, desempenho, avaliação. É uma pessoa que tá com a gente aí há mais de 40 anos, então, é muito estratégica. A gente tem uma pessoa na área financeira que controla toda parte de fluxo de caixa, entradas e saídas, pagamentos, recebimentos. A gente conta com uma estrutura bem enxuta com poucas pessoas na parte administrativa e que, às vezes, desempenham mais de um papel.
P/1 – Tá ótimo. Eu queria agora passar um pouco pro bairro da Mooca. Você nasceu e se formou ali, cresceu ali. Eu queria que você falasse um pouco pra gente o que mais mudou no bairro da Mooca nos últimos 20 anos, mais ou menos. Coisas que existiam e que hoje não têm mais, coisas que surgiram de novo.
R – A Mooca sempre foi um bairro... Bom, 20 anos pra cá? Eu tenho memória pra isso. Mas mais tempo que isso a Mooca vem passando por um processo de desindustrialização muito forte. O bairro da Mooca foi um bairro pra região, vamos dizer assim, mais industrializada do Brasil por muitos anos. No comecinho do século aí, final do século XIX, no comecinho do século XX várias indústrias vieram pra cá e hoje a gente têm os esqueletos delas aí saindo, dando lugar pra grandes empreendimentos. Por exemplo, do meu lado, na Rua Borges de Figueiredo, Companhia União de Refinadores, Açúcar União, uma potência. No comecinho do século XIX, eles tinham quase um quarteirão lá, quase um quarteirão todo era deles. E se fazia o café, se torrava o café lá, o açúcar, então, muitos funcionários e muita gente, galpões enormes. Toda aquela região da Borges de Figueiredo a gente ainda pode observar esqueletos de galpões. Algumas fábricas ainda funcionam, a grande maioria não funciona mais, virou um depósito, às vezes que não está sendo utilizado. Tudo isso em função da linha férrea que margeia aquela rua, que foi o que trouxe o desenvolvimento pra região da Mooca. A história da... não conheço a fundo a história da Mooca, mas foi a indústria do café que trouxe o desenvolvimento pra toda a cidade de São Paulo. São Paulo era uma cidade pequenininha. Quando o café começou a ganhar espaço surgiram as ferrovias, porque o café precisava ser escoado, o café precisava chegar no porto pra ser exportado. Então, os fazendeiros que bancaram a construção das ferrovias. E uma delas passava lá pela Borges de Figueiredo também e a chegada dessa ferrovia fez com que aquela região que era muito pouco habitada, que tinha grandes terrenos, uma região plana, toda a geografia favorecia o surgimento desses empreendimentos, fez com que grandes indústrias se instalassem lá. Uma das mais emblemáticas aí acho que é o Moinho, que até hoje tá de pé o imóvel, digo a construção, que é um bem tombado pelo Patrimônio Histórico, mas se não me engano chamava Minete Gamba, Moinho Minete Gamba, que era um moinho de farinha enorme, um dos maiores que tinha aqui no Brasil. Tinha a Fábrica do Mattarazzo, lá na Borges de Figueiredo. Se eu não me engano, a Fábrica Bandeirantes, tinha fábrica de.... enfim, muitas fábricas naquela rua, naquele pedacinho, que vieram com o surgimento da estrada de ferro. E próximos dessas fábricas foram sendo criadas vilas operárias. Eram as pessoas que trabalhavam nas fábricas e moravam lá perto em pequenas vilas que foram sendo constituídas aos pouquinhos. Então, a Mooca nasceu dessa forma. Ela nasceu não, ela cresceu dessa forma porque a Mooca é um bairro muito antigo, era da época dos índios lá (risos). Então, ela cresceu dessa forma, a indústria que deu uma impulsão muito grande para o desenvolvimento do bairro. Então, com certeza ao longo desses últimos 20 anos, se eu posso ver que alguma coisa tá mudando, é isso. As indústrias estão dando lugar a grandes empreendimentos residenciais, é o que a gente observa hoje, a chegada de grandes condomínios e clubes. E isso tá criando uma roda de prosperidade porque muitos novos empresários têm apostado na Mooca. O metro quadrado da Mooca acho que foi um dos que mais valorizou nos últimos anos em São Paulo. Então, a especulação imobiliária traz um investimento muito grande. Empresários de rede, por exemplo, que estão consolidadas já veem a Mooca como uma ótima possibilidade de investimento: “Ah, quero ter uma loja lá.” A gente vê que aos pouquinhos pequenas casinhas que eram residenciais agora tá mudando de uso, estão virando comerciais. São alugadas pra prestadores de serviços, de escolas de línguas, são fotógrafos. Enfim, uma série de novos empreendimentos pequenos, outros maiores estão surgindo no bairro da Mooca e fazendo com que ele mude um pouquinho de figura. Um bairro que tinha um apelo residencial e industrial tem aos pouquinhos ganhado uma cara mais heterogênea. O comércio convive bem com os serviços com a moradia. Isso faz com que o mooquense cada vez menos precise sair do bairro pra contar com algum serviço aí com qualidade. Eu acho que a tendência nas cidades é essa concentração, estimular que as pessoas morem perto do trabalho. Pra isso as zonas têm que ser mistas, não pode ter um bairro que é só dormitório, um bairro que é só de trabalho. Por exemplo, Vila Olímpia (risos) todo mundo vai trabalhar lá, é um bairro novo. Isso é uma tendência que, com certeza, a Prefeitura vai tentar extinguir, favorecendo através dos zoneamentos, o surgimento de novos bairros. A Mooca tem tudo pra ser uma nova tendência aí de região. Um crescimento administrado, um crescimento planejado onde você pode morar, você pode trabalhar, onde você pode consumir com qualidade.
