Meu nome é José Geraldo Saraiva Pinto. Eu nasci em Belém do Pará em 10 de dezembro de 1961.
FAMÍLIA
O nome do meu pai é Victor de Souza Pinto, e o de minha mãe, Maria Silésia Saraiva Pinto. A minha avó materna se chamava Teodora Cunha Saraiva. O meu avô materno se chamava Francisco Saraiva. Os nomes dos meus avós paternos são Coriolano Rui Pinto e Cacilda de Souza Pinto. A minha origem paterna ela é descendente de índios lá da Amazônia, do Pará. Mesmo meu pai tendo nascido em Caxias do Sul, mas foi porque meu avô migrou durante algum tempo para lá. E a minha mãe é descendente de português. Quanto à atividade deles, o meu pai é bancário aposentado hoje. A minha mãe foi comerciária durante um tempo, depois ficou só cuidando de casa também. Já o meu avô materno era comerciante, dono de salinas no Maranhão. Ele tinha umas propriedades lá. E o meu avô paterno era militar. Minha família é grande. Eu sou o terceiro de uma família de sete. Nós somos sete. Eu sou um dos sete irmãos.
EVENTOS HISTÓRICOS
A minha infância foi assim: eu nasci em Belém. Meu pai era envolvido com o movimento sindical. Foi vice-presidente do Sindicato dos Bancários e cassado na época de 64. E assim, um fato meio que marcante, porque depois eu vi fotos, é que quando meu pai foi preso eu estava com ele. Que ele ia me levar no dentista. Estava assim um pouco irritado, porque minha mãe dizia que eu reclamava muito. Porque ele foi para a cadeia e levou uma criança, tiveram que levar a criança porque não dizia onde estava, e minha família estava em outro lugar. Então ele foi para a cadeia e eu fui para a delegacia. Fiquei lá junto. Fiquei na delegacia durante um tempo até que a Igreja interveio. Minha mãe era da Ação Católica, e o bispo interveio para tirar o meu pai da cadeia. E como meu pai não foi preso junto com os outros da ditadura, ficou 72 horas, mas conseguiu sair. Mas eu fiquei algumas horas lá, e chiava muito. Sempre fui...
Continuar leituraMeu nome é José Geraldo Saraiva Pinto. Eu nasci em Belém do Pará em 10 de dezembro de 1961.
FAMÍLIA
O nome do meu pai é Victor de Souza Pinto, e o de minha mãe, Maria Silésia Saraiva Pinto. A minha avó materna se chamava Teodora Cunha Saraiva. O meu avô materno se chamava Francisco Saraiva. Os nomes dos meus avós paternos são Coriolano Rui Pinto e Cacilda de Souza Pinto. A minha origem paterna ela é descendente de índios lá da Amazônia, do Pará. Mesmo meu pai tendo nascido em Caxias do Sul, mas foi porque meu avô migrou durante algum tempo para lá. E a minha mãe é descendente de português. Quanto à atividade deles, o meu pai é bancário aposentado hoje. A minha mãe foi comerciária durante um tempo, depois ficou só cuidando de casa também. Já o meu avô materno era comerciante, dono de salinas no Maranhão. Ele tinha umas propriedades lá. E o meu avô paterno era militar. Minha família é grande. Eu sou o terceiro de uma família de sete. Nós somos sete. Eu sou um dos sete irmãos.
EVENTOS HISTÓRICOS
A minha infância foi assim: eu nasci em Belém. Meu pai era envolvido com o movimento sindical. Foi vice-presidente do Sindicato dos Bancários e cassado na época de 64. E assim, um fato meio que marcante, porque depois eu vi fotos, é que quando meu pai foi preso eu estava com ele. Que ele ia me levar no dentista. Estava assim um pouco irritado, porque minha mãe dizia que eu reclamava muito. Porque ele foi para a cadeia e levou uma criança, tiveram que levar a criança porque não dizia onde estava, e minha família estava em outro lugar. Então ele foi para a cadeia e eu fui para a delegacia. Fiquei lá junto. Fiquei na delegacia durante um tempo até que a Igreja interveio. Minha mãe era da Ação Católica, e o bispo interveio para tirar o meu pai da cadeia. E como meu pai não foi preso junto com os outros da ditadura, ficou 72 horas, mas conseguiu sair. Mas eu fiquei algumas horas lá, e chiava muito. Sempre fui muito de reclamar.
MIGRAÇÃO
Meu pai foi punido e nós fomos para o interior do Pará, para Castanhal, onde eu passei uma parte da minha infância, até o ano de 70.
FAMÍLIA
Meu pai recebeu uma punição. Naquela época ele era chefe de Departamento de Pessoal. E era vice-presidente do sindicato. Porque ele apoiou o Jango e tal. E era muito ligado ao governo do Jango Goulart. A punição que ele recebia era que os bancários tinham uma coisa chamada... Era uma comissão; acho que dobrava ou triplicava o salário. E ele ficou com um salário cru. E aí, além dessa punição salarial, ele foi trabalhar em um interior mesmo. Uns cem quilômetros de Belém e com comunidades lá do interior mesmo. Era punição, isso para não ser preso. Quer dizer, na verdade era uma punição, mas diante das outras punições era a menor que se tinha. Acho que foi uma negociação que a Igreja fez para poder preservá-lo. E nós ficamos lá então de 64 até 70. Em 70 nós voltamos para Belém. Meu pai tinha uma especialidade muito grande em crédito rural e trabalhava no Banco da Amazônia. E aí estava, eu me lembro, com alguns problemas, porque já quando ele veio eu fui. Ele alugou uma casa pequena que fomos morar eu e o meu irmão, e minha mãe ficou no interior.
EVENTOS HISTÓRICOS
A imagem mais marcante dessa época na minha cabeça foi quando o Brasil ganhou a Copa, que nós fomos para uma passeata. Então isso eu tinha nove anos de idade. Era passeata mesmo. O pessoal saiu para comemorar o título do Brasil com os galhos na mão, todo mundo. E no meio lá o meu pai disse: “Isso aqui, isso vai dar problema. Vai dar problema. Isso vai dar problema.” Mas não deu nenhum problema. Até eu dizia: “Como é que vai dar problema? O Brasil ganhou, está todo mundo aqui?” Mas ele é que tinha muito receio. Era a Copa de 70. A Copa do México.
TRABALHO
Depois, quando nós já estávamos em Belém, tivemos uma vida de dificuldade. Meu pai tinha que trabalhar bastante em horas-extras. Se afastou do movimento sindical e ficou só cuidando da vida. E como ele não tinha gratificação, muito cedo, em 70 ainda, tinha um sítio perto dessa outra cidade em que a gente morava, e a gente ajudava meu pai. Aprendemos a fazer com os japoneses, que eram uma colônia muito grande lá no Pará. Nós aprendemos a abrir frango, matar frango para abater. Então nós criávamos frango, e eu e o meu irmão mais velho aprendemos a técnica de abrir. Eu digo que eu corto um frango melhor que muita mulher que, vamos dizer, aprendi a cortar um frango. Em 30 segundos eu tiro todo o miolo. Você abre o frango e tira todinho o miolo porque você não pode vender, mas em uma velocidade muito grande. Até hoje, porque fizemos muito isso. Nós vendíamos mil frangos por final de semana. Porque havia toda uma técnica, que nós aprendemos com os japoneses. E como os filhos dos japoneses passavam nas granjas e faziam, a gente aprendeu a fazer... Pegávamos o frango vivo e matávamos. Você torce o pescoço do frango, para ele morrer estrangula, mergulha dentro d’água. A água quente está aqui do lado. Depois um tira a pena, e o outro desossa o frango. Abre para tirar as vísceras que você não vende. Aí então nós, de 70 até 75, nós vendíamos frango abatido durante um bom tempo. E esse era assim, eu estudava pela parte da tarde e pela parte da manhã eu ia fazer essa venda do frango. Sempre em uma Kombi.
BELÉM
Havia uma colônia japonesa em Belém. Eles foram para lá para plantar pimenta-do-reino. Pois é, mas os homens plantavam pimenta-do-reino, e as mulheres e as crianças cuidavam muito de granja. Eles tinham muito isso lá perto de Belém. Uns 40, 50 quilômetros.
TRABALHO
Nós compramos uma granja. Meu pai comprou uma granja, e era como nós completávamos o salário para poder ajudar a família muito grande... A partir de know-how de japonês. Nós aprendemos com ele. E aprendemos a trabalhar em uma esteira. Era como uma esteira de produção. Um estrangulava o frango, passava para o outro, que molhava na água quente. Que passava para o outro que tirava a pena, e tinha um lá no final que empacotava. Eu tinha nove anos quando nós começamos, os outros irmãos eram muito pequenos. Papai tinha que contratar ainda algumas pessoas. Depois ficou a família com um estilo bem japonês mesmo de fazer. De todo mundo trabalhar. Dava para segurar. Se você pensar que a gente vendia mil frangos por final de semana, abatidos, era um número muito grande. Na época, depois meu pai fez uma bobagem no negócio. Ele fez a primeira associação dessas em que perde todo mundo, que foi com a Perdigão. Aí foi cada um perdendo. Depois o negócio começou a dar prejuízo, ele acabou vendendo a granja em 76. Mas até 75 era meu trabalho, trabalho infantil. Mas era obrigado todo mundo a fazer porque senão não tinha como completar a renda.
COSTUMES
Agora, tirando esse trabalho infantil, porque nós tínhamos aquela responsabilidade de ajudar, mas também tínhamos muita liberdade. Meu pai, pela própria formação dele e da minha mãe. É, dessa formação cristã nós tínhamos muita liberdade. Por exemplo, eu chegava do colégio e ia jogar bola. Sempre. E no sítio lá onde morava, a gente estudava para passar de ano antes para ir para lá. Sempre eu me lembro de passar Natal e Ano Novo no sítio. Porque se você encerrasse, passasse de ano antes, o prêmio era ir para o sítio para ficar mais tempo de férias.
EDUCAÇÃO
Eu sempre gostei muito de estudar. Eu fiz o primeiro ano primário com 6 anos. Eu já era para ter passado para o segundo. Mamãe dizia, e eu tenho uma mania que a minha filha também tem: de pegar o livro e ler todinho. Eu lia o livro do ano todo e fazia os exercícios todinhos. Tudo de uma vez. Então com 9 anos eu estava fazendo a prova de admissão. E eu passei no vestibular com 16 anos. Em Belém. Vestibular para Geologia. Então na minha infância eu estudei sempre em colégio religiosos. Eu estudei no Colégio São José em Castanhal, era um colégio de freiras. Depois eu estudei no colégio Salesiano de Belém. Então nós tínhamos bolsas dos padres, mas mesmo assim tinha que pagar uma parte. E essa parte que pagava, a gente ajudava trabalhando.
INFÂNCIA
A parte alegre, sem obrigações, era muito ligada a futebol, muito ligada à família. Sempre a gente tinha muita diversão em família: futebol, praia. Meu pai tinha uns passeios doidos assim que a gente fazia, que de vez em quando, quando era época das férias, ele juntava toda aquela filharada em uma Kombi que a gente tinha e saía para ir para os municípios pequenos. Para conhecer uma praia. Para conhecer, que na Amazônia as distâncias são grandes. Por exemplo, a praia a que o pessoal costuma ir, de Belém fica a 180 quilômetros. A praia de água salgada. Mas também tem as praias de água doce. Mas, essas aí todo mundo vai. Mas assim, o grande tchan na época da criançada era sair para Salinas. Que é uma praia que fica a 180 quilômetros. Meu pai fazia pior ainda. Ia para uma outra praia chamada Jurutê, que é a 300 quilômetros. Ele botava os filhos tudinho dentro de uma Kombi. E saía dirigindo para passar um final de semana. E nós íamos. E era uma festa. Então essas são as imagens boas da infância. Aí depois...
ADOLESCÊNCIA
Na adolescência ia aumentar essa responsabilidade de trabalhar. Foi até 75, 76, e depois eu já era só estudar para o vestibular. Era bem assim, o meu pai dizia: “A única coisa que eu posso dar para vocês é o estudo.” E nós, mesmo tendo dificuldades, nós sempre tínhamos uma sala ou na cozinha tinha aquela mesa grande. E ali, fora a hora de almoço, era para estudar. Então era permitido qualquer coisa de jogar, de brincar e tal desde que você tivesse aquela hora certa para estudar.
FAMÍLIA
A obrigação de estudar era com todos os filhos. Nós, todos os sete, concluímos o curso superior. Geologia só eu. Tem um engenheiro, dois engenheiros civis, um engenheiro químico. A minha irmã é formada em História. Eu em Geologia, um advogado e um médico. E além disso, a minha mãe criou uma prima que ela é contabilista. Se formou e foi criada conosco. Meu pai passou no concurso da Petrobras, mas não quis ficar. Porque na época o Banco da Amazônia era mais vantajoso. Ele falou isso para mim um dia desses. Eu não sabia.
MILITÂNCIA ESTUDANTIL
Tem muitas coisas marcantes na época da universidade. Quando eu entrei foi à época da reconstrução da UNE em 79. Então eu já entrei, peguei aquela parte já, a luta da anistia já tinha acabado. Nós éramos muito ligados à Igreja Católica, que participou muito da anistia. Da luta a anistia e tal. E eu cheguei a fazer parte das comissões do Centro de Defesa dos Direitos Humanos. Ainda jovem. Em 79 eu fui para o Congresso da UNE e entrei no movimento estudantil. Esse congresso foi em Salvador. Foi o congresso que se chamou Refundação da UNE. É o congresso que tinha voltado, em que o Rui César foi presidente. Marcou muito em minha vida, em 78, a gente na luta da anistia. Já participava muito em passeatas. Quando foi em 79 eu entrei para o movimento estudantil. Em 80 eu entrei para a diretoria do Centro Acadêmico dos Estudantes de Geologia. E continuava estudando. Meu pai fazia um condicionamento: “Você pode fazer lá, mas desde que você estude para não perder. Para não perder ano, não perder nada.” E fui para os encontros nacionais de estudantes de Geologia. Em 81 eu fui eleito secretário geral da Executiva dos Estudantes de Geologia. Da Enege. Ela era uma executiva dos estudantes de geologia. Era uma secretaria da UNE que cuidava só dos estudantes de geologia em nível nacional. E aí que eu viajei muito, que eu conheci, comecei a sair de Belém. Mas pelo movimento estudantil. Em 79 eu fui para Cuiabá, em 80 eu fui para Ouro Preto. Em 81 eu fui para Porto Alegre, em São Leopoldo. E aí que eu fui secretário geral eleito em 81. Fui secretário geral da Enege em 81, 82 e 83. Foram 3 anos em que eu fui eleito.
