IDENTIFICAÇÃO Meu Nome é Maria Madalena Rega. Sou natural de Contenda, mas moro na localidade de Balsa Nova, no Paraná. Nasci em 19 de dezembro de 1959. FAMÍLIA Meus pais são Alexandre e Sabina Kulka. Os avós paternos são Ana e João Kulka e os maternos são Estevão e Ros...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu Nome é Maria Madalena Rega. Sou natural de Contenda, mas moro na localidade de Balsa Nova, no Paraná. Nasci em 19 de dezembro de 1959.
FAMÍLIA Meus pais são Alexandre e Sabina Kulka. Os avós paternos são Ana e João Kulka e os maternos são Estevão e Rosa Schimborski. Sou descendente de poloneses. Tenho cinco irmãos. O meu irmão Sinézio Casimira é o único homem da família. E as irmãs são: Ana, Leocádia, Irineuza e Neuza. Na escala dos irmãos, sou a terceira. Tanto meus avós quanto meus pais eram agricultores. No total, são cinco irmãos, seis comigo. Tivemos uma vida difícil, muito sofrida, porque meu pai era alcoólatra, ele quase não trabalhava. Minha mãe trabalhou sozinha, praticamente, para criar todos os filhos. Trabalhava na agricultura. Naquela época, não tinha maquinário, não tinha nada, só trabalhando com animais. Ela sofreu muito para criar todos os filhos. A gente trabalhava na roça, desde criança, sempre ajudando. Não tive oportunidade de estudar. Precisávamos ajudar a mãe no trabalho da lavoura. Trabalhávamos com plantação de feijão, milho, arroz, cebola e batatinha.
RELIGIÃO Participava da Igreja Católica. Sempre ia à missa. Tinha uma capela próxima de casa. Às quartas-feiras, íamos às novenas. As missas não eram realizadas nesta capela, eram mais longe. Mas, quando podíamos, íamos ou participávamos dos cultos quando tinha na capela mesmo.
INFÂNCIA Morávamos na zona agrícola mesmo. A região é bem agrícola. Tinha poucos vizinhos. Uma chácara era distante da outra. A gente trabalhava na roça e, às vezes, em sistema de mutirão. Na colheita de trigo ou na colheita de feijão, os vizinhos se reuniam, colhiam em uma propriedade primeiro e depois se reuniam em outra propriedade. Trabalhavam em sistema de mutirão. Funcionava da seguinte maneira: duas, três famílias se reuniam, trabalhavam primeiro na casa ou na propriedade de um agricultor, após terminar a colheita, iam para a casa de outro agricultor. A comunidade era bem pequena. Acho que éramos 15 famílias morando naquela comunidade. Tinha as amigas que, depois, na adolescência, saíam juntas. A gente ia a festas e bailes. Sempre tinha o grupinho que saía junto.
BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA Brincávamos muito pouco. Como morávamos na roça, colhíamos xaxim, para fazer casinha, essas coisas. Mas a brincadeira era mais com os irmãos mesmo, a gente não era de ir na casa do vizinho. Por causa da distância mesmo. Às vezes, nos domingos, a gente saía com as amigas, ia na casa das minhas primas para conversar, sair e brincar. Tinha as bonecas, brincadeira de meninas. Naquela época, não tinha televisão. Dessa forma, precisávamos inventar alguma coisa para brincar. Na maior parte do tempo, ficávamos nas conversas mesmo. Não tínhamos muita opção de brincadeira.
ENSINO FUNDAMENTAL No ano passado, voltei a estudar, porque senti que estava me fazendo falta, só tinha feito até a quarta série. Depois que casei, fui morar em Balsa Nova, mas era uma cidade pequena. Não podia estudar por causa dos filhos. Sempre tive filhos pequenos, não tinha com quem deixar, era difícil. Só as mães que trabalhavam registradas podiam deixar crianças na creche. Como eu nunca trabalhei registrada, não tinha condições de deixar meus filhos na creche. Então, não pude estudar. Agora, no ano passado, voltei a estudar, fiz da quinta à oitava série, e esse ano estou começando o segundo grau, que com certeza vou terminar. Estudei dois anos em uma escola próxima da casa dos meus pais. Uma das dificuldades era que a mesma professora fazia merenda e cuidava da primeira, segunda e terceira séries. Então, era muito difícil. Nessa ocasião, tive a chance de morar com uma prima, para fazer a terceira e a quarta série, porque não tinha na escola perto da minha casa. Ela tinha uma filha deficiente. Eu cuidava dessa filha na parte da tarde e, de manhã, eu ia para a escola a pé. Andava cerca de 10 quilômetros, mais ou menos, para poder cursar a terceira e a quarta série. A primeira e a segunda série foram mais próximas de casa. Meus irmãos também freqüentaram a escola, iam junto com os vizinhos. Depois disso, fui morar com a minha prima. Ela morava em Serrinha, localidade de Contenda. Apenas eu fui morar com ela, porque queria estudar mais, queria fazer a quarta série, que não tinha naquela época lá. E meus irmãos mais velhos já tinham estudado, já tinham terminado até a terceira série, mas a mãe não tinha condições de mandar mais de um filho para fora de casa. Como essa minha prima precisava de uma pessoa para cuidar da filha deficiente, fui morar com ela por dois anos e fiquei estudando. Tinha uma vizinha dela que também estudava na mesma escola, fizemos amizade e eu sempre ia com ela para a escola. Tinha uma companheira para ir à escola. Mesmo morando com minha prima, a escola ficava distante. Essa escola era bem maior. Tinha mais alunos e, para cada série, tinha uma sala. Tinha a merendeira também, então, não precisava a professora se preocupar com isso. Tinha bastante aluno, fiz bastantes amizades e gostei muito. A professora foi muito bacana comigo. Às vezes, pela distância, saía de casa até sem tomar café, sem nada. Uma vez cheguei a desmaiar na escola, foi quando a professora me convidou para ir tomar café na casa dela todo dia de manhã. Às vezes, eu ia, outras vezes, não. Mas fiz muita amizade com a professora Edwiges. Quando terminei a quarta série, voltei para casa, porque precisava ajudar minha mãe na roça. Para continuar os estudos, precisaria ir para a sede do município, em Contenda, mas não tinha ninguém conhecido, nenhum parente, ninguém com quem eu pudesse morar lá, por isso, não tive condições de continuar os estudos.
INFÂNCIA Foi difícil voltar para casa. Porque já estava acostumada lá, tinha mais mordomias. A minha prima tinha uma situação financeira melhor do que a minha mãe. Mas a minha irmã mais velha estava casando, saindo de casa, então eu tinha que ajudar minha mãe também. Voltou a rotina e voltou a amizade com as amigas. Quando saí da quarta série, estava com 13 anos.
