P/1 — Vamos lá! Cátia, pra começar, eu queria que você começasse se apresentando, dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R — Meu nome é Cátia Regina Oliveira Stoyan Setin, nasci aqui em São Paulo, na cidade de São Paulo mesmo, no dia 26 de dezembro de 1978.
P/1 — E quais os nomes dos seus pais?
R — Meus pais são Roberto Stoyan e a minha mãe é Ana Maria de Jesus Oliveira Stoyan.
P/1 —Você sabe como eles se conheceram?
R — Meus pais são casados já há muitos anos e eles se conheceram bem jovens, ainda na época do colégio. E aí eles começaram a namorar, muito jovens mesmo, meu pai tinha dezoito anos e minha mãe tinha dezesseis.
P/1 — E como é a relação de vocês?
R — Bom, eu sou filha do meio, tenho mais dois irmãos, um irmão mais velho, o Cristiano e meu irmão mais novo, que é o Leandro. Então, eu nasci um ano depois do meu irmão mais velho. Então, digamos que foi um relacionamento bastante complexo, assim, porque a minha mãe tinha acabado de ter o meu irmão, o Cristiano e, depois de três meses, ela ficou grávida de mim. Então, (risos) foi bem um em seguida do outro e foi bem complicado pra minha mãe, porque muitas pessoas, nessa fase, achavam uma loucura ela ficar grávida de outra criança, sendo que o primeiro filho tinha três meses. Ela sofreu bastante - também, logo de cara, – preconceito. As pessoas começaram a ficar contra. Então, foi uma gravidez bem turbulenta, assim, eu fui descobrir isso muito mais tarde, porque a nossa relação não era tão amistosa na infância, porque existia, vamos dizer, uma rejeição daquela gravidez e até da família inteira. Então, foi bem complicado esse começo da Cátia no mundo. (risos)
P/1 — E você sabe a história dos seus avós?
R — Os meus avós paternos, o meu avô nasceu na Iugoslávia, hoje, a cidade aonde onde ele nasceu, na verdade, pertence à Croácia. Então, minha...
Continuar leituraP/1 — Vamos lá! Cátia, pra começar, eu queria que você começasse se apresentando, dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R — Meu nome é Cátia Regina Oliveira Stoyan Setin, nasci aqui em São Paulo, na cidade de São Paulo mesmo, no dia 26 de dezembro de 1978.
P/1 — E quais os nomes dos seus pais?
R — Meus pais são Roberto Stoyan e a minha mãe é Ana Maria de Jesus Oliveira Stoyan.
P/1 —Você sabe como eles se conheceram?
R — Meus pais são casados já há muitos anos e eles se conheceram bem jovens, ainda na época do colégio. E aí eles começaram a namorar, muito jovens mesmo, meu pai tinha dezoito anos e minha mãe tinha dezesseis.
P/1 — E como é a relação de vocês?
R — Bom, eu sou filha do meio, tenho mais dois irmãos, um irmão mais velho, o Cristiano e meu irmão mais novo, que é o Leandro. Então, eu nasci um ano depois do meu irmão mais velho. Então, digamos que foi um relacionamento bastante complexo, assim, porque a minha mãe tinha acabado de ter o meu irmão, o Cristiano e, depois de três meses, ela ficou grávida de mim. Então, (risos) foi bem um em seguida do outro e foi bem complicado pra minha mãe, porque muitas pessoas, nessa fase, achavam uma loucura ela ficar grávida de outra criança, sendo que o primeiro filho tinha três meses. Ela sofreu bastante - também, logo de cara, – preconceito. As pessoas começaram a ficar contra. Então, foi uma gravidez bem turbulenta, assim, eu fui descobrir isso muito mais tarde, porque a nossa relação não era tão amistosa na infância, porque existia, vamos dizer, uma rejeição daquela gravidez e até da família inteira. Então, foi bem complicado esse começo da Cátia no mundo. (risos)
P/1 — E você sabe a história dos seus avós?
R — Os meus avós paternos, o meu avô nasceu na Iugoslávia, hoje, a cidade aonde onde ele nasceu, na verdade, pertence à Croácia. Então, minha descendência, a gente tem passaporte croata, mas ele nasceu na antiga Iugoslávia e veio pro Brasil aos doze anos, de navio, na Segunda Guerra Mundial. E foi aqui no Brasil que ele conheceu a minha avó. A minha avó paterna sempre foi dona de casa e o meu avô trabalhava numa refinaria, na época, quando ele chegou no Brasil, ainda era muito criança, tinha doze anos. Então teve uma história bem difícil, mas ele, depois, começou a trabalhar e, enfim, fez a vida aqui no Brasil. Ele nunca mais voltou pra Iugoslávia. E os meus avós maternos, meu avô era pedreiro, o Oscar e a minha avó Alice era costureira. E eu não falei o nome dos meus avós paternos, que são Luiz Stoyan e Benedita.
P/1 —E, Cátia, você conviveu com eles?
R — Eu convivi com meus avós maternos muito pouco, eles faleceram quando eu tinha seis anos de idade, mas eu lembro bastante deles, eu tenho boas memórias de estar junto. E os meus avós paternos eu tive mais contato, meu avô faleceu quando eu tinha dezoito anos e a minha avó um pouquinho antes dele, quando eu tinha dezessete anos. Então, eu convivi mais com eles, passava o final de semana na casa dos dois, aprendi muito com a minha avó, tinha um apego bastante forte com eles. Me emociono (choro e risos) de lembrar, porque a gente ficava muito próximo.
P/1 — Você lembra de alguma história marcante, que você queira compartilhar?
R — De quando a gente era criança, aos finais de semana sempre ficávamos na casa deles, sempre gostava de estar lá, então eu ia pra feira, aos domingos, com a minha avó. Participava bastante das atividades na cozinha, ela me ensinava a fazer bolo, muita coisa na cozinha e aí eu tenho boas recordações desses finais de semana e principalmente do Natal. Eles gostavam muito de reunir toda a família e muita fartura, eles gostavam de ter muita comida, então tinha de tudo, pra todos os gostos, geralmente, nas festas de final do ano. E eu gostava muito de ficar lá com eles nos finais de semana e aprendia muito com meu avô sobre a história dele na Iugoslávia, ele me ensinava algumas palavras do idioma dele e ele gostava muito de jogar dominó, então eu aprendi muito, também, jogar dominó com ele, aos finais de semana. E, às vezes, ele me xingava, porque eu jogava errado, mas eu tenho boas memórias, porque aprendi muito, assim, algumas coisas, com ele.
