Memória dos trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de João Almeida Gonçalves
Entrevistado por Douglas Thomaz
Macaé 18/06/2008
Realização Instituto do Museu da Pessoa.net
Entrevista PETRO_CB420
Transcrito por Maria Janecilda da Silva
P/1 Queria que você começasse falando seu nome completo, o local e a data de seu nascimento.
R Meu nome João Almeida Gonçalves, nasci em Macaé...
P/1 E a data?
R 12 de novembro de 1960.
P/1 Ta bom. João, eu queria que agora você começasse falando pra gente um pouco, como é que quando e como você ingressou na Petrobras.
R Olha rapaz, eu ingressei na Petrobras, antes de trabalhar na Petrobras, trabalhava em sondas americanas, certo, e trabalhei três anos sondas americanas quando tava começando a perfuração na Bacia de Campos. E nessa época nós já tínhamos um bom tempo já trabalhando em sondas americanas, já conhecíamos bastante de petróleo quando fomos chamados pela Petrobras para prestar o concurso na Petrobras, veja você...
P/1 Vocês foram chamados, é?
R Nós fomos chamados, né, porque a Petrobras não tinha mão de obra ainda especializada na área de perfuração de petróleo e nós já estávamos nas sondas americanas na qual a Petrobras contratava para furar aqui, né, então quando ela vem dos Estados Unidos ou de qualquer outro país pra aqui, ela é obrigada a contratar mão de obra brasileira, e eu entrei nessa.
P/1 O que é sonda americana?
R A sonda americana? É uma plataforma americana de perfuração como é hoje da Petrobras, entendeu? Quando nós ingressamos nela, passamos um bom tempo, era um contrato né, que era feito, a Petrobras pagava uma nota pra ela, só que a tecnologia começou entrar no Brasil e na época a Petrobras começou fabricar plataforma na França, né, e preparar seus técnicos pra trabalhar nela e nós já estávamos preparados, por isso nós fomos convidados a prestar um concurso já pra ingressar na área de...
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Depoimento de João Almeida Gonçalves
Entrevistado por Douglas Thomaz
Macaé 18/06/2008
Realização Instituto do Museu da Pessoa.net
Entrevista PETRO_CB420
Transcrito por Maria Janecilda da Silva
P/1 Queria que você começasse falando seu nome completo, o local e a data de seu nascimento.
R Meu nome João Almeida Gonçalves, nasci em Macaé...
P/1 E a data?
R 12 de novembro de 1960.
P/1 Ta bom. João, eu queria que agora você começasse falando pra gente um pouco, como é que quando e como você ingressou na Petrobras.
R Olha rapaz, eu ingressei na Petrobras, antes de trabalhar na Petrobras, trabalhava em sondas americanas, certo, e trabalhei três anos sondas americanas quando tava começando a perfuração na Bacia de Campos. E nessa época nós já tínhamos um bom tempo já trabalhando em sondas americanas, já conhecíamos bastante de petróleo quando fomos chamados pela Petrobras para prestar o concurso na Petrobras, veja você...
P/1 Vocês foram chamados, é?
R Nós fomos chamados, né, porque a Petrobras não tinha mão de obra ainda especializada na área de perfuração de petróleo e nós já estávamos nas sondas americanas na qual a Petrobras contratava para furar aqui, né, então quando ela vem dos Estados Unidos ou de qualquer outro país pra aqui, ela é obrigada a contratar mão de obra brasileira, e eu entrei nessa.
P/1 O que é sonda americana?
R A sonda americana? É uma plataforma americana de perfuração como é hoje da Petrobras, entendeu? Quando nós ingressamos nela, passamos um bom tempo, era um contrato né, que era feito, a Petrobras pagava uma nota pra ela, só que a tecnologia começou entrar no Brasil e na época a Petrobras começou fabricar plataforma na França, né, e preparar seus técnicos pra trabalhar nela e nós já estávamos preparados, por isso nós fomos convidados a prestar um concurso já pra ingressar na área de perfuração.
P/1 Isso foi quando?
R Olha rapaz, 84, 85.
P/1 E aí você começou trabalhando no quê?
