P/1 – Bruno, primeiramente eu gostaria de agradecer em nome da White Martins e do Museu da Pessoa a sua presença aqui. E para começar, perguntar o seu nome completo, local e a data de nascimento.
R – Meu nome é Bruno Costa Gomes, eu nasci no Rio de Janeiro em 14 de março de 1976.
P/1 – Você poderia dizer o nome dos seus pais e dos seus avôs?
R – Meu pai é Manoel Fernando Brandão Gomes e minha mãe é Maria Alcina Costa Gomes. Com esses nomes, Manoel e Maria, você já deve saber onde nasceram.
P/1 – Então, fala um pouco sobre a origem dessa família.
R – Então, meus pais são portugueses, eles vieram de Portugal há 50 e poucos anos atrás, vieram com mais ou menos dez anos de idade cada um, vieram separados em uma época que muitas famílias vinham de Portugal, da Europa para o Brasil, logo depois da Segunda Guerra. Então você tinha uma situação, meus avós falam muito que antigamente se dizia que no Brasil iria ter uma prosperidade econômica, todos iriam ficar ricos. E eles passavam por momentos difíceis lá em Portugal por causa da guerra e do pós–guerra, também vieram por isso. Tanto que os imigrantes europeus são muito fortes no Brasil. Então meus pais vieram em momentos distintos, eles foram se conhecer aqui no Brasil. É bem interessante, não sei como é em São Paulo, porque eu não conheço muito bem, mas no Rio você tinha várias casas com nomes de regiões de Portugal, as casas eram, tipo, clubes, casas de encontro para o final de semana, o pessoal se encontrava, cantava, ia para comer comidas típicas, danças típicas. E lá no Rio há muitas dessas casas, assim, quer dizer, caiu até um pouquinho ultimamente, mas tinha muito. E aí eles foram se conhecer na verdade no Brasil, eles vieram com dez anos e se conheceram aqui, não se conheceram lá. Muita gente pergunta: "Ah, vieram de lá?" Não, foram se conhecer aqui no Brasil, que tinha toda uma questão do ambiente, se...
Continuar leituraP/1 – Bruno, primeiramente eu gostaria de agradecer em nome da White Martins e do Museu da Pessoa a sua presença aqui. E para começar, perguntar o seu nome completo, local e a data de nascimento.
R – Meu nome é Bruno Costa Gomes, eu nasci no Rio de Janeiro em 14 de março de 1976.
P/1 – Você poderia dizer o nome dos seus pais e dos seus avôs?
R – Meu pai é Manoel Fernando Brandão Gomes e minha mãe é Maria Alcina Costa Gomes. Com esses nomes, Manoel e Maria, você já deve saber onde nasceram.
P/1 – Então, fala um pouco sobre a origem dessa família.
R – Então, meus pais são portugueses, eles vieram de Portugal há 50 e poucos anos atrás, vieram com mais ou menos dez anos de idade cada um, vieram separados em uma época que muitas famílias vinham de Portugal, da Europa para o Brasil, logo depois da Segunda Guerra. Então você tinha uma situação, meus avós falam muito que antigamente se dizia que no Brasil iria ter uma prosperidade econômica, todos iriam ficar ricos. E eles passavam por momentos difíceis lá em Portugal por causa da guerra e do pós–guerra, também vieram por isso. Tanto que os imigrantes europeus são muito fortes no Brasil. Então meus pais vieram em momentos distintos, eles foram se conhecer aqui no Brasil. É bem interessante, não sei como é em São Paulo, porque eu não conheço muito bem, mas no Rio você tinha várias casas com nomes de regiões de Portugal, as casas eram, tipo, clubes, casas de encontro para o final de semana, o pessoal se encontrava, cantava, ia para comer comidas típicas, danças típicas. E lá no Rio há muitas dessas casas, assim, quer dizer, caiu até um pouquinho ultimamente, mas tinha muito. E aí eles foram se conhecer na verdade no Brasil, eles vieram com dez anos e se conheceram aqui, não se conheceram lá. Muita gente pergunta: "Ah, vieram de lá?" Não, foram se conhecer aqui no Brasil, que tinha toda uma questão do ambiente, se encontravam no final de semana, tinha aquele meio do bairrismo. Então eles acabaram se conhecendo aqui no Brasil.
P/1 – Como é que eles se conheceram?
R – Eles se conheceram... Minha mãe trabalhava no Centro do Rio, em uma loja de roupas, até hoje ela trabalha e o meu pai ela trabalhava em uma loja de ferramentas. As lojas eram meio que vizinhas e assim eles se conheceram, também tinha meu tio e minha tia como amigos entre outras pessoas. Minha tia apresentou a minha mãe para o meu pai e eles se conheceram. Isso já faz um bom tempo. Não sei, deixa eu lembrar aqui, acho que já faz 50 anos, eu estou com 35, não, mais de 50, nem sei mais.
P/1 – Me diz uma coisa, que bairro que era esse no Rio de Janeiro em que havia essa concentração de portugueses que se reuniam?
R – Não, na verdade não eram bairros, era tipo assim, a gente morava na Tijuca, mas tinham casas de regiões de Portugal em outros bairros, por exemplo, tinha a Casa do Minho, eu sinceramente não lembro muito bem dos nomes, mas eram casas de regiões de Portugal, então a Casa do Minho é uma região de Portugal. Você tinha a Casa do Minho, não necessariamente ficava no mesmo bairro, ficava para Zona Sul, se não me engano ficava ali na Gávea, não lembro bem. E eles se encontravam nessas casas, tipo assim: “Ai, essa semana nós vamos na Casa do Minho para comer lá um bacalhau diferente da região do Minho." Então eles iam lá, tudo bem também que essas casas eram um pouco restritas, porque eram para portugueses que já estavam prósperos. Meus pais não estavam muito prósperos assim, mas dava para ir, tipo, uma vez a cada quatro meses dava para ir em um lugar desses, passar o dia, dançar, cantar. Isso é interessante, meus avós falavam que a prosperidade... Que o Brasil iria ser muito próspero. E não necessariamente foi, né? A parte do meu pai, o meu avô foi, já a parte da minha mãe, como o meu avô era carpinteiro, teve toda uma dificuldade econômica.
P/1 – Em que bairro você nasceu?
R – Eu nasci na Tijuca. Eu morei sempre nessa região que a gente chama de Grande Tijuca, que é a Zona Norte do Rio, vamos dizer assim, o primeiro bairro depois da Zona Sul, depois que você sai de Copacabana, Ipanema, você passa, não sei se vocês conhecem lá, o túnel Rebouças, e você chega na Tijuca, já é o primeiro bairro. A gente morou sempre lá, sempre foi nessa região. E é interessante esse negócio dos meus avôs, que todos eles vinham com essa impressão de fartura econômica. Não tinha, né? E também é interessante que os meus avós, né, os pais, vinham para o Brasil, tipo, meu avô veio cinco anos antes do resto da família. E aí eles vinham, juntavam um dinheiro, a passagem naquela época era de navio, não tinha avião, você vinha de navio. Quer dizer, até tinha, mas que era um negócio absurdo de caro. E aí você juntava um dinheiro e depois mandava o dinheiro para Portugal para vir o resto da família. Então todos eles tiveram a mesma história, passaram primeiro uns anos aqui juntando um dinheirinho, trabalhando para poder depois mandar o resto da família, que aí foram os meus pais, tal, que vieram todos de navio lá.
P/1 – E porque Tijuca?
R – Então, eu não sei dizer especificamente, mas, por exemplo, foi até coincidência, as duas famílias foram morar no mesmo lugar, não é um bairro, de concentração de portugueses não. Apesar de que naquela época já tinha a questão de a Zona Sul já ser uma questão financeira, era mais cara, né? Então, saindo da Zona Sul, que era o reduto mais caro, outros bairros onde, assim, tinha mais operário, eram mais pobres mesmo, entendeu? E interessante, por exemplo, o que eles foram morar no morro, Morro do São Carlos, um dos morros mais violentos do Rio. Quer dizer, que hoje é, mas isso há 50 anos atrás não tinha nada, né, era um morro super legal, super pacificado. Eu passei minha infância no morro, né, de vez em quando, naqueles dias que não tem aula, minha mãe me levava para a casa da minha avó que ficava no Morro São Carlos. Tudo bem que isso já faz, eu estou com 35, então devia ter os meus oito, dez anos, 12 anos no máximo. Depois os meus avós saíram de lá, tem mais de 20 anos, o morro começou a ficar muito violento e aí meus avós saíram. Mas eles moraram lá em uma época que o morro era fantástico né, o morro era só... Como você deve ouvir, morro da Mangueira, aquele pessoal todo lá, que era só festa, era só gente boa, trabalhadora, não tinha nada demais. Depois é que foi acabando, ocupando né, e conceito do Morro também, as pessoas ali não conhecem, mas é um morro de casas de alvenarias, todas bonitinhas, entendeu? Não era o conceito do morro que se tem hoje. Então antigamente era mais tranquilo.
P/1 – Você tinha restrições a brincar na rua, ir na casa das pessoas quando criança?
R – Então, eu tinha, era engraçado, tinha sim, eu lembro isso bem claramente, de momentos, né? Então eu ficava na casa e naquele momento, tinha, naquela época, engraçado, tinha pouco tiroteio, que hoje tem, mas você tinha a questão de... Eu vi várias pessoas armadas, só que eles respeitavam muito, eles não... Eles ficavam... Naquela época, os próprios marginais da época, isso depois, logo que a minha avó saiu que começou a ficar mais violento, eles até não mostravam as armas, eles escondiam das crianças, eles tinham todo um cuidado de não mostrar uma arma para uma criança, de respeitar bem, né? Hoje até o pessoal fala que eles eram bons, o pessoal respeita. Não, naquela época respeitava bem mesmo, você via, assim, sem querer você via uma arma em certo momento ou via algumas vezes, mas não, mas era totalmente, tipo, escondido mesmo, eles respeitavam mesmo. Na verdade quando começou isso há mais ou menos 20 anos, aí a minha avó, na época, sentiu que: "Não, vai dar problema." Aí saiu fora, deixou o morro, aí depois só piorou, a tendência foi só piorar (risos).
P/1 – Se eu entendi bem então você ia visitar a sua avó.
R – É, então, ia nos dias de visita, nos dias de sábado, domingo e também ia às vezes nos dias de escola, aqueles dias que não tem aula ou nas férias, né, passava as férias com a minha avó, uma das duas, né? E essa, a por parte de mãe morava no morro, a outra já morava perto da gente ali no bairro do Maracanã que é Grande Tijuca, ali do lado do estádio do Maracanã. Isso é interessante, é uma das memórias que eu lembro, que a gente brincava muito lá e vez ou outra por três, quatro, cinco vezes você via alguma situação, assim, diferente. Mas totalmente diferente do que é hoje, sem comparação...
P/1 – E as brincadeiras no morro eram diferentes das brincadeiras do Maracanã?
R – Ah, eram totalmente, né? O morro era diferente, o morro é muito diferente, que fora a questão realmente social, porque naquela época as brincadeiras eram bolinha de gude e pipa, soltar pipa, era o que a gente fazia naquela época. Já no, vamos dizer assim, no prédio da minha avó que morava mais perto da gente, já os amiguinhos do prédio já eram, até tinha também a pipa, mas não tinha tanto porque na rua não dá para soltar muito, no morro dá. Mas aí já começou a surgir até uma coisa de videogame, naquela época, há muito tempo atrás, começou a surgir alguma coisa, né?
P/1 – Por que quê no morro dava para soltar pipa e na...?
R – Não, na rua até dava, o problema da rua é que você tem os prédios, pelo menos onde minha avó morava os prédios eram muito próximos, você tem a rua onde passam os carros e os prédios são muito colados. No morro não, você tem as casas, então eu subia no alto da casa da minha avó e soltava a pipa, você tem a topografia do morro, fica mais aberto. Naquela época dava...
P/1 – E a escola, quando você foi para a escola, tem alguma história marcante?
R – Eu me lembro de alguns momentos de escola, a minha primeira escola era ali perto, era bem em frente ao estádio do Maracanã, ainda existe essa escola, foi totalmente reformada, mas ainda existe. Eu não lembro, é engraçado eu, sinceramente, lembro de poucas, pouquíssimas coisas. Lembro da minha avó, algumas coisas que, a minha avó por parte de pai morava perto da gente e era responsável por levar a gente para a escola todo dia. Então eu lembro muito da questão dela buscando e na saída você passa ali em uma sorveteria, em uma loja de balas, então eu me lembro da gente pequeno... Eu tenho irmão, né, meu irmão é três anos mais velho e a gente estudava na mesma escola. Então eu lembro muito disso, dela dando essas balas... Da escola, nessa primeira parte eu lembro muito pouco, principalmente eu não lembro, eu não sei...
P/1 – Era de manhã?
R – Não, era à tarde. Só fui estudar de manhã no... Hoje é o nono, mas naquela época era o oitavo, né? Eu sempre estudei à tarde, não que fosse difícil de acordar, mas não sei, minha mãe sempre botou a gente à tarde, acho que era mais fácil para ela, porque ela sempre trabalhava e ela achava mais fácil. E tinha a questão da minha avó estar ali por perto, então a minha avó sempre levava a gente.
P/1 – A pé?
R – A pé mesmo, era pertinho, dava para levar, eram umas três ou quatro quadras.
P/1 – Ia você, seu irmão...
R – Eu, meu irmão e a minha avó levando. A gente morava ali bem perto do Maracanã, aí foi mais ou menos da primeira à quinta. Ensino Fundamental I hoje, né? E depois a gente se mudou, para uma, não muito distante dali, na mesma Tijuca, na Grande Tijuca, mas já no bairro... Quase ali no Andaraí, Vila Isabel ali, na divisa ali. Aí a gente já foi para outra escola, daí eu fiz a sexta e a sétima, minto, a quinta, sexta e sétima nessa outra escola, era tipo um quilômetro e meio longe de onde eu morava. E a grande mudança foi que a gente foi morar em uma casa. A gente morava em um apartamento ali no Maracanã, muito bom o apartamento, a gente tinha amigos ali que cresceram junto com a gente e depois a gente foi morar em uma casa. E a casa foi uma mudança muito significativa porque a casa, hoje eu moro em prédio, a casa é ótima, é fantástico você morar em uma casa, mas, ainda mais que hoje é pior, houve uma perda de contato com um pouco dos amigos, né? Porque quando você tem um prédio cheio de gente e um play, você desce a qualquer hora do dia e da noite para brincar, você vai no apartamento do amigo e troca experiência, brinca, e casa é mais complicado, já tem a questão da violência, então você já não pode sair, aí te restringe muito. Não necessariamente os vizinhos tinham crianças da nossa idade, já eram pessoas mais idosas, então não tinha muitos colegas ali muito próximos. Então dependia mais do final de semana para você encontrar os outros amigos do prédio ou algumas outras crianças da própria escola, então nesse ponto a casa atrapalhou um pouquinho.
P/1 – E o que que determinou essa mudança do apartamento para a casa?
R – Então, foram meus pais, é, foi, tipo assim, foi um, vamos dizer assim, upgrade, mas acho que meu pai não tinha essa visão. Hoje por exemplo, eu na minha idade... Eu tenho um filho de oito anos, eu adoraria morar em uma casa, seria ótimo, mas eu tenho certeza que para ele, ele tem toda essa liberdade, no prédio dele ele tem, sei lá, dez amiguinhos que são inseparáveis, a todo momento tocam em casa: "Ah, vamos descer, vamos jogar bola, joga videogame, sobe aqui, vamos ali...". Isso na casa você perde, inclusive teve amigos dele do prédio que mudaram para casas que perderam esse contato, do dia a dia, fica muito mais difícil. Ainda mais casa de rua, casa de condomínio ainda pode ser um pouco diferente. Como qualidade de vida não tenho a menor dúvida de que casa é muito melhor.
P/1 – Por quê?
R – Ah, eu acho. É uma liberdade. Apartamento é tudo restrito, o barulho, você não pode pisar, você tem toda a questão de barulho. Então eu morei basicamente do um aos oito anos neste apartamento, depois acho que acima de oito eu já fui para a casa. Então basicamente eu cresci na casa, depois só fui sair quando eu casei.
P/1 – E os seus pais quando vocês mudaram para a casa eles trabalhavam?
