IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Marcondi de Oliveira Lima. Sou natural de Natal, Estado do Rio Grande do Norte. Nasci em 19 de setembro de 1962.
FAMÍLIA
Meus avós paternos se chamam Antônio Batista de Lima e Severina Batista. E meus avós maternos se chamam Moises Antônio de Oliveira e Joaquina Cândida de Oliveira. Ambos eram agricultores, no Estado do Rio Grande do Norte. Meu pai se chama Damião Batista de Lima, era comerciante, já falecido, e o nome da minha mãe é Terezinha de Oliveira Lima. Nossa família é uma família grande, tipicamente nordestina. Somos, ao todo, 19 irmãos. Meu pai se casou duas vezes, isso dá um livro interessante Meu pai era comerciante na cidade de Lagoa Salgada, no Estado do Rio Grande do Norte, e na primeira família teve oito filhos. A primeira esposa faleceu e ele casou com minha mãe. Só que, quando ele casou com minha mãe, ela tinha 14 anos e era de uma família também numerosa. Meu avô era um homem respeitado na região, era um fazendeiro, tinha casa de farinha, gado, muitos irmãos. Meu pai também era respeitado, por ser comerciante na cidade de Lagoa Salgada, recém-viúvo, ele queria alguém para casar. Em uma das visitas que fez ao sítio de minha mãe, na fazenda, ele se engraçou com ela e fez um trato com minha avó, porque queria se casar com minha mãe. Só que meu avô não era de acordo.
A tradição nordestina da época não admitia que uma filha se casasse com um viúvo. Então, meu pai fez um trato com minha avó, porque ele era amigo dela: em um belo dia de farinhada, uma noite enluarada, como meu pai diz, ele contratou uns “cabras” para irem roubar minha mãe. E foi lá com estes homens, ficou pastoreando, quando todo mundo saiu, minha avó já estava toda planejada. Uma coisa bem interessante que minha avó disse: “Vá e não faça vergonha.” Minha mãe não teve opinião, teve que ir mesmo. Ela sabia em parte, mas tinha que ir porque minha avó mandou....
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Meu nome é Marcondi de Oliveira Lima. Sou natural de Natal, Estado do Rio Grande do Norte. Nasci em 19 de setembro de 1962.
FAMÍLIA
Meus avós paternos se chamam Antônio Batista de Lima e Severina Batista. E meus avós maternos se chamam Moises Antônio de Oliveira e Joaquina Cândida de Oliveira. Ambos eram agricultores, no Estado do Rio Grande do Norte. Meu pai se chama Damião Batista de Lima, era comerciante, já falecido, e o nome da minha mãe é Terezinha de Oliveira Lima. Nossa família é uma família grande, tipicamente nordestina. Somos, ao todo, 19 irmãos. Meu pai se casou duas vezes, isso dá um livro interessante Meu pai era comerciante na cidade de Lagoa Salgada, no Estado do Rio Grande do Norte, e na primeira família teve oito filhos. A primeira esposa faleceu e ele casou com minha mãe. Só que, quando ele casou com minha mãe, ela tinha 14 anos e era de uma família também numerosa. Meu avô era um homem respeitado na região, era um fazendeiro, tinha casa de farinha, gado, muitos irmãos. Meu pai também era respeitado, por ser comerciante na cidade de Lagoa Salgada, recém-viúvo, ele queria alguém para casar. Em uma das visitas que fez ao sítio de minha mãe, na fazenda, ele se engraçou com ela e fez um trato com minha avó, porque queria se casar com minha mãe. Só que meu avô não era de acordo.
A tradição nordestina da época não admitia que uma filha se casasse com um viúvo. Então, meu pai fez um trato com minha avó, porque ele era amigo dela: em um belo dia de farinhada, uma noite enluarada, como meu pai diz, ele contratou uns “cabras” para irem roubar minha mãe. E foi lá com estes homens, ficou pastoreando, quando todo mundo saiu, minha avó já estava toda planejada. Uma coisa bem interessante que minha avó disse: “Vá e não faça vergonha.” Minha mãe não teve opinião, teve que ir mesmo. Ela sabia em parte, mas tinha que ir porque minha avó mandou. Naquela época, não tinha esse negócio de gostar. Era o que o pai decidia. O meu pai tinha os seus 30 e poucos anos e minha mãe tinha 14. Os homens que foram com meu pai até a fazenda, ficaram em frente a uma mata. Meu pai foi buscar minha mãe sozinho, pegou ela e foi embora para a cidade de Lagoa Salgada, que ficava a uns três quilômetros de distância. E os homens ficaram perdidos no meio da mata. Foi uma aventura bem interessante. Quando meu avô soube da história, no outro dia, meu pai já estava na Igreja casando com minha mãe. Aí, já era Depois, meu avô aceitou. Ele era um comerciante respeitado na cidade de Lagoa Salgada, daí surgiram mais 11 filhos. Então, são 19 filhos ao todo, que consideramos duas famílias, mas é uma só. Os oito primeiros são de uma mãe diferente, mas, na realidade, somos todos entrelaçados em uma família só. Minha mãe teve 11 filhos. Morávamos todos juntos. Foi uma luta muito grande porque, quando meu pai quando se casou com minha mãe, houve uma certa divergência por parte da primeira família. No segundo casamento, meu pai saiu do município de Lagoa Salgada, vendeu tudo e foi para Natal, onde começou outra vida, com muita dificuldade. Foi criando os filhos e hoje estão todos espalhados.
FARINHADA
Deixa eu explicar o que é farinhada. Existe a plantação da mandioca, que é o que faz a farinha. É tipo pé de macaxeira, que chamam aqui de aipim. Só que a macaxeira é um pouco diferente da mandioca, porque a mandioca serve apenas para fazer a farinha, a macaxeira não, é comestível. Então, a farinhada é o seguinte: reúnem-se todos para descascar e moer a mandioca. Enquanto uns moem, outros espremem e tiram a goma daquela massa espremida e já botam no forno para fazer farinha, isso é o que a gente chama de farinhada. No interior era uma festa. Hoje não existe mais esta tradição. Era um acontecimento. Reunia todo mundo, uma turma ia descascar mandioca, a outra turma ia prensar, outra ia colher a goma e outra ia trabalhar no forno. Com a goma se faz a tapioca. Isso acontecia de ano em ano, porque existia a plantação, que demorava um certo tempo para crescer e a raiz ficar no tempo certo para ser colhida e tratada. Logo me mudei para Lagoa Salgada, mas sou natalense, potiguar.
BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA
Tenho um certo orgulho da minha infância, porque tudo que um jovem desejava fazer, a gente fez sadiamente. Estudava, jogava bola, naquele tempo existia uma relação muito interessante de amizade e de respeito. É diferente de hoje. Nos tempos atuais, a gente se preocupa com nossos filhos, com as drogas, com a prostituição, com outras coisas. Naquele tempo, havia mais amizade, não tinha tanta maldade. Hoje não, hoje é um pouquinho diferente, a gente tem que ter um pouquinho de cuidado.