R Na sonda americana dava-se o nome de (hastbald?), é o homem que trabalha na área, é a mais baixa função dentro da sonda americana. Na Petrobras eu entrei na mesma função chamada “auxiliar de plataforma” que hoje não tem mais na Petrobras. E dentro da Petrobras eu fui fazendo carreira.(risos)
P/1 E qual a função que você exerce hoje?
R Hoje eu sou técnico de operações plena.
P/1 E o que é o seu trabalho hoje, atualmente?
R Olha, o técnico de operações plena hoje, na verdade antigamente, era o soldador, era o soldador porque você começa como: “Auxiliar de plataforma, quando eu comecei, você faz um concurso para ‘plataformista’, depois vai a ‘torrista’, depois é soldador e daí por diante”. Passou um bom tempo, mas é, por que você passa por esse tempo? Porque você vai pegando a coisa lá de baixo, então quando você chega lá em cima como soldador você conhece tudo lá de baixo, então fica mais fácil pra você operar, muito mais fácil!
P/1 E como é que era a Petrobras, lado a lado, na década de 80 no ínicio?
R Ah cara! Não é brincadeira não, aquela Petrobras eu posso dizer ”era a minha Peterobras”. Hoje, pra nós que temos tempo de empresa, analisando, era muito difícil. Era difícil por quê? Porque, eles tinham uma mentalidade, entendeu, e hoje é uma mentalidade completamente diferente e tá mudando! Cada vez mais, porque tá aposentando todo mundo... Quando eu entrei no petróleo, como eu comentei com você antes, eu tive muitos problemas, entendeu, com os meus encarregados, por que, eu tive problemas com eles? Porque eles achavam assim, não, nós somos os donos da plataforma, entendeu, nós somos o máximo, só que não tinha aquela flexibilidade, não tinha um curso de relações humanas como nós temos hoje. Hoje, o convívio de patrão e empregado é bem melhor por causa desses cursos de relações humanas. Eu tive um problema, não sei se eu posso contar, com um dos meus encarregados, sem mencionar nomes: “Quando o meu primeiro filho nasceu __________, tá com 22 anos, o Erick. A lei sempre foi lei, o empregado desembarcar, você tem direito a cinco dias. E minha esposa na gravidez, ela tinha problemas e eu avisei na minha base, olha ‘minha esposa vai entrar em trabalho de parto e eu vou embarcar, mas a qualquer momento eu posso desembarcar’ e quando eu cheguei na plataforma realmente aconteceu, ela foi para o hospital passando mal, meu filho com problema, com risco de morrer e quando meu cunhado ligou, eu não tive condições nenhuma de trabalhar mais, o que é que eu fiz? Automaticamente, com todo respeito, cheguei pra ele e conversei com ele que eu já tinha avisado na base, que eu sabia que era o meu direito e ele simplesmente, olhou pra minha cara e falou assim ‘você é médico? Você não vai resolver nada, não vai adiantar, você desembarcar’. E eu virei com todo respeito e voltei pro meu trabalho, continuei trabalhando, mas trabalhando sem cabeça pra... Voltei, conversei com ele de novo, falei com ele e ele falou assim pra mim ‘ olha, o Cláudio (Vindasteiro?), um amigo meu, ele vai desembarcar, ele vai no hospital, ele vê como está tua esposa e ele manda resultado pra você’. Rapaz, um homem nervoso, quando ele começa ficar nervoso, é como um vulcão que começa entrar em erupção, ele não expele a larva rápido não, ele leva um bom tempo, tem que, né, aquecer bastante e eu fui segurando, segurando, segurando. Voltei no escritório de novo, quando eu recebi o telefonema era oito horas da manhã, o dia todo, era quatro horas da tarde. E nada e ele não arrumava vôo pra mim e eu não conseguia trabalhar e o telefone não tocando na sala de rádio e eu com os colegas, sabendo a minha situação, comunicando eles e eles ‘pô, mas não pode cara, é um direito seu, você tem que desembarcar e tal’. Olha cara, falar a verdade, teve uma hora, era quatro e meia, eu voltei no escritório dele, eu perguntei, falei assim ‘e aí o senhor não vai conseguir desembarco pra mim?’ Ele não olhou pra mim, de costas tava olhando pro mapa, um rebocador, ele ficou. Ele voltou pro escritório, eu vim atrás dele, quando ele sentou na mesa, eu falei ‘o senhor vai resolver meu problema?’ ele olhou pra minha cara, falou assim ‘olha, não vai adiantar você desembarcar, então fica por aí que o Cláudio vai mandar resultado e você...’ Olha cara, eu avancei no pescoço dele, entendeu, só que a mesa dele era muito grande e eu não consegui, eu fui com a mão esquerda pra agarrar no colarinho dele no macacão e a mão direita foi pra dá um soco na cara dele, só que a mesa dele era muito grande, a cadeira dele era aquela de rodinha, ele chegou pra trás eu e não consegui né, _____________na mesa, foi na hora que chegou os companheiros e me socorreram. Todo mundo, a plataforma toda veio ao meu favor”! Quer dizer olha como que eles tinha a mentalidade, hoje é a coisa mais fácil do mundo, você liga pra base, você avisa, as vezes você nem embarca, olha como a mentalidade mudou. É por isso que eu falo hoje pros meninos que estão começando na empresa:”Cara, vocês têm que dá graças a Deus que a Petrobras implantou o SMS, porque eu conheço a Petrobras antes e depois do SMS, pra gente é uma maravilha.”
