IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Lourival Souza Carvalho. Nasci em 6 de outubro de 1940, no Largo do Papagaio, em Itapagipe, Salvador. INGRESSO NA PETROBRAS Entrei na Petrobras em 3 de fevereiro de 1959, por indicação da Escola Técnica de Salvador, onde eu estudava na época. Eu fiz concurso para a área de produção e fui aprovado. Logo após viajei para o Campo. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Quando eu entrei, fui trabalhar na área de produção da empresa. Logo no início, a minha função era ajudante de produção, iniciando em poços de petróleo nas estações coletoras. Depois, passei a trabalhar em compressores, montagem de compressores, com uma turma de alemães chefiada por um russo, Stanislaw Toposka, fugitivo de guerra na época. Ele era o chefe e era um poliglota, falava vários idiomas. Dessa data em diante, passei a trabalhar na montagem de compressores. Fui fiscalizando e ele passando todos os dados, porque eu não falava alemão e ele era poliglota, colhia tudo e passava para darmos andamento aos serviços de montagem de compressores alemães. Esses compressores iam receber gás, comprimir gás, para injetar na formação. A injeção era o tipo de uma recuperação secundária, injetávamos o gás na formação para ter a produção do óleo. ACIDENTE / CAMPO DE MIRANGA Um fato importante aconteceu recentemente, há 2 anos e meio. Houve um incêndio na estação B de compressores, da área de Miranga, e nós perdemos um colega. Ele morreu em conseqüência desse incêndio. À noite, por volta das 9h, ele foi próximo ao tratador – um equipamento de tratamento de óleo. O tratador jogou fagulha na área, onde estão os tanques que armazenam o óleo. Nesses tanques, o óleo já vem separado. O poço manda o óleo para um separador, que separa o óleo para o tanque e o gás para uma linha, que vai para a sessão de compressores. Por alguma falha no sistema, estava indo muito gás para o tanque. Então, o vento...
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IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Lourival Souza Carvalho. Nasci em 6 de outubro de 1940, no Largo do Papagaio, em Itapagipe, Salvador. INGRESSO NA PETROBRAS Entrei na Petrobras em 3 de fevereiro de 1959, por indicação da Escola Técnica de Salvador, onde eu estudava na época. Eu fiz concurso para a área de produção e fui aprovado. Logo após viajei para o Campo. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Quando eu entrei, fui trabalhar na área de produção da empresa. Logo no início, a minha função era ajudante de produção, iniciando em poços de petróleo nas estações coletoras. Depois, passei a trabalhar em compressores, montagem de compressores, com uma turma de alemães chefiada por um russo, Stanislaw Toposka, fugitivo de guerra na época. Ele era o chefe e era um poliglota, falava vários idiomas. Dessa data em diante, passei a trabalhar na montagem de compressores. Fui fiscalizando e ele passando todos os dados, porque eu não falava alemão e ele era poliglota, colhia tudo e passava para darmos andamento aos serviços de montagem de compressores alemães. Esses compressores iam receber gás, comprimir gás, para injetar na formação. A injeção era o tipo de uma recuperação secundária, injetávamos o gás na formação para ter a produção do óleo. ACIDENTE / CAMPO DE MIRANGA Um fato importante aconteceu recentemente, há 2 anos e meio. Houve um incêndio na estação B de compressores, da área de Miranga, e nós perdemos um colega. Ele morreu em conseqüência desse incêndio. À noite, por volta das 9h, ele foi próximo ao tratador – um equipamento de tratamento de óleo. O tratador jogou fagulha na área, onde estão os tanques que armazenam o óleo. Nesses tanques, o óleo já vem separado. O poço manda o óleo para um separador, que separa o óleo para o tanque e o gás para uma linha, que vai para a sessão de compressores. Por alguma falha no sistema, estava indo muito gás para o tanque. Então, o vento levou a fagulha do tratador e pegou fogo na estação. O rapaz foi a fim de evitar, aí houve a explosão. Ele se queimou, desceu uma ribanceira, a pele largando tudo. Veio aqui para Salvador, ainda levou uns 8 dias de tratamento no hospital, mas, não resistiu e veio a falecer. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu trabalhei em vários campos. Trabalhei no Campo de Água Grande, no de Miranga, montando os compressores com americanos, no Campo de Imbé, no de Bálsamo e Mata de São João. Em 79, eu desloquei daqui para o Espírito Santo, para colocar uma estação de compressores para funcionar. Quando voltei, recebi até um elogio dos bons serviços, que eu tinha prestado na área do engenheiro, conforme um relatório que eu tenho aí. PROCEDIMENTOS DE TRABALHO Nós tínhamos aqui os compressores, montamos cinco no início, para injetar gás na formação, como eu falei antes. Depois, por necessidade, montamos mais compressores, a fim de atender à demanda. Passamos a montar compressores em outras áreas. O gás que nós pegamos é um gás residual, que já passou por um processo na UPGN, Unidade de Processamento de Gás Natural. O gás, quando sai dos poços, sai rico. Então ele passa por um processo na Planta de Gasolina. Tira toda a riqueza desse gás e, lá na frente, sai a gasolina natural. Já o gás que sai da planta, sai residual e esse gás, residual, é vendido para o pólo petroquímico. Só que de uma certa data em diante, o gás residual passou a ser pouco para o consumo do pólo. Aí o que aconteceu? Nós passamos a receber gás do GASEB, o Gasoduto Bahia-Sergipe. O volume estava pouco, então a gente recebia o gás de Sergipe e completava a carga para o Pólo Petroquímico. SINDICATO Nunca participei do sindicato. Nunca participei de greve. Eu era até perseguido, porque eu, na época, estava à frente do serviço, como supervisor. Como exercia cargo de confiança, não podia participar de greve. Era até mal olhado pelos colegas. IMAGENS DA PETROBRAS Quando entrei na Petrobras, não tínhamos uma certa atenção como ser humano. No primeiro dia, recebi uma passagenzinha para viajar de trem, da Calçada para o Campo de Catu, à noite. Viajei no trem que na época chamava Pirulito. Era um trem do pessoal, que não tinha condição de viajar. Tinha o Marta Rocha, que era expresso, e tinha o Pirulito. Então nós viajávamos nesse Pirulito, porque era um trem mais barato. O Marta Rocha tinha um restaurantezinho, era mais confortável. O Pirulito saía 6 da tarde e o Marta Rocha saía 7 e meia. Quando o Pirulito atrasava, nós entrávamos em uma variante, para dar passagem ao Marta Rocha, e ficávamos atrás. Não tínhamos vez. Quando cheguei em Catu, tinha uma pessoa me esperando e fui para o alojamento ficar. Naquela época, assim menino, entrei na Petrobras com praticamente 17 anos. No outro dia, fui para o campo trabalhar e estranhei muito o tipo de alimentação. Recebia aquela farda, bota, capacete, um capacete de alumínio. Aí vinha o almoço, ao meio-dia. Chegava no campo em cima do caminhão, em uma panela coberta. Nós não tínhamos talher, simplesmente se tirava o capacete, tirava a carneira do capacete e dava, assim um jeitinho, para colocar a comida no capacete. A farinha, tudo junto ali. A gente misturava com a mão e comia. Depois para beber água, nós íamos a uma fonte, um poço, lavava o capacete com areia, pegava a água no capacete e bebia. Depois botava a carneira e botava na cabeça. A carneira é uma garrazinha que prende, para o capacete poder se segurar na cabeça. Isso, quando a comida chegava no horário. Quando era tempo de verão, tinha aquela poeira, vinha tudo ali, a poeira dentro da panela e a gente comia, estava com fome. Comia ou ficava com fome. E ninguém morreu não. Todo ano tinha que fazer um exame, para ver esse problema de água de poço, ameba, esquistossomo, esse negócio. Mas muita gente viveu, está vivo aí, tranqüilo, numa boa. A empresa teve muita mudança de lá para cá, muita mudança. Recebi um elogio pelo serviço prestado. Fui lá botar uma estação de compressores para funcionar. O doutor Roberto Jardim me deu um elogio pelo serviço prestado. Ele me deu o helicóptero para ir ao mar, conhecer a plataforma, a PSA-2. Fiquei satisfeito pelo serviço que fiz. Hoje em dia o que eu tenho em vida, agradeço, primeiramente, a Deus e a Petrobras. Na Petrobras, eu fiz diversos cursos. Fiz curso de especialista em petróleo, quando entrei, um ano depois. Trabalhando de dia e estudando de noite, até 11h. Depois disso, fiz diversos cursos, tenho diversos certificados. Agora estou pensando em me aposentar. RELAÇÕES DE TRABALHO A partir de 1990, fui um pouco discriminado dentro da empresa, porque eu botei uma questão e fui vitorioso. A superintendência, na época eu trabalhava em planta, me deu uma ordem para que eu trabalhasse, em troca ela reporia em recompensa esse serviço. Eu tinha um adicional noturno e, quando passei para supervisor, continuou. Mas, quando saí da supervisão em 80, eles quiseram cortar. Eu coloquei na justiça e ganhei. Depois disso, ficou assim, estou com problema por causa desta questão. Tanto que, de setembro de 1996 para cá, a Petrobras me passou para turno de 6 horas, em conseqüência disso. Mas, eles não cumpriram a determinação da empresa, não me botaram em turno de 6 horas. Eu continuei trabalhando 8 e às vezes 12h. Só em 5 de julho de 2001, passei ao turno de 6 horas, conforme estava determinado desde 96. E de 96 para cá? Esse tempo que eu trabalhava além de 6 horas? Agora estou na Justiça querendo rever.
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