NATAL
Natal cresceu muito, tem muita gente de fora, é uma cidade litorânea, turística, mas não é ainda uma cidade muito violenta. Não deixa de ter violência, mas é uma cidade agradável, onde a gente sente segurança em sair para todo lugar. Mas a Natal de antigamente era uma Natal mais imatura, hoje ela já cresceu muito. Em Natal, tudo era longe A gente fazia as coisas sem maldade, jogava bola não tinha problema nenhum, ia para uma praia. Antigamente, em fazíamos piqueniques em Ponta Negra. A gente queria fazer um piquenique, a gente fazia. Juntávamos a turma e íamos fazer em Ponta Negra. Hoje, Ponta Negra é um bairro altamente evoluído, cresceu muito. Então, ficou tudo perto com os meios de transporte. Fazíamos caminhadas, descobrindo novas praias, hoje já está tudo descoberto. Por exemplo, Pirangi não é mais uma praia distante. Hoje o turismo tomou contas das praias. Pelo menos o litoral sul, onde está Ponta Negra, Pirangi, Tabatinga, aquele meio de mundo ali, já tem muita gente morando, já é praticamente um bairro de Natal, porque o pessoal sai de Natal, vai lá para dormir e volta. Não é mais aquela cidade que a gente ia passar férias, passar um final de semana. Hoje é somente mais uma praia.
FAMÍLIA / COSTUMES
Por sermos 11 irmãos, os mais velhos já estão todos casados. Existia um respeito muito grande hierarquicamente. Os mais novos sempre respeitaram os mais velhos, isso era uma coisa generalizada. Tenho um irmão mais velho, o Pedro, que já faleceu inclusive. Se estivesse jogando bola no meio da rua e o Pedro aparecesse, eu corria para casa. Então, existia um respeito muito grande, hoje a gente não vê isso, um respeito pelos mais velhos. Não sei se a nossa própria cultura está deixando de incentivar esta parte. Era uma coisa que, talvez, até pudesse causar um trauma, ver meu irmão mais velho e correr. É uma coisa interessante, eu pelo menos sinto saudades disso. Isso foi passado para a gente da segunda geração. Lá em casa, eram cinco homens e seis mulheres. Quando as meninas queriam namorar, a ordem de meu pai era a seguinte: “Quer namorar, namore em casa” Então quem era polícia? Eram os homens Se pegasse no meio da rua namorando, ou iam lá para casa os dois, ou a gente tinha ordem mesmo para puxar pela força. Era uma coisa interessante, fazia parte da cultura da gente, ainda faz. Hoje, incentivo minhas filhas a respeitarem os mais velhos e o que aprendi repasso para elas. Não que eu seja machista, mas vejo que havia mais controle da situação. Ninguém da família fumou ou fuma. Podia ter um amigo nosso, que entrava pelo caminho errado, caminho da marginalidade, por morar no mesmo bairro. Mas um conselho que nosso pai dava era: nunca faça coisa errada. Estudava numa escola que tinha um menino que entrou pelo caminho da marginalidade, assaltava, a polícia ia pegar ele lá dentro, juizado de menores. Mas quando a gente descobriu isso, automaticamente a gente o isolou, ele não deixou de ser nosso amigo, mas foi praticamente excluído por sua postura errada.
NATAL
O bairro que morávamos era um bairro simples. Bairro das Quintas. Na realidade, Natal começou pela Ribeira, chegou ao Alecrim, do Alecrim chegou nas Quintas e das Quintas saiu a maior parte do povo de Natal. Natal foi crescendo de acordo com os conjuntos que foram sendo implantados. Costumo dizer o seguinte, que as Quintas fundou os outros bairros de Natal, porque de lá saíram várias pessoas para morar no conjunto A, que depois virou bairro, no conjunto B, que depois virou bairro, era o maior bairro de Natal. Hoje, já tem outros.
FAMÍLIA
uem mais exercia autoridade dentro da minha casa era meu pai. Ele não era autoritário. Ele tinha uns conceitos, um conceito normal do que era certo e errado. Minha mãe, obviamente, respeitava, e o conselho que ela dava tanto para os homens, quanto para as mulheres era um só, de fazer as coisas certas respeitando o conceito que meu pai aprendeu e foi passando de um para outro.
RELIGIÃO
Tivemos uma educação religiosa. Meu pai gostava muito de política, mas nunca fomos de esquerda. Procurávamos ser de centro, não de esquerda. Procurávamos respeitar, se você fosse de esquerda, a gente respeitava, se você fosse de direita, a gente respeitava. Tínhamos e temos a nossa opinião, mas nunca foi de movimento de esquerda. A gente tinha uma linha, de não se envolver muito, mas com uma linha política. A família nordestina em si tem essa tradição, essa cultura religiosa, essa religiosidade. Para se ter uma idéia, na primeira família do meu pai, a maioria dos meus irmãos tem nome de santos: Antônio, Pedro, Francisco. Então isso faz parte de uma cultura nordestina, que absorveu muito a religiosidade. Isso foi passado de geração em geração e papai passou para a gente. Só que em parceria com minha mãe, os nomes já não foram mais de santo. Mas eles continuaram passando isso para a gente, de orar, que existia um Deus. Toda essa parte religiosa a gente absorveu.
PIQUENIQUES EM NATAL
Na realidade, fazer piquenique era uma tradição que o povo tinha, fazia parte da cultura do povo natalense mesmo, embora eu não fizesse. Quando falei sobre piquenique, foi porque, antigamente, Ponta Negra era uma referência para as famílias se juntarem e irem para lá, por ser um pouco distante, mas hoje já não é mais. A minha família não fazia isso, com exceção de alguns, meus irmãos mais velhos, mas eu mesmo não.
GERAÇÃO ANOS 80
Outro dia, estava vendo com minhas filhas uma reportagem que dizia que os anos 80 foram o máximo e realmente marcou muito. Tanto é que essa geração agora está copiando a geração de 80. Todas as músicas são reprises dos anos 80 ou dos anos 70. Culturalmente falando, a nossa geração, que curtiu os anos 80, foi um reflexo das gerações anteriores, ela deixou muito para essa geração futura. Uma coisa muito importante, que precisamos marcar e sempre lembrar, é que a nossa geração foi privilegiada nesse sentido.
ENSINO FUNDAMENTAL
Sempre estudei em escola pública. Tenho boas lembranças. Não sei se isso me influenciou positivamente, mas tenho certeza que aprendi muita coisa. Antigamente, quando terminava a quarta série, para passar para o primeiro ano, existia o exame de admissão. Na minha vez, foi o último ano de admissão. Achei ruim quando saiu o resultado, porque não meu nome não estava na primeira folha que saiu, mas tinha passado. Estudei bastante, era um vestibular.