TRABALHO NA LAVOURA Na lavoura, peguei pesado mesmo. Trabalhava na roça todos os dias, quando tinha serviço na nossa plantação. Quando não tinha, ia trabalhar por dia para outro vizinho que tivesse plantação. Trabalhávamos por dia. Íamos eu e minha irmã trabalhar juntas. Nesse momento, estavam cinco irmãos em casa, contando comigo, porque uma havia se casado. O meu irmão tinha problemas com meu pai, porque ele bebia. Os dois não se davam bem. Mas tarde, meu irmão teve que sair de casa também e foi morar com um tio. Por conta disso, tive que assumir todo o trabalho, porque meu irmão era mais velho que eu. Precisei assumir todo o trabalho pesado da roça. Para mim, isso foi difícil, foi muito difícil. Porque trabalho na roça é pesado, é difícil trabalhar com animais. O terreno não era plano, então, foi muito difícil. Mas, no final de semana, sempre tinha um baile, uma festa para sair com as amigas. Tudo compensava.
JUVENTUDE
A única diversão que tinha era sair para uma festa ou nos reunirmos. Tinha um campinho de futebol, onde a criançada jogava bola, lá a gente se reunia, ficava batendo papo. Não tinha muita opção de diversão lá não. As paqueras começaram bem mais tarde. Eram nos bailes mesmo, nas festas. Já tinha meus 17 anos quando comecei a paquerar, mas foram poucas paqueras. Tive mais amigas mesmo, não eram muitas. Era um pouco separado: meninas para um lado, meninos para outro. Não tinha muita amizade com meninos.
MODA Minha mãe não tinha condições financeiras de me vestir como eu queria, então, era o básico mesmo. Quando era bem mais meninota, a mãe já comprava tecido e fazia as roupas para nós. Mas não tinha muita escolha, a gente escolhia o que a mãe podia pagar mesmo. Não podia andar muito na moda. Até mesmo para os bailes usávamos calça. Era época do jeans ou veludo. Mas aí era conforme a moda.
AMIZADES Hoje, as minhas amigas estão todas casadas. Às vezes, encontro algumas ainda, tenho contato com elas. Éramos três irmãs na mesma da casa, tínhamos um grupo mais unido, que saía sempre para os bailes e festas. Sempre saíamos juntas. Por vezes, conseguíamos uma carona, mas, nas propriedades mais próximas, íamos a pé mesmo. Todas tinham uma vida de luta na roça.
VIDA RURAL Trabalhávamos muito, passamos por muitas dificuldades na vida. Foi muito difícil. Hoje em dia, vejo que tudo é bem mais fácil. Os estudos, principalmente, fazem muita falta. Não tínhamos condições de estudar. Agora, é tudo bem mais fácil, é mais prático. Tem ônibus nas localidades do interior para levar as crianças para estudar. É bem mais fácil do que naquela época. Morei nessa cidade até 1979, quando me casei.
CASAMENTO Meu marido era da mesma comunidade, quase vizinho. A gente ia trabalhar na roça. No começo, não gostava. Ele fazia brincadeiras, mas eu não gostava de forma alguma. Depois, conforme o tempo foi passando, acabei namorando com ele por um bom tempo. Tive outros namorados. Foi em 1979 que me casei.
BAILES Em um baile da localidade, tive meu primeiro namorado, a primeira paquera. Mas também durou pouco tempo, ele me convidava para ir a bailes e festas e eu não tinha condições de ir, porque era longe. Não tinha carona, não tinha como ir.
Então, ele acabou arrumando outra namorada e eu fiquei de fora. A mãe sempre permitiu que eu fosse ao baile, desde que fosse com alguma pessoa conhecida. Nesses bailes tocavam música de sanfona, um pandeiro e um violaõzinho só. Dependendo da localidade, eles ficavam cheios, era até difícil andar, porque os salões eram pequenos. Era difícil até para dançar, mas era gostoso. Eu acho que era melhor que os de hoje em dia, porque não eram tão barulhentos, era uma música mais calma, mais tranqüila. Era só gaita, não tinha nada eletrônico. Era só gaita mesmo, pandeiro e violão. Gostava muito de dançar, adorava dançar.
CASAMENTO Ficamos uns seis meses noivos e depois nos casamos. Trabalhamos ainda na roça por mais de um ano. Meu marido teve a oportunidade de começar a trabalhar como servente de pedreiro na construção de uma capela de uma comunidade vizinha. Ficamos sabendo que, na cidade de Balsa Nova, estavam chamando pessoas para trabalhar em uma empresa. Corremos atrás e ele conseguiu trabalho. Era uma empresa que estava desmontando uma estrada de ferro antiga, não lembro nem o nome. Estavam tirando os postes, rede elétrica, umas linhas de ferro que estavam abandonadas. Já que estava sendo reformada, foi construída outra. Só que não tínhamos onde morar e não conhecíamos ninguém na cidade. Através de um vizinho de uma irmã minha, conseguimos um lugar. Ele nos emprestou uma casinha pequena. Nos mudamos, fomos para Balsa Nova em 1980. Ele começou a correr atrás, a procurar um terreno, uma casa que pudéssemos comprar. Foi difícil, na ocasião, tínhamos um pouquinho de dinheiro da última safra da roça, mas era muito pouco. Mas conseguimos comprar um terreno pequeno. Meu pai e o meu sogro deram um pouco de madeira para que pudéssemos construir uma casinha pequena. Ficamos por muitos anos naquela casa provisória, que era para ser uma coisa bem provisória mesmo. Hoje, tenho uma outra casa, bem maior, com mais conforto. A primeira casa foi construída com madeira. Ela só tinha três peças. Não tinha banheiro dentro de casa. O banheiro era do lado de fora. Assim que casamos, moramos um pouco com meu pai, um pouco com meu sogro. Sempre estávamos dividindo as duas casas, porque eram próximas uma da outra. Continuamos a trabalhar na lavoura, plantando feijão e arroz. Só que fazíamos uma rocinha para nós também. Foi com a primeira safra que conseguimos comprar o terreno onde moramos hoje. Fizemos essa roça no terreno do meu pai e do meu sogro. Um pouco em cada chácara. Eu queria muito deixar o trabalho da lavoura. O meu sonho era ir morar em uma cidade pequena e trabalhar de empregada, porque na roça era muito sofrido. Além disso, eu tinha mais irmãos, meu marido também, era o primeiro que estava casando, e não tinha terreno suficiente para todo mundo plantar. Então, tínhamos que sair mesmo, procurar um outro ramo de trabalho. Achei a vida de casada diferente. No começo, é complicado, tem os problemas, mas depois vêm os filhos.
