IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Guilherme Pontes Galvão França, nasci no Rio de Janeiro no dia 18 de janeiro de 1959.
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Sou engenheiro químico formado pela UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro].
INGRESSO NA PETROBRAS
Havia me formado no final de 1981 e tinha uma bolsa de pesquisa pelo CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] no Cenpes [Centro de Pesquisa e Desenvolvimento]. No segundo semestre de 1992, começaram a surgir provas para a Petrobras, muita coisa no jornal, pensei: “tenho que dar uma estudada”; me desliguei do CNPq e fiquei estudando em casa para as provas. A primeira foi para essa área que se chamava Comercialização e Suprimento, hoje é Comercialização e Logística. O curso era o Cosup [Curso de Comercialização e Suprimento de Petróleo e Derivados]. Passei, foi o meu primeiro emprego. O curso de formação começou em primeiro de dezembro de 1982 e se estendeu até agosto ou setembro de 1983.
A bolsa do CNPq era para uma pesquisa junto à área de fertilizantes da Petrobras no Cenpes. Não tive dúvida nenhuma em entrar na Petrobras, tinha uma bolsa com tempo determinado. O curso já direcionava; você faz a prova e sabe onde vai trabalhar. O Cosup era para trabalhar na área comercial, antigo Decom, o departamento comercial – já teve 500 nomes depois dele, mas na época era Decom. Fui trabalhar na área de Logística, dentro do Decom, separou muitos anos depois.
DIVISÃO DE PETRÓLEO
Logo que entrei fui direto pra Dipet, que era divisão de petróleo, no Sesup, setor de suprimento de petróleo. A importação de petróleo era muito grande, ao contrário de hoje, não tinha exportação nenhuma. Fazíamos a programação de importação de petróleo dos fornecedores no exterior, trazíamos para o Brasil e alocávamos esses óleos nas refinarias para produzir os derivados necessários ao abastecimento do país. Fazíamos a mesma coisa com a produção nacional, a gente pegava...
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Meu nome é Guilherme Pontes Galvão França, nasci no Rio de Janeiro no dia 18 de janeiro de 1959.
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Sou engenheiro químico formado pela UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro].
INGRESSO NA PETROBRAS
Havia me formado no final de 1981 e tinha uma bolsa de pesquisa pelo CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] no Cenpes [Centro de Pesquisa e Desenvolvimento]. No segundo semestre de 1992, começaram a surgir provas para a Petrobras, muita coisa no jornal, pensei: “tenho que dar uma estudada”; me desliguei do CNPq e fiquei estudando em casa para as provas. A primeira foi para essa área que se chamava Comercialização e Suprimento, hoje é Comercialização e Logística. O curso era o Cosup [Curso de Comercialização e Suprimento de Petróleo e Derivados]. Passei, foi o meu primeiro emprego. O curso de formação começou em primeiro de dezembro de 1982 e se estendeu até agosto ou setembro de 1983.
A bolsa do CNPq era para uma pesquisa junto à área de fertilizantes da Petrobras no Cenpes. Não tive dúvida nenhuma em entrar na Petrobras, tinha uma bolsa com tempo determinado. O curso já direcionava; você faz a prova e sabe onde vai trabalhar. O Cosup era para trabalhar na área comercial, antigo Decom, o departamento comercial – já teve 500 nomes depois dele, mas na época era Decom. Fui trabalhar na área de Logística, dentro do Decom, separou muitos anos depois.
DIVISÃO DE PETRÓLEO
Logo que entrei fui direto pra Dipet, que era divisão de petróleo, no Sesup, setor de suprimento de petróleo. A importação de petróleo era muito grande, ao contrário de hoje, não tinha exportação nenhuma. Fazíamos a programação de importação de petróleo dos fornecedores no exterior, trazíamos para o Brasil e alocávamos esses óleos nas refinarias para produzir os derivados necessários ao abastecimento do país. Fazíamos a mesma coisa com a produção nacional, a gente pegava os óleos das regiões de produção e os levava para as várias refinarias do Brasil para, junto com o óleo importado, processar esses petróleos e gerar os derivados. Essa era a minha atividade básica, ela existe hoje numa outra área que faz parte da logística.
ESTRUTURA DA ÁREA COMERCIAL
Tínhamos um superintendente-geral, que hoje se chama gerente-executivo; tínhamos dois superintendente-adjuntos, um era de mercado externo e o outro de mercado interno; depois tinha várias divisões e uma delas era a Dipet, Divisão de Petróleo; abaixo das divisões havia os setores, geralmente dois a quatro setores formavam uma divisão. Entrei trabalhando num desses setores da Dipet, o Sesup, setor de suprimento de petróleo. Era basicamente assim: superintendente-geral, dois superintendente-adjuntos. A área de mercado interno tinha várias divisões ligadas ao adjunto de mercado interno e o mercado externo tinha algumas divisões ligadas ao adjunto externo e cada divisão era composta por alguns setores. Hoje isso mudou, acabaram-se as divisões, os setores viraram gerências, enxugou o nível e os dois superintendente-adjuntos viraram gerentes-gerais, que são cinco aqui na Sede. Hoje existe gerente-executivo, cinco gerentes-gerais e, abaixo, as várias gerências ligadas aos gerentes-gerais.
PROFISSIONAIS DO DECOM
Os profissionais do Decom eram basicamente engenheiros; engenheiro químico, como eu da UFRJ tinha bastante. De uns anos pra cá, começou a abrir mais, começou a ter engenheiro de produção, alguns economistas, administradores que tem uma carreira separada.
