P/1 – Boa tarde, Luis, obrigada por você ter vindo. Você poderia me dizer seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Luis Fernandes Ceribelli Madi, nasci no dia 4 de abril de 1949 em Mirassol, estado de São Paulo.
P/1 – E a sua família é de Mirassol?
R – Família de Mirassol. Família Madi, originalmente ficou naquela região. Para complementar, para fazer alguma coisa mais íntima e diferenciada arranjamos cinco encontros da família Madi em Mirassol.
P/1 – É uma família grande.
R – É uma família grande, na média de 300 pessoas, com pico de 400 pessoas em uma festa de três dias.
P/1 – E os seus pais são de Mirassol?
R – Minha mãe é falecida, nasceu em Campinas e meu pai está com 92 anos e nasceu em Olímpia, estado de São Paulo.
P/1 – E qual era a atividade deles?
R – Minha mãe era professora e meu pai era alfaiate. Minha mãe de origem italiana e meu pai de origem libanesa. É uma combinação muito comum, muito boa no estado de São Paulo.
P/1 – Tem muito isso no estado de São Paulo?
R – É, italiano com libanês é uma coisa bastante interessante.
P/1 – E vocês são em quantos irmãos?
R – Nós somos em quatro.
P/1 – E em Mirassol vocês moravam na cidade?
R – Na cidade.
P/1 – E você é o mais velho?
R – Sou o segundo, depois de Mirassol eu fui estudar em Campinas. E peguei o segundo ano da faculdade de engenharia de alimentos. Então, até o relacionamento com a Tetra Pak, e tudo, engenharia de alimentos, já fui a segundo turma de engenharia de alimentos do Brasil. Aí me formei e aí no dia dois de janeiro de 1973 entrei no ITAL (Instituto de Tecnologia de Alimentos), para trabalhar na área de embalagem. Que também está de outra forma ligada a Tetra Pak.
P/1 – E você foi fazer engenharia de alimentos, o que te moveu para ir para a faculdade?
R –...
Continuar leituraP/1 – Boa tarde, Luis, obrigada por você ter vindo. Você poderia me dizer seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Luis Fernandes Ceribelli Madi, nasci no dia 4 de abril de 1949 em Mirassol, estado de São Paulo.
P/1 – E a sua família é de Mirassol?
R – Família de Mirassol. Família Madi, originalmente ficou naquela região. Para complementar, para fazer alguma coisa mais íntima e diferenciada arranjamos cinco encontros da família Madi em Mirassol.
P/1 – É uma família grande.
R – É uma família grande, na média de 300 pessoas, com pico de 400 pessoas em uma festa de três dias.
P/1 – E os seus pais são de Mirassol?
R – Minha mãe é falecida, nasceu em Campinas e meu pai está com 92 anos e nasceu em Olímpia, estado de São Paulo.
P/1 – E qual era a atividade deles?
R – Minha mãe era professora e meu pai era alfaiate. Minha mãe de origem italiana e meu pai de origem libanesa. É uma combinação muito comum, muito boa no estado de São Paulo.
P/1 – Tem muito isso no estado de São Paulo?
R – É, italiano com libanês é uma coisa bastante interessante.
P/1 – E vocês são em quantos irmãos?
R – Nós somos em quatro.
P/1 – E em Mirassol vocês moravam na cidade?
R – Na cidade.
P/1 – E você é o mais velho?
R – Sou o segundo, depois de Mirassol eu fui estudar em Campinas. E peguei o segundo ano da faculdade de engenharia de alimentos. Então, até o relacionamento com a Tetra Pak, e tudo, engenharia de alimentos, já fui a segundo turma de engenharia de alimentos do Brasil. Aí me formei e aí no dia dois de janeiro de 1973 entrei no ITAL (Instituto de Tecnologia de Alimentos), para trabalhar na área de embalagem. Que também está de outra forma ligada a Tetra Pak.
P/1 – E você foi fazer engenharia de alimentos, o que te moveu para ir para a faculdade?
R – É uma área nova. Você tem uma idéia, 1973 eu fiz engenharia de alimentos, acabei me formando – desculpe eu me formei em 1973, entrei em 1968 – me formando em uma turma de catorze engenheiros. Hoje, no Brasil, nós temos aproximadamente mil engenheiros por ano, formados. Uma área nova com uma oportunidade bastante, e me chamava alimentos, depois começou a me chamar embalagem. Aí eu entrei na área de embalagem do ITAL, em 1973. Nós éramos em três pessoas. Hoje são 90 pessoas trabalhando na área de embalagem do ITAL.
P/1 – O ITAL já existia há quanto tempo?
R – A Tetra Pak comemora 50, o ITAL comemorou 44 esse ano, 45 o ano que vem.
P/1 – E o ITAL tinha relação com a faculdade? Como que foi?
R – A faculdade de engenharia de alimentos nasceu dentro dele. A faculdade, quer dizer, você tinha na realidade um acordo de faculdades, tudo era governo do estado de São Paulo, um acordo que toda parte de processamento das plantas de alimentos eram feitas no ITAL, Instituto de tecnologia de alimentos. Depois houve uma separação – que a meu ver foi um evento infeliz – que acabou duplicando e fazendo a FEA, a faculdade de engenharia de alimentos, na universidade, e o ITAL. Eu acredito que por outros caminhos nós poderíamos estar juntos até hoje.
P/1 – E como foi a sua chegada no ITAL? O ITAL, você falou que tinha três pessoas.
R – Veja bem, o ITAL, você tinha naquela época – nós estamos falando de 1973, alguns anos atrás – no Brasil já tinham doze engenheiros de alimentos da primeira turma; depois catorze engenheiros de alimentos da segunda turma. Para o Brasil inteiro. Então, eles falavam assim: “aonde você quer trabalhar? Você quer trabalhar na indústria, você quer trabalhar na universidade ou você quer trabalhar no ITAL?”, que é o que tinha ali na área de tecnologia de alimentos. Eu olhei, falei: “professor nunca foi meu negócio… Indústria pode ser mais tarde”, aí eu resolvi trabalhar no ITAL. No ITAL tinha algumas áreas. Áreas de carnes, área de processamento de frutas e hortaliças e área de embalagem. Eu acabei olhando, “aqui pode ter alguma coisa interessante”, mas não sabia que era tão interessante.
P/1 – E você entrou fazendo o quê?
R – Você entra no instituto fazendo pesquisa, desenvolvimento, assistência tecnológica, capacitação e treinamento. Só que naquela época nós conhecíamos muito pouco da indústria da embalagem no Brasil. A indústria de embalagem no Brasil era muito primitiva, era muito pequena na verdade. Então nós começamos a estruturar a área de embalagem, a formar; e aí foi crescendo e nós estamos comemorando a criação do CETEA (Centro de Tecnologia de Embalagem) – 25 anos – dia seis de novembro agora, em um evento bastante interessante, onde a gente mostra a história do CETEA, do centro de embalagem, desde a parte quando ele não era embalagem, ele era seção de embalagem e acondicionamento, onde eu entrei, na realidade. Eu entrei na seção de embalagem. Era uma área promissora, nós conhecíamos muito pouco, o Brasil estava iniciando a área de pesquisa, de desenvolvimento, de assistência tecnológica. E hoje é uma área muito mais desenvolvida.