MONOPÓLIO
Eu encontrei a Petrobras desde estudante. Porque nós tínhamos uma semana que chamava Semana dos Estudantes de Geologia. Que inclusive os professores ajudavam muito. A própria universidade ajudava. Porque tinha as palestras técnicas e tinha palestras políticas. E sempre você tinha a discussão sobre o monopólio estatal do petróleo. E a manutenção do monopólio. Todo esse negócio. Inclusive eu não gostava muito da Petrobras quando eu era estudante. Nós éramos a favor do monopólio. E a ditadura começava a flexibilizar. Houve uma coisa chamada contratos de risco no início dos anos 80; os estudantes se mobilizaram contra. Então eu fui até a sede da Petrobras em Belém. Nós fizemos uma manifestação, porque isso a gente achava que era prejudicial ao país e aos estudantes.
EDUCAÇÃO
Então, da minha época de faculdade eu gosto muito. Esta foi a fase mais alegre da minha vida. Acho que a universidade me formou literalmente como pessoa, como gente para isso. Me fez ter contato com outras visões de mundo. Com outra maneira de pensar. E com o resto do Brasil. Quer dizer, você começar a sair de Belém. Ter um raciocínio de ver São Paulo, de ver aquela monstruosidade. E ao mesmo tempo você saber que pode ser, que esse país a gente pode ir para qualquer lugar, mas ele é o mesmo. Que a gente tem essa identidade do país. Então isso aí foi assim, foi bom. Foi muito bom. Então na universidade meu desempenho acadêmico era regular. Não era lá essa coqueluche toda, mas eu estudava muito. E tive a felicidade de encontrar como professor um superintendente da Petrobras. Chamado Rui Pereira Bahia. E o pessoal tinha, e eu também, ele como um cara muito autoritário. E quando ele foi meu professor, foi muito boa a nossa relação. Ele foi meu professor duas vezes. E ele dizia assim: “Por que você não entra na Petrobras? Não presta o concurso da Petrobras?” “Eu não.” “Você entende muito de energia. Você gosta muito de discutir esse problema de energia e tal.” Eu falava: “Não, eu vou me preparar para trabalhar na Vale do Rio Doce.” Eu disse a ele.
EVENTOS HISTÓRICOS
Nessa época, teve duas manifestações que foram muito marcantes. No início dos anos 80, acho que 82, os padres, dois padres franceses foram condenados à expulsão no Brasil. Um se chamava Aristides Camio, e o outro era François Gourion. Eram esses dois nomes. E a minha família, como era toda, minha mãe católica e tal, nós fomos todos a uma manifestação em favor da liberdade dos padres no dia do julgamento. Eu fui para a universidade porque o DCE ia sair em passeata. E quando o pessoal estava celebrando uma missa às 8 horas da manhã o Exército ocupou a frente das igrejas. De uma igreja. E o pessoal saiu para fazer uma manifestação na frente de outra igreja. O Exército ocupou a outra igreja. E chegou a uma situação que era engraçada: porque eu, que era mais ativista, tinha ido para a universidade, nós íamos chegando depois. E a minha família toda estava presa em duas igrejas separadas. Pai, mãe, irmã, irmãos todo mundo. Então para mim esse momento foi muito marcante. E nós depois saímos e continuamos em manifestação e aí eu tive uma detenção policial por causa disso. À noite fomos fazer uma pichação lá junto com um pessoal da Pastoral Operária, e eles detiveram todos nós. Liberaram horas depois. Não foi um negócio muito sério, mas digamos que deu muito receio.
MILITÂNCIA
Depois disso, nós tivemos uma série de manifestações dentro da universidade para brigar por meia passagem. Estava caindo a ditadura, em 84, e eu era da direção do DCE da universidade. E também nós fomos detidos. Era engraçado porque estava na época de Maluf contra Tancredo. E eu tenho um irmão que era malufista. E hoje mora em São Paulo. Meu amigo, muito meu amigo. E nós tínhamos muita briga. Porque eu era da esquerda e ele... Nós dizíamos: “Nem Tancredo nem Maluf.” E ele dizia: “Maluf.” Nós dizíamos Lula presidente, já naquela época. E ele trabalhava na Caixa Econômica e foi passar na roleta do ônibus. E a gente tinha uma operação em que a gente tomava o lugar do cobrador e passava todo mundo e girava a roleta e não pagava. E quando ele foi passando, o cara disse: “Olha, esse aí é o que foi preso ontem. Pode ir.” Que ele era muito parecido comigo. E ele quase vai preso no meu lugar. O cara disse: “Pode...” Botaram um guarda em cada ônibus. E eu no dia anterior tinha rolado a roleta para todo mundo. E ele ficou pau da vida comigo: “Olha, você faz as tuas coisas, depois quem paga tudo sou eu. Saí do trabalho e vou pegar o ônibus e quase o cara me prende.”
INGRESSO NA PETROBRAS
E depois, quando eu fiz o concurso da Petrobras, em 85, é engraçado porque essas duas ocorrências estavam lá. Estavam. Aí eu fui chamado. Primeiro, passar no concurso da Petrobras foi uma maravilha. Acabei de me formar, fiz a prova e foi um dos dias mais importantes da minha vida. Porque eu dizia assim: “Eu preciso passar no concurso.” Porque estava difícil a situação em casa. Muita gente, muita gente, meu pai já prestes a se aposentar. E assim, 84 foi um ano muito difícil para nós. Tivemos que vender a casa. E início de 85 eu me formei. Eu fui fazer a prova e fui para o sítio. O meu tio tinha um sítio em frente ao sítio do meu pai. Ele era um militar raivoso, mas sempre gostou muito de mim. E eu fui para lá e fui tratado como num hotel cinco estrelas. Eu ficava em uma mesinha sentado o dia todo. Eu passei 30 dias estudando para a prova da Petrobras. E quando eu fiz a prova, eu saí da prova e disse assim: “Se eu não tiver passado nessa prova é porque tem marmelada. Eu tenho certeza que eu passei na prova.” Eu disse isso para o meu irmão. Eu sempre fui um aluno muito bom de Física. E quando eu fiz o vestibular, foi a prova de Física mais difícil que tinha tido. Eu cheguei em casa e disse para esse meu irmão, que é meu irmão mais velho: “Rapaz, eu me ferrei na prova. Eu acho que eu acertei umas 39 ou 40 questões. Ele disse: “Rapaz, está dizendo no rádio aí que o maior acerto foi 39.” Aí, quando nós conferimos o gabarito, eu tinha feito as 39 questões. E no dia seguinte saía quantos alunos acertaram cada um. Então ele confiava muito no que eu dizia sempre. Não sei se entrei em primeiro lugar porque não tinha classificação na Petrobras. Mas a prova que eu fiz foi muito boa. Aquela prova que você sai achando que... Não é aquela que você tem dúvida. Eu saí da prova e fiquei esperando. Duas semanas depois saiu o resultado. Eu me lembro que era no Jornal do Brasil. E no Globo que sairia o resultado. Em Belém o Jornal do Brasil chegava à uma hora da tarde. E eu fui para o aeroporto, à uma hora da tarde, quando chegou o jornal eu comprei, e quando abri o resultado eu disse: “Olha o meu nome aqui. Eu não disse que eu ia passar no concurso?” Fui eu e ele. E então eu entrei na Petrobras e casei ao mesmo tempo, porque praticamente a minha namorada ou morava na minha casa ou eu morava na casa dela. Então a Petrobras é muito importante para mim. Eu entrar na Petrobras. Porque ela inaugura a fase em que eu saio da casa dos meus pais, me caso e venho morar em outro lugar. Então é muita mudança junto. E aí eu fui, fiz os testes e tal e a pessoa do Recursos Humanos disse: “Só tem um problema, tem duas restrições aqui ao seu nome. Que são duas ocorrências policiais. Eu não sei se isso vai entrar. Você vai falar com o superintendente daqui.” Quem era o superintendente? Raimundo Rui Bahia. Que tinha sido o meu professor. Então a vida prega muita peça na gente. Primeiro ele riu muito. Depois disse: “Não, isso aqui nós vamos tirar. Isso aqui é bobagem.” Foi como eu entrei na Petrobras. Então, mesmo tendo posições muito diferentes, eu acho que aprendi isso, a universidade me ensinou isso que é a tolerância. A convivência dos contrários, ela é fundamental. Porque ele tinha uma posição completamente diferente da minha, mas tinha um respeito, que eu também tinha por ele como professor. Então eu acho que eu aprendi muito a dissociar isso. Foi muito bom na minha vida. Até hoje tem me feito muito bem.
MIGRAÇÃO
Aí eu vim para o Rio. Vim para o Rio, e era tudo muito novo. Vida de casado, vida de morar em uma cidade bem maior. Belém não é uma cidade pequena, mas também não é uma megacidade como é o Rio ou São Paulo. Então tudo era novo. Morar no Rio, poder ir a show. Coisa que lá para o Norte e Nordeste já era muito mais difícil. E aqui eu vim ter contato com a cultura, com a possibilidade de ter uma renda própria.
REMUNERAÇÃO
Quanto ao salário de quem estava entrando, eles fizeram um negócio que era meio esquisito. Porque o salário que estava no edital era diferente do salário que a gente entrou. Então eu comprei logo uma briga no primeiro dia de... Porque eu nunca fui de me calar diante do que eu acho que está errado. Para mim, esse ditado de quem cala consente é verdadeiro. Se você não reclama ninguém vai saber que está errado. Eu me lembro que o ex-superintendente também – essas são algumas coincidências da minha vida – o Clotário Cardoso era superintendente do Cenpes. Que é onde eu entrei. Superintendente de Pessoal. E depois esse cara veio assinar um acordo comigo, eu já no sindicato. Ele dizia: “Desde aquela época que eu me lembro que você reclamava pra caramba.” Aí eu disse: “Mas eu estava certo ou estava errado?” Ele disse: “Algumas coisas você estava certo. A forma que você fez que estava errada.” Mas no edital dizia qual era o salário. Quando nós entramos, não era esse salário. Era abaixo disso. E tinha mais vantagens no edital. E depois que nós entramos não tinha vantagem nenhuma. Tanto que a minha turma, que entrou na Petrobras em 85, a primeira luta dela foi para a equiparação dos novos. Uma coisa que até hoje ainda tem na Petrobras, eu não sei por quê. Eu espero que o presidente José Eduardo Dutra acabe com esse negócio. É que os novos funcionários não têm o mesmo direito dos antigos. Depois de 85 teve outro problema em 89, tem outro em 94, tem outro agora. Então eu não consigo entender esse tipo de política de pessoal. Porque revolta você não deixar as coisas claras. Aí no primeiro dia da apresentação ele perguntou: “Acho que está todo mundo muito satisfeito, e que tal?” Eu disse: “Eu não estou não. Eu não estou não porque vocês prometeram uma coisa...” Acho que tinha umas 300 pessoas no auditório. Eu fui chamado para conversar com ele à parte. Ele disse: “Por que você não está satisfeito e assinou o contrato de trabalho?” Eu disse: “Eu assinei o contrato de trabalho porque eu passei na maior empresa do Brasil. Para mim é um orgulho. Agora, eu não estou satisfeito porque eu estou com esse edital aqui na mão.” Engraçado, porque a forma como ele, porque depende muito da forma como a gente se dirige também. Eu falei porque e tal, com muito respeito. E ganhei um certo respeito perante os novos.
RECURSOS HUMANOS
Entraram 300 engenheiros, geólogos, geofísicos. Primeiro que eu também vim a saber que eu era geofísico aqui. Porque eu tinha feito concurso para geólogo, mas depois eles separaram geólogos e outros geofísicos, acho que de acordo com a aptidão na prova. A diferença é que o geólogo, ele trabalha - na verdade todo geofísico quase é geólogo. Mas as ferramentas são diferentes. As ferramentas de geólogo são mais ferramentas que têm a ver com a rocha em si. Com as movimentações da terra. E o geofísico, na Petrobras, principalmente, ele trabalha mais com equações matemáticas. Ele precisa tirar um raio-x da terra para que possa saber onde tem acumulação de petróleo. Então era um curso mais puxado para a Física e para a Matemática. Então nós fizemos um curso de um ano e meio. Seis meses, depois um estágio por 6 meses de novo, e uma especialização aqui dentro da Petrobras. Que hoje tem um valor inclusive de especialização no MEC. E o reconhecimento eu obtive, que foi geofísica em petróleo. Na verdade se chamava curso Básico de Geofísica e curso Avançado de Geofísica. Que foi aqui no Rio. No Edifício Serrador.
SINDIPETRO NORTE FLUMINENSE
CAMPANHA SALARIAL
E nesse período eu comecei a ir. Eu procurei e disse: “Olha, a primeira coisa que eu vou fazer é procurar o sindicato. Porque eu acho que o sindicato é que tem que lutar pela gente. Não a gente isolada.” E nós sindicalizamos todo mundo. Foi engraçado isso, porque nós fizemos uma reunião. E a reunião era meio secreta, porque a gente estava com medo de ser demitida. E fomos, eu disse: “Olha, pede para avisar algumas pessoas assim.” A reunião secreta tinha umas 150 pessoas. Já não era tão secreta. Para a gente sindicalizar e levar a proposta para o sindicato lutar. Já tinha o sindicato do Rio. O sindicato do Rio já existia. Então a gente foi levar lá, e o sindicato não estava nem aí para nada. E o sujeito disse: “Olha, eu não posso fazer isso porque são somente vocês...” Tiramos uma comissão de três para ir ao sindicato. “... porque são somente vocês. Se fossem todos sindicalizados aí sim nós poderíamos fazer isso.” Aí nós pegamos a proposta de sindicalizado e tiramos cópias. E sindicalizamos todo mundo. E demos um trabalho para o sindicato daqui. Porque ele queria assinar o acordo coletivo sem a equiparação. E nós não deixávamos. Ia todo mundo para a assembléia. E era só aposentado praticamente no sindicato. Fecharam um acordo com a Petrobras e não conseguiam assinar porque nós íamos lá e votávamos contra. Foi um festival isso aqui. E aí entrei no movimento sindical. Sofri retaliação, sofri... O pessoal chamava: “Olha, cuidado.” Porque tinha uma oposição sindical aqui, e eu fui me meter no sindicato e ao mesmo tempo dentro da empresa. Fiquei em 85 aqui, depois em 86 nós fomos trabalhar em Alagoas, Sergipe e Bahia. Nesses três lugares.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Em 86 saí do Rio para fazer um estágio na equipe sísmica 27.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO / EXPLORAÇÃO
Uma equipe sísmica é, por exemplo, se você acha que tem petróleo em um lugar. Vamos dizer na Ilha do Bananal. Aí manda uma equipe pioneira para lá que é a equipe sísmica. Ela vai lá, abre umas picadas - umas linhas sísmicas que chama. Bota uma dinamitezinha, e essa dinamite, com três metros de profundidade, ela explode e você vê como é o comportamento. Espalha um monte de telefonezinho no meio - são geofones - e vê como é que estão se comportando as camadas da terra. Geofone é um telefonezinho. Parece um telefone. É um sensor que recebe informações dessa explosão. Essa explosão bate aqui e por reflexão ela volta e você vê como é que são as camadas embaixo da terra. Esse se chama um geofone. É um aparelho tipo telefone. Telefone é a mesma coisa. A pessoa fala aqui, vai lá na estação e volta para cá. Só que telefone você fala e recebe. O geofone só recebe a informação. Então são vários sensores.