DIVISÃO DE PETRÓLEO
A área de mercado externo fazia as compras de petróleo, havia as compras por contrato ou por spot. Os contratos, nós os conhecíamos porque eles nos passavam; as cargas que não eram contratadas, que eram feitas mês a mês das mais variadas companhias, eles nos passavam e ficávamos encarregados de colocar os navios nas faixas de carregamento acordadas, seja por contrato seja no spot, fazendo nomeações de forma que tivesse o navio para carregar aqueles petróleos e transportá-los para o Brasil. Na produção nacional não. A gente sabia que tinha a produção lá, botava o navio, tirava e levava pra refinaria, também dávamos um input para os gerentes comerciais do tipo de óleo que a gente estava buscando pra completar o refino, se era um óleo mais leve com muito diesel, muito isso, muito aquilo... Como havia o mercado interno, tínhamos idéia disso, passávamos as informações para área comercial para eles comprarem petróleos na qualidade necessária para produzir na refinaria. Éramos uma área de operação, de programação de navios e sua alocação nas refinarias. Trabalhei lá sete anos, de 1983 até meados de 1990.
LOGÍSTICA DO PETRÓLEO
A logística é muito complexa tanto antigamente como agora; mudou um pouco o perfil, o mercado interno cresceu. Eu diria que hoje ela está mais complexa. Hoje importamos petróleo, embora numa quantidade muito menor do que se importava no passado. Somos importadores livres de petróleo; além do petróleo que entra, existe o que está saindo. Antigamente, importávamos um tipo único de diesel, mas agora importamos vários tipos. A logística é muito complexa e como o Brasil, em geral, ela tem limitações. O país tem uma infra-estrutura logística deficiente, a Petrobras se enquadra nesse modelo, tem algumas limitações logísticas. O trabalho de logística é muito forte e pesado pra manter o abastecimento como é hoje, embora não seja um monopólio de direito, seja um monopólio de fato por ser um produtor majoritário. [È preciso] garantir o abastecimento do Brasil, nas regiões mais remotas e não só em São Paulo e no Rio, mas Rondônia, Roraima. Existe uma logística muito intrincada, tem que ter uma série de fatos muito bem concatenados para dar tudo certo. A logística é uma área muito importante, é prestadora de serviços pro sistema muito importante tanto no recebimento das importações, quanto na disponibilidade do produto para se exportar.
AFRETAMENTO DE NAVIOS
[O transporte influencia também no preço final do petróleo] Temos uma área específica de afretamento de navios. A Petrobras opera com navios afretados por tempo e por viagem que são os chamados VCP: pegou o navio pra levar petróleo do Brasil pra Europa ou pra trazer diesel da Índia pro Brasil, dali está aberto no mercado de novo; e tem aqueles que ficam como se fossem da própria empresa durante um ano, faz o que quiser com ele, leva pra qualquer lugar, faz as operações todas que você queira. Tem um percentual de nossa frota em TCP e um percentual de frota em VCP e temos alguma frota própria ainda. Temos uma frota menor própria, mas ainda tem uma frota própria, complementada com a frota afretada no mercado ou por tempo, que são os TCPs: Time Charter Party, e os VCPs, por viagem: Voyage Charter Party. Em função do mercado de frete, o frete pode aumentar ou variar, igual cotação de petróleo, igual cotação de derivado, isso flutua. O VCP está ali, se o mercado tiver alto, você vai pegar no mercado alto; se estiver baixo você vai pegar mercado baixo. O mercado por tempo tem outra lógica de precificação, ele vale por um determinado período de tempo que você negocia. Eventualmente ele pode estar acima ou abaixo do mercado, mas você já sabe que vai pagar aquele preço por um determinado período, ele não está afeto às flutuações de mercado.
TRAJETÓRIA PROFISIONAL
Nessa área de petróleo, eu fiquei desde que entrei: do segundo semestre de 1983 até meados de 1990. Depois fui pra área de mercado externo de produtos especiais, que existe até hoje com outro nome, continua na área de comercialização, era o antigo Secopre – Setor de Comercialização de Produtos Especiais, da antiga Diced – Divisão de Comercio Externo de Derivados; eu trabalhei nessa gerência. Fazíamos comercialização externa apesar de não ter no nome e também exportação e importação de “tudo que não queima”. Exportava e importava lubrificante, exportava parafina, vendia asfalto entre os países de fronteiras, eventualmente exportava solvente, ou seja, tudo que não era derivado de combustível. Gasolina, diesel, QAV [Querosene de Aviação], óleo combustível era feito à parte do mercado externo pelo setor específico. Depois agregou essa atividade de combustível, mas de tudo que não fosse por navio; tudo que fosse de pequeno volume, pra fronteira, geralmente vendido por caminhão, trem, barcaça passou a ser feito por essa área de especiais, embora gasolina e diesel não fossem derivados especiais. Na época se viu que o pessoal que estava manejando o navio não conseguia dar atenção para quantidades pequenas. Passou a ser vendido por trem, por caminhão, que era a expertise dessa área de produção especial, estavam acostumadas com pequenos volumes. Essa atividade é, até hoje, executada pela área de produtos especiais, a comercialização de combustíveis também, desde que na fronteira e que não seja em grandes volumes.
