IDENTIFICAÇÃO
O meu nome é Ismael Benedito de Souza. Eu nasci na Fazenda Santa Cláudia, em Santo Antonio da Posse, Estado de São Paulo, em 18 de abril de 1946.
FAMÍLIA
Meu pai chamava-se José de Souza e minha mãe Aparecida Patrucci de Souza. Meus avós paternos são Francisco e Maria Pereira de Souza e meus avós maternos são Dante Patrucci e Júlia Mantuani Patrucci. A família é italiana por parte de mãe, meu avô veio da Itália com 13 anos, não lembro o ano. Meu avô era toscano e minha avó é napolitana. Meu pai era agricultor. Minha mãe era do lar, nunca trabalhou fora de casa. Meus avós também eram todos agricultores, tanto materno quanto paterno. Nós somos uma família de 13 irmãos. Sete mulheres e seis homens e três mortos. Eram 16.
CASA NA FAZENDA
Eu morei na Fazenda até a idade de 12 ou 13 anos. Depois é que eu fui morar em Santo André, no ABC paulista. Na época, quando eu tinha essa idade – 12 anos – Santo André era uma cidade que ainda tinha uns 200 mil habitantes. Hoje, já está beirando um milhão de habitantes. Era uma rua bastante sossegada, era uma rua sem saída. Chamava-se Travessa Suzana. Ali eu vivi dos 13 anos até os 17 anos, nessa mesma rua. Depois eu fui fazer o serviço militar na Escola de Cadetes de Campinas, fiquei um ano e pouco lá. Depois, retornei para Santo André novamente, mas já em outro bairro, no Parque das Nações, na Rua Gentil.
INFÂNCIA NA FAZENDA
Era uma Fazenda e a produção era baseada no café, algodão, milho, agricultura de subsistência, mas o forte era a produção de café. Comecei trabalhar muito cedo, com sete anos. Mas brincava também. Na Fazenda, a gente brincava muito. As brincadeiras da Fazenda giravam em torno de caçar passarinho – que hoje não pode mais – andar a cavalo, com animais, cuidar de criação. Eram as brincadeiras. E tinha o futebol. Sempre. A gente conseguia uma bola e jogava futebol também. Participavam os...
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O meu nome é Ismael Benedito de Souza. Eu nasci na Fazenda Santa Cláudia, em Santo Antonio da Posse, Estado de São Paulo, em 18 de abril de 1946.
FAMÍLIA
Meu pai chamava-se José de Souza e minha mãe Aparecida Patrucci de Souza. Meus avós paternos são Francisco e Maria Pereira de Souza e meus avós maternos são Dante Patrucci e Júlia Mantuani Patrucci. A família é italiana por parte de mãe, meu avô veio da Itália com 13 anos, não lembro o ano. Meu avô era toscano e minha avó é napolitana. Meu pai era agricultor. Minha mãe era do lar, nunca trabalhou fora de casa. Meus avós também eram todos agricultores, tanto materno quanto paterno. Nós somos uma família de 13 irmãos. Sete mulheres e seis homens e três mortos. Eram 16.
CASA NA FAZENDA
Eu morei na Fazenda até a idade de 12 ou 13 anos. Depois é que eu fui morar em Santo André, no ABC paulista. Na época, quando eu tinha essa idade – 12 anos – Santo André era uma cidade que ainda tinha uns 200 mil habitantes. Hoje, já está beirando um milhão de habitantes. Era uma rua bastante sossegada, era uma rua sem saída. Chamava-se Travessa Suzana. Ali eu vivi dos 13 anos até os 17 anos, nessa mesma rua. Depois eu fui fazer o serviço militar na Escola de Cadetes de Campinas, fiquei um ano e pouco lá. Depois, retornei para Santo André novamente, mas já em outro bairro, no Parque das Nações, na Rua Gentil.
INFÂNCIA NA FAZENDA
Era uma Fazenda e a produção era baseada no café, algodão, milho, agricultura de subsistência, mas o forte era a produção de café. Comecei trabalhar muito cedo, com sete anos. Mas brincava também. Na Fazenda, a gente brincava muito. As brincadeiras da Fazenda giravam em torno de caçar passarinho – que hoje não pode mais – andar a cavalo, com animais, cuidar de criação. Eram as brincadeiras. E tinha o futebol. Sempre. A gente conseguia uma bola e jogava futebol também. Participavam os irmãos, a vizinhança, todos. Era uma família muito grande. E na Fazenda tinha, mais ou menos, 50 famílias.
CONDIÇÕES DE TRABALHO / FAZENDA
Na época, a agricultura não era mecanizada, quase tudo era feito no braço mesmo e com animal, burro e cavalo, que usavam tanto para tração como para montaria. A vida girava em torno disso daí: plantar, esperar crescer, cuidar e depois colher. Era essa rotina de trabalho. Todos participavam. Era um serviço difícil, duro. Usava-se mesmo a força física, não tinha meios mais avançados de hoje. Não era nada mecanizado.
CASA DA FAZENDA
A casa em que eu morava ainda existe. Eu moro perto, e de vez em quando eu vou lá. Era uma casa grande, tinha uns oito cômodos, tinha fogão a lenha. Não tinha energia elétrica, a iluminação era na base de lampião e querosene. O bom de ser criado assim, numa fazenda é que você tem uma liberdade que na cidade você não tem. Você andava muito, todo mundo sabia quem era quem. Foi uma infância difícil porque a gente trabalha para sobreviver mas, ao mesmo tempo, foi muito boa por causa dessa liberdade. Eu estudava na escola rural na própria fazenda. Até a terceira série era a escola rural, depois, na quarta série, já ia para escola na cidade que ficava a seis quilômetros da Fazenda.
EDUCAÇÃO
Meu pai era muito durão e continua ainda, porque ele é vivo Ele é que, vamos dizer, coordenava tudo. A minha mãe... Há quase 60 anos – eu estou com 58 anos –, você imagina como era a vida da mulher, era muito submissa ao homem, muito mais do que hoje. Muito mais.
EDUCAÇÃO RELIGIOSA / POLÍTICA
Até uma certa idade, a gente teve uma educação religiosa. Em uma fase da minha vida, eu vivi com a minha avó e o meu avô. Dos três aos sete anos, eu vivi com eles, depois voltei para a fazenda. Então, na verdade, eu nunca fui muito apegado à religião, mas à política sim, por causa do meu pai. Embora ele fosse um agricultor, tinha contato político, tanto com as cooperativas, como com o Sindicato Rural dos Trabalhadores e com o partido político da época, o PTB.
IRMÃOS
A minha mãe tinha uma quantidade de filhos muito grande, então não era possível dar atenção para todos. Eu sou o quarto filho. Na minha casa, a diferença de um filho para o outro é de um ano, um ano e meio, no máximo 22 meses. O meu irmão é 22 meses mais velho do que eu. O resto, todos eles, a diferença é de um ano. E tem até uma coincidência, quando um dos meus irmãos fez um ano, o outro nasceu. Inclusive, eu levei a minha mãe para maternidade, porque o meu pai estava viajando. Naquela época, eu acho que tinha dez ou 11 anos.
CASA DOS AVÓS
Como só tinha eu de neto morando com a minha avó, ela dava mais atenção. Os meus tios e tias também davam mais atenção. Era um pouquinho, vamos dizer, protegido. Eu tenho essa lembrança. E era também uma vida mais confortável do que na própria fazenda. Eu gostava muito da minha avó, ela morreu com 86 anos. Já faz 17 anos que ela morreu. Eu senti muito, foi uma perda muito grande para mim. E ela morreu justamente numa época em que eu estava passando por uma fase difícil da minha vida. Eu sinto muita saudade dela; até hoje. Ela me mimava demais. Ficou isso na minha memória, me lembro muito bem disso.