P/2 – O Centro, como Centro, foi exatamente em que ano?
R – O Centro como Centro foi exatamente há 25 anos atrás, em 1982. Inclusive com a inauguração do; não, 1982 foi a criação, depois em 1983 que foi a inauguração do CETEA, com os laboratórios, tudo, com o presidente Figueiredo.
P/1 – A relação do CETEA sempre foi próxima também da indústria, ou era mais da academia?
R – Bastante interessante isso, porque nessa, no fato de contar a história dos 25 anos do CETEA, apareceu uma coisa que nós pegamos os books que a gente tinha lá de trás, de 1980, 1981 – entrou toda essa parte aí – e a gente sempre foi focado no mercado, tanto indústria, empresa, como o governo. Mas era focado nas demandas de mercado. Eu acho que esse é o ponto mais importante. Nós tivemos por alguma razão a felicidade de lá atrás, há 25 anos atrás, estar focando, estar organizando. Então, os trabalhos, as capacitações, os treinamentos, tudo, foram baseados na demanda. E aí nesse caso, especificamente, da iniciativa privada. E da parte governamental dessa parte de sanidade, da parte de inocuidade de alimento, da parte de qualidade de alimentos, também que dá todo um apoio hoje, a vários ministérios, a várias secretarias, nessa área de segurança alimentar.
P/2 – E quando você entrou qual era o foco desta seção?
R – O foco era assim: vamos criar alguma coisa que nós temos quase nada. Em outras palavras, nós não conhecíamos o mercado, você não tinha ideia do que era a área de embalagem no Brasil, no mundo era muito pouco. Até participo dessa história porque eu entrei no ITAL em 1973, em 1974 já me mandaram para – me mandaram mesmo – falaram, “você vai para os Estados Unidos”, na melhor escola de embalagem do mundo, que é a Escola de Embalagem da Universidade Estadual de Michigan, Michigan State University, e aí eu consegui, acabei sendo o primeiro engenheiro com mestrado em embalagem no Brasil. Inovando, até participei recentemente dos 50 anos, já que nós estamos falando dos 50 anos da Tetra Pak, dos 25 do CETEA – eu participei como professor adjunto dos 50 anos da Escola de Embalagem da Michigan State University. Que é uma coisa bastante interessante. Daí nasceu toda a ideia da criação de um processo mais organizado.
P/2 – E o CETEA, aí nessa fase onde ele já estava um pouco mais organizado, nesse sentido, qual era o papel dele? Desenvolver novas embalagens, estudar as embalagens já existentes e propor novos caminhos? Qual caminho?
R – Você está falando por mim. Quer dizer, uma instituição de pesquisa de desenvolvimento e assistência tecnológica é exatamente isso: você vai analisar embalagens, avaliar embalagens, ser um elo balizador do mercado, ser um ponto de vista neutro. Aí a grande vantagem, tanto o CETEA quanto o ITAL, de ser uma instituição neutra: ela não tem interesses comerciais. Ela não tem interesses, ela tem um interesse que é o benefício da sociedade. Ela é feita para atender as necessidades da sociedade, por isso mesmo é uma instituição governamental. Claro que integrada com a universidade. Então, a parte de desenvolvimento de embalagens, de desenvolvimento de produtos. E trazer com que as empresas – e aí um belíssimo exemplo é a Tetra Pak no Brasil – as empresas evoluam no seu processo de ter produtos de qualidade para oferecer à população.
P/2 – E esses benefícios também são voltados para o governo, no sentido das organizações governamentais que utilizam embalagens na distribuição de seus produtos?
R – Políticas públicas, passa muito por aí. É o que o governo faz, uma política pública de qualidade de alimento, de sanidade alimentar, tudo; ele está protegendo a população, ele está fazendo com que a população cresça, que a população tenha um desenvolvimento melhor; e ele está, inclusive, otimizando os seus processos. Quer dizer, a hora que você tem uma população mais saudável você tem menos gastos em saúde, e assim por diante. Você tem menos gastos em uma série de coisas. Então, essa otimização de processo visando uma melhoria de qualidade da população, é fundamental para nós. E a gente participou muito, e participa, da forma indireta; não diretamente com a população, mas auxiliando as empresas, auxiliando o governo a implantar suas políticas públicas e as empresas a melhorar a qualidade de seus produtos. Quer de embalagem, que de produtos alimentícios e bebidas.
P/2 – E hoje qual é a composição no sentido de profissionais? Quais são os profissionais que compõe basicamente o ITAL? São engenheiros?
R – O ITAL tem nove unidades técnicas. Uma unidade técnica é o Tecnolat, que se você for hoje no Tecnolat você vai encontrar uma bela planta de processamento da Tetra Pak lá, que está lá há vários anos. Lembrando que muito desses produtos que nós temos no mercado saíram de estudos, de projetos feitos lá dentro do ITAL, dentro dessa unidade técnica, Tecnolat. Então, o ITAL está dividido basicamente em três blocos: um bloco é um bloco que nós chamamos de técnico analítico, onde você tem área de microbiologia, de avaliação sensorial, a parte de análises químicas e produtos – toda essa parte técnico analítica está ligado, é uma área bastante forte – só lembrando, o ITAL em 1998 já teve a ISO 9000 em 2000; em 94 depois a 9000 em 2000; agora já está com 180 laboratórios habilitados pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), já está com 37 ensaios habilitados pelo INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). Quer dizer, nós saímos na frente da maioria das instituições, no campo qualidade. E certificação é fundamental para os dias de hoje, então, nesse grupo nós temos, uma boa parte é engenheiro de alimentos, mas misturado com engenheiro químico, com químico, com biólogos, com engenheiro mecânico, engenheiro elétrico. Você tem uma combinação, onde a tendência vai no lado da engenharia porque ela é a área de pesquisa, desenvolvimento na área de alimentos. Mas é importante hoje, está claro para nós depois de alguns anos de experiência, que essa diversificação de formações profissionais é muito melhor que você ser só engenheiro de alimentos, só uma coisa. É muito melhor assim.
P/2 – E existe um desenvolvimento de produtos, de alimentos no ITAL independente de parcerias com o mercado?
R – Existe. Você tem parceria, tem atendimento a demanda. Você tem desenvolvimento que podem ser estratégicos para o futuro. Por exemplo, vou pegar dentro de desenvolvimento de embalagens onde eu tenho um conhecimento maior: você desenvolve uma série de produtos, de embalagens de papelão ondulado para produtos hortifrutícolas, antes deles até serem introduzidos no mercado. E isto, depois a gente colocou à disposição para, no caso a BBO com as empresas associadas que participaram desse projeto. Nós desenvolvemos uma série de produtos, de sucos, uma série de produtos de misturas, de bebidas, que agora, depois começam a ser adquiridas e utilizadas no mercado. Vamos pegar algum exemplo que não está ligada à parte de bebidas, produtos líquidos. Nós desenvolvemos um palito de mandioca congelado, que pode ser frito com baixo teor de gordura, que é uma forma de você consumir mandioca, uma forma operacional, aproveitamento quase total através de um processo de extrusão, que ainda não tem no mercado, vai aparecendo no mercado.