EXPLORAÇÃO
Quando tem esses terremotos normais da Terra, você tem espalhadas estações para saber como as camadas se montaram. Onde foi o terremoto e tal. No nosso caso, a gente faz um microterremoto. É um sismo mesmo. Que essa explosão de dinamite provoca um microterremoto. Muitas vezes a gente sente no chão. E é dessas informações que a gente vai atrás. É o trabalho pioneiro da procura do petróleo. Da prospecção do petróleo. É o da equipe sísmica. Por isso que o serviço do geólogo e do geofísico chama exploração na Petrobras. É um trabalho muito pioneiro.
RECURSOS HUMANOS
Então nós fomos para treinar. A Petrobras sempre teve, e esse é um negócio interessante na empresa, que eu acho que a gente tem que ter orgulho. Eu participei de vários treinamentos agora como instrutor. A Petrobras dá muita qualificação para os seus funcionários. Aí eu fiquei um ano e meio me preparando para poder trabalhar. Não tem empresa que faça isso no mundo. Nós fomos para ver como era o trabalho. Para ir no dia-a-dia. Era assim, mesmo a gente sendo de nível superior, como é que o pessoal de nível médio trabalhava. Como é que a peãozada pegava. A gente pegava nos equipamentos, botava nas costas igual ao cara. Para você poder ir sentindo o que significava para depois poder administrar isso. Então nós fomos para lá - eu fiquei de dezembro até junho de 86. Na verdade de janeiro. De janeiro de 86 a junho de 86 eu fiquei em Sergipe, Alagoas e Bahia. A gente trabalhava 30 dias e folgava 10. E nas folgas eu vinha para o Rio. E foi importante. Importantíssimo, porque deu o contato com o trabalhador, com o operário da Petrobras. Ele é muito rico. Porque é um operário muito especializado e ao mesmo tempo ele tem aquela cara, o jeitão, né?
RELAÇÕES DE TRABALHO
E a gente está no trabalho de exploração é diferente de você estar em uma refinaria ou você estar em uma área industrial em que a estratificação é bem clara: o chefe, o engenheiro. No trabalho de exploração todo mundo está em uma barraca. Quer dizer o setor, o serviço que você está, o chefe está submetido às mesmas intempéries que o peão. Se dá uma chuva leva a barraca de todo mundo. Vai dormir na chuva. Aconteceu isso conosco. Deu uma chuva terrível e levou as lonas das barracas. Nós ficamos dormindo ao relento, o peão também ficou dormindo no relento do mesmo jeito. Não tem essa. E não dava para ter um tratamento naquela época, hoje já está melhor. Já são trailers e tal. Mas não dá para ter, como é um trabalho exploracionista, não dá para ter muita regalia para ninguém. Então isso um pouco que equiparava a gente. E isso para o lado sindical também me ajudou. Muito. Porque aí a gente saía depois do expediente para tomar pinga com a peãozada. Para conversar. E ter esse lado humano, essa interação. A gente aprendeu muito como é que lidava com as coisas.
MILITÂNCIA SINDICAL
A primeira vez que eu vi o presidente, hoje presidente da Petrobras, o Eduardo Dutra, foi na Petromisa. Nós tínhamos ido sindicalizar um pessoal. Nós estávamos a pé e eu sempre achei que os sindicatos são muito importantes. Acho que no mundo inteiro. Eu tenho um respeito pelo sindicato. Um dia desses minha ex-mulher me disse que eu tenho pelo sindicato quase que uma coisa religiosa. Eu disse: “Não é isso não.” O que eu acho é que a forma de organização dos trabalhadores é o sindicato. Ela é prioritária. O sindicato é importante. Mesmo o pior sindicato do mundo, ele é melhor do que o sujeito ir sozinho conversar, negociar, reivindicar. O pior sindicato do mundo é melhor do que o cara sozinho. É melhor ter sindicato do que não ter. Então é uma forma de associação. Acho que depois eu aprendi outra coisa mais na frente que é cooperativa. Que meu pai que acabou me incentivando. Mas eu acho que entre a cooperativa e o sindicato, a cooperativa acaba tendo uma concorrência. O sindicato não tem isso. Então foi como eu aprendi a conversar com as pessoas, com a peãozada.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Depois eu vim para cá para o Rio e fui para o Rio Grande do Norte. Aí que eles me mandam para o Rio Grande do Norte. Eu sou lotado lá até hoje.
SINDIPETRO NORTE FLUMINENSE
OPOSIÇÃO CUTISTA
Aqui no Rio teve uma coisa engraçada. Nós lutávamos contra o que nós chamávamos de pelego na Petrobras e criamos uma oposição. Eu participei da fundação do que é hoje a oposição da CUT aqui. Chamava-se Surgente. Pelego é o sindicato que fazia tudo o que o patrão queria. Chamava-se pelego. Mas naquela época os sindicatos todos eram dirigidos pelos pelegos. A CUT estava começando com o Lula, com o pessoal. E aqui no Rio o Sindicato dos Petroleiros ele era o seguinte: ele era pior do que os pelegos. Porque o pelego pelo menos ainda vai lá tentar, o pessoal mais ligado a Força Sindical hoje tenta pelo menos ir lá. Tenta fazer assembléia. O daqui nem isso fazia. O sujeito ficava tomando cachaça lá na casa dele e aparecia no sindicato quando queria. E nós queríamos tomar. E eles faziam o quê? Quando chegava perto da eleição, eles chamavam os aposentados e ganhavam só com os aposentados. Fazendo um jantar, um churrasco, não sei o quê, e os aposentados. E nós montamos uma oposição da CUT. Naquela época levantar uma bandeira da CUT na Petrobras era um, era um horror. E aí nós todos, eu era estudante, nós podíamos votar porque nós tínhamos mais de um ano de sindicalizado. E tinha 300 estudantes. As pessoas gostavam porque eu tinha feito a luta. Nós conquistamos a equiparação de novos e eu tinha uma certa liderança. E nós fomos à convenção da chapa da oposição da CUT. Todo mundo da CUT. Hoje inclusive muitos ainda estão por aí na direção. E quando chegamos lá, nós fomos barrados de entrar na chapa. Aí eu disse: “Incrível, como é que nós brigamos contra os pelegos e fazemos a mesma coisa?” E para mim foi muito marcante: primeiro que tudo que os pelegos faziam era quando tinha assembléia, essas coisas, eles levavam para o lugar mais longe possível para a categoria não ir, certo? Para dar pouca gente, para eles poderem levar só as pessoas deles. E a oposição marcou a convenção da chapa do Estado do Rio de Janeiro em Macaé. Quer dizer, ela utilizou os mesmos artifícios. Só que esta oposição falava em revolução, socialismo e tal. E fazia a mesma coisa. E inclusive ainda hoje são da esquerda do meu partido. Eu não gosto muito desse conceito de esquerda, direita. Acho que as pessoas se perdem muito na classificação e não vêem o que é que está dentro mesmo. Muitas vezes você tem uma pessoa de direita que tem uma prática política muito mais avançada do que quem se diz de esquerda. Que é muito mais autoritário. E eu na época era de uma das correntes mais radicais do PT, que era a Convergência Socialista. E eu dizia assim: “Está vendo como não tem diferença entre um e outro?”
FEDERAÇÃO
DIRETORIA
O Jacó Bittar, que era da Articulação, ele me propôs entrar na Federação dos Petroleiros e Petroquímicos, e eu entrei, em 86. Teoricamente era oposição à Convergência, a corrente do Lula. E para mim foi muito importante. Porque, imagina eu, ser convidado para entrar na Federação dos Petroleiros com um ano de trabalho? E o Jacó Bittar disse para mim assim: “Você é de nível superior. A peãozada precisa de um cara de nível superior.” E eu entrei na direção. Não tinha nenhuma representatividade. Enquanto que na chapa do Sindipetro, em que a gente tinha representatividade, o pessoal da esquerda do PT faz uma manobra dessas para a gente não entrar. Foi muito difícil para mim. Foi um golpe muito duro. Eu fiquei muito magoado com as pessoas porque eu não esperava isso. A gente começa a aprender que não é bem assim. E daí eu comecei a ter um contato com uma pessoa pela qual eu tenho um carinho muito especial na Petrobras. Tanto pela categoria em si, que foram os Petroleiros de Campinas, como pelo Santarosa, pelo perfil muito democrático que ele tinha. Ele tem. O Santarosa é uma pessoa, uma liderança muito grande no meio dos petroleiros. É um orgulho para nós ele estar hoje na direção da Petrobras. Porque começou o contato. Começou o contato com ele, eu dirigindo uma oposição a ele, porque nós éramos uma oposição.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Fui para o Rio Grande do Norte. Lá trabalhei muito na Petrobras. Fui para trabalhar mesmo. Para mim estava claro que eu não ia entrar em sindicato. O sindicato que eu achava que ia entrar era o aqui do Rio. E fui para lá. Foi um choque muito grande eu sair daqui do Rio e ir direto para Mossoró. E de Mossoró nós fomos a 60 quilômetros de lá. Um calor infernal. Mas foi bom. Foi um período muito bom da minha vida. Porque a gente trabalhava muito. Tinha muito poucos geofísicos. Mossoró fica a 280 quilômetros de Natal. O trabalho que estava sendo feito era esse das equipes sísmicas. Eu fui ser fiscal de uma equipe contratada da Petrobras.
RELAÇÕES DE TRABALHO
E eu acho que a Petrobras dava muita liberdade para nós trabalharmos. Se a gente, se os fiscais da Petrobras, em todos os contratos quiserem trabalhar, eles têm, eu pelo menos tive, muito apoio. No primeiro dia que eu cheguei lá na equipe, eu sempre me preocupei muito com a condição humana. Eu acho que a partir do momento que você dá condição mínima básica de trabalho você pode cobrar o resultado. Agora, se você não dá, a cobrança passa a ser desonesta.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Então nós ficamos em Mossoró estudando o contrato. O contrato em que a gente ia trabalhar. Deram o contrato para nós e eu ia fiscalizar esse contrato. O contrato era com uma empresa que se chamava Temag Geofísica.
RELAÇÕES DE TRABALHO
A Temag era uma empresa de engenharia de São Paulo, muito famosa na época por construção. E montou uma equipe de geofísica. Uma equipe dessas equipes sísmicas de exploração. Só que no contrato a Petrobras pagava por tudo. Pagava por cama, pagava por colchão, estava lá tudo especificado no contrato. Tantas camas, tantos colchões, tantos pratos. Tantos copos. Eu li o contrato todinho. Li de cabo a rabo um contrato enorme. Que tinha as penalidades, tinha os direitos e os deveres. Aquele negócio todinho. E quando eu cheguei lá, assim, foi revoltante: você ver 200 pessoas, você tinha um restaurante que era do staff e tinha um outro restaurante que era da peãozada. O restaurante do staff era uma maravilha, bem no meio do campo. E o restaurante da peãozada, era um restaurante onde o pessoal comia em umas latas de goiabada. E o copo era um copo desses de ervilha de lata. Só que a Petrobras pagava prato, colher, copo. Pagava mensalmente, estava regido no contrato. E o fato de eu ter feito estágio em uma equipe da Petrobras que não tinha essa diferença, levou a gente a dizer que a Petrobras estava pagando e estava no contrato. Nós batemos no primeiro dia. E assim, o cara que estava lá era meio medroso. Ele disse: “Olha, isso vai dar problema.” Eu disse: “Meu amigo, é o seguinte. Eu estou aqui para cumprir um contrato. A primeira coisa para cumprir o contrato eu quero que o pessoal esteja todo uniformizado” – não tinha. “Todo de bota, todo de capacete.” Não tinha essa preocupação com o SMS que hoje tem, que é comum. Mas nós tínhamos, empiricamente na verdade, um senso de justiça. E como nós tínhamos estado em uma equipe da Petrobras que tinha tudo isso, foi um parâmetro muito importante para nós. E foi uma vitória pessoal muito grande quando eu e um outro geofísico chamado Ricardo Rosa, que hoje é chefe na Petrobras, que era meu amigo pessoal, ele disse: “Geraldo, isso vai pegar para nós.” “Pode pegar, mas que a gente tem que fazer? Porque se a gente não conseguir que o pessoal dê capacete, bota, caneco, como é que a gente vai conseguir coisas maiores para a equipe? Se a gente não tiver moral para pedir isso aqui que é o básico, isso não vai adiantar nada. Nós vamos ser o que esses caras eram aí. Os antigos fiscais; o que eles falavam ninguém escrevia. Quer dizer...” E o chefe da equipe estava tão seguro de si que ele disse: “Pode botar a multa que eu assino.” Aí nós fizemos e ele foi multado. Quando chegou lá em Natal, que o nosso chefe viu aquilo, mandou para o Rio e disse: “Rapaz, nunca retrataram isso. Essa equipe tem cinco anos.” Eu disse: “Está aqui, as fotos.” Aí levei as fotografias do peão comendo. “Eu não vou aceitar isso.” E ele pegou e disse: “Não, você pode ficar tranqüilo que você vai ter...”
RECURSOS HUMANOS
A Petrobras pagava um bolo no contrato que era o seguinte. Era uma média de 3 mil dólares por cada quilômetro desses explosivos. Nesses 3 mil dólares estava embutido o que a equipe deveria ter. A equipe deveria ter um equipamento, deveria ter um desses telefonezinhos, uma oficina. Tantos. Um engenheiro de equipamento, um não sei o quê. Estava tudo descrito no contrato. A Petrobras pagava um percentual por dia ou por mês relativo ao acampamento. Aí, lá no contrato dizia: “O acampamento tem que ter tantas barracas de lona, tantas...” E as condições de trabalho para o pessoal poder ir. Então todo ano a Petrobras pagava dois uniformes completos. Estava lá escrito: “Uniforme completo, a empresa vai receber tanto.” Que era para gastar. Só que o peão não tinha uniforme.E o que acontecia é que ele usava a roupa dele, se cortava...
