Histórias de Consumo Consciente
Depoimento de Luciana Pellegrino
Entrevistado por Lila Schneider
São Paulo, 13/12/2016
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV550_Luciana Pellegrino
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
P/1 – A gente pode começar falando do seu nome todo, local e data de nascimento, por favor.
R – Tá. meu nome é Luciana Pellegrino. Eu nasci em São Paulo em 12 de abril de 1974.
P/1 – E qual é o nome dos seus pais?
R – José Horário e Marilda.
P/1 – E o quê que eles faziam quando você nasceu?
R – O meu pai, ele foi formado em Engenharia Naval, mas nunca trabalhou nessa área, ele trabalhou mais na área financeira e administrativa de diferentes empresas como Abril, Unibanco e assim foi. E a minha mãe, ela sempre foi dona de casa, mas ela se envolveu, desde que eu me recordo, sendo menina, com um trabalho espiritual, onde ela sempre se dedicou muito na formação de um grupo e a promoção de estudos para esse fim. Isso, certamente, teve uma grande influência na minha vida.
P/1 – E como é que você descreveria ela e o seu pai?
R – Então, nós sempre fomos uma família muito unida, muito carinhosa, então somos uma família de classe média, onde sempre o meu pai lutou muito para poder oferecer para mim e para as minhas irmãs o melhor possível dentro das suas possibilidades, mas isso acontecendo sempre com muito esforço. Mas ao mesmo tempo, nunca faltou nada e muito menos experiências para nós e referências e cultura. Então meus pais são muito cultos, muito inteligentes e sempre gostaram de dividir comigo e com minhas irmãs discussões e referências de histórias, de pessoas, de assuntos relacionados à politica, então em casa nós tínhamos sempre aquele momento do jantar que era o momento onde todos nós nos reuníamos e realmente, conversávamos e conversávamos sobre diferentes assuntos. Minhas irmãs sendo mais velhas, absorveram bastante e eu também sempre tentava entender essas histórias e pude aprender muito com ele e com minhas irmãs. E ao mesmo tempo, tanto do meu pai como da minha mãe, a gente sempre teve essa referência de que a gente deveria estudar bastante e trabalhar e buscar um emprego onde nós pudéssemos crescer e principalmente, a partir desse trabalho, ter uma vida de oportunidades, de possibilidades, interessante, onde a gente pudesse sempre aprender cada vez mais. Então, a minha infância, eu posso dizer que foi muito rica, né, nesse ambiente realmente muito solido com uma família muito unida e não só esse meu núcleo familiar, mas também abrindo um pouco para a família da minha mãe e para a família do meu pai que sempre foram famílias muito unidas e famílias muito calcadas no tradicionalismo onde o avô era aquela figura paterna que regia a família, que orientava a família e que merecia muito respeito, muito cuidado, então a gente para chegar até ele tinha que se acalmar, falar baixo, tanto avô como parte de pai, como parte de mãe, minhas avós também, pessoas muito fortes, com personalidades muito fortes e ajudando a família e tanto a família do meu pai como da minha mãe sempre tentaram criar muitas oportunidades para que a família ficasse unida. E realmente conseguiram, então eu tenho essa referência tanto de uma família muito sólida e que busca… sempre buscou a ética, o crescimento, o estudo e ao mesmo tempo, essa relação familiar que é tão importante e algo que veio de uma forma muito forte até a minha geração e hoje, a gente já incluindo os meus filhos e os meus sobrinhos também nessa formação familiar muito forte. Então, eu acho que isso traz uma base e uma segurança muito grande para todo o desenvolvimento que eu tive ao longo da minha vida.
P/1 – E quais eram os principais costumes da sua família?
R – Bom, essa rotina de sempre ter um respeito àquele momento em que o meu pai chegava em casa, onde então a gente tinha que estar ali prontos para recebê-lo, cumprimentá-lo e ter o momento da família à noite para o jantar, nas férias, sempre a família viajando junto e ai, com os primos, indo para a fazenda, indo para o sitio, mas sempre uma rotina dessa família buscando sempre a união e momentos de confraternização familiar.
P/1 – E qual que é a origem da tua família?
R – A família do meu pai, ela é bem brasileira, é de Ourinhos, eles tiveram… fazem parte da história de Ourinhos, fazem parte da fundação da escola, da principal escola da região, da cidade. E a família da minha mãe é de origem italiana. Então, o meu avô veio para o Brasil, se naturalizou brasileiro e ai, a gente tem muito forte a influência dessas duas famílias, né, então por parte da família do meu pai, uma família muito seria, muito… como que se fala? Acho que seria e a palavra, muito sólida e com base nessa convivência familiar, mas de uma forma mais organizada. Já a família da minha mãe com essa origem italiana sempre focados muito em reuniões mais barulhentas e animadas e agitadas e sempre a gente tendo o almoço de domingo na casa do meu avô, uma grande tradição. A gente ia todo domingo, tinha sempre a mesma pasta com molho branco, nada mudava, mas muito focado numa união muito… num encontro sempre muito festivo da família e barulhento e vem até hoje, então até hoje, essa família se encontra e sempre são encontros barulhentos, são encontros alegres, mas fortalecendo esse vínculo entre todas as pessoas da família.
P/1 – E o que você lembra da casa da sua infância?
R – O que eu lembro? vamos ver… eu lembro da minha casa… deixa eu pensar… que eu lembro da casa da minha infância um ambiente tranquilo, gostoso, a gente teve a felicidade de contar com uma pessoa que trabalhou com a gente, que trabalha até hoje, então já são 45 anos de convivência, onde ela sempre ajudou muito a cuidar da gente nesse ambiente familiar, então nós sempre contamos… o que eu tenho de lembranças de refeições muito gostosas que ela sempre teve esse cuidado de preparar para a gente, ao mesmo tempo, a referência dessa família entrando e saindo, nós morávamos no mesmo prédio que a irmã da minha mãe, então os primos vindo na nossa casa, a gente indo na deles e sempre então essa agitação e ao mesmo tempo, a minha mãe e a minha tia, irmã dela que sempre mantiveram esse trabalho espiritual tentando fazer com que a gente seguisse não só a religião católica, mas na verdade, uma consciência espiritual muito grande, uma consciência de respeito a tudo a nossa volta, às pessoas, então elas tentando sempre fazer com que a gente fizesse uma oração antes da refeição, a oração à noite e que a nossa vida sempre fosse pautada por esses valores espirituais mas muito calcados no respeito ao mundo, ao próximo, uma consciência daquilo que a gente estava fazendo e ai, eu fui crescendo então nesse ambiente, acho que sempre muito alegre, é a referência que eu tenho da minha vida, sempre um ambiente de cuidado, de proteção e alegre, mas ao mesmo tempo, não sendo superprotegida. Então, meus pais logo cedo, assim que eu já tinha uma idade apropriada fazendo eu pegar um ônibus para eu voltar da escola ou ir para uma aula à tarde, ou para voltar de uma aula de esportes, por exemplo, já pedindo para eu ter essa liberdade e ao mesmo tempo, dando essa referência de que logo eu tinha que começar a trabalhar para poder, também, já conseguir ganhar o meu dinheiro, custear as minhas próprias… tanto hobbies quanto interesses. Então, eles passando sempre essa orientação de que a gente tinha que começar a criar a nossa própria responsabilidade e buscar formas de trabalho. Então, ainda na escola, muito com referência das minhas irmãs que são mais velhas, eu já comecei a animar festas de crianças, a cuidar de crianças estrangeiras, buscando formas já de trabalhar e assumindo muito cedo daí essa responsabilidade que o trabalho exige. Então, quando eu comecei a faculdade, eu já automaticamente já busquei um estágio e desde então, eu já comecei a trabalhar em período integral e felizmente, nunca parei, mas sempre com essa orientação pelo lado da minha mãe que nós tínhamos que buscar a nossa autonomia, então, em ela tendo três filhas mulheres e ela não tendo a sua própria profissão, ela entendeu que ela tinha que nos orientar em buscar a nossa autonomia, a buscar a nossa independência e pelo lado do meu pai, entendendo que a gente tinha que buscar sim, uma carreira profissional que nos engrandecesse, que nos desse oportunidades, que nos permitisse sempre aprender, então que a gente buscasse algo que fosse diferenciado, que déssemos o nosso melhor. Então com essa orientação tão sólida, tanto eu como minhas irmãs, de fato, sempre levamos sempre a sério essa trajetória profissional, então eu comecei muito cedo e continuei sempre trabalhando.
P/1 – Tem alguma coisa que você lembre, assim, que o teu pai falou ou a tua mãe que… alguma história especifica que te deu um empurrão para a vida, para o lado profissional?
R – Eu acho que o que é interessante é que eles sempre traziam essa referência de que a gente, eu e as minhas irmãs tínhamos que trabalhar, tínhamos que buscar essa carreira profissional e pelo meu pai sempre falando que não seja algo que você faça simplesmente, automaticamente, uma carreira que você desenvolva sem muita possibilidade de ter autonomia, de decisão, de poder fazer uma diferença. Então, ele já nos provocava a entender que a gente, na nossa vida profissional, teria que buscar um trabalho que nos desse oportunidade, porque isso nos ajudaria a construir a nossa vida, a ligação da nossa vida, da nossa história, ela se misturaria com essa nossa carreira profissional e ele, então, sempre nos mostrou que a gente tinha que buscar algo a mais e a minha mãe muito preocupada nessa independência, que a gente tivesse uma autonomia, uma independência, mas o que eu acho que foi mais interessante é que daí, de fato, eu comecei a trabalhar com a influência e a pressão das minhas irmãs. Então, por eu ser a mais nova da casa, eu era muito protegida, eu era mimada e ai, as minhas irmãs, percebendo isso, e elas já tendo que correr atrás e começar a buscar o trabalho ainda paralelemente à escola, elas me empurraram e falaram: “Não, você também precisa. Chega. Você não vai mais agora só viver e curtir a sua vida, você agora vai começar a trabalhar também”, então foi muito interessante porque foi uma pressão delas,. de fato, que eu dei esse primeiro passo e comecei a trabalhar e elas me levando, lógico, nesses primeiros trabalhos para eu aprender junto com elas, e depois eu segui sozinha.
P/1 – Quantas irmãs você tem?
R – Eu tenho duas irmãs que são mais velhas do que eu.
P/1 – Como é o nome delas?
R – Gabriela e Flavia.
P/1 – E o quê que você lembra assim, do bairro, da cidade?
R – Eu sempre morei em São Paulo, eu morei um pouco, quando eu era pequena, até os seis anos nos Jardins e era um apartamento pequeno e muito gostoso, lembro desse ambiente da gente brincando no sofá, transformando o sofá em carruagem, a gente brincando muito dentro do apartamento e aquele limite de espaço já era o suficiente pra nós. E depois, com seis anos, eu mudei para um apartamento maior, onde os meus primos moravam, no mesmo prédio, então, a gente já tinha essa vida mais social em convivência com eles, mas também sempre a nossa vida mais calcada com esse esforço dos meus pais em nos proporcionar experiências do que proporcionar coisas. Então, a gente realmente teve uma oportunidade de ter acesso a uma fazenda que a minha família tem até hoje no Mato Grosso do Sul e fomos a vida inteira para lá e passamos muitas férias e continuo passando ainda hoje, que nos deu uma vivência muito rica e muito em contato com a natureza, em contato com animais, com a cor do dia, com o som do dia, e uma experiência muito rica que eu sempre carreguei comigo de uma forma muito forte e ao mesmo tempo, tendo acesso a um sitio muito gostoso em Nazaré Paulista, onde a gente passava daí, todos os finais de semana por ser mais próximo. Então, a minha infância, eu tenho muito nítida essa presença de que os meus pais não podiam nos dar coisas materiais, não tinham essa possibilidade, mas ao mesmo tempo, todo esforço da minha família em nos proporcionar experiências. Experiências e vivências muito ricas, então hoje eu tento passar isso para os meus filhos também.
P/1 – E quando você era criança, o tema da reciclagem já era tratado, já se falava um pouco do destino dos resíduos?