R – Eles trabalhavam normal, naquela época casa ainda era caro, então foi até um upgrade. Meu pai trabalhava no comércio, depois trabalhou em banco, depois desse comércio quando ele conheceu minha tia, ele trabalhou em banco e depois na parte de mercado financeiro. Minha mãe começou com 18 anos, agora tem 50, trabalha há mais de quarenta, nem sei, perdi a conta, acho que 45 anos na Fundação Getúlio Vargas e tem ela e mais outra pessoa mais velha lá, porque o resto é... São os dois funcionários mais velhos da Fundação Getúlio Vargas atualmente. Ela trabalha lá ainda até hoje, começou com dezoito anos, hoje já está com 50, 60, minha mãe fez 60 de 44, nem sei, perdi a conta já. Então ela sempre trabalhou na Fundação lá no Rio, a Fundação Getúlio Vargas do Rio. Que eu acho que nasceu mais lá, depois eu acho que aqui ela tem uma dissidência da Fundação Getúlio Vargas, um grupo do Rio e um grupo de São Paulo.
P/1 – E quais são os interesses da família, assim, em geral?
R – Então, a família, a nossa família é muito pequena porque meu pai tinha esses avós, os pais dele, e não tinha irmãos, era só meu pai, então ele era filho único. E minha mãe tem uma irmã que é a minha tia, que era casada, meu tio faleceu tem dois anos e não tinha filhos. Então era uma família muito pequena, ainda é. Então você tinha de um lado meu pai sem ninguém, minha mãe com uma tia casada e sem filhos, a família sempre foi muito pequena e todos moravam bem próximos e a gente é muito junto, entendeu? Então os interesses eram muito de família. Muita coisa, muita preocupação de saúde, todo um acompanhamento. O meu avô, o meu primeiro avô, que era o meu avô por parte de mãe, ele, quando eu tinha menos do que cinco anos de idade, sofreu durante seis anos com o Mal de Alzheimer, foi um período muito chato, né? Que levou uma dedicação muito grande da minha avó, da minha tia e da minha mãe, isso eu lembro bem, porque a gente teve esse contato todo com eles, então foram seis anos complicados. Faz muito tempo que ele já faleceu, tem uns dez anos ou mais. E, na verdade a família foi muito pequena, eu não tinha primos, primos de primeiro grau eu não tinha, tinha alguns de segundo grau já, mas então a família foi bem pequena.
P/1 – Vocês faziam festas juntos? Natal?
R – Tudo, tudo, tudo. Natal até hoje, festa de Natal a gente nunca passou um Natal longe, um Ano Novo longe, a gente sempre fez muito junto, a gente sempre fez.
P/1 – Você tinha coelhinho da Páscoa na Páscoa? Como é que era o coelhinho da Páscoa?
R – Coelhinho na Páscoa, não, tinha Papai Noel, tinha toda a... O Papai Noel também escondia, era engraçado que isso eu lembro bem, você tinha todo aquele negócio do dia 24 à noite, você tinha a janta, você ia jantar e aí você rapidamente ia dormir, eu ia dormir porque eu sabia que no dia seguinte, que era o dia 25, quando eu acordasse veria o presente na árvore, né? E isso é muito bom. Depois é... Isso é muito legal. Inclusive meu filho tem oito anos, fez oito anos agora dia três, quinta-feira passada, quarta passada, não, quinta e até um dos últimos anos acho que ele vai acreditar em Papai Noel é agora. Então esse ano até vai ser acho que o último ano que ele vai acreditar em Papai Noel, que ele ainda acredita da mesma forma que eu.
P/1 – Ele tem oito anos?
R – Ele tem oito anos, mas ele fez agora dia três, mas ele acredita, acredita, ele acredita. É até engraçado, isso surpreendeu, a maioria dos amigos dele acredita ainda, da escola dele, do mesmo nível de... Acredita, só que eu tenho certeza que é o último ano esse, né?
P/1 – E o que te dá tanta certeza assim?
R – Ah, na verdade acho que a sociedade hoje em dia, né? As informações correm muito rápido. Então tenho certeza que ele já vai daqui a pouco saber. Eu não lembro sinceramente a idade que eu acreditei ou não, não lembro bem, deve ser próximo disso também. Mas aí o contato com outros amigos, hoje em dia é muito forte o contato com os amigos, um já sabe, conta para o outro. Quer dizer, aquela história, no início ele viu o Papai Noel do shopping, achava que era o Papai Noel, depois ele já começa a entender que não, não era esse, aqui é um homem vestido de Papai Noel, mas o Papai Noel existe e ele vem no dia 25, então existe tudo isso. No início o papai Noel do shopping já era o Papai Noel verdadeiro. E aí vai evoluindo.
P/1 – E alguma outra brincadeira, assim, você lembra, marcante do período na escola principalmente. Como que era? Você disse que você não se lembra muito bem do período escolar. Alguma professora que tenha te marcado no período, assim, até a adolescência?
R – Então eu estou tentando separar aqui as datas, mas as coisas que me marcaram de matérias... Eu tinha um desempenho razoável lá na escola. E uma coisa que me marcou muito foi a música. E apesar de eu não gostar hoje, tinha naquela época, ainda tem. Meu filho ainda tem aquele negócio de flauta doce lá, todo mundo passou por isso. Isso marcou bastante e eu lembro que eu tocava razoavelmente bem, na época, pelo menos, é o conceito que eu tinha da professora. E eu lembro bem, isso é engraçado, essa parte eu lembro bem, sei lá, dos concertos, das brincadeiras, das músicas, isso eu lembro que eu gostava de fazer, tudo bem que depois já na adolescência eu nunca quis saber de música, nunca foi meu forte não.
P/1 – Existia aula de música?
R – Existia aula de música, na qual eu tocava flauta, aí tinha o dia da apresentação. Aí tem um dia do ano, duas vezes por ano, você chamava os pais para fazer uma apresentação. Isso eu lembro. Também lembro muito das brincadeiras de pátio, né, a questão da brincadeira de pátio. Jogava bola, aí você tinha bola de gude, você tinha, até a gente, pelo menos a gente brincava muito, né, a gente, eu não sei como é que... Eu lembro que o nosso grupo no colégio foi durante muito tempo junto, então não tinha muito essa separação de menino com menina. Eu lembro que menina jogava bolinha de gude com a gente e a gente pulava corda, naquela época tinha que pular corda, pulava corda com elas, então era meio todo mundo junto fazendo bagunça. Eu lembro bem da parte do pátio, sinceramente da aula eu não lembro bem não.
P/1 – E era escola estadual?
R – Não, não, eram escolas particulares todas elas, tanto a primeira quanto a segunda. Já eram escolas particulares.
P/1 – E foi misto do começo ao fim?
R – Foi.
P/1 – Estudou em escola mista do começo ao fim?
R – Foi, foi, foi. Até na verdade foi até a sétima série, que hoje seria a oitava, porque aí quando você tem o segundo grau naquela época, né, que hoje é Ensino Médio, não sei os nomes mais dos... Você já tinha a questão do preparatório para você fazer alguma coisa na vida. Então você tinha lá no Rio, não sei como é aqui em São Paulo, mas lá no Rio você tinha no Segundo Grau (antigo Ensino Médio), por exemplo, o colégio militar lá em Angra dos Reis, que era uma carreira militar, você tinha a questão das provas preparatórias, que tinha a parte militar e a parte, vamos dizer assim, pública. Então eu tinha a questão militar, tinha o Colégio Naval, a EsPCEx (Escola Preparatória de Cadetes do Exército) e tinha, na parte pública, foi onde eu estudei, o CEFET (Centro Federal de Educação Tecnológica), que é escola técnica, que aí já é o Segundo Grau Técnico. Eu fiz Técnico em Mecânica. Então você tinha os técnicos em construção civil, que é a parte civil, elétrica, eletrônica, mecânica e tinha mais um que era meteorologia, nada a ver, mas tinha. Então tinham cinco, vamos dizer assim, áreas técnicas que você saía do Segundo Grau já formado como técnico, né? Aí na sétima série eu deixei esse colégio que era o segundo que eu fiz quando eu fui morar nessa casa e já fui para um colégio, vamos dizer assim, mais focado em preparatório para fazer algum concurso para o Segundo Grau. Então eu fiz lá o último ano, que é o oitavo, que hoje é o nono, mas seria o oitavo, eu já fiz focado já em preparatório para cursos, para esse Colégio Naval... Só que a parte militar nunca me interessou apesar de eu ter feito as provas lá e ter até passado, mas não me interessava, fazia só porque, até existia um interesse do próprio colégio, como o colégio investia muito na gente em aulas, eles fazem questão de a gente fazer todas as provas, porque gera números para eles. Tantos aprovados... Então o meu Segundo Grau foi voltado para essa área técnica e aí foi interessante porque já foi uma tomada de decisão. Porque o Segundo Grau era de três anos, hoje, ainda era naquela época, só que o Segundo Grau lá por ser técnico era de quatro anos. Então eu já teria uma perda aí, depende do ponto de vista, uma perda ou um ganho com relação à entrada na faculdade. Então eu teria um atraso. E aí tomou convenci minha família de fazer o Segundo Grau Técnico, pois ao sair, depois de quatro anos de Segundo Grau, eu já sairia com um diploma e poderia arrumar um emprego. Não porque eu precisava, na época o meu pai tinha uma situação normal que me permitia até fazer uma faculdade sem trabalhar. Mas eu gostava de trabalhar, então eu quis ir para essa área, não quis, tipo, fazer uma faculdade durante, sei lá, quatro, cinco anos, viver às custas do meu pai e depois da faculdade ou durante a faculdade tentar procurar um emprego e uma colocação. Eu não quis fazer isso, eu preferi fazer o técnico para já tentar alguma coisa no final, para ganhar dinheiro. Então eu fiz o Segundo Grau Técnico em quatro anos, Técnico em Mecânica, já habilitado pelo CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), já direitinho. E aí foi quando eu fui trabalhar, eu tinha 18 anos, eu fiz um estágio antes, na verdade, fiz estágio em uma empresa que nem existe mais lá no Rio. E lá nesse estágio que eu fiz durante um ano, eu fiz um estágio do técnico, era obrigado a fazer um estágio também, por isso que demorava mais, você estudava à noite, de manhã tinha que fazer o estágio. E aí eu fiz um estágio técnico e aí eu conheci uma pessoa nessa empresa em que trabalhei, e essa pessoa depois abriu uma empresa para... Uma empresa de mão de obra. Então ela tinha uma empresa que ela contratava pessoas e alocava a mão de obra dentro de algumas empresas. E esse "cara", quando abriu essa empresa eu terminei o meu estágio, tinha 18 anos e estava formado como técnico em mecânica, me contratou e me alocou na White. Foi aí que comecei na White, mas não entrei como funcionário, eu trabalhava para a empresa dele e prestando serviço dentro da White. Mas aí, eu até comento com as pessoas que na verdade eram... Eu não tinha chefe da empresa, trabalhava com os funcionários da White Martins, então basicamente eu me sinto e me sentia como um funcionário, a diferença é que o meu salário não vinha da White, vinha através dessa empresa. Mas até os benefícios que a White tinha, o ticket refeição era X, a empresa fazia igual, até os prêmios de lucro, a lucratividade, se a White tinha um salário de bônus eu também tinha um salário de bônus. Então eles faziam bem igual. Por quê? Porque isso naquela época, eu fui trabalhar lá na White, na FEC. FEC é a Fábrica de Equipamentos Criogênicos lá no Rio de Janeiro. E lá a FEC vive o movimento da indústria, então você tem a sazonalidade. Ela entendia que os funcionários do meu nível, ela não contrataria como funcionário, ela teria essa empresa que cederia mão de obra mediante a flutuação de demanda de trabalho. E foi uma época boa porque o Brasil naquela época estava bom, tinha bastante projeto naquela área da FEC, na fábrica. E aí já foi interessante porque eu lembro que eu me especializei em uma área que naquela época era novidade, que era a parte de desenhos, de fazer desenhos técnicos, desenhos das carretas da White, dos tanques a White, das plantas da White, mais voltado para o computador. Então era o início, vamos dizer assim, de uma era computadorizada, então fui me especializando nessa parte de desenho por computador, que é um software específico para isso, chama-se AutoCAD, é um software que faz isso. Eu fui treinado nele, quer dizer, eu por livre e espontânea vontade fiz um curso e foi bem interessante, que aí quando entra na White lá, também a White estava começando essa questão da informatização, vamos dizer assim, dessa parte técnica dela. Então eu participei bem do início dessa informatização. Foi legal porque ali juntou um monte de pessoas, eu tinha na época 18, 19 anos, fiquei três anos, então dos 18 até 21, 20. Juntaram muitas pessoas antigas, pessoas que desenhavam tudo muito na mão e aí entra lá o Bruno e outros dois ou três desenhando já no computador. Então foi bem interessante, isso eu lembro muito bem que eu ensinava para as pessoas mais antigas como desenhar no computador, mas é óbvio que eles me ensinavam a técnica do desenho porque eles conheciam. Então foi um período muito legal nesse sentido de troca de aprendizagem e de, vamos dizer assim, de informatização nessa parte lá da White naquela época. Então foi bem, foi bem legal. Naquela época a gente desenvolveu bastante, bastante coisa lá.
P/1 – Eu queria voltar um pouquinho para essa fase da juventude. Como é que você se divertia com os amigos? Que tipo de lazer que vocês praticavam assim, se gostava de esportes…
R – Não, sinceramente, eu tinha, não, eu não... Esporte eu fazia, eu fazia duas coisas na época de juventude; natação e judô. Eu não era muito de sair com amigos, eu não tinha tantos amigos assim, tinha uma cadeia muito pequena, eu acho, de amigos, mas suficiente. E eram coisas muito caseiras, você até ia, mas eu nunca fui de balada, esse negócio assim, de muito... Ia muito pouco, muito pouco para dizer que eu não fui. Mas não gostava, o meu negócio era mais caseiro, a gente gostava mais de outras brincadeiras entre a gente, já tinha aquela questão na minha adolescência do início do computador, então já tinha os videogames, óbvio o Atari, aquelas evoluções que todo mundo conhece. Mas o acesso ao computador era bem restrito, então eu não tinha, mas aí tinha um primo que tinha, então daí já tinha aquela questão de ir para a casa dele para ficar desenvolvendo, tentando entender, tentando aprender, era uma coisa novidade para todo mundo. Então a gente não era muito não... A gente era bem restrito. Só nessa parte do Segundo Grau (antigo Ensino Médio), também não tinha saídas não, mas aí você vai crescendo um pouco e as coisas são um pouco diferentes, né? Era só, não sei, não, era só a gente ali mesmo, a gente tinha... O colégio, a gente, o colégio técnico de quatro anos era bem puxado naquela época, a gente fazia muito trabalho, muito estudo em grupo, a gente visitava muitas empresas no sentido de aprendizagem... Então a gente, sinceramente, eu não tinha, assim, tanta... Eu também não era...
P/1 – No seu grupo de amigos tinha mulher?
R – Tinha, tinha. Era bem restrito, mas tinha.
P/1 – Você não teve nenhuma namorada na época?
R – Não, não, não, não. A minha, na verdade, a minha primeira namorada eu conheci através de um amigo só com 16 anos que eu fui conhecer através de um amigo, namorei ela um ano e pouco, um ano, acho que um ano, nem lembro mais. E na verdade a minha segunda namorada já foi minha esposa, que eu fui conhecer nesse trabalho, nesse mesmo lugar que falei, esse amigo abriu uma empresa, nesse meu estágio, ela já era funcionária lá nessa empresa e eu era estagiário e aí eu fui conhecer ela e depois vim a me casar com ela. Mas não, naquela época não. Engraçado que eu fiz Técnico em Mecânica e depois eu fiz a Engenharia Mecânica, então era tipo, acho que nem 10% da turma era menina, né? Era bem, tipo, de uma turma de 30, 40 você tinha três, quatro meninas, era bem restrito, apesar de no colégio ter outras áreas mais focadas.
P/1 – Na época do curso técnico você nem imaginava, assim, até conhecer a White, que você iria trabalhar com a cadeia produtiva do gás?
R – Não, não, nada. O que a gente fazia muito naquela época, a gente acompanhava realmente pela própria escola técnica, a questão da evolução do Brasil como um todo. A gente via que a demanda de profissionais estava muito forte, eu lembro que disso a gente tinha toda uma perspectiva: "Ah, não, vai trabalhar em várias empresas...”. A White, sinceramente, naquela época não, não tinha não. Como a gente era mais mecânico nosso foco era maior nas empresas de mecânica pesada. Já tinha naquela época aquela parte do Rio estaleiros, mas aí na parte da White não. O contato da White mesmo veio só depois através dessa pessoa que abriu essa empresa e ele me jogou lá dentro. Na verdade eu não conhecia nada, quando eu entrei na White eu não conhecia nada do mercado de gás, fui aprendendo tudo lá dentro.