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO
O fiscal teoricamente tinha que multar. Tinha que glosar. Tinha que retirar aquele valor da fatura. E o fiscal ficava com medo de fazer achando que não ia ter apoio. E quando nós fizemos, nós tivemos apoio. Todo apoio da gerência da Petrobras. O gerente foi lá, viu, nos deu razão. Disse: “É incrível, toda vez que eu vinha aqui eu só ia para o campo.” Ele ia só ver lá a parte técnica e... E aí nós começamos a cobrar qualidade. Eu tenho muito orgulho de ter sido um fiscal que assim foi meio que empírico, eu e o Ricardo, que depois veio a ser gerente na Petrobras, sempre ele teve uma vocação gerencial muito grande. E nós estabelecemos toda uma estratégia para poder cobrar a qualidade da equipe. Primeiro a gente melhorava a parte de pessoal. Depois a gente começava a estar presente no campo todo dia, indo lá com o peão conversar. E ver quais eram os problemas dele. E fazer essa ponte com a equipe. Não era fiscal para cobrar a equipe. Mas era para melhorar porque a equipe prestava serviço para a Petrobras. E essa equipe foi conhecida durante muito tempo como a equipe que tinha o melhor controle de qualidade do Brasil. A equipe 220. Eu era o fiscal na época. Fiquei assim muito orgulhoso.
RELAÇÕES DE TRABALHO
Na época não tive apoio do sindicato, porque quando eu cheguei em Natal não tinha ainda esse contato com o sindicato. Quando eu tive tem até um negócio engraçado. Porque o ex-diretor da Petrobras chamado Camargo, quando ele era meu chefe, ele me deu um nível por mérito. Ele era o chefe aqui no Rio. Depois ele foi ser meu superintendente, me demitiu por causa de greve no sindicato. E depois nós nos encontramos, agora na posse do José Eduardo Dutra. Ele riu pra caramba, porque eu dizia para ele: “A vida nos faz estar sempre em campos muito difíceis.” Mas a Petrobras não, eu acho que não tem essa divisão. Se você quiser ser sindicalista, mas trabalhar direito no seu local. Nenhum momento eu vi, tem assim, como sempre tem a rixa com o chefe, com não sei quem. Isso tem. Na Geologia menos. Mas mesmo assim, em Natal, duas vezes eu fui demitido. Lá eu não era dirigente sindical. Eles têm uma coisa na CLT chamada suspensão do contrato de trabalho. Você suspende o contrato do diretor do sindicato... Quem é sindicalizado pode ser demitido mesmo sendo sindicalizado. Não tem problema. Às vezes porque participou de uma greve. Tem isso.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Aí, quando foi em 87, 88, até fevereiro de 88, eu só participei mesmo do trabalho na empresa, que foi muito bom. Foi muito gratificante. A gente tinha muito prestígio: apoio da chefia, apoio da superintendência. Aí melhoramos muito. Em um ano nós melhoramos a qualidade da equipe. Batemos recorde de produção no Brasil. E daí eu fui chamado para ser chefe da equipe. De uma equipe da Petrobras que estava sendo construída lá. Foi fundada no final de 87. Isso era no Rio Grande do Norte, em Natal. E eu disse: “Olha, eu não sou muito bem a pessoa para ser o chefe da equipe. Eu tenho um amigo que é melhor do que eu.” E o meu chefe disse: “Mas nós escolhemos você.” Eu disse: “Mas é melhor ele.” Ele disse: “Você está declinando do convite?” Eu disse: “Não, eu estou dizendo que ele é melhor do que eu para ser o chefe da equipe. E ele trabalha comigo e eu me conheço e o conheço.” E aí fomos nós três fazer uma entrevista e chegamos à conclusão que o melhor chefe era o Ricardo mesmo. Ele virou chefe da equipe. Hoje é chefe de divisão na Petrobras.
SINDIPETRO RIO GRANDE DO NORTE
OPOSIÇÃO CUTISTA
E eu em seguida entrei na chapa do sindicato. Quando eu entrei para a chapa do sindicato fui chamado porque eu era a primeira pessoa de nível superior que ia entrar em uma chapa do sindicato na Petrobras. E isso quebrava um paradigma que era que o sindicato era só da peãozada do nível médio. E o sindicato, o nível superior ia para a Associação dos Engenheiros. E o superintendente me chamou, disse assim: “Não é melhor você ir para a Associação dos Engenheiros?” Eu disse: “Não, eu quero ir para o sindicato. Eu acho que o sindicato representa todos os trabalhadores, e eu sou um trabalhador da Petrobras.” “Mas é sindicato, vai acabar tendo problema e tal.” Eu disse: “Eu quero ir para o sindicato.” Quando nós inscrevemos a chapa, sim, aí nós tivemos todo um processo de reuniões. E tínhamos três pessoas de nível superior. Eu consegui mais um companheiro que veio, que hoje é geólogo aqui no Cenpes. E um engenheiro de São Paulo, que veio sozinho no processo, que depois faleceu, que chamava se Paulo Sérgio. E nós montamos então a oposição para ganhar a eleição do sindicato para a CUT, também. Ligado à CUT. E quando nós inscrevemos a chapa, o meu superintendente me chamou e disse: “Nós vimos aqui o teu nome, mas nós não vamos liberar para você entrar.” Eu disse: “Eu não estou pedindo autorização. Eu não tenho que pedir autorização a você para participar de uma associação a que eu sou associado. Não tem o menor sentido.” Mas essa era um pouco a cultura. Uma cultura meio de pai que os chefes tinham na Petrobras. Não era nem de maldade nem de autoritarismo só. Tinha esse ranço. Mas era muito de cuidado. O sujeito tinha uma relação meio de pai para você, de ordem. E assim eu fui muito desobediente nesse aspecto. Me envolvendo com essas coisas. Aí nós fomos para o processo eleitoral. Eu estava de férias e mais folga de campo. E quando foi o dia 28, 29, 30 de abril de 88, por aí, foram três dias de eleição. Foi uma eleição muito concorrida, porque era o primeiro sindicato grande que a CUT ia ganhar no Estado. Então teve a mídia, os outros sindicatos, o PT, o PC do B. As oposições. E o sindicato, o PMDB governava o sindicato com polícia, com o diabo a quatro. Foi uma eleição que agitou muito a cidade de Natal. E nós ganhamos a eleição. A categoria queria tomar o sindicato. A chapa tinha, no dia da apuração, umas 500 pessoas na saída do sindicato para apurar os votos. Para não roubarem. E nós ganhamos. Foi muito comemorado. E nós tínhamos que preparar uma greve dos trabalhadores de estatais que ia acontecer 3 e 4 de maio. Nós ganhamos a eleição dia 28, e tinha uma greve marcada para 3 e 4 de maio. E a nossa posse era no dia 15 de maio, por aí. Eu era o vice-presidente da chapa. Porque dava o nível superior votar na chapa da oposição.
SINDIPETRO RIO GRANDE DO NORTE
MANDATO
Naquela época a gente queria primeiro democratizar o sindicato. Que o sindicato prestasse contas à categoria. Que participasse da CUT, quer dizer, que o sindicato se filiasse à CUT. Que pudesse ser uma coisa mais combativa. E nós tínhamos uma reivindicação central que era o pagamento do Plano Bresser. Que era o governo Sarney, já. E no 3 e 4 de maio ia ser uma greve das estatais, do serviço público pelo pagamento do Plano Bresser.
GREVE
1988
E nessa greve, saiu uma traquinagem da minha cabeça que era o seguinte: toda greve da Petrobras só quem fazia eram os escritórios, que não paravam nada. Você ia lá para fora e a produção continuava. Eu dizia: “Se a gente não for parar a produção, a Petrobras não vai respeitar a gente.” Parada de 1 hora, parada de meia hora no escritório, isso não significa nada. A direção da Petrobras precisa entender que quem está mal é o seu homem que está lá na ponta. Mas como parar uma sonda? As sondas elas vão furar aqueles poços lá no meio do mato. Elas estão lá no meio do mato. Eram oito sondas, se não me engano. Seis sondas. E aí, como nós vamos chegar lá? Como nós vamos parar com o carrinho? O pessoal vai para onde? E aí eu disse: “Rapaz, mas se a gente conseguisse alugar um caminhão e a gente fosse lá e botasse o pessoal dentro do caminhão? Eles parassem a sonda e viessem só para a cidade protestar e depois voltassem? Isso causa um impacto grande.” E de fato causou um impacto muito grande. Até hoje eu sou muito temido pela direção da Petrobras e pelos gerentes por causa disso. Mas na verdade nós não paramos a produção. Apenas o símbolo foi esse. Nós deixamos uma equipe mínima trabalhando, botamos as pessoas que estavam de folga dentro de um caminhão e fomos para a cidade. E foi muito interessante, porque era como se o peão estivesse dando um grito de liberdade. A Petrobras tinha feito, e Sarney tinha ido inaugurar um alojamento. O alojamento era um monte de trailers assim cercado de grade por todos os lados. E alguém levantou um homem lá e disse: “Isso aqui é um Sobibor.” Eu me lembro que cancelaram a inauguração oficial. Porque nós fizemos uma placa. Inauguramos uma placa: “Isso aqui é um campo de concentração, tal e tal.” Nós começamos o sindicato nesse dia e de fato mudou a consciência da gente de que era possível começar a parar a produção. A referência que nós tínhamos eram os petroleiros de Campinas. Que pararam sozinhos e não assinaram o acordo de 87. O Santa Rosa era o presidente do sindicato na época. E era muita referência para nós: Como é que lá os trabalhadores param e aqui a gente não consegue parar?
SINDIPETRO RIO GRANDE DO NORTE
Então, tanto que entre 88 e 91 o sindicato do Rio Grande do Norte se tornou uma grande referência no Brasil. Porque parava produção de óleo, parava... E nós fizemos e tivemos muitos embates. Muitos, muitos embates. Muitas assembléias. Porque havia, parece incrível isso. A direção da Petrobras muitas vezes não sabe e não tem como saber, apesar de que hoje você já tem mecanismos mais rápidos e mais ágeis de comunicação... Então, lá em Mossoró tinha na época uma atividade de petróleo muito grande. A Petrobras estava em expansão lá. Porque hoje o maior campo de petróleo em terra é em Mossoró. É o campo de Canto do Amaro. Então você tinha uma atividade muito grande das sondas de perfuração. Havia contratação de gente. Então eu era fruto dessa, vamos dizer assim, entre aspas, invasão que o Rio Grande do Norte teve, de gente de fora para ir procurar petróleo. E havia na população uma expectativa muito grande cada vez que chegava uma sonda, uma equipe da Petrobras. Vai ter petróleo, não vai ter petróleo. E a geração de empregos. Então a cidade vivia muito isso.
EMPRESA
A Petrobras, ela talvez - há com certeza três Estados, quatro com Alagoas, em que a Petrobras é decisiva para a economia. O Rio, o Rio Grande do Norte, Sergipe e Alagoas. É decisiva a existência da Petrobras. A Bahia é um pouco, mas a Bahia tem outras coisas além do Pólo Petroquímico. Salvador tem uma indústria mais pesada. Mas no Rio Grande do Norte não.
SINDIPETRO RIO GRANDE DO NORTE
Então, você parar a produção da Petrobras no Rio Grande do Norte era um negócio assim: “Deus o livre.” Tinha mídia da rádio do Estado: “O Estado vai ter prejuízo, não vai ter prejuízo? Os trabalhadores serão demitidos, não serão demitidos?” Então isso levou a que a gente participasse; vamos dizer, um pequeno Estado do Nordeste tivesse inserção na conjuntura sindical nacional. Mas e a própria Petrobras. Os dirigentes de lá, ao ter que lidar com o sindicato, a gente tentou qualificar muito o sindicato. Eu estava falando aqui para vocês em off que nós fomos o primeiro sindicato que trabalhou a questão de gênero. E a questão de raça lá no Estado, e depois na Petrobras. E era isso em 90, 91. Quando você não tinha ainda essa febre. Que hoje felizmente todo mundo trata. Nós éramos muito impulsionados pelo sindicato de Campinas. Porque havia um centro de formação dentro de Campinas - e a gente, até por oposição na época ao Santarosa - queria qualificar o debate. Nós trabalhamos o problema não só da estrutura do sindicato em si, se é federação ou se não é federação. E depois a questão do conteúdo mesmo. De elaborar uma plataforma política. De elaborar as reivindicações de uma maneira mais consistente para a empresa. Então eu participei de uma geração que era intermediária. Nós temos antigos dirigentes sindicais como Alan, Vagner lá de Campinas, Santarosa e Antônio Carlos Spis. Com novos dirigentes sindicais: o Maurício daqui de Duque de Caxias, eu e o Aluízio do Ceará. Então nós tivemos essa modificação. Eram duas gerações, mas que se encontravam com o objetivo comum porque a empresa começava a ter essa pujança, da Petrobras dos anos 80 e dos anos 90. Então lá no Rio Grande do Norte nós inauguramos a fase do sindicato ir para as ruas. O Sindicato dos Petroleiros lá ele teve uma importância muito na conquista de outros sindicatos, greves gerais.
GREVE
1988 E 1989
A greve geral de 88, a greve geral de 89. Nós marchamos para Natal com umas 300 pessoas na greve geral. E as pessoas saíram do campo direto com seus macacões todos sujos. Aquilo causou um impacto muito grande na capital da cidade, chegar ao que é o petroleiro. Porque a população ela só vê o trabalhador da Petrobras de folga. O trabalhador do campo. Então ela vê o cara bonitinho, tomando cerveja na beira da praia. E aí acha que é o maior marajá do mundo. Ela não vê o sujeito em uma plataforma. Ela não vê o sujeito no campo.