FAMÍLIA Meu primeiro filho veio logo depois que casei. Na época, não conhecia pílula, não conhecia nada. Logo depois que casei, engravidei da minha primeira filha. Tenho quatro filhos.
BALSA NOVA No início foi difícil, porque não conhecia ninguém. Não tinha amizades. Era muito tímida também, não saía de casa. Estava quase ficando doente. Não tinha com quem conversar. E acostumada sempre com a mãe, com os irmãos, nunca tinha saído para lugar nenhum. Mas, depois, fui fazendo amizade com os vizinhos, eles me acolheram muito bem. Quando a minha filha estava pequena, soube que estava tendo esse Clube de Mães, que a Prefeitura estava promovendo. Comecei a participar do Clube de Mães. Aprendi a fazer tricô, crochê. Era uma vez por semana, mas pelo menos a gente já conversava, fazia amizade, se distraía.
FAMÍLIA Minha primeira filha se chama Rosane. Depois de dois anos e meio, tive mais um filho, o Daniel. Tenho ainda a Nanci, que hoje tem 15 anos, e o Carlos Alexandre, que é o caçulinha, com seis anos. Hoje, a Rosane está com 23 anos e o Daniel com 21 anos.
CURSO DE ARTESANATO A primeira dama do Município falou que ia ter um curso de artesanato em palha de milho. Fiquei surpresa. Mas o que pode ser feito com palha de milho? Eu, que trabalhava na roça plantando milho, nunca tinha ouvido ninguém dizer que podia fazer algum trabalho em palha de milho. Assim: “Vocês vão fazer flores de palha de milho.” Eu disse que iria fazer o curso por curiosidade mesmo, porque achava que não tinha condições de trabalhar com palha de milho, devia rasgar, partir. Não dava. Ela disse que dava para fazer flores sim. Fiz o curso e gostei muito.
Aprendi a fazer vários modelos diferentes de flores, arranjos e continuei praticando. Às vezes, não tinha lugar onde vender, não tinha feira, nada. Mas dava de presente para um, para outro. Foi assim que fiz a minha primeira freguesia. Fiquei por um bom tempo trabalhando lá como Instrutora. Quando a dona Teresa tinha uma encomenda de flores, porque ela já trabalhava há mais tempo, ela pedia para eu ajudá-la e eu ajudava. Fui Instrutora de outros cursos de flores de palha na mesma localidade e em outras também. Só que as pessoas não praticavam. Terminavam o curso e todas diziam: “Eu fiz só para ver como é que era feito” Nenhuma continuava trabalhando com aquele artesanato, e eu continuava sozinha. Eu e a dona Teresa, só nós duas, e mais ninguém para trabalhar. Recebi uma boneca, uma camponesinha feita em Curitiba, para tentar criar outras peças, outros modelos diferentes a partir daquela. As primeiras peças foram difíceis, porque não tinha noção de como ela era feita, não podia desmanchar aquela boneca. As primeiras ficaram bem feinhas mesmo, nem eu mesma compraria. Mas depois, com o tempo e com a pratica, foi melhorando a qualidade. Até que conseguimos chegar a um modelo que tinha condições de ser comercializado.
PRIMEIRO EMPREGO Na agricultura não tem idade certa para começar. A gente começa desde criança saindo junto com os pais para a roça, sempre estamos fazendo alguma coisa. Comecei para valer mesmo depois que saí da escola, com 13 anos. Nessa época, eu ia para a roça todos os dias.
ENSINO FUNDAMENTAL Voltei a estudar agora, no ano passado. Foi maravilhoso. Me senti criança outra vez, foi muito bom. Fiz bastantes amizades. A gente se ajudava dentro de sala de aula, entre os colegas. Foi muito bom, gostei muito e só me arrependo de não ter começado antes a estudar. Na cidade onde eu estou morando teve o PAC – Programa de Avaliação Continuada –, que é um curso mais rápido que a gente faz de quinta a oitava série em um ano só. Esse curso já tinha em Campo Largo, uma cidade vizinha, mas dependíamos de ônibus para ir, por isso era mais difícil. Mas, na minha cidade mesmo, começou no ano passado, quando teve a primeira turma. A gente estava com duas turmas de quinta à oitava série, com um grupo de mais de 30 alunos em cada sala. Agora, pelo mesmo sistema, vamos fazer o segundo grau, mas também em uma outra localidade. Esse ano vai ser mais difícil, porque é em uma localidade vizinha, que depende de ônibus para ir. Fica mais difícil. É mais distante, porque não é na nossa cidade. Mas não quero desistir. Quero continuar.
VIDA RURAL Dificuldade a gente sempre passou. Às vezes, falta de dinheiro mesmo, porque a gente ganhava pouco. Não tinha muito terreno para plantar. A gente plantava pouco, o dinheiro era curto também. O número de safras que se fazia por ano não era como agora. Então, sempre estava faltando dinheiro. Às vezes, não tínhamos dinheiro para comprar café, açúcar, então usávamos mel e o chá colhido das ervas mesmo, porque erva-mate a gente tinha lá. Mas tinha os momentos gostosos também. Natal, Páscoa, brincadeiras com as amigas. Estar junto à natureza, viver no interior é muito gostoso também. Não tinha nem idéia do que era artesanato. Nunca tinha ouvido falar. Não tinha nenhum conhecimento.
CURSOS DE ARTESANATO Gostoso é aprender coisas novas, diferentes. Então, cada coisa que você aprende, cada pecinha diferente que você aprende é uma vitória. E eu fiz vários cursos, não foi só de artesanato de palha. Fiz de bordado em tela, todo curso que aparecia na Prefeitura, eu era a primeira a fazer matrícula. Se dependesse de certificado para se dar bem na vida, eu seria milionária Fiz curso de corte e costura, de acolchoado e todos cursos que apareciam por lá. Mas acho que temos que ter o dom para trabalhar. Gostei mesmo de trabalhar com a palha de milho. Agora consigo a palha mais fácil e não tão cara. É o que gosto de fazer. Estou plantando milho também. Meu irmão tem uma chácara e eu tenho meu terreno também. Ele está na agricultura ainda. Nem toda palha de milho serve para artesanato. Tem variedades que produzem uma palha melhor. Através da EMATER, buscamos resgatar aquelas sementes mais antigas que o pessoal plantava, mas é o milho comum que produz uma palha melhor para o artesanato. Tem também o milho roxo, que antes a gente não tinha. Era uma dificuldade para conseguir palha roxa. Conseguimos sementes, através da EMATER, que descobriu um produtor em uma cidade lá em Rio Azul, bem distante de nós. Mas fomos até lá, conseguimos essa semente e estamos plantando agora para melhorar a qualidade da palha e para melhorar também a qualidade do artesanato.