P/1 – E esse primeiro contato com a White? Conta um pouco como é que foi essa primeira semana, esses primeiros dias...
R – A White como uma empresa grande... Na verdade foi bem interessante porque eu era novo, 18, 19 anos e a White é uma empresa muito grande então aquilo ali me assustou. No primeiro dia foi bem... No primeiro dia eu lembro só... A única coisa que eu lembro é meu avô, o meu avô teve uma oficina mecânica e ele usava gases da White, então quando eu fui trabalhar na White ele me falou: "Pô, a White, eu conheço a White...". Só foi esse o contato, mas aí quando eu já fui trabalhar para a White ali me assustou no início, eu achava uma empresa muito grande, mas é até interessante, hoje eu até comento com o meu chefe, já comentei várias vezes. Eu trabalhava na FEC que é Fábrica de Equipamentos Criogênicos, fazia tanques, carretas e plantas e eu passei três anos ali. E esses três anos eu achava que aquilo ali era o mundo da White Martins e eu tomei um susto quando conheci a White como um todo, porque é engraçado como a gente fica só no nosso mundo...
P/1 – Vai acabar a fita. Vou interromper...
R – Não, não tem problema.
(troca de fita)
P/1 – Você tinha dito que então você não tinha percebido...
R – Ah, o tamanho da White, né? Então, aí lá na FEC foi interessante que a gente... Teve essa situação toda dessa parte de informatização da White focada na parte de projetos da qual eu participei. E foi bem legal e também uma coisa que me marcou muito foi o contato que eu tive, não muito direto, mas indireto, com a Praxair, Estados Unidos. Aquilo me marcou muito, porque vinha muita coisa de informação via Praxair, via Estados Unidos, já tinha toda aquela questão, o inglês, a dificuldade do inglês, da língua e de novidades, então aquilo me abriu os olhos, assim, no sentido de novidades tecnológicas, digamos assim. Então aquilo me abriu muito, e até me lembro de uma passagem minha também. Quando eu entrei na White, tinha um ano, eu lembro que fiz, a pedido da minha mãe, na verdade foi a minha esposa, que na época era minha namorada, o meu irmão e eu, a gente fez um concurso público para o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, um espetáculo na época, ganhava a mesma coisa que eu ganhava na White, trabalhava seis horas por dia, muito legal. E eu não queria fazer, foi a pedido da minha mãe, nós três fizemos. E eu passei no concurso, só que eu cheguei e eu estava tão deslumbrado com a White que não fui trabalhar no concurso. Muita gente na época me falou muito, naquela época, menos do que hoje, um concurso público valia muita coisa e eu lembro que o pessoal falou muito: "Como é que você não vai trabalhar, você vai ganhar a mesma coisa da White na época e vai trabalhar seis horas por dia?" Tudo bem que na época era quase, eu lembro até, eu comentando com o meu pai, era uma função basicamente de um digitador naquela época, era alguma coisa assim, era um digitador, não tinha nada de interessante para mim que eu tinha saído de um curso técnico, entrando na White com todo um aparato de investimento tecnológico e, na verdade, começando também Engenharia Mecânica, que eu fiz tudo uma atrás da outra, assim, que eu já entrei já entrei em um curso de Engenharia Mecânica. Então, aí surgiu esse episódio que algumas pessoas me criticam até hoje de não ter ido, mas todo esse aparato de tecnologia me fez tomar a decisão ficar na White naquele momento. E aí, voltando, eu passei um bom tempo lá, eu lembro que esses três anos nessa parte de tecnologia foram muito fantásticos, e aí surgiram, realmente, as primeiras amizades dentro da White, de trabalho. E como falei, toda essa tecnologia e a questão Praxair me chamaram muito a atenção. Então a gente tinha visitas frequentes de pessoas de fora, tinha essa questão dessas ligações que você tem através de tecnologias, dessas visitas. Então aquilo começa a me chamar muita atenção e eu achava aquilo ali o mundo da White Martins. E aí, não sei se vocês estão habituados à FEC, na verdade ela fabrica equipamentos para própria White, ela não vende, não tem contato com cliente. E aí, isso eu falo muito, porque depois, quando eu saí de lá, é que realmente a gente, vamos dizer assim, vê o tamanho da White, depois que você sai lá, você acha que aquilo lá é o mundo e depois você vê que aquilo lá não é nada, para a White aquela FEC não era nada, uma parcela bem pequena da White como um todo.
P/1 – Mas conta pouquinho ainda como que era o seu dia a dia. Era em um escritório dentro da FEC mesmo?
R – É, dentro da fábrica. Na fábrica você tem a parte fabril mesmo, tem a parte de solda, de corte, toda a parte de mecânica pesada, todas as áreas de auxílio, o almoxarifado, o pessoal de qualidade, o pessoal de segurança e, dentro do próprio parque fabril, tinha um escritoriozinho, nada muito grande, no qual trabalhavam 30 pessoas nessa parte da engenharia, que seria a parte, assim, do detalhamento. Então isso era bem legal porque você estava muito próximo da produção também, então você desenhava uma coisa aqui, você ia lá embaixo e você via o que estava acontecendo. Ou também quando dava algum problema a pessoa retornava para você e trocava ideia sobre o que estava acontecendo. Claro, na época, como eu falei, eu era um desenhista, era como um desenhista e você tinha os projetistas. Então na verdade eu já era um projetista trainee, digamos assim. Então eu aprendia com os mais velhos, só que tinha toda essa questão do desenho, eles não sabiam fazer, então era muito legal porque um faz uma parte, o outro faz outra e no final todo mundo sai ganhando. Então isso foi muito legal.
P/1 – Deixa eu entender bem, um projetista encomendava para você o desenho explicando para você o que ele queria?
R – Isso. Um projetista chega com um papel dizendo o seguinte: "Eu quero isso aqui, eu quero um desenho assim." Ou uma revisão de desenho: "Ó, esse desenho aqui está errado, muda isso aqui." E aí eu ia lá no computador e fazia aquele desenho e gerava um papel para ele de volta.
P/1 – Você lembra o primeiro desenho que você fez? O primeiro projeto ou alguma coisa que você tenha dito: "Nossa, como é que eu vou desenhar isso daqui?".
R – Não, então na verdade dentro dos produtos da FEC eu não tive um produto específico, assim, não é o produto que o Bruno participou 100%. Eu participei, na realidade, de vários projetos, então eu era demandado para tudo. O que eu lembro bem é toda essa... As plantas da White, da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Usiminas... Eu participei de todas, é claro que em determinados pedaços, né? Porque você tinha os projetistas que cuidavam de uma coluna, os outros projetistas cuidavam do compressor. Então eu era demandado, o "cara" do compressor, essa semana eu vou ficar com o "cara" do compressor, então você trabalhava naquela área específica. Então não tive assim, nada, vamos dizer assim, de início ao fim. Quer dizer, só o projeto como um todo, o projeto começou, CSN, e terminou dois anos depois. E aí eu participava mais em áreas, vamos dizer assim, eu não tinha uma área específica, eu trabalhava e onde era necessário eles me alocavam. As pessoas responsáveis geralmente eram os projetistas e eu era o desenhista, mas aí eu me lembro muito bem dessa questão de um auxiliar o outro. E era muito legal que todos os projetistas da White, alguns ainda estão lá ainda, também tinham muita ânsia de aprender. Então foi interessante também que eu tinha 18 anos e eu já começava a pensar: "Pô, mas esse 'cara' tem 35, 40 e eu estou entrando aqui novo, eu sei muito aqui do computador e ele não sabe nada, mas ele conhece tudo e eu não conheço nada do projeto." Então, pô, foi uma troca de experiência nesses anos muito legal. Isso me marcou bastante. E legal porque eles também queriam aprender. E isso foi até legal, porque muita gente já falava; "Ah, o 'cara' com 40 anos está querendo se aposentar..." Nada, todos eles tinham uma ânsia muito grande de conhecer também, e, eu até hoje gosto muito de ensinar. Então eu gostava muito, o meu prazer era ficar lá, se precisasse eu ficava até de noite, fazia até hora extra só para ensinar a eles o que eu teoricamente na época conhecia um pouco mais do que eles, como também não tive nenhum problema, nunca tive nenhum problema com relação a eles me ensinarem o que eles conheciam de bom. Aquele grupo da FEC ali, ele era muito, muito, unido e uma das coisas que na White a gente tem... A White, vocês já devem ter visto, é muito dinâmica, então, por exemplo, pessoas daquela época lá que eu ainda convivo em outras áreas, lido com elas, assim como eu, já saíram da área da FEC eu convivo com essas pessoas, você esse negócio da White até hoje me surpreende. A White tem esse dinamismo, hoje você está no Sul fazendo isso, amanhã você está no Norte fazendo aquilo e você se encontra com as pessoas, uns mais, uns menos, mas está tudo dentro do ambiente da White. E impressionante como de vez em quando você se surpreende: "Pô, mas a White faz isso?". Ou: "A White fez isso?". A White dá umas voltas, assim, acho que isso é um sucesso da White, esse dinamismo, as pessoas rodando lá dentro e ela diversificando também em produtos, serviços, fazendo aí. Dando, claro, com isso, alguns insucessos, mas mais vezes com sucessos, isso é bem interessante.
P/1 – Então quando tempo você ficou lá na FEC?
R – Lá na FEC eu fiquei esses três anos, dois anos, quase três anos e a gente criou uma amizade muito forte lá, foi bem interessante, e na época o nosso gerente lá... O gerente da fábrica era o Eduardo d’Avila que hoje é o Vice-Presidente Industrial. O Marco Guimarães, que era o Gerente de Engenharia, era o meu chefe, ele hoje está na Índia, por exemplo. Até hoje, por exemplo, ele acessa quase todo dia o facebook então eu olho lá, ele põe fotos da Índia, ele está morando lá com esposa, então é um dinamismo muito legal. E aí na época a White, depois que deu uma estabilizada nos projetos, entendeu que ela deveria primarizar algumas pessoas desses desenhistas. E aí ela primarizou, ela abriu uma vaga, e como eu já era técnico mecânico, ela abriu uma vaga de Técnico Júnior Mecânico e eu fui contratado como Técnico Júnior Mecânico naquela época, depois desses quase três anos que eu fiquei como terceiro. E aí na verdade foi até interessante, depois que eu fui contratado, logo o Eduardo d’Avila, que era o gerente da fábrica toda, que hoje é o Vice-Presidente, saiu da fábrica e foi trabalhar na matriz, lá na Mayrink Veiga, lá no Centro do Rio de Janeiro, onde era, hoje não é mais, a matriz da White. E esse Marco Guimarães, que foi meu chefe direto da engenharia, foi para o lugar dele como chefe da fábrica como um todo. E aí assim que eu fui contratado, tipo, três meses depois o Eduardo d’Avila que tinha ido para a matriz trabalhar nessa área de logística, apareceu uma vaga no grupo dele, me indicou, me indicou não, me chamou para uma entrevista com outras pessoas e me indicou para ir para essa vaga já na área de logística. Aí eu fiquei três anos como terceiro e, tipo, três meses como funcionário e já como funcionário já apareceu essa vaga com a saída do Eduardo, que me chamou para uma vaga lá na matriz do Rio de Janeiro. E um dos momentos que eu lembro muito é que, visto até meu deslumbramento com a White FEC, eu lembro que o Marco Guimarães que hoje está na Índia e que foi ser o gerente da fábrica, quando surgiu essa oportunidade de ir, eu virei para ele e falei assim: “Eu não quero ir para a área de logística, o meu negócio é mecânica, vamos dizer assim, é fabril, é fábrica, eu não quero, essa área de logística, não me interessa." Eu não sabia nem o que era. E aí ele virou para mim, me deu uma bronca enorme e falou assim: "Não, você não está querendo ir, você vai ter que ir." Porque na época o próprio Eduardo já tinha para uma vaga maior, vamos dizer assim, na área de logística e falou assim: "Pô, o 'cara' está te chamando, você tem que ir." Apesar de eles gostarem do meu trabalho lá ele falou: "Não, ali é diferente, ali é a White, você vai começar a ter contato com cliente." Aí que ele foi me explicar o que que era a White, vamos dizer assim, maior, né? Porque eu falei a FEC ela é uma divisão enorme dentro da White, mas ela é focada em fazer equipamentos para ela mesma, ela não tem essa questão do cliente, do dia a dia da entrega, da venda, do negócio fim da White. Então eu lembro que ele me deu, até hoje é engraçado, uma super bronca e falou assim: "Não, você não tem que perguntar, você tem que ir." Eu virei para ele e falei assim: "Eu não vou, eu ficar aqui que eu estou bem, estou feliz. Para que que eu vou lá, sair da minha zona de conforto, né?" E ele me deu uma super bronca e eu fui para lá. E aí já saindo da FEC e indo lá para a Matriz do Rio que era um prédio lá que ainda existe, lá no Centro do Rio. E aí eu fui já indo nessa área de logística. Eu fui ser analista de logística, né? E é interessante, né, porque depois que você conta isso 15 anos depois, 14, você vê, que legal, hoje eu sou gerente de logística, né, então se não fosse ele me dando brinca onde eu estaria hoje? Eu não tenho a mínima ideia o que que eu estaria hoje, né? Então esses fatos assim são bem legais. É o que eu falei, eu lembro muito da bronca, né, no sentido profissional, que ele falou. E aí se ele não tivesse me dado brinca? E se ele tivesse aceitado e dito assim: "Não? Então está bom, então fica assim, fica aí mesmo comigo que está bom." Onde eu estaria hoje? Eu não tenho a mínima ideia, né?
P/1 – Analista de logística. Fala um pouco sobre essa profissão que você...
R – Então eu fui nesse grupo, tinha um Gerente de Logística, isso há 15 anos, e essa pessoa era o Eduardo Vales, já saiu da companhia. Então ele, a gente tem uma frota de caminhões, hoje, por exemplo, a gente tem nove 930 caminhões, toda a questão do enchimento, a minha parte é focada na parte de cilindros. A White tem a parte a granel, que é a parte líquida, que é oxigênio líquido, nitrogênio líquido e tem a parte de cilindros, que é o package, como a gente chama. A parte de cilindros que é o produto gaseificado, e aí você tem toda essa questão da entrega desse produto, então já naquela época as atividades que a gente fazia muito eram as seguintes; naquela época eu peguei a White com 120 unidades ao longo do Brasil, unidades mesmo, unidades próprias. E aí você fazia estudos, nos quais você entendia que, por exemplo, te falo aqui de São Paulo, a unidade, por exemplo, de Marília não era necessária, você tinha uma unidade ali, sei lá, em Presidente Prudente, em Bauru que seriam, que dariam, vamos dizer assim, um suporte à região de Marília. Então a gente já fazia naquela época estudos de logísticas que a gente propunha fechar ou abrir uma unidade, ou a mudar a localização de uma determinada unidade da White. Claro que isso envolve também até coisas mais políticas ou não, mas também envolve a questão logística em relação a custos de produção e custos de distribuição. Então é uma balança que você pesa o que é melhor para a companhia, claro, juntando sempre a visão de mercado, tipo assim, Marília vai crescer? Marília vai encolher? Tendo como um exemplo de Marília.
P/1 – E uma vez feita a unidade, eu queria entender bem o quê que é isso de abrir uma unidade em Marília, por exemplo, o que que significa realmente essa decisão, abrir uma unidade?