Estava já há sete anos na mesma área [logística], houve uma oportunidade de mudança. Um amigo meu, o Caldeira – que hoje está na Petrobras Distribuidora –, precisou por motivos particulares ir trabalhar em São Paulo, ele trabalhava nessa área de produtos especiais. Ele me perguntou se eu queria ir para o lugar dele, falei: “Estou há muito tempo aqui, acho que está na hora de sair”. Houve um acerto com a chefia e fui liberado. Trabalhei lá de meados de 1990 ao final de 1992. Em 1993, continuei nessa mesma Diced (Divisão de Comercialização Externa de Derivados), mas fui para a área de óleo combustível e GLP (Gás Liquefeito de Petróleo). A comercialização desses dois produtos era junta. Hoje essa área ainda existe apenas com óleo combustível, o GLP saiu. Fui trabalhar no Secig (Setor de Comercialização de Intermediário), esse G era de GLP; era de óleo combustível e de produtos intermediários. Produto intermediário é um produto não acabado vindo do petróleo, Gasóleo, CO, geralmente ligado ao fundo. Era feita a comercialização externa: no caso do óleo combustível era exportação e no caso de GLP era importação. Eu trabalhava na exportação de óleo combustível. Foi quando começamos a vender óleo combustível pra Argentina, para atendimento das centrais termoelétricas. Foi o primeiro contrato da Petrobras da privatização na Argentina. As companhias começaram a fazer licitações para comprar seus óleos combustíveis para aquecimento. Me lembro que foi o primeiro ano, a primeira licitação, e a Petrobras ganhou as licitações para atendimento de óleos combustíveis para aquecimento na Argentina. Participamos em 1993 para começar a suprir em 1994. Mal cheguei lá, começamos a cotar, era atendimento basicamente no inverno. O aquecimento na Argentina é concentrado de maio a setembro ou maio a outubro. Cheguei em janeiro e, logo em seguida, surgiram as licitações. O primeiro trabalho que participei foi o de preparar as ofertas, os contratos para participar dessas licitações. Participamos e ganhamos todos eles; entregamos tudo contratado, um milhão de toneladas aproximadamente. Também iniciei a preparação para participar das cotações de 1994 que, se não me falhe a memória, depois nem teve, porque o suprimento correu tão bem que passamos a vender diretamente para as centrais, sem licitação. Em 1994, voltei para área de mercado interno de produtos especiais, já tinha trabalhado no mercado externo, na área de mercado interno de produtos especiais a antiga Dipre – Divisão de Produtos Especiais. Trabalhei em dois setores, fui ser chefe de setor; primeiro do Selub (Setor de Lubrificante e Parafina), responsável pela venda no mercado interno de lubrificante e parafina, mas tinha os outros produtos como o coque de petróleo, embora não tivesse no nome da gerência. Tínhamos uma atividade que dava um “trabalho do cão”, que era o chamado “ônus do monopólio”: como tinha o monopólio, todo produto com mais de 75% de derivado de petróleo a Petrobras tinha que importar por força do monopólio; importava tudo que se possa imaginar, lata de óleo, específico para um segmento industrial, eram mais de 300; quase 400 itens de importação por ano. Às vezes, era mais de um item que tinha que abrir por dia de importação, isso dava um trabalho danado. Trazíamos a carga de avião, porque era muito urgente e a indústria estava precisando, era tudo quantidade pequena.
Quando acabou o monopólio acabou essa obrigação, não se fez mais esse serviço. Me lembro que tinham três pessoas alocadas, dava um trabalho danado, provavelmente tem gente na Petrobras que nem sabe que havia essa atividade, só os pobres coitados que a faziam vão se lembrar. Às vezes, dava problema e era sempre de emergência, precisávamos trazer até produto de avião porque o cliente falava: “Estou aqui na fábrica, preciso trazer, preciso importar”. E a gente tinha que fazer toda a operacionalização, nacionalizar vender, fazer tudo; comprava fora para entregar na porta da fábrica ou na indústria. A gasolina da Fórmula 1 pros carros correrem os grandes prêmios era importada e os óleos lubrificantes também, para os carros que disputavam os grandes prêmios de Fórmula 1 ou qualquer corrida. Havia ainda a comercialização normal de vendas de lubrificantes, parafina e coque. Depois eu passei para outro setor da Dipre, fui ser chefe do setor de produtos químicos. Cuidava das vendas no mercado de nafta, solvente, asfalto e alguns outros produtos petroquímicos específicos. Em um determinado momento, juntaram esses dois setores em um só, fiquei chefe dessa área até 2000. De 1994 até 2000, fiquei na área de venda de mercado interno de produtos especiais: primeiro num setor, depois no outro e depois num terceiro setor que era a junção desses dois.
GERÊNCIA DE ABASTECIMENTO
Em 2000, houve a reestruturação interna em que acabaram os setores, viraram gerências, ficaram os cinco gerentes-gerais. Foi nessa época, se não me engano, que houve a separação de logística; refino; eu tenho quase certeza que foi nessa data. Antigamente existiam várias diretorias: uma diretoria de refino, uma de transporte e uma diretoria do Decom. Então, o que aconteceu? Ficou um diretor só: o diretor de abastecimento ficou com todas as atividades; o transporte virou logística, ficou não só com a parte de transporte, como também com a parte de duto e terminal. Criou-se a logística, que é chamada assim até hoje; a comercialização é o MKC. A parte industrial virou a parte de refino, que toma conta das refinarias; foi criada a parte de petroquímica e de fertilizantes. Ficaram essas quatro gerências-executivas respondendo a um diretor só. Acho que petroquímica e fertilizante não tinha, era assim: tinham três diretores, eram três áreas distantes, na comercialização ficava a parte da logística ligada a duto e terminal. A parte ligada a navio sempre ficou no Detran, o departamento de transporte. A parte industrial, que eram as refinarias, respondendo ao diretor industrial; a parte de transporte, que era basicamente navio, respondendo ao diretor de transporte; e a parte comercial, que tinha a parte de logística e de dutos e terminais, respondendo ao diretor comercial. Essas três diretorias acabaram e virou uma diretoria só: a diretoria do Abastecimento. A área industrial virou refino, com uma gerência-executiva de refino; a área de comercialização ficou só com comercialização e marketing. Na parte de logística ficaram transporte e logística, agregando essa logística que ficava na comercialização. Foi criada uma quarta área, a de petroquímica e fertilizantes. E essas quatro gerências-executivas respondem ao diretor de Abastecimento.