FILHOS
Quando os filhos eram pequenos, sempre os levava junto nos cursos. Na época de escola, ficavam na escola. Mas, na maioria das vezes, levava meus filhos. As outras mães também levavam seus filhos. As crianças ficavam brincando em um cantinho, e os maiores cuidavam dos menores. Nunca teve problema.
FAMÍLIA Desde que me mudei para Balsa Nova, passei a viver em uma vila no centro. Meu marido trabalhava empregado. Na época de férias, íamos para a casa dos meus pais ou do meu sogro e trabalhávamos na roça, ajudávamos, dávamos uma força para eles. Mas não trabalhamos mais com agricultura. Meu sogro mora no interior, na zona agrícola. Quando vamos passear de férias, ajudamos.
CASA PETROBRAS DE BALSA NOVA / TRABALHO COM ARTESANATO Comecei a lidar com artesanato por volta dos anos de 1984 ou 1985. No começo foi difícil, tínhamos produção, mas não tínhamos onde vender. Era mais na feirinha ou na festinha da Igreja. Ainda não havia um grupo grande de produção. Faz bem pouco tempo que começamos a sair em feiras, uns quatro anos, mais ou menos, que estamos com um grupo formado, um grupo maior. Agora, temos condições de atender encomendas até de lojas, além de sair mais em feiras. Esse grupo foi criado a partir do ano de 2000, depois de um acidente que aconteceu no Rio Iguaçu. Por isso, foi construída a Casa Petrobras na comunidade de Balsa Nova para servir de apoio durante o acidente. A Casa foi doada para a comunidade. Porque, até então, usávamos a Prefeitura para dar os cursos de artesanato.
Fui convidada, no final de 2002, para dar um curso de artesanato em palha de milho. Já tinha dado vários cursos, de arranjos natalinos e outros. Durante o encerramento do curso, comecei uma nova estratégia. Eu dava os cursos, mas ninguém praticava. Terminavam o curso e diziam: “Eu fiz mais por curiosidade.” Ou diziam ainda: “Não me interessa continuar.” E eu continuava sozinha, sem ter uma grande produção, sem poder atender às feiras. Foi quando surgiu a idéia de manter esse grupo unido, se reunindo uma vez por semana para começar a produzir mais peças, sair e vender em feiras. A Prefeitura sempre apoiou também. Nem todas que fizeram o curso ficaram, mas outras entraram e foram aprendendo.
VAZAMENTO DE ÓLEO NO RIO IGUAÇU Houve um vazamento de óleo em um rio próximo ao Iguaçu. Acho que chegou a atingir o Rio Iguaçu também, porque ele passa na cidade de Balsa Nova. Em Balsa Nova não houve prejuízo para a comunidade, porque o óleo que chegou foi bem pouco. Mas, para a região, foi complicado. Alguns animais morreram. Não tenho o conhecimento de tudo o que aconteceu. Até o meu sogro, que tem um terreno que divide com o Rio Iguaçu, perdeu um animal. Mas as pessoas tiveram todo atendimento da Petrobras. Tiveram até que “fechar” o gado. Receberam alimentação para deixarem esse gado fechado, para que não chegasse ao Rio Iguaçu.
CASA PETROBRAS A casa era para atender as pessoas que trabalhavam na limpeza do rio. Era como um quartel do pessoal que parava lá, atendendo e trabalhando no Rio Iguaçu. A casa está construída bem às margens do Rio Iguaçu. Era um centro de apoio que eles tinham para se encontrar, onde tinha telefone, tinha tudo. Lá era o local onde o pessoal se encontrava e trabalhava no apoio local. Não tenho certeza, não posso precisar quanto tempo demorou a limpeza do rio. Sei que foram alguns meses. Depois que terminou a limpeza, a casa foi doada para a cidade de Balsa Nova para ser usada em prol da comunidade. A Prefeitura sempre usava para cursos. Os cursos de reaproveitamento de alimentos foram os primeiros, depois tiveram cursos de artesanato e alguns profissionalizantes. No ano passado, durante quase todo o ano, teve vários cursos. Cursos profissionalizantes em várias modalidades. Essa Casa é da comunidade mesmo. Lá tem biblioteca, tem computador para os alunos de escola, principalmente, fazerem os trabalhos de pesquisa. Tem telefone. E, como nós não tínhamos uma sede para a Associação dos Artesãos, a Casa passou a funcionar como a nossa sede provisória. Nos reunimos uma vez por semana, toda terça à tarde. Podemos usar o telefone e o computador também. Temos acesso a tudo.
ASSOCIAÇÃO DOS ARTESÃOS SÃO FRANCISCO DE ASSIS DE BALSA NOVA A Petrobras trouxe para nós uma consultora para dar cursos sobre cooperativismo, associativismo etc. Nós precisávamos aprender. A própria Petrobras gostou muito do nosso artesanato. Queria comprar peças, mas não tínhamos nada para fornecer. Precisávamos ter um grupo organizado, uma associação para poder fornecer nota às empresas. Entrei no início como autônoma, tinha nota em meu nome, só que sempre deu problema para receber. Porque estava no meu nome, de uma firma particular, e era um grupo que estava trabalhando. Tinha que criar a Associação, porque facilitaria tudo. Fizemos vários cursos, várias reuniões até formar a Associação. Acho que foi mais de um ano de reuniões e cursos até juntar o grupo. Depois levou um bom tempo para legalizar a Associação, porque não tínhamos noção de como era o processo de legalização. Não tínhamos acesso às informações. O pessoal da Prefeitura nos deu um grande apoio. Tem um senhor que se empenhou pessoalmente para ajudar na legalização da Associação. O nome dele é Joel Bathke. Ele era funcionário da Prefeitura, agora não é mais.