COTIDIANO NA FAZENDA
Minha mãe fazia bolo, fazia pão, tudo caseiro e feito no forno de lenha. Tudo isso aí, ela mesma fazia. Inclusive, quase tudo que a gente consumia era de lá mesmo, galinha, porco, vaca de leite. Meu pai sempre tinha duas ou três vacas com leite, a gente tinha uma alimentação boa. A nossa alimentação era muito boa, além de ser um produto natural porque não existia esse adubo químico, a gente não usava essas coisas. Nós só usávamos o adubo orgânico. Então a comida era muito saudável.
EDUCAÇÃO POLÍTICA
O meu pai quase não passava a experiência dele, ele não era de dialogar conosco. Ele nos levava junto, e a gente ia ouvindo as conversas. Ele nos levava nas reuniões do partido, nas eleições, nos comícios. A gente, desde criança, acabou pegando alguma coisa de política. A gente já tinha um idealismo desde pequeno. Eu lembro muito bem que não me conformava com certas coisas que via na época de criança. A gente não se conformava de ter que trabalhar e pagar uma parte para o dono da terra. O dono da terra só entrava com a terra e a gente trabalhava. Chegava no fim, você tinha que pagar uma parte para ele. E a gente via que essas pessoas que tinham terras viviam bem melhor do que nós. Aquilo já me causava um pouco de, não era bem uma revolta, mas era uma mágoa de ver as pessoas que trabalhavam como a gente. Às vezes, até não trabalhavam quando pequenos – como a gente trabalhava – mas que tinham a vida bem mais confortável do que a nossa. O que já criou em mim a vontade de ver isso mudar. Eu comecei sentindo que alguma coisa estava errada e que tinha que mudar desde dos sete ou oito anos.
CONSCIÊNCIA DAS DIFERENÇAS
Quando eu comecei a trabalhar e freqüentar a escola, comecei a pensar nisso. Até então, não. Mas depois comecei a freqüentar escola rural, que também tinha os filhos de fazendeiros que estudavam, e eu via essa diferença. Tinha os filhos de pequenos sitiantes que levavam uma vida diferente. A gente não tinha consciência daquilo, mas a gente sentia na pele e acabava até percebendo essas coisas. Depois dos 14 anos, já comecei a sentir que a gente tinha que fazer alguma coisa. Aí, comecei a trabalhar em fábrica, já em São Paulo – eu fui para lá com 14 anos e pouco – e comecei a me conscientizar que tinha que mudar. Isso foi em 1961 ou 1962, numa época bastante agitada em São Paulo, principalmente nas indústrias. A gente já começou a ouvir e a prestar atenção nos dirigentes e a seguir aquela orientação que eles nos davam.
ESCOLA RURAL
Era um regime bastante rígido. Naquela época, ainda se usava bater nas crianças: a professora puxava a orelha, batia com a régua, puxava o cabelo. A gente tinha ser muito obediente. E, não sei por que, eu era sempre uma das maiores vítimas. Acho que eu não gostava de ser muito repreendido. Na maioria das vezes, eu acabava pagando até pelo que não fazia. Mas eu fazia mesmo. Eu era um pouco terrível. Era uma escola mista. O meu irmão mais velho e minha irmã mais velha também estudavam lá. Depois, tinha os outros dois mais novos. Era uma escola mista e que tinha uma só professora para dar aula da primeira até a terceira série. As séries não eram separadas, era tudo numa sala só. Tudo era feito no quadro negro e a gente tinha que copiar. Só existia um livro na época, uma cartilhazinha, o restante a gente tinha que copiar, tudo no manual. E não existia esferográfica. Era uma canetinha, não sei se vocês conhecem, aquela que molhava no tinteirozinho e saía escrevendo. Mas o lápis era o mesmo de hoje. A escola era perto da minha casa, era pertinho. A escola era, mais ou menos, a uns três quilômetros de casa. Geralmente, tinha um pessoal que ia de manhã e um pessoal que ia à tarde, na mesma escola. Então, deveria ter uns 30 ou 40 alunos de manhã, e à tarde, a mesma quantia de alunos. Além dos alunos da própria fazenda que estudavam lá, tinha os alunos de outras fazendas que moravam ali perto, dos sitiantes que iam para lá também.
ESCOLA E TRABALHO
A gente estudava de manhã e trabalhava à tarde. O horário da escola era das sete da manhã até às 11 horas. Depois, ia para casa, almoçava e ia trabalhar. Trabalhávamos até cinco ou seis horas. Dependendo do dia, do que tinha que fazer, eu trabalhava até mais tarde. Só descansava no domingo. No sábado, trabalhava também. Sábado não tinha escola, mas ia trabalhar de manhã bem cedo, bem cedinho. Quando eram umas seis horas da manhã, a gente já estava indo trabalhar. Acho que é por isso que eu não gosto de levantar cedo, nunca gostei de levantar cedo.
LAZER NA FAZENDA
No domingo, a gente assistia ao futebol. Tinha um time de futebol lá, e jogava futebol com outras crianças. Pegava um cavalo e ia passear. Fazia arte, como toda criança. Às vezes, saía de manhã e voltava só de tarde, nem ia para casa comer. Comia aquelas frutas que tinham na fazenda: manga, laranja, jambo, jambolão, jabuticaba – não sei se vocês conhecem esse tipo de coisas que lá na fazenda tinha muito. Era uma vida difícil mas, ao mesmo tempo, muito boa porque a gente tinha essa liberdade, não tinha problema de atropelamento como hoje, problema de ser eletrocutado soltando pipa, não tinha nada disso. O único perigo que a gente corria era ser picado por algum animal peçonhento, cair de uma árvore ou se afogar no rio. Na fazenda, passava um rio bem próximo de onde a gente morava. A gente vivia no rio pescando e nadando. Era uma vida agitada para a época.
COTIDIANO EM SANTO ANDRÉ
A gente morava num bairro operário, então, todos ali eram operários ou pequenos comerciantes. A gente tinha muito contato com essas pessoas e ia ao cinema, aos parques de diversões, ao circo, que hoje em dia não tem mais, mas existiam muitos. A gente trabalhava e estudava a noite. Foi quando eu fiz o curso técnico. Eu trabalhava das sete da manhã até às cinco horas da tarde. Não ia nem para casa, ia direto para a escola. Dos 16 anos até os 26 anos, nunca parei de estudar.
ENSINO PROFISSIONALIZANTE
Fiz um curso de Mecânica Geral, depois fiz um curso de Técnica em Controle de Qualidade e, depois, já na Petrobras, o curso Técnico de Segurança. Era o Colégio Engetec Oito de Abril, não sei se ainda existe. Não é do meu conhecimento. Mas era uma escola muito boa de ensino profissional. Consegui trabalhar e estudar ao mesmo tempo.
PRIMEIRO TRABALHO
Nessa época, eu trabalhei em diversas indústrias. Eu comecei a trabalhar com 14, quase 15 anos. na Indústria Metalúrgica Lorenzetti, uma fábrica de chuveiros, bombas hidráulicas. Depois, eu fiz o Serviço Militar – um ano e pouco também. Quando eu voltei, eu trabalhei na General Eletric, no Moinho São Jorge e na Ford. Na Ford, eu trabalhei um bom tempo.