RELAÇÕES DE TRABALHO
Quando começou a luta em Macaé eu vim para cá. Porque eu era um dirigente sindical nacional, mas era muito chamado para vir para cá. E eu fui numa audiência pública que me marcou muito. Um trabalhador da Petrobras foi reivindicar, o sindicato estava reivindicando 7 dias de trabalho na plataforma por 14 de folga. E um vereador da cidade de Macaé disse assim: “Mas vocês não acham que enquanto o trabalhador trabalha 5 dias ou 6 e folga só um, vocês querem trabalhar 7 e folgar 14?” Aí disse: “O problema é que à noite ele vai para casa, se quiser ir para o bar, ele vai para o bar. Se ele não quiser ir trabalhar, ele falta. Enquanto se eu estiver na plataforma eu não posso fazer nada disso. E se você pegar, hoje eu trabalho 7 e folgo 7. Quando eu tiver 25 anos de trabalho, eu terei passado 12 anos e meio trancafiado em uma plataforma. Eu tirei 12 anos e meio de condenação. É maior do que muitos bandidos tiram na cadeia.” O que é um argumento muito poderoso. Porque a pessoa está ilhada. Ela não pode ter direito de escolha. O direito de ir e vir em uma plataforma não existe. Ele é um direito básico, ele é um direito essencial necessário para a sociedade, porém não existe. Eu não posso, a ausência ao trabalho, ela é facultada ao trabalhador. Se eu, por qualquer motivo pessoal eu faltar ao trabalho, eu vou lá e pago. Justifico, pago. Na plataforma eu não posso fazer isso. Eu embarquei. Uma vez que eu embarquei, eu estou lá naquele período. Morreu mãe, morreu pai e filho adoeceu. Então isso é muito forte para o trabalhador petroleiro. Às vezes desembarca em caso de morte. Mas quando você sabe, a família mora no Nordeste, o cara está aqui. Não vai pegar mais o enterro da mãe. Isso provoca muito essa desestabilização, que eu acho que é fundamental que os Recursos Humanos sejam mais humanos e vejam isso. Porque há muita desestabilização familiar. A atividade parece atividade sindical. Também que dá muita desestabilização familiar. Mas a ausência nos momentos, Natal, Ano Novo, feriado, Semana Santa, Carnaval. Essas coisas não são bem assim, o calendário de petroleiro não é esse. O calendário de petroleiro... Ou na plataforma ou no caso das sondas de terra, no campo não é assim porque o regime de trabalho é diferente.
GREVE
Então lá no Rio Grande do Norte nessa época havia modernização muito grande da empresa. A empresa tinha muitos investimentos em terra. Tanto por ser o maior campo de petróleo, porque a maioria dos investimentos da Petrobras é aqui na Bacia de Campos. Depois em terra era lá. Tinha o Pólo de Guamaré, que era uma planta de destilação de petróleo. Uma unidade de processamento. E era assim a menina dos olhos da empresa. Então, você fazer uma greve, parar um negócio daquele era você se chocar com todos os gerentes. Os gerentes, inclusive há muita restrição pessoal deles a mim. Mas nós tivemos sempre um tratamento de respeito. A despeito de ter ou não ter. Tinha vezes que eles eram duros, tinha vez que a gente era dura com eles. Mas aquilo era o normal das coisas.
MILITÂNCIA POLÍTICA
Nessa época assim, em 1990 eu fui candidato a deputado federal pelo PT. E tive 7.500 votos. E tenho muito orgulho de ter tido apoio do Vicentinho. Vicentinho é lá do Rio Grande do Norte e é mais paulista do que potiguar. E eu sou de Belém, mas sou mais potiguar do que paraense. Porque foi lá que eu construí minha legião de amigos.
RIO GRANDE DO NORTE
Lá no Rio Grande do Norte que a minha filha vive. E eu gosto muito do Rio Grande do Norte, eu acho que é um lugar muito fascinante, não só pela beleza natural de Natal e as praias que o Rio Grande do Norte tem. Mas por você ter um povo muito ordeiro, muito pacífico, muito voltado para a solidariedade, para o trabalho. Acho que aquela seca dá isso também. E você ter a riqueza que tem. Estado rico. Petróleo. O Rio Grande do Norte produz quase cem mil barris por dia de petróleo. Tem turismo, tem tudo.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
E eu fui candidato a deputado e demitido. E estava na época em que eu não recebia salário. Recebia as contribuições que a própria categoria fez. Porque quando a gente assumiu o sindicato, o sindicato estava quebrado. Tinha sido roubado, dilapidado. E logo depois nós tínhamos quatro pessoas demitidas. E a gente ia recolher o trabalho, o salário. Assim, na minha época da demissão tem algumas cenas muito marcantes. Nós tínhamos saído da assembléia no dia 5, e aí os jornais estavam dizendo que tinha um geólogo demitido. No dia 6 de maio de 1988 o jornal dava que o geólogo demitido se chamava Francisco Fontes Lima Neto, que é o amigo Chicão, que é geólogo aqui do Cenpes. E o pessoal que trabalhava com o Chicão foi até a sala do superintendente. O superintendente disse: “Não, não. Não é ele não, é outro.” Aí o pessoal, quando eu entrei lá, disse: “Tu está demitido.” Aí eu pensei que eu ia sozinho. Foram cem colegas nossos. Entramos na sala do superintendente e perguntamos por que é que ele tinha me demitido. E ele tinha me promovido... Aí ele olhou para mim e disse: “Não te disse que ia dar confusão?” Era aquele tal que tinha dito para eu não entrar na chapa. “Olha só o que você arrumou. Não te disse que ia dar confusão?” Hoje ele é um grande gerente. Um grande gerente. É um cara por quem eu tenho uma consideração muito grande. Porque ele teve a hombridade de conversar com a gente. Acho que é muito importante isso. Porque a medida que o cara tem que tomar é uma medida gerencial. Eu não estava pedindo arrego para ele não tomar. Agora há medidas, há várias maneiras de você fazer isso. E a gente ficou sustentada. Eu fiquei sem salário, durante 6 meses. E era todo mês, eu ia recolher o dinheiro com o próprio pessoal. O pessoal fazia uma listazinha para pagar o meu salário, que era alto. Era o pessoal da categoria mesmo que fazia isso e me entregava então um pacote, um bolo de dinheiro assim. E a gente ficou 6 meses nesse aperreio. Eu e a minha ex-mulher. A ex-mulher primeira, que depois teve a segunda. E aí ela não gostou muito: “Está vendo? Esse negócio aí não dá certo.” Aí eu voltei para trabalhar, veio a anistia com a Constituição de 88, que anistiou todos os presos políticos, e com base nessa lei da Anistia da promulgação da Constituição, a Petrobras reintegrou todos os demitidos. Inclusive o Alan, que está aí fora, que é o meu parceiro de duas demissões. Eu sou demitido, o Alan também é. Ah, e ele teve uma demissão antes de mim. E aí, quando eu voltei, a Petrobras me botou então para trabalhar no setor de reservatórios. É engraçado esse negócio de pioneirismo para mim. Porque eu fui o primeiro geofísico de reservatório que teve no Brasil, por uma punição. Me botaram para lá não era porque eles quisessem que eu trabalhasse lá, porque me tirava do meu setor e ia trabalhar no outro setor. Hoje em dia a coisa mais normal do mundo é geofísico ir para reservatório. Mas na época não era. Ia trabalhar em outro setor. Hoje em dia a coisa mais normal do mundo é geofísico ir para reservatório. Mas na época não era.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO
São vários setores na exploração. Esse primeiro a que eu fui era a equipe sísmica. Ela vai adquirir o dado sísmico, vai adquirir dados. Depois você tem o processamento dos dados e depois você tem a interpretação dos dados de um campo de petróleo que vai ser explorado. Depois que esse campo de petróleo é descoberto você passa para um outro setor, que vai avaliar o campo. Que vai trabalhar o dia-a-dia. Furar mais de um poço. É para ver como é um reservatório de petróleo. Como é que ele está ali, a rocha que tem petróleo. Antigamente, no reservatório só quem trabalhava eram geólogos e engenheiros. Geofísico não trabalhava nesse setor. Para me tirar do meio desse miolo aqui, para eu não poder ir de jeito nenhum para o campo, porque havia muito temor de eu ir por causa de greve.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Me colocaram nesse setor de reservatório. E eu trabalhei cinco meses lá. E foi muito bom. Muito bom porque não tinha trabalho. No meu primeiro dia de trabalho, uma sexta-feira, foi incrível. Porque cheguei de manhã, fui apresentado. Todo mundo, os colegas gostaram muito, porque eu tinha voltado para a companhia. Foi uma cena muito legal. Voltar a trabalhar era bom, sim. Pelo menos reintegrava. Recebi o atrasado, passei tudo para o sindicato. E aí eu passei o dia inteiro conversando com as pessoas na sala. As pessoas entrando na minha sala. E eram três pessoas que trabalhavam na sala. Alguém esqueceu uma impressora Epson ligada. Isso foi na sexta, quando foi no sábado pegou fogo na sala. Na segunda-feira a minha sala tinha sido incendiada. E aí lá vai de novo confusão... Aí foram fazer, a Cipa fez lá e chegou à conclusão que era um estagiário que trabalhava conosco que era quem mexia com as impressoras. Que não foi atentado terrorista. Então essa foi assim.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO
Eu fui para uma sala. E o geofísico trabalha com um negócio chamado sessão sísmica. É um retrato da terra. E os geólogos não eram muito acostumados na época a trabalhar. E nós não tínhamos ferramentas. Eu só lia pelos livros que lá nos Estados Unidos o pessoal já trabalhava, já tinha reduções. E aí comecei a trabalhar com cópia reduzida. Com xerox mesmo. Eu pegava, uma sessão era desse tamanho, xerocava e fazia manualmente uma série de interpolações para ajudar. E com base nisso o geólogo descobriu um campo. Ampliou um campo de petróleo. E ele fez uma referência muito boa ao trabalho da gente. Eu fiquei muito orgulhoso. Porque significava que eu voltava à área técnica.
SINDIPETRO RIO GRANDE DO NORTE
DIRETORIA
Mas sempre tinha esse conflito entre a área técnica e a área sindical. A área técnica e a área sindical. Era comum isso, de ter ficado isso. Quando foi em abril de 90, no sindicato, uma pessoa que era liberada veio trabalhar em São Paulo. E o presidente do sindicato me chamou, o Olegário na época, para eu ser liberado. Depois de muita polêmica eu acabei indo. Cheguei em casa, disse para a mulher assim: “Vou ficar liberado pelo sindicato.” Ela disse: “Vai arrumar outra mulher.” Eu falei: “Não, deixa de besteira.”
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Aí eu entrei, fui liberado dia 20 de abril, 25 de abril para o sindicato. Quando foi em junho, eu fui demitido de novo. Porque veio o Collor, que tinha assumido a Presidência, e havia um projeto de demissão de trabalhadores na Petrobras.
GREVE
1990
E nós tiramos um slogan que era assim: “Não pagou, parou. Demitiu, ocupou.” E eu disse: “Olha, eu quero saber quem é...” Eu fui a uma reunião em Brasília, fui eu e esse amigo Chicão representando o Sindicato do Rio Grande do Norte. “Eu quero saber quem é que vai fazer isso. Porque se a gente votar e disser na imprensa que nós vamos fazer isso, eu acho que a gente tem que ter responsabilidade de conversar com os trabalhadores. E com a população. A população vai se preparar. Vai ser um negócio meio pesado.” E nós fizemos durante quase um mês o trabalho de ir em tudo. Vimos quais eram as turmas que iam estar embarcadas naquela época. E aí começou um conflito muito grande na empresa. O gerente na época começou a me impedir de chegar até os trabalhadores. Eu tinha um trabalho muito forte em Mossoró. Nas sondas e na produção. E o maior campo de produção em terra era o campo de Canto do Amaro. Cada um dos poços, são mil e poucos poços, bombeava para lá através de uns canos. E lá você pegava aquele óleo todinho e jogava para o Pólo de Guamaré, que fica a 110, 120 quilômetros de lá, e de lá ia para o navio para vir para a refinaria. Então é toda uma quantidade de dinheiro muito grande. Cinqüenta mil barris de petróleo, para a gente falar em números de hoje, a 30 dólares o barril, dá um milhão e 500 mil dólares. Ou seja, quatro milhões e 500 mil reais por dia. Então você parar um negócio desse, é um negócio assim que tem um impacto econômico, político, etc. E o governo Collor pegou e fez uma lista de 900 e poucas pessoas demitidas na Petrobras. Mesmo tendo um acordo assinado com os trabalhadores de que não haveria demissão coletiva ou demissão em massa. Isso desmoralizava completamente os sindicatos em nível nacional, e a gente resolveu entrar em greve. Mas só nós lá no Rio Grande do Norte ocupamos. Porque o sindicato era ainda mesclado - um setor pelego, que era esse setor medroso e tal, e o da CUT era Campinas, Paraná, Sergipe, Alagoas e Rio Grande do Norte. Mas mesmo da CUT só nós lá ocupamos. E foi uma operação muito difícil. Porque nós fizemos assembléias. Havia trabalhadores em dúvida. Mas havia a maioria a favor de ocupar. Só que quando nós ocupamos nós recebemos ameaça da polícia. Teve toda aquela luta sindical. A Petrobras requisitou o Exército lá de Mossoró. E eu fui conversar com o tenente. Eu disse para ele: “Olha, nós não temos arma. Nenhum de nós têm armas aqui e vocês têm armas. Sabe qual é o problema? Aqui tem gás, aqui tem óleo. Vocês não sabem onde tem. Nós sabemos onde tem. Então, se vocês atirarem nisso aqui, morremos todos. Então é preciso que eu tenha responsabilidade e você tenha responsabilidade. E você retira tropa daqui de perto.” E ele disse: “Você tem mais juízo do que os gerentes da Petrobras que mandaram eu invadir.” E tirou a tropa dele de perto. Nós ficamos quatro dias no meio do mato. Sem mídia, sem absolutamente nada. Aí começou a faltar água, faltar mantimentos, faltar tudo.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
E a partir daí tudo o que os peões fizeram nas sondas e tal, virou que eu fiz. E eu não fiz muita coisa também, não sou nenhum santo. Mas não foram muitas das coisas de que eu fui acusado. E eu tive contrato de trabalho suspenso. Com 39 acusações por parte da gerência da empresa. De toda sorte de acusações. Nas quais tinha uma que era verídica: que eu tinha ficado nas instalações da Companhia por quatro dias. O nosso advogado conseguiu derrubar 38 das 39, e essa eu disse para a juíza: “Eu fiquei lá. Porque tem fotos, tem gente e eu não vou mentir.” A juíza virou e disse: “Esta é suficiente para lhe dar a demissão.” E assim fez. A mais absurda das acusações era de que por exemplo, tem no meu processo um caso, até eu vou mandar esse processo para vocês... O Pólo de Guamaré fica a 120 quilômetros, 130 quilômetros de Mossoró, ou mais um pouco. Sei lá, 180. Eu às 8h15 estava batendo em um gerente lá em Mossoró e as 8h17 eu estava batendo noutro gerente lá, eu com esse pesinho bem pequeno. Eu pesava 165 quilos na época. Eu disse : “Nem o Flash, mesmo que tivesse aquela, voando, não tinha condições de chegar lá, né?” Então as acusações eram absurdas. Era um processo arquitetado, montado contra para poder caracterizar aquilo. E de que eu tentei seqüestrar. Que botei revólver na cabeça dos outros. Que tentei matar um cara com Baygon. Essa aliás é a maior. Inclusive esse rapaz é falecido. Que ele estava em um container da Petrobras, em um trailer daqueles. E ele não queria fazer a greve e se trancou. Eu peguei um Baygon, sabendo que ele era alérgico a Baygon. Imagina, eu ia saber disso? Se eu soubesse tinha dado Baygon antes para ele. Aí botei no ar condicionado, para ele ficar respirando, pelo lado de fora. Coisas incríveis, simplesmente. Aí eu disse: “Rapaz, primeiro onde é que eu ia arrumar um Baygon?” Tinha que ter um Baygon, saber que eu ia aplicar, saber que ele ia ser contra a greve e arrumar um buraco lá no meio dos trailers para poder furar, para poder botar o Baygon. Imagina? E a gente com todo esse contencioso de polícia atrás.