R – Então, naquela época no início envolvia você alugar um prédio, você contratar funcionários e você ter uma estrutura logística, então você tem um caminhão ali que fica baseado em Marília, vou dar um exemplo, e também fora a questão da unidade Marília, tem a questão assim, o que que Marília vai produzir? Vai produzir oxigênio? Vai produzir argônio? Qual a gama de produtos que ela vai... Que nem todas as nossas unidades produzem todos os produtos, então tem toda a questão de qual é a gama de produtos que você vai trabalhar naquela região. Então tem um estudo de demanda daquela região do interior, no caso o exemplo que eu citei de Marília, foi hipotético, na qual vai ser visto o seguinte: não, Marília vale à pena ter um enchimento de oxigênio só. E o argônio, o CO2, o acetileno vão vir, por exemplo, de Bauru, que seria, sei lá, uns duzentos, trezentos quilômetros de distância. Então você tinha que desenhar, falar: “Não, então um caminhão vai vir três vezes por semana trazer esse cilindro de Bauru, rodar seus 300, 400 quilômetros até Marília, descarregar e voltar.” Isso tem um custo, né? O enchimento não, o enchimento, quando eu encho um cilindro em Marília, eu não preciso levar o oxigênio de Bauru. Eu só levo os outros gases de Bauru para Marília. Então, por exemplo, só que eu tenho custos fixos de produção, então eu mensurar o que que é o melhor, custo fixo de produção lá em Marília, ter funcionários lá ou eu levar cilindro de uma filial para outra. Ou, por exemplo, também, meu caminhão vai sair de Bauru com o motorista e ele vai ficar lá, ele vai dormir em Marília, vai sair de Bauru na segunda e chegar, sei lá, segunda às 12h em Marília e ficar lá de segunda até quinta em hotel na cidade ou dormindo em algum lugar e abastecendo o mercado local com esse caminhão e na sexta-feira eu volto para recarregar. Então você tinha todas essas contas que a gente fazia, para chegar a uma conclusão do que era, vamos dizer assim, mais viável para a White. E eu lembro também que nessa entrada na parte de logística também começou a entrar muito a questão tecnológica de softwares, que já nos auxiliavam a tomar essas decisões, e que hoje basicamente são obrigatórios. Naquela época não, ainda tinha, era uma entrada, era um software também da mesma forma que na FEC, eram softwares que vinham dos Estados Unidos então tudo era muito tecnologia que vinha da Praxair para a gente. Então vinha o americano, demonstrava o software, ensinava como é que usava e aí você operava aquilo lá. Fora essa questão também de logística você tinha a questão de normatizações, nosso grupo ele sempre fez a questão de normas. Por exemplo: “Ah, você não pode, por exemplo, rolar dois cilindros de uma vez, você tem que rolar um cilindro de cada vez.” “Ah, para ‘botar’ no caminhão você tem que ter uma amarração dessa forma.” Então tem toda a questão de parametrizações. Então tudo a gente também definia, por mais que eu tivesse as 120 unidades, a gente era, vamos dizer assim, o normatizador dessas atividades: “Como é que eu faço a venda; como é que eu entrego; o que é que eu abordo para o cliente; o quê que eu faço”. Muito forte naquela época, eu lembro que foi o primeiro projeto que eu trabalhei, foi parte a parte, hoje é forte, mas naquela época era um absurdo de forte. Todos os nossos caminhões tinham um computador de bordo, eles tinham um computador que hoje são os handhelds, que hoje nada mais é do que um telefone, um iPhone, qualquer telefone bom aí. Naquela época era muito restrito, você tinha equipamentos muitos caros, até hoje são caros, eram bem caros, que você dá na mão do motorista e ali ele opera aquele computador com uma impressora na qual eu consigo emitir as notas fiscais no momento da entrega, eu não preciso fazer as notas fiscais antes. Então se eu chegar no cliente e o "cara" quiser dois cilindros ou três ou quatro, eu consigo na mesma hora emitir aquela nota fiscal para ele. Esse foi o primeiro projeto que a gente trabalhou e isso foi em 1996 ou 1995, nem lembro bem. Engraçado que aí são as evoluções, eu trabalho nesse projeto de 1996 até hoje, quer dizer, hoje eu sou responsável por ele também, a gente tem os meus computadores, não os mesmos, a tecnologia vai evoluindo, então eu tinha equipamentos naquela época e eu fui me atualizando ao longo desses 15 anos de tecnologias. Então hoje, por exemplo, nossos caminhões são rastreados via satélite, você tem a questão da comunicação via celular. Celular que eu digo GPRS (Serviço de Rádio de Pacote Geral), dados, então hoje eu troco informações onlinecom o meu sistema. Naquela época eu tinha um coletor, mas eu não tinha GPS (Sistema de Posicionamento Global) e não tinha o GPRS, então as coisas foram evoluindo, né?
P/1 – E qual a diferença de GPS e GPRS?
R – O GPS é a localização do caminhão, então é um equipamento que vai no caminhão que via satélite ele me diz o seguinte: onde eu estou, latitude e longitude. E aí eu consigo saber onde o caminhão está. O GPRS é a sigla de tráfico de dados via celular. Então usando uma rede de celular eu consigo trafegar dados e trafegar dados é do tipo eu passar um pedido para o motorista. Então eu tenho no meu sistema, eu digo o seguinte: "Ó, o Bruno quer um oxigênio lá em Marília.” Então eu passo isso para um caminhão via dados, então aparece para o motorista lá uma telinha dizendo que o Bruno quer. Naquela época não, nos coletores não existia isso, então os coletores eram, ele chamam de offline, eles não eram online, hoje são online. Então quando o motorista saía com uma semana de Bauru para Marília, o coletor não se atualizava, ele só se atualizaria quando eu voltasse para Bauru de novo daqui a N dias. Então a tecnologia foi se atualizando e a gente foi junto. Nessa parte eu sempre admirei a White, ela sempre busca muito essa questão da tecnologia e ela saiu muito na frente em muitas coisas desse tipo, de tecnologia de informação, de automação, né? Os softwares que eu falei são softwares logísticos, a gente foi evoluindo nesses 14 anos, a gente já passou aí por uma meia dúzia de softwares cada dia melhores em termos de resultados, isso é bem interessante. Quer dizer que a White, vamos dizer assim, sempre foi na frente, ela sempre foi puxada. O que eu vejo de interessante também naquela época quando eu trabalhava é que você tinha fortes coisas vindo dos Estado Unidos para a gente. Hoje não, é até interessante, a gente, há pouco tempo atrás fez um projeto que na verdade virou até uma base para o México e para outros países não veio nada para a gente, a gente fez aqui uma ferramenta, tudo bem, internacional conhecida, mas a gente trabalhou e eles usaram para outros lugares. Mas essa interação é muito, muito forte. Quer dizer...
P/1 – Então podemos dizer que é uma referência até para a Praxair esse assunto que você está contando da tecnologia?
R – É, hoje, por exemplo, esse assunto sim, a gente fez essa, a gente fez há dois anos atrás um centro de logística, a gente montou até lá em Bauru, tem até porque ser em Bauru, porque eu tenho 40 funcionários que ficam em Bauru então a gente montou um centro de tecnologia lá, um centro de logística na qual eu coordeno todos os meus caminhões do Brasil, então eu opero esses caminhões via, vamos dizer assim, automações, tipo essa do GPS. Eu sei onde está o caminhão, eu me comunico com o caminhão de forma online hoje. E aí esse projeto serviu de base para um projeto que o México está implantando agora, né, que a Praxair deve implantar e outras áreas devem usar.
P/1 – Tem um nome esse projeto?
R – Não, então, na verdade, é um software que a gente usa, é um software da UPS, você conhece a UPS Logística? Você tem a DHL Internacional e tem a UPS, são as duas maiores empresas de logística do mundo a DHL e a UPS é que nos Estados Unidos opera todos os softwares de roteirização. Então roteirizo o meu caminhão, eu sei onde está o meu caminhão, eu acompanho de forma online. E fora essa questão do Centro de Logística de Bauru que a gente montou, também foi uma centralização que a gente fez, que antes cada unidade operava de forma, vamos dizer, independente, aí hoje não, tudo junto, a gente voltou a operar de um lugar só.
P/1 – E o México de repente foi o primeiro na América...?
R – É, na verdade, aí o que acontece? O pessoal da Praxair que lida com a gente, eles usaram o nosso projeto de base e desenvolveram uma solução na verdade mundial. Que o México agora está sendo o primeiro que vai usar. Então usaram o nosso de base, melhoraram até algumas coisas no nosso e eles vão usar agora. O primeiro vai ser o México, deve entrar em outras regiões...
P/1 – Por que Bauru? Algum motivo para que tenha sido decidido?
R – Bauru foi uma estratégia que a gente fez. Na época Bauru tinha uma unidade própria da White, não era uma unidade alugada, então isso já facilita em relação aos custos. Outra coisa interessante de Bauru, Bauru é uma cidade do interior que tem uma mão de obra muito boa. Tem seis ou sete faculdades em Bauru então tem uma mão de obra muito boa. A White se posiciona muito bem no mercado, apesar de Bauru ser uma região próspera, ela é muito forte em comércio, ela tem indústrias, tem sim, óbvio, mas a White por ser indústria ela tem uma posição muito boa de salários, uma empresa que chama atenção em Bauru. E isso nos agrada porque aí você consegue trazer profissionais bons, você pode trazer gente muito boa para trabalhar, então a gente escolheu na época Bauru, já tem dois anos e estamos lá. É bem interessante. Na verdade é muito dinâmico, todo dia a gente atualiza alguma coisa do projeto, a gente está sempre "botando" alguma coisa a mais, puxando alguma coisa que não deu certo, esse dinamismo, eu acho o fator de sucesso da White esse dinamismo. Se estiver errado, não desiste e vamos fazer de novo. Isso eu acho fundamental, em tudo na White eu vejo isso, sei lá, fez errado, acho que ela não tem vergonha de dizer que fez errado e que ela tentou e fez de novo.
P/1 – Diz uma coisa, vamos voltar um pouquinho então para essa época da faculdade. Então você estava...
R – Então, quando eu fiz o técnico, me formei depois de quatro anos e fui contratado por essa empresa terceira e fui para a White. E aí logo que eu fui contratado, que fui trabalhar na White, eu também, voltando àquelas decisões, que eu tomei... Você tinha a questão de vestibular e eu fiz o vestibular lá no Rio, a UFRJ, é faculdade pública, né?. E o que acontece no Rio, não sei como é que é em São Paulo, isso mudou já faz tanto tempo, é, mas naquela época as faculdades, as públicas, UFRJ, a Federal Fluminense e a Estadual do Rio, são as três maiores, digamos assim, são muito fortes. Elas são, como é que vou dizer? Elas têm um problema, que ela requer o aluno de engenharia de forma integral, não era todo dia, mas duas, três vezes por semana você tinha que ficar o dia todo e só tinha aula de manhã, não fazia aulas à noite. Então eu fiz vestibular, passei em todas, mas tipo assim, ou eu parava de trabalhar, então eu já tinha começado a trabalhar dentro da White nessa empresa, na época o meu pai, ele tinha até condições, ele falou: "Não, se você quiser é o seguinte, eu não te pago a faculdade e eu te dou essa mensalidade da faculdade e você não trabalha, você usa isso como uma mesada, digamos assim." Ou eu continuaria a trabalhar na White faria uma faculdade particular à noite. Na verdade no Rio só tinha duas faculdades também de engenharia mecânica particulares à noite, uma muito fraca e outra mediana que foi a que eu fiz. E foi uma decisão até complexa porque essa faculdade particular, não adianta, os maiores reconhecimentos são das públicas, acho que em São Paulo deve ser a mesma coisa. Foi uma decisão que eu tomei na época, que eu não queria passar cinco anos de engenharia, que engenharia é cinco anos, eu não queria passar cinco anos sem trabalhar. Eu queria trabalhar, eu queria fazer, então eu fiz em paralelo, toda a minha faculdade eu fiz já trabalhando na White, os três primeiros anos como terceiro, depois fui contratado pela White e também continuei fazendo a faculdade. Levei cinco anos e meio porque a faculdade de engenharia é cinco anos, levei cinco anos e meio porque a White é muito complicada de carga horária, então vez ou outra eu tinha que perder uma matéria, vez ou outra eu viajava, então perdi alguma coisinha. Mas até que eu atrasei só um semestre, não foi nada absurdo.
P/1 – Teve que fazer um trabalho de final de curso?
R – Fiz um trabalho de final de curso, mas não foi... O que aconteceu, quando eu fui, os três primeiros anos eu estava na fábrica, vamos dizer assim, trabalhando com engenharia, mas os dois anos e meio finais da minha faculdade já era na área de logística, então o que aconteceu? Eu nunca trabalhei como engenheiro mecânico, nunca. Eu me formei em engenharia mecânica, para você ter uma noção eu não tirei nem o CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) de engenheiro mecânico, eu tinha o CREA de técnico mecânico. Mas eu nem tirei o de engenheiro porque eu já era... Eu já trabalhava na área de logística, já era analista, nem lembro mais qual era o cargo, mas eu não estava mais na área de mecânica. Mas eu concluí, fui até o final e concluí. Mas eu nunca trabalhei especificamente como engenheiro mecânico nunca, quando eu me formei eu já estava na área de logística. Tanto que quando eu terminei engenharia, eu já fui fazer o MBA (Master of Business Administration) de logística porque já era a área que eu estava.
P/1 – Existe um MBA de logística?
R – Existe, naquela época eu fiz na própria Fundação Getúlio Vargas onde minha mãe trabalhava. Então minha mãe, tinha lá, tinha um curso que era até um curso que era reconhecido como o melhor MBA, na época, no Rio. A logística naquela época estava começando, vamos dizer assim, estava bem em evidência e aí eu fui fazer o MBA naquela área lá.
P/1 – À noite também?
R – À noite também, porque eu já trabalhava, tudo à noite. MBA já era mais fácil, porque o MBA já eram à noite todos eles, a faculdade que era o problema. Mas não é um problema do Rio, que eu saiba essas faculdades ainda não tem nada ainda que propicie aí uma mesclagem entre trabalhar e estudar.
P/1 – E durou quanto tempo o MBA?
R – O MBA um ano e meio, acho que dois anos, não chega há dois anos. Eu fiz o de logística, aí depois do de logística eu fiz outro também, fui direto, então parei de estudar, sei lá, com 28, nem lembro mais, eram mais dois anos. Aí depois eu parei um pouquinho, aí eu parei de estudar. Aí depois fui aproveitar, enquanto não tinha filho, quer dizer, depois meu filho nasceu no final já, então eu tinha casado, mas ainda não tinha filho, então você aproveitar o ritmo. Eu fui voltar a estudar agora.
P/1 – Depois você conta o que você foi estudar. Mas naquela época, todos os conhecimentos você sentia que se aplicavam na White Martins?
R – Não, sim.
P/1 – Ou a White Martins é que fazia com que seus trabalhos na escola fossem escritos?
R – Ah, não, olha só, verdade, na logística, até no MBA existe, vocês devem saber, você tem muito lição no benchmarking, muita questão da troca benchmarking, questão da troca de experiências, você acompanhar como é que faz outras empresas, é a troca de experiência dentro da Área de Logística.
P/1 – Não entendi a expressão.
R – Benchmarking.
P/1 – Bench?
R – Benchmarking, é a troca de experiências, é, vamos dizer assim, entre as empresas. E na logística, quando eu fui fazer o MBA de logística você começa a encontrar com um grupo lá de 30, 25, 30 pessoas das maiores empresas, então a troca de experiência foi fantástica. É claro que a White sempre teve à frente, não tem a menor dúvida. Quando você estava lá a White, na verdade, sempre foi referência nessa área de logística também, por mais que, que a logística também, tudo bem que a logística engloba tanto a parte de processo de produção, vamos dizer assim, de planejamento de produção, quanto a parte de entrega, vamos dizer assim, a parte da distribuição que é até a parte que eu trabalho mais a fundo. Mas nesses processos a White sempre foi referência. Até a pergunta que você fez, eu diria para você que eu ensinei mais do que eu aprendi na White, sem a menor dúvida. Pelo que a White já fazia nessa área de logística, eu tenho certeza que passei mais informação para os meus amigos do que eu recebi de informação deles.
P/1 – Isso na White? Através do curso.
R – Não, não, no curso lá. Vamos lá, no curso da minha turma lá de 25, 30 pessoas, o que eu falo é o seguinte, a gente troca muita experiência entre as empresas. E eu tenho certeza que eu ensinei mais para eles, quer dizer, o que eu conhecia na White, que eu havia aprendido na White, eu troquei, ajudei mais eles do que eles me ajudaram. Porque a White sempre foi muito forte nessa parte de liderança de logística, de investimentos, coisas que nas outras empresas deveria ser um pouco mais, digamos assim, não tão dinâmicas quanto a White, entendeu? Então eu tenho certeza que eu ajudei muito mais eles do que eles me...
P/1 – Mas esses encontros, eles eram proporcionados pelo curso de logística?
R – Pelo curso, isso. Nas aulas se trocava experiências, fazia visitas. O curso, fora a questão do aprendizado teórico que é feito, através dos professores, tem a questão da troca de experiência, trabalhos em grupo, que aí são bem fortes para você trocar experiência com o pessoal, visitar outras empresas. É aquele negócio de conhecimento que foi a tua pergunta. Só que aí não, mas é o que eu falei, a White tinha realmente muito mais a dar do que a receber.
P/1 – E daí então você foi para administração quatro anos?