P/1 – Mas como que ocorre isto? Você falou agora do palito da mandioca, como que ocorre? Vocês desenvolveram toda a técnica, aí vê uma empresa privada ela compra isso de vocês, é assim?
R – Depende, em alguns casos ela pode comprar, em alguns casos isso aí é oferecido para o desenvolvimento socioeconômico do Estado, do país. Depende do da fonte, da origem do projeto. Quer dizer, nos projetos de fomento, no caso a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que financia a pesquisa no estado de São Paulo, isso é público. No caso da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), que financia no governo federal a pesquisa, é público. Em alguns casos a gente faz até estrategicamente para nós buscarmos conhecimentos anteriormente para depois oferecermos às empresas. Na área de embalagens tem um que, eu acho que é extremamente emblemático para nós, que é da análise do ciclo de vida ligado à ISO 14000, ambiental, e nós olhamos no mundo, e no mundo estava-se – não estou falando de agora, estou falando de dez anos atrás – e no mundo estava-se falando muito na importância do meio ambiente ligado ao setor de embalagem. E a Tetra Pak sabe muito bem o que é isto, se não me falha a memória foi a primeira empresa a ter ISO 14000 no Brasil. E aí fomos atrás de tecnologia, conseguimos um projeto FAPESP, trouxemos essa tecnologia, conseguimos um projeto depois, junto à iniciativa privada, e hoje o melhor, de longe, o projeto de análise de ciclo de vida que existe no Brasil, é o projeto do CETEA; integrado com vários segmentos: metálicas, cartonadas, vidros, plástico, celulose. De todo esse sistema, um banco de dados nacional; com dados de transporte nacional, energia nacional. Não são dados onde você busca dados europeus, dados americanos, onde você faz uma extrapolação e aí utiliza. Não, são dados que nós levantamos junto ao mercado, e isso é uma ação pró-ativa muito importante, típica de um centro de pesquisa. Que você visualiza onde vai ser uma demanda futura do mercado, você antecipa, busca informação, monta uma estrutura, treina seu pessoal e vai passando isso tanto para o governo quanto para iniciativa privada. Isso é um exemplo muito positivo que nós fizemos, e hoje é considerado um exemplo assim, de como deve ser feito. E o Brasil utiliza muito ainda esses dados de análise do ciclo de vida do CETEA.
P/1 – Como se dá a sustentabilidade do ITAL?
R – Eu criei uma… Falo eu porque eu que fiz mesmo… Através de um tripé orçamentário. Na minha opinião, eu falo isso com 35 anos de ITAL, eu tenho uma boa experiência e conheci centros de pesquisa em 50 países do mundo, na parte de alimentos e na parte de embalagens. Ficou claro com todo esse conhecimento que uma instituição de pesquisa, hoje, no futuro, ela se baseia em um tripé orçamentário. O tripé é alguma coisa do governo, que pode ser governo estadual, governo federal, ela tem uma perna do tripé na sustentação governamental, ela tem a outra na sustentação de fomento; e aí fomento pode ser internacional, o fomento pode ser estadual, pode ser municipal, até algumas para o futuro vão aparecer; e a outra bate na iniciativa privada. Então através de projetos integrados, até de que nós criamos um modelo associativo. Então, esse tripé que é baseado em três fontes diferentes de recursos, na minha opinião, dá uma sustentabilidade, respondendo à sua pergunta, de uma instituição do presente para nos próximos 20 anos. O Brasil sofre muito porque as instituições aprenderam a ser dependentes do governo, isso é muito ruim. Existem instituições que dependem exageradamente do mercado, isso é muito ruim. Então se nós tivermos esse equilíbrio de governo, mercado e fomento, uma hora você tem mais aqui, tem menos ali, e você consegue exatamente este termo que eu acho que é fundamental: a sustentabilidade de uma instituição.
P/1 – Voltando só um pouquinho, você falou que foi para Michigan, foi em 1974. Você ficou quanto tempo?
R – E fiquei dois anos lá, voltei para cá e aí eu assumi a área de embalagens do ITAL.
P/1 – E você foi exatamente fazer um mestrado em embalagem. Esquecendo um pouquinho a Tetra Pak nessa fase, eu queria que você falasse: existia uma diferença muito grande do que você acabou lendo, porque você foi a fundo na questão da embalagem lá, com o que se desenvolvia no Brasil em termos de embalagem?
R – Existia, existia um distanciamento muito maior do que existe hoje entre a situação brasileira e a situação internacional, em específico dos Estados Unidos. Você tinha Estados Unidos e Europa e até Japão em um desenvolvimento tecnológico de embalagem muito superior ao Brasil. Hoje você tem algumas coisas no mesmo nível; algumas outras o Brasil até é mais bem desenvolvido. Então era muito contrastante naquela época, o que felizmente hoje não é tanto. Então, eu vi lá uma escola de embalagem, estudando e fazendo você analisar, fazendo você se preparar para voltar aqui e com isso desenvolver embalagens dentro de uma instituição, onde nós aqui tínhamos poucas condições. Não tínhamos equipamentos, não tínhamos laboratórios, ou muito pouco. E hoje se você for visitar lá vai ser uma surpresa extremamente agradável. O pessoal que vi lá diz, isso aqui não é um país em desenvolvimento. Não, isso aqui é uma parte desenvolvida em um país em desenvolvimento. Mas nós conseguimos trazer isso e montar aqui no Brasil, com esse tripé orçamentário.
P/1 – Parece-me que o ITAL também, nessa planta piloto, que seria da Tecnolat, instituições, inclusive de outros estados, vem para aprender e ver, como no caso serve como uma instituição de apoio ao Instituto Cândido Tostes que fica em Juiz de Fora. Então o ITAL também apóia instituições de fora do estado de São Paulo?