GREVE
1990
A greve começou a se esvaziar. Foi uma derrota muito grande. Porque começou a faltar coisas. Em nível nacional o pessoal não entrava em greve e só nós íamos ficando. Primeiro dia, 400 trabalhadores. Segundo dia, 300. Foi esvaziando, e antes de esvaziar eu negociei. Isso era 1990. A negociação foi que eles não demitiam mais ninguém da lista, não demitiam ninguém da participação da greve e nós não entregávamos as listas da greve. E a Petrobras lotava cinco ônibus para tirar os trabalhadores de lá. Na verdade não enchia de gente nem um, mas nós pedimos cinco. E mandamos cinco ônibus para cinco lugares diferentes e não entrou ninguém no ônibus. E quando a Petrobras foi atrás ver, não tinha nenhum trabalhador dentro dos ônibus. Era só um álibi para a gente poder lotar os trabalhadores por outros lugares para ela não saber quem eram. E isso foi assim, foi muito marcante. Porque eu estabeleci relações pessoais.
RELAÇÕES DE TRABALHO
As relações pessoais que eu tenho com quem ocupou são muito grandes. E me deu uma projeção em nível de movimento sindical de petróleo, que eu sabia fazer ocupação. Que eu enfrentava os dirigentes da Petrobras. E eu vim para o comando nacional dos petroleiros então. E aí nas negociações sindicais eu estava na mesa de negociação. Acho que melhorou muito a relação entre trabalhadores e empresa também por causa disso. Todo pioneirismo tem seu preço. A gente teve esse problema de ser duas vezes demitido. De não ser compreendido muitas vezes pelas ações da gente. De arrumar alguns desafetos. Mas eu arrumei mais amigos do que inimigos. Isso pelo menos é bom. Mas estabelecemos muitas relações de respeito com a direção da Petrobras. Eu sempre fui muito duro nas negociações. Tanto eu era duro na época das negociações pela Petrobras quando eu era fiscal, quanto pelos trabalhadores. Eu acho que quem você está representando, o próprio nome está dizendo. Você é alguém para quem dão uma procuração. Alguém lhe outorga um poder e você tem que representar da melhor maneira possível. Como vocês estão trabalhando aqui, com certeza da melhor maneira possível, outorgado por alguém. Então eu sempre tive muito isso. Eu fazia o melhor de mim. Dava o melhor de mim para que a gente pudesse modificar as relações. Eram muito pesadas, as relações no campo principalmente. Nas plataformas, nas sondas. Havia uma relação muito autoritária, muito tacanha. De desrespeito mesmo ao trabalhador. Isso passava, por exemplo, aqui no Rio, o trabalhador daqui sequer imaginava como era que o mesmo trabalhador da Petrobras ganhava um salário menor que ele que trabalhava. Isso abriu os olhos da direção da companhia. Teve um presidente da Petrobras, aliás uma pessoa muito interessante, chamava-se Armando Guedes. Ele esteve lá e ele disse: “Eu gosto muito de ver a maneira...” Isso era em 91. Eu era o vice-presidente do sindicato. O presidente da Petrobras foi lá conversar sobre o desenvolvimento da Petrobras. Convidou o sindicato. E eu ia representando o sindicato. E fui barrado na porta da empresa. Por sorte, o presidente - era na hora que o presidente ia chegando. Eu olhei para ele e falei: “Presidente, como é que o senhor me manda um convite, e eu venho enquanto entidade aqui assistir sua palestra e sou barrado?” Isso é ruim para o dirigente que está lá, porque se choca com ele, mas por outro lado por que é que ele toma uma medida daquela que obriga você a entrar em choque? Ele imediatamente mandou me chamar. Então acho que essa situação, ela levou a Petrobras pelas vias mais difíceis a ter uma outra relação com seus funcionários. A companhia amadureceu muito. Todos nós. O sindicato, os trabalhadores, a gerência da companhia amadureceu muito. Porque ela foi uma relação de conflito e consenso sempre perseguido. Em 93 nós conseguimos, e acho que a gerência de Recursos Humanos da Petrobras foi muito feliz, quando nós conseguimos reintegrar quase todos os demitidos da Petrobras. Eu participei dessa comissão.
SINDIPETRO RIO GRANDE DO NORTE
REINTEGRAÇÃO DOS DEMITIDOS
Conseguimos reintegrar todos, menos eu. Era engraçado, quando botava o meu nome a mesa de negociação abria porque eles não aceitavam que eu voltasse de jeito nenhum. Eu disse: “Não tem problema nenhum. Tira meu nome, mas nós negociamos os outros pais de família. Porque se vocês têm consenso de negociar os outros, retira o nome de 12 dirigentes sindicais.” E assim foi. Em 93 o Itamar Franco fez uma lei que anistiava os demitidos do Collor. E o pessoal todo voltou a trabalhar. Havia casos, é verdade isso, a direção da companhia tinha casos de gente que devia ter sido demitida. Mas por que ela não demitiu antes? Por que ela esperou um momento político daqueles que o Collor moveu para demitir? E esse argumento foi muito bom. Foi muito válido. Nós negociamos caso a caso. Tivemos muito critério e reintegramos as pessoas. Você começa a ter visão dos dois lados. Também, porque aí você... Eu não esqueço de um cara em Mossoró que era ligado ao movimento sindical. E o Domingos, que hoje é chefe de Recursos Humanos lá no Rio Grande do Norte, disse assim: “Mas você sabe qual é a ficha desse cara?” Eu disse: “Não.” Ele, “vruuu”, puxou, era desse tamanho assim. Aí eu comecei a ler e tal e disse: “Não, isso é mentira. Você quer ver? Quando eu chegar em Natal vou perguntar para ele.” Aí eu fui direto na casa dele, porque eu sabia onde ele morava. Aí eu disse: “Rapaz, eu tive umas informações horríveis sobre você. Pá, pá, pá.” Tudo era verdade. Que ele tinha roubado não sei o quê, que tinha tentado pegar uma peça. Que tinha... Então quer dizer, era. A gente começa a ter uma outra visão das coisas. Do processo. Não é bem assim. Então teve um período muito tenso.
FEDERAÇÃO
Nessa época eu vim para a direção da Federação. 92. Eu vim para cá, estava muito chateado com o sindicato. Perdi a eleição do sindicato lá, fui candidato a presidente e perdi. E vim para o Rio. Vim morar no Rio, e assim fui eu que escrevi o primeiro estatuto da FUP. O anteprojeto da Federação dos Petroleiros. É assim minha obra de arte. Então eu não escrevi nenhum livro, mas escrevi um estatuto. E nós fomos negociar com a Petrobras os primórdios daquela greve de 95. A que eu tive oportunidade de viajar, conhecer mais a parte de refinaria. De conhecer mais a Bacia de Campos, os trabalhadores. Material. E conversar mesmo com muita gente.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
E quando chegou aqui em 93, o superintendente de Recursos Humanos da Petrobras era o Clotário Cardoso. Aquele mesmo que tinha sido meu superintendente quando eu entrei na companhia. Por ironia do destino nós começamos a discutir os acordos coletivos com ele. Em 94 o Fernando Henrique ganha a eleição de Lula ainda no primeiro turno, e o presidente Itamar Franco tinha uma aprovação enorme. E eu tinha sido julgado e condenado para a demissão lá em Natal. E nós estávamos recorrendo. O julgamento foi um horror. Eu nem fui no julgamento porque eu já sabia que ia ser condenado. Os petroleiros em nível nacional tiraram uma campanha contra o TST, contra o Tribunal. E o pessoal inventou de fazer um caixão com o nome do TST, para enterrar o TST. E nós fomos fazer uma manifestação. Eu sinceramente, para falar a verdade, não sabia desse caixão. Mas fomos fazer uma manifestação na frente da companhia de enterro do TST. Também eu não sabia que o meu julgamento ia ser dois dias depois. Mas eu estava em cima do carro de som falando: “Que os petroleiros estamos aqui e tal.” De repente o pessoal aparece com o caixão e nós descemos e o pessoal enterra. E aparece na primeira foto do jornal o pessoal enterrando o Tribunal. E eu com o microfone na mão. O meu advogado ficou pau da vida. Disse: “Olha, depois de amanhã a condenação vai ser unânime.” E foi. Foi sete a zero. Eu nem fui lá. Quando eu olhei no dia seguinte a primeira página do “Diário de Natal” eu disse: “Vixe Maria. Os juízes vão ver isso aqui, eles vão ficar...” Todas as acusações que dizem do cara... O cara enterra até o Tribunal? E assim ficou. Ficou muito ruim. Foi sete a zero. Quando ele me avisou pelo telefone: “Ó, foi aquilo...” Ele já preparou logo o espírito de que a gente ia perder. Mas como foi por unanimidade, não tinha recurso. Então a saída foi entrar com vista no processo. Recurso de revista. Aquelas medidas jurídicas. Mas o meu processo não avançava.
FEDERAÇÃO
FUNDAÇÃO
Aí foi que eu resolvi vir para a FUP, receber o salário do sindicato e vir para cá. A FUP é a Federação Única dos Petroleiros. Não era criada ainda. Na verdade a gente criou a FUP aqui em 93. Em 92 nós viemos para cá. Houve um Congresso dos trabalhadores em Cubatão que criou uma comissão pró-federação. Que eu era da comissão. E depois em 93 nós conseguimos fazer o Congresso da Federação e depois a unificação dela em 94. E o Spis era o presidente, era o coordenador geral. E eu fui tesoureiro da FUP durante esses dois anos. E em 94 a Petrobras já estava consolidando esse patamar dela de produção, principalmente na Bacia de Campos. E o contato com o refino levava a gente a ir em várias. Eu fui a várias refinarias, nos sindicatos. Fui nas várias assembléias. Conheci São Paulo, o interior de São Paulo com os sindicatos. Aqui Duque de Caxias, Angra. Então me possibilitou ter essa visão mais de conjunto. O Sul. E conhecer mais os colegas dirigentes sindicais.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
A direção da Petrobras, a gerência lá de Natal, fez uma bobagem no meu julgamento. Ela fez um comunicado à empresa que era assim: “Ocupação demite Geraldão.” E mandou um comunicado a todo mundo do julgamento do Tribunal. Na verdade o Tribunal não mandou me demitir. E aí nós entramos com o agravo para a juíza dar uma advertência para o superintendente. Porque ela disse assim: “As acusações...” Porque isso é um processo, o juiz não manda demitir na sentença. Permitia que ele demitisse com base na sentença. Mas era diferente. E o cara saiu meio desmoralizado com esse negócio, mas ao mesmo tempo ele fez o meu nome. Porque saiu em um comunicado oficial um negócio desse tipo, foi uma estupidez. E o pessoal, todo mundo que não me conhecia começou a querer me conhecer. Quem era eu, que ocupava as empresas e tal. E eu, quando eu vim para cá, vinha muito com essa pecha de que tudo era invasão, tudo era porrada. Se bem que tinha uma imagem também da minha campanha eleitoral...
MILITÂNCIA POLÍTICA
Saí de Natal para o Rio de Janeiro em 93. Para morar aqui no Rio. Porque eu fui candidato a deputado, e cada vez que eu aparecia na mídia o produtor do programa dizia que eu perdia 500 votos por aparição. Porque a campanha era muito radical. Isso foi em 90. Quando o Collor ganhou a eleição, nós estávamos muito bravos com o Collor. E o Lula foi fazer um comício lá em Natal, e eu disse: “O Collor pensa que ele vai nos intimidar. Está chamando o Lula...” Porque ele disse em uma frase que chamava o Lula para a briga porque ele tinha aquilo roxo. Chamava o PT para a briga. E eu encerrei o comício gesticulando bem: “Se ele quer briga nós vamos para a porrada com ele.” Isso ficou repetindo na televisão várias vezes no meu horário eleitoral. E o cara dizia: “Isso é horrível, isso é horrível. Tira isso do ar. Tira isso do ar.” E nós brigávamos para manter no ar. Então criou uma imagem muito mais radical do que eu sou. Não que eu seja nenhum santo. Mas também não sou tão radical quanto a imagem que muita gente tem de mim ainda. Então o que aconteceu: quando eu vim para cá distensionou, mesmo para as pessoas que estavam aqui na direção da Petrobras. Porque na verdade, dos dirigentes sindicais que havia, eu sempre acreditei muito que você tem que pressionar para negociar. Porque o objetivo do sindicato é negociar. O objetivo do sindicato não é o confronto, é a negociação. Se você faz o confronto, é o confronto para a negociação. Então essa situação ela um pouco que contrabalançava do outro lado da empresa.