JUVENTUDE / MÚSICA
Na época, estava surgindo a Jovem Guarda. Era o tempo de Celi Campelo, Sérgio Murilo, Toni Campelo, Carlos Gonzaga. Carlos Gonzaga? Aquele que fez aquela música “Diana”. Acho que era esse o nome mesmo. Depois veio Erasmo Carlos e Roberto Carlos. Esse pessoal que eu falei é um pouco antes. A gente curtia esse tipo de música: Jovem Guarda, samba; algum samba. Da época é mais aquele samba-canção. E surgiu a Bossa Nova, mas era pouco difundida. Lá no bairro, tinha muitos clubezinhos pequenos, que tinham baile todo fim de semana, no sábado ou no domingo. Eles chamavam a “Domingueira dançante”. A nossa diversão era essa e jogar futebol também. Quase todo jovem jogava em algum time de futebol da Várzea, onde tinha muito campo. Hoje em dia, quase não tem mais campo de futebol. Mas era uma época muito boa também, muito boa, a gente aprendeu bastante. A única coisa ruim foi a repressão, a ditadura. Eu comecei a sentir a ditadura assim que ela surgiu, em 1964.
DITADURA MILITAR
Quando a ditadura foi implantada, em março de 1964, eu morava em São Paulo, mas meu pai morava em Campinas, onde é hoje a Unicamp. O meu pai arrendava umas terras por ali. Ele era diretor do Sindicato Rural. Então, empastelaram o Sindicato, e prenderam o advogado, que era o Pedro de Azevedo, um senhor de descendência afro-brasileira. Meu pai acabou mudando de lá e vindo para São Paulo. Aí, isso já pegou a gente, acabou pegando a minha família toda. Isso aconteceu em março de 1964 e quando foi em novembro de 1964, eu fui incorporado ao Serviço Militar. Ali, a gente sentia mesmo. Eu já identificava o meu pai e alguns parentes como de esquerda, naquela época era o Partidão; o famoso Partidão. Nessa época, ele estava no Partidão. Eu fui fazer Serviço Militar numa unidade de elite, e a gente sentia aquelas instruções, aquele palavreado do pessoal, que dizia: “comunista não era gente”. Isso aí me marcou muito.
SERVIÇO MILITAR
Era difícil, era um terror. A gente não podia fazer nada. Não podia nem abrir a boca. Na unidade, na Guarnição de Campinas, que até hoje é uma guarnição muito grande, houve uma devassa, e nos quartéis foram presos – eu não lembro bem – quase 40 sargentos e cabos. Foram presos ou destituídos do cargo. Eu passei por isso. O tempo que eu servi foi de janeiro de 1965 até junho de 1966. Eu fiquei lá um ano e meio. Eu servi na Escola Preparatória de Oficiais. Então, os alunos eram filhos ou sobrinho de militar; eram parentes de militar ou de pessoas da elite, mas eu não era aluno, eu era soldado. Tinham os alunos e tinham os soldados. Tinha o corpo de alunos e o corpo de soldados, que eram do serviço obrigatório. Na época, eram 360 alunos e 240 soldados temporários. A truculência era terrível. Você era tratado como um animal qualquer, era muito difícil. Hoje já é diferente, mas na época, era difícil. Eles nunca usavam castigo físico, mas usavam outros meios, que eram psicológicos ou então a restrição da liberdade. Qualquer coisa você não podia sair. Ficava preso durante o fim de semana, ficava de castigo, e fazia limpeza ou qualquer trabalho. Era desse jeito. Ainda existe isso, mas a escala é bem menor.
HISTÓRIAS / CAUSOS /LEMBRANÇAS
Dava para sair, mas era muito pouco, mesmo porque eu estava longe da família. E, financeiramente, não dava para a gente fazer muita coisa. Mas a gente saía, ia para outra cidade. Como eu morava ali nas proximidades e tinha parentes que moravam ali também. Tinha uma tia, irmã de meu pai, que morava em Campinas, e eu ia sempre na casa dela. Toda semana eu ia lá. Ás vezes, eu ia durante a semana também, uma, duas vezes, porque era perto de casa. Mas, aí, meu tio faleceu com 37 anos, deixou sete filhos e mais um na barriga da minha tia. A morte desse meu tio foi também uma coisa que me marcou muito. Para mim, ele era um herói, porque ele foi um bom jogador de futebol e a gente gostava muito dele. Ele chegou a ser profissional do Guarani, de Campinas, ele era goleiro. Então, essa morte dele também me marcou. À tarde, eu estive com ele no hospital e ele me pediu que dormisse lá, mas como eu estava de serviço, não pude dormir. Ele morreu naquela noite. Chamava-se Romeu Picolotto.
REPRESSÃO / 1968
Dei baixa do Serviço Militar em junho de 1966 e voltei para Santo André, com a minha família. Aí eu comecei a trabalhar nas indústrias de lá. Fui trabalhar na Ford, na General Eletric, no Moinho São Jorge. E, na escola ou na fábrica, a repressão começou. Uma boa porcentagem dos funcionários e das escolas profissionais já sentia a repressão. Estava forte nessa época, mas piorou mesmo em 1968, depois do AI-5, numa escala bem maior. Até então, sentia-se a repressão, mas não era tanto. Depois de 1968, foi muito forte mesmo.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Meu primeiro emprego formal foi na Lorenzetti, antes de servir ao Exército. Quando sai da Lorenzetti, fui trabalhar numa fábrica de móveis, e fui trabalhar numa indústria de porcelana. Depois é que eu fui fazer o serviço militar. E voltei a trabalhar na indústria metalúrgica novamente. Depois é que eu entrei na Ford. Entrei na Ford em 1967 ou 1968.
POLÍTICA / PÓS AI-5
Dava para conversar alguma coisa de política no trabalho. Uma coisa que marcou muito depois do AI-5, não, foi antes do AI-5, foi que estourou uma greve muito grande lá na região de Osasco, numa fábrica de vagão e numa fábrica de cimento. E eu trabalhava na Ford do Ipiranga, mas como a Ford tinha uma fundição de motores lá em Osasco, justamente, naquela época, eu estava trabalhando lá. Eu peguei aquela movimentação, aquela repressão. Foi uma repressão terrível em Osasco. Foram presos os dirigentes sindicais dos setores da fábrica, e aqueles que tinham algum contato com direção sindical ou com algum partido também foram presos. Eu lembro que essa greve foi curta, durou poucos dias, mas o seu movimento foi grande. O presidente do Sindicato era o José Ibrahim, que era um garoto, tinha 20 anos. Ele era do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco.
POLÍTICA NA FAMÍLIA
Eu era filiado ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, como fui filiado ao dos Metalúrgicos de Santo André, quando eu trabalhava na General Eletric. O meu pai se desiludiu com a política naquela época, e não mexeu mais com política. Abandonou tudo, não quis mais saber, se retraiu, nunca mais. Tenho dois irmãos que começaram a participar, mas bem depois, porque eles eram mais novos, um era quase 20 anos mais novo do que eu e o outro uns 10 anos mais novo. Então, na época, eles não participavam ainda. Mas no começo da década de 1980, eles já participavam também.
JUVENTUDE / NAMOROS
Ainda sobrava tempo para namorar. A gente tinha as namoradas. O namoro, nessa época era bastante... Não me vem o termo agora, mas era aquele namorinho: de casa ia para o cinema. Às vezes tinha que levar alguém junto, não podia ir sozinho com a namorada e tinha horário para chegar. Quando passava do horário, o pai da moça chamava a atenção da gente. Mas tinha sim. Geralmente, a gente ia ao cinema, ao parque de diversão, essas coisas assim, ou algum bailinho. Eu fiquei morando em São Paulo e meu pai ainda morava na fazenda. Então, eu ia sempre para a fazenda, ficava lá o fim de semana e voltava. Eu deveria ter uns 15 anos, por aí. Havia uma moça da fazenda, filha de um alemão. Ela se chamava Augusta Rott. Só nos víamos quando ia para lá. Às vezes eu ficava desempregado, ia para a casa de meu pai e ficava por lá uns meses. E tinha aquele namoro de fazenda, daquele jeito mesmo. Não tinha esses avanços de hoje.