P/1 — E você lembra da sua casa e da rua da sua infância?
R — Sim. Quando eu nasci, meus pais foram pais muito jovens. Então, minha mãe tinha dezoito anos e quando eu nasci, ela tinha dezenove, então eles eram muito jovens e, na minha infância, eu vivi no mesmo quintal que meus avós paternos. Então, eu lembro direitinho. Não lembro o nome da rua, mas eu lembro que eu morava no Parque São Domingos, aqui em São Paulo, na casa do fundo desse quintal dos meus avós. Então, acho que é por isso que eu também tive muita proximidade com eles, porque até os seis anos, eu morei no mesmo quintal. Depois, quando eu tinha seis anos, meu pai conseguiu comprar uma casa e aí a gente se mudou para um outro bairro, que fica no Jaraguá, chamado Taipas, e moramos lá até os meus doze anos. Aí voltamos pro Parque São Domingos, nos mudamos de novo. Eu passei a morar na casa dos meus avós maternos, porque eles tinham falecido e meus tios ainda eram muito novos, tinham dezesseis e dezessete anos, então minha mãe decidiu morar na mesma casa, pra cuidar deles. E aí foi muito gostoso também, porque foi uma fase que eles eram como se fossem meus irmãos, esses meus tios, porque eles são mais novos e me levavam pra escola, foi gostoso também essa fase de treze anos, de morar com os tios E aí, nessa casa, eu fiquei morando até me casar. Me casei com 28 anos e, coincidentemente, essa casa que eu morei em Taipas foi construída pelos meus sogros e eu nem sabia, a gente não tinha como se conhecer. Eu só fiquei sabendo depois, quando eu comecei a namorar com meu marido e a família do meu marido sempre atuou em construção civil, construção de casas e aí foi muito interessante, porque foi a primeira casa que eles construíram. Mas eu fiquei sabendo só, assim, muito depois, nem os conhecia, eu conheci meu marido, que é o Tiago, já com 26 anos, mais ou menos. E aí que eu fiquei sabendo. Uma coincidência da vida, né?
P/1 — E, Cátia, voltando um pouquinho, assim, pras suas primeiras casas, que brincadeiras vocês faziam? O que você lembra? Vocês brincavam na rua? Como que era isso?
R — Na minha infância, eu brincava muito com os meus irmãos, eu comecei a ir à escola já com seis anos, então até os seis anos eu ficava mais em casa, brincando com os meus irmãos e também tinha - eu lembro, nessa minha infância – uma vizinha que era muito amiga da minha mãe e que tinha também dois filhos pequenos. Então, a gente se encontrava muito no quintal de casa ou na rua, pra jogar bola, andar de bicicleta, mexer na terra também, eu gostava de ficar mexendo... eu lembro muito de ter um pé de limão na casa desses meus avós e eu ficar ali brincando de costurar, acho que é porque eu via a minha outra avó costurando, né? Então, eu lembro que nesse pé de limão tinha uns espinhos e eu pegava esse espinho e fingia que era agulha e ficava costurando. (risos) Eu tenho memórias, assim, de infância, de brincar bastante com terra, com bolinha de gude também, andar de bicicleta, pegar chuva, que é uma coisa que hoje em dia a gente não faz muito, mas quando era criança adorava tomar banho de chuva, até quando estava chovendo com gelo, eu gostava de ficar pegando gelo no chão. Então, minha infância foi muito mais, assim: não tinha muito brinquedo, mas tinha bastante atividades. E quando chovia também eu lembro que o meu avô gostava de contar histórias que davam medo, histórias meio de terror. Ele gostava de ficar contando e eu adorava ouvir, mas eu ficava com medo depois, (risos) à noite. Então, era mais isso que a gente brincava, mesmo. E de fazer coisas dentro de casa. Não assisti muita televisão também, não lembro de ter muita televisão nessa minha infância, assim.
P/1 — E você pensava no que você queria ser, quando crescesse?
R — Não. Na infância não pensava. Eu pensava sempre que eu queria trabalhar logo, sabe, porque na minha infância, o meu pai era alcoólatra, também tem uma parte que é um pouco triste. Desde que eu nasci, eu lembro do meu pai com alguns problemas com bebida, então acontecia muito dele perder o emprego, na minha infância. E eu sempre via a minha mãe preocupada em como ela ia manter as coisas dentro de casa. Então, eu sempre pensava que eu queria trabalhar logo cedo. E, de fato, eu comecei a trabalhar aos doze anos. Até porque eu comecei a ir pra escola e, às vezes, eu sentia falta de ter alguma coisa e então eu achava que, pra eu ter aquela coisa, eu tinha que trabalhar, pra ter o dinheiro, pra comprar. Então, eu não pensava o que eu queria ser, mas eu queria ser independente. Eu queria ter as minhas coisas, ajudar minha mãe, que a via muito nessa situação, que hoje eu não vejo mais. O meu pai, até os meus vinte e poucos anos, era alcoólatra, mas depois ele meio que se reencontrou, ele é diretor dos Alcoólatras Anônimos, então hoje ele faz um papel bem, assim, que eu tenho até orgulho de ver a história dele, porque ele conseguiu sair dessa situação e hoje ele ajuda muito os jovens, ele não pode ver um jovem na rua, que esteja passando por alguma dificuldade com álcool ou com droga, que ele sempre está fazendo o trabalho contrário, de tirar essas pessoas que não sabem o que é ruim pra ele, ele perdeu toda a nossa infância, na verdade. Ele deixou de ver o nosso crescimento por conta disso e eu acho que hoje ele se arrepende bastante. Então, eu não sabia o que eu queria ser, mas eu queria ser independente, poder ajudá-los de alguma forma, a sair disso, né?