R – Com certeza. Apesar de que nós temos uma instituição do governo, do estado de São Paulo. Você, por algumas razões que é difícil de entender, apesar dos meus 35 anos não consigo entender o porquê você não conseguiu expandir esse modelo para outros estados. Então existe uma carência muito grande em instituições de pesquisa e desenvolvimento na área de alimentos em vários estados do Brasil. Razão pela qual o ITAL é demandado o tempo todo, inclusive os são Paulo. É para atender a demanda do Brasil. Hoje, acabei de ver uma reunião dos trabalhos feitos pela Tetra Pak, de longe, não para atender a demanda do estado, do conselho consultivo do CETEA criado em 1978. Essa parte está bem fresca na cabeça porque nós ficamos a manhã inteira discutindo um projeto, quer dizer, como um conselho participa disso. E na reunião saiu assim: nós temos que preparar o CETEA e automaticamente o ITAL, para a América Latina. Nós temos que, uma vez fortalecido, você está falando de estado e você está falando de Brasil, e eles estão falando já de Mercosul, e eles estão falando de América Latina. Depois de países em desenvolvimento. E é um processo normal, quer dizer, o ITAL já teve uma participação muito forte em desenvolvimento para países latino-americanos e africanos. Aí isso aí diminuiu porque as agências, OEA (Organização dos Estados Americanos) e tudo, acabaram diminuindo essas ações no Brasil. Mas já foi bastante utilizado. Então hoje a gente trabalha muito mais com a iniciativa privada e buscando esses contatos que, eu tenho certeza, vão ser integrados – quando eu falo Mercosul, países latino americanos, o Chile participa, tem buscado algumas atividades dentro do próprio ITAL, e não está no Mercosul propriamente dito. Então isso aí é bastante interessante; é você olhar o mercado já não mais como um mercado do estado, não mais como um mercado do país, do Brasil, e é um mercado onde você ajuda o desenvolvimento. É claro que aí entram considerações outras que você tem que analisar se nós temos interesse ou não de estrategicamente falando como Brasil. De fazer isso.
P/2 – Existe em algum outro estado um órgão correlato ao que será o ITAL para o estado de São Paulo?
R – Em tecnologia de alimentos não. Existia o CEPED [Centro de Pesquisa e Desenvolvimento] na Bahia, que foi baseado até um pouco no modelo do ITAL, e aí o governo não deu sequência nisso. Existe o IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná), no Paraná, mas ele é muito mais parecido com o Agronômico, com o Instituto Agronômico de Campinas do que com o ITAL. Então ficou na realidade uma instituição atípica no Brasil, porque a maioria desses trabalhos está ligada às universidades, que têm, ou faculdades de engenharia de alimentos, ou faculdades correlatas, por exemplo, no caso de agricultura, ou de engenharia agrícola, ou de farmácia. Que de uma certa forma permeia no segmento de processamento de alimentos, ou tecnologia de alimentos. Mas não ficaram instituições como o ITAL na parte de tecnologia de alimentos. E é até uma coisa interessante de se analisar. E daí? Qual o futuro nosso? Adiantando a pergunta, eu fazendo a pergunta e dando a resposta, você faz o seguinte. Quando nós analisamos, em 1973, quando eu me formei, você não tinha um centro de pesquisa da Parmalat, você não tinha um centro de pesquisas da Tetra aqui no Brasil, você não tinha um centro de pesquisas da Sadia, da Perdigão, da Nestlé, da Unilever. Você não tinha, hoje você tem. Mas, o que a gente olha é o seguinte: esses centros de pesquisas privados, que não existiam em 1973, ou quando da criação do ITAL, em 1963, eles na realidade tem um objetivo muito orientado à seus mercados. Cabe aqui, a gente está buscando inclusive tecnologias; focando de novo na planta que nós temos de assépticas Tetra Pak, em uma série de produtos que podem ser focados para pequenas empresas, para cooperativas. Para o mercado específico de produtos do Norte, do Nordeste; coisas diferenciadas, que essas grandes empresas multinacionais estão fazendo. Então existe um nicho de mercado que nós temos que saber explorar, que vai depender da nossa habilidade; se formos hábeis nós vamos conseguir sucesso, senão, não.
P/1 – E uma coisa que muitas pessoas que estudaram em colégio público no estado de São Paulo, que concordam, é a questão do leite de soja que era distribuído pelo governo, que teve uma parceria Tetra Pak e ITAL esse desenvolvimento. Você acompanhou esse desenvolvimento?
R – Sim, eu peguei esse desenvolvimento lá no ITAL. Não, porque não era a minha área, a minha área era embalagem, mas era uma área que estava ligada ao Tecnolat e uma outra área de processamento de óleos. E é interessante analisar, porque em 1983, quando da inauguração do CETEA, nós tivemos a infeliz ideia de colocar o leite de soja, que estava sendo desenvolvido naquela época, para o nosso ex-presidente João Figueiredo. Que na cerimônia nós o preparamos: “ó, o senhor vai provar um leite que está em desenvolvimento”, você entende? E ele pega o leite e fala: “nossa, que coisa ruim!”. E hoje você tem todo desenvolvimento tecnológico com base de soja, que as pessoas nem conseguem rastrear um sabor residual daquele produto que tinha soja naquela época. Uma evolução fantástica de tecnologia, que iniciou daquele jeito. Inclusive das embalagenzinhas, mas que é um processo normal. Era a tecnologia que se tinha na época. Era o conhecimento científico tecnológico que você tinha na época. Hoje você tem muito mais artifícios, mecanismos, que você pode ter produtos excelentes, do ponto de vista de saúde pública, muito bom, porque tem uma ação funcional, além de que, que ajuda muito hoje.
P/1 – E Luiz, quando você entrou em 1973, a Tetra Pak já estava em parceria, é meio uma parceria, Tetra Pak e ITAL? Nessa época o que se fazia? Como era essa relação?
R – O foco era muito no leite. O foco, eu lembro, inclusive de ex-presidentes da Tetra Pak, o que eles orientavam, era muito no produto leite. Por quê? Porque era o produto. Então você tinha todo um sistema de distribuição de leite no Brasil, um país continental, tropical, com um sistema de refrigeração não adequado. Trinta anos atrás, que seja, 35 pior. Então a solução asséptica era uma das coisas muito lógicas, muito óbvias, para você falar assim: “aqui eu elimino perda, eu elimino contaminação e tudo”. Então, e onde? No leite. Porque você não tinha outros produtos. Coisas que nós temos hoje diferenciadas, quer dizer, o leite é um produto, o carro chefe, acredito ainda, mas você tem uma gama de outros produtos, inclusive sucos, que entraram para o mercado dando uma complementação alimentar, uma ação funcional, que não tinha. Naquela época foi para melhorar inclusive a qualidade. Você tinha uma perda e contaminação de produto na cadeia, muito grande. E o asséptico resolvia esse problema.
P/1 – E qual foi o impacto, na sua opinião, dessa embalagem em um país continental como o nosso, para o setor alimentício?
R – Acho que foi um exemplo assim, muito bom, o resultado disso. O Brasil, não tenho os dados estatísticos de memória, mas acredito o Brasil ser um dos grandes consumidores de leites assépticos do mundo. Muito positivo. E principalmente você não tendo cadeia de frio tão adequada. Eu acompanhei de perto – esse exercício que nós estamos fazendo hoje faz lembrar sem ter preparado muito a memória, mas faz lembrar. Um médico chegava e falava assim: “mas como pode um produto ficar fora da geladeira e não estragar?” Os médicos na época, muitos deles, não entendiam. Eles não eram engenheiros. Um conceito já pré definido dentro de uma sociedade como o Brasil. E aí, eu lembro, uma coisa interessante de ser constatada, de alguns boatos, algumas informações falsas que passavam. Falavam que colocavam formol dentro das embalagens, para preservação. Um negócio assim. Por quê? Porque foi uma novidade, um avanço tecnológico em benefício da sociedade, pegando outros mercados, até de baixa qualidade; e fazendo com que isso mudasse as perspectivas futuras de mercado. E a Tetra Pak acho que foi muito feliz na conscientização. Houve vários debates explicando como funcionava o sistema, mostrando a vida útil. E aí, nós entramos como uma instituição dando um aval de credibilidade de uma instituição governamental neutra, onde nós queríamos o quê? Nós queríamos o bem da sociedade, nós queríamos um produto de qualidade no mercado. Então isso foi muito bom para o Brasil, essa mudança de conceito. Mas se nós formos rastrear lá atrás, nós vamos ver que nós encontramos muitas dificuldades por essa quebra de paradigmas. Ninguém entendia direito: para a sociedade o leite tinha que ser em saquinho e na geladeira. E você mudou o conceito.