As pessoas que ingressavam na Associação eram aquelas que aprenderam a fazer artesanato. Sempre estávamos convidando mais pessoas para entrar. Tinha um grupo em uma outra localidade, no município de Balsa Nova, que trabalhava com o crochê. Elas também foram convidadas a participar da mesma Associação. Fizeram o curso de palha e algumas aprenderam, mas não praticaram. Preferiram ficar com o crochê mesmo. Mas fazem parte da mesma Associação, que reúne vários trabalhos, não é só palha de milho. Tem as flores emborrachadas e, há pouco tempo, entrou uma senhora que faz bonecas de pano, que está fazendo o maior sucesso, também está vendendo muito bem. Faz dois anos que conseguimos legalizar a Associação. Somos 22 associadas. Sou a atual Presidente da Associação. Na próxima semana, tem eleição para a escolha da nova diretoria e também estou concorrendo.
No dia 27 de fevereiro, vai fazer dois anos que estamos com essa Associação legalizada. Ela se chama Associação de Artesãos São Francisco de Assis, em homenagem a uma imagem de São Francisco que foi encontrada no Rio Iguaçu na época do acidente. Quando estavam limpando o rio, retirando o lixo, acharam uma imagem de São Francisco em madeira, bem grande. A idéia dessa homenagem foi de uma outra artesã, já que a imagem foi encontrada próxima de Balsa Nova. E a gente deu o nome da Associação de São Francisco de Assis. Hoje, esta imagem está em estudos em uma universidade. Foram feitas duas réplicas em resina, que estão na Casa de Balsa Nova e na Casa de Guajuvira.
Além do artesanato em palha de milho, fazemos flores emborrachadas, tricô, bonecas de pano, pinturas em pano de prato, e tem um rapaz que trabalha com junco e cana da índia fazendo móveis. Como Presidente da Associação, recebo os pedidos, as encomendas, e sempre que chegam divido com as outras artesãs. Quando tem uma feira, organizo e divido os trabalhos. Porque a nossa Vice-Presidente mora bem distante, então, fica difícil. Ajudo em tudo. Tem a Festa do Milho, que acontece uma vez por ano, sempre no final do mês de janeiro. E tem ainda a Festa das Nações, o Encontro de Produtores de Cebola, que acontece em março, e nós participamos. Saímos pelas cidades vizinhas também. Até em rodeios a gente já foi Participamos e vendemos muito bem. A gente comprou uma barraquinha para a Associação. Em algumas localidades, já tem o stand pronto. Nesse caso, a gente só chega, compra e paga o espaço. O preço do stand varia muito, depende da localidade e do evento. Verificamos se as artesãs podem participar, se podem ir às feiras. Estou em quase todas as feiras, tenho facilidade de ir, porque a minha filha cuida dos trabalhos de casa e eu sei dirigir. Então, nos lugares mais próximos, vou com meu carro mesmo, porque a Associação não tem carro ainda. Então a gente tem que ir com o próprio carro, mas elas sempre colaboram. Sempre estamos nos revezando. Quando vamos às feiras, um dia vai uma ou duas, no outro dia, vão outras duas. Dentro da cidade, o nosso trabalho não é tão reconhecido, porque santo de casa não faz milagre Mas, nas redondezas, em todo lugar que vamos, o trabalho é muito bem aceito. O pessoal gosta muito, é difícil uma pessoa passar pelo stand e não comprar uma pecinha, uma lembrança, porque acham muito bonito.
VIAGENS Já participamos da Feira da Providência no Rio de Janeiro, há dois anos. Foi um sucesso total, porque além do stand de venda, estávamos trabalhando em um dos stands. Trabalhamos dentro do espaço, fazendo as peças ao vivo, na hora. Isso chama atenção, porque as pessoas vêem você produzindo, fazendo a peça, e querem comprar aquela peça que você acabou de terminar. Às vezes, só fazemos um acabamento, mas isso já chama a atenção das pessoas nas feiras. Em São Paulo, houve um simpósio que a Petrobras nos convidou e fomos. Participei do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, no mês passado também.
No Paraná temos montado stands em várias localidades. Já fui em Irati, Porto União, Cruz Machado. A EMATER tem os seus eventos sobre a terra, as romarias, e sempre convidam os artesãos para participarem. Porque é basicamente artesanato rural, usando palha de milho. Sempre somos convidados a participar junto com a EMATER nesses eventos, e vendemos muito bem. Em Curitiba, no Parque Barigui, quando tem os eventos, também participamos. Em Campo Largo, em Araucária, dentro da Repar, sempre estamos fazendo feirinha para os funcionários, sempre vendemos muito bem. A gente já foi convidada para fazer feirinha, agora, na Páscoa. Fazemos artesanato conforme a época. Se for Natal, tem Papai Noel, tem guirlanda. Para a Páscoa, tem as cestas, os coelhinhos. Então, conforme a época, a gente produz artesanato adequado.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL / CURSOS DE ARTESANATO Dei cursos de artesanato em outras cidades, outras localidades vizinhas. Sempre que vamos às feiras, somos convidados para dar cursos. Em uma cidade vizinha, em Campo Largo, dei cursos para adolescentes. Também tem um grupo lá, que está trabalhando. Passamos a experiência de manter o grupo unido, continuar trabalhando e deu certo. Tem um grupo pequeno, mas estão trabalhando. Já vi o trabalho deles em feira na cidade de Quatro Barras. Em Curitiba, dei um curso no ano passado. Eles estão mantendo um grupo pequeno, mas unido, e eles fazem um trabalho diferente com cestarias, acabei aprendendo com eles. Fui ensinar o trabalho de palha de milho, mas também aprendi um outro tipo de trabalho que não fazia ainda. São cestas de palha de milho, mas eles fazem primeiro a corda e depois fazem aquelas caixinhas vazadas. É o que está fazendo o maior sucesso agora. Até as lojas estão pedindo.
VENDAS DO ARTESANATO DA ASSOCIAÇÃO Sempre recebemos muitas encomendas. Mas é da metade do ano em diante, mais para o final de ano, que recebemos mais encomendas. Ano passado, trabalhamos praticamente o ano todo e esse ano também não paramos, estamos trabalhando direto. Sempre tem lojas pedindo para deixarmos objetos em consignação. Eles compram as peças e colocam nas lojas. Também recebemos encomendas de outros Estados. Em Santa Catarina, tem um senhor para o qual vendemos. Já vendemos para o Rio Grande do Sul, para São Paulo e para Bahia. Para o Rio de Janeiro, já vendi há muitos anos, quando estava sozinha, tinha uma lojista que comprava e eu mandava pelo correio.