ENSINO MÉDIO
Tenho boas lembranças dessa fase da minha vida, tenho saudade também, acho que vivi bem. Como dá para notar, minha mãe sempre deu liberdade de entrar e sair em casa a hora que quisesse, podia ir para rua, podia ir brincar, ir para a escola e voltar, não tinha esse negócio de limitação com a gente. Minha mãe sempre foi assim, a casa está aqui e vocês tem suas responsabilidades, então cumpram com elas Não tinha pressão nem opressão. Então, o tempo que eu tinha, era para estudar e jogar bola. Brincava com a turma também. Tínhamos uma turma boa. No nível de estudo, não existia essa cobrança que hoje tem, não existia tanta concorrência quanto tem hoje. Sempre fui um dos primeiros, se não era o primeiro, era o segundo ou o terceiro da classe, foi uma coisa interessante, acho que valeu. Comecei na escola do bairro, pública, depois passei para uma escola maior, em que todo mundo queria estudar. Era a Escola Estadual Winston Churchill, muito respeitada nesse tempo, tinha nível. Ficava no centro da cidade. Quando fazíamos exame de admissão, existiam três escolas em Natal em que todo mundo queria estudar: a Winston Churchill, o Ateneu e o Padre Miguelino. Todos queriam ir para uma dessas três, mas a opção de preferência era a Churchill. Inclusive, temos um bom número de alunos na Casa Talento que estudam no Padre Miguelino, porque fica próximo. Foi um período muito bom, não existia tanta greve. Hoje em dia, as escolas nem começam o ano letivo e já estão em greve, antigamente não exista isso. Estudei de 1974 a 1982 nessa escola, fiz o Ensino médio e o Ensino fundamental. Quando me formei, tinha 17 para 18 anos.
JUVENTUDE
Foi um momento importante, essa escola tem uma referência muito importante e gostosa para mim. Basicamente porque foi nessa escola que conheci minha esposa, Márcia Pires, tudo começou aí. Eu tinha 17 anos. Ela não era colega de turma, mas, um dia, como esse que está chovendo, ela estava sentada na cadeira e eu cheguei por trás. Foi muito interessante, porque eu pensava que ela estava com um colega meu e disse: “Ela não é para mim” Enfim, deu certo e hoje a gente tem três filhas, Stephany, Emille e Nichole, todas três envolvidas com a música, com a Casa Talento Petrobras. Hoje a gente vive e respira um sonho que começou com a Márcia também. A história foi assim: cheguei por trás dela, ela estava sentada olhando o tempo passar e eu cheguei com um colega, olhei e achei ela muito bonita, ainda não tinha a visto. Aí eu disse: “Não é para mim, é para você, vai lá e conversa com ela.” Meu colega foi, falou, falou, e ela continuou sentada, eu pensei: “Rapaz, esse cara é fraco, vou conversar com ela.” Comecei a conversar e ela disse que o que chamou a atenção dela foi o seguinte: ela não gostava de música nordestina, estudava música clássica, violino, e eu comecei a falar de Elba Ramalho. Meu negócio era Elba Ramalho, Zé Ramalho, Fagner, Geraldo Azevedo, essa turma. Com o passar do tempo, percebi que ela não estava gostando e mudei a conversa. A gente foi se conhecendo, até que um belo dia a gente decidiu não falar mais em música nordestina, mas falar de outras coisas. Resumindo, percebemos que eu gostava tanto dela quanto ela gostava de mim, foi um encontro que o destino preparou para a gente. Meu amigo ficou de escanteio Não teve chances. Começamos a namorar. Ela disse que eu me interessei porque ela estudava e achei muito bonito quando disse que era violinista da orquestra, achei muito interessante. Ela tinha 15 para 16 anos. Então, ela era violinista, tocava na Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, tanto é que um colega disse: “Rapaz, você conhece alguém da orquestra?” Eu disse: “Conheço, é uma menina que estou namorando, ela é spalla da orquestra.” Só que eu nem sabia o que era spalla, disse que ela era sem saber. Ela fazia parte do primeiro naipe, mas não era spalla. Então, coloquei logo lá em cima. Quando contei, ela respondeu: “Não, pelo amor de Deus” Daí começou a nossa história.
PRIMEIRO EMPREGO
Entrei para a Marinha, vim para o Rio de Janeiro, onde morei dois anos. Quando eu ia de férias para lá, era um sofrimento para voltar, porque eu vinha chorando na estrada o tempo todinho de saudades. A Marinha foi o primeiro concurso que fiz e passei. Quando cheguei no Rio de Janeiro, a saudade bateu, uma cidade grande como o Rio de Janeiro, que saudades de Márcia, saudades dos meus pais, dos meus irmãos, dos meus amigos, da minha cidade. Eu disse: “Não vou ficar no Rio de Janeiro” Pedi desistência do curso. Já estava na Marinha, vim para cursar, para ser Sargento, mas desisti quando cheguei aqui. Eu tinha idéia de fazer carreira na Marinha. Quando estava no segundo ano, terminando o segundo grau, existia uma cobrança de emprego. Houve a possibilidade de um concurso para Fuzileiro Naval, que fiz juntamente com alguns colegas que estão até hoje na Marinha. Inclusive, um desses colegas, que mora no Rio de Janeiro, não queria ir para a Marinha, queria até desistir. Quando ele fez o concurso e passou, disse: “Não vou querer” Incentivei ele a ficar na Marinha: “É bom, tem carreira.” Eu desisti e ele continuou. E a vida é assim, acho interessante, porque hoje tenho uma vida diferente, foi um tempo importante para mim, o tempo que passei na Marinha, faz parte da minha história
JUVENTUDE / NAMORO
Vim para o Rio e a Márcia ficou em Natal. A gente se comunicava muito por carta, eram cartas todos os dias. Hoje, temos um monte de cartas guardadas, tanto minhas como dela. Todo dia chegava carta dela para mim e uma para ela lá. Fiquei dois anos no Rio de Janeiro. Quando estava pertinho de sair, ela veio para São Paulo, para Cubatão, no tempo em que teve um incêndio em Cubatão. Saí do Rio de Janeiro, pedi ao meu Comandante, comprei uma aliança e fui para São Paulo, noivar com ela em Cubatão. Ela foi visitar uma irmã que morava lá. Cubatão, naquele tempo, tinha uma referência de cidade poluída, mas, naquela semana que passamos juntos, não existia poluição. Acho que as indústrias estavam todas paradas. Até hoje me lembro do nome do Parque Anilinas, um parque muito bonito, a gente namorava todo dia de manhã, toda tarde, só à noite que não, porque tinha que voltar para casa. Mas foi uma história muito bonita. Quando voltei para o Rio de Janeiro, ela ficou com tanta saudade de mim que pediu para a mãe, no outro dia, para ir embora para Natal. Só que eu não sabia que ela tinha ido embora para Natal, já estava programando com meu Comandante para voltar lá e buscar ela. Quando eu soube, ela já estava em Natal, então eu disse que queria ir embora. Comecei a aperrear meu Comandante, por isso, saí antes do tempo e voltei para Natal. Saí da Marinha em agosto de 1984, fui desligado. Quando cheguei lá, em pouco tempo, já estávamos noivos.
CASAMENTO
Quando casamos, não tínhamos nada. Estava desempregado, ela trabalhava na orquestra. Todo jovem é irresponsável, não quis saber, a única coisa que levei, assim que casamos, foi uma rede que minha mãe me deu. Mas, graças a Deus, tenho muita coisa Naquele tempo, foi a cara e a coragem. Quando casamos, eu tinha 21 anos e ela 19 anos. Pouco tempo depois, minha mãe me deu uma casa, só que não tinha nada na casa.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
A gente começou a batalhar, fui trabalhar com meu irmão em um escritório de contabilidade. Depois, foram surgindo as oportunidades, ela foi concursada na Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte e as coisas melhoraram. Eu saí do escritório de contabilidade e fui para impressão geral, daí já melhorou o salário. Eu trabalhava no escritório da empresa São Geraldo, fazia admissão e demissão de pessoal. Depois, surgiu a oportunidade de ir trabalhar no Banco Real. E assim a gente foi crescendo, compramos nossa casa, nasceu a segunda menina.