R – Não, eu não tenho nenhuma lembrança dessa menção na minha infância. realmente, a lembrança que eu tenho é mais sempre a preocupação da minha mãe por ter esse trabalho espiritual muito forte em relação ao respeito que a gente deveria ter em relação à natureza, aos recursos naturais e um respeito tanto no uso, no acesso, como ela passava pra gente numa forma de agradecimento. Então, agradecer por ter usado algo, agradecer por ter estado em algum lugar. Então, a referência que eu tenho é mais de respeito, de respeito nesse uso. Então, justamente, o cuidado no uso da água, por exemplo, um cuidado para não desperdiçar alimentos, mas isso ainda vindo com uma roupagem desse papel que nós temos no mundo onde a gente tem que ter respeito a tudo que está a nossa volta.
P/1 – Vocês brincavam com embalagens? Transformavam pasta de dente… a caixa da pasta de dente em alguma coisa?
R – Não. Não tenho uma lembrança de usar embalagens. Tem uma questão muito interessante, eu gostava de colecionar embalagens, já quando criança, nem podia imaginar que eu iria trabalhar com embalagens, mas eu tenho uma memória muito clara de como eu colecionava as embalagens de sabonete. Então, naquela época do Lux, né, aquelas embalagens em papel, que eu achava tão bonitas e eu realmente, colecionava. Então, eu tinha mais por uma coleção minha que eu guardava no meu armário mas não para brincar. E ao mesmo tempo, o nosso brincar era de uma forma muito criativa. Então, eu lembro que a gente tinha um tabuleiro onde você punha pininhos em cima daquele tabuleiro, então você criava muitas histórias, então você criava a casa, a família, você criava uma história em cima de um tabuleiro em branco. A gente brincava muito de família invisível, mas ainda não tendo essa referência sobre o reutilizar e mesmo na escola que eu estudei, que foi a Escola Waldorf, é uma escola que sempre trabalhou com os alunos, também essa conexão tanto com o mundo espiritual e a partir disso, todo esse respeito à natureza e aos recursos naturais, a escola tem como fundamento proporcionar e dirigir para os alunos esse respeito a todos os recursos naturais, então, todas as salas têm os moveis em madeira até hoje, o caderno tem a sua capa feita com papel reciclado, é um caderno sempre em branco, porque nada vem pronto, tudo tem que ser construído pela criança, mas com base nisso, né, uma liberdade para você subir em arvores e brincar com folha e esse estimulo para você olhar a natureza, olhar uma flor, olhar uma folha diferente, observar a luz e a sombra, mas muito daí voltado para essa observação da natureza em si. E nem mesmo na escola eu tive esse estimulo para olhar para embalagens e o que a gente pode fazer reaproveitando embalagens. Não era a linha da escola, não era essa, ainda não é até hoje, é mais esse olhar para o respeito à natureza e como que a gente interage com a natureza e como essa construção desse entendimento de que a gente não precisa de muitas outras coisas, né, através da natureza, você já tem acesso a tudo que você precisa e como que você pode admirar então essas coisas tão simples, o que acaba fazendo contraponto muito grande hoje com uma sociedade onde a gente tem tudo, tem acesso a tudo e tudo vem pronto e a escola que eu estudei e que hoje, os meus filhos estudam não, ele busca mais o seguinte: o quê que a gente tem hoje na natureza e como que a gente cresce em cima disso, observando, ou brincando, a partir das coisas mais simples possíveis e no seu estado mais natural possível. Então, o tema reciclagem, de fato, e reaproveitamento de embalagens, ele só chegou para mim, mesmo, quando eu comecei a trabalhar na ABE.
P/1 – E qual o nome da escola? Que escola que você estudou e que os seus filhos…?
R – Chama-se Rudolf Steiner, que é uma escola Waldorf.
P/1 – E qual é a sua primeira lembrança, assim, da escola?
R – É um ambiente muito bonito, de realmente, um ambiente onde é feito para você ter acesso ao que a natureza te oferece, então, é um espaço onde tem muitas árvores e as crianças quando são pequenas podem subir e brincar, essa questão da harmonia que é construída através de todas as matérias, de todas as referências visuais da escola, toda infraestrutura, inclusive, arquitetônica da escola é baseada numa harmonia. Então, a referência que eu tenho é dessa solidez que a escola traz através de uma pedagogia que já existe, que foi desenvolvida praticamente ha 100 anos na Alemanha, onde se constrói essa referência para o ser humano, para as crianças, a partir de um mundo belo e daí, dessa conexão entre a pessoa e o mundo espiritual e o mundo físico e o que a natureza oferece pra gente e como que a gente vai interagir com isso. Então, a referência que eu tenho é de ser, realmente, algo que trabalhou sempre a harmonia, sempre a referência de que nós, cada pessoa tem esse poder de construir algo. Então, na escola, nunca veio nada pronto, sempre tudo foi construído, então, o caderno, você não tem lá um livro de matérias, você constrói o seu próprio caderno, escreve a matéria. Os trabalhos que são feitos são a partir dessa construção através de matérias, como por exemplo, metais onde você constrói uma peça de metal, ou da madeira, onde você vai construir um utensilio ou móvel de madeira, a argila que vai se transformar pode ser numa casa ou num busto. Então, sempre essa referência da construção e por outro lado, quando eu era criança, tendo essa exposição de ver que eu passava por um processo educacional que era muito baseado numa construção e que ao mesmo tempo, a partir disso, o conhecimento ia se formando e tendo, daí, um contraponto de escolas tradicionais, onde as pessoas tinham aquela matéria muito objetiva, vinda já de uma forma muito clara para o estudo e ai, eu sempre olhava e falava: “Gente, mas será que eu tô aprendendo tudo isso? Será que eu vou saber um dia tudo isso que as outras crianças estão aprendendo?”, e hoje eu percebo que você chega no mesmo lugar mas por um caminho diferente e principalmente, num caminho que te mostra que você que vai fazer parte da construção desse conhecimento. Eu acho que isso rege o meu comportamento até hoje. Então, até hoje eu tenho ciência de que eu tenho que construir o conhecimento e cada vez mais e cada vez mais longe, então, nada vem pronto para mim e eu preciso ir construindo e buscando as referências para construir, mas realmente, entendendo que eu posso chegar lá, porque é um processo de construção.
P/1 – E tem algum professor que te marcou?
R – Bom, lá nessa escola, na escola Waldorf, você tem um professor que acompanha do primeiro ao oitavo ano e depois, um professor que acompanha no colegial. A professora que me acompanhou daí, no caso específico até o quarto ano, eu acho que o que mais me marcou era aquela imagem daquela professora que sabia tanto, que tinha tanto conteúdo e até nessa época eu queria ser professora, lógico, tinha essa referência tão rica e depois isso mudou já com outro professor que já era mais firme e ai, trazia uma outra referência, mas eu acho que não teve nenhum que me marcou em particular. Claro que você ter o mesmo professor por quatro anos, ele se torna uma referência para você bastante, mas eu não diria que foi um professor que me marcou tanto na vida, eu diria que para mim, a referência realmente está em cada pessoa. Então, o que eu sempre consegui fazer, felizmente, é que cada pessoa que eu conhecer, seja por qual motivo, aquela pessoa vai me ensinar alguma coisa. Então, eu sempre tento observar todas as pessoas que eu me relaciono e ver o que eu admiro nessa pessoa, o quê que eu não admiro, que eu não quero fazer igual, como que essa pessoa pensa, como que ela se comporta, como que ela trabalha, o quê que eu posso aprender dessa pessoa? Então, eu diria que as pessoas que estão a minha volta sempre contribuíram muito e de alguma forma, têm um papel bastante significativo na minha vida mais do que uma única pessoa ou um único professor, propriamente dito.
P/1 – E você estudou lá até fazer vestibular e decidiu o que ia fazer de faculdade?
R – Sim, eu estudei lá até o 12º ano, terceiro colegial, foi uma trajetória muito rica. A escola traz algumas oportunidades de vivência como por exemplo, excursões de classe, onde nesse caso, a gente foi visitar cavernas, foi fazer agrimensura, aprender a medir o desnível de um terreno, a gente fez uma viagem estudando um pouco uma história especifica da antropologia, então vivências muito sólidas que inclusive, interessantes de hoje eu falar, hoje quando eu vejo alguém fazer uma agrimensura na cidade, medida de um terreno, eu sei o que ele tá fazendo, porque ele tá fazendo e como, isso é algo que na hora que eu vejo, eu fico feliz comigo mesma, eu falo: “Nossa, eu já passei por isso, eu fiz isso”. E ao mesmo tempo, a escola trouxe uma experiência muito interessante do teatro. Então, tem dois momentos onde os alunos fazem um teatro no oitavo ano, ainda mais amador, mas aquela experiência de você ter um trabalho em grupo onde todo grupo, cada um tem o seu papel e tem que trabalhar de uma forma muito articulada para que daí, a peça saia ali diante dos pais, diante de todas as pessoas queridas e você se apresentando, o que é sempre… você tendo que se colocar foi muito interessante, mas já no 11º ano, uma peça mais com caráter profissional, ainda que montada pelos alunos, toda a estrutura de palco montada pelos alunos, mas foi ali que eu comecei a descobrir, realmente, uma força que tinha dentro de mim muito grande, onde através de um personagem, eu consegui entregar uma mensagem que de fato, eu falei: “Gente, que força que eu tenho, né, como é que eu criei esse personagem e como ele criou um papel tão significativo”, que eu percebia a repercussão nas pessoas daquele papel. E ai, talvez muito poucos soubessem, mas o personagem tinha sido criado com base no meu avio, quando eu vi o descritivo daquele personagem, eu falei: “Gente, esse é o meu avô escrito, então, como ele se comporta?”, já buscando algumas referências do passado para trabalhar assuntos e levar isso para frente. Então, acho que foi um momento muito significativo, onde eu pensei: “gente, como eu tenho a forca, como eu posso fazer a diferença?”, e eu acho que isso é o mais importante a ser trabalho em todas as pessoas. Eu percebo hoje como cada pessoa tem uma força dentro de si e se ela tiver uma oportunidade de trabalhar, ela vai desabrochar e vai conseguir trazer uma contribuição muito grande para a sociedade, uma pessoa que trabalha com outras, que atende seja na sua vida profissional, seja em diferentes formas de um professor, mas como é importante a gente ter oportunidades que vão trazer nesse desabrochar. Ai, eu acabei a escola, quando eu acabei a escola, eu decidi que eu ia fazer Administração com ênfase em Comércio Exterior porque também tinha vindo do meu pai essa referência de que eu devia sempre tentar viajar na minha vida, conhecer outros países, porque isso enriquecia muito, ter acesso a outras culturas, a outros locais, como isso poderia ser enriquecedor, então eu logo decidi que ia fazer Comércio Exterior e ai, enfrentei uma primeira disruptura na minha família porque eu fui a primeira de oito que não fiz USP, eu falei: “Olha, Comércio Exterior não tem, eu vou fazer no Mackenzie”, e prestei vestibular e passei já na turma do meio do ano o que foi uma grande surpresa para os meus pais, eles nem imaginavam que eu passaria tão rápido, eles imaginavam que eu teria que fazer um pouco de cursinho, porque eles me viam ainda como uma pessoa muito que levava a vida de uma forma muito alegre, muito ainda sem compromisso, ainda curtindo um pouco dessa juventude e ai, naquele momento, eu mostrei para eles: eu passei no vestibular, eu tenho bagagem dentro de mim, eu consegui já entrar na primeira vez que eu prestei. E fiz a faculdade onde foi bastante interessante logo no primeiro ano, eu já fui buscar um trabalho, na verdade, uma oportunidade de ser trainee, uma oportunidade que também transformou toda a minha trajetória profissional, mas desde o primeiro ano, eu buscando desenvolver já uma experiência profissional que me permitisse o crescimento. Eu acho que foi muito interessante porque eu ainda era jovem, meus amigos eram jovens e eu fui uma das primeiras dos meus amigos que já assumiu o trabalho em período integral. Então, meus amigos me ligavam: “A gente tá na piscina, a gente tá aqui se divertindo”, e eu já no meu segundo estágio num banco de investimentos, trabalhando o dia inteiro, não tinha nenhuma possibilidade de flexibilidade de horário e eu já tendo que lidar com isso, falando: “Bom, eles estão ali se divertindo, mas eu entendo que eu preciso trabalhar e eu preciso desenvolver a minha carreira profissional, então, eu vou ficar aqui trabalhando apesar do sol lá fora, vou enfrentar”. E toda essa trajetória foi importante, justamente para me desenvolver, tanto em termos de responsabilidade, de compromisso, como de principalmente, de aprendizado. Mas como eu ia falar, quando eu entrei, o primeiro estágio foi na Câmara Americana de Comércio, existia um programa de trainee muito interessante na época, onde eles convidavam os jovens a serem trainees da Câmara, ter uma primeira experiência profissional, primeiro contato com o mercado de trabalho e qual seria essa postura, como que a gente se envolveria nesse ambiente e ao mesmo tempo, a gente tinha que catar novos sócios para a Câmara Americana. Mas essa experiência foi muito importante pra mim, porque foi ali que eu conheci mais pra frente aquele que viria a ser o presidente da ABRE e que me convidou para trabalhar na ABRE mais para frente. Mas antes de trabalhar na ABRE eu ainda trabalhei no banco de investimentos, fazendo a faculdade, conheci nessa época o meu marido também na faculdade, ele fez comigo e também teve um ano que eu tranquei e fui morar fora, fui morar nos Estados Unidos para aperfeiçoar o meu inglês e felizmente para ter uma experiência diferente, também.