P/1 – E a sua relação profissional com a Tetra Pak ela tem início aí ou foi um pouquinho depois?
R – Ela foi um pouquinho depois. Inclusive, agora não lembro direito, eu participei, quer dizer, procurando entender, aí eu estava ligado ao segmento da embalagem. Tetra Pak, embalagem, e aí como uma área do ITAL. Eu fui a três centros de pesquisa da Tetra Pak conhecer como se trabalhava. Se não me engano em Lund, na Suécia; depois foi na Alemanha e na Suíça. Nós fomos a três lugares para ver como trabalhavam o desenvolvimento de produtos, a base de embalagens assépticas, para fazê-lo melhor dentro do ITAL. Então nós participamos assim, ativamente, desses desenvolvimentos, desde aquela época, no ITAL. Quase que todos ainda focados no segmento de leite.
P/2 – Como você mesmo colocou agora, era muito focado no setor de leite na década de 1970. Atualmente muitos produtos, hoje em dia muitos sólidos são oferecidos.
R – Particulados, não sólidos, particulados.
P/1 – Exatamente, como o milho e outros tipos de grãos e tal. Como você vê o mercado nesse sentido? De uma concorrência mesmo dessa oferta de embalagens desse tipo em uma gama muito maior de produtos.
R – Eu vejo de uma forma muito positiva. Eu já fui treinado a ser diretor do centro de embalagens, eu fui durante 25 anos diretor do centro de embalagem. Já foi o suficiente. Agora eu sou o diretor do ITAL, tentando ver de uma forma mais abrangente. E fui assim, sempre tentando dentro de uma instituição pública, trazer oportunidades para embalagens cartonadas, tipo Tetra Pak; embalagens metálicas, embalagens de vidro, embalagens plásticas. Hoje você tem uma gama desses diferentes tipos de embalagens para embalagem asséptica, de todos esses tipos, para o mercado brasileiro, para o mercado internacional. Então a gente incentiva muito isso. A grande vantagem do sistema Tetra Pak é a sua operacionalização, sob baixa perda na realidade e, de uma certa forma, o seu aproveitamento com baixo custo. Isso ajuda muito. Mas eu já vi em alguns segmentos você ter, por exemplo, produtos à base de tomate: molho de tomate, etc, tudo em vidro, depois passou para lata. Aí chegou a Tetra Pak, todo mundo veio para Tetra Pak e hoje ele é mais bem distribuído, dependendo do segmento do mercado que você vai trabalhar. Mercado mais sofisticado gosta de usar embalagem de vidro para a apresentação, que seja, acho que isso é salutar no mercado. É bastante salutar você ter oportunidades e cada um buscando o seu nicho. Aí é um trabalho de marketing, de mercado, de cada empresa visando os seus diferentes segmentos. Mas, não tenho dúvidas, ele trouxe uma inovação; a hora que ele trabalha com particulados trouxe uma outra inovação e nós vamos ver no futuro mais ainda. Lembrando que, em sendo um país tropical, o Brasil, onde suco ainda é um produto inexplorado a meu ver. O potencial de produção de sucos diferenciados, comparado com o que existe no mundo, o mundo conhece o quê? Suco de laranja, suco de maçã, suco de tomate. Os produtos que nós temos aqui, do Norte em especial, são fantásticos, para você fazer as misturas com sabores e aromas e cores e texturas. As pessoas podem nem conhecer direito. Você tem um potencial de exploração, dentro inclusive do sistema Tetra Pak, fantástico.
P/1 – Luiz, você poderia falar assim, de projetos que vocês desenvolveram juntos com a Tetra Pak. Você lembra de alguns?
R – O projeto de óleo comestível. Fizemos um projeto de vários tipos de embalagens. Nós sempre trabalhamos dentro do Centro de Embalagem, um projeto de óleo comestível. Projeto comparando vida de prateleira de produtos a base de tomate, comparando vidro, lata e cartonadas assépticas. Nós fizemos uma série de projetos onde a gente buscava naquela época, por não termos informações, dados comparativos de vida útil, comparando uma embalagem com outra; de resistência ao sistema de transporte e distribuição, através de simulações de choque de vibração, que tem hoje dentro do CETEA. E foram trabalhos assim, bastante positivos, e que nós sempre pautamos pela ética profissional. Inclusive tanto o ITAL como o CETEA estabeleceram lá atrás seu código de ética para saber como a gente trabalha. E isso aí foi extremamente positivo para nós. O leite de coco. Foram vários trabalhos que vários segmentos do ITAL trabalharam de forma diferenciada. Eu lembro, da minha parte eu lembro muito de óleo comestível. Quando nós tínhamos a ideia que seria uma embalagem, na minha opinião ainda é uma embalagem alternativa, como é para água, como é para vinho. Dependendo do mercado que você for trabalhar. Com a vantagem hoje, que nós não tínhamos há cinco, dez anos atrás, que são os sistemas de fechamento, de disposição dos produtos. Era tudo na base do corte e aquilo tinha uma dificuldade. Hoje a Tetra Pak tem uma atuação maravilhosa graças a essas melhorias tecnológicas.
P/1 – E quando vocês desenvolvem esses projetos, assim, a Tetra Pak tem a embalagem e tem a empresa que é cliente dela, vamos falar de uma Parmalat, que tem o produto para ser envasado. Vocês acabam conversando: essas três instituições, essas três empresas.
R – Obrigatoriamente.
P/1 – São desenvolvidas algumas coisas em conjunto?
R – Fica, você pode até fazer sem, mas fica extremamente difícil e sai do objetivo tanto nosso como da empresa de embalagem que é a Tetra Pak, você fazer isso para um determinado produto, sem uma vinculação no mercado. É muito mais prático você fazer isso de forma orientada. Como é feito hoje. Hoje, cada vez mais, tem uma empresa de suco, tem uma empresa de leite, tem uma empresa de algum produto lácteo, tem uma empresa de soja, que ela quer desenvolver, você assimila tudo e desenvolve o produto que ela já pode sair dali com previsão para soltar no mercado.
P/2 – Você falou no começo da entrevista que o ITAL está baseado em um tripé: fomento, governo e iniciativa privada. O resultado do ITAL também, na verdade, serve para a academia, para o mercado e para o próprio governo.
R – O tripé funciona do mesmo jeito.