CASAMENTO
A primeira filha é a Stephany, a mais velha, hoje ela tem 19 anos, nasceu pouco tempo depois que nos casamos. A Márcia engravidou logo. Então, eu tinha uma responsabilidade grande. Era aquela paixão apimentada mesmo. Eu tinha que assumir e assumi. Nem pedi permissão aos pais dela, peguei e disse: “É hoje, vamos morar na casa que minha mãe tem, o casamento já está marcado para o dia sete de março.” Passamos uma semana longe, eu fiz como meu pai fez com minha mãe. Peguei ela antes de nos casarmos. A mãe e o pai não sabiam onde ela estava, passamos uma semana sem dar notícias para ninguém. Quando foi o dia de casar, convidei o pai e a mãe para irem ao cartório, a gente foi e ele aceitou. Hoje, meu sogro é um amigão. Dei logo uma neta para ele também né? E estamos aí com três netos.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Comecei no Banco Real, onde passei quatro anos. Cheguei a cursar a faculdade de História.
PROJETO ESPIRAL
A Márcia saiu de um projeto social no bairro dela. Falei um pouco de mim, agora vou falar um pouco sobre a Márcia. Ela também morava em um bairro pobre em Natal, um bairro de classe baixa. O governo do Estado fez um projeto muito bonito em Natal, que foi o Projeto Espiral. Foi o governo do Estado e a Universidade que trouxeram muitos professores de fora, professores bons, trouxeram da Argentina. Era um projeto que funcionava assim: eles davam o instrumento para o aluno, davam estudo, aula teórica e prática. A Márcia saiu deste projeto, teve a oportunidade de aprender neste projeto. E aprendeu, ganhou uma profissão, tanto é que a maioria, a base da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, é de alunos que saíram deste Projeto Espiral.
MÉTODO SUZUKI
Márcia tinha um grande sonho de repassar o que ela aprendeu de graça para outras pessoas que não tinham oportunidade de aprender. Pelo método tradicional de ensinar música, levaria muito tempo, mas, entre 1986 e 1987, ela foi participar de um festival de música em Curitiba e conheceu o método Suzuki. Era um ensino prático e auditivo da música, um método rápido de ensino. Ela ligou para mim e disse: “Marcondi, conheci um método que vou poder fazer aquilo que sempre tive vontade, de repassar isso para outras pessoas e em um curto período de tempo” Porque, em tudo que a gente faz na vida, o maior problema é o tempo. Tempo para trabalhar, tempo para descansar, tempo para tudo. Então, você tem que ter tempo e ganhar tempo com isso. O método Suzuki era a resposta que ela estava procurando. Estava se questionando sobre um método para ensinar. Ela tinha essa sede de ensinar. Eu disse para ela: “Beleza” Naquele tempo, existia um negócio de Marketing de Rede em Natal. Disse para ela assim, me lembro como se fosse hoje: “Não sendo Tele Marketing, pode trazer” Ela passou três meses em Curitiba aprendendo a filosofia do método Suzuki. Natal parecia uma cidade pequena, evoluída em termos, em comparação com outras cidades. Mas, musicalmente, se você quisesse comprar um violino, ia para as lojas de venda de instrumentos e não existia, tinha que ser encomendado. Mandavam buscar no Rio de Janeiro e em outras cidades, como São Paulo, por exemplo. Quando Márcia chegou com este método, em Natal, revolucionou tanto a parte musical, quanto a parte do comércio. Porque ela não ensinava uma criança só, ensinava 25 de uma vez, e isso foi crescendo. Ela passava um dia ensinando no Instituto de Música Waldemar de Almeida, que foi onde ela começou a dar aulas. Eram 25 alunos por aula, o que é muito. Tanto que, com esses alunos, ela formou um grupo chamado Suzuki, que se apresentava em eventos. Formado apenas por crianças de quatro a nove anos. Essas crianças começaram a querer comprar violino e isso foi movimentando o comércio, foi uma mudança radical no comércio de Natal. O pessoal começou a observar que realmente se vendia violino e viola em Natal. Existia uma demanda. No Instituto Waldemar de Almeida, eram crianças de classe média. Ela já havia aprendido a filosofia e surgiu esse emprego no Waldemar de Almeida, então o público era justamente esse de classe média.
AULAS DE MÚSICA PARA CRIANÇAS CARENTES EM NATAL
Existia uma lei, a Profinc, de incentivo à cultura do município. Foi justamente por essa lei que nós entramos com o projeto para abrir espaço a jovens de famílias de baixa renda. Porque, no Waldemar, quando chegava uma criança que não tinha condições de comprar um instrumento, ela não passava, como na Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte também, até hoje é assim. Se a criança não tem condição de comprar um instrumento, essa criança não vai fazer parte das selecionadas para estudar instrumento. Isso entristecia a Márcia. Através do Método Suzuki e da lei de incentivo à cultura, ela achou um meio de viabilizar a compra dos instrumentos, de pagar os professores, de pagar a manutenção desses instrumentos, de comprar corda e outras coisas mais, além de poder oferecer a esses alunos um meio para estudar música. Através desse projeto, Márcia formou mais de 50 alunos. Hoje, a maioria deles terminou o bacharelado, outros estão na Casa Talento sendo professores.
CASA TALENTO – DIFICULDADES INICIAIS
Esse projeto foi crescendo, minhas meninas, a família toda envolvida. Inicialmente, quem patrocinou foi uma empresa de Natal, mas, com a mudança de governo, acabou a verba e acabou a lei também. Acabaram com a lei de incentivo à cultura no município, então o que eu ia fazer com esses alunos? Nesse momento, já tinha saído do Banco Real e tinha um comércio na minha casa – montei um comércio para mim. Um armarinho, uma loja de presentes. Fiz cinco salas na minha casa, salas pequenas de estudo. Quando acabou a verba do patrocínio, eu disse: “Não podemos parar esse projeto.” Não existia patrocinador, mas existia vontade, então nós pegamos esses alunos, promovemos os mais adiantados a monitores e passamos a cobrar uma taxa de um real. Esse dinheiro serviria para pagar ao professor, ao monitor, era uma taxa mensal. Se uma classe tivesse 15 alunos, ela teria 15 reais líquidos. Eu e a Márcia não tirávamos nada, não descontávamos nada, a gente só queria que desse continuidade ao projeto e eles tivessem incentivo para ensinar e crescer. Isso acontecia na minha casa todo sábado. Chegou um ponto que eu não agüentava mais os sábados, de tanto menino. Era menino pedindo para ir beber água, para ir ao banheiro, era um corre-corre, um pula-pula de criança, eu disse: “Não, aqui em casa não tem mais condições.” Foi multiplicando, eram umas 80 crianças por nossa conta, o dia todo. Continuava com o armarinho, que era separado das salas, eu fiz atrás. Tudo funcionava na mesma casa. Trabalhava no armarinho, e, ao mesmo tempo, ficava olhando, coordenado tudo. Existia um parque em Natal chamado Cidade da Criança. Falamos com o Presidente da Fundação José Augusto, que é um órgão do governo, e ele cedeu esse espaço para nós. Eles conheciam o trabalho da Márcia, porque ela era professora do Instituto. Então, com esse novo espaço, de 80 crianças passaram para 200 crianças. E funcionava todo sábado, na Cidade da Criança. Por um lado, foi positivo para a Fundação, porque o pessoal não freqüentava mais a Cidade da Criança. Aos sábados, era uma meninada correndo, porque lá tem espaço para correr, é até melhor para eles. Foi quando surgiu a Lei Câmara Cascudo, então nós demos entrada num projeto para aumentar o número de vagas, porque a procura estava crescente.