AS ASSOCIADAS As associadas são donas-de-casa como eu que, nas horas de folga, gostam de trabalhar com artesanato de palha de milho. Elas trabalham, também, porque precisam, porque é um aumento de renda. Nas horas de folga, estão trabalhando e toda terça-feira a gente se reúne. Mas lá o trabalho não sai mesmo, é mais para bater papo, para conversar; trabalhamos muito pouco. Tem dias que vou até lá e não chego a tirar o material da sacola. Como saímos em feiras, em eventos, então a gente precisa fazer o acerto. Sempre tem coisas da Associação para acertar. Acabamos deixando o trabalho para fazer em casa. São donas-de-casa de várias idades, jovens, idosas e todas gostam de trabalhar com a palha de milho. A pioneira em Balsa Nova foi a dona Teresa, que trabalhava com flores de cetim, fazia arranjos para casamentos. Certo dia, uma parenta dela aprendeu a fazer as flores de palha de milho, e hoje ela só quer fazer os arranjos e as flores assim. Ela não gosta muito de fazer os bonecos ou outras coisas, prefere ficar com a palha de milho. Eu sei fazer as flores, mas deixo para ela fazer e faço outros tipos de peças. A peça que mais gosto de fazer é o pássaro, é o faço mais rápido. Gosto também de montar as árvores.
TRABALHO COM ARTESANATO / BENEFÍCIOS Este trabalho aumentou a renda das associadas. Também saímos mais, conhecemos mais pessoas e outros lugares. Eu nunca sonhei em, um dia, sair e viajar de avião. Já viajei várias vezes. Fui para São Paulo, fui para o Rio Grande do Sul, já vim para o Rio de Janeiro outras vezes também. É uma coisa que nem imaginava conseguir. Não sabia que a palha de milho ia me levar tão longe assim E foi muito bom, porque as outras artesãs quando saem em feira também gostam. A gente se diverte, trabalhamos nos divertindo, com certeza. Sempre quando tem um curso novo, as pessoas querem fazer, querem entrar para a Associação. Só que agora já está mudando. Os eventos estão ocorrendo com mais pessoas de fora, como a Festa do Milho, que é bem tradicional. Esse Encontro de Produtores de Cebola traz pessoas do Estado inteiro. Vendemos dentro da cidade, mas para pessoas de fora, que vão visitar a cidade e que acabam comprando. As pessoas da cidade compram menos. Não sei se é por ser um trabalho produzido lá mesmo. Não sei o que é, mas é bem pouca a procura das pessoas de lá. Vendemos melhor outras peças. As bonecas de pano, o tricô, crochê, já vendem bem melhor, mas palha de milho ainda tem uma rejeição.
TRABALHO FEMININO / FAMÍLIA A situação da minha família melhorou bastante. Antes, eu dependia do dinheiro do meu marido. Agora, tenho meu próprio ganho. Posso ajudar meus filhos. Quando eles pedem um trocadinho, alguma coisa, eu tenho. E estou passando isso para minhas filhas. Minha filha mais velha aprendeu a trabalhar com artesanato, ela também faz. Na época em que ela ficou desempregada, o ganho dela era só com artesanato e pôde ajudar o marido. A outra mais nova também já está fazendo algumas pecinhas. E até os próprios filhos se sentem bem, porque a mãe está trabalhando, está viajando, está saindo. Eles falam com orgulho para os coleguinhas que a mãe sai, que a mãe viaja. Melhorou bastante. A mais velha é associada, a mais nova ainda não, ela me ajuda em casa. A mais nova tem 15 anos e, se quiser, também pode se associar. Fazemos uma avaliação do trabalho, se o trabalho tem um bom acabamento, se é a própria pessoa que o faz mesmo, daí pode associar essa pessoa. Ela passa a participar dos encontros às terças-feiras, das feiras, leva as peças para produzir e tem que ajudar sempre. Sempre estamos revezando e tem que estar ajudando. Todo mundo tem que trabalhar junto. Por ser um grupo pequeno, às vezes, é difícil, porque tem uma que tem filho pequeno, a outra não pode sair, é complicado. Então, todas que podem tem que ajudar mesmo.
PATROCÍNIO PETROBRAS Nosso trabalho recebe apoio da Petrobras. Apoio de divulgação e por meio da compra de peças. Sempre que eles têm um evento ou uma visita na Repar, eles compram peças da Associação para dar de brindes. Já vendemos muitas peças para a Petrobras da Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Cada peça que é comprada conosco, vai com um cartãozinho da Associação e da Petrobras, falando do apoio da Petrobras. Todas as peças que eles dão têm o telefone da Associação e da artesã. Seguem dois telefones na peça, um da artesã e outro da Casa da comunidade, que usamos como sede provisória. A Petrobras cedeu um espaço para a comunidade. Conseguimos estabelecer contato através da Prefeitura, que já estava usando essa Casa de Balsa Nova. Em seguida, eles me convidaram para dar um curso nessa Casa e acabei conhecendo as pessoas da Petrobras. A Adriana e o Ouvidor, que é o Raul, foram as primeiras pessoas que conheci de lá. No dia do encerramento do curso, a Edimara participou e ofereceu a Casa para realizarmos os encontros, para usar mesmo, para manter o grupo unido. Conseguimos esse apoio em 2002, quando ocorreu o acidente na Repar. Não temos um contrato. Eles deixaram a Casa à disposição para usarmos. Não tem nada por escrito. Porque a Casa é da comunidade, bem como a Associação é da comunidade de Balsa Nova. Outro colaborador é a EMATER, que ajuda nos deixando participar desses eventos da terra, onde tem essas romarias da terra. Essa SPTA é uma ONG que está sempre fazendo eventos sobre a terra. Eles reúnem agricultores em uma cidade, fazem esses eventos e nós vamos junto. Eles fazem exposições de sementes e nós entramos com artesanato. O nosso sonho é termos uma sede própria. Por enquanto, falta verba. O grupo ainda é muito pequeno, não temos condições. Mas, no futuro, queremos ter sede própria e, talvez, uma loja para venda, dentro da cidade mesmo. Muitas pessoas de fora perguntam se temos loja e onde vendemos artesanato. Na Casa da comunidade, temos poucas peças.
CASA DE BALSA NOVA / ASSOCIAÇÃO DOS ARTESÃOS Temos uma secretária que trabalha lá, que está sempre nos dando apoio, uma força. Ela tem vendas, mas é um lugar pequeno, não pode pôr tudo, todas as peças que temos estão em exposição. O sonho é ter uma sede própria mesmo, dentro da cidade, com uma loja para vendermos todos os dias e, talvez, reunir mais pessoas para trabalharem dentro dessa mesma sede. Seria bom trabalhar em equipe quando tiver uma encomenda grande, isso também facilitaria o trabalho. Não conseguimos trabalhar em equipe, porque só podemos usar o espaço, uma vez por semana. No resto da semana, cada uma trabalha na sua casa. Não podemos usar a Casa mais vezes, porque é usada por toda a comunidade, com outros cursos. Sempre é usada para cursos para a comunidade. É uma casa pequena. Tem apenas uma sala. As outras atividades comportam a biblioteca, o computador para as crianças fazerem pesquisas, e cursos profissionalizantes patrocinados pela Prefeitura ou pela própria Petrobras. Esse ano, os cursos não foram agendados, por enquanto, porque houve mudança de governo.