P/1 – Foi sozinha?
R – Fui sozinha. Morei numa casa de família lá. Fui, a principio, para ficar três meses e acabei ficando um ano e ficando um ano até pela experiência em si, de estar sozinha, justamente, descobrindo o mundo e tendo autonomia, tendo liberdade, então sendo a filha mais nova, eu sempre fui muito protegida, muito guardada e de repente, eu tava com a possibilidade de ser eu, de fazer o que eu quisesse e foi ótima a experiência, foi realmente muito rica e foi ali que eu comecei a minha trajetória no mundo da embalagem, porque na época, o então presidente da Câmara Americana que eu tinha conhecido era o dono de uma das principais indústrias de embalagem aqui no Brasil e eles tinham uma joint venture com uma empresa nos Estados Unidos, então quando eu estava indo para lá estudar inglês, eu já falei: “Eu vou estudar inglês por um tempo, mas eu queria depois poder estar na empresa que você tem essa joint venture nos Estados Unidos”, e ele falou: “Tá bom, não tem problema, mas com uma condição, de que quando você voltar para o Brasil, que você venha trabalhar na Associação”, que ele estava assumindo a presidência da ABRE. Então eu passei um ano, foram quatro meses estudando inglês, ai eu tive que esperar um pouquinho para sair o visto de estágio, ai eu fui trabalhar nessa empresa de embalagens em Memphis, na Bryce Corporation que fica em Memphis, mais para conhecer a empresa, conhecer a dinâmica e foi ai que eu comecei a minha trajetória na embalagem. Acabando esse estágio, eu já fui encontrá-lo em Chicago, que estava tendo uma feira de embalagens, a PACK EXPO International, que até hoje é uma das principais feiras do setor. A ABRE tinha um stand lá, então ei já fui ficar nesse stand para conhecer um pouco da associação do tema e é interessante que esse ano, eu fui para a PACK EXPO novamente e celebrei, então, 20 anos da minha primeira PACK EXPO. Falei: “Nossa, não podia imaginar lá atrás que até hoje eu estaria trabalhando na Associação e estaria celebrando 20 anos da participação nessa feira.”. E ai, então, no final daquele ano eu voltei para o Brasil e já em janeiro eu comecei a trabalhar na ABRE ainda como estagiária, porque eu ainda não tinha me formado na faculdade, então ainda atuei dois anos como estagiária para depois, ser efetivada na Associação.
P/1 – Que bela trajetória, né? E voltando um pouquinho assim, para a faculdade, você lembra de momentos marcantes, pessoas, professores?
R – Eu lembro… uma pessoa que me marcou era a própria coordenadora do curso de Comércio Exterior, a Maristela, que tinha… era uma pessoa assim, com muita… ela era muito pragmática, então ela realmente tentava já chacoalhar um pouco aqueles jovens que estavam chegando lá tão deslumbrados para mostrar a importância da gente levar bem a faculdade, o que a gente encontraria depois na vida profissional e uma pessoa muito forte, uma mulher muito forte, muito determinada, eu acho que ela é a referência que eu tenho da faculdade. Mas na faculdade, eu achei que a grande referência foram as pessoas que eu conheci, tanto meu marido que eu vim a me casar, uma outra amiga que é hoje uma das minhas melhores amigas, então as pessoas com quem eu convivi e a faculdade em si, na verdade, correu sempre muito bem, como eu falei, eu já trabalhava, então não podia dar tanto enfoque na faculdade em si, no estudo, né? Já chegava lá à noite, geralmente, cansada, eu vinha toda formal do trabalho, então até os meus colegas tiravam muito sarro de mim, falando: “Chegou a chique woman, chegou aqui para estudar”, mas é que eu já vinha do trabalho, já levava uma vida que tive que me direcionar mais ao trabalho do que à faculdade em si. Então, a faculdade passou, na verdade, de uma forma tranquila, sem grandes momentos marcantes, mas eu tenho uma boa lembrança, sim, sem sombra de dúvidas.
P/1 – E como é que foi a tua entrada no tema da sustentabilidade?
R – Então, quando eu me formei, eu já estava trabalhando na ABRE e fui efetivada e eu já comecei a ter acesso a toda essa questão ambiental, à discussão ambiental e ai, no caso, inclusive, mais propriamente na questão de resíduos. Então, lá atrás, eu já comecei a ser convidada para participar de algumas reuniões do CONAMA para discutir uma possível regulamentação no que referia à gestão de resíduos e ai, naquele momento, eu falei: “Nossa, eu acho que eu vou fazer um curso”, então eu já emendei o final da faculdade com um curso de especialização em Ciências Ambientais para tentar entender um pouquinho mais esse tema. O curso foi muito teórico e na verdade, não teórico só, mas assim, muito focado nessa gestão mais ampla de resíduos, não propriamente dito com o tema reciclagem, eu acho até que essa discussão da reciclagem, ela aparecia muito pouco no curso, mas eu já sentia toda essa repulsa que quem atuava na área de uma forma muito incisiva em questões ambientais já tinha em relação às embalagens e isso já me chocou: “Gente, que visão negativa que essas pessoas têm”, me chamou a atenção e ao mesmo tempo, em nenhum momento essa discussão de que uma embalagem, ela na verdade, se ela existe é porque ela tá contendo algo, ela tá protegendo aquele conteúdo e também nenhuma discussão na época no que se referia à reciclagem, muito pouco. Então eu tive que aprender muito sobre esse tema na minha experiência profissional, realmente, já sendo expostas às discussões, às reuniões e tendo que correr atrás, porque eu falava: “Gente, a gente não pode ser visto dessa forma, a indústria de embalagens não pode ser vista como uma vilã da sociedade”, e ai, sempre essa angustia minha: onde a gente vão achar informações e referências para a gente conseguir trabalhar essa visão e a própria atuação da indústria? Então ai sim, eu acho que tem pessoas que foram fundamentais nesse aprendizado, algumas pessoas como pro exemplo, na época do CEMPRE – Compromisso Empresarial para Reciclagem do Christopher Wells que era o dono do CEMPRE na época e tinha muita propriedade na discussão sobre esse tema da gestão de resíduos, eu olhava pra ele e eu falava: “Gente, será que um dia eu vou saber tudo isso que ele sabe? será que eu vou ter essa visão e essa propriedade?”. E ai, mais pra frente, outra figura importante, sem duvida nenhuma é o André Vilhena, que ainda atua como diretor executivo do CEMPRE, mas é uma figura muito importante tanto pelo conhecimento que quando ele entrou no CENPRE já tinha sobre esse tema de gestão de resíduos, mas como também pela objetividade como ele sempre encaminhou essa discussão, mas eu acho que o que eu mais aprendi com o André que foi valiosíssimo na minha vida toda é a importância do significado de cada palavra. É aquilo que eu falo, como cada pessoa trouxe algo para mim. E ele mostrando nessa discussão que é uma discussão tão complexa, na verdade, que você tem diferentes entendimentos, como é importante você usar os termos apropriados para você encaminhar o entendimento da melhor forma possível e como que você estrutura a discussão sobre esse assunto, mas tiveram outras pessoas que foram uma referência para mim, também, nesse aprendizado como o Alfredo Setti, que era o então presidente da ABIPET e como também ele trouxe para mim uma visão sobre os aspectos jurídicos, então sempre mostrando: olha, como que você trabalha o entendimento jurídico, como que interpreta uma lei, como que você encaminha esse assunto. Então hoje eu penso, eu tenho muita clareza, eu falo o quanto que essas pessoas tiveram que investir em mim para que eu aprendesse e ao mesmo tempo, o quanto de tempo que a Associação e de investimento teve que dedicar para esse meu aprendizado. Eu penso: ‘Gente, será que hoje essas novas gerações vão ter essa oportunidade de ter acesso a um aprendizado que acontece por meio de experiências, por meio de situações que você é exposto, de discussões e desse entendimento dessa necessidade que você tem que buscar mais, desenvolver mais, mas que você não aprende de uma hora para outra’, é realmente uma somatória de pequenas circunstâncias que vão construindo o entendimento do todo. Já muito cedo, eu virei diretora executiva da ABRE, foi em 2002, eu já fui exposta a esse cargo e com isso, já tive que participar de mais reuniões, então eu fui exposta, por exemplo, ao Conselho do Meio Ambiente da CNI, então, eu ainda aprendendo e exposta naquele ambiente onde tinham pessoas já muito maduras e experientes, eu ouvia aquelas discussões tentando absorver alguma coisa, seja a forma que eles se colocam, seja a abordagem que eles trazem, seja o próprio assunto em si que eu preciso entender desse assunto e situações onde eu falo: “Gente, que oportunidade que eu tive de passar por tudo isso para chegar onde eu cheguei?”, porque cada experiência dessas me colocaram numa situação em que eu tinha que aprender mais, eu podia ter oportunidade de absorver, então de repente, era um momento em que eu estava lá, com uma carinha ainda super de menina, estando numa mesa do CONAMA, tendo que me defender perante os conselheiros, defender a embalagem, colocar qual que era o papel e na verdade, todo o trabalho que a indústria já vinha fazendo para desenvolver a reciclagem e experiências que foram fazendo eu amadurecer à frente do tema. E ai, acho que muito na calcada de toda essa experiência, eu fui entendendo que eu tinha que ser uma protagonista dessa discussão, até por ser diretora da ABRE, da Associação Brasileira de Embalagens, eu tinha que começar realmente a criar referências sobre o assunto, a dar palestras sobre o assunto. Então, mais uma vez, eu tive que me expor a situações onde eu fui aprendendo ao longo de todas essas experiências, eu tenho dó daqueles que assistiram as minhas primeiras palestras, porque quando você dá uma palestra pela primeira vez, você acha que chega lá e fala e de repente, você vai entendendo que você tem que analisar o público para ver que mensagem, com que linguajar, qual que é o conteúdo, porque daquela palestra e se tem a interação daquelas pessoas. mas até você chegar a esse nível de amadurecimento, acho que muitas pessoas sofreram muito assistindo as minhas representações, mas por outro lado, eu entendi que com base justamente nas minhas experiências de vida que eu era capaz de fazer, então não podia esperar de outros e que sim, eu ia ter que construir referências, entendimentos por mim mesma e que o que eu já sabia sempre era válido para algumas pessoas ou para muitas pessoas, né, então criando essa autoconfiança de que eu acho que não sei nada porque eu convivo com tantas pessoas que sabem muito mais do que eu, mas na verdade, algumas coisas que eu sei porque eu tive acesso através do meu trabalho já são mais do que o que outras pessoas sabem. Então com isso, eu realmente fui… como se diz, dando a cara para criar referências, talvez, que estavam acima do que alguém poderia imaginar que eu faria. Então, já numa certa época, eu tive acesso a uma discussão sobre eco design e o conceito de tradeoff, que são as escolhas que você vai fazer, a questão da escolha ter um impacto, então, o que baseia essa escolha, como que você analisa o impacto de cada uma e entender que caminho você vai seguir. E ai, eu vendo, falava: “Gente, eu tive acesso a essa discussão, eu convivi com pessoas interessantíssimas”, na época, eu lembro da Cintia Malagutti que trouxe essa discussão, eu falava: “Como que eu vou compartilhar isso?”, então eu simplesmente resolvi escrever uma cartilha sobre o tema. Então, eu tive acesso a uma norma da ABNT que trazia esse conteúdo, trazia de uma forma muito chata, de difícil interpretação e entendimento, então eu fiz como uma interpretação daquilo, como que aquilo seria… poderia ser trabalhado por profissionais do setor. E ai, fiz essa cartilha e a ABRE imprimiu e a gente distribuiu para os associados, deixou esse conteúdo disponível e a partir daí, eu comecei, daí não mais sozinha, mas incentivar que os associados da ABRE construíssem outras referências e eu junto com eles construíssemos a referência. Então, entendendo… buscando muito a partir da minha visão de mercado como diretora da ABRE, o acesso aos lugares, as discussões e reuniões que eu tinha, que tipo de informação que tinha que ser construída para a indústria. Então daí, mais pra