P/1 E João, pelo que eu tô vendo, você tem um bom relacionamento com os amigos, na plataforma, né, você lembra de algum tipo de brincadeira, de trote aqui com os novatos ou que você mesmo tenha passado?
R Olha rapaz, trote assim não entendeu, mas, a galera que chega na sonda, geralmente, a gente abre... O cara chega, o cara não tem idéia do que uma plataforma. Aqui, você olhando...todo mundo que chega, nisso aqui...cara isso aqui, é muito beco, muito... então você fala assim: “Aqui você paga conta de água, conta de luz, telefone. Quando você chega lá sempre dá uma idéia pro cara ‘amigo é o seguinte, vá no escritório buscar uma conta de luz’(risos), negador... O cara ‘e aonde é?’ ‘no escritório’, liga pro_______,’Ó o cara via buscar a conta de luz aí, quando chegar lá manda ele pra outro lugar’ e ele sái, entendeu, outro trote, que o pessoal se atrapalha e´aquele negocio do refeitório, na fila do refeitório, ‘escuta tu já pagou lá? Aonde é que paga? Ó rapaz, tem que pagar na recepção a comida, ó não come muito não que a comida aqui é muito cara!’ e o cara fica apavorado porque o cara não embarca com dinheiro, entendeu, esse tipo de trote assim que o cara...
P/1 E a comida lá é boa? O pessoal come muito?
R Boa cara! A comida é boa, entendeu,as________que vão pra lá é de primeira qualidade, agora ta melhor ainda, porque tão mandando pra plataforma nutricionista, entendeu, cola muito no pé da gente e pôxa, elas preparam um rango de primeira qualidade.
P/1 E quando o pessoal não tá trabalhando? Momentos de lazer...
R Olha cara, o meu lazer sempre foi malhar, eu não me vejo sem malhar, entendeu, pó, eu tenho 47 anos pó, entendeu, se não tiver uma esteira pra mim correr, um peso pra mim levantar, uma aeróbica pra mim fazer, eu fico poxa...eu não me vejo sentado numa cadeira o temo todo, entendeu, ou num computador, o meu negócio é agitar. Eu termino o meu expediente com certeza é uma hora e meia de academia todo dia, antes de ir pro refeitório. Os colegas pergunta assim: “Pôxa cara, tá com 47 anos, você tá bem pra caramba”?
“Pra você estar bem você tem que primeiro: se alimentar bem, com 47 anos você não é mais nenhum menino de 18 anos, o coração já não bate com tanta vontade como o de um menino de 18 anos, então tú tem que fazer com que ele bata e o sangue bombeie, tú tem que fazer uma esteira ou alguma coisa.” Só que a galera que chega, né, a comida é boa e é farta, o cara acaba de comer vai pro carteado, sentou em cima da barriga, saiu dali vai pra cama, com pouco tempo amigo é que dança, o cara ta em forma de barril. Não é a minha praia, ou quando desembarca por exemplo, eu desembarco, vou na academia, faço minha academia, um esporte que adora jogar é frescobol, adoro jogar frescobol, entendeu,meu filhos jogam futebol, mas eu adoro jogar frescobol. A minha caminhada na areia, ouvindo minha musiquinha, eu tenho que fazer, porque eu penso assim, dentro da empresa tem uma coisa que a empresa presa muito é uma coisa chamada qualidade de vida, mas ela não pode por exemplo, é monitorar você 24 horas. Qualidade de vida é uma coisa que te em você.então se você fala assim: “Eu tô me sentindo mal, preciso de qualidade de vida”, aí você vai procurar, com certeza você tendo uma boa qualidade de vida, tú vai viver muito mais, mas está em você. As pessoas falam assim: “ Você é um tanto narcisista, né cara? Eu falei, eu sou mesmo cara, não vejo gordo, não me vejo estressado, nem minha mulher me estressa, nem ela consegue me estressar.