GREVE
1995
Só que teve uma coisa que marcou muito a minha vida, e eu acho que a vida do país. E que um dia a História ainda vai repor com toda a riqueza isso. Foi a greve dos petroleiros em 95. Eu e o Spis, nós éramos os cabeças daquela greve. Com todo o resto do pessoal, nós fomos as figuras que mais nos expusemos. E aquilo ali foi uma decepção muito grande para mim. Porque é uma página muito feia da história do país. Assim como teve a greve dos metalúrgicos, o fato deles invadirem lá, na época da ditadura eu acho que nesse período pós-democrático a coisa mais feia que se teve na República foi aquele julgamento na greve dos petroleiros. Nós fechamos um acordo. A empresa, a Petrobras não queria acordo nenhum. Nós entramos em greve. Vimos que a greve ia sucumbir e aí eu começo a romper com o radicalismo da Convergência também em função disso. Já era pró-PSTU. Eu tinha sido do PT. Eu ajudei a fundar o PT em 80 em Belém. Eu estive no Colégio Sion, mas não fiquei no colégio. Fiquei para o lado de fora porque só podiam passar algumas pessoas. Participar mesmo da fundação formal. Mas eu era do PT, desde 80 até a fundação do PSTU. Aí tinha ido para a fundação do PSTU e era dirigente nacional do PSTU. Mas a greve de 95, ela começou - na verdade foi um período enorme. Ela começou em 94. O Fernando Henrique ganha a eleição e nós vimos que a categoria ia para o buraco. E por intervenção direta do Spis e do Santarosa - e eles tinham muito medo porque eu era da oposição a eles -, eu autorizei que eles fizessem isso. Nós tivemos contato com o Vicentinho. E o Vicentinho conseguiu abrir uma negociação com o Itamar, que estava em Juiz de Fora. E nós fomos para lá. Passamos antes em Duque de Caxias. Levamos lá a assembléia. Quando nós chegamos lá, o governo se comprometia a não ter nenhuma demissão. A repetir o acordo coletivo que era anterior, a reintegrar esses dirigentes sindicais que a Petrobras não queria de jeito nenhum, entre os quais eu. E dava uma proposta econômica. Isso foi assinado pelo senhor Ciro Gomes. Era Ciro Gomes, Marcelo Pimentel, Mauro Durante, Henrique Hargreaves e o Itamar. Do nosso lado era Vicentinho, Spis, Maurício, eu e mais um outro companheiro de que não me lembro. E nós saímos de lá, e o presidente Itamar disse assim: “Nós poderíamos almoçar juntos?” “Poderíamos, sem problema.” No meio lá, ele disse: “Vamos fazer um brinde.” Quando ele disse: “Vamos fazer um brinde”, a imprensa entrou. Quer dizer, já estava tudo combinado. E nós fizemos um brinde. Isso pegou muito mal para a categoria. Ao invés de ver o acordo, as pessoas viram o símbolo dele, que os jornais estamparam. O acordo, tem uma foto célebre que era do Jornal do Brasil: “Petroleiros fecham acordo com a Petrobras.” Eu rindo e o Ciro Gomes rindo assim. Quer dizer, o pessoal não gostou muito: lá dentro, o chope; aqui, o cara rindo. E a gente não conseguia explicar que nós tínhamos conseguido uma vitória no marco do retrocesso. Aí nós viemos conversar com a Petrobras. Viemos conversar com a Petrobras, o Clotário Cardoso sentou e nós recebemos uma informação de que a Petrobras tinha um valor – recebemos na hora, na mesa de negociação – tinha um valor x disponível para dar de reajuste. E sentamos eu, Spis, Clotário e o Lima, que era superintendente até um dia desses, hoje é diretor da Petrobras. E começamos a trabalhar os números. O Lima levantou o número e eu falei: “Por que não 12,5 por cento? Que dá mais ou menos multiplicando o salário médio.” Assim de cabeça, eu fiz as contas rapidamente. E essa era uma proposta para a categoria. A Petrobras estava satisfeita, e nós estávamos satisfeitos. E conseguimos levantar o número. E infelizmente no dia seguinte “O Globo” acabou com o acordo. O jornal “O Globo” publicou um acordo que dava vantagem mentirosa. Aquela Ana Paula Padrão, que hoje é jornalista, dizendo que o petroleiro recebia férias duas vezes, décimo-terceiro. Ela arrumou um escândalo na televisão. Fizeram toda uma campanha que levou a direção da Petrobras a recuar do acordo. O presidente Itamar não teve condições de estabelecer à força.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Eu, para poder voltar, tive que voltar para Natal pela minha conta, meu bolso, para fechar um acordo lá. E quando chegou lá, o superintendente não queria fechar um acordo. Eu: “Rapaz, vocês tem ordem para fechar. Vocês têm ordem para fechar. O Fernando Henrique vai tomar posse.” E eu disse: “O Fernando Henrique toma posse e eu não volto. Então vou ficar, a única pessoa a ficar de fora sou eu.” Aí radicalizei. Entrei na sala dele e falei: “Olha, eu vou passar o Natal aqui. Eu quero passar o Natal com a minha família, você quer passar com a sua. E você vai ter dinheiro no bolso, e eu não. Então não dá certo isso. Nós vamos sentar aqui e você vai assinar. Está aqui, olha. Tem um acordo assinado pelo presidente.” “Eu não vou assinar.” “Vai assinar.” Discutimos muito duro e ele acabou assinando. E eu assinei um acordo rebaixado. Mais rebaixado, tanto que esse acordo que eu assinei não me dava os níveis que eu tinha direito, não me dava nada. Hoje ainda eu sou prejudicado por causa disso, porque eu estou no nível 1 na Petrobras, com 17 anos. Enquanto todos os dirigentes sindicais foram reintegrados, eu sei o que é isso. Perde muito, você perde muito. E perde ao longo da sua vida porque você fica com o salário lá atrás congelado.
GREVE
1994 / 1995
A Ana Paula Padrão fez a reportagem conosco, depois na época da greve nós decidimos não dar mais entrevista para a Globo. Foi uma ousadia dos petroleiros naquela época, porque ela fazia as coisas serem deturpadas. O que é que aconteceu? Nós voltamos à mesa de negociação já com os ministros. Depois de 94. A greve foi em outubro de 94. Quando foi em novembro nós fomos a Brasília e fizemos uma reunião marcando uma greve à meia-noite se os ministros não assinassem o acordo. O Marcelo Pimentel disse que ia assinar, fugiu. E o Delcídio Gomes, depois de muito choque inclusive comigo, ele assinou o acordo, e nós tínhamos suspendido a greve. Aí o Rennó disse que não ia cumprir. O Rennó era presidente da Petrobras, disse que não ia cumprir o acordo. E nós então começamos um processo de assembléias, a gente a explicar o acordo. E fomos a primeira categoria que teve a coragem de fazer greve no governo Fernando Henrique. Aquela greve assim foi uma pá de cal. Porque eu, particularmente, no início era contra a greve, depois eu disse que a categoria decidia. E a categoria foi muito firme. Foi uma greve que comoveu o país. E então fui a Cubatão naquela época da ocupação. Quando o Exército ocupou as refinarias. A gente sofreu muita responsabilidade de saber que a coisa ia perder, mas nós tínhamos que estar à frente da categoria. Estar um pouco à frente do nosso tempo. Então o julgamento do dia 10 de maio do TST é uma vergonha. Porque a Petrobras queria nos dar uma coisa. Você está em uma negociação entre duas partes. A Petrobras nos dá uma coisa, você pede outra a mais e o Tribunal... Digamos, a Petrobras dá 10, e o sindicato pede 20. O Tribunal julga que tem que ser 5? Quer dizer, é uma vergonha. Como é que você é intermediário? O nome já está dizendo. Você é um árbitro para intermediar. Você não pode dar a menos. Mas foi uma vergonha o julgamento. O papel que o ministro Almir Pazzianoto na época fez foi um papel absolutamente injusto. E era uma pessoa pelas quais eu pessoalmente tinha muita admiração. Foi advogado do sindicato. A gente acreditava que ele não ia ser a nosso favor, mas pelo menos não ia ser tão injusto. E o Tribunal julgou assim as cláusulas em uma velocidade enorme. Teve uma determinada hora que eu me levantei, eu era representante dos trabalhadores. Eu e o Spis. Levantei e fui embora dizendo: “Não, isso aí é uma presepada.” E assim me marcou muito. Porque nós tínhamos vencido a negociação. Nós conseguimos as coisas com o negociador. Nós conseguimos convencer o negociador pela pressão. Era melhor para a Petrobras que os trabalhadores não tivessem entrado em greve. Era melhor para os trabalhadores que não fosse, mas para o governo não era. O governo queria o confronto com o movimento sindical. E no meio da greve o superintendente Clotário, que era um grande negociador - não que ele fosse a nosso favor, ele teve várias medidas contra nós -, mas ele no meio da greve tem um enfarto e falece. Então foi um negócio muito traumático.
MILITÂNCIA
Em 95, aquela greve foi uma coisa que marcou muito a minha vida, porque a partir dali eu passei a desacreditar durante muito tempo nesse país. Eu achava que assim a saída coletiva, a saída de um povo não valia a pena. Não era possível... Porque as elites não queriam, e os tribunais eram absolutamente extensões do Executivo. Aí eu resolvi que não ia mais ser dirigente sindical. Ia só cumprir meu mandato aqui, e a corrente que eu representava na época fez um balanço de que a greve foi traída. Que a direção traiu a greve. Eu não concordava em absoluto. Essa corrente era o PSTU na época.
GREVE
1995
E o Vicentinho tinha dado todo apoio à nossa greve. Inclusive o Zé Maria, que é do PSTU, que foi candidato agora a presidente pelo PSTU, tinha ficado na sede da FUP durante 30 dias. Nós ficamos 30 dias em Brasília. E nós divergíamos muito no movimento sindical, mas a crise, a maneira, a responsabilidade que nos foi colocada nos fez muita irmandade. Nos fez ficar mais unidos. Porque a esquerda tem esse negócio de só se unir na porrada, na hora que batem nela. Não só na prisão. Mas a gente chegou a ter um mandato de prisão contra toda a direção da FUP. E o Spis foi muito feliz na gestão. Então eu acho que, ao contrário, a greve teve o apoio da FUP. Ela não foi, não teve sucesso porque a classe trabalhadora brasileira estava recuada e não sabia como reagir. Hoje, muito pelo contrário, eu estou muito esperançoso. Porque o que eu achava era que nós teríamos um país que vinha para uma democracia plena. Então eu achava que o movimento sindical aprendia a fazer suas greves. Por exemplo, eu do mesmo jeito, o meu último papel sindical assim que eu cumpri nesses últimos anos foi eu indo para Cubatão para acabar com a greve. Parece incrível que eu tinha sido o cara que tinha ajudado Cubatão - e a peãozada tinha muito isso, que era o cara que sabia ocupar. Que sabia fazer tudo. Eu fui para Cubatão para acabar com a greve. Porque os trabalhadores não queriam sair da greve. Então nós passamos uma noite inteira fazendo assembléias. Eu peguei um avião, fui lá. E tenho muitos amigos. Foi marcante o pessoal... O Exército tinha deixado um pessoal na frente. Saíram, me pegaram e voltaram, entraram dentro da refinaria. Cinqüenta, 60 peões me botaram de fora para dentro. Nós entramos. Eu fui conversar com o Averaldo, com o pessoal de lá. E passamos a noite conversando com os trabalhadores. Dizendo que tinha acabado. Que não adiantava mais. Que a gente tinha lutado. E assim, muita gente chorando. E a gente dizendo que a luta continuava. Mas internamente eu dizia: “Não continuo nada. Porque esse país não vale a pena.” Nós encerramos a greve. Foi muito bonito o encerramento da greve. E quando eu chego no PSTU, na sede do PSTU em São Paulo, o balanço é que a greve foi traída. Só retomei a esperança de que o país é viável com a eleição do Lula.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Aí eu volto para Natal. Peguei e disse: “Olha, eu não quero ser mais dirigente sindical, não quero saber de nada. Vou voltar a trabalhar na Petrobras.” Porque não tinha projetos na minha opinião. E eu estava errado, na verdade. Eu acho que o projeto sindical tem validade. E também acho que o país tem validade. Agora, apenas havia um desencanto muito grande. Porque eu achava e acho que qualquer um, mesmo sendo do PT, tinha uma esperança de que o governo Fernando Henrique fosse um pouco diferente do que ele foi. Não fosse uma coisa tão conservadora, tão tacanha e tão nociva para o país quanto vai mostrar no futuro que foi. Então a gente ficou, eu achava assim. Voltei para trabalhar. Voltei para a peãozada. Voltei assim. E todo mundo me perguntava sobre sindicato, sobre não sei o quê. E eu digo: “Não, eu quero ficar no meu lugar. Quero ficar trabalhando no meu lugar.”
MILITÂNCIA POLÍTICA
E quando foi em 98, teve uma eleição para prefeito em Natal. E uma companheira nossa, que era professora, quase ganha a eleição. Não ganhou a eleição por 3% dos votos. E eu ainda era do PSTU. E o PSTU ia apoiar, depois a direção nacional mandou não apoiar. Eu peguei: “Então eu vou sair desse negócio.” Mandei uma carta me desfiliando. E comecei a entrar no PT. E tinha muitos amigos, tinha muita gente. Novamente PT porque eu achava que ainda era o que podia ter de solução, como de fato é. E nós começamos a nos envolver. Veio a campanha eleitoral de 2000. A de 96, depois a de 98 o Lula perde de novo. E em 2000 então eu fui o coordenador da campanha municipal. Fui chamado - o deputado hoje lá, que era vereador na época -, o Fernando Mineiro me chamou e disse: “Por que é que não participa da coordenação?” Eu disse: “Não, não quero coordenar nada.” Aí, quando nós chegamos lá, havia tanta debilidade no partido de alguém que organizasse, de alguém que tivesse condições de distribuir as tarefas. E eu fui o coordenador de mobilização. Da campanha da Fátima. Nós estamos falando em 2000. Quando foi em 2002, em 2001, por esse trabalho, eu ainda trabalhando na Petrobras, um grupo de companheiros do PT lançou a minha pré-candidatura a governador do Estado. E na pesquisa do Ibope eu fiquei com 11% dos votos. E achei muito bom. Não era conhecido. E mesmo sendo desconhecido, como era candidato do PT, tinha 11%, mais pelo peso do PT, claro. E aí participei de alguns debates. Acho que isso me amadureceu muito, porque tive o contato com empresários de uma outra forma. Não em uma mesa de negociação. Mas fazendo propostas para eles para o desenvolvimento do Estado, de conhecimento de Estado. De ter uma outra noção da economia e de como ela se comportava. De relações de outros atores. E do papel da Petrobras.
IMAGENS DA PETROBRAS
A Petrobras é muito marcante na minha vida por causa disso. Porque o papel que a Petrobras tem é muito maior do que os números. Somente expressar em barril de petróleo ou em dinheiro. A Petrobras tem um papel fundamental para o país. De orgulho. Por exemplo, o fato da gente ser da Petrobras quando eu ia na FIERN falar, e de ser um candidato do PT que era da Petrobras, dava muito crédito. As pessoas têm uma credibilidade muito grande pela marca Petrobras. A raiz disso é a campanha do “Petróleo é Nosso”, mas tem uma coisa fundamental que eu acho que tem a ver com a ditadura militar. Parece incrível isso. Que acho que a Petrobras foi o que deu certo na ditadura.
EMPRESA
O fato da ditadura ter investido bastante na Petrobras, na Embraer. Depois eles privatizaram a Embraer. Não conseguiram privatizar a Petrobras por causa dos sindicatos, da sociedade e da campanha que retomou a campanha do petróleo. Mas acho que, por exemplo, a maneira como eles conduziram, com todos os seus erros, com todas as coisas, eles conseguiram, nós conseguimos construir uma empresa. É a única empresa que foi construída dessa maneira no mundo. Ela tem a ver com a campanha, com o fato do povo ter colocado, mas tem a ver com esse nacionalismo que os militares colocaram na Petrobras.