frente, a gente elaborou a primeira referência que teve mesmo sobre como que se trabalha a sustentabilidade de embalagens que nós publicamos em 2006. Era algo que ficava remoendo dentro de mim, eu falava: “Gente, eu percebo que cada um define sustentabilidade conforme o seu próprio interesse. Então, se uma empresa tem já uma tecnologia para reciclar o seu material, ela dissemina para o mundo que sustentabilidade é reciclagem. Ai, chega a outra empresa que conseguiu reduzir, por exemplo, o uso de recursos naturais no processo de fabricação, ela divulga que isso sustentabilidade é isso. A outra que trabalhou com material, por exemplo, retornável ou o outro com compostável, eles divulgam para todo o setor que sustentabilidade é ser retornável ou é ser recompostável”. Então, eu comecei a ver que cada um tem a sua própria verdade e calcado naquela situação daquela empresa, no seu próprio interesse. E isso começou a me incomodar muito, eu falei: “Não, gente, é muito mais amplo. E não é só uma coisa, é justamente, uma somatória de elementos que precisam ser trabalhados, entendo já naquele contexto do tradeoff como que você vai escolher um ou outro”. E ai, foi então que o Comitê de Meio Ambiente e Sustentabilidade produziu o primeiro documento, a cartilha sobre diretrizes de sustentabilidade na cadeia produtiva de embalagens e bens de consumo. E ai, trabalhando com pessoas muito inteligentes como a Silvia Rolim da Plastivida que tem um conhecimento técnico muito bom, muito importante, o ____00:48:30____ que também tem uma formação nessa área e ai, a gente conseguiu com outras empresas do setor, a Juliana da Tetra Pak, já elaborar uma ferramenta, uma cartilha que contextualizasse esse entendimento de sustentabilidade de embalagens e já desse uma ferramenta para quem quisesse fazer a sua auto avaliação e mensurar como que estava sendo o seu desempenho e já, principalmente, entendendo que não era um assunto isolado da indústria de embalagem, mas era um assunto que fazia parte do ciclo de vida, naquela época, a gente ainda olhando para o ciclo de vida da embalagem, principalmente, então entendendo o seguinte: olha, você fabricante fornecedor de uma matéria-prima, o que cabe a você trabalhar em sustentabilidade? Qual que é o teu elo nessa cadeia? Então, essa cartilha mostrava: você, como fornecedor de matéria-prima tem que buscar esses requisitos… essa eficiência ambiental, esses requisitos. Para o convertedor de embalagem, são esses requisitos. Para o fabricante do produto, são outros. E ai, já nesse momento, a gente incluindo o consumidor, o que caberia ao consumidor nessa cadeia, nessa gestão da sustentabilidade de um produto e essa visão da reciclagem, do pós-consumo. Então, foi um primeiro documento que eu acho que ajudou a harmonizar um entendimento e principalmente, a gente mostrar para o setor o seguinte: gente, vamos mostrar que é um todo, que não são questões isoladas e que sim, a gente tem um ciclo de vida de um produto e que daí, ao longo de todo esse ciclo de vida, você pode trabalhar a sustentabilidade. E a partir daí, a gente já elaborou outro documento discutindo como se comunica essa sustentabilidade na embalagem, então a gente fez uma referência às normas técnicas e às normas ISO que já traziam referência sobre esse assunto, mostrando um pouquinho o que significa cada uma, cada uma dessas metodologias, dessas referências normativas, como que você aplica cada uma e principalmente, já mostrando para a indústria o que não fazer, porque foi já numa época, em torno de 2006, 2008, onde as empresas já achavam que ter um diferencial ambiental era o seu ponto estratégico de marketing, era onde ela poderia ganhar o mercado ou se diferenciar. Mas com isso, a comunicação começou a ficar muito isolada num único quesito e também, uma comunicação em que cada um calcado na sua própria linguagem. Então, o quê que a gente percebeu? A comunicação sob os aspectos ambientais, eles não traziam uma linguagem harmonizada, o que dificultava muito o entendimento desse tema pela sociedade. Então, por um lado, a gente tem para cada pessoa, para o consumidor um primeiro acesso a essa discussão da sustentabilidade muito focada em questões macro, né, então você tinha naquele momento, a discussão do aquecimento global, o degelo, falta de recursos naturais, mas sempre assuntos que são muito longe das pessoas e o nosso esforço era começar a falar o seguinte: você, cada pessoa, cada individuo faz parte da sustentabilidade. Então, não é que sustentabilidade seja só aquecimento global que daí, a gente vai depender de um acordo internacional entre os países ou um controle das emissões atmosféricas para reduzir esse aquecimento global que é algo que você como individuo fala: “Não posso fazer nada sobre esse assunto, esse assunto não é meu”. Então a gente começou a ter uma preocupação em falar o seguinte: “Como a gente mostra para as pessoas que sim, ela faz parte desse assunto?”, mas com essa forma de abordagem do tema sustentabilidade de uma forma tão dispersa, tão ampla, inclusive fazendo referências que podiam até confundir o consumidor, uma empresa querendo falar de sustentabilidade colocando um beija-flor na sua embalagem, o outro colocando a árvore, o outro colocando a fruta, gente o quê que o consumidor vai entender dessa referência? Você quer falar que você é amigo do meio ambiente, você põe um golfinho, então a gente se preocupou em criar um documento onde a gente mostrasse: vamos criar uma linguagem bem harmonizada para que as pessoas passem a entender desse assunto e passem a se apropriar do assunto e a partir daí, transformando isso em ações, em atitudes. Então, o quê que a gente buscou? Mostrar o seguinte, a pessoa tende a se preocupar primeiro com ela, ai com a família dela, ai com o lugar em que ela mora, ai com a cidade e ai, aquilo que vai ficando mais longe, ela vai se preocupando menos. Então, até então, as pessoas tinham essa referência dos assuntos ambientais como sendo esses os mais longe possíveis. E a nossa preocupação era trazer cada vez mais próximo da pessoa, tanto direcionando atitudes em relação ao consumo, sem dúvida nenhuma, essa questão do consumo consciente, do cuidado, do respeito ao uso de recursos naturais, mas principalmente o ponto que era fundamental para a indústria de embalagens que era esse engajamento no momento de descarte, porque a gente viu já nos anos 90, 2000, essa indústria de reciclagem se desenvolvendo no Brasil e se desenvolvendo ainda de uma forma muito dispersa, então empresas, algumas já atentas que deviam investir numa tecnologia de reciclagem da sua embalagem, algumas já trabalhando com cooperativas para trabalhar numa separação e encaminhamento daquela embalagem para reciclagem, mas ações ainda muito pontuais, cada um trabalhando de uma forma desorganizada. E já naquela época, a gente já percebeu: gente, se a pessoa não descartar para um programa de coleta seletiva de reciclagem, essa embalagem não vai ser reciclada, então a gente não vai conseguir fechar esse ciclo. Então você via todo um esforço para desenvolver essa tecnologia, ainda muito antes da lei, o CONAMA tentando discutir uma politica nacional de resíduos que depois, foi para o Congresso, o CONAMA para embalagens não conseguiu discutir, foi para o Congresso Nacional, mas a gente… muito antes dessa lei, já entendendo que cabe a indústria trabalhar em soluções, só que o nosso limite de atuação, ele esbarra em alguns fatores. Então, um pode ser uma infraestrutura logística, municipal, de gestão de resíduos, mas antes disso vem o engajamento de cada individuo. Essa embalagem, quando ela tá num resíduo sólido urbano, o resíduo domestico, ela tá na casa de cada pessoa. Ainda toda aquela concentração da produção de um produto, de uma categoria de produto, ela se pulveriza e de dispersa em milhões e milhões de residências e como que você faz para juntar tudo aquilo de novo para encaminhar para reciclagem? Esse era o grande desafio e ao mesmo tempo, as pessoas já muito acomodadas em simplesmente descartar o lixo, a gente ainda até naquela época dos anos 90, não, na verdade, 2000 que eu já estava trabalhando na ABRE muito preocupada em ensinar as pessoas a não jogar o lixo no chão, ainda era o tema: “Não jogue o lixo no chão”, né, hoje, imagina, isso já é passado. Mas ai, a gente falando: como que vencendo essa barreira do não jogue o lixo no chão, acho que a gente conseguiu, como que agora, a gente faz a pessoa separar o seu resíduo? E é difícil, porque é uma mudança de atitude, de comportamento, que depende de cada individuo e de cada individuo no momento dele, pessoal, que não tem ninguém olhando se ele tá separando ou não, é uma decisão dele. Então, como que a gente consegue engajar essa pessoa e sensibiliza-la de que sim, é uma decisão dele, individual, mas que vai ter um impacto positivo no todo? Então, é muito difícil, ainda hoje, é o grande desafio, né, a gente mostrar o seguinte: que a sustentabilidade, ela depende de pequenas ações e pequenas decisões. É realmente cada um buscando fazer a diferença e essa consciência, ela é muito difícil porque ela pressupõe, então, uma disponibilidade da pessoa fazer diferente e dirigir uma consciência que até então, ela não dirigia. Então, a gente daí, se preocupou muito nesses últimos anos em como engajar essas pessoas nessa separação, hoje, a gente já tem… é uma discussão muito mais ampla, já chegou nas escolas, a nova geração já está muito mais consciente dessa importância da separação das embalagens para reciclagem, mas por muito tempo, foi realmente um desafio da indústria em tentar levar essa comunicação para o consumidor. Mais recentemente, inclusive, a gente trabalhou na harmonização de uma simbologia que é levada nas embalagens para orientar o consumidor sobre esse descarte seletivo. Então a gente entendendo que tinha que ser uma orientação muito simples para o consumidor, porque apesar dessa referência da reciclagem, do descarte no Brasil ter nascido com a separação dos resíduos por tipo do material e consequentemente, por cores, então o plástico vai na lixeira vermelha, o papel na azul, o vidro na lixeira verde e os metais no amarelo, a gente foi percebendo que é confuso para o consumidor ter que fazer uma separação ainda com tantas características e em alguns momentos ele fala: “Gente, mas onde eu descarto isso?”, e ao mesmo tempo, percebendo que na verdade, todos aqueles materiais que só coletados, eles vão para um processo de triagem, seja uma triagem automatizada de um sistema municipal ou seja uma cooperativa de catadores, mas pelo fato de todos irem juntos para um processo de triagem estava causando uma grande decepção nos consumidores que falavam: “Eu separo e ai, eles vão lá e juntam tudo!”, então a gente, daí na hora de trabalhar uma referência normativa, inclusive, incluindo isso na própria politica nacional hoje vigente foi: vamos entender como funciona esse sistema de coleta. A gente só precisa separar o que é seco, o que é passível de ser reciclado, que são as embalagens do que é úmido, do que vai para uma disposição final adequada, não precisa ter essa separação por tipo de material por um lado, porque você torna isso mais complexo para o consumidor e segundo porque o encaminhamento para reciclagem, ele acontece muito de acordo com a estrutura de cada região. Então a decisão do que é encaminhado para cada indústria de reciclagem, como que ele é encaminhado, o quê que pode ser aceito, o quê que não pode ser aceito tem que ser feita pelo processo de triagem, pela cooperativa e o que facilita muito para a indústria, porque você centraliza a orientação e a informação em alguns polos ao invés de ter que educar cada um dos 204 milhões de habitantes do Brasil de como ele vai fazer essa preparação. Então, a gente criou uma referência normativa já fazendo essa alusão: separe o reciclável do não reciclável. É mais fácil e na verdade, é o mais eficiente, porque depois num processo de triagem é que vai ser feira a decisão de como separar cada um, como que ele vai ser enfardado e encaminhado para uma indústria de reciclagem de acordo com o que tem disponível naquela região coma viabilidade técnica econômica para reciclagem daquela região.