P/1 — E qual sua primeira lembrança da escola?
R — Da escola? Bom, eu comecei no prézinho e eu lembro da minha professora, até hoje, o nome dela, chamava Pérola e eu tenho lembrança muito boa também, tive sorte com essa minha professora do prézinho. Porque eu lembro de ter passado por algumas situações na escola, na sala de aula, até contei esses dias, por coincidência, pro meu marido, que eu tive uma situação que eu estava com vontade de ir no banheiro e eu não consegui segurar e acabou escapando dentro da sala de aula e aí eu lembro dela com muito carinho, porque ela soube me conduzir pro banheiro e também uma lembrança positiva, assim, do meu início na escola. Porque hoje em dia tem muito o tal do bullying, né? Se fosse numa outra época, as crianças olhariam e poderiam falar algo e ela foi muito cuidadosa. Tem poucos flashes, mas um que veio à cabeça, até coincidentemente, essa semana, foi esse de ver o jeito que ela conseguiu conduzir, pra ninguém perceber, sabe?
P/1 — E como você ia pra escola? Era perto da sua casa?
R — A minha escola ficava próximo, era possível ir caminhando. Quando a gente ia caminhando, dava mais ou menos uns quinze minutos, minha mãe que sempre levava a gente pra escola e dava uns quinze, vinte minutos, mais ou menos, caminhando. Era uma rua super gostosa de caminhar, com bastante árvores, flores, então eu ia no meio do caminho pegando flores e minha mãe ia contando alguma história em relação a isso e era bem tranquilo, mesmo, de ir caminhando. Chegava cansada. Hoje eu sei onde eu estudava e onde eu morava e eu sei que eram quinze minutos caminhando, mas na infância parecia que era enorme o caminho, né? Uma hora pra chegar na escola. Mas era muito agradável.
P/1 — E você ficou a vida toda nessa escola ou você chegou a mudar?
R — Não, eu mudei. Primeiro eu morei na Parada de Taipas, com seis anos, eu fiquei um ano nessa escola. Depois eu voltei pro Parque São Domingos e aí eu fui até o colegial nessa outra escola. Então, eu mudei duas vezes.
P/1 — E aí, nessas outras escolas, você lembra de algum professor marcante?
R — Lembro da minha professora do quarto ano, essa foi marcante, ela se chamava Neuza (risos) e ela era uma pessoa bem grandona e eu não sei, eu achava que ela não gostava de mim. Então, tinha algumas situações, porque na quarta série teve um episódio que, pra variar, meu pai, nessa época, estava desempregado e aí era escola municipal, então você tem acesso a pedir material escolar, pra família que, às vezes, estava passando alguma dificuldade, tinha o Conselho de Pais e você conseguia pleitear o material da escola. Então, meus pais fizeram isso nesse ano, no quarto ano e aí eu lembro que eu tinha todo o material, que era doado na escola. E aí eu lembro que eu estava numa situação, eu estava escrevendo, anotando o que ela estava colocando na lousa e eu errei e peguei e rasguei a folha e joguei fora. E ela me deu um sermão tão assim - pra uma criança de quarta série, super criança - na frente de todo mundo, porque ela disse que eu não deveria rasgar a folha, já que era um material que era doado pela escola. Então, ela falou isso na frente de todo mundo. Me deixou muito constrangida. Eu lembro que foi um episódio bem marcante, que eu falo hoje em dia: “Como uma professora pode agir de uma forma dessas com uma criança?” E aí eu percebia que ela me tratava um pouco mal e eu sempre fui muito dedicada, gostava muito de Matemática, então eu queria mostrar pra ela... eu sempre tive esse comportamento: quando alguém duvidava de mim, eu queria mostrar que eu podia. E aí eu falei assim: “Não, eu vou conquistar essa professora, ela vai ter que gostar de mim, de alguma forma”. Então, aí, o jeito que eu encontrei foi me dedicando muito pros estudos. E eu lembro que teve uma competição de Matemática na escola e eu me inscrevi, porque eu falei: “Eu vou ganhar essa competição e eu vou mostrar pra ela que eu sou uma boa aluna, ela vai gostar de mim” e eu ficava o tempo todo tentando provar isso pra ela e aí foi muito legal, porque aí teve essa competição de Matemática e tinha até medalha que ganhava. E aí eu consegui ir pra final e ganhar a medalha. Aí falei: “Agora ela vai gostar de mim, porque eu sou uma boa aluna, então...” e aí marcou bastante, porque foi muito esforço aquele ano, porque eu achava que ela não gostava, assim, de mim. E o mundo dá tantas voltas, que agora existe Facebook e tem uma página do colégio onde eu estudei e ela está lá e de vez em quando ela fala comigo. (risos) Deve ser uma senhora, já, ela já não era tão nova, nessa fase. Mas ela ainda é viva e outro dia eu vi que ela curtiu algumas coisas que eu coloquei lá no grupo, (risos) mas marcou bastante essa professora do quarto ano.
P/1 — Ainda um pouco mais cedo você já estava trabalhando, é isso?
R — Sim.
P/1 — E como foi, como começou?