LEI CÂMARA CASCUDO
A Lei Câmara Cascudo era estadual, de incentivo à cultura. Essa lei deu ânimo para a gente ampliar o número de vagas, comprar mais instrumentos. De 200 alunos passamos para 700 alunos. Conseguimos um patrocinador, que patrocinou por seis meses nosso projeto, justamente quando foi lançada a Lei Câmara Cascudo, em junho. E tinha uma idéia que, no final do ano, todos os projetos tinham que prestar contas, encerravam e pronto. Então, fizemos só um projeto por seis meses. Só que, depois desses seis meses, nós que fazíamos o projeto, desenvolvíamos o projeto, não podíamos parar, tínhamos 700 alunos, professores, casa alugada. A gente tinha que conseguir uma casa muito boa, no centro de Natal. Então, ficamos sem patrocínio, praticamente, um ano e quatro meses, mas não paramos. Diminuímos o número de alunos e de professores. Já tínhamos a orquestra, o antigo Grupo Suzuki, que foi transformada em Orquestra Talento. Quando surgiu a Lei Câmara Cascudo, o projeto se chamava Casa Talento. Essa lei aconteceu em 1999. O projeto já era um sucesso, só que o nosso patrocinador só patrocinou pelos seis meses e parou. Não acreditou muito no projeto. Mas o projeto continuou, ganhamos um prêmio, o prêmio Hangar, como projeto de referência na parte musical. O Hangar é um prêmio que existe em Natal, que premia tanto os músicos do Estado, como de fora, em nível de Nordeste e de Brasil também. Então, ele tem muitas classes e nós ganhamos o prêmio como música voluntária, no ano de 2001.
CASA TALENTO
Em 2001, fomos procurados pela Revista Veja, que estava querendo fazer uma matéria para a edição especial de final de ano, justamente sobre voluntariado. Existiam oito projetos que eles tinham achado interessantes no Nordeste, e um deles era a Casa Talento. Então, eu disse tudo bem à repórter de Recife, que era da Revista Veja. Fez várias pesquisas, entrevistas, mandou fotógrafo para lá, mas, desses oito, somente iam ser classificados quatro para irem para a editora-chefe em São Paulo, para ela escolher dois. Essa era nossa chance, foi um pouco apertada. Nesse momento, ainda estávamos sem patrocínio. Nós fizemos a matéria, tiramos fotografias. Quando saiu a Revista Veja, em Dezembro de 2001, acho que foi por volta do dia 20, tinha uma foto bem grande, de duas páginas, da Orquestra Talento no Forte dos Reis Magos. E aí falaram da seriedade do projeto, que era um projeto desenvolvido por entidade séria, dando referências, saiu até uma frase de Márcia, que ela disse que tudo partiu de um sonho dela e o sonho podia transformar a situação.
CASA TALENTO PETROBRAS
Em dezembro de 2001, nesse mesmo mês, soubemos que estávamos ganhando o prêmio Hangar. Em meados de 2002, o Gerente de Comunicações da Petrobras, Augusto Franklin, uma pessoa fantástica, juntamente com o então Gerente-Geral, Doutor Horácio, vendo a matéria da Veja, chamou a gente e disse: “Marcondi, tenho uma grande notícia para vocês. A Petrobras vai patrocinar a Casa Talento.” E, a partir daquele patrocínio, por indicação do Augusto Franklin e do Doutor Horácio, a Casa Talento passou a se chamar Casa Talento Petrobras. A Orquestra também passou a se chamar Orquestra Talento Petrobras. Já tínhamos nossa orquestra, mas, na realidade, a nossa filosofia, a nossa maior missão era e até hoje permanece sendo a de ensinar música como profissão para jovens e incluí-los no mercado de trabalho, como geração de renda para eles. Com isso, a gente tinha não só a Orquestra, mas grupos, quartetos, que se apresentavam em eventos, casamentos, aniversários, lançamentos de livros. Em qualquer evento, eles estão lá. Desde o início, isso funcionou, a orquestra, os quartetos. Quando começou o patrocínio da Petrobras, surgiu a possibilidade de pagarmos tudo que estava atrasado durante o período que ficamos sem patrocínio. Passamos um ano e alguns meses com dificuldade de pagar professor, de pagar aluguel, estávamos com aluguel atrasado e, no ano do patrocínio, botamos tudo em dia. No segundo patrocínio, já veio verba da manutenção e a compra da casa. Hoje, a casa é própria, a sede é própria, com a qual complementamos o projeto.
OFICINA DE LUTHERIA
A gente tinha uma deficiência muito grande. Porque muitos alunos, muitos alunos mesmo, quebravam os instrumentos e não tinha onde consertar. Era preferível comprar outro, porque o conserto ficava muito caro. Tinha que mandar para o Rio de Janeiro, São Paulo ou outro lugar, não tinha um profissional que consertasse esses instrumentos. Então, qual foi nossa idéia, no nível de pesquisa nacional? Os grandes centros são privilegiados de luthiers que vêm de fora, mas no Nordeste ficava meio precário o negócio. Então, era uma oportunidade. E a gente tem que estar sempre com essa visão de ir onde existe a possibilidade de acontecer as coisas, de formar os profissionais que fabricam, que constróem o instrumento de corda, que restauram e que consertam. Então, esse profissional de nível é raro no Brasil. Isso foi outro projeto patrocinado pela Petrobras, que deu certo em Natal. Na aprovação desse projeto, recebemos menção de destaque pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura. A menina que formatou o projeto para a gente disse: “Marcondi, nunca vi um parecer desse” E dá um orgulho de ter feito esse projeto, porque, no parecer da comissão de incentivo a cultura, eles botaram: “Projeto aprovado em destaque, pela comissão nacional de incentivo à cultura, e reconhecido como de grande importância para a cultura brasileira.” Isso nos incentivou muito a realizar esse projeto. Aquilo ali para a gente era um patrocínio, já era uma energia para a oficina de lutheria. Culturalmente, o Brasil não tem tradição de oficina de lutheria. Essa cultura da oficina de lutheria, do artesão construtor do instrumento, é européia. Quando a gente começou a implantar o projeto, sentimos uma dificuldade muito grande. Em primeiro lugar, onde íamos buscar a madeira utilizada, qual era a madeira que utilizaríamos? Sabíamos que o acero e o abeto eram as madeiras indicadas para construir os instrumentos, só que essas madeiras são européias. Na minha visão, comprar uma coisa na Alemanha ou na Itália era simples, até aquele momento. Quando fui executar, vi que era bem complicado. Fiz o pedido na Gewa, na Alemanha, fui no Banco do Brasil, soube o valor todinho lá, transformei de EURO para Real. Voltei ao Banco do Brasil, no setor de Dólar, e informei que queria mandar tantos dólares para a Alemanha. Já tinha o número da conta, estava tudo certinho, o funcionário do Banco do Brasil olhou para mim e disse: “Rapaz, você está no lugar errado, porque não é tão simples assim.” Você tem que ir num aduaneiro, ele vai fazer um processo, que tem que ser aprovado pela Receita Federal. Um processo de importação é algo sério. Por exemplo, a crina que é usada no arco, para tocar, é feita de rabo de cavalo. Então, tem que ter uma licença do Ministério, para saber sobre o processo, tem que ir até Brasília para aprovar. Só não fiquei triste porque me lembrei daquele parecer do Ministério da Cultura. Eu disse: “Esse projeto não pode ficar assim e isso não vai ser um empecilho para esse projeto ser executado.” Então, se a madeira não pode ser importada, vai ser brasileira. Fizemos uma pesquisa também, existe um instituto, o Instituto