P/1 – Tá certo. Agora Marco vamos pra uma parte final, um pouquinho mais pessoal. Você disse que trabalha seis dias por semana. Fala pra gente o que que você gosta de fazer nos horários, nas horinhas que sobram ali no momento de lazer?
R – Olha, ultimamente eu só to saindo pra ver coisas pra minha casa, eu preciso mudar para a minha casa (risos). Mas olha, com certeza, curtir a cidade. É que eu to numa fase muito nova pra mim, eu acabei de casar. Eu gostava muito de ficar em casa e de sair também, conhecer. Eu conheço muitos museus aqui em São Paulo, locais que fazem exposição, minha esposa gosta muito disso. Então, frequentar os parques, de almoçar fora em lugares diferentes. Apesar de trabalhar com gastronomia tenho que conhecer outros lugares também. Então, com certeza gosto muito de curtir a cidade de São Paulo que tem muitas opções. Num dia mais quente, tá convidativo, ir pro parque, fazer uma caminhada diferente. Ibirapuera, com certeza é a opção mais frequente pra mim. Gosto muito de ir na Pinacoteca, sempre tem coisa nova, é um ambiente muito gostoso, diferente. Outros locais de exposição. Almoçar fora sempre.
P/1 – E você gosta de fazer compra?
R – Fazer compras? Olha, a minha esposa gosta muito mais do que eu (risos). Esse é um dom feminino que o homem nunca vai conseguir igualar (risos).
P/1 – (risos) E quando você sai pra fazer essas compras você compra no bairro da Mooca mesmo ou você procura outras regiões?
R – Olha, vou ser bem honesto viu, quando eu faço compras que tipo de coisa eu compro? Compro coisas pra mim. Então, roupa, normalmente eu vou no Shopping Anália Franco que é no Tatuapé. Só que o Shopping Anália Franco está com os dias contados pra mim, que a gente vai ganhar um shopping na Mooca do qual a gente vai fazer parte também (risos). O Shopping Plaza Mooca, voltando um pouquinho na conversa anterior, o Shopping Plaza Mooca está sendo construído onde funcionou por muitos anos a fábrica da Ford, grande fábrica da Ford lá numa rua que inclusive tem o nome Henry Ford em homenagem ao fundador, numa zona estritamente industrial que aos pouquinhos tá mudando de figura também. É na Pacheco Chaves com a Henry Ford, um shopping de grande porte, que vai trazer marcas superbacanas, vai trazer um novo patamar de comércio pra Mooca. Com certeza vai fazer com que o mooquense passe a consumir muito mais aqui, não tenho a menor dúvida. Mas eu consumo muito aqui na Mooca. A parte de vestuário, que é o que eu compro normalmente, ai eu me sirvo em outros locais. Mas não vou precisar mais com a chegada do Shopping Plaza Mooca.
P/1 – E como é que é o seu dia-a-dia hoje, você acorda de manhã a que horas, pra onde você vai?
R – Olha, o meu forte não é acordar cedo, eu não tenho essa disciplina. Mas eu acordo aproximadamente entre sete e meia e oito horas, tomo o meu cafezinho hoje. Eu to criando uma nova dinâmica de casado. Antes eu era sozinho, agora to com a minha esposa, eu to numa fase de transição. A gente toma café junto, se prepara e normalmente a gente sai junto. Eu levo ela pro escritório dela e eu vou pra Di Cunto. Chego, normalmente até umas nove horas eu to na empresa. Aí não tem mais jeito, o fato de eu estar aqui hoje exigiu uma preparação muito prévia mesmo, tentei antecipar as coisas o máximo possível. Eu tenho certeza que eu vou chegar lá e já vou estar com um monte de coisas penduradas. Mas eu tenho um dia-a-dia bastante corrido, de muita atividade com certeza. Normalmente, a casa encerra as atividades às 19 horas. Normalmente eu fecho, eu e o meu pai, tenho ficado até às oito, pelo menos, da noite na empresa. Vou pra minha casa, janto com a minha esposa e normalmente a gente tá pensando em alguma coisa pra casa, que tá por fazer ainda. Essa é a minha rotina atual. Eu almoço na empresa mesmo, que a gente tem restaurante, almoça lá todos os dias, a gente almoça um pouquinho antes.
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