R — Por essas histórias todas do meu pai, do desemprego e tudo, eu lembro que foi próximo do final do ano, do Natal e tinha uma loja de roupas de bairro, mesmo e eles estavam precisando de balconista e eu pensei: “Acho que eu vou trabalhar no Natal aqui, nas minhas férias e aí eu vou conseguir ter um salário, para ajudar a minha família no Natal”. Bom, aí fui até lá, pedi o emprego pra eles, é uma família de portugueses e eles eram feirantes, quando chegaram, ele veio de Portugal, tem uma história que ele era feirante e depois, com o tempo, ele montou essa loja de roupas de bairro, mesmo. E aí eu fui, conversei com ele, falei que estava procurando trabalho nas férias e vi que ele estava precisando de balconista, perguntei se eu podia me inscrever e eu lembro que eu era muito mais ‘cara de pau’, vamos dizer, de chegar e falar, porque se fosse hoje em dia, pra eu pedir emprego, acho que eu ficava com vergonha, mas nessa fase eu ia, me jogava e perguntava. E aí ele falou assim: “Tem sim, você quer começar amanhã?” Aí eu falei: “Eu quero. Que horas?” Aí eu lembro que eu tinha que chegar às oito horas da manhã. Aí eu voltei pra casa. Nesse dia eu tinha que ir no mercado pra minha mãe, passei lá, pedi o emprego e voltei. Quando eu cheguei em casa, eu falei: “Mãe, amanhã me acorda sete horas, que eu vou começar a trabalhar”. Ela lembra disso até hoje, sabe? Ela falou: “Mas você vai trabalhar onde?” Eu falei: “Vou trabalhar na loja do ‘seu’ Antônio, a loja de roupas que tem ali, na Vila Mangalot”. Aí ela falou: “Tá bom, eu te acordo”. Mas ela não estava acreditando muito. Aí acordei, tomei meu café, desci e fui trabalhar. (risos) E aí, depois disso, eu nunca mais parei. Eu trabalhei com ele durante uns dois anos, mais ou menos, dois anos e meio e primeiro era férias da escola, trabalhei dezembro, janeiro, o dia todo, Natal, sabe, ficava até tarde mesmo que, nessa época, na loja de bairro tinha mais movimento do que hoje em dia, porque tem shopping, né? E aí, depois disso, eu falei se eu podia trabalhar meio período, porque eu ia voltar pra escola, mas eu queria continuar trabalhando. E ele deixou, ele falou: “Não, pode. Você vai trabalhar, então, meio período”. De manhã eu ia pra escola e aí, à tarde, depois do almoço, eu já entrava e ficava até fechar a loja. E assim foi. Eu fiquei bastante tempo lá, até os quatorze anos e meio e depois disso eu só saí de lá porque eu fui pra um outro trabalho, que eu já fui emendando um no outro, primeiro na loja de roupas, aí depois eu peguei amizade com o pessoal que tinha despachante de carros, de documentos: licenciamento, autoescola. Então, era caminho pra ir pra loja, acabei pegando amizade e eles precisavam de uma auxiliar administrativa, aí eu achei que poderia aprender mais. Sair de um trabalho de balconista e ir para um escritório, mesmo, achei que podia ser mais interessante, de aprender mais coisas. E aí eles me contrataram. Aí eu pedi demissão da loja e fui trabalhar na Guedes, que é despachante e autoescola. E aí lá eu fazia processo de documentação de carro, preenchia formulário, atendia o balcão, os clientes que vinham pra trazer documento para licenciamento, Ipva e aí fui aprendendo também como funcionava os documentos no Detran, como eu tinha que fazer os processos e aí eu fiquei até os dezoito anos, bastante tempo. E depois, de lá, eu comecei a fazer faculdade e eu atendia os clientes que vinham ali na Guedes e da janela do meu quarto eu via o logo da Siemens, uma multinacional alemã e eu falava assim pra mim: “Um dia eu ainda vou trabalhar nessa empresa”. E comecei a fazer a faculdade e, por uma coincidência ou destino, eu comecei a atender um diretor da Siemens. Ele vinha lá, trazia os documentos da filha. Ele é alemão, então a filha dele se chamava Kathya com K e Thy. Então, toda vez que ele chegava, ele queria que eu o atendesse, até porque ele falava com sotaque, era muito difícil falar com ele, então as outras pessoas que trabalhavam no mesmo escritório que eu, não gostavam muito de atendê-lo e falavam: “Cátia, vai lá e atende” e eu adorava, porque ele tinha uma filha que chamava Kathya e ele chama Manfred Becker. Eu lembro do nome dele até hoje. E ele falou: “Você faz faculdade?” Eu falei: “Estou fazendo faculdade. Você trabalha onde?” Aí ele contou que era na Siemens, eu falei: “Nossa, na Siemens, onde eu queria trabalhar. Eu posso mandar um currículo? Porque eu estou fazendo faculdade e eu gostaria de fazer um estágio e eu sempre quis trabalhar na Siemens”. Aí contei pra ele a história e ele falou: “Eu já coloquei tanto estagiário lá, no mês que vem vou colocar mais uma. Pode me dar seu currículo”. Aí entreguei meu currículo pra ele, avisei meu chefe na Guedes que tinha acontecido isso e eu estava buscando um estágio, aí ele falou: “Tudo bem, se você conseguir, não tem problema”, porque ele sabia que eu estava estudando, que eu queria trabalhar em outra empresa. E aí fui, participei do processo na Siemens e consegui a vaga de estágio e já trabalhando na área de vendas de um departamento de energia solar fotovoltaica, estava começando ainda, foi em 1998 isso. E aí comecei a trabalhar lá e foi bem interessante, porque o refeitório, na Siemens, era separado, então tinha o refeitório onde todo mundo almoçava e o refeitório da diretoria e a gente se encontrava no meio do caminho, aí eu encontrava sempre com ele, com o senhor Manfred Becker e ele vinha falar comigo: “Como você está? Está gostando?” Queria entender como estava o processo todo, se eu estava precisando de alguma ajuda. E aí o meu chefe, me via conversando com esse diretor e achava que eu tinha as ‘costas quentes’ dentro da Siemens, então ele me tratava super bem. (risos) Mas na verdade, não. Na verdade, eu não falava também: “Não, eu conheço, ele é meu amigo”. Sempre tratava assim. E foi muito legal, porque foi abrindo assim as portas dentro da Siemens, sabe? Eu fui aprendendo, fui conhecendo muito de como trabalhar numa grande corporação. Era outro mundo, porque de onde eu vim, de balconista, depois trabalhar com documento de carro, numa empresa menor e depois, de repente, eu estava numa grande corporação. Foi bem bacana. Aprendi muito. Acho que a Siemens é uma empresa mãe, assim, sabe? Foi a época que eu mais senti, quando eu saí de lá. E aí eu saí de lá, na verdade, porque eu comecei, atuando no mercado de energia solar fotovoltaica como vendas, fiquei lá de 1998 até 2002. Em 2002 a Siemens decidiu vender esse negócio de energia solar, esses ativos, para Shell Petróleo, então eu pude escolher ficar na Siemens ou ir pra Shell, mas eu tinha gostado tanto de trabalhar com energia solar e, nessa época não se falava muito sobre energias renováveis, então os nossos projetos eram muito de levar energia para quem não tinha acesso ainda, onde não chegava. Então, eu queria continuar nesse setor e aí eu escolhi pra ir pra Shell. Só por isso que eu saí da Siemens, que eu amava ficar lá, sabe? Amava trabalhar lá. Eu realmente vesti a camisa de estar lá, de tanto que eu gostava. Mas o tipo de negócio onde eu estava, já, fazendo aquele trabalho, tinha me chamado mais a atenção, por isso que eu fui pra Shell. Foi uma época que as petroleiras estavam começando a investir mais em energias renováveis e aí, por isso, eu acabei ficando por lá. E aí fiquei até 2008, aí a Shell decidiu também vender os ativos dela pra uma outra empresa alemã, essa empresa alemã não vinha pro Brasil e aí isso foi em 2008 e eu decidi, falei: “Acho que eu vou mudar de ramo, vou procurar emprego em outro segmento, porque entra um, vende a empresa, depois vende e eu fico toda hora sendo vendida”. (risos) E aí pensei em buscar outra oportunidade, em outro setor. Mas aí foi bem em 2008, teve aquela crise mundial também, que também acabou impactando aqui no Brasil e muitas empresas pararam de contratar, nessa época. E aí foi quando veio a ideia de montar a minha própria empresa. Pensei: “Acho que eu vou...