P/1 E a saudade da família em relação a trabalhar embarcado, como é que é isso?
R Olha cara, é complicado, porque veja bem: “A família é a base de tudo, pensa você, portão embarcado aí é aniversário da tua esposa, né, aí daqui a pouco você liga pra tua casa ou ligam pra você, aí é aquela bagunça, aquele barulho, todo mundo ‘ah, volta aqui’, aquele negócio todo, aí a esposa pega o telefone, fala com você... Aí você vai trabalhar, ‘pô cara, aniversário da minha esposa hoje, ta rolando uma festa legal, mas tudo bem e tal’. Dói lá no fundo, sabe como, mas é aquele negócio, ‘faz o omelete sem quebrar o ovo’, a verdade é essa, tu tem que ir porque na verdade a festinha tá rolando, mas mexeu no teu bolso mesmo você estando embarcado, mas é um prazer que a gente tem, entendeu, porque senão não teria interesse em desembarcar, vou botar dinheiro em baixo do colchão? Não pó, é pra dá prazer pra esposa, porque a família estando bem, veja bem ‘a família estando bem, você também lá está bem’, quando você embarca com problema, quer queira quer não, você tem que ter um auto-controle, porque o auto-controle? Porque você não pode deixar, não pode levar um problema de terra pra plataforma, porque lá é outro ambiente, entendeu, que inclui acidente e tudo mais e não pode por exemplo, levar o problema de terra pra lá porque tu vai trabalhar com pessoas diferentes, você não pode brigar com teu colega porque o problema foi a com mulher, não, seu colega é seu colega, sua mulher é sua mulher, então tem conciliar uma coisa com a outra, então você tem que fazer de tudo pra você embarcar com a tua família bem, entendeu, de preferência brigou com a mulher, faz as pazes a noite pra no outro dia você embarcar tranqüilo, senão fica complicado(risos).
P/1 E João, você se lembra do acidente de Enchova?
R Olha rapaz, eu me lembro, eu me lembro porque eu tava embarcado e pó, foram noites e mais noites, os dois acidentes, eu me lembro.
P/1 Quais foram os dois?
R Foram dois acidentes em Enchova. A gente ficava olhando aquela... Em alto mar, ta, você ver o tempo todo (o ple?), só vai as plataformas queimando gás, mas quando você vê uma plataforma enorme queimando ela toda, a noite fica parecendo assim... É uma cidade, aquilo é um clarão muito grande, né, pó, você pensa nos colegas, você pensa nos amigos, aquilo que ta acontecendo, entendeu, porque a gente pensa assim:”Pó cara, podia ser eu lá”, entendeu, você não pensa só “que se dane o cara não”, pó o cara tem família também, tem mulher, tem filho, pó, podia ser eu. E a gente concientiza as nossas esposas, ó a gente vai, agora voltar... A gente tem certeza que vai, agora voltar já é outra história, pede a Deus por mim porque eu tenho que ganhar o pão de cada dia e depois do acidente eu embarquei lá, até pra recuperar alguma coisa, a Petrobras embarcou lá, pra trbalhar lá. Cara, eu entrei dentro da paltaforma, as luzes todas apagadas e tal, parecia um cemitério. Uma coisa que me tocou é que eu vi muitas fotos de filhos pelo chão, de namoradas,entendeu, de esposa, entendeu, tudo pelo chão, quer dizer na hora, o cara pensa na família, entendeu, nessa hora.
P/1 E Petrobras dois? O que é Petrobras 2?