de Pesquisa Tecnológica de São Paulo, descobrimos que eles fizeram um estudo de todas as madeiras brasileiras que serviriam para ser utilizadas e serem substitutas de madeiras européias. Escrevi para o IPT, para eles mandarem esse manual de estudo técnico. E as madeiras que tinham no Nordeste e que a gente podia usar eram o mogno, jatobá, madeiras brasileiras, fomos atrás e conseguimos. Ferramentas era outra coisa complicadíssima. Na realidade, o que eu queria era que meus alunos aprendessem a técnica de construir. Então, para a técnica de construir, tanto faz usar uma madeira brasileira ou numa madeira européia, pois ele faz do mesmo jeito. O primeiro mestre foi um luthier que nós contratamos, que morava em João Pessoa. Agora, por exemplo, estamos com parceria com Tatuí, em São Paulo, que é um grande centro, com o maestro Luis Gilberto. As ferramentas, o medidor de espessura, não sabia nem o que era isso. Medidor de espessura não existia no Brasil, então, pesquisando horas na Internet, descobri o seguinte: quem trabalha com medidor de espessura é o pessoal que trabalha com couro, que pega o couro e mede para saber a espessura, se é bom ou se é ruim. Aí, tinha um curtume em Natal, o Curtume J. Mota, liguei para lá e eles disseram que realmente não era espessura, era medidor de não sei o quê. Disseram que lá tem outro nome e indicaram onde compravam o equipamento, no Rio Grande do Sul. Achei em uma empresa lá no Rio Grande do Sul e eles mandaram a fotografia por Internet e, pronto, era aquilo, era o mesmo equipamento comprado na Alemanha. O envergador de faixa, na parte do contorno dos instrumentos, era para trazer da Europa, só que ele pesa três quilos e alguma coisa, é pesado, nisso vai imposto, 60% de imposto e outras coisas mais, então ficaria inviável para a gente. Descobri em São Paulo um rapaz que fabrica esse instrumento, fui descobrindo, as goivinhas [pequenas goivas], as plainas. Era para ter começado em fevereiro. Em questão de um mês, tivemos que descobrir tudo isso, viabilizar madeira, ferramenta. A gente foi adaptando e hoje os meninos estão lá.
OFICINA DE LUTHERIA
Atualmente, temos 24 alunos aprendendo a técnica de construir instrumentos, de restaurar. Eles iam aprender a construir só instrumentos, mas, hoje, além dos instrumentos, eles fazem também a parte de acessórios. Para eles está sendo muito vantajoso. O violino tem as cravelhas, o botão que segura as cordas, tem a queixeira, tudo isso eles fazem lá. A média de idade dos alunos varia em torno de 14 a 19 anos. Eles trabalham com umas ferramentas que merecem certo cuidado. A oficina de lutheria funciona desde 2003. Todos já conhecem a oficina de lutheria, presenteamos o Presidente Lula com um instrumento nosso, presenteamos o Ministro Gilberto Gil, que, inclusive, encomendou outro violino para o filho dele, o Pedro. Já presenteamos o Presidente da Petrobras, aqui na sede, no dia cinco de novembro, dia da Cultura, quando a Orquestra Talento da Petrobras tocou também. Sentimos que temos um projeto que se completa por si só, a gente ensina a parte musical, forma músico e forma também o profissional que vai consertar o instrumento do músico. Esse ano, eles estão aprendendo a técnica de construir violoncelo. No próximo ano, será contrabaixo acústico. Então, se completa o quarteto.
CASA TALENTO PETROBRAS: ALUNOS e CURSOS
Hoje, nós temos mais de 700 alunos aprendendo música na Casa Talento Petrobras. Os cursos que a Casa Talento Petrobras oferece para os alunos são os seguintes: curso de violino, de viola, de violoncelo, de contrabaixo acústico e contrabaixo elétrico. O aluno que aprende contrabaixo elétrico, também aprende contrabaixo acústico. Se ele for fazer um concurso para orquestra, em qualquer orquestra tocam os dois. Então, ele poderá tocar contrabaixo acústico numa orquestra ou contrabaixo elétrico em banda, em grupos. Também temos cursos de guitarra, violão, bateria, teclado, flauta doce, canto, canto coral. Outro curso que introduzimos esse ano, que a gente sente carência no mercado, é o curso de harmonia, ou seja, além de tocar, o aluno pode fazer um arranjo, pode formar um grupo e ele mesmo pode fazer um arranjo das músicas para ele apresentar em qualquer lugar. Ele não vai depender de ninguém para fazer um arranjo, para formar o repertório, para tocar as músicas que ele gosta, por exemplo, do rock, do pop rock ou qualquer outro tipo. Está surgindo, agora, na Casa Talento Petrobras, um grupo de brega, mas é um brega chique. Eles estão procurando um nome. Tocam Amado Batista, mas um Amado Batista classicamente tocado, com instrumentos em grupo, que dá prazer em ouvir. Eles tocam “Garçom”, por exemplo, mas não é o “Garçom” do Amado Batista, é com um arranjo bem brega. O aluno que chega lá para aprender violino, na sala de aula ele vai ter um repertório clássico. Mas, quando chegam a um determinado nível, eles já vão para a parte de prática de orquestra. Qual é a intenção disso? Preparar para o mercado certo. Um aluno que sai da Casa Talento, que terminou o curso na Casa Talento Petrobras, tem condição de tocar em uma orquestra em qualquer lugar. Se botar uma partitura na frente, ele vai ter a prática de ler aquela partitura.
CASA TALENTO: CONCURSO INTERNO E VAGAS
De seis em seis meses, realizamos na Casa Talento Petrobras uma coisa muito interessante. É tipo um concurso, que a gente chama de mudança de nível. O aluno enfrenta uma banca de seis em seis meses, é uma adrenalina alta na sala. Todos os alunos, mesmo aquele que entrou agora, sabem que, a cada seis meses, têm que enfrentar uma banca. A média de duração do curso é de três anos. Mas, de seis em seis meses, a gente dá uma injeção. Dessa forma, a gente vê se o aluno está estudando, qual o nível dele, se ele mudou de nível ou não, se ele quer alguma coisa mesmo com a música. Agora, em fevereiro, realizamos um concurso para selecionar novos alunos. Nós tínhamos 180 vagas, foram mais de 1500 pessoas, teve gente que dormiu de um dia para outro lá, chegaram às nove horas da noite para conseguir uma vaga. Então, a procura hoje está muito grande na Casa Talento Petrobras. Foram 180 vagas, divididas para todos os cursos. A divisão das vagas depende de alguns fatores, como a renovação de matrícula. O aluno renova a matrícula de seis em seis meses, no meio do ano ele leva o boletim para sabermos se realmente está bom na escola e não vai ser reprovado, no final do ano ele leva de novo para saber se foi aprovado. Ele só continua na Casa Talento se for aprovado na escola, ele tem que dar essa contrapartida para ele mesmo, não é para a gente, nós só fazemos a cobrança. Você está estudando música aqui, mas você tem a outra parte na escola, porque você tem que estudar e passar, não adianta você ser um músico e não ter estudo. Anualmente, abrem-se vagas. Porque tem aluno que repete o ano, aí abre vaga para outro, eles nem renovam a matrícula, sabem que a gente tem esse controle, nem vão renovar. Se houver três faltas consecutivas, que não forem justificadas, ele perde a vaga, esse é o nosso controle. Na parte musical, quando ele chega a um determinado nível, ele já é aproveitado como monitor e vai ganhar para isso. Ele tem incentivo, porque vai entrar na Orquestra, que viaja e se apresenta muito num bom número de municípios no Estado.