P/1 — Antes da gente começar, eu só queria voltar um pouquinho, que eu fiquei curiosa em como - a gente já chega, tá? – foi o seu primeiro dia de trabalho lá, vendendo roupa no bairro.
R — Então, sobre o meu primeiro dia de trabalho lá na loja, na Quatro Ases, do ‘seu’ Antônio, foi um dia assim que eu não sabia nem que roupa eu usava pra ir trabalhar. Foi uma situação que eu acordei e falei: “Nossa, que roupa que eu coloco pra ir pro trabalho?” Então eu lembro de pegar as minhas melhores roupas, que eram de sair, pra ir pra esse trabalho e eu tinha uma colônia, (risos) na época, um perfuminho que minha avó tinha me dado e eu lembro que, nesse dia, eu me enchi de perfume, sabe? Porque eu via minha tia, como eu mudei pra casa desses meus avós, porque meus avós tinham falecido e meus tios eram mais jovens que minha mãe, então eu cheguei a ver minha tia começar a ir trabalhar, então era uma referência que eu tinha, de como ela se vestia bem, tomava banho, passava perfume e saía. Então, eu achava que eu tinha que fazer a mesma coisa. Aí eu lembro disso, de eu ter enchido, colocado muito perfume mesmo, ao ponto das pessoas: “Nossa, você está cheirosa!” e eu não percebia por que estavam... é uma coisa que você vai ganhando depois, né, mas era muito ingenuidade, doze anos, eu me enchi de perfume (risos) e aí eu vi as pessoas comentando: “Nossa, você está perfumada, tal”, brincando, assim e até eu me tocar que realmente eu tinha exagerado no perfume. Então, eu lembro disso, do primeiro dia, sabe? De ter esse momento: que roupa que eu ia, como eu ia me vestir e, no final eu fui com o que eu tinha, mesmo. Eu lembro até hoje que era uma calça vinho que eu tinha, de sarja, assim, e fui com uma camiseta. Não tinha, também, muitas roupas, assim. E aí tem esse fato do perfume, de ter colocado mais perfume. (risos)
P/1 — E quando você voltou pra casa, você lembra como você se sentiu? Você conversou com seus pais, com seus irmãos?
R — Sim, eu lembro de ter voltado toda animada, que eu consegui atender, vender uma roupa, porque era balcão mesmo, atender as pessoas e eu lembro que eu estava bastante empolgada, de voltar pra casa contando a história como foi. Eu lembro também que o ‘seu’ Antônio, por ser feirante, tinha algumas falas de feira, né? “Dona Maria, enche a bacia”. Não lembro muito bem, mas tinha umas falas assim que eu fui aprendendo com ele e eu chegava em casa todo dia contando uma história, do ‘seu’ Antônio, dele contar. Até hoje eu tenho amizade com eles, com essa família. Até hoje tem a loja. Às vezes, eu vou na casa dos meus pais e passo na frente, a loja está lá ainda. Porque tem muita gente, os mais velhos, assim, idosos, que ainda consomem naquela loja. Não vão em shopping. E ele compra de lojas de atacado, mesmo, do Brás, faz essas encomendas e traz pro bairro, pra vender pro bairro. É um bairro bem simples.
P/1 — No colegial você já trabalhava na Guedes, é isso?
R — Isso.
P/1 — E você pensava no que você queria fazer na faculdade? Você pensava sobre faculdade?
R — Eu pensava. Teve um momento na minha vida que eu queria fazer Medicina. Eu achava que seria muito interessante, que eu queria muito fazer Medicina e, por eu ter essa proximidade com os meus avós, eu queria ser geriatra, então eu sempre falava: “Vó, eu vou virar geriatra, porque eu vou cuidar da senhora, sabe?” Então, eu queria fazer. Acabou que, depois que eu prestei vestibular, eu vi que Medicina era um curso muito caro pra fazer pagando e estudando em escola municipal, estadual, eu até tentei USP na época, fazer vestibular, mas eu achava que era um sonho muito distante, sabe, que eu não ia conseguir, que não ia dar certo. Ainda trabalhando, estudando... você tinha que se dedicar muito pros estudos. Não era a minha realidade fazer isso. E aí acabei indo muito pelo valor da faculdade, o que dava pra pagar. O que eu conseguiria, com o que eu estava ganhando, pagar de faculdade. Depois eu acabei fazendo Administração, porque era um curso que cabia no meu bolso. (risos) E aí eu pensava: também é um jeito de entrar em alguma empresa, um jeito mais fácil de eu construir uma carreira, até porque é um curso que você não vira especialista em nada. Você fica meio que um generalista e aí eu achei que seria mais fácil de eu conseguir ter oportunidades.