R Rapaz! A Petrobras 2(risos) é o chamado “sonda escola”. Que é um navio que chegou na bacia... Foi ele que chegou primeiro, acho que quem passou pelo Petrobras 2, teve historia, porque cara, aquele ficava a deriva toda hora, no dia que o mar tava violento, a água passava por cima, entendeu, lá não funcionava o SMS, lá era tudo...né, mas, ele teve história, agora não tinha um navio a furar tão
Rápido como Petrobras 2, fazia um poço em um mês, pó, era rápido, também quebrava tudo, aquele negócio todo e botava tudo novo, era um navio velho, mas trabalhava muito bem.
P/1 E João, eu queria que você me dissesse qual foi o maior desafio que você tem enfrentado aqui nesses anos de trabalho.
R Olha rapaz, meu maior desafio... Eu fiz uma palestra na semana passada no teatro do sindicato... É você ter que trabalhar e estudar, porque quer queira quer não, você não pode por exemplo... quer dizer, uma coisa que eu não gosto, como eu falei pra você, é informática. Uma coisa, é eu não gostar, outra coisa é a precisão. Hoje o mundo é informatizado, então amigo mesmo eu não gostando, eu tenho que me adequar no mundo de hoje. Quer dizer, eu tô indo, começando fazer um curso de informática pra... Outra coisa é o inglês, as pessoas falam assim “pó cara, você fala inglês fluentemente” eu falei “olha, só, sabe porque eu aprendi falar inglês? É aquele negócio, foi um desafio, eu trabalhava em sonda de gringo, tá, os caras me maltratavam muito! Cheguei na sonda de gringo, era tudo gringo, não entendia uma palavra de inglês cara, os caras me botaram num submarino lá com gringo... Chegava lá, trabalhava, a única coisa que eu, o gringo pedia uma chave, eu pá... Aí ele falava assim pra mim “ei, amigo, chap chap” e eu “chap chap, o que é chap chap”? Aí eu falei “eu tenho que aprender essa língua”, aí eu trabalhava com uma turma de baianos, os caras chegava em terra, era só cachaça, ai eu disse “não, vou estudar, tô curioso”. Eu comecei no CCAA, aprender inglês, estudar, estudar, estudar, estudar, estudar... aí, chegaram na sonda, tinha um intérprete que era o Almeida, “como é que tá você”? “tô estudando”, mas, eu comia inglês, tudo quanto era livro de inglês, eu tava colado. Minha mulher chegou ao ponto de me chamar de doido “você ficou falando sozinho no banheiro” eu “não, eu tô fazendo conversação, eu sozinho”. Chegou uma época que o cara começou a me humilhar, humilhar, aí um dia eu revidei, eu revidei em inglês, aí o gringo olhou pra mim assim, ele não sabia depois de 3 anos que eu tava falando inglês, tava entendendo o que tava falando, ele olhou pra minha cara assim... Aí me mandou pro escritório, chegou no escritório, foi uma coisa interessante, tem o chamado________, que é o chefe maior, falou que eu não tenho inglês, o que é que eu estava fazendo ali no escritório, eu falei assim “não vou falar uma palavra em inglês, eu fiquei quieto”, aí ele pegou o telefone e chamou Almeida, aí o Almeida chegou e perguntou, “o que você tá fazendo aí”? Eu disse “olha, eu tava trabalhando lá, aconteceu isso e isso”... e ele “fala inglês pô”, eu disse “não”, fiquei quieto, não falei inglês não. Pra mim foi bom, porque eu era auxiliar de plataforma, entendeu, e dalí passei a ser plataformista dentro da empresa mesmo e fui, de lá pra cá, nunca parei. Aí as pessoas falam assim... eu por exemplo no meu entender, veja bem: “Quando alguém me maltrata, eu não faço daquilo ali um degrau pra descer, eu faço um degrau pra subir. Quanto mais me maltratam, quanto mais me humilham, eu não diminuo não, eu cresço com isso, entendeu, eu sempre boto um degrau pra cima”. Você fala assim, por exemplo, a matemática por exemplo, eu nunca fui bom em matemática, mas quando eu fui fazer o curso o ano passado na Bahia, eu fiquei um ano lá e eu encontrei um professor, que ele falou o seguinte:”Eu disse, ‘professor eu sou péssimo em matemática’ e o professor era um assim esquisitinho, e eu ‘pô, esse cara é o professor’?, o cara era muito bom em matemática! Pó, o cara é muito bom, eu sou péssimo, vou levar pau, né, ele falou assim, ‘sabe porque eu sou bom em matemática’? ‘porque quando era pequeno no colegial, teve uma professora que falou assim ‘esse neguinho é muito burro, não via aprender nunca’ aí o que é que ele fez? Ele esqueceu das outras matérias, ele comia matemática e hoje é professor de universidade, tá, e eu falei ‘não, se conseguiu, eu também eu consigo’ e quando eu saí daqui, alguns colegas falaram ‘pô, o João não vai passar não cara, que o curso lá tem muita matemática e é muito forçado’, mas eu falei ‘não, eu vou passar’. Pôxa a galera saía em Salvador, zuar e eu colado ali, colado direto estudando, estudando, estudando... Fiz três provas de matemática, mas passei”.(risos)
P/1 E João, o que é ser petroleiro?