PROJETO PEQUENO MARCENEIRO A Petrobras patrocina cursos profissionalizantes. No ano passado, teve curso de secretariado, de telefonista e mais outros cursos que não me recordo no momento. Outro projeto apoiado pela Petrobras é o do Pequeno Marceneiro. São adolescentes que – fora do horário de aula – ficam lá duas horas por dia, trabalhando com madeiras. Tem os instrutores para ensinar pequenos trabalhos em madeiras. São aprendizes de marceneiro. É um projeto da Petrobras também em Balsa Nova. Esse projeto funciona em outro local da Prefeitura, num barracão grande, porque eles precisam das máquinas e das madeiras. Por isso, eles têm uma outra sede.
PROJETOS AMBIENTAIS Depois que houve o acidente no rio, não houve nenhum impacto maior para a comunidade. Foi feito o reflorestamento em toda área do Rio Iguaçu e, de tempos em tempos, são feitas limpezas. O pessoal se reúne para fazer a limpeza do rio e a Petrobras sempre está dando apoio para eles. São pessoas da comunidade mesmo, são voluntários que se reúnem. A Petrobras oferece apoio nesses dias de limpeza. Ela fornece os coletes salva-vidas. Não sei especificar tudo certinho, porque não estou por dentro. Mas, recentemente, teve um dia de limpeza e foi recolhido bastante lixo. Então, eu sei que a Petrobras cedeu os coletes, mas as outras coisas não sei explicar. A freqüência do serviço depende da comunidade. Quando eles se reúnem de tempos em tempos, sempre estão fazendo a limpeza e coletas de lixo próximo à Balsa Nova.
SONHOS Além da sede própria, queremos um carro para sair pelas feiras, porque a nossa grande dificuldade mesmo é o transporte. O artesanato de palha não tem peso, mas tem volume, então não é uma coisa que você possa pôr em carro pequeno. Eu tenho um carro, um Opala bem velhinho, que uso para ir às feiras, pelo fato de ser mais espaçoso. Tem outra artesã que também vai com o carro dela. Mas temos dificuldade porque, às vezes, precisamos transportar prateleiras e barracas. Então, a gente deixa de participar de muitos eventos, de muitas feiras, por causa da dificuldade do transporte. No início, conseguíamos com a Prefeitura uma Kombi para ir a alguns lugares. Agora, a gente acha que tem que andar com as próprias pernas.
APOIO DA PREFEITURA DE BALSA NOVA O antigo prefeito sempre apoiou. Agora mudou. A gente não sabe bem como é que vai ficar. O antigo prefeito era o Osvaldo Vanderlei Costa e o novo é o José Franco Pellizzari. Estamos nos organizando para pedir apoio a ele também. A Prefeitura já chegou a pagar um stand em alguma feira para nós, deu transporte também para essas feiras. Nos eventos da própria cidade, a gente nunca pagou pelo espaço, sempre utiliza gratuitamente.
COTIDIANO DE TRABALHO Acho que é importante a organização, o grupo trabalhando organizado. E o que mudou é que a gente percebe que, tendo um grupo unido, você consegue ir longe mesmo. É bem melhor que trabalhar sozinha. Porque quando trabalhava sozinha, não tinha condições de vender, nem nada. E agora com um grupo mais organizado, maior, você sempre está aprendendo, conhecendo coisas novas, diferentes. Gostei muito de ser a primeira Presidente da Associação. Não sei agora se vou ser reeleita ou não, mas quero dar todo apoio à próxima presidente e espero que ela continue com esse trabalho, para que a Associação possa crescer bastante.
ASSOCIAÇÃO DOS ARTESÃOS SÃO FRANCISCO DE ASSIS DE BALSA NOVA - DIREÇÃO Temos a Presidente, a Vice, a Tesoureira, a segunda Tesoureira, a Secretária e o Conselho Fiscal. A gente não define muito bem quem é Presidente, quem é Tesoureiro, a gente trabalha junto, como se fosse um grupo só. Não é porque essa é Presidente que tem que fazer mais, porque aquela é Tesoureira tem que fazer menos. Eu apoio a Tesoureira e o trabalho dela também, assim como ela me apoia. Todos trabalham juntos. Ninguém é muito só, trabalhamos todos juntos. Não tem muita definição. Cada mandato é de dois anos. Não existe uma competição, porque o grupo é pequeno, não formamos nem chapa. As que moram em Balsa Nova são poucas, algumas artesãs são do município de Araucária, tem três, e do município de Contenda também, que é um município vizinho e tem duas artesãs. Elas não fazem parte da Diretoria por causa da dificuldade de vir até o município, de estar lá toda semana, então elas só fazem parte da Associação. Trazem seus trabalhos para vender. A Vice é de São Luís do Purunã, mas também é difícil para ela vir, porque não tem ônibus. Talvez elas fiquem fora da Diretoria dessa vez, mas isso é a maioria quem vai escolher. Vamos fazer uma cédula para votar para Presidente, Vice-Presidente, Secretária e Tesoureira. A pessoa escolhe o nome que ela quiser. Não vai ter candidato escolhido. Somos 22 associadas. A eleição será no dia 25, na próxima sexta-feira. Acontece lá na Associação mesmo, na casa. Dificuldades sempre existirão. Algumas são mais por questão de viagens. Às vezes, todas querem ir e não tem vaga para todo mundo. Quando o trabalho é mais próximo, é difícil conseguir uma pessoa para trabalhar, quando é mais longe elas querem ir, porque vão conhecer tal lugar. Então, dificuldade a gente sempre tem, como todo lugar. Por mais que seja um grupo pequeno, sempre tem dificuldades. Mas a gente procura manter a ordem e fazer com que todas fiquem unidas sempre, se ajudando.
FESTAS Aniversários e gravidez são as nossas alegrias. Agora, estamos com uma artesã que anunciou esses dias que está grávida, vamos fazer o chá de bebê para ela. Quando tem uma das artesãs fazendo aniversário, a gente praticamente a obriga a trazer o bolo. Sempre tem as festinhas, é muito gostoso.