R – É, eu fiz administração só o básico, Administração, Matemática Financeira, Recursos Humanos, é só porque a Engenharia é muito focada em engenharia. A gente na Engenharia não tem matérias humanas, não fala de relacionamento, não fala nada.
P/1 – Mas os engenheiros todos, pelo que eu tenho visto com as entrevistas, acabam entrando na área de negócios, seria uma escola de negócios?
R – Sim, sim, sim.
P/1 – Administração não se faz em uma escola de negócios, é outra área?
R – É outra área.
P/1 – Onde seria essa área aqui na...
R – Ah, lá na Área de Marketing, pode ser na Área de Marketing. Apesar de que administração você começa a ter alguns contatos, eu tive muito contato com a parte de negociação. E negociação entenda-se tanto a negociação com clientes como fornecedores também. No meu caso na logística é mais com fornecedores, mas a habilidade de negociação, de você saber negociar, para as empresas na parte de administração também é muito importante. Tem essa parte de Recursos Humanos, Liderança, parte de Gestão de Pessoas, que é muito forte na parte que é tocada pela administração na parte de recursos humanos, entendeu? Então tem isso também. Aí foi mais um complemento que eu fiz mais nessa parte. É a Área de Negócio, aí até voltando para a White, eu fiquei lá na matriz do Rio, eu não lembro mais quantos anos eu fiquei, eu fiquei oito anos, eu acho que oito anos lá na matriz do Rio trabalhando...
P/1 – Como é mesmo o endereço dela onde que é?
R – Mayrink Veiga.
P/1 - Era ainda na Mayrink Veiga?
R - Era em um prédio que eu acho que tem lá até hoje, grande, é um prédio só da White Martins lá no Centro do Rio. O pessoal fala muito de Mayrink Veiga, não sei se vocês já ouviram falar? Eu fiquei lá depois, então fui os três anos da fábrica, depois fui, não deu menos de seis, eu estou seis aqui em São Paulo? É, uns seis anos lá nessa parte de distribuição, de logística lá. E aí ali você já começa a ter um contato, já começo a ter um contato com as outras áreas da White, Área de Negócios, de Venda, digamos assim, outras áreas além da minha parte de distribuição de gases em cilindros, você tem a outra parte de distribuição de líquido do produto líquido, você tem o pessoal de informática. Você começa a ter outros contatos que na fábrica eu não tinha. Então ali você tem um prédio inteiro, tem a parte de segurança, a parte de recursos humanos, a parte financeira, contabilidade. Todas essas áreas de suporte que estão sediadas na matriz, você começa a ter contato e ali começa a abrir os olhos do tamanho do que é a White. Que não era com certeza só os meus 30 amigos lá da fábrica, que a fábrica tinha mil funcionários, mas os 30 da engenharia não eram nem a fábrica toda. Então você começa a entender como que a fábrica, por exemplo, se posiciona no cenário da White, né, como ela é importante para o cenário na White, entendeu?
P/1 – Vamos então mudar de fita.
(troca de fita)
R – Vamos lá, voltando.
P/1 – Mayrink Veiga...
R – Estava na Mayrink Veiga, passei seis anos lá e começa a ter aquela noção toda da White, ainda mais em um prédio de 25 andares, então você imagina, um negócio enorme, é uma corporação, ali vira uma corporação. Lugar que eu não tinha nem ido antes na FEC. Então é interessante que aí aparece, vamos dizer assim, um monstro de 24 andares que aí começa a entender, em todas as áreas de suporte o que que é a White. Mas ainda iria faltar, e aí o que aconteceu? E aí eu passei seis anos lá, nessa área de distribuição, e aí você começa, eu da mesma forma que eu sou hoje, você começa a ter contato com todas as unidades do Brasil, então você começa a ter contato com todas as unidades do Brasil todo de Norte a Sul. E aí também, fora a questão matriz, toda essa área de suporte, o que me chama atenção são as unidades, as unidade que é onde o negócio acontece, a matriz não vende nada, o cliente não vai lá na matriz fazer nada. Onde o cliente vai? Onde os caminhões estão, nas unidades. E ali o que me chama mais atenção, fora a questão matriz, tudo bem que tem toda a questão do prédio imponente e tal, as unidades chamam mais a minha atenção no sentido de, “pô”, é ali que o negócio acontece, ali que está o caminhão, é ali que está o motorista, é ali que está cilindro. A matriz não tem cilindro, o cilindro está na unidade em que ele é cheio, levado no cliente, volta, vai. E aí realmente ali então fica bem claro para mim, fora a questão das áreas de suporte da matriz também, onde está o negócio da White. E aí depois, desses seis anos nessa área de distribuição já rodando o Brasil todo, já conhecendo todas as unidades, todo mundo que trabalha nas unidades, surgiu uma oportunidade em Campinas. Só que aí já voltado para uma mescla entre essa parte de logística e a parte de negócios. Então já houve uma oportunidade em uma área específica da White, na parte de representação comercial. Ela tem as URCs (Unidade de Representação Comercial), são as representantes comerciais, então através do Adriano, o Adriano Barros que trabalha com a gente até hoje, e me conhecia da matriz, eu soube que tinha uma vaga como Gerente de Desenvolvimento de Vendas, na época era o cargo Gerente de Desenvolvimento de Vendas. E ele me chamou para trabalhar com ele, só que eu teria que me mudar do Rio para Campinas. Então naquela época eu já estava casado, meu filho estava com um ano de idade e, pô, foi uma decisão, acho que a mais difícil da minha vida foi aquela. Porque eu tinha todo um contato com a família que é muito pequena, naquela época meus dois avôs já tinham falecido, só tinha dois ainda, então a família estava menor ainda do que já era. Então foi uma decisão que demorou, eu lembro, o Adriano até hoje lembra. Eu tenho dois e-mails com o Adriano, duas vezes dizendo: “Obrigado pela lembrança, mas não vou.” Depois a terceira tentativa, como eu não tinha mais como dar um outro e-mail de não, eu acabei aceitando a oferta de vir para São Paulo, vir para Campinas, saindo totalmente do Rio. Sempre morei no Rio, sempre fiz tudo no Rio, não conhecia Campinas, São Paulo eu conhecia pelas unidades da White que vinha, mas também nada de mais, nada diferente do que é São Paulo. E aí eu vim nessa Área de Desenvolvimento de Vendas que eu dava apoio todo nessa Área Logística, mas aí focado só em São Paulo. Então a minha única perda foi a questão de que na matriz você tem o foco nacional e em São Paulo eu tinha o foco regional, só realmente no Estado de São Paulo, então houve um pouco de perda de foco no sentido de como é que estão as outras. Como é que estão; o Norte, Nordeste, o Sul. Mas aí o trabalho já era mais focado em São Paulo. E aí junto com essa parte de logística que dava apoio nas unidades de São Paulo, somente nas de São Paulo, teve essa questão da expansão das unidades de representação comercial. A White começou a fazer um trabalho de expansão dessas unidades, na qual havia um contato, negociações mais fortes que eu comecei a participar com o Adriano. Então foi um contato que eu tive fora da Área de Logística, um pouco focado na Área de Negócios. E envolveu, foi um trabalho de uns dois anos, nessa área, que foi interessante que eu não perdi o foco na Logística e comecei a ganhar um pouco de experiência que eu não tinha na Área de Negócios. Só que como a White é muito dinâmica, e é dinâmica mesmo, é impressionante, a White muda sempre, toda hora é uma liderança nova. Isso é uma característica dela, é muito boa, eu acho, está sempre se renovando. Depois de dois anos houve mudanças e aí na verdade apareceu uma oportunidade pra mim que, na verdade, todas essas atividades que eu fiz até, isso que eu estava te contando, desde a FEC, os três anos na FEC, os seis anos lá na matriz, eu nunca liderei pessoas, nunca. Nunca tive, nunca fui, não tinha nem cargos gerenciais. Quando eu vim pra São Paulo a convite do Adriano, que eu fui ser Gerente do Desenvolvimento de Vendas, apesar de o cargo ser de gerente eu não tinha equipe. Eu não era um Gerente de Equipe, era um Gerente para Desenvolvimento de Vendas. Então, eu não tinha. E aí surgiu uma oportunidade como gerente da unidade de Campinas, só da unidade de Campinas, então, restringiu mais ainda. Eu vinha nacional, São Paulo, Campinas. E como tinha essa questão de liderar pessoas, que seria o meu primeiro contato, eu topei ser o gerente da unidade de Campinas, que eu fiquei um ano e meio, não chegou a dois anos não, e aí foi o primeiro contato com pessoas. Então eu tinha uma equipe de em torno de 30, 35 pessoas, que foi bem legal, porque aí você também... É impressionante como abre a sua cabeça. Você começa a ter contato com pessoas, e da unidade em Campinas, como todas as unidades, você pega tanto a parte administrativa, aquele pessoal que fica ali atrás do computador fazendo nota fiscal, como também os operadores, os caras que enchem os cilindros, o cara que põe a mão na massa mesmo, aquele cara sujo do ambiente fabril. E isso é bem legal, porque aí você começa a... Primeiro é uma experiência muito grande no sentido, pô, de tratamento. Como é que você trata uma pessoa da produção, como você trata uma pessoa administrativa. Toda essa diferença de tratamento e de incentivos, cada um tem seus incentivos separados, cada um tem suas responsabilidades dentro do processo da cadeia produtiva da White. E é muito legal você liderar pessoas, você viver problemas pessoais, viver problemas profissionais, estar sempre motivando as pessoas, você tem que estar motivado, tem que dar exemplo, né, e isso é muito legal. Então foi um ganho de conhecimento forte meu nessa área de gestão de pessoas, foi muito legal, porque uma coisa é ver toda a teoria, outra coisa é ver a prática...
P/1 - Prática, assim, você falou em como dar exemplos, você lembra de alguma prática que você tenha implantado?
R - Não, então, toda a parte, por exemplo, de o que eles esperam de você é primeiro que você tenha... A White é muito forte na questão de segurança, da segurança operacional. Então, qualquer desvio, por exemplo, eles esperam que você tome atitudes, se uma pessoa, por exemplo, entra na plataforma sem o capacete, sem os óculos de segurança, você tem que chamar a atenção da pessoa. Claro que de uma forma educada. Então, eles esperam que você, por exemplo, se o teu chefe: “Ah, eu só vou dar uma subidinha de um segundo na plataforma para pegar alguma coisa...”. Você vai sem capacete porque, por exemplo, trabalha de capacete direto, você fica no escritório, quando você vai para produção, às vezes você vai ver um negocinho, se você entrar, der um passo de uma área não autorizada sem o capacete, por mais que seja pra pegar uma coisa, isso tá errado. Então você tem que dar esse exemplo você não pode distrair nunca. E a White preza muito isso. E você como líder, menos ainda, porque aí você ainda tem que dar o exemplo. Então toda essa questão de exemplo nessa parte de segurança é muito forte, na parte motivacional. Às vezes, por exemplo, uma bomba enguiçava, você tem que fazer hora extra, o pessoal está cansado, então, pô, o quê que eu fazia? Você vai... Fiz muito isso, até os operadores, até hoje, porque eu trabalho dentro da filial, apesar de não lidar direto com eles, eu estou no ambiente deles. Então, tinha toda a questão de oito horas da noite, todo mundo cansado, eu pegava o carro, ia comprar uma pizza e trazia pra eles. Aquilo ali o pessoal fica feliz, às vezes, uma pizza, um refrigerante em um momento conturbado que uma bomba quebrou, que um caminhão atrasou, que alguma coisa deu errado, você trazer uma pizza: “Pô, para aí cinco minutos, vamos comer uma pizza aqui.” Você buscar um lanche é muito legal.
P/1 - Bomba de enchimento às vezes enguiça?
R - É, não, um exemplo que eu dei, uma bomba enguiçou, uma bomba que enche o cilindro enguiçou, ela ficou três, quatro horas durante o dia parada, eu tenho que encher cilindro. Então, o funcionário ficou lá sentado, agora ele vai ter que ficar até meia noite, uma hora da manhã enchendo aquilo que atrasou, digamos assim...
P/1 - E que funcionário é esse que vai fazer os reparos? Porque até agora nós temos o motorista, tem você que é o gerente...
R - O funcionário que fazia o reparo no caso de Campinas, vocês até conheceram, foi o Zulmiro. Ele teve aqui semana passada. Ele é o mecânico que fica em Campinas. Ele, por acaso, era até o “cara” que fazia o reparo. Ele foi meu funcionário lá na época, lá. Entendeu? Então...
P/1 - E eles ficam por ali também o tempo todo?
R - É, então, os operadores ficam enchendo, mas aí o exemplo que eu dei, claro que eles também não ficam parados, o operador não vai ficar parado. O quê que a gente faz? Desde o enchimento do cilindro até varrer a plataforma é com eles. É óbvio que quando uma bomba enguiçar, o exemplo que eu dei de uma bomba enguiçada, eles vão varrer a plataforma até o Zulmiro consertar a bomba, naquela época que o Zulmiro consertava a bomba, e aí eles voltam a trabalhar. Só que aí tudo se atrasa, então aí você tem toda a questão de sentar lá com eles. E já existe até, não é um preconceito, mas tipo assim, eles sabem que eles vivem em um ambiente quente, sem ar condicionado, com um uniforme pesado, porque ele tem proteção contra fogo, contra... Então é complicado. E a gente fica em um ambiente, o administrativo fica em um ambiente de ar condicionado. Então, eles gostam quando o gerente tá lá suando com eles, óbvio que eu não estava fazendo nenhum esforço físico, mas eu estava ali do lado deles, vamos dizer assim, compartilhando do mesmo sofrimento que eles. Então, isso é muito legal, você ver isso aí. E também a questão de, é bem legal esse negócio da idade também, né? Você pegava um operador novo com trabalhando com gente com 35 anos de White, outros lá que tinham de 30, 25, 20 anos, isso é bem interessante também, é que são pessoas que têm o segundo grau, não têm faculdade, não têm nada, ganham um salário, para o nível deles, excelente, e valorizam muito isso. Então é bem legal também você ver a valorização que eles dão, no sentido de eles não fazerem corpo mole, estão juntos contigo. Eu lembro, uma vez, até um operador bem antigo, o Moacir, ele está lá com a gente ainda, uma vez em um determinado momento, acho que era um sábado, eu pedi pra ele fazer... Eu chamo ele de Mumú, falei: “Mumú, faz um negócio para mim aqui que eu estou precisando, tem problema?” Tipo assim, eu fui meio educado com ele, educado tipo: “Pô, você tem problema ficar aqui até tarde e tal...” E ele virou e falou assim: “Bruno, eu estou aqui há 25 anos na White, tudo que tem lá em casa, desde o capacho da porta até a geladeira foi a White que me deu. Se você mandar eu me jogar, eu vou me jogar. Porque tudo lá em casa é a White que me deu, então, eu valorizo essa empresa. Você não precisa me pedir por favor, não, Você é o chefe, você me manda e eu faço não tem problema nenhum...” Claro, dentro da segurança, nada fora, ele vai fazer aquela atividade e eu preocupado em querer motivá-lo, em, tipo assim: “Pô, você tem algum problema?” E ele: “Não, estou aqui para trabalhar, estou aqui para fazer o que for, dentro das regras necessárias, né...” Então, não tinha muita frescura, eu estava muito preocupado em... É o que eu falei, é diferente, eu vejo, de um tratamento de uma pessoa administrativa, que às vezes o mercado é um pouco diferente, já é um nível talvez um pouco maior, então já muda... Tudo isso são detalhezinhos que fazem o dia a dia ficar bem animado, bem legal.
P/1 – Fala um pouco dessa estrutura de Campinas.
R – Tem parte administrativa, focada ali na área de distribuição, na liberação dos caminhões. Na verdade, 30 funcionários. Fora a questão dos motoristas de caminhões que são os terceiros, motorista de caminhão tem mais de 50, então, ali em Campinas... Todos os motoristas de caminhões são terceirizados, Mesma coisa, se o caminhão atrasar, aí o “cara” não é teu funcionário. Apesar de ser uma liderança indireta, não é direta, mas você precisa estar ali com ele, o caminhão atrasou, a produção atrasou, o operador vai ficar até tarde, o motorista também vai ter que esperar ou vai ter que sair mais cedo no dia seguinte. Toda essa dinâmica é bem animada, mantendo o pessoal motivado, tratando na forma bem clara eles também, né, pra não ter nenhum tipo de dúvida, né. Então isso é difícil, é uma arte bem legal.
P/1 - E os operadores fazem...