PRODUTOS ESPECIAIS
O que não é combustível foi chamado de produto especial: são os lubrificantes, parafinas, solventes, asfaltos, querosenes, o próprio GLP que era separado, no mercado externo até era junto com óleo combustível, mas no mercado interno tinha uma área específica. Nessa reestruturação de 2000, o GLP foi pra área de especiais também, foi criada uma gerência de comercio de GLP, onde fui trabalhar. Em 2000, fui ser gerente de comércio de GLP, juntou o mercado interno com o externo, ele tem um tipo de atividade muito relacionada. O GLP, hoje, faz parte da gerência-geral de produtos especiais.
LICITAÇÕES ARGENTINAS
Suprimos até hoje [o mercado argentino] teve um tempo que ficou só o gás natural, mas com a crise do gás natural também na Argentina, eles voltaram a usar o óleo combustível para aquecimento e a gente tem vendido. O negócio com a Argentina [ampliou o mercado da Petrobras na América Latina], sem dúvida. Quando era estatal, a gente vendia muito pouco produto pra Argentina, eles compravam muito de trading company o abastecimento era feito basicamente através de tradings. Quando foi feito esse processo de licitação, nós vencemos as tradings das licitações. A Argentina, pela proximidade geográfica, tem um custo de transporte com frete menor, para um exportador de óleo combustível, é muito melhor vender aqui, pela proximidade, do que vender na Europa, nos Estados Unidos onde hoje a gente vende. Foi muito importante o mercado que a gente pegou, já vendíamos pro Uruguai. Temos uma forte base de fornecimento de produtos escuros aqui na América do Sul, basicamente Argentina e Uruguai. Ressaltando que no caso da Argentina é sempre a geração de energia no inverno, concentrado o pico de maio a setembro ou outubro, mas é um navio atrás do outro. Temos a responsabilidade de não deixar a Argentina no escuro e nem no frio.
[No começo da década de 90] vendíamos basicamente para os Estados Unidos e Europa. Os Estados Unidos era o principal [cliente] e depois a Europa; começamos a vender também na América do Sul. O óleo combustível eu posso falar mais tarde, mas ele está no mundo todo.
PRODUTOS ESPECIAIS / CLIENTES
O lubrificante era basicamente as companhias do Sindicom: Texaco, Shell, BR, Ipiranga; na época era tudo separado agora foi juntando. Parafina a Shell era distribuidora também, a Mobil que depois foi comprada pela Exxon, era distribuidora, mas tinha várias companhias privadas brasileiras Velas Guanabara, G Química, ACTS, estes eram os distribuidores principais.
O asfalto era vendido [para o Governo], mas a Petrobras não vende direto para prefeituras, vende para os distribuidores, que vendem pros empreiteiros, que vendem pras prefeituras. O solvente é, basicamente, com essas companhias, só que no ramo de Química: Shell Química, Ipiranga Química, Esso Química, a Petrobras Distribuidora também tem um ramo que atua na química.
ABERTURA DO MERCADO
A empresa vai tendo que se alinhar às novas realidades de mercado, mais no sentido de ter agilidade mesmo, porque imagina fazer o abastecimento: tem que ter o transporte, tem que ter refinaria para refinar, tem que ter o comercial pra vender. Quando havia três diretores diferentes havia muita perda de carga, porque acaba cada um vendo o objetivo de cada área especificamente; às vezes, alguém mais acima precisava fazer isso. Quando se botou apenas um diretor tomando conta de tudo, o processo melhorou e houve uma agilidade muito grande. Não saberia dizer se isso foi em função da abertura de mercado, pode ter sido um ingrediente disso, mas foi, sem dúvida alguma, um aprimoramento do processo de gestão da Petrobras; um processo que vai melhorando ao longo do tempo e tem que ser em toda empresa. A gestão tem que ir melhorando: melhorar o nível de decisão, a agilidade. Acabou o nível hierárquico, se botou uma cabeça única para tomar decisão, e se procurou agilizar o processo de gestão. A Petrobras ganhou uns prêmios de gestão recentemente, coroando as gestões que foram melhorando com o tempo.
ESTRUTURA DA ÁREA COMERCIAL
Em 1986, a Dipet acabou, houve uma fusão da área que fazia o suprimento de derivados com a área que fazia o suprimento de petróleo, virou a Dicomb – Divisão de Combustíveis. O Sesup continuou como era, mas passou a fazer parte da área de combustíveis. Havia uma área de petróleo e outro setor de combustíveis. Um setor cuidava da cabotagem, o suprimento era feito por navio: pegava o produto em determinado lugar e levava para o porto pra vender. Tinha um setor que fazia a venda de produtos diretamente da refinaria, que cuidava do controle das cotas.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Em 2000, houve essa grande reestruturação e fui ser gerente de comércio de GLP - comércio interno e externo. Eu já tinha ouvido falar de comércio externo, porque trabalhava no Secig, na área de mercado externo, embora trabalhando com combustível, via o pessoal mexendo com GLP pro mercado externo; era uma novidade completa pra mim. Aliás, os dois eram novidades, porque se juntou aquelas duas atividades em uma só, foi interessante o desafio de fazer a integração de duas equipes distintas: o pessoal que já fazia o mercado externo de GLP e o pessoal que já fazia o mercado interno. Fiquei nessa área de 2000 até final de 2004.