COTIDIANO DE TRABALHO Procuro sempre estar de bem com todas. Procuro passar para elas que todas fazem parte do grupo e têm que trabalhar por igual. Quando tem uma encomenda, uma feira para sair, eu passo para elas como vai ser feito, quem vai participar e tudo. Na maioria das vezes, elas dizem: “O que você resolver, para nós está bom.” Eu digo que não é assim, todas tem que participar, todas tem que dar sua opinião, porque somos um grupo. Mas, no final das contas, sempre se acerta. Não tem maiores problemas.
CURSO DE ARTESANATO Na maioria das vezes, sou eu quem dá os cursos. Porque elas sabem fazer, mas não gostam de ensinar. Umas até falam que gostam de fazer, mas não tem o dom para ensinar. Elas preferem que eu mesma fique como Instrutora de Curso. Não é diferente fazer e ensinar. Não acho diferença nenhuma. Para mim, é a mesma coisa que estar trabalhando. Só que nem todas gostam de ficar ensinando, têm a paciência de passar, de ensinar, mas eu, pelo contrário, gosto. Já ensinei crianças também. Não é fácil, é difícil trabalhar com crianças, já tive um grupo de alunos crianças, mas prefiro mesmo os adultos, por levarem mais a sério. São pessoas que vão para aprender mesmo, para praticar. Mas eu adoro ensinar. A freqüência dos cursos é pequena. Neste ano, queremos ver se montamos um grupo na nossa comunidade mesmo. Porque tem mais pessoas querendo entrar para o grupo, para a Associação, e aprender a fazer artesanato de palha.
QUALIDADE DAS PEÇAS Estamos sempre cuidando da qualidade, porque a qualidade de uma pessoa, às vezes, acaba prejudicando o grupo todo. Temos que estar vigilantes com a qualidade. Às vezes, a pessoa aprende a fazer, mas não tem aquele capricho, aquela qualidade. Já tive problemas com uma artesã, que ficou meio magoada, porque achou que eu não estava querendo vender o artesanato dela. Mas eu disse: “Não é assim, é questão de qualidade”. Porque se tiver algum problema com o produto, não é para a artesã que o freguês vai reclamar, e sim para Presidente. Então, eu gosto de ficar sempre atenta na questão da qualidade. Também aceito que alguma artesã indique que o meu trabalho não está sendo bem feito, que tem problema. Não é porque sou uma instrutora, que vou fazer perfeito sempre. A gente também pode estar errando na qualidade, eu passo para elas que também quero ser vigiada.
ARTESANATO DE OUTRAS GERAÇÕES A filha da artesã mais velha, da dona Teresa, também já faz artesanato. Há anos a mãe dela fazia artesanato e ela não ligava, não se incomodava de fazer. Depois que ela viu o grupo se unindo, se organizando, montando a Associação, participando de feiras, tudo isso a incentivou a também querer aprender. Ela se criou vendo a mãe trabalhar com a palha de milho, mas ela não sabia fazer. Ela começou a ajudar a mãe, começou a fazer outras peças e aprender coisinhas diferentes. Hoje, ela é a nossa Tesoureira, porque a nossa primeira Tesoureira teve uns problemas de saúde, pediu afastamento. Por isso, ela agora está como Tesoureira provisória. Mas ela agora está vindo para o grupo, está praticando, fazendo mais. As outras donas-de-casa, as artesãs que têm filhas, procuram passar para os seus ensinamentos
também.
COTIDIANO DE TRABALHO Acompanhamos o trabalho das artesãs nas feiras. Você tem contato com as peças de todo mundo, é lá que a gente vê como é que estão as nossas peças, se a qualidade está boa, se tem que arrumar alguma coisa. Procuro incentiva-las, quando vejo que tem alguma coisa errada, procuro ver o que está acontecendo de errado, por que aquela peça não está com a qualidade que devia, se é o material que ela está usando ou se é porque está fazendo muitas peças e teria que fazer menos para melhorar a qualidade. Mas procuro conversar com elas sempre. Aquela artesã, com quem tive problemas, estava mais interessada em dinheiro do que fazer artesanato. Ela precisava de dinheiro, queria fazer uma grande quantidade e gastar pouco. Quando se economiza material, acaba interferindo na qualidade. A compra do material é um custo pessoal. Geralmente, vamos nas casas dos agricultores que têm milho, tiramos a palha lá e deixamos o milho para eles. Pagamos um preço pelo saco de palha, é pouquinho. Às vezes, o agricultor nem quer cobrar, mas até para podermos voltar outras vezes, sermos convidadas, a gente acaba pagando um pouquinho, porque sabemos que tudo tem valor. Então, a gente consegue a palha direto com o agricultor. Temos 21 mulheres e um homem, que é o artesão de móveis.
BALSA NOVA Balsa Nova é uma cidade bem pequena, é uma cidade agrícola. Acho que a zona urbana não chega a quatro mil habitantes, é bem pequena mesmo. Ela é mais zona rural. Tem grande produção de milho, soja, feijão e cebola. Tem muitos sítios. A vila mesmo é bem pequena. Eu moro na vila, no centro, na zona urbana. Deve ter perto de 12 mil habitantes no município todo. Trabalho só com a Associação e como dona-de-casa. Cuido dos afazeres do dia-a-dia, casa, comida, roupa e filhos.
LAZER Saio muito pouco. Se bem que a Associação já é um lazer. Por isso, prefiro passear sempre com a Associação quando tem a feira. Toda terça, quando tem feiras. Passeio bastante mesmo. Conheci muitos lugares através da Associação. Parei de ir aos bailes, porque meu marido não gosta de dançar. Quando casei, acabaram os bailes.
FAMÍLIA Tenho quatro filhos. Moro com meu marido e os outros três filhos. Meu filho Daniel é empregado de uma indústria. Os outros só estudam. A mais velha não estuda, e é empregada também. Ela já é independente e mora sozinha. É empregada de uma creche. Ela cuida de crianças, acho que do jardim dois. Mas ela começou a trabalhar agora, a partir de janeiro. Ela ficou um bom tempo desempregada, trabalhando só com artesanato. A outra menina está no segundo ano do segundo grau, e o menino começou a fazer o prézinho esse ano e tem seis anos.
PROJETO MEMÓRIA PETROBRAS Adorei participar. Estou me sentindo importante, e a nossa Associação também. Eu acho que essa Associação vai crescer muito e as palhas vão nos levar para muito longe Gostei muito mesmo e acho que todas gostariam de estar no meu lugar, mas vão ter outras oportunidades também de participar desse tipo de projeto, de entrevistas e falar da Associação, que eu falo com muito orgulho.Recolher