R Cara, ser petroleiro é um desafio, a verdade é essa, porque todo mundo que ser, mas não sabe as dificuldades que você vai passar, porque desde o momento que você fez o concurso, na empresa, aí hoje você tá aqui, beleza, acostumado na tua casinha, vendo tua televisão na boa e tal né, sai na noitada, daqui a pouco_______ó, você vai pra uma sonda lá em Catú, Salvador. Caramba! Catú é? É. É uma sonda no meio do mato pó, ____faz girar, na 55. É no meio do mato, quando chove, você mete o pé dentro da lama, entendeu, o pé fica, a bota fica, sai o pé, você tem que botar o pé de novo, porque é um negócio meio rústico, meio não, é rústico, então é ralação, você fala “pôxa, eu uma hora dessa tava na balada, três horas da manhã e eu tô aqui cara, chovendo”, mas você se adequa a isso, mas com o tempo você vai vendo que aquilo ali vale a pena, entendeu. É como eu falei, não tem como você fazer um omelete sem quebrar o ovo, então você muda de vida completamente.
P/ E João, pra gente ir já terminando, eu queria que você emitisse a sua opinião a respeito do projeto né, que você tá participando de contar um pouco a história da Petrobras, da história das pessoas que trabalham aqui né, a memória das pessoas daqui, queria que você falasse um pouco sobre isso.
R Olha, esse projeto, eu achei muito interessante, eu não estaria dando essa entrevista aqui, né, você falou várias vezes comigo aqui no galpão do lado, sabe porquê? As pessoas precisam saber realmente a nossa história pra nos valorizar muito mais, quando você vê um cara subir numa aeronave, ir pro mar, você olha assim e fala: “É rapaz, lá vão os guerreiros”, e a gente vai mesmo, eles vão valorizar, quando eles descobrirem o que é Petrobras, eles vão valorizar muito mais o nosso trabalho e digo uma coisa pra você “hoje, os meninos que estão fazendo segundo grau, terceiro grau, terminando escola técnica, né, cada um vai querer entrar numa profissão e digo pra você que a maioria deles querem entrar na Petrobras e quanto mais eles souberem de nós, da nossa história, entendeu, que essa empresa é uma empresa que tá crescendo muito cada dia que passa, entendeu, hoje, eu por exemplo trabalho em águas profundas, tecnologia de águas profundas é a melhor do mundo! Então nós temos que falar mesmo pra incentivar os meninos que estão terminando os estudos agora que... entrar pra essa empresa e falar ‘cara eu vou chegar em 2014 com uma outra mentalidade, com a Petrobras liderando tudo de petróleo no mundo todo’, entendeu, tem que estudar muito, tem que ralar muito pra quando chegar aqui dentro, você não vai ter moleza. A Petrobras na verdade, você sempre continua estudando, sempre aprendendo, sempre coisa nova, é por isso que ela é auto-suficiente, entendeu, porque você continua aprendendo tudo quanto é curso, tudo quanto é coisa nova que aparece, a Petrobras, ela banca você e manda você fazer curso dentro daquilo ali pra você trazer resultado, então a turma que tá entrando agora, não vai ter moleza, tem que enfiar a cara nos estudos”, entendeu?
P/1 Tá bom João, valeu, acho que é isso aí.
Fim da entrevista.
Palavras desconhecidas:
(hastbald?),
(Vindasteiro?)
(o ple?)
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