P/1 — Você escolheu o curso pelo valor, não pelo...
R — Mas acho que deve ser a história de muita gente também, nesse nosso país.
P/2 — Cátia, nesse período que você estava prestando vestibular, eu fiquei curiosa com a sua história, de saber, você começou a trabalhar muito nova, né? E como foi, assim, a sua adolescência, nesse período? Você tinha amigos, você saía, sabe? Eu queria saber entre o seu trabalho e a escola, como era, mais ou menos?
R — Eu tinha, nessa loja que eu trabalhei e depois eu fui pra Guedes, eu acabei virando amiga dos filhos do ‘seu’ Antônio, que têm a minha idade, né? Então, eles acabaram virando meus amigos. Eu me sentia, nessa época, como se tivesse várias turmas. E eu conseguia ser uma personagem em cada turma, sabe? Porque eu estava na escola, eu estava ali me esforçando e com meus amigos mais ‘CDFs’, que eu tentava ficar mais junto, pra eu poder conseguir ter um aproveitamento melhor e conseguir ter melhores notas também e aprender com eles, que estavam mais tempo dedicados só na escola. Eu tive uma fase, na adolescência, que eu tinha vergonha de falar que eu trabalhava. Então eu lembro de ficar quieta e não falar muito sobre isso com os meus amigos da escola. Fingir que eu tinha a mesma vida que eles. Por isso que parecia que eu tinha vários personagens, sabe? Eu me lembro disso, de ter esse sentimento. Então, eu tinha um pouco de vergonha de falar que eu estava trabalhando, aí não falava. Então, lá eu tinha um grupo de amigos. Aí, onde eu morava tinha as minhas vizinhas, que eram outras amigas, que aí eu me encontrava no final do dia, pra conversar, ia uma na casa da outra e até hoje eu tenho amizade com elas: a Alessandra, a Adriana e a Leandra, tudo andra e a gente se conversava muito à noite e de final de semana, às vezes, a gente saía, elas me convidavam pra sair, mas não era fixo: todo final de semana sempre só com essa turma. Tinha a turma de onde eu morava, da escola e esses filhos do meu ex-chefe, que acabaram sendo muito próximos a mim. Então, eu tinha essa sensação, na adolescência, que eu tinha várias turmas, não uma turma fixa. E cada uma eu agia de uma forma. Parecia que... não é que eu não estava sendo eu mesma, mas estava ali, tentando me virar, sabe, como dava. É curioso, né? (risos)
P/1 — E na faculdade, você lembra do primeiro dia? Como foi chegar, começar o curso?
R — Lembro. Eu lembro que eu fui pra faculdade de ônibus. Eu estudei na Unifieo, em Osasco. Eu morava no Parque São Domingos, então eu tinha que pegar dois ônibus até chegar lá e aí eu lembro que, mesmo tendo que pegar dois ônibus, uma hora e meia, mais ou menos, de trajeto, entre a minha casa e a faculdade e depois também voltar, mais uma hora e meia, eu chegava em casa meia-noite. Ia dormir bem tarde, mesmo. Eu lembro do primeiro dia, de ter me sentido assim, importante, sabe quando você chega toda feliz? Você anda na rua toda feliz da vida: “Ah, já estou na faculdade, consegui”. E na minha família, meus irmãos, nessa fase, não tinham feito faculdade ainda. Meu irmão mais velho nem fez, o Vlad. Meu irmão mais novo ainda estava no colégio e meus pais não tinham feito faculdade, meus avós, então assim: era a primeira pessoa da família indo pra uma universidade, então eu me senti muito importante no primeiro dia, quando eu estava voltando. Mas me senti tão importante que eu acho que eu acabei achando que ia ser fácil demais (risos) e eu repeti umas duas matérias no primeiro ano. (risos) Mas eu lembro que foi, é muito gostoso, porque eu queria muito fazer e ter uma história diferente, assim, da minha família.
P/1 — E aí, nessa época que você entrou na Siemens? Ou não?
R — Foi. Foi no primeiro ano, já de faculdade, que eu consegui a vaga na Siemens.
P/1 — E como foi chegar numa grande corporação? Deve ser tudo muito diferente. Como foi, realmente? Você lembra como você se sentiu?
R — Eu lembro de ter ido fazer a entrevista na Siemens da Avenida Mutinga... não, da Lapa primeiro e era uma sala, assim, que ia ter dinâmica, a entrevista e alguns exercícios e tinha mais ou menos umas vinte pessoas, concorrendo a essa vaga. E eu não lembro se tinha só uma vaga ou mais de uma, mas eu lembro que era muita gente. Muito candidato. E aí eu fiquei com o pensamento que eu tento ter esse pensamento sempre, sabe? Uma energia muito boa, porque eu pensei assim: “Essa vaga é minha. Não importa. Essa vaga é minha, essa vaga é minha, essa vaga é minha”. Eu fiquei com aquele pensamento e eu lembro que a moça que foi me entrevistar falou: “Olha, tem mais pessoas pra gente entrevistar, então a gente retorna” e ela falando e eu lembro só de estar mentalizando: “Não, mas essa vaga é minha, você pode entrevistar quem você quiser, essa vaga é minha”. E aí eu tento relembrar disso em alguns momentos da vida, quando a gente fala: “Puxa, não vai dar certo”. Não. Lembra aquele dia, como foi, porque é muito importante ter esse pensamento positivo no meio de tanta notícia, você tem que resgatar. E aí, depois disso, fui pra próxima entrevista, que foi na Mutinga, que é onde fica a diretoria mesmo da Siemens e aí era mais uma entrevista e tinha poucas pessoas, poucos candidatos, mas ainda fui com aquela mentalidade, que a vaga era minha. (risos) E aí, nossa, consegui a vaga, fiquei feliz da vida de ir pra lá e foi muito bacana, porque como eu comecei a trabalhar muito cedo, eu encontrei com outros amigos que começaram a fazer estágio na Siemens na mesma época que eu e cada um tinha tido uma história. Então, tinha muita gente que só tinha tido a experiência de estudar. Como eu tinha tido a experiência também de trabalhar, tinha coisas que, pra mim, eram muito fáceis, assim, nos primeiros dias da Siemens, de pegar o telefone e falar com as pessoas, aquela vivência que só a experiência vai te dando. Então, isso foi muito bacana, de ter começado numa grande corporação, tendo já alguma experiência de atendimento telefônico, nessas atividades que eu já tinha tido no despachante e na loja. E isso acho que me ajudou bastante, porque as outras pessoas... cada uma vai por um caminho, né? Tinha pessoas que tinham ido pelo caminho só de estudar e que chegam com um conhecimento que eu, talvez, não tive. Mas, por outro lado, essa experiência também do dia a dia me ajudou bastante, mas foi bem impressionante chegar numa grande corporação, depois de sair desse mundo.