VALORIZAÇÃO DOS ESTUDOS
Eu considero o meu pai um homem muito inteligente, porque conseguiu criar 13 filhos e não deixar ninguém analfabeto. Isso foi um avanço muito grande. Mas ele não tinha uma expectativa que a gente saísse de uma posição para outra. Ele até pensava nisso, mas ele não fazia muito para que aquilo se concretizasse, entendeu? Então, se é que eu posso dizer que tenho um pouquinho de mágoa é com isso aí. Ele não orientava os filhos para essas coisas. Ele falava que a gente tinha que mudar, que tinha que ser alguém na vida, mas não encaminhava. Sobre isso - modéstia à parte, eu posso falar – eu até ajudei os meus irmãos mais novos. Todos eles têm uma boa formação, inclusive, cinco são universitários. Tenho 10 irmãos abaixo de mim, são dez vivos. Muitos dos meus irmãos me consideram como o segundo pai. Na época, a gente tinha já a idéia de que só melhoria se fosse bastante dedicado ao estudo. Eu comecei a encaminhar os meus irmãos mais novos, desde a tenra idade, a orientar na escola. Depois, os encaminhei para o ensino profissionalizante e também para um curso universitário. Eu tenho três irmãos advogados, um engenheiro eletrônico e outro engenheiro químico, que eu ajudei a encaminhar. Não fiz sozinho, é lógico, mas ajudei bastante.
ORIENTAÇÃO POLÍTICA
Depois de uma certa idade, eu comecei a comentar com meus irmãos o que se poderia fazer, o que estava certo, o que estava errado dentro da política governamental. Comentava a restrição de filmes na televisão, a peça teatral que havia sido vetada pela censura. Eu conversava com eles a esse respeito. Nem todos eles usaram isso, mas pelo menos três ou quatro souberam aproveitar esse ensinamento. Não tive ninguém que me orientasse politicamente. Tinha colega de escola e da escola técnica. Tinha alguns colegas que faziam parte de associações de alunos, então conversava com eles, e debatia isso aí. Achava que se construía muito quartel e não se construía escola. A gente fazia greve na escola para melhorar o ensino. Aquela atuação meio capenga, mas fazia alguma coisa.
REPRESSÃO POLÍTICA
Tínhamos medo de repressão, participávamos de algumas passeatas dos estudantes já de nível universitário, principalmente na região lá do ABC. Muitas vezes, houve repressão, a polícia, a cavalaria em cima, mas a gente corria e fazia o possível para não apanhar. Apanhei muitas vezes nessas passeatas, às vezes, nem sabia muito o porquê daquela repressão, não tinha muito idéia, porque as informações não chegavam como chegam hoje. Então, a gente ia um pouco no embalo. As informações chegavam, às vezes, numa pequena reunião. Chegavam aquelas informações que os partidos clandestinos passavam para a gente, certas coisas que estavam acontecendo e que a gente não tinha o conhecimento. E, infelizmente, a gente acabou vendo que estava acontecendo mesmo. Por isso que cresceu o movimento e junto cresceu a repressão. Isso tudo, eu acho que acabou ajudando a construir uma democracia que nós temos hoje.
MILITÂNCIA POLÍTICA
Eu só me filiei a algum partido na época em surgiram os dois partidos: o do “sim” e do “sim, senhor” – o MDB e a Arena. Eu me filiei ao MDB. Tive alguma ligação com o PC, o PC do B, mas não era filiado. Conhecia algum militante, e a gente conversava, mas nunca participei de reunião junto com a cúpula do partido. Nunca participei, não.
GREVE EM OSASCO
Uma coisa bastante marcante, para mim, como eu já tinha antecipado, foi a greve de Osasco. Eu nunca tinha visto uma repressão tão forte em cima de um trabalhador. Nunca tinha visto. Já tinha participado até de greve, mas nunca tinha visto uma repressão daquela maneira. Aquilo me assustou, porque cercaram a fábrica com os operários dentro e quem estivesse lá saia apanhando, não tinha para onde fugir. Tinha que sair para enfrentar. Todo mundo que estava lá apanhou, todo mundo, não teve um que escapou. Cercaram a fábrica com os cavalarianos, com os brucutus – aqueles carros de controle de tumulto, que jogava jato d’água, bomba de gás lacrimogêneo. Aí, eu falei: “Isso aqui não tem jeito Se não mudar...” Essa foi a manifestação que eu mais senti, que eu presenciei, e foi a mais violenta dessa época da minha juventude.
INGRESSO NA PETROBRAS
Eu entrei na Petrobras já no fim de 1969. Eu prestei concurso. Na época, essa refinaria em que eu trabalhava não pertencia a Petrobras, ela era do grupo União, daqui do Rio de Janeiro, do Roberto Soares Sampaio Fontana, que faleceu há pouco tempo, daqui de Petrópolis. Eu trabalhei nela, acho que até 1975, e aí a Petrobras incorporou essa Refinaria.
REFINARIA E EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO UNIÃO
Era Refinaria e Exploração de Petróleo União, que tinha exploração na Bolívia. Com aquela incorporação... Nós já estávamos fazendo algum movimento lá desde 1973, 1974, fazendo algum movimento para que a Petrobras incorporasse essas Refinarias, que foi o caso da Refinaria de Capuava e da Refinaria de Manaus que, se não me engano, as duas foram incorporadas num ato só na época do General Geisel. O nosso Sindicato na época tinha sido empastelado também. Estávamos sem Sindicato dos Químicos.
MOVIMENTO SINDICAL – DÉC. 70
Cada Sindicato representa uma categoria ou um ramo de atividade. Então, se você trabalhava numa indústria automobilística, você pertencia ao Sindicato dos Metalúrgicos daquela região. Aí, você ia trabalhar numa indústria química, automaticamente estava desfiliado daquele Sindicato, você se desfiliava e se filiava no outro. Como o Sindicato dos Petroleiros de Capuava foi destituído por força do Ministério do Trabalho, então, nós ficamos sem Sindicato. Nossas lideranças foram todas demitidas e ficamos sem Sindicato. Como, por lei, você tem que pertencer a algum sindicato, nós fomos filiados ao Sindicato dos Químicos de Santo André. Quando começaram a falar que a Petrobras precisava incorporar a refinaria, foi feita uma greve. Nós já estávamos nos mexendo e, logo em seguida, formamos em Capuava uma associação – na época, por lei, você não podia fundar já um sindicato; tinha que fundar uma associação de funcionários daquela atividade, para depois de seis meses, um ano se tornar sindicato. Passou mais de um ano e a gente não conseguiu formar o sindicato em Capuava. Foi na época que estava construindo o Pólo Petroquímico. A refinaria foi encampada em 1974 ou 1975, e fizemos a associação antes. Quando a Petrobras encampou, nós já tínhamos a associação formada já e o Sindicato, se não me engano, foi formado em 1977, mas eu já tinha saído de lá.
INCORPORAÇÃO DA REFINARIA UNIÃO
Os funcionários foram incorporados aos quadros da Petrobras. Inclusive, teve um problema, porque a gente ganhava mais do que os funcionários da Petrobras. O grupo União pagava melhor, então o nosso salário era mais alto. Mas a Petrobras teve que enquadrar gente lá. Nosso salário não caiu, eles precisaram enquadrar, dar uma letra a mais para cada um, para os outros funcionários. Foi, mais ou menos, isso. Na Refinaria trabalhava como guarda, na parte de segurança. Nessa incorporação da Petrobras, me mantive no mesmo cargo, é. Fiquei no mesmo cargo. Em 1976, no dia dez ou onze de junho, eu fui transferido de Capuava para Campinas, para Paulínia, Replan. A Refinaria União virou Recap, Refinaria de Capuava, lá em Mauá. O início foi muito bom, a gente gostava muito de trabalhar lá, na época. Nas folgas, tinha umas atividades físicas, que eu gostava muito, então foi muito bom. Nós tínhamos até um timinho de futebol entre o pessoal da segurança, tinha atividade física, fazia campeonato interno, eu gostava muito de trabalhar lá em Capuava. As atividades eram futebol e atletismo, que eu gostava muito. Essa atividade muito salutar.