IMAGENS DA PETROBRAS
Daqui para frente eu espero que continue isso. Quer dizer, que a Petrobras seja essa cara de Brasil. Eu acho que isso que dá essa marca, o próprio símbolo da empresa ser BR. Ser verde e amarelo. Eu acho isso muito importante. As pessoas não têm a Petrobras como uma empresa dos acionistas. Elas têm a Petrobras como uma empresa nossa. Tanto os trabalhadores como o povo. Há dois símbolos no Brasil muito fortes. Eu acho que um é a Petrobras, e outro é a Caixa Econômica. Se você vai abrir uma caderneta de poupança, você abre na Caixa.
RELAÇÕES COM O GOVERNO
A Petrobras, ela foi sujeita, eu acho que agora nós vamos entrar em uma fase de transição porque não são fáceis essas coisas. O governo Fernando Henrique transformou a Petrobras em uma empresa monetarista. É uma empresa que tem uma vocação nacional. Independente de estar à esquerda, à direita. Eu acho que a Petrobras é uma empresa que passa governo. Por causa disso, porque ela é um fator de integração do Brasil. Ela tem a presença em todo o Brasil. Ela é uma empresa que, por exemplo, o fato do time de maior torcida do Brasil ter o marketing da Petrobras é fundamental. Acho que a marca da Petrobras associada à marca do Flamengo - eu sou antiflamenguista, mas tem o nome da Petrobras lá.
IMAGENS DA PETROBRAS
Então foi muito importante, assim, o acúmulo que a empresa me deu - tanto quando eu fui, no tempo que trabalhei lá e que trabalho ainda. E como no movimento sindical, dar credibilidade. Os petroleiros têm credibilidade por causa da Petrobras também. Porque são dirigentes da Petrobras. A maior companhia de petróleo.
MILITÂNCIA POLÍTICA
Bom, quanto à coordenação da campanha do Lula... Aí eu venho e fui pré-candidato, retiro a candidatura e fui coordenador da campanha do Lula lá no Rio Grande do Norte. Daí tive contato com bastante gente da direção nacional. Em um outro prisma, porque tinha antes mais pelo PSTU. Era o prisma de cá. Ajudei a elaborar o programa de governo nosso lá. E, fundamentalmente, começo a ter assim essa visão de desenvolvimento com outro parâmetro. Como fator humano que é fundamental. Por isso eu acho que a presença da companhia. E essa campanha do Lula foi uma coisa arrebatadora. Me deu muita esperança de ver, por exemplo, ficava no comitê. O dia que em eu fui a São Paulo, eu trouxe 10 mil estrelinhas do PT; demorou duas horas e acabaram as 10 mil estrelinhas. Então a gente fez o comício do Lula lá em Natal. Como a gente usa: “Foi um desmantelo.” Foi um negócio, uma coisa de louco. As caravanas vindo do interior. E a gente sabendo de tudo aquilo. E assim dá para escrever um livro do que foi a coordenação da campanha, entendeu? Para mim foi um momento muito significativo. Nós estávamos sem dinheiro para fazer a campanha. Eu era o coordenador. Sabia que nós não tínhamos dinheiro. E as pessoas achavam que nós tínhamos dinheiro, que a campanha estava quase ganha. Aquele negócio. E nós chegamos no primeiro turno e não tínhamos advogados. Porque nós não tínhamos dinheiro para pagar os advogados. Então eu disse assim: “Nós precisamos estar presentes, nossa campanha em todas as urnas. Nós vamos às universidades.” É onde eu fui, na minha origem. E aí nós bolamos essa idéia. A gente fazia o seguinte: a gente passava nas salas do pessoal de Direito e dizia para eles assim: “Nós somos da frente, nós somos da coordenação da campanha Lula presidente. Nós queremos que você trabalhe conosco. Então nós estamos convocando todos os estudantes a irem de paletó e gravata, aqueles que tiverem paletó e gravata. Quem não tiver, ir de camisa de manga comprida que nós vamos dar uma credencial de assessor jurídico da campanha do Lula. E as pessoas vão ficar nas sessões.” Isso era uma maneira que nós tínhamos de contrapor as outras campanhas. E foi um momento maravilhoso.
EXPECTATIVAS
Os petroleiros, enquanto categoria, acho que esperam muito da Justiça. O governo vai ser muito difícil de fazer. A Petrobras tem, os petroleiros não vou dizer que ganham bem, mas a média salarial deles não é ruim. Mas ainda há muita injustiça dentro da empresa. Por exemplo, você pode não ganhar nada, mas se o do seu lado trabalhou e também não ganhou nada, eu acho que você tem aquele sentimento de coletividade. Agora, se você não ganhou nada, e o que está do lado ganhou 70 mil reais de bônus, o sentimento de injustiça ele é natural. Eu espero que a gente tenha coragem.
EMPRESA
A Petrobras é uma empresa pioneira, é uma empresa de ousadia. Todas as marcas da Petrobras são de ousadia. Fundou-se uma empresa porque o povo foi à rua. E nós fundamos a Petrobras. Nós fomos procurar petróleo onde ninguém gostaria de procurar no mundo. Nós fomos procurar no mar. Na Amazônia. Em condições sempre muito difíceis. Acho que essa marca de pioneirismo da Petrobras, a Petrobras nos últimos anos tem deixado para poder administrar o negócio, que é bom, sem perder a administração do negócio. Mas nós precisamos não só na Bacia de Campos e no resto do Brasil, ir procurar o petróleo nas dificuldades maiores. Significa investir e perder na exploração, nas coisas novas, sem perder a modernidade. Então eu acho que primeiro esse vai ser o governo da auto-suficiência. Vai ser um governo muito importante para nós. Vai ser talvez um dos dias mais importantes da história desse país o dia que um país - que em 1930 diziam que não tinha petróleo - chegar um dia a ter a auto-suficiência na principal fonte de energia do mundo. Então é um dia para ser comemorado nesse governo. Então eu acho que a categoria quer ver isso, e quer ver a empresa voltar a ter essa relação com a sociedade mais forte. Que tinha com as universidades, com o Centro de Pesquisa treinando seus trabalhadores. Eu tenho muita esperança.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO
Hoje eu trabalho no Centro de Processamento de Dados Sísmicos lá em Natal. Se as linhas sísmicas saem, o cara produz uma fita e depois a gente vai pegar a fotografia e ajustar. É como se ele faz ali a imagem, aí ele tem que pegar as lentes e focar a imagem para ficar direitinha. Esse raio-x nem sempre ele vem bonitinho. Então o meu trabalho é pegar esses dados aí e ajustar. Eu faço parte do arquivamento de dados. Que hoje tem a Agência Nacional de Petróleo, que você tem que mandar todos os dados bonitinhos para ela. Tem que estar tudo bem formatado. E assim, do ponto de vista do trabalho também, eu me dediquei muito a organizar. Estava muito desorganizado. Nós fomos o único distrito que no Brasil entregou todos os dados para a ANP. Os outros distritos da Petrobras ainda não entregaram. E eu coordenei esse projeto porque era impossível. Segundo todo mundo lá, era impossível. E nós conseguimos fazer o impossível ser possível. Nós montamos uma equipe de cinco pessoas, e eu acredito muito no trabalho da equipe. Por isso eu acho que tem que ter a valorização das pessoas com os seus potenciais. Porque aí a gente consegue transformar o impossível em possível.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Politicamente hoje eu estou na direção do PT lá. Na direção do PT estadual e municipal. Mas estou sendo chamado provavelmente para vir ocupar um cargo de gerência em Macaé. Não sei se vou. Eu estou aproveitando que tinha uma reunião essa semana, eu vou ver hoje ou amanhã se a gente faz. E é nova mudança na vida. Sair de um setor e ir para outras coisas. Mas eu acho que, como eu tenho muita esperança de que esse país, assim, o período que eu fiquei deseperançoso serviu só para a gente refletir e ver o quanto esse país é bonito e importante. E a importância da companhia nele.
IMAGENS DA PETROBRAS
Acho que a companhia vai, nesse novo milênio, ela vai procurar. Você vê o que foi o Proálcool. O Proálcool só foi Proálcool por causa da Petrobras. Essa que é a verdade, não foi por causa dos plantadores de cana - porque a Petrobras comprava o álcool. Eu tenho um sonho que eu ainda vou escrever e entregar para o presidente José Eduardo Dutra, que é a Petrobras tirar o biodiesel da mamona. E a gente poder plantar mamona no Nordeste inteirinho. Porque a mamona lá é mato. Então, se a gente conseguir tirar biodiesel dela, e a Petrobras comprar a produção do biodiesel, e você viabilizar que aquelas famílias que passam fome se alimentem e você poder ter isso. A Petrobras é capaz de fazer isso. Mudar totalmente a história do Brasil.
RELAÇÕES COM O GOVERNO
A Petrobras pode ter biodiesel. Porque, repara só, se nós conseguirmos fazer... Você extrai do caroço da mamona. Essa patente é de um colega do Centro. É uma patente da Petrobras. A Petrobras desenvolveu tirar óleo diesel do caroço da mamona. E o que falta para tocar isso? Precisa de um governo, precisa que você faça reforma agrária. Precisa que você organize a produção. Porque isso a Petrobras não pode fazer. A Petrobras pode comprar o óleo diesel. O óleo biodiesel extraído de lá. Ele não pode é fazer reforma agrária. Isso não é papel dela. Então eu acho que nós - para você ter uma idéia, cada hectare de mamona produzido direitinho gera diretamente dez empregos. Então, como a Petrobras vai precisar do óleo diesel, ela compra o óleo diesel de lá com minirrefinarias em cada um dos assentamentos. Então você teria como não só dar a terra para a pessoa, mas já ter a produção e já ter a compra da produção. Eu vou ver se eu consigo apresentar esse projeto ao presidente da República. Nós vamos tentar ver se apresentamos ao Dutra, ou então ao pessoal do Fome Zero. Nós tivemos uma reunião lá em Natal. Até foi na minha sala a reunião, porque o pessoal achava que eu era muito ligado ao Graziano. Eu tinha conhecimento dele, mas da coordenação da campanha. E a gente quer ver se a gente apresenta esse projeto para o presidente Dutra, e o Dutra leva para o Lula para a gente... Porque aí você muda aquela cara assistencialista. Você faz esse povo produzir. Então eu acho que nós temos condição de fazer isso - e aí mais uma vez o papel, a única empresa que é capaz de fazer isso é a Petrobras. Só a Petrobras tem pujança para ter, para poder arriscar, para poder pegar, para ir lá. E poder confiar no povo como ela confiou. Você vê que a Petrobras, ela teve... Vieram os técnicos americanos, mas ela é uma empresa nacional. Ela é uma empresa dos técnicos nacionais. O Proálcool deu certo quando a Petrobras entrou, quando você pôde acreditar. Antes dos lobbies do álcool..E a Petrobras tem credibilidade para fazer isso. Eu tenho muita confiança. Eu acho que nós vamos viver com todas as turbulências essa nova gerência da Petrobras. Essa nova administração e o novo governo, eles têm como a longo prazo começar. Nós não vamos modificar as coisas em um piscar de olhos, mas nós temos como botar bases estruturais para que os nossos... A minha filha tem 8 anos, para que daqui a 10 anos ela possa se orgulhar de que a gente tenha participado desse processo.
AVALIAÇÃO
Olha, eu assim, eu tive muitos acertos e muitos erros em minha vida. Eu acho assim que o que eu pego de bom é que eu não tenho medo do novo, da novidade. Acho que a novidade é sempre boa. É ela que faz a gente se mover. A continuidade, ela é interessante. Mas se você não tem a novidade, a continuidade vira um marasmo e depois ela se acaba, por osmose. A novidade, ela é fundamental. O novo. O novo sempre vem e ele é fundamental. E o segundo é que as diferenças não são necessariamente antagônicas. Teve um encontro agora no Carnaval; eu tive a oportunidade de ver – mesmo sendo agnóstico –, teve um encontro de todas as religiões em Campina Grande. Eu achei muito interessante isso. Porque hoje os vários conflitos que têm no mundo, até dentro de casa, eles são porque você não sabe conviver com o diferente. O diferente, sempre a gente quer conviver com o igual. Sou gordo; tem um cara magro, aí o cara magro sacaneia o gordo. O negro sacaneia o branco e por aí afora. Então, essas diferenças eu acho que nós precisamos saber estar juntos, quer dizer, estar juntos e depois, como diz o Sebastião Salgado: “Nós somos tão diferentes e tão iguais.” Então eu acho que essa, essa é uma lição muito boa. É eu acho que eu não confundiria, eu tenho 41 anos e tive que viver muita coisa na minha vida. Muito rápido. Mas eu acho que a principal lição é essa, de que muitas vezes eu confundia antagonismo com diferença. E quando eu confundi, eu me dei mal. Então eu acho, por exemplo, nas ocupações houve exageros. Houve exageros. Talvez, se eu tivesse que fazer, pelo menos a de Campo do Amaro com certeza eu não faria. Eu preferia ser chamado de pelego do que fazer. Se pudesse, eu não teria voltado para Natal e teria ficado no Rio. Na época foi muito ruim para mim. Mesmo com a decepção que eu estava do Fernando Henrique, eu ter voltado para Natal. Porque eu voltei em uma outra condição, eu voltei muito mal. Acho que essas diferenças, quando eu voltei para lá, por incrível que pareça, eu aqui indo para o movimento sindical, passava quase 2, 3, 4 dias longe de casa, mas estava muito mais perto de casa, porque quando eu voltava eu me doava inteiramente para a minha filha e para a minha companheira. Depois, quando eu fui para lá para Natal, que eu trabalhava todos os dias e vinha para casa todos os dias, eu estava muito mais longe da família porque não estava fazendo o que eu estava gostando. E dentro da companhia eu tive um apoio muito grande do meu chefe. Então foi isso que me fez poder retomar e acreditar. Mas eu estava muito magoado com o país, com a vida. Também foi a época que eu me separei pela segunda vez. E aí comecei a estudar de novo. Estudar Geologia, voltar. Então eu acho que no marco disso daí uma coisa muito boa que eu fiz na minha vida foi ter minha filha. Ela é fundamental. Mas sem dúvida a grande expectativa do que eu sou devo à Petrobras. Eu passei no concurso da Petrobras, fui dirigente sindical do sindicato dos trabalhadores da Petrobras. E aprendi muita coisa. Acho que é uma companhia que dá muito orgulho. Aonde eu for eu tenho muito orgulho de dizer que eu sou um geólogo da Petrobras.
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