GLP / CLIENTES
Os clientes eram: a Ultragás; Minasgás, a Minasgás e a Supergasbrás. Eles se juntaram, foram comprados pela SHV, uma companhia holandesa que ainda está no Brasil; a Copagás. A BR Distribuidora era muito pequena; tinha a Agip Liquigás, que depois a BR Distribuidora comprou, e a Nacional Gás Butano, no nordeste.
GLP / USOS
O GLP tem o uso basicamente com botijão P-13, mas tem alguns outros usos, como em piscina; na indústria também, mas é muito pequeno. O uso industrial deve estar em torno de uns 20 ou 25%, é matéria-prima para aquecimento na indústria no Brasil. Fora do Brasil, ele é usado para o aquecimento como gás natural. Por exemplo, os Estados Unidos e Europa usam GLP para aquecimento. Aqui é usado o P-13 e esses usos industriais. No Sul, ele era muito usado na fabricação de cerâmica, mas foi substituído pelo gás.
DESAFIOS
Nós sempre fomos importadores muito fortes de GLP, começou a diminuir a necessidade de importação pelo aumento da produção interna, seja o GLP de refinaria, seja o produto oriundo do E&P, das regiões de produção. Existem umas frações que se vende como GLP. Para não diminuir a nossa atuação no mercado começamos a desenvolver a de atuação offshore, é o trading por si só, sem ligação com o sistema: se compra num lugar e se vende em outro. Começamos com o GLP a participar de mercados sem objetivos de atender o Brasil; começamos a ter contrato na Arábia Saudita para comprar e vender na Europa; vender em algum lugar que desse arbitragem. O que é arbitragem? Existe um produto num lugar A e tem uma demanda no lugar B; se o preço que eu compro no lugar A mais o frete até o lugar B, for menor do que o que eu posso vender no lugar B, então a gente diz que a arbitragem está aberta para aquele lugar. O trader vive buscando essa arbitragem; onde pode comprar, onde posso ter produto e onde posso vender esse produto ganhando dinheiro. Se no preço de compra menos o preço de venda, a diferença for maior do que o frete, você ganha dinheiro. Começamos a tomar posição não só no spot, a ter contrato também e ficar vendo onde se pode colocar o produto. Tem horas que dá certo e horas que dá errado, mas isso faz parte o importante é, ao longo do ano, ao longo do período, ganhar dinheiro. Se só perder dinheiro, essa atividade não é lucrativa tem que parar de fazer.
Nós começamos a ter produção, na Argentina, de GLP, de Mega, que é uma empresa, uma joint venture da Petrobras, Dal Química e Repsol YPF. A Mega compra o gás da Repsol e vende os produtos que saem do fracionamento desse gás, o etano, vende para a Dal Química e o propano e o butano pra Petrobras. O propano e o butano podem ser vendidos como GLP puro ou misturado. A Petrobras, com essa produção de Mega, deu uma tranqüilidade de abastecimento no mercado interno; começamos a vender esse GLP na América do Sul. Na época de maior demanda de aquecimento, de frio, vendemos propano para o Chile; temos um contrato com a Gasmar que começou em 2002. A Gasmar operava por licitação; nós ganhamos a licitação com o plano de Mega e até hoje suprimos, todos os anos, mas não há mais licitação, houve apenas nos dois primeiros anos. Tem sido uma negociação regular. Hoje, abastecemos o mercado chileno não só de Mega, trazemos produtos de outras áreas também para atender à demanda chilena.
LOGÍSTICA DE MERCADO
A logística ajuda mais no mercado interno para ter produto disponível no Brasil, pra fazer uma operação ou outra, a do offshore não. No offshore, a logística do Brasil não acrescenta nada, porque é só ficar acompanhando o mercado de frete, sabendo quanto está e sabendo das oportunidades. A função do escritório da Petrobras no exterior é capitalizar oportunidades, o que tem que fazer daqui é incentivar e botar metas. Tem que fazer um determinado volume e tentar ganhar dinheiro, se pegar o book de um trader haverá uma porção de vermelhinhos e vários azuis; no fim do dia, o azul deve estar maior do que o vermelho. Se só tiver azul, o trader está te enganando, isso é impossível; nenhuma companhia do mundo faz operação de compra e venda e só tem resultado positivo, isso não existe.
ESCRITÓRIOS NO EXTERIOR
No Brasil, a gente faz a coordenação dos escritórios. Temos a Petrobras Europa, a Petrobras América nos Estados Unidos, a Petrobras Singapura, o escritório na China que só faz petróleo, é o escritório de Beijing, e tem na Argentina, que é uma empresa também, a Pesa, nossa aquisição, a Petrobras Energia. Cada escritório tem a sua área de atuação e o Brasil faz a coordenação dessa atividade, por exemplo: vamos exportar óleo combustível, existe um programa de exportação, as ‘n’ cargas, a gente bota no sistema de computador que é interligado a todos os escritórios; funciona na gasolina, no óleo combustível e também nos produtos que temos que importar. Existe um programa de importação com as datas para chegar aqui. Distribuímos isso. O pessoal começa a dar input de onde pode ter comprador, como está o nível de preço, e você vai direcionando as cargas: “Essa carga que vai sair do Brasil nessa data, com óleo combustível, o mercado da Europa está melhor” “Sai fora essa carga aqui, a Europa vai ganhar". Você faz o direcionamento da carga e vende essa carga, nesse intervalo de preço. O negociador lá fora, dentro daquele intervalo, tem liberdade para fechar na melhor negociação possível, e a sede faz a coordenação do destino das cargas. Os caras têm métodos completares e estão procuram oportunidades para comprar e vender, se tiverem alguma dúvida, ligam e pedem autorização para algum fechamento, alguma coisa, mas eles têm as metas deles, sabem o que tem que fazer. Se surgir alguma oportunidade nova, eles falam. Eles falam 500 vezes por dia com o escritório na hora do trabalho e depois do trabalho, porque existem fusos horários diferentes. O dia-a-dia da área de mercado externo é esse.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
No final de 2004, fui para área de mercado externo de produtos claros. Era Gerência de Produtos Especiais e o GLP. Era CG: comércio de GLP. Depois fui pra CPC, a gerência-geral era Comercialização de Produtos Claros, fui ser do CEPC, Comércio Externo de Produtos Claros. A CPC tinha toda a atividade de produtos claros, ou seja, as vendas no Brasil – gasolina, diesel e QAV, eram três gerências – e o CEPC, Comércio Externo de Produtos Claros, que basicamente fazia compra desses três produtos no mercado externo: a gasolina para exportar, o diesel para importar, o QAV para importar nas operações offshore. Fiquei lá uns nove meses.