P/1 – O quê que vocês perceberam que era importante na forma de como engajar os consumidores?
R – É um desafio até hoje, né? Engajar o consumidor é um desafio até hoje, porque como eu falei, é uma questão de atitude da pessoa e numa atitude onde ela está no momento dela, onde ela vai ter que ter primeiro, a consciência para daí, entender a mudança de hábito. Então a gente vê mesmo com o uso de recursos naturais, a questão da água, provavelmente, só quando a gente passou por aquela crise hídrica é que as pessoas passaram a ter mais consciência do uso da água. Agora passando toda essa campanha de economia de água, o que ficou nas pessoas? O que a gente espera é que essa campanha tenha de fato, enraizado uma consciência, que tenha mudado a sua atitude para fechar a torneira quando ela vai escovar os dentes, fechar mesmo durante o banho enquanto ela tá passando shampoo. Agora, se ela vai ou não vai é realmente de cada individuo, porque ele tá sozinho naquele momento, porque às vezes, em público, a pessoa tem uma atitude onde ela quer demonstrar uma atitude mais consciente, mais responsável, ela quer construir uma imagem positiva dela perante os outros, mas geralmente, essa decisão, a mais crítica acontece no momento quando está ela com ela mesma. Então, o principal fator é educação, sem dúvida nenhuma. Educação referente a educação básica, sem dúvida nenhuma e ai, ao valor dos recursos naturais, dos insumos e essa educação sobre qual que é a nossa interação com esse meio ambiente? Qual que é o nosso impacto, qual que é essa importância de atitudes mais conscientes? E isso vem com muita informação e muita educação. Então, é um processo que tem que acontecer continuamente. Felizmente, hoje, a gente já tem justamente um apoio da sociedade onde isso é um tema escolar, onde a gente já vê crianças com outra referência e justamente, outro conhecimento, outro reconhecimento da importância dessas práticas de cuidados, seja preservando recursos naturais, seja valorizando a natureza e plantando arvores, cuidando de animais ou seja, justamente, separando resíduos para reciclagem para a sua revalorização. Então, é um desafio que passa da educação, pela educação e hoje, mais difícil então a gente sensibilizar as gerações mais velhas que não adotaram essas práticas desde jovens e mais fácil, provavelmente, com essa geração que já vem que já tem isso como um tema presente e já com esse entendimento que meio ambiente, o cuidar do meio ambiente, a questão da sustentabilidade não é mais aquele assunto tão genérico e amplo que tá tão longe da gente, mas sim muito mais hoje voltado para pequenas ações e escolhas e atitudes do nosso dia a dia e que isso tem um impacto, sim, no todo nesse grande cenário.
P/1 – E você, Luciana, como você sente essa mudança dessa percepção de reutilizar, repensar, como que na tua vida isso?
R – Eu diria que na minha vida, eu tenho tanto essa interface profissional, né, eu trabalho com esse tema, então eu tô sempre atenta assim, se a embalagem tem a simbologia do descarte seletivo, para mim foi uma grande festa há uns três anos quando eu estava passando férias lá na fazenda no Mato Grosso do Sul, e a gente sentado e aquela mesa da fazenda e eu olho ali um produto em cima da mesa com a simbologia do descarte seletivo. A gente tinha acabado de publicar a norma da ABNT, foi em 2013, gente que alegria, né? Eu falava: “Meu Deus, olha onde a gente chegou‼! Não tô acreditando que aqui nesse lugar, eu tô vendo uma simbologia do descarte seletivo”. Então, e sempre presente essa consciência, então depois disso, a gente vai para sitio, separa o que é reciclável para trazer de volta ou deixar ali nos pontos de coleta que tem na região, mesmo na fazenda, separa o que é reciclável para levar de volta para a cidade. Em casa, no meu condomínio já tem um programa acontecendo e ai, tentando passar esse valor para os meus filhos, né, mostrando para eles tanto essa possibilidade de reutilização, justamente de você criar algo em cima, mas principalmente do valor que cada material tem e como a gente tem que ser parte desse processo para encaminhar para a reciclagem. Mas isso muito por toda a exposição profissional, mas mesmo pela exposição pessoal, eu acho que pela minha vida, pela minha mãe que teve sempre esse encaminhamento espiritual e com base nisso, todo esse respeito que você tem que ter por todos os mundos, como ela fala, todos os níveis, como você tem que respeitar e isso inclui a natureza, o cuidado com os insumos, com os recursos naturais e como a própria escola que eu estudei que também enraizava muito isso, como a gente é parte de tudo isso, nós não estamos alheios numa vida como eu falei, eu tive muito mais acesso à experiências do que à coisas, à posses. Então, essa interação, para mim, ela sempre aconteceu de uma forma muito natural, mas profissionalmente, eu acho que isso sempre mexeu muito comigo por ver essa falta de entendimento em relação ao papel da embalagem e ai, foi agora, mais recentemente que a gente fez um trabalho a convite da Fundação Ellen MacArthur olhando para a economia circular, onde você tem uma regeneração dos materiais, justamente para que eles tenham o maior uso possível, uso mais longo e sempre com a menor interferência, como que você reincorpora aquele material, seja daí na sua vida, mas mesmo num processo produtivo, num processo industrial. E ai entendendo, a partir disso, que a gente vem trabalhando muito hoje é trabalhando com a sociedade, esse verdadeiro entendimento da embalagem, né? Qual que é a sua função? Você ano vai no supermercado comprar uma embalagem, você vai comprar um produto, que você tem algum anseio em relação ao uso daquele produto. Então, como que a embalagem disponibiliza devidamente aquele produto e o preserva para que ele seja devidamente consumido e a partir daí, toda eficiência ambiental que a cadeia tem que trabalhar e todo esse olhar para criar e fortalecer todas as condições para revalorização. Eu acho muito interessante porque quando a gente fala de indústria de embalagens, a gente tá falando de uma indústria que movimenta cerca de um bilhão de dólares no mundo todo, são inúmeras empresas globais que atuam em diferentes países, chegam a empregar mais de 100 mil pessoas no mundo, estamos falando de um mercado que movimenta justamente por meio de feira de negócios cerca de milhões tanto em negócios que são promovidos, mas em torno de 150 mil profissionais visitando, então é um setor que é muito focado em desenvolvimento, em tecnologia, num desenvolvimento continuo, então tanto numa eficiência operacional, como em melhores entregas para a sociedade e para o mercado. Eu sempre vi essa indústria que tem tanto por trás, quando você pega uma embalagem na sua mão, você nem imagina todas as cadeias que estão envolvidas para fabricar aquela embalagem, então tanto da transformação da matéria-prima, daquele que fez algum aditivo para dar maior fluidez para aquela matéria-prima, o outro que daí, fez a tinta que vai imprimir a informação na embalagem ou fez o rotulo, ou fez a tampa, aquele que fabricou a embalagem, agência de design que conceitualizou aquela entrega, né? É uma indústria que… aquela que fabricou o equipamento para a fabricação daquela embalagem ou para envase do produto. Eu olho hoje, falo: “É uma cadeia tão grande atrás de uma embalagem”, ai o consumidor, quando pega, ele não enxerga, né, ele realmente vê só uma embalagem na mão dele, né? É isso e ai, sempre a minha angustia foi como fazer as pessoas entenderem esse valor da embalagem, essa função da embalagem para a nossa sociedade? É nisso que a gente tem direcionado mais o trabalho, então é entendendo que a gente tem um ciclo de vida de um produto já nesse entendimento, que a gente faz parte de um ciclo de um produto e que tem que ser trabalhada de uma forma calcando, buscando eficiência, buscando o fechamento desse ciclo de vida, mas como que também, ao mesmo tempo, a gente entende a função da embalagem viabilizando esse acesso a esses produtos das pessoas. E se a pessoa quer ter acesso a esse produto, seja por uma conveniência de ter um produto pronto, um produto congelado, a conveniência de ter um remédio, a conveniência de ter um produto de cuidado pessoal e que chegou ali com propriedades funcionais, que vai fazer uma diferença no uso e na aplicação daquele produto, esse acesso, ele pressupõe também um engajamento, uma responsabilidade que é: você, depois de usar e consumir aquele produto que você quis, desejou e buscou, você dá um encaminhamento adequado ;para aquela embalagem. Então, a gente mostrar que a embalagem, ela não é só um produto enquanto ela tem um produto dentro, ela continua sendo um material de valor na hora em que aquele produto que foi consumido e acabou como material, como material que tem uma energia muito grande, que tem recursos naturais muito importantes ali. Então, hoje a nossa preocupação é isso, é fazer com que a pessoa veja a importância daquela embalagem enquanto ela tá buscando acesso aquele produto, enquanto ela usa aquele produto da melhor forma possível e quando ela já usou. Hoje a pessoa tende a ver, ai como um resíduo, algo que não tem valor, né, ela perde… no momento em que acabou o produto em si, é interessante que acabou a conexão emocional com aquela embalagem. E ai, no momento em que acabou a conexão emocional, a pessoa tende a falar: “Nossa, mas isso é…”, até chamam de lixo, “…é lixo ou é um resíduo”, e a nossa preocupação é mostrar: “Não, é aquela embalagem que te entregou o produto e que sim, que ela tem que continuar circulando numa cadeia de valor pra gente resgatar aquela matéria prima e a energia que tá por trás daquela estrutura.
P/1 – E você, tem alguma história de alguma embalagem que você tenha feito isso?
R – Em que sentido?
P/1 – De reutilizar a embalagem depois que o produto acaba. Tem alguma que você deu alguma outra função para a embalagem?
R – Vamos ver… tem embalagens que já te favorecem, né, então lógico, tem latas que eu gosto de usar, sim, latas principalmente mais decorativas, para guardar coisas, organizar, mas eu me pego até às vezes, pegando a caixinha de um bombom que tem a bandeja com ali o recipiente do bombom, onde eu falo: “Nossa, aqui u posso pôr cada brinco, organizar cada um deles, na hora em que eu abrir a caixinha, eu vou acha-lo de uma forma muito fácil” e vidros, sem duvida nenhuma, que a gente reutiliza. Então, eu reutilizo quando tem uma função, mas eu tenho também a clareza de que eu não preciso reutilizar tudo, eu não tenho como absorver tudo isso, né, e de fato, o que eu preciso fazer é dar o encaminhamento adequado para que esse material, essa matéria-prima seja recuperada, mas…
P/1 – Você tem algum exemplo de alguém que muito criativamente reutilizou?
R – Eu acho que principalmente casos onde você usa uma embalagem daí, realmente, para guardar alguma coisa que você queira ter um maior cuidado, mas eu vejo os meus filhos reutilizando, né? Outro dia, numa caixa de sapato que o meu filho olhou e ai, ele já quis pintar aquela caixa e pegou um pino plástico que vinha para garantir a estrutura do sapato, já colocou como anteninhas e criou a partir daquilo uma joaninha, que ele não deixa a gente jogar fora. Então, a gente tem aquela caixa pintada que é a tal da joaninha dele que ele se conecta com aquilo, né, que foi algo que ele fez a partir de uma embalagem e ele tem uma ligação emocional, ele gosta de olhar e de curtir. E ele não vê uma embalagem lá, ele vê de fato, no caso dele, um bichinho, uma joaninha que ele criou. Outros casos…
P/1 – Bom, tudo bem. E o quê que é uma embalagem sustentável?