TRANSFERÊNCIA PARA A REPLAN
A gente continuou com aquelas atividades, mas, logo em seguida, eu fui transferido para a Replan, Refinaria do Planalto em Paulínia. Embora a Petrobras seja uma só no Brasil inteiro, de uma unidade para outra tem uma certa diferença, tem o cunho pessoal dos dirigentes. Então, ali mudou um pouquinho. Por exemplo, não tinha mais atividade física, tinha um pouco de esporte, mas não tinha atividade física mesmo. Na outra refinaria a gente tinha. Tinha academia, fazia musculação enfim, uma série de atividades, salto em altura... Na Replan, já não tinha isso. Tinha um futebol lá, um campeonato de tiro e mais nada. Mas, logo em seguida, a gente já partiu para a militância no Sindicato e não sobrava mais tempo também.
SINDICATO DOS PETROLEIROS
Me filiei no sindicato dos Petroleiros de Campinas e Paulínia, que estava recém fundado. Ele foi fundado em 1976. Eu não me lembro a data, mas quando eu cheguei lá, ele já existia. Eu cheguei em junho de 1976 e ele já existia quando eu cheguei.
UNIÃO - CAPUVAVA X REPLAN
O trabalho de uma Refinaria para outra tem uma certa diferença. Na Replan, para trabalhar até era melhor, tinha mais conforto. Em Capuava, tinha menos conforto no trabalho. Por ser uma região mais insalubre por causa do Pólo Petroquímico, da indústria de adubo nas proximidades, e por ser um local também bastante frio – Capuava é muito frio, São Paulo inteiro é frio – o trabalho era mais sacrificado. Na Replan, tinha mais conforto e era menos frio. O local de trabalho era mais confortável e mais organizado. Era uma Refinaria nova, recém-construída, com equipamentos melhores, então isso trazia mais conforto para a gente. Capuava tinha bastante ocorrência porque é uma unidade até hoje que fica no meio da cidade, têm bairros em volta. Havia muitos problemas de invasão de pessoas que moravam nas proximidades. Como era uma das Refinarias mais antigas aqui do Brasil, também tinha muito problema de pequenos incêndios, vazamentos, então o trabalho era mais difícil. Na Replan, uma refinaria nova, moderna para época – até hoje ainda é – quase não tinha problema sério de incêndio, vazamento. Era numa escala bem menor.
REPLAN
A Replan é uma refinaria que fica distante da cidade, não tão distante, fica mais ou menos a uns quatro quilômetros da cidade de Paulínia. Em volta, eram fazendas. Então, era uma população muito pequena que residia nas proximidades, não tinha esse problema de invasão. E tinha o sistema de segurança interna patrimonial como o de segurança industrial, que a gente fazia parte dos dois setores e era muito bem treinado. Você entrava no serviço, já sabia o que ia fazer, já era escalado, o que acontecesse na Unidade você antecipadamente já sabia qual atitude tomar em caso de emergência. Em caso normal não, era controle de entrada de material, saída de material, entrada de funcionários, saída de funcionários, fazer segurança de equipamentos, de captação de água, tratamento de resíduo, de esgoto, essas coisas. Tudo isso, a gente que dava a segurança, que vigiava aquilo. Era muito bem planejado então não era difícil de trabalhar, era até confortável.
RECAP - CAPUVA
Para mim, eu posso dizer que não foi boa a mudança. Na época em que Refinaria de Capuava passou para a Petrobras, eu era responsável por um turno da segurança interna e quando a Petrobras assumiu a Refinaria, aquele cargo não existia nos seus quadros. Então, eu fiquei com o salário maior, mas fiquei sem o cargo. Não abaixou o salário, mas abaixou a minha função. Eu também não ligava muito para isso. Eu era responsável, mas fazia o trabalho que os outros faziam, era a mesma coisa. Isso aconteceu, mas não causou grande problema para mim.
BALÕES EM CAPUAVA
Em Capuava, nós tínhamos um problema muito sério. Como é uma unidade que fica no meio da cidade, a gente tinha um problema muito sério de balões na época de festa junina. Para você ter uma idéia, no jogo da Copa do Mundo de 1970, no México, durante a partida que o Brasil disputou com a Itália, era o último jogo, nós pegamos 84 balões dentro da Unidade. Era um perigo constante nessa época. Aqui, na Replan, já não tem esse problema. Já tinha o pessoal responsável por ficar olhando para o céu, para ver de onde vinha o balão. E, quando vinha, você já tinha que correr lá, com extintor na mão para, assim que o balão caísse, apagar porque era muito perigoso. Na Replan, não tinha esse problema. Raramente caía algum balão na Replan, era muito difícil acontecer. Existia um trabalho de conscientização da população, mas era um trabalho muito pequeno, era muito acanhado. E é um trabalho difícil, porque ainda hoje existe esse problema. Em Capuava existe esse problema e não se consegue controlar. Ele vai continuar, não vai ter jeito não. Nós trabalhávamos, na época, nós fazíamos uma escala de turno meio complicada, sabe? A gente fazia seis dias de noite, seis dias de tarde e seis dias de manhã, com dois dias de folga. Mas, nessa época de festa junina, de maio até julho, esses três meses, éramos convocado para ficar lá mais tempo no serviço. Muitas vezes, eu trabalhei 18 horas, ficava de seis da manhã até meia noite no serviço. E até mais. Ás vezes passava ia até de madrugada.
MILITÂNCIA NO SINDICATO
Foi até gozado. Quando eu fui transferido de Capuava para Paulínia, tiveram dois companheiros meus que vieram junto comigo – o Sebastião Pereira Grilo e o Waldemar da Silva. Esse Sebastião Pereira Grilo tinha uma consciência política muito boa. Eu o conheci por intermédio do irmão dele. Quando nós chegamos na Replan – chegamos nós três – logo em seguida, teve uma eleição para Sindicato. O Sebastião Pereira Grilo fez parte do Sindicato, ele tirou aquele mandato e quando ele saiu, eu entrei. Fiz campanha para a Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) também. Fizemos campanha para ele, tiveram duas chapas, mas a nossa foi vencedora. Então, ele tirou aquele mandato. Ele entrou como diretor do Sindicato de Campinas e Paulínia, na seguinte, entrei eu. Ele saiu, eu entrei. Isso foi em 1982.
SINDICATO DE CAMPINAS E PAULÍNEA
Nós éramos uma diretoria colegiada já. O nosso Sindicato estava bastante avançado nessa parte. Era uma diretoria colegiada, composta por 18 diretores. Tinha aqueles diretores liberados do trabalho e aqueles diretores que continuavam trabalhando da mesma forma, que era o meu caso. Eu não me afastei do trabalho, continuei trabalhando a mesma coisa. Aí, fiquei um ano e pouquinho e, logo em seguida, fui cassado. Isso aconteceu no dia quatro ou cinco de julho de 1983.