CASA TALENTO : APRESENTAÇÕES
Nos 50 anos da Petrobras, nos apresentamos no salão Negro do Congresso Nacional. No Rio de Janeiro, dia cinco de novembro, dia da Cultura, a Orquestra de Talento Petrobras estava lá. Recentemente, tivemos uma apresentação muito boa no Fórum Social Mundial, no Gigantinho, no dia que o presidente Lula esteve lá. Também foi muito boa a repercussão, recebemos muitos convites para outros países, inclusive. Recebemos o convite para ir à Itália participar de um movimento pela paz. Também recebemos um convite do Japão. Hoje mesmo, o Vice-Prefeito de Pernambuco, quando viu os artistas com os instrumentos e olhou a marca Casa Talento, ele disse: “Rapaz, você é da Casa Talento, eu estava no Fórum Social Mundial e vocês foram fantásticos” Isso no avião, de Natal para Recife. Ele disse que todos que estavam lá gostaram muito. Isso massageia o ego deles e o nosso também, que fazemos esse projeto. Recebemos muitos elogios no Fórum Social Mundial, foi muito bom mesmo.
ORQUESTRA DE TALENTO PETROBRAS
Existe um repertório. Como a orquestra é formada por jovens, quando o pessoal vê uma orquestra de violino, todo mundo pensa só nos clássicos, Chopin, Beethoven, e quando a orquestra começa a tocar Guns N’ Roses, Pink Floyd, RPM, Paralamas do Sucesso, a coisa muda de figura. Um bocado de violinos, violas, violoncelos, contrabaixos acústico, elétrico, guitarras, baterias, aquela orquestra toda tocando Guns N’ Roses. Lá no Gigantinho, a gente começou tocando um rock nacional e foi fantástico, foi muito bom. Então, o repertório é esse. Nós dizemos que o repertório da orquestra vai de Pink Floyd a Luiz Gonzaga, agradando a todos. A gente não entra no clássico, o clássico fica para o aluno na sala, é mais pop. Aquela música “I will Survive”, da Gloria Gaynor, quando começa a tocar, é uma coisa fantástica, é muito bom. A Orquestra está lançando um cd esse ano. Sou suspeito para falar, mas aonde a gente chega, a gente agrada o público. Sou o atual Diretor da Casa Talento. Me dedico 24 horas por dia. Quando surgiu a Casa Talento, no ano de 1999, recorremos à Lei Câmara Cascudo. A Márcia estava crescendo muito e precisava de alguém para auxiliá-la. Eu trabalhava com informática e, então, disse às escolas com quem tinha contrato de manutenção, em Natal: “Vou preferir ficar com Márcia.” Todos os contratos de manutenção que eu tinha passei para um colega e, desde então, passei a me dedicar ao projeto. Criamos a Associação Cultural Talento Suzuki e, através dessa Associação, veio o projeto. Porque o primeiro projeto que apresentamos à lei Câmara Cascudo foi em nome de Márcia, mas, no segundo, a própria comissão disse que não poderia ser uma pessoa física, tinha que ser pessoa jurídica, então nós criamos a Associação. Essa Associação foi reconhecida como de utilidade pública pela Câmara Municipal de Natal. Eles reconhecem que é um serviço que a gente presta para esses jovens, é uma coisa que o próprio governo não faz. São jovens que estão dando prazer para a sociedade.
CASA TALENTO PETROBRAS
O processo de seleção dos alunos da Casa Talento Petrobras é feito da seguinte forma. Hoje a procura está maior que a oferta, então nesse último teste de seleção de novos alunos nós mudamos o modo de selecionar. Porque, antes, se formava uma fila, nós distribuíamos apenas 20 fichas por instrumentos, por serem poucas vagas. Distribuíamos 20 fichas de viola, de violino, de violoncelo, só que tinha gente, no final da fila, que queria violino e a ficha não chegava até ele. Poderia demorar uma semana para entrevistar todo mundo que estivesse na fila. Esse ano fiz o seguinte: preparei um questionário de tudo, situação da família, de todos os níveis de escolaridade, o que o pai fazia, a mãe fazia, se morava com pai, com a mãe, se era separado, se trabalhava, se tinha DVD em casa, se tinha televisão, geladeira, alguma coisa para vermos a situação deles. Fiz isso porque existiam 50 querendo fazer guitarra, por exemplo. Todos os 50 iam ser entrevistados e, naquela peneira, a gente iria pegar quem realmente precisava.
CASA DO TALENTO: LOCALIZAÇÂO
Qual foi a área que nós vimos que tinha a maior chance de atender, o maior número de pessoas carentes, pessoas que precisavam muito? Seria interessante, para mim, implantar num bairro A, que era pobre, e esquecer o bairro B, que também era pobre. Se eu implantasse nesse bairro A, estaria sendo injusto com o bairro B, então, o que foi que fiz. Nosso resultado do pensamento chegou ao seguinte: procurar um bairro central, que atendesse a todos. Esse bairro central foi o Alecrim. Por que Alecrim? Porque metade da população de Natal vai nesse bairro, tem transporte para todos os bairros, o acesso é fácil, isso foi um ponto positivo. Não podia escolher um outro bairro, porque eu mesmo iria ficar limitado somente àquela população. Esse foi um método que utilizamos para colocar a Casa Talento Petrobras num bairro que atendesse a toda população. Como a Casa Talentos Petrobras é um projeto único lá em Natal, único por quê? Porque hoje, graças a Deus, somos referência no ensino da música, do jeito que ensinamos, temos a referência que é a professora Márcia Pires, pioneira no método Suzuki, em Natal.
ORQUETRA TALENTO PETROBRAS – COORDENAÇÂO
A Márcia é Presidente e Coordenadora artística da Orquestra de Talento da Petrobras, ela é quem coordena todos os grupos, ela é quem administra a parte musical, toda a parte de organização, de arranjo. Ela é quem escolhe o repertório de todos os grupos formados. Nós temos vários grupos. Temos grupos de bandas evangélicas, temos grupos de pagode, bandas de Axé.