P/1 – E com relação, você também falou da embalagem, da reciclagem, no caso das embalagens cartonadas assépticas. Hoje existem tecnologias como a tecnologia plasma, com a qual o aproveitamento das embalagens se dá em 100%. Eu queria saber o que você conhece da reciclagem desse tipo de embalagem específica?
R – Eu conheço da reciclagem uma forma generalizada, em vários segmentos. Inclusive com o nosso querido colega Fernando von Zuben, que nós trabalhamos já, lá atrás. Até lembrando com a Elisa Miranda, hoje reingressada na Tetra Pak, nós estávamos lembrando de 1990. Quinze anos atrás, 1990, 1992, quando nós organizamos em conjunto, e com o apoio da Tetra Pak, os primeiros eventos de reciclagem de embalagem, ou na realidade de aproveitamento do resíduo sólido urbano, naquela época. E nós fizemos isso no ITAL, coordenado pelo CETEA, onde nós chamamos as municipalidades, onde nós trouxemos a tecnologia. No caso, vocês nem tinham Tetra Pak, nem tinha desenvolvido tanto essa tecnologia de separação e reaproveitamento, como é feito. E começamos a incentivar, e começamos a trazer experiências internacionais para mostrar para o Brasil, que o melhor caminho seria o caminho que as empresas junto com o governo, iniciativa privada junto com o governo, tomariam uma iniciativa em conjunto antes de termos regulamentações, de uma certa forma isolada, por parte do governo, exigindo da iniciativa privada, ações. Porque nós tínhamos visto na Holanda, nós tínhamos visto em outros países, que onde havia um acordo em comum entre as partes, o resultado era muito melhor para a sociedade. Porque uma ação isolada ali do governo, até orientada dependendo do que fosse o tipo do governo. E isso foi muito importante para nós irmos adquirindo. Aí nós percebemos que era uma área que saia um pouco do escopo da nossa área técnica de embalagem. E era uma mais uma orientação tecnológica. Os nossos laboratórios não facilitavam esse tipo de estudo. Onde apareceu até o CEMPRE (Compromisso Empresarial para a Reciclagem), empresas especializadas, e hoje eu acho que o Brasil é um modelo para quase todas as embalagens do mundo. Inclusive o reaproveitamento de embalagens cartonadas, alumínio, o plástico. Mostrando que uma ação estratégica organizada antes da conscientização da sociedade facilita bastante. É o que foi feito no caso Tetra Pak, na minha opinião.
P/2 – Como você vê o futuro do mercado das embalagens como um todo?
R – Eu sou bastante, para mim é o seguinte, não tem futuro de produto se não tiver futuro de embalagem. Não tem, eu não consigo enxergar hoje desenvolvimento de produto alimentício, se nós não tivermos na área de embalagem. Nós não conhecemos, eu não conheço tanto ainda, mas nós estamos observando e vendo, a equipe técnica do CETEA conhece muito mais, estou um pouco distante da parte técnica. Mas tem para alimentos como para embalagens nanotecnologias. Nanopartículas, que está cada vez mais entrando em vários segmentos da indústria do mundo, e o Brasil está relativamente adiantado em relação ao mundo nessa parte, onde você vai ter nanopartículas com funções muito bem definidas. Para melhorar a preservação de produtos alimentícios, para melhorar a informação do produto ser acondicionado, para informar simulações de transporte e temperatura, o que seja. Você olha, isso aí está inexplorado ainda, você olha, quem vai ganhar com isso? O consumidor, não tenha dúvida. O consumidor vai saber, já tem tecnologias para isso, vai saber se aquela embalagem passou de uma temperatura limite dela; ou se ela era refrigerada, se era congelada, o que seja. Através do desenvolvimento tecnológico da embalagem, eu pego um exemplo bem prático, que são os dispositivos de utilizar os produtos das embalagens cartonadas Tetra Pak. Você pega e olha e diz assim: como é que se fazia quando não tinha isso? Quer dizer, era difícil, mas se fazia; prendia. Hoje, você reutiliza perfeito, não tem contaminação de algum outro produto, é uma coisa muito, muito, mas muito positiva. Se você pensar daqui há cinco, dez anos, vai ser muito mais sofisticado e o foco vai ser o ganho da população. O ganho da população muito grande. Saindo um pouco do segmento da linha cartonada que nós estamos cada vez que eu olho, vou consumir torradas, que é um produto muito saudável para gente usar em café. Você olha e fala assim: em tempo único você abria, tinha 22 torradas lá, dois dias depois aquilo lá tinha que pôr no forno de novo para poder consumir, hoje você tem, de dois em dois, de duas em duas torradas; embalagens até individuais. Isso é um exagero, e as pessoas que não entendem embalagem, não entendem de sistema cometem erros. “Isso aí é um abuso da sociedade”. Porque não está vendo o desperdício, ele não está vendo o que pode estar por de trás. Quinze anos atrás o Institute of Packaging Protection, dos Estados Unidos lançou Mitos e Realidades sobre embalagens, e eu uso até hoje em algumas conversas assim, como eles foram felizes. Imagina hoje com a população brasileira, o sistema que nós temos, se nós não tivéssemos embalagens descartáveis. A proliferação de doenças que nós teríamos. O problema de saúde pública como seria? Se nós não tivéssemos todo o esquema que nós temos de assépticos cartonados. O quão complicado seria isso para o Brasil. E eu falo Brasil porque o Brasil 8,5 milhões de quilômetros quadrados, é um país tropical, São Paulo, domingo, tava 34 graus no grande prêmio. Quer dizer, tava lembrando que é temperatura de verão já. Isso aí é extremamente complicado. E é muito minimizado graças ao sistema de embalagem. Eu acho que o futuro vai agradecer muito mais ainda ao desenvolvimento de embalagem.
P/1 – Qual a importância na sua opinião dessa parceria entre o ITAL e a Tetra Pak?
R – Essa importância é difícil de ser medida hoje. Porque hoje nós estamos mais preocupados em trabalhos que a gente faz, de estar detectando qual a importância que nós vamos ter no futuro. Mas do passado nós não tínhamos essa visão. Quando nós desenvolvíamos produtos a base de soja, quando nós desenvolvíamos diferentes sucos, diferentes produtos diferenciados, nessa parceria ITAL, Tetra Pak, nós não tínhamos na mente, que impacto isso vai ter na sociedade brasileira, que impacto isso vai ter na economia brasileira. Então fica muito difícil você rastrear o passado e mostrar com dados mais precisos a importância que teve isso. De uma forma intuitiva de passado eu diria assim, que grande parte desse desenvolvimento que acabou ocorrendo no Brasil foi graças a essa parceria inicial. Longe de falar que o ITAL foi o responsável, a Tetra Pak foi a responsável. A Tetra Pak é muito mais responsável nesse ponto, porque ela incentivou o mercado, ela atuou no mercado, ela influenciou o mercado. O ITAL foi uma ferramenta de colaboração, que é nossa função. Nossa função é ser uma ferramenta de colaboração; nós somos uma instituição governamental a serviço do mercado, da sociedade. Mas eu tenho certeza que foi extremamente positiva e que teve uma influência significativa, infelizmente difícil de ser quantificada, do que é hoje com base do que nós tivemos no passado.