CASSAÇÃO DO MANDATO
Foi numa época da campanha salarial, de acordo coletivo. A gente fazia umas campanhas bastante fortes para a época. Chegamos a pernoitar dentro da fábrica, dentro da Unidade, ficamos 24 horas lá dentro. A maioria dos funcionários aderiu. Foi um avanço muito grande, conseguimos alguns benefícios. Por exemplo, eu lembro bem foi em 1979, a gente conseguiu 40 horas semanais para os funcionários que a gente chama de administrativo, que trabalham no horário administrativo. E conseguimos algumas melhorias para o pessoal de turno. Problema de condução, problema de uniforme, tudo isso a gente conseguia. A assistência médica melhorou também na época. A direção da Refinaria era muito hostil com os dirigentes sindicais; às vezes proibia a entrada dos dirigentes. Quando tinha algum movimento, a primeira coisa que eles faziam era proibir a entrada dos diretores do Sindicato, mesmo aqueles que estivessem trabalhando normalmente eles proibiam ou então colocavam a pessoa num local, e ele não podia sair para fazer o trabalho dele. Todas essas restrições que existiam. Eles não deixavam você entrar com os jornaiszinhos, com os boletins. A gente entregava quando o pessoal estava entrando na portaria, logo em seguida, o segurança recolhia. Foi antes do dissídio coletivo, do acordo coletivo. Houve uma determinação – do então presidente general Figueiredo – para que as estatais cortassem dez por cento dos funcionários. Então, nós soubemos daquilo e fizemos o nosso movimento. Acabamos fazendo a greve. Fazia mais de 20 anos que não tinha uma greve numa estatal de petróleo – acho que nem em outras estatais tinha tido isso aí sob a ditadura, não lembro não. Aí, nós fizemos uma greve de cinco ou seis dias. Foi quando houve a cassação da diretoria toda e de mais 128 funcionários lá da Replan e da Bahia. O pessoal da Bahia também entrou em greve um dia depois de nós. Foram demitidos uns duzentos e poucos funcionários de Mataripe também. Fui afastado para apuração de falta grave e até hoje não julgaram. Foi feito um acordo, depois de dois anos e pouco. Quando fomos cassados, oficialmente, tinha o presidente, o tesoureiro e o secretário geral. O presidente era uma pessoa que estava numa posição política bastante... Vamos dizer assim, estava no seu apogeu político, tanto na parte sindical quanto na partidária. Era o Jacob Bittar, que depois foi prefeito de Campinas. Nós continuamos militando, mesmo fora. Não tinha mais mandato, mas a gente continuava, embora nós estivéssemos sem salário também. Cortaram o salário de todo mundo, dos que foram demitidos e dos que foram cassados, mas nós continuamos militando. Logo em seguida, houve intervenção no Sindicato.
INTERVENÇÃO NO SINDICATO
Quando havia um decreto de cassação, já ia um funcionário do Ministério do Trabalho e tomava conta do Sindicato. Ele ia com a Polícia Federal, com um aparato de segurança para assumir o Sindicato. Eu lembro bem que eu estava em casa e recebi um aviso da Petrobras para que eu ficasse em casa. Aí, eu: “Vou ficar em casa? Vou ficar fazendo o quê?” E fui para o Sindicato. Quando chegou a intervenção com a Polícia Federal, estavam dentro da sede do Sindicato, mais ou menos, 700 pessoas. Houve a intervenção com a Polícia Federal, o inspetor do Ministério do Trabalho assumiu o Sindicato, mas tinha companheiro que não queria sair. E se nós não deixássemos, podia até sair morte. A liderança pediu que a gente fosse embora em paz porque não queria violência. Estavam presentes: o José Genuíno, que já era deputado Federal, o Marcelo Gato, que era Deputado Estadual e o Luís Eduardo Greenhalgh, que era o nosso advogado. Eles pediram que, nós dirigentes, saíssemos antes da maioria do pessoal. Nós estávamos com medo de sermos presos naquele dia. Fizemos, então, uma reunião com o Genuíno e o Luís Eduardo, num restaurante um pouco distante do Sindicato, e recebemos a orientação para não dormir em casa, para dormir na casa de algum parente, de algum conhecido, porque poderíamos ser presos. Eu fiquei, mais ou menos, uns três dias dormindo na casa de amigos, um dia na casa de um, outro dia na casa de outro. Até que a situação se acalmou e ninguém foi preso. E a gente continuou: “Agora, o quê nós vamos fazer?” Aí, se reunia aquela diretoria cassada com alguns companheiros da base que militavam, mas que não tinham sido demitidos, para a gente se reerguer. Fundamos uma associação beneficente para ajudar os companheiros que estavam em pior situação. Alguns companheiros conseguiram trabalhar logo em seguida em outras atividades. Os que não conseguiram – tinha uma cooperativa de trabalho – pegavam um servicinho, um bico assim, mas conseguiram sobreviver. Eu fiquei nessa cooperativa uns três meses. Depois, eu saí. Comprei um restaurante em Pouso Alegre e fiquei ali quase um ano. Não recebi nada. Comprei com minhas economias. Eu tinha casa, tinha terreno lá na cidade onde eu moro hoje, vendi e fui embora. Fui para Pouso Alegre; eu e mais seis pessoas – quatro cassados e dois que foram demitidos, mas não cassados – fomos para lá. Mas, logo em seguida, veio o movimento das “Diretas já”.
DIRETAS JÁ
Aí, a gente acabou fazendo as “Diretas Já”. Eu abandonei o restaurante e me incorporei ao movimento das “Diretas Já”. Comecei a fazer comício das “Diretas” no sul de Minas e no Vale do Paraíba. Nessa época, eu já era presidente do Partido dos Trabalhadores em Cosmópolis. Eu tinha fundado o partido em Cosmópolis, onde morava. Lá, o partido foi fundado em 1981, antes da minha cassação, que foi em 1983. Eu fui o primeiro presidente do partido. Quando fui cassado, eu ainda tinha um mandato de presidente e logo fui para Minas, terminado o mandato fui para Minas. Depois, fiquei em Minas, fiz aquela campanha das “Diretas Já”. Depois voltei para Campinas. Lá, nós também fundamos um centro de formação e estudos sindicais. Uma boa parte que trabalhava era do pessoal cassado.
CENTRO DE FORMAÇÃO E ESTUDOS SINDICAIS
Nós editávamos livros, esses livrinhos populares, dávamos assessoria para os sindicatos das cidades em volta. Eu, inclusive, fazia muito sindicato rural na época. Eu fiquei lá até que houve a eleição indireta do Tancredo Neves. Mas, como o Jacob tinha um nome político, era vice-presidente nacional do PT – o presidente era o Lula – fizeram uma comissão e foram conversar com o Tancredo, com o Sarney e houve a promessa de que íamos retornar para a Petrobras.
RETORNO AO TRABALHO
Não conseguimos a reintegração, mas conseguimos a readmissão. O Tancredo morreu, mas o Sarney conseguiu fazer com que nós voltássemos. Aí, aconteceu uma coisa que eu não sei se a Petrobras acertou ou errou nessa parte, porque ela espalhou o nosso pessoal. Para a Replan, poucos voltaram. Eu, por exemplo, fiquei trabalhando em São Paulo, fora da minha função. Aliás, na época, eu quase nem ia trabalhar. Fui lotado no Espau de São Paulo, mas quase nem trabalhei. Espau era o escritório paulista, na época. Eu fiquei lá trabalhando, mas fora da minha função. Eu fui trabalhar no setor de Recursos Humanos. Estava fora da função, aí o superintendente achou melhor que eu ficasse em casa até que alguma unidade me acolhesse. Eu retornei para a Petrobras em outubro de 1985, em São Paulo. Depois, em fevereiro de 1986, eu fui re-alocado em São Sebastião, no terminal que hoje é Transpetro, no litoral norte de São Paulo. Lá, voltei a minha função.