CARNAVAL: BLOCO DE TALENTO
Agora, no carnaval, tivemos uma banda formada na Casa Talento. Inclusive, minha filha Stephany foi a cantora desse bloco formado pelos alunos. A maioria dos alunos da Casa Talento foi brincar o carnaval em Pirangi, a gente formou um bloco todo organizado, com abadá, com trivela. A banda foi destaque no carnaval, todo mundo parava para ver o Bloco de Talento passar, foi uma referência nos quatro dias. Em tudo o que a gente faz na Casa Talento tem um envolvimento de 100%. Porque a gente teve um resultado até aqui. Não adiantava eu incentivar, formar um grupo e não me preocupar com o repertório deles, se eles estão ensaiando.
CASA TALENTO: RESULTADOS
Quando o aluno chega na Casa Talento, ele tem que assistir aula teórica, tem que assistir aula prática e tem que ir, pelo menos uma vez na semana, pegar o instrumento e passar pelo menos uma hora estudando. Isso, nós temos um acompanhamento certo. Temos alunos que terminaram bacharelado agora, tem outros que estão fazendo concurso para a Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, com grandes chances de passar e assumir a função de músico da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte. Temos músicos professores, que começaram na Casa Talento, temos outros projetos que estamos implantando. Estão indo alunos da Casa Talento, como professores, para ensinar no município de Guamaré. Estamos implantando em Fortaleza também, estão saindo alunos da Casa Talento de Natal para serem professores em Fortaleza. Essa é uma oportunidade que a gente abre. Tem um projeto que, quando a gente abre em outro Estado ou em outro município, a gente procura aproveitar aqueles alunos que estão adiantados e que estão sabendo a filosofia do método, como funciona a Casa Talento, qual o objetivo que a gente tem, não é só preencher o tempo do aluno, a gente quer ver resultado, a gente quer ver o aluno tocando, a gente quer ver o aluno dando prazer à família. De seis em seis meses, a gente realiza um recital de alunos, é um prazer muito grande para a gente ver uma mãe chorando, parece que está chorando de felicidade, é uma coisa fantástica. O aluno se apresenta como gente grande, todo arrumadinho, fazendo aquele solo com aquela turma tocando, é uma coisa fantástica. O resultado do aluno também é uma coisa que gratifica muito, a gente faz o programa, bota o nome deles como solistas, como algo bem profissional. As mães sentem um orgulho fantástico do filho e esta resposta transmite para a gente mais energia. Um instrumento que é feito na Casa Talento, para a gente, é como um filho que nasceu. Hoje, a maioria da Orquestra de Talento Petrobras está tocando com instrumentos fabricados na Lutheria da Casa Talento Petrobras. Então, a gente começou a substituir os violinos, substituímos as violas, vamos substituir agora os violoncelos. O som da Orquestra melhorou, ali está uma marca nossa, que foi fabricada, a gente viu nascer, viu ser gerado, viu a madeira que foi escolhida. Isso, para nós, é fantástico.
IMAGEM DA PETROBRAS
Minha esposa, Márcia Pires, diz o seguinte: “Que eu sirva a um Deus muito grande e tenha o maior patrocinador do Brasil e do mundo, que é a Petrobras” Desde o início, tivemos o apoio do Augusto Franco, que era o Gerente de Comunicações da Petrobras, do Doutor Horácio, agora do Doutor Fernando de Castro, que é o Gerente Geral da Unidade de Negócios do Rio Grande do Norte e Ceará, do Francisco Queiroz, da Gerência de Comunicação. Tanto na parte pessoal, quanto fazer parte da construção de uma história de vida, o patrocínio da Petrobras, para nós, é muito importante, é uma parceria que nos gratifica muito. Ter o patrocínio da Petrobras, uma empresa séria, brasileira, uma empresa verde-amarela, para nós, é uma satisfação muito grande. Esse patrocínio está mudando a história de muitos alunos.
PROJETO MEMÓRIA PETROBRAS
A Casa Talento Petrobras é uma referência em Natal. Ontem mesmo, recebi vários e-mails da comemoração do Dia da Mulher. Quando vai haver um evento em Natal, eles correm para a Casa Talento para conseguir um grupo, uma orquestra ou mesmo um coral. Então, já é uma referência. Hoje, eu digo, até para mim mesmo, que respeito a Casa Talento. A Casa Talento é uma referência para Natal. E a gente sente orgulho disso, de ser natalense, de ser brasileiro e de ter a Petrobras como patrocinadora. Tenho orgulho de ser potiguar e da Casa Talento ter a oportunidade de ter esse patrocínio da Petrobras. FAMÍLIA Eu e Márcia tivemos três meninas. A Stephany, que é violista, é spalla de viola da Orquestra de Talento Petrobras e é uma das coordenadoras da parte educacional. Ela é quem controla toda a parte educacional da Casa Talento Petrobras, é professora. A Stephany controla a parte musical, toca na orquestra. A Emille toca violoncelo e a Nichole, que tem 16 anos, toca violino. Existe um caminho que não pode parar.
CASA TALENTO: DESENVOLVIMENTO
A Casa Talento, nesse ano, cresceu muito no número de alunos. Temos mais de 700 alunos. A idade é a mesma proposta. Temos um grupo de criancinhas, de iniciação musical, de quatro a seis anos. Temos um outro grupo, que pede a bolsa, que é de sete a 20 anos. Então, uma coisa que eu gostaria de dizer – como é um projeto de memória da Petrobras – é que me sinto numa missão muito importante, juntamente com a professora Márcia Pires. Na realidade, tudo começou com a Márcia, o fato dela querer estudar violino, estudou com muita dificuldade. Teve uma professora, Acyr Maia, que foi quem a incentivou. A mãe e o pai de Márcia também fazem parte dessa história. Por ela ter nascido em um bairro pobre, o pessoal tinha a mentalidade que músico e marginal eram a mesma coisa e, na realidade, não é. Quando esse projeto Espiral surgiu na Cidade da Esperança, foi uma luta muito grande da professora Acyr Maia de resgatar a Márcia e traze-la para o meio musical. Nem a mãe nem o pai dela queriam, porque achavam que aquela parte musical não era para ela. O presente não ia ter muito futuro, uma teoria errada. Ele foi ver depois que não era, que, realmente, ele estava errado. Márcia, que começou esse projeto, lutou muito, buscando conhecimento. Porque, quando ela conheceu o método de Suzuki, além de passar três meses em Curitiba, com a Presidente da Associação Brasileira do método Suzuki, ela também teve que viajar para Dublin, onde fez um treinamento, chamado trainee, para se aprofundar mais no ensino dos volumes. Porque o método Suzuki é ensinado por volume, volume um, volume dois, volume três, e ela teve que estudar muito. Para ir para fora, foi uma dificuldade muito grande, porque tinha que pagar as passagens. Foi a gente que fez um chamado Livro de Ouro. E agora ela está tendo a oportunidade de reverter para estas crianças. Isso que é importante, que esse ciclo não termine, que ele continue. O aluno que passa na Casa Talento é arregimentado como monitor, como professor, e aí ele vai sempre com a mesma filosofia de repassar aquilo que aprendeu para outro, para não morrer nele mesmo. Essa foi a semente que Márcia Pires implantou, chegou nela e ela repassou para outros, e outros estão repassando para outros e, assim, a gente vai dando oportunidade para aquela pedra que está faltando ser lapidada. Porque a questão da genialidade é questão só de lapidação, de oportunidade de se trabalhar aquela pedra e ela ficar preciosa.
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