R – A embalagem sustentável é realmente aquela que protege o produto que ela condiciona. Então, o primeiro pilar é esse cumprimento da função da embalagem. Então, é como que eu consigo garantir que o produto vai ser consumido devidamente e ele não vai ser desperdiçado? porque é muito interessante que a gente consegue enxergar toda a matéria-prima e os recursos naturais que foram usados para fabricar aquela embalagem, mas a gente não consegue enxergar o quê que foi usado para fabricar o produto em si e na grande maioria das vezes, o impacto ambiental que tem por trás de um produto, ele é… chega a ser 90% maior do que o impacto da sua própria embalagem e por que isso? porque se a gente tá falando de um alimento, você tem todo o esforço de cultivo da terra para plantio, para colheita, depois para transporte, para processamento, o quanto de água que é usado, defensivos agrícolas, o quanto de energia para cultivo. Então, tem muitos recursos empregados na fabricação de cada um dos produtos, depois em toda a sua formulação, no seu processo de fabricação, e por isso que a gente fala: “Você não pode se dar o luxo de perder esse produto, por mais que esse impacto seja invisível aos nossos olhos, não chega para o consumidor esse histórico, tem ali um esforço ambiental muito grande”. Então, o papel da embalagem é essa função de proteger e viabilizar o uso adequado, então até quando é um produto que depois da embalagem aberta, ele se estraga, como que a gente agrega tecnologias de acondicionamento, de refechamento para que a gente preserve esse produto até o seu uso adequado, como que a gente viabiliza num país como o Brasil que tem uma extensão territorial de oito milhões de quilômetros quadrados, você tem condições climáticas totalmente adversas, então, muita humidade no norte, no nordeste e no sul, uma região muito mais seca, como que você faz então para que produtos possam ser distribuídos pelo Brasil todo expostos ao sol, muito sol, calor, chuva, estradas em péssimas condições, como que você viabiliza que ele, então, seja distribuído e chegue até aquele consumidor que tá demandando aquele produto e vai usá-lo? Hoje, a gente sabe que muitas vezes, uma embalagem que é dimensionada para a distribuição de um produto dentro do Brasil, o que pode levar, muitas vezes, duas semanas, três semanas para acontecer essa distribuição, ela tem que ser mais resistente do que a embalagem de um produto para exportação. Então, a exportação requer menos em termos de características de proteção incluindo impactos físicos do que a distribuição em território nacional. Então, como que a gente tem que projetar nossas embalagens para aguentarem tudo isso, todos esses impactos físicos, entre outros, para que aquele produto chegue em boas condições? E a partir disso, como que a gente viabiliza um consumo integral daquele produto, então de fato, é um olhar da indústria que você não tenha perdas, não consiga acessar todo o produto e você acaba perdendo o produto, ou como eu falei, que ele se estrague ainda durante o consumo, isso é um desperdício de produto muito grande, mas por outro lado, que é um esforço da indústria, isso já há décadas, é como que a gente traz um processo eficiente de fabricação dessa embalagem? Então, esse olhar para uma otimização para uma eficiência nos processos produtivos, incluindo energia, emissões, consumo de água, uso de matérias-primas, então a indústria de embalagens evoluiu muito nesses últimos anos, nessas ultimas décadas, conseguindo reduzir a espessura e o peso específico das embalagens, mas garantindo as propriedades tanto de conservação do produto quanto de preservação, então seja algum impacto ou seja algum acesso a alguma situação que vai, como se diz, degradar o produto ou fazer com que ele se estrague mais rápido. Então, essa evolução da indústria de embalagens, ao ter uma embalagem proposta para um produto, ela tenha um coeficiente de massa mais eficiente possível, esse tem sido um grande pilar da indústria e ai, a gente começa a ver como a indústria vai no detalhe dói detalhe. Então, é realmente uma informação que muitas vezes não chega à sociedade, mas hoje essa preocupação de você ter tinta à base de água e não à base de solvente, então a composição, as tintas, quais são os elementos químicos que vão estar sendo usados, empregados, que sejam os menos possíveis. Uma preocupação, por exemplo, na chapa de uma impressão de uma embalagem, como que você tem uma chapa que possa ser reutilizada, como que eu otimizo esse processo de fabricação para ele ser mais eficiente? Como que eu otimizo um processo logístico de distribuição? Ou até, por exemplo, como que uma embalagem consegue agregar uma barreira a um produto para que ele, por exemplo, não precise de refrigeração e ai, você tem uma economia de energia evitando a refrigeração. Então, realmente, a indústria hoje, ela vai no detalhe do detalhe para conseguir em cada elo da cadeia trazer uma eficiência ambiental e isso porque a indústria já percebeu que é um tema relevante para a sociedade e ela precisa, ela tem essa responsabilidade de integrar essa eficiência ambiental em cada estágio dessa cadeia e a partir daí, esse olhar para o fechamento desse ciclo. Então, se é uma oportunidade, uma possibilidade de uma embalagem ser retornável, ela tá sendo… aquele produto é comercializado num ambiente que tem um ciclo que possa ser fechado de retornabilidade, então adota-se essa alternativa. Um foco também do uso de refil, então, como que eu posso agregar, combinar um produto que tem uma embalagem com uma estrutura mais robusta, que vai trazer a funcionalidade de uso, que vai trazer a funcionalidade de armazenamento, que vai trazer a funcionalidade de preservação daquele produto e até o emocional de ter uma apresentação diferenciada, que ajuda a compor aquele momento de uso de consumo, mas como que eu posso ter um refil que tem uma estrutura, daí, muito mais enxuta com menos propriedade e funcionalidades, mas que daí, me permite despejar o produto naquela embalagem principal. Então, esse uso do refil como uma alternativa e o uso hoje de possibilidades de reciclagem, então, a indústria focando muito em tecnologias de reciclagem, como que a gente viabiliza… claro, quando são estruturas monomateriais, você já tem uma tecnologia mais avançada, mas o que a gente viu nos últimos anos é também: como que eu reciclo embalagens que têm uma estrutura composta? Então, essa embalagem tem uma estrutura composta porque é necessária essa estrutura para preservação do produto, ele não pode ter acesso à luz, porque é um produto gorduroso, isso decompõe, não pode ter uma troca de… uma entrada de oxigênio, por exemplo, ou não pode ter a saída do oxigênio, né, como que eu controlo aquela atmosfera dentro da embalagem para o produto se preservar por mais tempo, mas a partir daí, como que essas estruturas, também, que envolvem diferentes matérias, é uma estrutura composta, como que eu consigo reciclá-la? Então, tem sido alvo da indústria, hoje também foco de grandes investimentos, de eventos, de discussões, de feiras que trabalham em tecnologia, então é uma indústria que está olhando, sim, para todo o seu ciclo de vida, mas já entendendo que é o seu ciclo de vida a partir do ciclo de vida do produto, porque ela tem uma função que é maior do que ela que é a viabilidade de disponibilização esse produto em boas condições para o consumo. E ai, inclusive, atendendo hoje a muitas regulamentações que olham para esses aspectos de segurança do consumidor. Então, como que essa embalagem consegue agregar todo um coeficiente de segurança no que se diz respeito à integridade do produto, a sua qualidade, a toda a sua esterilidade para que não tenha ali nenhum possível contaminante, então, todo cuidado que tem hoje, as boas práticas de fabricação e requisitos de segurança alimentar, né, que tem que ser observadas já no processo de fabricação tanto da embalagem, como do produto em si. A questão de informação para o consumidor, então no Brasil, a gente conta com uma legislação bastante ampla e rígida, até muitas vezes, mais do que em outros países, no que se refere a que informação que a gente leva para o consumidor sobre o produto, sobre o que compõe aquele produto, sobre a forma de uso, sobre a forma de armazenamento e principalmente, sobre essa composição e para que a pessoa tenha acesso àquela informação, se ela pode ter acesso aquele produto ou não. Então, a embalagem hoje tendo que atender a múltiplas funções da disponibilização do produto, mas com segurança, com qualidade, com eficiência, com informação e com encantamento, sem dúvida nenhuma, né, porque faz parte do consumo você ter essa referência de qualidade, essa referência de bem estar e principalmente, essa eficiência no uso de um produto.
P/1 – Que tipo de informação a ABRE passa para os fabricantes de embalagens para se tornarem ecologicamente corretas?
R – Nós temos publicadas muitas cartilhas, referências sobre o tema e essas referências, elas vêm de uma forma evolutiva, né, então como eu falei, a gente começou olhando para uma questão do tradeoff, dentro de um conceito de design sustentável e depois, vindo para essa questão do quê que é sustentabilidade de embalagem? E principalmente, hoje, deixando muito claro esse entendimento de como se trabalhar sustentabilidade em embalagens, como que se trabalha a comunicação, essa orientação para o descarte, mas hoje a gente tem, então, documentos que todos são públicos, a gente tem a versão física ou a versão digital para download, onde a gente trabalha junto com o setor esse entendimento: como que você trabalha a sustentabilidade durante todo o ciclo de vida do produto, né, e quais são os pontos que você tem que estar atentos, não é um único, mas são pontos interligados nesse ciclo de vida. Inclusive agora, a gente disponibilizou uma ferramenta interativa, lúdica, onde cada empresa pode exercitar uma auto avaliação para ver como que e o seu produto está cumprindo esses diferentes requisitos. Então, a gente chama do jogo do infinito, porque ele é um processo continuo, as novas tecnologias vão nos permitir sempre aprimorar e trazer uma eficiência ambiental em algum quesito que antes não era possível. O próprio engajamento, conhecimento das pessoas também vai nos permitir trabalhar em alguns avanços em termos de eficiência, de uso de recursos, por exemplo, que antes não era permitido, né, se o consumidor não se desenvolve com a gente, se ele não entende esse desenvolvimento, ele acaba rechaçando, ele acaba freando o desenvolvimento da indústria. Então, é muito importante que o desenvolvimento da indústria aconteça de uma forma muito sinérgica com a consciência das pessoas para que elas estejam abertas a essas novas tecnologias, essas novas estruturas e possibilidades que vão surgindo. Mas a gente, então, hoje, disponibiliza para o setor, nós estamos disponibilizando essa ferramenta, onde cada empresa pode fazer um exercício, então a gente vai guiando esse entendimento e principalmente guiando de que forma? Para que a pessoa, o profissional possa ter um mapa de como no ciclo de vida daquele produto, ele está cumprindo ou trabalhando sua eficiência frente os diferentes requisitos ambientais e para que ele possa, daí, compartilhar esse mapa com outras pessoas tanto da sua empresa, como também, por exemplo, da sua empresa cliente ou mesmo do varejo, por exemplo, do mercado, porque o que acontece? Um produto tem que fluir entre diferentes elos da sociedade, né, ele não é desenvolvido isoladamente, por exemplo, pela indústria de embalagens ou pela própria indústria de bens de consumo. Hoje, é fundamental que a gente consiga sempre entender quais são os elos, ou quais são esses interlocutores, quais são as interfaces que a gente vai ter que lidar, quais são esses diferentes estágios de uma cadeia de consumo, distribuição, venda, comercialização, logística e como então, a gente amplia um debate para que no desenvolvimento, a gente já trabalhe entendendo essa performance da embalagem, esse fluxo da embalagem por meio de todos esses elos? Então, esse jogo do infinito que foi desenvolvido, calcado num documento que se chama “Embalagem e Sustentabilidade, Diretrizes Frente ao Contexto da Economia Circular”, ele foi desenvolvido junto com a CETESB, porque a gente entendeu isso, não adianta a gente como indústria de embalagens querer criar uma referência da embalagem frente a toda a sua circulação na sociedade. Tem um momento que essa circulação tá na gestão pública, né, municipal, numa gestão de resíduos. Então, a gente chamou a CETESB para trabalhar com a gente para que daí, esse entendimento já contemplasse o quê que favorece a gestão de resíduos na municipalidade? O quê que a gente pode pensar aqui no desenvolvimento que vai favorecer lá? E ao mesmo tempo, promovendo essa discussão entre os diferentes elos da indústria, onde que a indústria de tintas, equipamentos, o fabricante de embalagem, o fabricante de produtos, como a gente cria uma referência para um diálogo para que todos trabalhem juntos em um novo desenvolvimento entendendo o impacto no todo, então, não é mais um impacto no seu processo, mas como que é o impacto no todo. Então, hoje um dos grandes desafios é esse, é a gente conseguir ter essa multidisciplinariedade no olhar, no desenvolvimento do produto e numa discussão. Então, essa ferramenta do jogo do infinito, ela visa tornar isso possível. Então, ela materializa essa analise por meio dessa auto avaliação para que a pessoa possa compartilhar essa informação e daí, conseguir sensibilizar outras áreas, outras áreas da própria empresa, outras áreas da cadeia, mostrando que quesitos ainda não estão sendo atendidos e que deveria ter, então, um novo olhar, uma nova pesquisa para ter um desenvolvimento que fizesse com que aquele produto atendesse aquele quesito também.