P/2 – E sobre os planos do ITAL?
R – A grande dica para o ITAL, em expressão bem popular, é encontrar um caminho dentro desse novo cenário. Nós temos um cenário que nós não tínhamos, eu falei em parte, nós temos cenário de centros de pesquisas privadas, nós temos cenário das universidades entrando, desenvolvimento científico e tecnológico que nós não tínhamos, a universidade era para ensino; a universidade hoje é para pesquisa, desenvolvimento. E nós temos que olhar e falar assim: onde nós vamos focar? Quer dizer assim, que áreas nós vamos atuar? Então, por exemplo, essa área de embalagem é certamente estratégica. Nós temos, por exemplo, uma área técnico-analítica que o ITAL é referência no Brasil. A área de chocolates, balas e confeitos o ITAL é referência no Brasil. Você não tem, apesar de ter empresas, as empresas – até as multinacionais – elas utilizam o ITAL. Então o nosso futuro vai estar dependendo da nossa capacidade de trabalhar o tripé e encontrar os caminhos complementares, inclusive de empresas multinacionais e grandes como a Tetra Pak. Saindo daquele sistema que: “não, nós queremos fazer o projeto de tudo”. Esquece, não faz mais projeto de tudo, você faz segmentos, que você tem a sua capacidade, a sua especialização; que é muito difícil ter isso em outros lugares e complementa com isso. Há um segmento de médias e grandes empresas, pequenas e micro empresas têm um outro potencial fantástico, e aí depende muito do governo. Porque não adianta o ITAL com seus diferentes centros, querer atuar isoladamente. Tem que ter apoio governamental para o desenvolvimento e ampliação de pequenas e micro empresas. Com nichos, mas lembrando que não podem ser empresas de produtos de baixa qualidade, tem que ser empresas com produtos, pode ser sem grandes inovações tecnológicas, pode até ser, produtos populares, mas tem que ser de qualidade. De qualidade. Então existe, e aí entra SEBRAE [Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa], entram as agências de fomento, pode entrar até BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) para apoiar essas empresas que vão dar, de uma forma maior, a geração de emprego e renda de uma forma mais consistente do que através de grandes núcleos de empresas grandes. Isso é muito estratégico, mas aí nós, em absoluto, vamos trabalhar sozinhos. Não dá, isso aí depende de ações governamentais: tanto estadual como federal.
P/1 – Falando em avanços tecnológicos, que você acabou de falar, nesses anos de parceria entre o TAL e a Tetra Pak, quais os avanços tecnológicos que você observou?
R – Boa parte dos avanços nós tivemos no desenvolvimento do material da Tetra Pak. O material é um material tecnologicamente muito melhor desenvolvido que atrás. Diferentes formatos de embalagens. Você tinha o tetraedro lá, com a coisa padrão; depois apareceu o retangular e hoje você tem o potencial de fazer praticamente os formatos que você desejar. Claro que há algumas limitações, você tem a parte de dispositivo para retirada do produto. Você tem a parte de processamento, com otimização através de engenharia, que transferem ao produto uma qualidade organoléptica melhor. Então eu acho que essas somatórias de melhorias tecnológicas, acredito que vão trazer, já trouxeram, um patamar de desenvolvimento muito grande. Agora, eu acredito em uma mais sofisticada que possa vir, inclusive com outros processos de processamento, uso de nanotecnologia que eu estou procurando entender um pouco mais, disso onde os técnicos já conhecem. Mas que vai dar à sociedade produtos de melhor qualidade, produtos mais confiáveis. E aí, cada segmento da área cartonada é um potencial muito grande. E nós pretendemos, eu já to com 35 anos, e pretendo ficar mais ou menos dez anos no ITAL ainda, porque eu gosto do que eu faço, gosto de trabalhar lá. Com diferentes atividades, mas eu acredito que nós aproveitando a oportunidade tivemos, com Paulo Nigro e a equipe, recentemente, estive conversando com Heloisa ontem, recentemente, sobre um plano de ação entre o ITAL e a Tetra Pak, no sentido de mudarmos o patamar de atividade nossa e de resultados. É extremamente recente, eu estou falando de outubro, setembro de 2007, a nossa conversa que nós tivemos para mudarmos o patamar de colaboração. Darmos um salto aproveitando que quando eu era diretor do CETEA, Paulo Nigro era um dos diretores da Tetra Pak; e hoje eu sou diretor geral do ITAL e ele é presidente da Tetra Pak Brasil. Quer dizer nós vamos aproveitar esse trabalho de quinze anos atrás que nós fizemos juntos. Ele foi para um lado, eu fui para outro, agora nós nos encontramos. “Vamos fazer isso daqui uma coisa de melhor sucesso, com melhores resultados para nós”. E eu tenho certeza que nós vamos conseguir.
P/1 – Aproveitando o que você está falando, dessa conversa que você teve recente com o Paulo Nigro, a Tetra Pak não me parece, pelo que você acabou de falar, um a empresa burocratizada, existe uma facilidade de conversa, de entendimento?
R – Se eu fosse falar pela interação ITAL Tetra Pak, com certeza ela não é burocratizada, eu não tenho dados além.
P/1 – Não, eu falo dessa relação.
R – Através dessa relação, há uma simplicidade, inclusive com o presidente, da mesma forma que com outros funcionários, visitando o ITAL, de uma forma extremamente simples, humilde, informal. Do jeito que a gente gosta de trabalhar. Sem muito rigor nas formalidades, o que interessa para nós é resultado; é isso que nós precisamos estar focando. Eu acho que essa junção nossa, da minha gestão e a gestão do Paulo, acho que daremos um salto.
P/1 – Você falou logo no começo que você visitou alguns centros de pesquisa da Tetra Pak. A Tetra Pak em geral – não digo só a Tetra Pak Brasil, Monte Mor, Ponta Grossa [PR] e Argentina, que também faz parte desse bloco; eles vão ao ITAL?
R – Acabam indo pela planta. A planta é um elemento interessante. Mas você falando me veio à mente as visitas e é uma coisa hoje, bastante discutida aqui, que eu vivenciei com Tetra Pak há 20 anos atrás. Que é investimento em pesquisa e desenvolvimento. Hoje, é claro, existe uma correlação direta, países que investem em pesquisa e desenvolvimento tem um desenvolvimento socioeconômico muito mais rápido do que países que não investem. Eu acho que a Tetra Pak, lá na sua criação, foi muito feliz porque um trabalho dela constante era o investimento em pesquisa e desenvolvimento. E ela colheu os frutos. Acho que é bastante óbvio isso, quer dizer, você investiu onde nem todos investiam; nem todos tinham a conscientização… Nem sei o grau de conscientização que se tinha na época, mas eu sei é da realidade, quer dizer, o investimento que foi feito, a clareza de que você tem que ter produto inovador para você continuar ganhando mercado, para você continuar crescendo no mercado. Então eu acho que isso fez da Tetra Pak uma empresa muito diferenciada. E eu falo com toda a tranquilidade, eu sou de uma instituição governamental neutra, defendo outros segmentos no caso de embalagens. Mas nesse caso, extremamente positiva a vontade, a decisão política em investimento em pesquisa e desenvolvimento. Que começa a aparecer mais em vários outros segmentos, tanto na área de alimentos como na área de embalagens.