R - Enchimento de cilindros. Você pega um cilindro vazio e enche de gás.
P/1 - E essa é a função dos operadores?
R – Esses são os operadores. Dos operadores, isso. Eles enchem. Então, basicamente na área de Campinas você tinha os operadores que é o pessoal que enche os cilindros, o administrativo que e os motoristas em si, ajudantes; quem rola os cilindros, quem carrega os caminhões e os motoristas que vão para outra cidade.
P/1 – E o pessoal da central, tem uma central de atendimento?
R - A central nossa é no Rio, ela é no Rio. Ela é uma central única do Brasil, fica no Rio de Janeiro. Ela não tem, na unidade não fica nada de central. Central
P/1 - E do Rio vem pra você e você tem que se relacionar com o cliente?
R – Do Rio vem para a gente. Isso, isso. Apesar de que na White, 70% dos nossos pedidos, não são via central de atendimento. A gente tem um combinado com o cliente, por exemplo, visitamos a indústria três vezes por semana; segunda, quarta e sexta ou terça, quinta e sábado. Então eu tenho um combinado, então eu tenho uma frequência de visita. Quando acontece alguma coisa diferente, aí que o cliente liga. E óbvio, claro que isso é para a maioria dos clientes. Tem cliente que tem que vai ligar, tem cliente que não adianta eu combinar porque ele tem uma sazonalidade muito grande. Eu posso pedir e eu posso não pedir, então não vou perder o tempo também o meu tempo do caminhão visitando ele, eu peço para ele ligar no zero oitocentos da White.
P/1 – E aí quando você for para Campinas você tem que fazer essa visita aos clientes, saber quem é, como é que é a demanda?
R – Então, lá em Campinas, você como Gerente da Filial, cuida dos caminhões, do enchimento, mas tem outros problemas também, por exemplo, um cilindro pode dar um vazamento. O cliente vai ligar com problema de vazamento. Você tem que ir lá no cliente, instruir o cliente no que fazer, trocar o cilindro por um novo. Então tem toda uma questão de ligação também com o cliente nesse sentido, basicamente, muito focado, as ligações com o cliente, da distribuição que é muito focada com a frequência de visita. Eu falo assim: “Como é que eu combino para te atender bem? É segunda, quarta e sexta? É terça e quinta?” Outra coisa também é seguinte: “Quantos cilindros da White você precisa dentro da sua empresa para eu garantir o seu abastecimento?” “Ah, preciso botar dez cilindros, um cilindro, 200 cilindros...” Fora a questão também de que a White sempre é muito forte na parte de segurança: “Olha, eu vou te dar dez cilindros, mas esses cilindros você não pode colocar nesta sala que é fechada, você tem que abrir um buraco de ventilação, entendeu? Ou ‘bota’ lá fora da sala.” Então tem toda a questão também de instrução do cliente de como ele tem que armazenar o produto e como é a movimentação também do cilindro dentro da casa do cliente. Você vai pegar um cilindro aqui e vai levar lá para baixo. “Pô não pode descer aquela escada com o cilindro, tem uma forma segura de manusear o cilindro”. Então os contatos...
P/1 – E eles atendem? Isso tudo é uma coisa que você já leva para eles?
R – Atendem. Tem que levar, porque faz parte das regras da White. É isso aí. Porque é um produto perigoso, nossa! Nossos produtos são perigosos se pensarmos em segurança. Então a responsabilidade é nossa também. É muito forte também essa questão de segurança.
P/1 – E qual que é teu tipo de cliente, o mercado?
R – A White é muito indústria.
P/1 - E no seu caso, a bebida também?
R – Não, a White como um todo, ela tem... É muito indústria, focada na indústria mesmo, mecânica, pesada. Tem a questão dos hospitais que é a parte...
P/1 – Mas isso tudo vocês atendem na filial de Campinas?
R – Tudo, tudo. É, porque eu não tenho um caminhão para hospital, um caminhão para... Não, é tudo... O mesmo caminhão que atende o hospital ele entra, por exemplo, na CSN, entra em uma grande indústria também para entregar. Então não tem... Existe até um segmento separado da White que se chama homecare. Que são aquelas pessoas que estão em casa requerendo atendimentos domiciliares, que aí é um atendimento separado com caminhões separados. Mas o grande foco da White é indústria, depois a parte medicinal, hospitais, clínicas, e até essa parte, por exemplo, de pessoas, que é a parte medicinal, mas é mais focado em pessoa física. É uma pessoa que está doente em casa, uma internação domiciliar que eles chamam.
P/1 – Então a escolha de Campinas seria não porque tem essas empresas perto, quer dizer, você pode pegar o caminhão de Campinas e mandar lá para...
R – Por exemplo, a região de Campinas, não sei se vocês conhecem São Paulo, ela atende hoje – a gente tinha uma filial, por exemplo, em Taubaté que fechamos, ela tem uns, foi quando eu saí de lá, quatro anos – e Campinas atende até Taubaté. Então Campinas pega a rodovia Dom Pedro ali, não sei se você conhece, vai até a região de Taubaté, até Guaratinguetá, até a divisa do Rio, lá, Cruzeiro, é a última cidade, que se chama Cruzeiro, que é a divisa do Rio de Janeiro. Então Campinas, por exemplo, o caminhão sai de Campinas, desce a Dom Pedro, sobe a Dutra até Cruzeiro, que é a primeira cidade do Estado de São Paulo quando você vem pela via Dutra. Então aí foi o que eu falei, aí a gente tomou a decisão de fechar Taubaté. Taubaté era uma filial, tinha seus problemas e tal, tinha custos e aí foi visto o seguinte: “Não, eu fecho Taubaté e atendo tudo via Campinas.” São estratégias, como também se precisar abrir também uma filial, a gente vir a abrir. Então tudo é questão de uma estratégia que gente vai tomar.
P/1 – E a infraestrutura rodoviária? A gente sabe que no Brasil as estradas têm uma série de coisas...
R – Então, é. O que aconteceu? São Paulo, até para fazer um contexto, quando... Eu fui uns dias, eu fui à Campinas e aí depois, já são quatro anos, três, quatro anos, nem lembro direito. Minhas contas são meio ruins, mas três, quatro anos eu estou nesta logística. O que aconteceu? Eu voltei a atuar no âmbito nacional, então apareceu uma oportunidade e eu deixei de ser Gerente de Campinas e Passei a ser Gerente Nacional de Logística. Então hoje, apesar de eu ficar em Campinas também atuo nacionalmente, fico até pouco em Campinas, por isso até que eu desmarquei duas entrevistas aqui, eu viajo bastante. A gente atua nacionalmente, apesar de ficar em Campinas. Eu poderia, na verdade ficar em qualquer filial do Brasil ou até mesmo na matriz no Rio de Janeiro. Só que como eu já estava em Campinas e o nosso chefe fica em Campinas, a gente tomou a decisão de ficar por lá. E aí eu voltei aí depois de quase cinco anos a atuar de novo nacionalmente, como eu atuava antigamente. E aí, até voltando a tua pergunta, é impressionante, São Paulo é outro mundo. São Paulo, de infraestrutura, primeiro de demanda, São Paulo é... 30, 40% do Brasil todo está aqui, localizado no estado de São Paulo. Aí é aquilo que você falou, né? A estrutura rodoviária no Brasil, e não só a rodoviária, é fraquíssima. Só que São Paulo é ótimo, é lindo, é outro mundo, mas tem um revés: pedágio. O pedágio é muito caro. Então hoje, por exemplo, se eu vou de Campinas a Bauru pagarei 80 reais de ida e volta de pedágio, uma distância de quinhentos quilômetros ida e volta. Em outros Estados você roda quinhentos quilômetros sem pagar um pedágio, mas também você tem custo de manutenção porque as estradas estão horríveis, você tem assalto, você tem um monte de coisa envolvida. E aí, por exemplo, hoje que eu atuo nacionalmente, final de semana retrasado eu estava em Recife. Recife, em Pernambuco, é um lugar que está crescendo muito na White por causa do Porto de Suape. Tem uma obra muito forte ali no porto de Suape, que é bem próximo a Recife. Eu estive lá e as estradas não são acabadas, não tem estrada, é impressionante. Eu não sei como se conseguem fazer o atendimento do porto. Então, por exemplo, qualquer coisa que eu planejo hoje em São Paulo; um caminhão, em Recife eu tenho que ter dois, porque um caminhão para se deslocar 60 quilômetros, ele leva três horas e não é por engarrafamento, é porque as estradas são ruins. Aqui em São Paulo a estrada é muito boa. A mesma coisa vale hoje, por exemplo, para a grande São Paulo. A gente tem hoje, por exemplo, 50 caminhões dentro da grande São Paulo. Aí qual que é o meu problema? São Paulo é ótimo, mas tem restrição, São Paulo, por exemplo, a cada dia o pessoal cria uma lei nova: “Não, agora não pode mais circular de quatro da tarde às quatro e meia na Marginal Pinheiros, é invertido.” Eles inventam cada dia uma restrição nova, e restrição nova é custo para a White. É eu “botar” mais um caminhão, é eu contratar mais um motorista ou eu desviar o percurso e gastar mais gasolina. Isso é ótimo para a cidade, até para vocês que moram aqui, é ótimo. Mas isso indiretamente cai sobre nós todos, a nível de custos, porque é óbvio que todas as empresas acabam repassando de alguma forma esses custos para as mercadorias que elas vendem, seja qual for, né? Então, por exemplo, a malha, até voltando na história que você falou da malha, eu já tento há muito tempo sair um pouco da malha rodoviária. Só que por exemplo, a malha ferroviária é horrível também. A gente tem por exemplo, na parte de líquidos, a gente tem um transporte de Curitiba a Porto Alegre que é feito. Já uma operação no Ceará, de Mossoró, se não me engano, à Fortaleza, a nossa malha ferroviária ela é muito incerta, as frequências não são muito certas. Então por mais que você busque uma malha dessas, como o nosso produto é muito, vamos dizer assim, a demanda é certinha, eu não tenho muito... E a gente tem um problema no cilindro, para vocês entenderem, é o seguinte, chama-se logística reversa. O que é isso? Eu entrego o cilindro com um gás, mas eu volto com o cilindro vazio. É diferente se você vai comprar esta cadeira e mandar entregar lá em Porto Alegre: a cadeira vai e não volta nada. O caminhão volta vazio. O nosso não, eu preciso que volte a embalagem, porque o que a White vende é o gás, ela não vende o cilindro. Então essa logística reversa é muito complicada para a gente porque o trem vai, ele pode até demorar dois ou três dias a mais, mas eu preciso do cilindro de volta, se eu não tiver cilindro de volta, eu tenho que ter mais cilindros para poder suprir aquele cilindro de volta. A gente, por exemplo, a gente vai tentar agora, a gente faz, dentro da nossa logística, transporte por balsa. Lá de Belém para Manaus, a gente trabalha por balsa, até porque é o único meio que tem para trabalhar. Ali na região também de Porto Velho, a gente faz alguns rios ali, você só passa por balsa. E a gente até vai abrir uma linha nova agora, via Rio Madeira, também por balsa, porque é muito mais barato, e as estradas do Norte, quer dizer, não tem nem estrada, não existe estrada no Norte. É impressionante como eles não... Não sei qual o interesse que tem, mas ninguém faz estrada lá. Então toda a parte, por exemplo, fora o que eu chamo de custos do Nordeste, das estradas ruins, é a questão de segurança. A gente tem muitos acidentes em rodovias ruins. Aqui em São Paulo, como a gente tem uma questão muito forte de controle de velocidade, por mais que a pista seja boa... Pela Rodovia dos Bandeirantes, o caminhão pode andar a 90 ali pela legislação, pela placa. O nosso caminhão só anda a 75, porque a gente tem uma legislação própria nossa, que é 75. Então dificilmente eu tenho um acidente na Bandeirantes, porque a rodovia comporta ir até 90, mas eu seguro com 75. Diferentemente por exemplo do Nordeste, que a rodovias são ruins, são esburacadas, têm problema de infraestrutura. A gente teve um tombamento há pouco tempo atrás, a rodovia estava com uma valeta, tinha uma canaleta aí... Coisas que com certeza em uma Autoban não iria acontecer nunca porque é tudo bem sinalizado, tudo bem feito. Então, o país tem se modernizado, infelizmente essa área de logística não, não tem ido. E aí a nossa briga diária já faz um bom tempo, mas eu que estou mais à frente disso há três anos, é custo. É você tentar coordenar o custo versus o que o país proporciona. Que ele não está proporcionando nada. Então a gente tem uma briga eterna de redução de custos contra uma malha ruim rodoviária, não tem muitas opções ferroviárias e as balsas têm poucas, a gente está tentando aproveitar ao máximo. Mas eu tenho certeza que se o Brasil crescesse nessa área rodoviária tudo iria reduzir, os custos iriam reduzir para todo mundo, não só para a White, mas para todas as empresas. É uma pena não ter nada muito forte nesta área, ainda. Vamos ver se melhora lá para a frente.
P/1 - Você obtém as informações sobre áreas que não pode, comunidades que pode ter risco de tombamento e afetar a comunidade? Ou rios? Como é que te chega toda essa informação dessa malha e do entorno dela em relação a essa sua logística?
R- Então, eu tenho motoristas instrutores que fazem o percurso previamente da rota e estudam quilômetro a quilômetro no sentido de segurança, segurança envolvendo tanto acidentes, quanto à segurança patrimonial, também tem estradas no Nordeste que você não pode rodar à noite. Se você rodar à noite, você vai ser roubado, não tem jeito. Então têm todas estas questões restritivas, nas duas seguranças, e pegam também até a questão de... Apesar de o nosso produto ele ser de risco, o risco maior dele não é de vazamento, de poluir um rio, o nosso gás, normalmente se acontecer alguma coisa com o cilindro o gás vai para a atmosfera. Então não vai ter um risco de, porque o próprio gás é da atmosfera, então não tem risco nenhum. O nosso maior problema são problemas realmente ligados a explosões, porque como o gás é inflamável, pode pegar fogo, aí sim, mas não voltados muito à questão química, digamos assim. Então esse motorista faz essa volta... E aí também você tem muita troca de experiência na transportadora, a gente tem um grupo de líquido da outra logística também, que a gente troca muito, porque eles têm rotas onde a gente não tem e a gente tem onde eles não têm. Então a gente troca muita informação entre nós mesmo. E fora a questão da internet hoje, os meios de comunicação. Você tem lá, por exemplo, toda vez a gente se atualiza com a polícia rodoviária: quais são as rodovias mais perigosas, quais são os trechos mais perigosos. A gente trabalha muito com estatística, então se naquele trecho tem muita estatística de acidente, então eu vou baixar a velocidade do caminhão naquele trecho para 60, para mitigar, reduzir o meu risco de ter algum problema, porque estatisticamente já é um lugar ruim, entendeu? Isso a gente trabalha. E a gente também trabalha muito, infelizmente, às vezes a gente trabalha muito com depois de acidentes nossos, também acontece muito. Faz um acidente, aí a gente trabalha forte em cima da causa raiz, o que aconteceu no acidente, o que eu poderia ter feito para que não tivesse acontecido? E aí vira um alerta, a gente faz algumas adaptações para fazer. Hoje, por exemplo, todos os nossos caminhões têm equipamentos, fora a questão do rastreamento que eu falei para você, tem toda essa tecnologia de velocidade máxima, inclinação lateral, se o motorista fizer uma curva muito forte e o caminhão der uma inclinada, ele mede essa inclinação no caminhão, para saber se está em uma condução agressiva, se ele está freando brusco. Então hoje tem nos caminhões tem toda uma série de tecnologias para saber se os movimentos deles estão agressivos ou não.
P/1 – Fica quase como um painel de um avião, né? Os vôos, os instrumentos, né? É quase que uma…
R – É, é isso mesmo. Ele mede tudo do motorista, aí o motorista tem pontuações, se ele cometer infrações ele vai perdendo pontos, e aí até os pontos de serem desligados ou retreinados ou até premiados normalmente. Que a nossa finalidade é até de premiações em cima de motoristas de bom desempenho, entendeu? Hoje em dia, a estrada ruim, né, depende muito do motorista, daquela direção defensiva mesmo que o pessoal fala, que tem que ter. É ele que naquela hora está identificando uma pessoa bêbada, não tem equipamento que identifique, por exemplo, um carro em zigue-zague bêbado, é só ele olhando. Então, ele tem que ter o discernimento de deixar o cara ir. Coisas que às eles exercitam muito, né, às vezes encontrar uma pessoa agressiva, não vamos nem falar do bêbado. Mas você vê uma pessoa que te passa correndo e te fecha, têm pessoas que tem reação de acelerar, de brigar, de piscar farol. Não, você tem que ter toda aquela reação defensiva, deixo ele ir embora, reduzo, ele está nervoso, deixa ele ir porque aquele nervosismo pode causar um acidente lá na frente que a gente não quer estar junto.