P/1 – Você lembra de alguma história, assim, de alguma indústria que mudou a sua forma de fabricar?
R – A gente percebe uma evolução constante. é um processo continuo de desenvolvimento, então, citando alguns exemplo, né, que me vêm a mente, por exemplo, a indústria de refrigerantes, quando passou a adotar embalagens PET, a embalagem PET é composta por… uma estrutura PET é uma base de PP que dava estabilidade e ali, você tinha dois materiais, por exemplo, e ai, veio esse entendimento, se você tiver uma estrutura de um único material, isso favorece o encaminhamento para reciclagem. Então, conseguiu se desenvolver daí… você precisa de tecnologia, de todo um desenvolvimento tecnológico para possibilitar nesse caso uma estrutura monomaterial para o acondicionamento desse produto e ai, nesse caso também, o que já foi trabalhado na época foi o desenvolvimento das tecnologias de reciclagem para que esse material já tivesse um encaminhamento pós-consumo. Outros desenvolvimentos, deixa eu ver se eu lembro agora, vamos ver, as próprias embalagens cartonadas entenderam também essa importância de desenvolver tanto a tecnologia de reciclagem do material, como a aplicação para essa matéria-prima reciclada, também um caso importante, uma referência de um esforço que foi feito para a indústria para conseguir trabalhar esse elo do ciclo de vida do produto que ainda não estava resolvido, que era a reciclagem e eles se esforçaram em resolver outros casos, ai focados, por exemplo nessa questão da função da embalagem, então percebendo que o produto tinha um prazo de vida muito curto e com isso, uma experiência de perdas muito grande e também ao mesmo tempo, no problema do consumo, uma perda pelo consumidor, um desperdício, já no consumidor, uma questão do desperdício pela embalagem não empregar uma funcionalidade de preservação adequada. Então, foi o caso que é recente, inclusive, o soltíssimo da Sadia que trouxe uma alternativa de embalagens para queijos, que é um produto altamente perecível com a possibilidade de refechamento, então olhando para esse elo do momento do consumo. Teve um case também que eu sempre ilustro na questão logística, né, porque a gente nunca pensa no transporte, mas o transporte traz um impacto muito grande e ai, um olhar alguns anos daquele Ipê que conseguiu manter o volume de detergente acondicionado, mas reduzindo a altura da embalagem, aumentando um pouquinho na largura e com isso, ele conseguiu no momento do transporte, pôr uma caixa a mais, um volume de caixas a mais num mesmo caminhão otimizando muito o sistema de distribuição. Deixa eu pensar em mais um case, então é importante ver isso, não existe em sustentabilidade uma única verdade, uma única solução e provavelmente, esse é o grande desafio. A gente sempre busca uma solução, uma verdade que resolva o assunto e sustentabilidade é você olhar para cada produto, para sua cadeia, então justamente, distribuição de consumo e entender quais são os impactos mais significativos nessa cadeia e como que então eu vou mitigar esses impactos, como que eu vou reduzi-los, só que cada caso é um caso, né? Você pode, lógico, se apropriar de referências, de benchmark, de tecnologias, mas o olhar é muito individual para cada caso onde eu vou trabalhar e como eu falei, ainda tendo essa possibilidade de olhar para diferentes estágios do ciclo de vida de um produto. Então, nesse processo de produção tantas embalagens que hoje já têm uma espessura muito menor, então, a tecnologia para você ter estabilidade, reduzindo essa espessura, mesmo na questão de rotulagem, esse uso do In-Mold-Label, que é uma tecnologia onde o rotulo, na verdade, ele é impresso na própria embalagem, onde você daí, facilita o processo de reciclagem, porque você no precisa separar o rótulo da embalagem, você pode ter um único processo de reciclagem que vai reciclar tudo. Então, são diferentes alternativas que estão à disposição, mas o trabalho é esse olhar individualizado, cada produto vai ter o seu histórico, vai ter o seu ciclo de vida com seus impactos potenciais e a indústria buscando, então, onde ela reduz esse impacto e ai, por isso, inclusive, essa ferramenta, essa última que a gente disponibilizou do jogo, que é onde você faz a avaliação por produto. Então, é uma forma de mostrar que cada um tem a sua história, tem as suas propriedades e ajudando a indústria a olhar como que ele vai reduzir o impacto daquele produto em si, individualmente. E acho que essa é uma das belezas de se trabalhar com sustentabilidade, né? É um assunto tão amplo, ele é tão complexo e de fato, ele é de difícil entendimento, porque é um tema que é só calcado em variáveis, sempre são variáveis e variáveis, então esse é o nosso desafio: como levar isso para a sociedade de uma forma que ela… mais harmonizada que ela consiga entender, como trabalhar para a indústria de uma forma harmonizada para que ela possa tomar atitudes e ações e trabalhar numa eficiência e o desafio é esse, mostrando para todo mundo que não existe o bom e o ruim, o mal, o ótimo. É realmente uma analise individual, porque é um assunto amplo, abrangente, complexo que interliga diferentes variáveis e isso vai muito de encontro com o que as pessoas querem, que é buscar uma solução mais prática, quererem uma única solução, essa é a verdade absoluta, não. Em sustentabilidade, a gente sabe onde a gente quer chegar, nessa eficiência, nessa revalorização, nessa entrega devida a sociedade onde você tem acesso sem desperdício, para que você tenha uma eficiência no uso de todos os recursos naturais, mas isso vai acontecer de diferentes formas, não vai acontecer de uma forma só. E ai, só completando um pouquinho no que se refere a outras referências que a gente vem criando, a gente trabalha muito lá na ABRE também buscando referências internacionais, se alguém já se debruçou sobre um assunto, como que a gente traz isso para o Brasil? Para a nossa indústria nacional já se apropriar desse conhecimento? Então, a gente tem traduzido alguns documentos também, então, recentemente, a gente traduziu alguns sobre analise sobre ciclo de vida, como que eu faço essa avaliação, quais são as premissas, como que a gente cria, de novo, uma harmonização para que toda indústria faça calcada nas mesmas premissas e com isso, você tenha uma base de comparação mais sólida, que você tenha referências mais solidas, então a gente traduziu esse documento, traduzimos também, recentemente, um documento sobre desperdício de alimentos, então, como que você usa a embalagem para reduzir a perda de alimentos e o desperdício de alimentos, então isso calcado num esforço internacional que existe hoje que é: vamos reduzir a perda do desperdício de alimentos. No mundo, a gente desperdiça em torno de 1/3 dos alimentos produzidos, ao mesmo tempo, tem pessoas que não têm acesso, a população mundial tá crescendo, os recursos justamente para você produzir um alimento, você usa muito recurso natural, como que a gente otimiza isso que já foi produzido, como que a gente evita essa perda. Então, hoje a gente tem por meio da WPO, que é a Organização Mundial da Embalagem um esforço coletivo internacional para que a indústria de embalagens faca parte dessa discussão e principalmente, pela busca de soluções, onde a gente incentiva novas soluções em termos de estrutura de embalagem, de funcionalidade, de tecnologias que vão reduzir tanto as perdas de produtos durante o processo de produção, de distribuição, de comercialização, como o desperdício no momento em que ele já está com o consumidor e ele acaba desperdiçando, acaba não consumindo. Então, nós criamos já em 18 países uma categoria nos prêmios nacionais de cada país que vão reconhecer e valorizar novas soluções, alternativas e tecnologias que venham contribuir para reduzir perdas e desperdício de alimentos. E aqui no Brasil a gente criou, a ABRE criou também essa categoria no Prêmio ABRE, nós tivemos esse ano, em 2016, os primeiros vencedores, onde justamente entram alternativas para refechamento das embalagens para que o produto possa ser consumido até o final sem que você tenha perda daquele produto e uma alternativa, também, onde uma embalagem por meio da sua estrutura viabiliza o consumo integral do produto não permitindo que você tenha resíduos que no final, você não consegue consumir e caba perdendo. Então, são temas que vão evoluindo, né, cada vez a nossa sociedade vai trazer uma demanda diferente, vai trazer um desafio diferente, vai ter um tema que é mais urgente a ser trabalhado e a indústria de embalagens vai acompanhando essas demandas. A indústria de embalagens evolui de uma forma muito precisa junto com a sociedade, tanto em relação ao seu desenvolvimento econômico social, como também justamente aos seus anseios, aos temas que são relevantes para aquela sociedade, ao seu comportamento, aos seus hábitos. Então, a embalagem ilustra muito bem quais são os hábitos daquela geração, daquela sociedade, qual que é a dinâmica econômica, qual que é o desenvolvimento do varejo, né, o próprio desenvolvimento do varejo traz uma influência muito grande na apresentação das embalagens e ele, o varejo tá atrelado ao desenvolvimento econômico social de um país. Então isso a gente percebe na própria história do Brasil, a evolução que a gente foi tendo na indústria de embalagens é uma evolução que acompanha a evolução da nossa sociedade. Então, acho que o principal marco é a partir do Plano Real, quando a gente passou ater uma abertura de mercado, quando o Collor abriu o nosso mercado como também é uma estabilidade econômica e a partir daí, um crescimento econômico social que permitiu que a indústria se desenvolvesse já com base numa sociedade que estava crescendo economicamente e com isso, as embalagens se desenvolvendo para atender essa sociedade. Então, um processo de evolução continuo e mesmo no que se refere à sustentabilidade, também. Hoje, qual que é o tema que a gente precisa trabalhar? O quê que é o mais urgente que a gente precisa trabalhar no que se diz respeito à sustentabilidade? Então, é eficiência no uso de recursos naturais? É eficiência nessa recuperação? Numa revalorização? É eficiência na redução de desperdícios de produtos? A sociedade vai apresentando temas que a indústria precisa trabalhar e apresentar soluções para atender aquela nova demanda da sociedade.
P/1 – E como você acha que o Brasil se posiciona em relação à reciclagem?