P/1 – Você poderia falar um pouquinho mais a respeito dessa planta Tetra Pak com o ITAL?
R – Essa é a parte que eu devia ter lembrado de ter buscado um pouco mais de dados, mas eu vou falar de uma memória que não é o meu forte, meu forte é anotação, eu anoto para que eu possa buscar informações, trazer informações. Mas essa planta foi trabalhada em vários segmentos, inclusive com produtos de tetraedro para distribuição, para fazer testes em merenda escolar e coisas desse tipo, ela foi evoluindo e hoje ela é multi-usuária do ponto de vista para diferentes produtos, que é um segmento maior. O que nós estamos discutindo é como fazer disso um potencial maior ainda; é como fazer, por exemplo, daqui a pouco nós estamos interessados em sorvete, nós estamos interessados em outros produtos que você pode futuramente utilizar com outros setores da Tetra Pak inclusive, que é fazer disso uma planta modelo dentro dessa estrutura do tecnolat que nós temos. E esse é o resumo da conversa que nós estamos tendo. Eu como diretor do ITAL e Paulo Nigro como presidente da Tetra Pak.
P/2 – Sobre essa questão da memória: a Tetra Pak comemora agora 50 anos e o ITAL 45.
R – Semana que vem.
P/2 – Como você vê a importância do resgate da história dessas instituições, no caso da Tetra Pak estar fazendo esse projeto?
R – Eu acho excelente, eu comecei falando da família Madi, através desse exemplo eu vou chegar no ITAL, eu vou chegar na Tetra Pak, eu vou chegar no CETEA, que eu fiquei buscando nesses últimos dois meses aí fotos de documentos, que não é da cultura nossa, Brasil, essa preservação da história. Da família, em 1996, nós tivemos as bodas de ouro de meu pai, e nós estávamos em um final de festa em um grupo e eu falei assim: “vamos fazer uma festa da família Madi?” Vamos. Em 1997 nós estávamos fazendo o primeiro encontro da família Madi, com 400 pessoas. Como resumo disso nós publicamos um livro: receitas e histórias da família Madi. Muito bonito. Mas, esse é o lado positivo, para o lado negativo, que eu não consegui juntar, um esforço suficiente através de documentações, para que a gente escrevesse um livro da história da família Madi no Brasil. Perdeu-se, perdeu-se através de documentos, ninguém conseguia ter registro de vinda, de navios que vieram do Líbano e tudo, foi-se perdendo, perdendo, hoje é praticamente impossível de resgatar. Como é importante você ter isso como um incentivo para que a história esteja sempre resgatada. Para que você coloque através de museus, através de uma série de demonstrações, nós vamos fazer agora os cinco posters do CETEA, colocando 1979, 1971, 1980, mostrando a história, mas com uma carência de documentos muito grande. De registros oficializados que não tem isso. As instituições não guardam isso de uma forma geral. Então, parabenizando os 50 e lembrando que o Brasil mudou nesse aspecto. Agora nós vamos fazer arquivo todo ano. Fica até mais fácil, você põe no disquete e guarda, você entende? Ou filma, guarda. E esse resgate é muito rico. Esse resgate é histórico. Um dia eu gostaria de colaborar com a história da embalagem no Brasil, mas não contado como a ABRE (Associação Brasileira de Embalagem), ela contou a história através da parte de rotulagem, da parte da apresentação visual. Eu um dia, talvez aposentando do ITAL, penso em juntar um grupo aí, uma ONG aí, e vamos escrever a história da embalagem no Brasil através de desenvolvimentos tecnológicos. Pegar, por exemplo, a tentativa de lata asséptica no Brasil, 25 anos atrás que não deu certo. Quer dizer, fazendo purê asséptico de produtos, quer dizer, uma série de coisas assim, contando essa história, para deixar de registro para sociedade futura. É muito bonito isso. Eu adoro fazer isso. Acho que é uma pena que eu tenha vivido uma época que isso não era valorizado, e valorizo muito inclusive a Tetra Pak que está fazendo esse trabalho. Registrando esse trabalho para a história do Brasil.
P/1 – Luiz, nós estamos no final, e eu queria te perguntar de alguma coisa que você acha importante nesses anos de parceria Tetra Pak e ITAL, que nós não te perguntamos, que você não falou, que você acha que é bom estar pontuando, estar levantando.
R – Eu acabei colocando sem vocês perguntarem. É a percepção e a orientação e a decisão política da Tetra Pak em investimento em pesquisa e desenvolvimento. Eu acho que isso o Brasil já mudou, os resultados disto nós vamos sentir mais para frente, nós vamos sentir mais no futuro. Porque essas coisas são muito lentas trazendo como resultado para nós. Mas isso sempre me marcou. Quer dizer, é uma empresa que investe em pesquisa e desenvolvimento. Isso é muito positivo.
P/1 – Você quer deixar algum recado, alguma coisa para a Tetra Pak?
R – Que comece a trabalhar agora com a história dos cem anos da Tetra Pak no Brasil. Porque a babá, agora fica muito mais fácil de ter, eu tenho certeza que nos cem anos da Tetra Pak você vai ter uma história muito mais complexa para se contar, significa que você vai ter que ter a coleta de dados de uma forma muito mais bem organizada do que tivemos no passado. Parabenizar os 50 anos, grande parte deles o ITAL esteve como parceiro, colaborador da Tetra Pak. E com certeza estaremos juntos nesse novo projeto, Tetra Pak e ITAL.
P/1 – E a Tetra Pak tem como lema: protege o que é bom. O que é bom para você?
R – No caso, no que é bom, tem várias coisas boas. Bom alimento, bom meio ambiente. Hoje, até foi uma das bandeiras que a Tetra Pak pegou na parte ambiental, ela é muito importante. Desde a conscientização de coleta seletiva, é muito bom. Nós temos dois lados aí de sustentabilidade dessa parte ambiental, e isso, claro que esse momento que nós vivemos de aquecimento global e tudo, faz você refletir e um lado extremamente positivo. A sociedade já está consciente, vai reagir positivamente, vai passar interesses outros que os econômicos, e vai fazer da nossa sociedade uma sociedade mais justa do ponto de vista ambiental, do ponto de vista social. Então o sócio ambiental passa a ser uma área que até um instituto de pesquisa que começa a pensar o seguinte: realmente, nós não podemos só pensar, nós temos que pensar em várias coisas boas. No caso de alimento, no caso social, no caso ambiental. E a gente trabalhar de uma forma mais harmônica, o que não é muito simples.
P/1 – Você quer falar mais alguma coisa?
R – Não, eu queria só agradecer a oportunidade e estaremos sempre colaborando com vocês.
P/1 – E nós te agradecemos por você ter vindo. Obrigada.
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