Fui para parte do mercado externo, onde fazíamos as exportações de gasolina. Peguei a época do Katrina, quando os preços foram lá pro chapéu; vendemos 14 cargas de gasolina. Tudo o que se assemelhava à gasolina, a gente botava na água para vender. Fazíamos as importações de diesel, de QAV e de nafta. A gerência de mercado interno de nafta não faz parte da CPC, é da área de produtos especiais. A nafta é considerada um produto especial, mas fazíamos a importação para eles e dávamos para área de mercado interno de nafta para ser vendida.
FURACÃO KATRINA
Uma flutuação desse nível só o “11 de setembro” ou um Katrina. Flutuação é normal, qualquer evento, uma greve numa refinaria importante, algum acidente com uma refinaria importante, qualquer coisa é motivo para variar o mercado. De ponto fora da curva marcante foi a época dos furacões nos Estados Unidos, o resto foi coisa de mercado normal que sempre tem.
O furacão [Katrina] parou uma porção de refinarias americanas, parou a produção; isso aumentou a demanda e jogou o preço lá para o alto. A demanda é a mesma, mas tem que ser atendida; se diminuiu a produção, o preço vai lá no alto. Aí abriu a arbitragem num nível elevadíssimo, todo mundo começou a mandar carga de gasolina para os Estados Unidos, para atender a demanda do mercado americano que é muito forte; e se tivesse sido na “driving season”, nas férias americanas, o preço teria triplicado, não foi o pico de mercado americano, esse período já havia passado. O mercado estava forte, teve uma perda de produção pela parada das refinarias. Embora a nossa gasolina não vá direto pro mercado americano, por causa da qualidade, começamos a “blendar” e vender. A área perto também foi afetada, o que se assemelhava à gasolina, a gente botava na água e mandava para a região do Caribe.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Fui ser gerente-geral, o que eu sou até hoje. Fui pra CPPI há três anos, onde estou. CPPI é Gerência-geral de Comércio de Petróleo e Produtos Industriais. Existem quatro gerentes abaixo de mim: a Gerência de Petróleo, o mercado externo de petróleo, toda exportação de petróleo e toda importação feita pelo Brasil, toda comercialização dos petróleos que a Petrobras produz no exterior é feito por nós. A coordenação do abastecimento de petróleo das refinarias que temos fora do Brasil, em Pasadena [EUA] e no Japão, é feito em operações de trading de petróleo pela nossa gerência. Hoje, o movimento está em torno de 1,2 milhão de barris/dia. A gente brinca que o petróleo é uma gerência-geral dentro de uma gerência-geral, porque é [um mercado] gigantesco. Também fazemos a compra de petróleo de pequenos produtores no Brasil. A ANP incentiva a produção de pequenos produtores, e nós temos contrato com eles; compramos petróleo e levamos para processar nas refinarias.
IMPORTAÇÃO DE PETRÓLEO
O volume de importação de petróleo no Brasil está numa média de – contando com a Refap S. A. que não é mais 100% Petrobras – uns 400 mil barris/dia, uns 350, 400. Estamos exportando uma média de 500. O mercado interno hoje deve estar produzindo 1,8 milhão de barris; 400 para 1,8 milhão é só dividir que dá o percentual: 25%.
EXPORTAÇÃO DE PETRÓLEO
Hoje, a gente exporta uns 500 mil barris é aquela troca de qualidade. O nosso óleo é mais pesado, precisamos de um óleo leve pra produzir os derivados mais leves aqui. De 400 pra 500 tem uma sobra de exportador líquido de 100 a 150 mil barris, mas essa troca tem que ser feita, é a troca de qualidade, conforme a indicação econômica do modelo. Só o petróleo movimenta 1,2 milhão de barris/dia, é coisa “pra burro”.