P/1 – Você fez, chegou a fazer alguma viagem? Você teve alguma curiosidade de querer fazer uma viagem dentro de um caminhão?
R - Já fiz várias, faz parte. O que eu gosto mais de fazer é de caminhão, é muito bom. Tanto aqui na parte de entrega, a gente tem duas situações, as rotas que a gente chama de transferência, são rotas de Bauru à Ribeirão Preto, São Paulo ao Rio, são rotas de estrada, e as rotas urbanas também de vendas, que são as rotas que entregam para o cliente. Então tem essa divisão bem grande, os caminhões que fazem a entrega da nossa filial até o cliente e os caminhões que só trafegam entre unidades nossas levando produtos. E eu já fiz várias. As dos clientes são as melhores você conhece todos os clientes.
P/1 – Conta uma para a gente que você tenha gostado, que foi o máximo, assim, uma aventura.
R – Eu na verdade, eu julgo assim, a que eu mais me lembro na verdade foi um pouco triste. Sabe por quê? Porque foi em Belém. Eu fiz uma viagem com um caminhão desses de entrega e quando você sai de, as nossas filiais estão em localidades que o caminhão vai entrando mesmo dentro das... E aí entrou em uma favela de palafitas, que eu nunca tinha visto. Então eu juro para você, o que me lembra mais, infelizmente, foi uma entrega que a gente fez numa casa de uma pessoa em um ambiente que era muito humilde. Por mais que a gente veja favela, vê, mas é diferente você ter... Eu acompanhei essa entrega, isso já faz uns seis anos, alguma coisa assim, mas isso me vem muito à cabeça a questão da pobreza, a questão da palafita, a água em baixo, aquelas palafitas e aquelas pontezinhas, né, e eles lá entregando. Isso já faz bastante tempo.
P/1 – E porque eles entregaram ali?
R – Era um cilindro para uma pessoa adoentada que o cilindro foi entregue. É, um oxigênio medicinal. E aquilo me chamou muita atenção, a questão ali... Aí teve outras entregas, o que eu reparo muito nas nossas entregas é o que eu falei, eu já acompanhei muitas entregas medicinais, a White tem esse homecare, que é essa parte medicinal que infelizmente existem pessoas doentes. Eu sinceramente até quando vou nessas entregas eu até evito ir no quarto do paciente, eu até evito. Porque não gosto, não gosto de ver paciente, não gosto muito não. São pessoas muito doentes. Fora a questão também que você entrega desde casas no Morumbi, casas lindas e maravilhosas, até realmente casas dentro de favelas, que você vê... Eu não tive oportunidade, mas os próprios motoristas contam, tem situações que você entra na casa da pessoa doente e os “caras” estão com drogas dentro da casa, toda a questão de... Você tem casa em que a pessoa é super bem cuidada, a pessoa idosa é super bem cuidada pelos familiares e você tem situações que a pessoa idosa está largada. São situações tristes que eu nem gosto mais de olhar. Quando eu vou, fico até do lado de fora, a parte de dentro eu já conheço. Às vezes até entro, mas depende muito da situação, do momento, da hora, de tudo. Mas aí na parte industrial, o legal é que você entra em várias indústrias, então você começa a reparar, por exemplo, a gente repara muito na segurança. Tem empresas, por exemplo, que deixa você entrar, não te conhece, não pede identidade. Outras são todas rígidas, tem empresas que você tem que assistir filmes para poder entrar. Várias empresas que eu fui, elas não te deixam entrar se você não assistir um filminho de um minuto, você senta em uma salinha durante dois, três minutos, passa um filmezinho corporativo, com todas as regras, senão você não pode entrar. Então você começa a comparar, empresas grandes, empresas pequenas. O que eu falei, a White entrega desde CSN, empresas de quase uma cidade inteira até uma oficina mecânica, até uma pessoa doente dentro de uma favela.
P/1 – Você já fez vários tipos de entrega já?
R – Já fiz de tudo. Isso que é legal, já fiz de tudo. Eu fui dentro da CSN, já entrei na CSN várias vezes, até pessoas físicas. Foi lá em Belém, triste. Triste, o que me chamou a atenção não foi nem a casa da pessoa que era até arrumadinha. Arrumadinha, claro, no sentido do todo, mas foi o ambiente das palafitas que eu nunca tinha visto. Apesar de que em favela no Rio eu já entreguei e aqui em São Paulo também. Mas é...
P/1 – Mas como você se deslocou até lá?
R – Para Belém? Então eu, no meu trabalho eu visito muitas unidades. Semana passada, retrasada eu estava em, eu estava segunda, terça e quarta em Recife, na sexta eu já estava em Belo Horizonte. Eu viajo muito nestas filiais, é claro que nem sempre me sobra tempo de ir sair no caminhão. Aí é uma atividade que não é minha. Não é a minha atividade sair no caminhão, óbvio. Eu já conheço o que ele faz e eu só faço se precisar, mas eu gosto de ir. Tem até uma viagem que eu estou devendo fazer aqui, a gente “botou” um caminhão novo, agora de São Paulo à Curitiba, que eu até já avisei o pessoal que eu quero fazer. É um caminhão diferente, eu quero fazer essa viagem que eu acho que vai ser bem legal também.
P/1 – Por que que ele é diferente?
R – Ele é maior, é um caminhão que a gente chama de rodotrem, é um caminhão quase o dobro de um caminhão normal. Então ele já foi feito, foi toda a parte de segurança foi feita, já está rodando, só que eu falei para eles que eu quero dar uma olhada também, que dar uma.. É que às vezes não sobra muito tempo. O meu problema é mais o tempo.
P/1 – De balsa você fez?
R – Não, balsa não. Porque essa eu acho que são sete dias, é muito tempo. Sete dias, a balsa que vai de Belém para Manaus são sete dias subindo que é contra a maré e seis dias descendo. Parece ser complicado também, que aí também você fica ali se não pega internet você fica ali na balsa sete dias. Então ali é complicado, ali é complicado.
P/1 – Mas você tem curiosidade de fazer essa?
R – Então, eu já fui até o porto onde embarca. Mas embarcar, sinceramente não, ficar sete dias no meio do mar, não isso eu não tenho muito não. Eu já fui lá, já vi a estrutura do porto já, agora ficar sete dias lá embarcado não. Até porque não tem nada para fazer, o pessoal fala que não pega internet, imagina só, hoje em dia eu sem celular, sem notebook eu não sou nada.
P/1 – Bom, então agora vamos um pouco pelo seu cargo atual né, porque a gente já tá finalizando, vamos falar agora na próxima fita...
(troca de fita)
P/1 – (corte de áudio na pergunta)
R – Você tem que ter a identidade visual, o logotipo da White, é tudo definido. Então a gente entrega um pacote para ele, e fala assim: “Olha vai lá, compra aqui e só”. Porque o caminhão na verdade são eles que escolhem: “Ah, eu quero escolher o seu melhor fabricante.” O que a gente faz é só essa questão das identidades, de como é que amarra um cilindro, como é que um cilindro tem que ser transportado e a parte de treinamento. Quem treina os motoristas e os ajudantes somos nós, a gente que treina eles porque as transportadoras não têm esse know how de... Então só voltando à questão, quando, nessas saídas com os caminhões, o que eu mais reparo é como é que os nossos motoristas lidam com os clientes. Porque eles são treinados pela gente, têm postura, têm procedimento de segurança, mas cada pessoa é uma pessoa. Por mais que você treine que um motorista tem que dar bom dia para o cliente, tem uns que dão “bom dia!” (ênfase) E tem outros que dão “bom dia…” (sussurro) Entendeu? Ou naquele dia o motorista pode não estar tão bem, pode ter brigado com a esposa e não deu bom dia, pode acontecer também. Então eu gosto muito de reparar como é que a questão do motorista, a abordagem do motorista para o cliente. Ele tem que ser profissional. Tem clientes que dão, é bem interessante porque tem clientes que dão margem para você se aproximar, tem clientes que sabem a vida do motorista toda e o motorista sabe a vida dele, sabe que ele casou, separou, teve filho, tem amante, ele sabe tudo. Tem outros clientes que são sérios, que não querem papo, como também têm motoristas que são mais fechados e motoristas que são mais extrovertidos. Então é bem legal, essa ligação que o motorista... O motorista hoje é o nosso maior contato com o cliente, o motorista hoje visita cliente todo dia, dez, 12, 15 vezes ao dia. Nem os nossos profissionais de venda vão em um cliente como os nossos motoristas vão. Então é bem legal a gente tentar fazer programas em que eles estejam motivados a, vamos dizer assim, se interar com o cliente. E aquele negócio, se ele tiver que dar uma bronca no cliente, no bom sentido, ele pode ver um cilindro mal posicionado, pode ver alguma situação insegura, ele tem que estar com aquela postura também de segurança. E toda aquela postura da venda também, de entender o cliente, é até questão comercial também. Então isso é bem legal, acompanhar também essa questão da entrega. É o que eu falei, motoristas bem extrovertidos e outros mais introvertidos que aí você tem que ir trabalhando eles nesse sentido do approach com o cliente. É bem legal, bem legal.
P/1 – Deixa eu ver se eu entendi bem, os motoristas, talvez você já tenha dito, mas eu não fixei. Eles são terceirizados?
R – São todos terceirizados, 100% terceirizados. O caminhão também de empresas diferentes.
P/1- Mas não passa por um processo seletivo de vocês da White Martins?
R- Não, primeiro eles selecionam, as transportadoras selecionam seguindo alguns critérios que nós definimos. Então o motorista tem que ter uma idade mínima de 22 anos, entendeu? Então tem alguns critérios que você define. Depois que eles selecionam a pessoa, fazem todo o cadastro, aí eu entro na parte de treinamento. Todo o treinamento é a White que dá. Até a gente tem técnicas de segurança, tem os motoristas instrutores que eles que acompanham os motoristas, depois que... Porque muitas vezes a própria transportadora já seleciona, então para eu não perder tempo, a transportadora faz já um processo seletivo e aí eu entro quando tiver uma coisa mais evoluída, digamos assim.
P/1 – Eles têm que ter curso, até onde eles têm que ter estudado?
R – O estudo deles é basicamente o primeiro grau. O que eles têm que ter no nosso transporte é um curso chamado MOP, Movimentação de Produtos Perigosos. A lei diz isso, não é a White, é um curso feito pelo Sest (O Serviço Social do Transporte) Senat (Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), que eles, todo produto perigoso seja álcool, gasolina, tudo o que se leva perigo, todos os produtos da White são perigosos, eles são obrigados a fazer também esses cursos. Então eles, a qualificação deles basicamente é essa. Aí entra, por exemplo, em uma entrevista esse tipo de coisa que eu falei, esse “cara” vai ser um motorista de vendas, não pode ser um “cara” muito fechado também. Um motorista de transferência, não tem problema nenhum, ele não vai abordar clientes, ele vai ficar só entre as nossas unidades. Tem toda aquela questão que a White é muito focada na segurança, então tem comportamentos. Tem testes que a White faz no sentido de comportamento, por exemplo, se você tiver uma lâmpada para trocar e um banquinho e a escada está há 100 metros. Você vai usar o banquinho ou você vai lá buscar a escada? É mais para você tentar captar algum tipo de comportamento, tipo assim, se a pessoa é bem focada em comportamentos seguros, né?
P/1 – Você que inventou esses testes?
R – Não, não, isso é o pessoal de Recursos Humanos que...
P/1 – É o pessoal de Recursos Humanos?
R – É, o pessoal de Recursos Humanos...
P/1 – Você não acha que você também teria que participar um pouco porque, Recursos Humanos, eles…
R - Dos testes? Não, não, não. Existe toda aquela questão de psicologia que eu não... Que engenheiro não conhece muito bem essa área. Que é a questão de como é que a pessoa pode ter um potencial comportamento, vamos dizer assim, não seguro? A gente entra mais na parte focada mais do procedimento de rolagem de cilindro, de manobra de caminhão, esse tipo de coisa. Essa parte comportamental aí engenheiro não é muito bom nisso, não.
P/1 – E quanto aos caminhões então, a relação é com a transportadora? Como é que é essa relação?
R – Isso, a gente tem hoje 930 caminhões, e você tem em torno de 130 transportadoras. Tem transportadoras grandes, com 80 caminhões, até transportadoras que o motorista é o dono do próprio caminhão. Eu tenho algumas situações ainda que o motorista é dono do caminhão, ele mesmo dirige o seu próprio caminhão, ele tem uma empresa, CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica), ele não tem funcionários, ele mesmo que pilota o caminhão dele. Então eu tenho isso tudo. A White define a questão de, ela padroniza, então tem regras, tem normas técnicas que padronizam o atendimento e o caminhão. Então tipo assim, tem que ter, por exemplo, todos os nossos caminhões são brancos, a cabine é branca, você não vê nenhum caminhão da White vermelho, azul. Os cilindros, para serem amarrados, precisam de cintas, a gente chama de cintas que você segura os cilindros, também que a White diz: “Não, você pode comprar desse e desse fornecedor.” A gente orienta. A parte da identidade visual a gente também orienta. E aí é como eu falei, contrata-se, com relação aos funcionários, ele contrata, faz uma seleção prévia também mediante critérios que a gente define, depois ele traz para a gente, para a gente fazer avaliações e treinamentos. Pode acontecer em uma avaliação dessas, por exemplo, que até não qualifique o motorista, pode acontecer. Mas primeiro eles fazem a deles, depois a gente faz.
P/1 – Quer dizer que o caminhão vem montado para vocês segundo as especificações.
R – Vem, segundo as especificações. Ele contrata tudo, a gente não, eles que escolhem o modelo que eles querem. Querem o modelo, não, minto! A gente define o seguinte, eu quero um caminhão que leve 100 cilindros, 200 cilindros, 300 cilindros, a gente não entra nesse detalhe que aí é uma coisa comercial. A gente tem toda a negociação de frete, com todas as transportadoras a gente faz negociações de frete. Olha, eu vou te pagar 1000 reais na viagem, vou te pagar 1000 reais no mês, por dia... Então tem formas de remunerar o transportador das mais variadas possíveis, seja fixo, que eles chamam, seja variável por viagem ou até vendido: “Ah, se você vender dez cilindros eu vou te pagar dez reais por cilindro.” Então tem toda essa questão também que pode também vir a motivar eles a nível de vendas, que eles busquem mais vendas, esse tipo de coisa, entendeu?
P/1 – Então, as suas atividades atuais então?