RETOMADA DO MOVIMENTO SINDICAL
Logo em seguida, quando cheguei lá, teve uma eleição para o Sindicato. Como a nossa anistia política já tinha saído, a política sindical tinha saído, porque a fomos cassados na parte referente à política sindical e não na parte de política partidária. Então, logo que cheguei lá - se não me engano foi depois de seis ou oito meses – teve uma eleição e eu me candidatei; eu e um pessoal. Por isso é que eu digo: não sei se a Petrobras acertou. Para nós foi ruim, porque você tinha que se deslocar, tinha a vida numa cidade e tinha que ir para outra, então foi ruim. Agora, na parte política sindical, foi boa, porque ela pegou alguns e mandou para São Sebastião, outros companheiros, mandou para Santos, para São José dos Campos, para Macaé – foi muita gente para Macaé na época – e outros ainda para o Paraná. O que aconteceu? Essas lideranças não pararam de atuar. E nós começamos a atuar nessas unidades onde tinha um sindicalismo que nós chamávamos de perigo, na época. O pessoal começou a concorrer ao sindicato. Logo que eu cheguei lá eu concorri ao sindicato.
TEBAR / TERMINAL ALMIRANE BARROSO / SÃO SEBASTIÃO
Aquela base – Santos, Cubatão e São Sebastião – hoje, é o Sindicato do Litoral Norte. Como eu estava dizendo, teve a eleição e na subseção de São Sebastião, eu perdi a eleição por 17 votos. Ele estava lá há 16 anos (o vencedor). Aí, perdi a eleição por 17 votos, ainda concorri com o dentista do terminal e ele era uma cara que estava lá há muitos anos. Então você vê como foi difícil para vencer. Não consegui vencer, mas mesmo assim eu perdi por 17 votos. Nessa chapa, em São Sebastião, concorreram comigo mais dois ou três companheiros – acho que era a Roseli, a Lúcia (Pereira Machado da Silva) e Ricardo – e em Santos concorreu o Ercílio e mais outros colegas – tudo oriundo de Campinas. Era o Sindicato dos Petroleiros de Santos, Cubatão e São Sebastião. Aí, perdemos a eleição, mas continuamos na militância, na mesma coisa. Todo movimento que tinha lá, a gente é que dirigia tudo, porque o outro não gostava muito de movimento. Na eleição seguinte, concorri novamente e ganhei. Na época, foi uma vitória tão grande, nós ganhamos com 84 por cento dos votos. A eleição era para a diretoria. Ganhamos em Santos, em Cubatão e em São Sebastião, que formam uma base só, um sindicato só. Não adianta ganhar em São Sebastião e, na soma dos votos, perder, tem que ganhar nos três setores, nas três bases.
SINDICATO DO LITORAL NORTE
Naquela época, o nosso plano de trabalho era mobilizar a base, conscientizar a base da importância de participar das assembléias, das reuniões. Abrimos o Sindicato para a base se entrosar com a gente. E a gente conseguiu, vamos dizer, convencer o pessoal que nosso o plano de trabalho era bom. Uma unidade como aquela, o terminal chama-se Almirante Barroso – Tebar – estava lá desde 1968 e nunca tinha feito um movimento; nem de um minuto de silêncio. Depois, a gente conseguiu mobilizar a base, que foi participando paulatinamente de todos os movimentos que tinham nas outras unidades até que chegamos a parar a unidade muitas vezes no primeiro mandato.
INTEGRAÇÃO DOS TRABALHOS
Hoje, embora cada Unidade tenha a sua autonomia para trabalhar, tem um plano para unificar os trabalhos: o que uma Unidade faz, a outra Unidade deve fazer também. O movimento é em nível nacional. Hoje é unificado, é um Sindicato dos Petroleiros do Estado de São Paulo que abrange até Goiás. O Sindicato do Litoral Norte e de São José dos Campos não fazem parte do Sindicato do Estado de São Paulo. A primeira coisa que foi unificada foi o departamento de imprensa. Foi unificado em todo o Estado de São Paulo. Participei desse processo.
INÍCIO DO PROCESSO DE UNIFICAÇÃO
Algumas direções do Sindicato não combinavam com os nossos pensamentos, mas paulatinamente fomos derrubando, ganhando o Sindicato desse pessoal. Foi o caso de Santos e de São Sebastião. Os caras estavam lá há 16, 18 anos e nós conseguimos tira-los de lá e botar uma direção nova. Era um sindicato mais assistencialista, não era um sindicato de luta, então nós mudamos a filosofia de trabalho. E, para mudar, você tem que fazer seminário, palestra e tudo isso, tem que ter um departamento de imprensa bastante atuante, com jornais, com boletins. Era o nosso meio de comunicação. Porque a gente não tem - até hoje não tem, imagina naquela época – acesso à televisão, a rádio e a essa imprensa oficial aí – que é privada, mas a gente sabe que não é tão aberta para o público que luta pela democracia e pela melhoria de direitos e condições de trabalho do trabalhador. Então, a gente tem que fazer a nossa própria imprensa. Primeiro, a imprensa foi unificada. E, até hoje, está unificada, mesmo nos outros dois sindicatos de São Paulo que não estão juntos num só, mas a parte de imprensa está. O plano de trabalho para a imprensa era um só para todo o Estado. Depois, nós unificamos o departamento de saúde do trabalhador, nós conseguimos unificar, para falar uma língua só em todos os sindicatos. Enfim, foram se unificando os departamentos, trabalhando em conjunto até que se unificou o Sindicato de São Paulo, de Capuava, de Campinas. Ficou fora só São José dos Campos e o Litoral Norte. Hoje, é unificado, então existe uma diretoria colegiada, que já era pensamento nosso até antes da nossa cassação. Naquela diretoria que foi cassada, já tinha a idéia dessa unificação. E só conseguimos fazer isso porque começamos a tirar aquelas direções que não pautavam muito para mobilizar a categoria. Tanto é que, na greve de 1983, o único sindicato que parou, que fez o movimento, foi o sindicato de Campinas e de Paulínia. O de Cubatão não entrou e o de São José dos Campos também não entrou. Outro sindicato, outra base que entrou foi o pessoal de Mataripe, que tinha uma direção identificada com o nosso pensamento.
ELEIÇÕES NO LITORAL NORTE
Eu fiquei trabalhando no terminal... Eu tirei esse primeiro mandato que foi de 1991 a 1994. Na outra eleição, nós perdemos novamente. Na minha base, eu não perdi. Na minha base eu ganhei com 79 por cento de votos. Acho que foi isso, eu não lembro muito bem. Eu sei que, lá na base minha, foi uma vitória grande. Mas perdemos nas outras duas. Perdemos por uma diferença também pequena. A nossa base lá tinha mais ou menos uns quarto mil e oitocentos trabalhadores e nós perdemos por uns duzentos e poucos votos. Foi uma vitória bastante apertada, mas perdemos. Aconteceu que, na base em que eu estava, não teve candidato na chapa. Então, precisava trazer alguém de fora para lá. E, por ironia do destino, foi um companheiro que havia sido cassado junto comigo em Campinas. Ele foi para lá, mas ele não tinha liderança no Terminal. Todos os movimentos que tinham, quem acabava dirigindo era o pessoal que fazia parte do meu grupo, que era composto pela diretoria anterior. Então, fizemos movimento em 1995, 1996 – fora do sindicato, eu ainda fiz.
GREVE DE 1995
Nós ficamos parados 22 dias; 22 dias lá Eu não fazia parte da direção, mas quem dirigia o movimento era o nosso pessoal da antiga diretoria. Olha, no nosso caso, foi um avanço muito grande, no sentido da mobilização. Foi uma mobilização muito grande mesmo. Parou mesmo, sem nenhum tipo de violência, não teve violência nem do lado da Petrobras como do nosso lado não teve violência, não teve nenhuma intervenção policial, não teve nada. Conseguimos ficar parados 22 dias, até que houve uma orientação da
FUP - Federação Única dos Petroleiros. Depois é que foi formada a FUP, que não existia. Mas em 1995, já existia. Houve a orientação para retornar ao trabalho, acabamos retornando, mas não houve nenhuma repressão de nenhuma das partes.