ESTRUTURA DA ÁREA COMERCIAL
Tudo que é matéria-prima petroquímica ficou em uma gerência, a CINMPI, Comércio Interno de Nafta e Matérias-Primas Industriais. Eu sou da CPPI; abaixo da CPPI tem a CP - Comércio de Petróleo. A CNMPI trabalha, basicamente, com nafta e propeno, as matérias-primas para o Riopol em Itaguaí; o metano e o propano petroquímico; Rasf [resíduo alsfáltico] e HIR para a Ultrafértil. Existem mais dois setores: o comércio externo de óleo combustível e produtos especiais, que já trabalhei nele, e produtos intermediários, já trabalhei nele quando era junto com GLP; a sigla dessa gerência do mercado externo de óleo combustível intermediário é CEPII, Comércio Externo de Produtos Industriais Intermediários. A quarta gerência é o CICI, Comércio Interno de Combustíveis Industriais; vende o óleo combustível que a gente produz no mercado interno; o excedente é exportado pelo CEPII, que também faz a venda do óleo combustível no mercado interno, venda do coque no mercado interno e a exportação do coque. Os clientes do CICI, no mercado interno, são as distribuidoras: a BR, é a principal, a Shell, a Chevron (que comprou a Texaco), a Esso (ainda é chamada de Esso, mas foi comprada pela Cosan) e a Ipiranga. Do CINMPI – o Comércio Interno de Nafta e Produtos Industriais –, os principais clientes são: a Quator, formada pelas antigas Petroquímica União, Rio Polímeros e Suzano Petroquímica; a Braskem, que é a junção da antiga Braskem com a antiga Copersul; a Dal Química e a Ultrafértil; houve tanto agrupamentos que acabou ficando poucos clientes, mas estes trabalham com grandes contratos, de longo prazo, com assuntos mais estratégicos. O CICI trabalha mais com a venda para distribuição.
ABERTURA DO MERCADO / CLIENTES
Os clientes são os mesmos, mas o relacionamento comercial mudou bastante, o item negociação é muito mais forte, tem flexibilidade. Embora, ainda hoje, a Petrobras tenha o monopólio de fato, houve uma maior aproximação com o cliente, ele passou a ser visto mais como cliente efetivamente do que aquela história de: “Tem isso aqui, se quer, quer; se não quer, não quer". O foco no cliente, as práticas de olhar o cliente como parceiro tiveram um crescimento na Petrobras notável nos últimos anos. No mercado externo, a Petrobras se expandiu muito.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Estudei no Fundão, e o ginásio e o científico, eu estudei no Pedro Segundo. Quando cheguei à Petrobras tive um choque, porque a Petrobras estava organizada – não é uma crítica é uma constatação – como se fosse um quartel. Onde você sentava já definia até uma linha hierárquica: o chefe do setor ficava na ponta, o cara que o substituía ficava ao lado; o cara que sentava em último estava ali, porque chegou por último, geralmente era por tempo. Quando entrei, antes de ir pro Sesup fiquei três meses numa área que rodava o modelo de alocação de petróleo, justamente para que, quando fosse fazer as alocações tivesse em mente como era a dinâmica do modelo. Eu me lembro que fui com um amigo, o Andurte Duarte de Barros Filho, que hoje é gerente-executivo na BR, ele ia ficar nessa área mesmo e eu ficaria por três meses. Ele sentou aqui e eu fiquei encostado na parede, porque só ficaria ali três meses; hierarquicamente, ele ficou com a vaga na minha frente. A Petrobras era mesmo um quartel, o chefe da divisão era um ser que a gente via raramente, a porta era fechada e tinha uma secretária que não deixava você ter acesso. Daí para cima, o superintendente-adjunto, superintendente-geral eram quase inatingíveis. Isso mudou completamente. Hoje não existem mais portas, você fala com todo mundo, o que é correto. A empresa mudou muito. Essa militarização numa indústria não funciona.
PETROBRAS NO EXTERIOR
No exterior, a Petrobras cresceu muito, os escritórios eram três ou quatro pessoas e hoje já está na faixa dos dez. Temos tancagens alugadas no mundo todo; no óleo combustível tem um contrato na Nova Caledônia, na Oceania, com uma mineradora francesa a Eramet. Isso é um exemplo crasso de como a Petrobras cresceu no mercado externo. Em que momento a gente ia pensar em ter um contrato na Oceania? Ele é feito a partir da tancagem de Cingapura: levamos óleo daqui, “blenda”, ajusta a qualidade e entrega lá; ou a gente compra na própria região, “blenda”, tem um navio dedicado ao trading exclusivo de óleo combustível, só pra esse trading complementar no offshore na região. O navio passa na tancagem e carrega; leva o produto para a Nova Caledônia, na volta ou pega alguma coisa ou afreta o navio pra alguém e traz de volta. Vendemos petróleo para o mundo todo. Nos Estados Unidos, os mercados são diferentes, seja na costa Leste ou na costa Oeste. Vendemos petróleo pra China; pra Índia; pra Europa, seja na região do Mediterrâneo ou na região de Rotterdam; vendemos pro Chile; pro Peru; pro Caribe, Trinidad e Tobago. Na Europa, vendemos por contrato ou por spot. Temos uma tancagem grande de petróleo em Santa Lucia, no Caribe, de nove tanques, pra fazer a distribuição pro mercado americano. Vendemos pra uma série de refinadores americanos. Para gasolina, nós temos tancagem em Nova Iorque, a nossa gasolina tem problema de qualidade, nem pode ir pro mercado americano, mas pra não ficar fora deste mercado. Compramos gasolina na Europa e levamos pra Nova Iorque; “blendamos” com outros componentes e distribuímos no mercado americano. Daqui a dois anos, quando a tivermos qualidade de gasolina para entrar nos Estados Unidos, pelo teor de enxofre, a marca Petrobras já será conhecida lá e será mais fácil vender gasolina. A área de trading está se expandindo no mundo todo.
CRISE ECONÔMICA MUNDIAL / 2008
No primeiro momento, o mercado interno registrou, principalmente o industrial, uma recaída nas compras. Diminuindo as vendas aqui, em tese, se tem mais produto para exportar, e já estamos enfrentando dificuldades para fazer as exportações. Todas as cargas estão saindo, mas o mundo está retraindo suas compras. É um momento de dificuldade, o preço do petróleo caiu muito, não há previsão de subida; o mercado de nafta está praticamente paralisado, a nafta está muito barata, os estoques de produto final acabaram e as resinas estão muito altas. Já enfrentamos dificuldades em várias frentes de colocação do produto, mas isso faz parte do mercado. Se não está conseguindo vender, bota na tancagem e espera; para isso existe a tancagem, para dar flexibilidade.