P/1 — E me conta uma coisa: foi nesse momento que você se deparou com esse segmento de energia renovável?
R — Sim, foi. Quando eu comecei na Siemens, eu já fui pra esse departamento. A Siemens tinha energia, o departamento de energia, mas energia a carvão, termoelétrica e eles estavam começando ainda no Brasil a parte de energia solar fotovoltaica, de energias renováveis. E nessa época nem se falava muito e eu achava o máximo, porque eu ia pra faculdade e o pessoal perguntava: “Você trabalha em que departamento?” e eu falava: “Energia solar fotovoltaica” e todo mundo: “Nossa, o que é isso? É de aquecimento de água?” Porque as pessoas, nessa época, confundiam um pouco aquecimento de água com energia solar, que é pra gerar energia elétrica. E aí foi bem nessa época, mesmo, que eu comecei.
P/1 — E como, assim: você se encantou logo de cara, você demorou pra ir curtindo? Como que foi? Porque é isso: era um novo mundo, né, meio que pra todo mundo.
R — É, não, eu me encantei bastante, principalmente porque as pessoas me perguntavam e não conheciam muito. Então, eu queria aprender bastante sobre isso, o que fazia, como transformava. Através da luz do sol, como eu transformava em energia elétrica? E aí foi um mundo, mesmo, de mergulhar nos estudos e tentar aprender com os engenheiros que tinha na Siemens. Muita gente queria saber muita coisa, que me ensinava bastante nessa época. Tinha muita gente - por ser uma multinacional – da Alemanha, dos Estados Unidos. Então, teve a questão também de idiomas: “Nossa, eu preciso aprender idiomas, preciso tentar sugar ao máximo o que eu tenho de informação”, porque uma vez que você entrou, você também tem que se manter na empresa e, pra mim, isso tudo era muito sensacional, assim, de aprender e buscar mais com outras pessoas, viver muito mais esse mundo, porque eu não tinha na minha história toda. Estava ali aprendendo, mesmo.
P/1 — E você mudou de empresa justamente pra continuar trabalhando nessa área?
R — Isso. É.
P/1 — Como foi esse período?
R — Porque, como eu estava encantada com energias renováveis, energia solar, quando teve essa oportunidade de ir pra uma outra empresa ou ficar na Siemens, eu já tinha começado a construir uma história ali, começando a montar, desenvolver um canal de distribuição no Brasil porque, como eu trabalhava em vendas, a Siemens trabalha muito com isso: distribuidores no Brasil inteiro. Então, nessa parte do segmento, eu tinha que buscar clientes em todos os estados do Brasil. E aí eu tinha feito um trabalho, nessa época não tinha Google, tinha Páginas Amarelas, nem sei se é da sua época isso, mas (risos) a gente pegava as Páginas Amarelas e eu ia, estado por estado, vendo qual empresa tinha sentido ser um distribuidor nosso. Então, tinha que fazer todo esse mapeamento, né? E aí eu fui construindo um canal de vendas, distribuidores pelo Brasil inteiro, que foi um trabalho bem interessante, bem de formiguinha mesmo, um negócio novo e tinha que ser com empresas que trabalhavam com outros equipamentos, mas que fazia sentido ter energia solar no portfólio de produtos. Então, foi um trabalho bem de formiguinha que eu estava fazendo e eu queria dar continuidade, sabe? Além de buscar o segmento, que era novo e eu tinha certeza que era um segmento que ia crescer muito, ainda mais no Brasil, que tem sol o ano inteiro, eu falei: “Se esse negócio deu certo na Alemanha, que tem pouco sol, aqui no Brasil tem que dar muito certo”. Então, era uma construção que estava sendo feita e eu queria dar continuidade, porque gostava tanto do tema, quanto do que eu estava fazendo. E aí, pra mim, foi até simples falar: “Não, eu amo a Siemens, mas eu quero continuar nesse segmento. Então, eu vou pra Shell, porque eu quero continuar esse trabalho, né?” E aí foi quando eu fui pra lá e era bem interessante, porque Shell Petróleo: suja de um lado e limpa do outro, (risos) porque tem a história dos combustíveis, mas eu achei que tinha mais sentido eu ir pra lá e foi muito legal, porque nossa, cada vez mais eu fui descobrindo que eu gostava e que eu não tinha que sair desse segmento. Eu estava construindo uma história junto com a história da energia solar no Brasil. Pra mim era isso, sabe? Era muito importante essa construção.
P/1 — Você já tinha essa noção, nessa época?
R — Isso na época que eu fui pra Shell. No começo, quando eu entrei, eu não sabia muita coisa. Só achava que era interessante, mas estava, ainda, aprendendo. E aí, depois disso, foram quatro anos trabalhando na Siemens, quatro anos depois eu já tinha isso mais claro: “É isso que eu quero”.
P/1 — E quando o empreendedorismo começou a fazer parte da sua vida?