R – O Brasil se posiciona muito bem em relação à reciclagem pela história do desenvolvimento da reciclagem no Brasil, né, o quê que aconteceu? A reciclagem no Brasil nasceu calcada numa necessidade social e econômica e ai, por traz disso, o ambiental, mas principalmente, toda uma cadeia de reciclagem, ela se desenvolveu voluntariamente no Brasil por causa dessa questão econômica e social. Então, a gente tem, de fato, uma regulamentação muito recente de 2010, mas quando essa regulamentação chegou, a gente já tinha uma indústria de reciclagem operando no Brasil e operando de uma forma diferente do que em outros países, porque a gente sempre focou, de fato, nessa recuperação das matérias-primas, passou a reinserção num processo produtivo, então, enquanto outros países como Estados Unidos, Japão, Europa, todos os países da Europa focam muito na reciclagem energética, eles tiram a energia dos materiais, o Brasil sempre ficou na reciclagem mecânica. Então o que a gente desenvolveu até agora foram soluções em reciclagem mecânica pra gente recuperar aquela matéria-prima e agora, começam a se fortalecer outras iniciativas, então a gente buscando novas tecnologias para uma reciclagem química, por exemplo, alternativas e soluções diferentes, quem sabe no futuro, também a energética dando uma solução para materiais que não são viáveis de reciclagem mecânica tanto no aspecto técnico como no aspecto econômico, mas a questão é que como essa infraestrutura da reciclagem no Brasil, ela foi se desenvolvendo de acordo com uma própria necessidade social e econômica do país, no momento em que chegou a lei, inclusive, a gente teve que falar: “Como que a gente agora fortalece essas ações em curso, principalmente integra essas relações em curso?”, porque elas estão acontecendo ainda de uma forma muito pulverizadas, de uma forma individuais, mas faz tudo isso sem prejudicar toda essa infraestrutura que já existe, porque a gente não vai começar do zero, não é o seguinte: eu assinei uma lei hoje, a gente vai começar a reciclar, não, as tecnologias de reciclagem já estão ai, as industrias de reciclagem já estão ai, porque em alguns casos dos materiais de embalagem, a reciclagem pode acontecer por meio do próprio fabricante de embalagem, como é no caso do vidro, por exemplo, ai no caso do fabricante de matéria-prima, do aço e do alumínio que vão fabricar novas chapas para depois vender para um fabricante de embalagem, ou no caso dos materiais celulósicos, os próprios fabricantes de celulose reciclam e reincorporam essa fibra na celulose dos materiais que vão ser fabricados, mas por exemplo, no caso dos plásticos, você tem uma indústria 100% recicladora, não é a indústria de embalagens que recicla, mas e uma indústria que se especializou nessas tecnologias e equipamentos para reciclagem. Então, todo esse parque industrial da indústria de reciclagem já nasceu no Brasil há algumas décadas, ele se fortaleceu e ai, agora, com a lei que é mais recente, como a gente faz então esses anseios da lei se integrarem com essa cadeia que já está tão estabelecida, como a gente formaliza essa cadeia, como a gente fortalece essa cadeia e principalmente, como a gente otimiza esforços, né, acho que principalmente, o objetivo é: vamos otimizar a infraestrutura, os esforços para que essa cadeia de reciclagem seja mais eficiente. É muito importante que a nossa sociedade tenha a consciência de que a reciclagem não acontece por um diletantismo, né, um idealismo: vou reciclar porque isso é bom. Ela é uma atividade industrial com finalidade econômica, a cadeia da reciclagem, ela traz um aspecto, uma inclusão social muito importante, então o aspecto social é trabalhado ao longo dessa cadeia e a atividade de reciclagem em si, ela é industrial, como qualquer outra empresa, que para ter o seu crescimento, para ter a sua viabilidade, para ter os seus investimentos, ela tem que ter uma viabilidade econômica. Então, a gente tem, já, esse esforço de empresários que investiram no desenvolvimento dessa indústria, da indústria de reciclagem e o nosso principal desafio, então, é fortalecer. E fortalecer, principalmente, a partir de uma visão de país, né, como que a gente como país vai ajudar essa cadeia se fortalecer se a partir de agora a gente entendeu que é fundamental a gente viabilizar essa cadeia de reciclagem? E por quê que eu falo isso? Porque muitas vezes a gente vê politicas, questões regulatórias, questões tributarias que acabam, muito pelo contrário, desfavorecendo a cadeia de reciclagem, que oneram o sistema, que travam muitas vezes esse sistema, então você tem uma carga tributaria excessiva, você tem em alguns aspectos uma regulamentação que desfavorece o processo de reciclagem, mas por outro lado, a gente como país e hoje tendo essa regulamentação, entendendo que é vital para o Brasil, a recuperação desses recursos naturais, o valor que eles têm, a geração de empregos que tá ligada a isso, esse ganho econômico, uma atividade econômica e o próprio ganho para a sociedade como um todo, uma vez que você vai desviando um resíduo que vai ser colocado num aterro e vai ocupar espaço em solo, ele poderia estar sendo recuperado, mas como então, como país, hoje, a gente fortalece essa reciclagem? Como que a gente cria politicas que vão ajudar essa atividade a crescer? Então, a gente sente, ainda, muito essa falta desse entendimento do todo, né, e de novo, sustentabilidade não é uma ação isolada, ela pressupõe o olhar de um sistema. E como que a gente trabalha as diferentes interfaces, os diferentes elos desse sistema para que essa sustentabilidade flua da melhor forma? E ai, no caso da reciclagem e esse fortalecimento dessa indústria de reciclagem é algo que precisa ser fortalecido no Brasil. Então, se a gente comparar o Brasil em relação a outros países no que diz respeito a infraestrutura de reciclagem, nós estamos muito bem desenvolvidos, sim, estamos muito bem desenvolvidos, inclusive, pensando que foi algo que como eu falei, não foi regulamentado, mas foi sim, criado a partir de uma demanda de crescimento econômico, social e ambiental e ainda enfrentando uma desarticulação em termos de apoio, em termos de infraestrutura e a partir do momento que a gente conseguir equalizar essas questões, essa indústria de reciclagem só vai crescer, mas tem o desafio do equalizar, porque ai você tem que envolver diferentes elos da sociedade que precisam isso, trabalhar pelo todo e não trabalhar mais individualmente só pela sua área de atuação.
P/1 – Tem alguma coisa que você quis falar e que não falou, algum assunto?
R – Deixa eu pensar. O quê que poderia ser que eu não tenha falado?
P/1 – Qual o maior desafio hoje?
R – Temos alguns desafios hoje, então, como eu falei, primeiro, essa visão como país, justamente, pra gente fortalecer essa cadeia de reciclagem. É uma cadeia que a gente sabe que é importante crescer, mas ela ainda sofre restrições e mesmo questões que impactam, que limitam o seu desenvolvimento, então, como que a gente favorece… cria uma situação econômica que favoreça o desenvolvimento dessa atividade? Isso como uma ponta de reciclagem, a gente tem essa questão ainda, da organização dos sistemas de coleta do lixo urbano, de logística. O Brasil, então, na verdade ainda tem muita carência no que diz respeito a saneamento básico, então a gente vê ainda muitos municípios que não conseguem oferecer um saneamento básico e isso inclui uma coleta adequada de resíduos, tô vindo de trás para frente, a questão do consumidor, né, esse engajamento por descarte, então essa conscientização, mas é interessante ver que estão interligados, a partir do momento que o consumidor percebe um sistema de coleta mais eficiente, ele se sente mais motivado a descartar, a coletar e isso acontece a partir do momento que você tem uma indústria fortalecida. Então, são fatores que estão interligados e a gente precisa, de fato, olhar o todo e tentar dentro desse todo, como que a gente trabalha cada parte para que a gente fortaleça essa cadeia de reciclagem no Brasil.
P/1 – Quais são as coisas mais importantes para você hoje?
R – Pra mim são pessoas, né, sem dúvida nenhuma minha família e esse olhar de realmente como que a gente forma um ser humano? Como eu falei, eu percebo que eu tive tanto apoio pra minha formação, como que eu transmito isso? Então hoje a minha preocupação é realmente transmitir conhecimento pela posição que eu ocupo numa entidade setorial, que tem uma institucionalidade muito grande, eu tenho acesso a diferentes informações, como que eu compartilho isso, porque tá muito claro que o desenvolvimento depende das pessoas, desse processo de educação, processo de capacitação, de engajamento das pessoas. Então, pra mim o importante é isso, como que eu dissemino conhecimento, para quem tá mais perto de mim, como que eu influencio essa pessoa, então os meus filhos, como que eu vou criar esse valor dentro deles? Porque não é falar, é realmente você criar um valor, algo que fique dentro da pessoa e algo que direcione as ações, as atitudes dessa pessoa e ao mesmo templo, claro, estando à frente da ABRE, como que eu ajudo essa cadeia a se desenvolver, não só se desenvolver sozinha, mas como que eu ajudo essa cadeia, justamente, a se conectar com os demais elos da sociedade? Como que eu ajudo essa informação permear outros elos da sociedade? Porque se essa informação não permeia, a gente acaba tendo um limite para o nosso desenvolvimento, então a gente precisa fazer com que toda sociedade esteja harmonizada no entendimento, no conhecimento, nas informações, para que juntos a gente possa se desenvolver. Então, é um trabalho que tem que ser feito continuamente, todo dia, sem dúvida nenhuma. Felizmente, a ABRE conta com uma equipe muito boa de trabalho, de pessoas altamente engajadas que acreditam na importância tanto da embalagem como na importância da associação para promover esse crescimento do setor e ao mesmo tempo, com empresas associadas e profissionais que também acreditam na associação e na construção desse trabalho conjunto, na importância da gente criar essas referências conjuntas. E o nosso desafio e continuar evoluindo, cada ano é diferente do outro, cada ano a gente traz uma referência nova, uma harmonização nova e tenta mobilizar mais um elo da sociedade. Hoje, o nossos objetivo é chegar mais próximo do consumidor, entender como que a gente se comunica melhor com esse consumidor, como que a gente troca informações, então, como que a gente escuta a sociedade para entender o que é relevante, para entender os seus anseios e como que daí, a gente leva informação também? Então, já estamos trabalhando nessa troca com as pessoas e ao mesmo tempo, alcançar o Brasil todo, né? Como que a gente consegue, daí, apoiar pequenas empresas, pequenos empresários, empresas do Brasil todo escutando quais são as suas demandas, as suas questões e como que a gente leva informações também, possibilita essa troca, porque é um país tão grande, um país com tantas possibilidades e de fato, se a gente apoia tanto pessoas como empresas para crescerem, elas vão crescer, né, a pessoa quando tem uma oportunidade de fazer uma diferença, ela tende a trabalhar e fazer essa diferença. Então, a nossa preocupação, hoje, é como que a gente conecta todo esse universo, esse ecossistema da indústria de embalagens com a sociedade, com os órgãos governamentais e reguladores, como que a gente consegue cada vez mais ter uma harmonia para ter um trabalho harmonizado e consistente para um crescimento para a sociedade como um todo, né, que beneficia a sociedade, que traga um ganho para toda sociedade.
P/1 – E quais são os seus sonhos?
R – Pessoais?
P/1 – Fica à vontade.
R – Todos os meus sonhos…
P/1 – Um sonho…
R – Deixa eu pensar, qual sonho que eu vou falar? É difícil falar de um único sonho, mas vamos ver, eu realmente assim, o que eu almejo sempre é ter saúde para continuar trabalhando, vivendo, é ter essa capacidade para ser uma boa mãe para os meus filhos, uma boa amiga, uma boa pessoa para aqueles que estão a minha volta, é ter essa tranquilidade para se ter isso e continuar a ter acesso a aprendizado, a informações, a um crescimento pessoal que me enriquece tanto, né, isso que me alegra na vida, poder estar sempre crescendo, aprendendo, entendendo coisas novas e ai, saber como transformar isso em algo que também repercuta em outros… o meu sonho é continuar tendo acesso a diferentes experiências, a diferentes países, que eu possa conhece-los, que eu possa proporcionar essa experiência para os meus filhos, para eles terem essa bagagem rica de vida, para que eles entendam todas as possibilidades que a vida pode oferecer, né, o quanto que a gente pode alcançar, o quanto que a gente pode aprender e como isso é bom, eu acho que é o mais rico da vida é a gente poder evoluir sempre, sempre como pessoa, como ser humano e realmente, eu espero ter condições de continuar esse processo de evolução.
P/1 – E como é que foi contar a tua história, aqui, hoje?
R – É difícil, né? Assim, começar a contar a minha história, tudo que eu passei, até porque eu sou uma pessoa reservada, eu não faço questão de ficar falando de mim, mas foi tudo bem, acho que deu para sobreviver (risos), eu só não vou assistir. Eu só prometo que não vou assistir, não vou. Eu não posso (risos).
P/1 – Mas o quê que você sentiu, assim?
R – Achei que foi difícil, eu achei um pouco difícil.
P/1 – Não pareceu.
R – Eu achei difícil, porque… você fala: “Gente, o quê que eu vou falar que é relevante?”, porque assim, como que eu vou contar, como que as coisas vão fazer sentido? Eu achei difícil, mas tudo bem.
P/1 – Tá legal. Obrigada Luciana.
R – Obrigada.
FINAL DA ENTREVISTA
Dúvida:
E ai, trabalhando com pessoas muito inteligentes como a Silvia Rolim da Plastivida que tem um conhecimento técnico muito bom, muito importante, o ____00:48:30____ que também tem uma formação nessa área e ai, a gente conseguiu com outras empresas do setor […] – Página 10.
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