CRISE / DÉCADA DE 1980
No mercado interno, cada plano econômico tinha um resultado diferente na economia; a gente pensava um indicador, não o oficial: quando a demanda de GLP, que é para cozinha, caia é porque a crise tinha chegado mesmo. Naquela época de 1980, a inflação estava muito alta, Governo Sarney, depois do Plano Cruzado, havia aquela instabilidade. Os planos econômicos afetavam o mercado interno, mas o nosso marco de crise máxima era quando afetava o mercado de gás, de GLP. O pessoal começava a cozinhar com lenha, ou parava de comer mesmo, ou reduziu a comida, ou comia frio. Era um indicador de que a crise havia chegado ao fundo do poço, e não ia aumentar mais.
DESAFIOS
Cada etapa que você vence tem os seus desafios e tem o seu aprendizado, mas eu diria que o mais marcante, até pelo significativo aumento da responsabilidade, foi ter virado gerente-geral dessa área tão gigantesca. O que passa de dinheiro no mercado de petróleo, 1,2 milhão de barris/dia, é muita coisa. A parte de nafta e a das matérias-primas industriais lidam com os pesos pesados da indústria petroquímica do Brasil; as duas outras áreas podem ser menos impactantes, mas não deixam de dar trabalho: o óleo combustível, por exemplo, tem a parte de suprimento para térmica, além do atendimento normal de mercado; também é uma área conturbada, não se pode deixar de exportar o que tiver de excedente aqui tem que botar lá fora, tem que vender. Como somos exportadores de óleo combustível, temos uma série de contratos ao longo do mundo, é uma área que já anda até meio sozinha, mas é claro que o mercado interno ajuda. Se cair a exportação na unidade de coque, vai destruir esse resíduo e não tiver tanto óleo combustível, já estamos criando uma situação para não reduzir a participação da Petrobras no mercado internacional. Estamos pegando essas frentes todas no exterior. É uma gerência-geral muito pesada e uma atividade diária muito grande. Foi o meu maior desafio até agora.
Eu me lembrei do leilão das térmicas da Argentina, na crise do início da década de 1990, quando faltou álcool nos postos. O meu primeiro trabalho foi comprar álcool, pra não faltar no Brasil. Nunca tínhamos comprado álcool, é um negócio até meio etéreo, era uma quantidade grande. Começamos a pesquisar para ver como se fazia; vimos que a comunidade econômica européia fazia uns leilões de álcool de uva. A Petrobras Europa era um escritoriozinho pequenininho, com três ou quatro pessoas, que viram como se participava destes leilões. Não tivemos mais do que um mês para nos preparar, foram uns 15 ou 20 dias. Vimos como se fazia para poder participar dos leilões. Havia empresas européias especializadas em coletar esse álcool dos vários produtores e levar para um porto. Tivemos que fazer o contrato com essa companhia para ela fazer a coleta. O álcool ainda estava fora da especificação, fazíamos contrato com usineiro aqui para tratar esse álcool, para que ele pudesse ficar nas condições próprias. Foi negociar o contrato com essas firmas que coletavam o álcool, fazer essa logística toda de conectar o navio no porto, colocar no navio e trazer até o Brasil. Foi um cara do Jurídico me ajudando e um cara de tributo. Nós começamos a fazer esses contratos, às vezes virávamos a noite até duas ou três horas da manhã. Os contratos da Europa eram redigidos em inglês, tinha que escrever aquele negócio todo em inglês mandar pro Jurídico ver se estava certo, negociar com o cara, correndo contra o relógio. Comparado ao tamanho da CP [Comércio de Petróleo], hoje é um desafio, em termos de dinheiro, micro, mas deu um trabalho danado. Mas tivemos que fazer porque não poderia faltar álcool; a gente tinha que participar e ganhar. Foi um desafio estrondoso, eu cheguei a ter pesadelo com esse negócio, mas tudo correu bem, ganhamos uns leilõezinhos, conseguimos trazer o álcool para cá. Passamos a comprar álcool hidratado, álcool anidro, metanol. Houve uma época em que se fazia uma mistura ternária de gasolina, etanol e metanol; só se fazia em São Paulo, importava o metanol e fazia essa mistura. Foi uma época de crise e foi o meu primeiro trabalho quando saí da Logística para a área de Mercado Externo. A maior parte desse trabalho foi de Logística mesmo, de ver onde os navios iam descarregar. E, isso tudo, a área comercial acabou fazendo, não era para área de mercado externo fazer, mas não teve jeito, não dava nem tempo de passar pra ninguém, quem estava com a mão na massa ali teve que sair fazendo tudo, porque havia uma ordem: “Tem que ter álcool no Brasil especificado para entregar.”
MEMÓRIA PETROBRAS
Achei muito bacana. É importante ter a memória da Petrobras, porque do pessoal mais velho já saiu muita gente, está todo mundo se aposentando. Daqui a pouco, a minha turma também já estará pendurando a chuteira e é bom ter esses registros. Eu daria uma sugestão. Como eu citei, o Amaranto, eu acho que também tem que ter um pouco de humor, um pouco de caso. Acho que deviam procurar pessoas pra além de falar da atividade do trabalho, contar histórias mais fora do trabalho que aconteceu na empresa no passado, recuperar a vivência do dia-a-dia de trabalho destas pessoas.
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