R – Então, hoje como Gerente de Logística, eu tenho a responsabilidade lá do centro de Bauru, tenho o Centro de Logística e, na verdade, a gente chama e centro de Operações de Bauru. Por quê? São 40 pessoas, basicamente 20 fazem a logística, eles planejam os caminhões, onde o caminhão vai sair, em que cliente ele vai entregar, qual produto ele vai entregar no cliente. Isso eles fazem de um dia para o dia seguinte, então hoje, à tarde e à noite eles vão fazer o planejamento de amanhã. E amanhã, eu tenho gente que faz o acompanhamento do amanhã. Então eu tenho uma pessoa planejando o amanhã e a outra depois de amanhã que vai fazer, se o que o “cara” planejou está sendo efetivamente cumprido. E claro, distorções vão sendo corrigidas, está atrasando a entrega de um, vai adiantar do outro, faltou produto para um, faltou para o outro. Isso no Centro de Logística. No Centro de Operações, a gente faz mais a parte burocrática, então toda a questão de pagamento de frete, é tudo pago por Bauru e eu tenho mais a parte de burocracia mesmo, no sentido, não burocracia no modo pejorativo, mas a parte mais de papelada da White, no sentido de pagar frete, fazer alguns controles internos das unidades. São 38 unidades e 127 unidades de representação comerciais que são terceiros. Então somando tudo aí dá 160, 170 localidades que esse grupo de Bauru apoia. E também tem a questão, que é nossa também, do apoio ao vendedor. O vendedor, por exemplo, vai ao cliente e define: “Ah, o preço desse cliente é dez reais, é 20.” É o contrato, sem contrato, então tudo o pessoal de Bauru também faz nesse Centro de Operações. Faz emissão de contratos, faz tudo no sistema. Ele cadastra qual o preço, qual o reajuste que o cliente vai ter, se não vai ter reajuste, se vai ter. Então todas essas variáveis de negócio também são a parte operacional. Então é uma parte, vamos dizer assim, mais de papelada, digamos assim, mais burocrática. E fora isso, eu tenho dois funcionários em Campinas que fazem a questão de gestão de cilindros. A gente, fora a questão da distribuição, o meu ativo, como eu falei, a logística reversa, é o cilindro. O cilindro para mim é o meu ativo mais importante. Primeiro porque é meu e não da transportadora que nem o caminhão. A gente tem hoje 650 mil cilindros no Brasil. Então tem toda uma gestão em cima do cilindro. Então tem todo um controle do que entrou, do que que saiu. Aí tem as ferramentas, também o seguinte, que medem no cliente a quantidade de cilindros da White que estão dentro do cliente, está correta? Pode ser menos? Tem que ser mais? Toda essa questão de gestão do cilindro, toda a parte de normatização, lembra aquela função que eu fazia quando eu era funcionário, é do meu grupo também. Então hoje, por exemplo, vou dar um exemplo bem prático mesmo: semana passada a gente definiu que a gente nesse monitoramento de caminhões fará algumas alterações de velocidade em alguns lugares. Então quem fecha é o meu grupo, vai no sistema e parametriza: “Ó, nessa rodovia aqui eu vou rodar menos.” A gente faz isso também, então toda a parte de normatização, tudo que muda, tudo que é novidade, é nosso. E a negociação. Dessas 130 transportadoras, as maiores, maiores em número de caminhões, toda a negociação também é centralizada no meu grupo. Então, as unidades, antigamente elas contratavam o frete que elas queriam, agora não, de uns dois anos para cá a gente centraliza. Eu estava em Belo Horizonte a semana retrasada, negociando com transportador algumas tarifas de frete, reajustes, baixa o frete, aumenta o frete. Então toda essa parte de gestão de frente também é do nosso grupo também. Essa é a atividade atual nossa e toda... Então normatização, todo o Centro de Logística, Centro de Bauru, a parte de cilindro, a parte de normatização, mas fora a normatização as novidades. Tudo que é novidade, passa pela gente. Então, mesmo que venha do México, da Europa, novidade também passa pela gente, a gente desenha melhor e passa para as unidades executarem já, vamos dizer assim, mediante padrões já previamente definidos, já discutidos, já validados, digamos assim.
P/1 - Agora os cilindros sempre foram fabricados aqui no Brasil?
R – Não. A gente tem a fábrica, a White tem uma fábrica de cilindros que é a Cilbrás, que fica lá em Barra Mansa. Só que desses desses 650 mil cilindros que eu tenho uns tantos são fabricados pela Cilbrás, como também por outros fabricantes, não são concorrentes da White. Existem fabricantes de cilindros que não são concorrentes da White, que fabricam outros cilindros, existem outros concorrentes. Eu sei que de pelo menos uns seis o sete, “bota” uns oitos anos para cá, a gente não comprou mais nada de outros fabricantes, a gente privilegiou a Cilbrás, que é nossa, é dentro de casa. É muito mais fácil eu comprar da minha empresa do grupo, do que comprar de outro, mas em uma época muito atrás a Cilbrás não dava conta e aí teve que adquirir de outro. Alguns tipos de cilindros especiais não são fabricados pela Cilbrás. A Cilbrás faz o feijão com arroz que são os cilindros normais. Os cilindros muito específicos de acetileno, aí são importados, são outros, vem de outros. Mas a grande maioria é Cilbrás.
P/1 – Qual a matéria prima que precisa para fabricar cilindros?
R – Cilindro é o aço. Aço, aço, aço. Literalmente é um tubo de aço, você pega um tubo de aço e a diferença é que ele não tem costura. O que é costura que a gente chama? É solda. Então ele é uma coisa inteira. Então ele é um tubo inteiro que no final ele é fechado, tipo fechado e aqui “bota” uma válvula. É bem simples, é mais força mecânica mesmo, você pega aquele tubo de aço, imagina um cano grande de aço, e no final você vai abaloando ele aqui, só que com um ferramental bem forte. Porque imagina só, dobrar o aço, você vai dobrando o aço mesmo, e vai fechando ele e em cima também você fecha e põe uma valvulinha bem…
P – E não há problema de produção do aço que possa implicar em recessão nessa produção?
R - Não. O que aconteceu já na Cilbrás é questão de, o aço é uma commodity, então tem uma variação de preço muito grande. O que aconteceu há um tempo, acho que um ano atrás se não me engano, foi que a gente comprava o aço basicamente de um fornecedor só no Brasil e era meio que um monopólio, digamos assim, tinha um preço basicamente que ele queria. A White junto com a Praxair andou verificando outros vendedores de aço no mundo. E aí compra hoje da Ásia aço, ali no mercado asiático hoje está vendendo aço a preços bons. Então compensa importar do que comprar deste cara aqui no Brasil. Isso junto com a Praxair, porque toda essa questão de cilindro, a gente chama de commodity da Praxair. Tanto que assim, eu não tenho autonomia de sair comprando onde eu quero não, a Praxair também me regula de forma a eu não comprar nada de um quintal. Imagina só o risco que eu vou correr se eu comprar um material não muito legal. Então a própria Praxair me regula: “Não, eu quero, vamos ver um cara lá na Ásia?”. “Vamos ver.” Aí ele vai lá, testa, retesta, re-retesta de novo até chegar: “Não, é bom, pode comprar”. Entendeu? Então são vários jeitos, eu não tenho autonomia para sair comprando o que eu quero, porque senão eu posso “botar” em risco a segurança. Então requer outras análises, digamos assim.
P – E também as leis do governo de importação, né?
R – Não, sim, é. Aí entra o econômico.
P/1 – E nesse sentido o Brasil mudou várias vezes em questão de abre mercado, fecha mercado, reserva de mercado.
R – Isso. Se esse cara do Brasil vendesse barato, óbvio que eu compraria dele. Eu não iria nunca comprar da Ásia, me dando um trabalho de trazer via navio, de negociação... É que o cara começou a jogar o preço lá para cima, aí tem que começar a correr atrás de outros dispositivos que possam não onerar o custo da White. Esse foi um trabalho que o pessoal da Cilbrás fez.
P- Me diz uma coisa, vamos falar um pouquinho então agora do seu cotidiano, aí da sua família.
R – O meu cotidiano.
P/1 – Então você tem a sua esposa, o seu filho, né?
R- Isso, oito anos.
P/1 – Mora em Campinas.
R – Moro em Campinas, isso.
P/1 – E o que que vocês fazem nas horas de lazer?
R – Então, meu filho agora ele está numa fase de uns dois anos para cá que é só futebol. É impressionante, futebol é a vida dele e o pai não é muito chegado a futebol, entendeu? Tem que... Até me lembra um pouquinho, porque ele lá no prédio ele conseguiu uns amiguinhos, então aí ele tem jogado muito agora, criou uma turma mais nova de umas pessoas novas que foram lá de um ano para cá. Então ele tem jogado um pouquinho. Antigamente não, não tinha muitos amiguinhos que jogavam bola. Tinha uns outros que não gostavam muito, aí sobrava mais para o pai. Então, tipo assim, a família está no Rio, então, por exemplo, eu estava no Rio, voltei ontem, domingo. Então de vez em quando vai ao Rio, ver os avôs lá. É, Rio - São Paulo não é uma distância muito longe, dá para fazer alguma coisa. No final de semana, basicamente, como a gente não tem família lá, a gente vai ao clube, a gente tem um clube muito bom lá em Campinas. Então a gente vai ao clube lá, joga bola, vai ao cinema, o que o meu filho quiser fazer, eu faço. Para mim, o meu divertimento, é... Hoje a minha vida é ele, ele que escolhe o que ele quer, depende do que ele quer. Mas basicamente é futebol, jogo, piscina, é mais físico, é uma coisa física. Fora um videogamezinho que ele gosta, agora ele ganhou de aniversário, ele quis um computador. Oito anos já, ele ganhou lá um notebook, aí agora começa também internet, começa a descobrir o mundo.
P/1 – E o seu equilíbrio, assim, o seu bem estar, como é que você procura, quando tá assim, difícil tudo, o que você…
R – O meu? O meu hoje em dia é péssimo. Eu não consigo me equilibrar. Eu vivo de altos e baixos, é complicado. Na White a gente tem, o que eu consigo é de final de semana, quando meu filho requer, largar um pouquinho. Que a White a gente acaba às vezes abusando um pouquinho de carga horária de trabalho, de sábado e domingo, de celular... A gente não consegue desligar muito, não. A nossa operação é 24 por sete, então é meio difícil da gente desligar. Mas é... Eu por exemplo, uma época que eu consigo fazer exercício e emagreço um pouquinho e fico bem. Aí não consigo, aí paro, aí volto a engordar, aí já não fica muito legal. Então eu não consegui ainda me... Que eu viajo muito também, então é ruim, eu não consigo ter uma frequência: todas as segundas, quartas e sextas de noite eu vou fazer... Não adianta, eu viajo aí não consigo. A parte pessoal ainda não consegui me ajustar ainda não. Preciso.
P/1 – E qual é o seu sonho de lazer?
R – Meu sonho de lazer?
P/1 – É, se pudesse, se você conseguisse.
R – Pô, eu não tenho nem lazer, você está perguntando o sonho já. Para mim, o que vier já... Engraçado, vamos ver. Viagem? Eu gosto de viagem, mas... Sonho de lazer, outro dia eu pensei nisso, espera aí que tinha um sonho de lazer. O que que era que eu estava falando com o meu filho? Ah, é kart. Meu sonho de lazer era que eu tivesse um kart para dirigir. Eu gosto muito de kart, de automobilismo, então eu vou nesses karts que tem no shopping de vez em quando, aí dá uma descarga de adrenalina, muito boa. É esse o lazer hoje, meu sonho de lazer seria o kart. Não consigo porque é uma coisa cara e não muito prática, mas....
P/1 – Mas você já usou algum?
R – Não, usei nestes shoppings, nada profissional. Esses que têm dentro de shopping; kart indoor tem shopping que tem. Lá em Campinas tem, tem umas pistinhas, assim, bem simples. Não é o profissional, chamam de kart indoor, é uma coisa mais simples.
P/1 – Tipo um quilômetro, dois quilômetros?
R – Não, não, não. Tem uma pista até mais ou menos, mas tipo assim, não é um kart oficial, não é um kart possante, não é, a velocidade do kart vai a 100 por hora. Ali deve ir a 45, sei lá, uma coisa assim. Mas já cria aquele ambiente todo de adrenalina. Mas essa parte de lazer eu não estou conseguindo não, essa parte eu estou em dívida comigo.
P/1 – O que significa para você a White Martins completar 100 anos?
R – A White, da mesma forma (suspiro). Eu vivo a White Martins 24 horas por dia. Mais do que deveria, mas eu vivo a White Martins 24 horas por dia, mais do que às vezes eu dou atenção para o meu filho, eu dou atenção para a White. Isso tem seu lado bom e seu lado ruim. Bom, porque eu gosto, me sinto bem. Dá trabalho? Dá trabalho. Cansa? Cansa. Mas eu me sinto bem, eu não me sinto mal; eu não faço obrigado, eu gosto. Os 100 anos da White, o que eu entendo é que se a empresa está há 100 anos, é porque é boa. E aí o que eu aprendi na White é esse dinamismo. Esse dinamismo que ela cria entre sai pessoa, entra pessoa, “bota” produto, “fecha” produto. Ela não tem medo de errar, ela não tem medo de ser ousada, e isso cria um ambiente favorável de se manter no mercado há tanto tempo. E para a gente como funcionário é muito bom. Não tem a mesmice, cada dia é um dia diferente, daqui a pouco vem um chefe novo que muda as orientações, tem outro ponto de visão. Ou você mesmo muda. Os ambientes, aquilo que eu falei, a White mesmo, por exemplo, agora grandes obras do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento), a Usina da Belo Monte, você já ouviu falar da Belo Monte? A gente vai atender lá. Lá é no meio do nada, e aí você tem que criar toda uma infraestrutura lá no meio do nada. Não só a gente, eu falo pela minha área, mas todas as outras áreas também precisam se movimentar. Então essas coisas que acontecem na White, e aí como a White tem sempre o sucesso, eu acho que é o que mantém ela por este tempo todo. São poucas as empresas que chegam aos 100 anos, então eu acho que é isso que mantém ela, esse dinamismo, essa mudança, não tem medo de errar, de ser estática. Ela muda as pessoas de uma hora para outra. Então quando você muda o líder você muda as orientações, muda o foco. E alguns erram, uns acertam, e nesses erros e acertos tem mais acertos do que erros. Então acho que isso é que mantém ela há tanto tempo. E eu falei, eu vivo a White há 17 anos e muito forte, muito forte. De vez em quando eu paro e penso: “Será que é tão bom assim?” Tão bom assim, que eu digo é no sentido de que eu não desligo: “Se eu tivesse um cargo que eu me desligasse, será que eu ia aguentar?” Eu falei: “Não, eu não ia aguentar.” As minhas férias são todas de uma semana, eu não consigo tirar férias. Eu tirei férias agora em julho, uma semana, aí agora eu vou tirar em janeiro uma semana, e mesmo uma semana, o celular eu não consigo desligar, eu não consigo. Não me orgulho muito disso não, mas eu estou fazendo um trabalho para tentar me adaptar.
P/1 – E o que pode melhorar?
R – Não, focado na White o nosso grande gol é o seguinte: os clientes consomem o gás, certo? Eles não consomem o cilindro, eles consomem o que está dentro do cilindro. O cilindro é o peso. Um cilindro pesa 70 quilos. O gás que está dentro ali pesa um quilo. O nosso cilindro é o que a gente transporta, mas o cliente não consome o cilindro, consome o gás. Então na parte da distribuição da White, o nosso foco maior, todas as atenções que a Praxair tem é ver o seguinte: como é que eu transporto mais gás dentro do cilindro? Seria possível transportar gás sem cilindro? Quer dizer, possível é, você já tem até o líquido. Mas cada um com seu segmento respeitando o seu segmento. Ou ter, por exemplo, como já tem, na parte de homecare, pequenos equipamentos que fabricam o gás ali, o oxigênio, em menor escala, em menor pureza, mas que atendem. Então tem tudo isso. Então é mais focado nesta geração do oxigênio, no sentido de que é o maior produto da White. No sentido do cilindro, como é que eu faço para ser mais leve? Na parte de logística do Brasil, foi o que a gente já falou. A logística, o que mata hoje são os gargalos de rodovias, de ferrovias. E hoje, por exemplo, o mercado está aquecidíssimo, então, por exemplo; motorista, hoje para você encontrar um motorista qualificado é a mesma história de empregada doméstica. Antigamente você tinha muito. Hoje em dia o mercado está qualificando, as pessoas estão ganhando mais, então você não encontra empregada doméstica que ganha um salário mínimo mais, você não encontra. E você não encontra mais motorista hoje, bom, que ganha o piso da categoria, o “cara” já quer um salário melhor, porque está disputado. O Brasil está vendendo muito caminhão, muito, está abrindo muito o mercado. Vamos ver até quando a gente vai sem infraestrutura, é isso que me preocupa. Então aí a gente tem as nossas estratégias internas para segurar tudo isso.
P/1 – O que você achou dessa proposta de contar a história do desenvolvimento industrial através de um projeto de memória?
R – Eu achei legal, principalmente essa interação que também acho que vocês estão promovendo com os funcionários, eu acho que isso é fantástico. Acho que também está reconhecendo que os funcionários, como eu falei, qual é o sucesso da White? Você perguntou. Eu falei: “É o funcionário, é o dinamismo, sai uma pessoa e entra outra, muda tudo”. Claro que com as orientações macros, mas eu entendo que quando você valoriza muito um funcionário, eu acho que isso é fantástico, que a empresa... Porque eu entendo que o funcionário é a pessoa que faz o negócio. A tecnologia existe? Existe, mas se não tiver a pessoa não vai para frente. Isso é o que eu acho.
P/1 – E ter participado então desta entrevista?
R – Não, eu achei ótimo. Só fiquei preocupado no início, eu falei: “Ué, não é só os velhinhos? Eu vou também?”. Eu estou com 17 anos só de White. Aí lá de Campinas me ligaram e eu falei: “Não sei, eu acho que erraram, eu não sei.”
P/1 – Muito obrigada.
R – Obrigada você, foi um prazer também. Eu estou à disposição se precisar de alguma coisa.
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