PROCESSO DE UNIFICAÇÃO
Aí, eu já estava sem mandato, me aposentei em 1993. Mas continuei no Sindicato até o fim do meu mandato. Aí, terminou o meu mandato, eu me afastei. Sai do Estado. Fiquei um ano e pouco fora e voltei. Foi quando eu peguei a greve de 1995 e 1996. Aí, houve uma nova eleição e nós ganhamos o Sindicato novamente. Quase que o mesmo grupo do Sindicato anterior. Foi de 1997 a 2000. A primeira direção foi de 1991 a 1994 e a outra foi de 1997 a 2000. Não estava unificado ainda, mas a imprensa e o departamento de saúde já estavam unificados. A unificação só se deu agora, a questão de dois anos. Mas já havia nos Sindicatos dos Petroleiros, em nível de Estado de São Paulo, abrangendo todos os sindicatos, um entrosamento muito grande entre as diretorias. Quando nós perdemos as eleições, houve uma quebra. A direção que entrou no nosso lugar era uma direção oriunda daquela antiga pelegagem, então quebrou um pouco. Mas, logo em seguida, nós ganhamos, e existia um pensamento bastante comum entre a direção de todos os sindicatos. Aí é que houve o trabalho para a fundação do Sindicato Único do Estado de São Paulo. Foi muito importante [o trabalho com a imprensa]. Foi de uma importância muito grande porque acontecia - uma coisa que nós preocupa muito – um acidente numa Unidade, e a outra Unidade acabava não ficando sabendo, porque o boletim dessa Unidade não ia para a outra. Às vezes, a gente queria mobilizar para alguma coisa e mobiliza uma base e a outra não se mobilizava. Então, unificamos e agora sai um jornalzinho semanal do Sindicato de todo o Estado de São Paulo com as notícias de todas as unidades. O pessoal de uma base acaba tomando conhecimento do que está acontecendo na outra base, por exemplo, se aconteceu um acidente, se aconteceu algum tipo de perseguição em cima de algum companheiro. Então, foi de uma importância muito grande.
COMUNICAÇÃO ENTRE SINDICATOS
Antes de existir a FUP, existia um departamento, porque, juridicamente, não se aceitava ter uma central sindical. Na época em que foi fundada a CUT, eu estava cassado, mas ainda estive presente na fundação da CUT, em São Bernardo, no dia 21 de agosto de 1984, se não me engano, 1983 ou 1984. Foi em 1983. Mas o nosso departamento não tinha autonomia para funcionar, houve a abertura e começamos a fazer, todo ano, um congresso do Sindicato dos Petroleiros do Brasil inteiro. Tinha alguns sindicatos de alguns estados que não participavam porque eram os famosos pelegos mesmo; vamos dizer claramente, eram os famosos pelegos. Eu não vou citar os nomes dos pelegos porque não tem importância, mas têm muitos que estão aí, que a gente conhece, estão em outras funções. Mas é outra coisa. Era difícil a convivência, não rezavam pela mesma cartilha. Então, havia essa dificuldade. CONGRESSOS Quando começou, paulatinamente, a entrar a nova direção mais identificada, com um sindicato mais forte, mais de luta, começou a haver os congressos nacionais. Foi feito um no Estado de São Paulo, um no Rio de Janeiro, na Bahia, enfim, todo o ano tinha um nacional. E, antes do nacional, a gente se reunia no estadual. Então, já vinham todos aqueles delegados sabendo o que fazer, trocando idéias e experiências nos congressos. E, durante o ano, a gente mantinha contato com outros sindicatos. Passamos a nos comunicar e a trocar informações. O Sindicato da Bahia mandava o jornal deles para nós, nós distribuíamos na base; e nós mandávamos para eles, mandávamos para o Paraná, para o Rio Grande do Sul. Começamos a nos entrosar. Até que chegou nesse ponto da unificação no Estado de São Paulo e na unificação na Bahia também. Na Bahia tinha dois sindicatos: o sindicato do pessoal que trabalhava na parte de exploração e do pessoal que trabalhava no refino.
FUP - FEDERAÇÃO ÚNICA DOS PETROLEIROS
O papel da FUP foi muito importante, deu uma força muito grande em todo o Brasil. Eu não sei, mas eu acredito que ela teve uma função primordial. Não quero ser muito... Mas eu acho que ela teve um papel muito importante até na sociedade brasileira. A FUP dá o direcionamento para todos os sindicatos filiados a ela, a todos os sindicatos dos petroleiros, do Brasil inteiro. Não tem nenhum que não seja filiado a FUP. Ela dá orientação, dá curso, faz seminários sobre economia, sobre doenças no trabalho. Isso foi importante para nós, deu uma força muito grande, inclusive para a gente negociar com os dirigentes da Petrobras, deu uma força muito grande.
TRABALHO NA PREFEITURA DE COSMÓPOLIS
Atualmente, eu trabalho na Prefeitura de Cosmópolis. Eu sou Secretário de Segurança Pública e Trânsito. Estou lá, já vai fazer quatro anos. Provavelmente, eu vou continuar mais um pouco porque nós ganhamos a eleição pela quarta vez, pelo PT. Agora é um trabalho muito difícil, me toma muito tempo. E, mesmo porque, é um setor de segurança pública, que é uma coisa nova ainda nos municípios. Poucas pessoas conhecem o trabalho de segurança em nível municipal. Quando em falam em segurança pública, já estão pensando em nível de Estado. Mas em boa parte dos municípios ao redor de Campinas – na região metropolitana de Campinas tem 19 cidades – e nas outras regiões periféricas que têm lá, a segurança pública dos municípios está sendo feita pela Guarda Municipal. Então me toma muito tempo. Ultimamente, eu não tenho tido muito tempo para lazer.
CASAMENTO
Eu estou casado a um ano. Há um ano e três meses que eu estou casado novamente. Mas, nesse ínterim, eu estava sozinho e trabalhando. Então, não me sobrava tempo para o lazer.
FILHOS
Tenho quatro: Quênia Ângela de Souza, Queila Ângela de Souza, Pedro Vinícius Pereira da Silva e esse mais novinho de seis meses que é o Inácio da Silva e Souza.
MENSAGEM AOS PETROLEIROS
Eu gostaria de deixar uma mensagem para os companheiros petroleiros, porque eu acredito que eles vão ver e que isso vai ser difundido. Eu gostaria de deixar uma mensagem para os companheiros, aos velhos companheiros de luta, aos que estão em atividade hoje e aos próximos que vierem: não deixem a Petrobras virar uma empresa qualquer. Continuem trabalhando para a Petrobras crescer e se tornar maior do que ela já é. Embora ela seja muito combatida por alguns interesses escusos, os funcionários que lá trabalham têm – vamos falar popularmente – que segurar a peteca e não deixar cair.
PROJETO MEMÓRIA PETROBRAS
Eu acho que foi muito bom, tanto pela iniciativa da direção da Petrobras, como da direção da FUP e do Sindicato. É uma coisa que falta muito, nós não temos isso aí. É muito pouco. O trabalhador trabalha e, entra um e sai outro, ninguém sabe o que aconteceu, quem fez e quem deixou de fazer. Então, isso é importante para nós. Eu achei muito bom ter participado. E sempre que me convidarem estarei à disposição – o pessoal do Sindicato sabe disso. Espero que isso aí seja bastante produtivo. E eu acho que vai ser sim.
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