R — Logo depois da Shell ter feito essa venda lá fora, dos ativos e sair do mercado brasileiro, eu pensei como eu poderia ainda permanecer nesse setor. Isso foi em 2009, quando eu abri uma empresa e a empresa que comprou os ativos da Shell, uma empresa alemã, que chama SolarWorld e o meu chefe ficava nos Estados Unidos, ele chama Elias, é uma pessoa super importante na minha carreira e aí eu conversei com ele, falei: “Elias, eu estou pensando em montar uma empresa e dar continuidade ao nosso trabalho. Você quer que eu consiga a representação de vocês aqui, porque a SolarWorld era a fabricante dos painéis solares. Então, eu precisava ter um parceiro que fornecesse os equipamentos, pra eu continuar fazendo esse trabalho. E, surpresa minha, ele falou: “Cátia, você pode abrir amanhã a empresa, você vai ter a representação exclusiva nossa. A gente não está no Brasil, mas a gente quer estar com você e tudo o mais”. E aí eu falei: “Nossa, então eu vou ver como funciona isso, pra abrir a empresa e começar, continuar esse trabalho”. Porque em 2009 só tinha a minha empresa, quando foi aberta e mais três, no Brasil inteiro. Não tinha quase ninguém que atuava nesse setor. Então, era muito fácil até saber quem era seu concorrente. Muito mais do que hoje em dia, porque hoje em dia tem muita empresa, mas em 2009 dava pra contar nos dedos quem era, sabe? Eu os conhecia, todos, então sabia como era a atuação, dava pra diversificar um pouco melhor e montar uma estratégia melhor. E aí foi quando eu montei a minha empresa, em 2009 e eu já estava namorando com o meu marido, né, comecei a namorar com ele em 2007. A família dele é de empreendedores, que eles sempre atuaram na construção civil e aí, quando eu falei pra ele: “Olha, eu vou montar uma empresa”. Até acho que vendo o exemplo dele, eu me senti um pouco mais confiante de montar uma empresa. Eu nem sabia o que era. (risos) Eu ainda ia descobrir muita coisa, nessa época. E falei pra ele que eu ia montar e que eu tinha conversado com o Elias, que tinha dado o cartão verde pra gente representá-los aqui no Brasil, tinha até me apoiado com marketing, ele falou: “Tudo que você fizer de marketing, 50% a gente assume, 50% você”. Então, a gente tinha feito uma parceria muito legal e eu falei pro Tiago: “Eu vou montar, então, pra ver como funciona. Você pode me ajudar?” Porque ele já sabia como era. E aí, pra minha surpresa, ele falou assim: “Não, eu também quero ser seu sócio. Eu também quero atuar nesse mercado. Vamos, então, montar uma sociedade”. E aí, na minha cabeça, eu falei assim: “Nossa, isso vai dar muito certo, porque eles entendem de empresa, o que eu não entendo. Eu sempre trabalhei nas empresas, né? Minha família não é de empreendedores. A dele já é. Então, eu acho que vai dar muito certo”. E aí aceitei, aí a gente montou a empresa na época, juntos, só que eu só pensei e não falei. (risos) Eu pensei: “Vai dar muito certo, porque eles entendem de empresa e eu entendo pra quem vender, a parceria que a gente já fechou lá com os painéis solares, então acho que vai dar tudo certo”. Só que aí começamos o negócio, abrimos a empresa, deu muito certo, a gente começou a fazer projetos no Pará, no Amazonas porque, nessa época, em 2009, não tinha essa resolução que tem hoje, que permite que qualquer cidadão pode gerar sua própria energia e você compensa na conta de luz. Nessa época não tinha essa resolução e então, os nossos projetos eram levar a energia onde a energia convencional não chegava. Então, por isso que tinha muito projeto no Amazonas, no Pará. Cansei de ir pra lá, de dormir em barco, em rede, em ver mesmo, são famílias ribeirinhas, sabe? Depois eu até tenho um vídeo legal, eu mando pra vocês verem como funcionam os projetos que nós fizemos lá. Só que eu fui tocando a empresa sozinha, porque meu marido, com a família dele, já tinham a empresa deles no mercado imobiliário. Então, eles não tinham tempo. Eles só entraram como sócios, mesmo e hoje eu falo: se eu pudesse voltar o tempo, eu tinha deixado mais claro: “Tá bom, vocês vão cuidar disso e eu cuido disso, né?”, mas foi experiência, eu não tratei isso, só fiquei pensando que ia ser daquele jeito, mas não foi, porque aí eles tinham o negócio deles e não tinha como dar tempo pra isso e então eu acabei trabalhando muito sozinha aqui. Qualquer problema que dava eu ficava desesperada, sabe? Falava: “Nossa, agora eles vão brigar comigo, porque isso aqui deu muito errado”. (risos) Porque é a história do empreendedor: tem sucesso e tem algumas coisas que não dão muito certo também. Mas eu fui continuando e vivi já muitas histórias de empreendedorismo, de estar em um setor que é masculino, de energia, tocando uma empresa, sendo mulher. Muitas vezes eu tive que inventar. Era sócio só no papel, mas eu sempre falava do sócio, porque existe um pouco de machismo também, que sempre que você vai num evento: “Eu tenho uma empresa” “Mas quem é seu sócio? É seu marido?” Já ouvi isso quinhentas mil vezes. Mas, se era pra fechar negócio, eu falava: “É, meu marido”. Está bom. De tanto que a gente cansa, às vezes, de ouvir. Então, foi em 2009 e em 2017 eu comecei a comprar a participação do meu marido na empresa, porque falava: “Não adianta ter sócio só no papel” e qualquer coisa que eu fizesse podia prejudicá-lo também e então eu ficava com esse peso nas costas, sabe, de pensar nisso e aí, em 2017 eu comecei a fazer essa transformação e, no começo de 2020, eu consegui comprar tudo. Então, desde 2020, 100% a empresa é minha e aí eu comecei, parece, viver uma outra história, sabe, do empreendedorismo. Porque eu fiquei, me senti um pouco mais leve porque agora, se eu fizer qualquer coisa errada, eu me ferro sozinha, assim, sabe? Então, essa é a história do meu empreendedorismo. Em 2014, eu fiquei grávida, tenho uma filha que hoje tem seis anos, que é a Marrie, ela nasceu em 2015. São muitos números, aí fico pensando. (risos)
P/1 — Cátia, você comentou que é isso: é uma área bem masculina, né? Queria saber se você trabalhava ou chegou a trabalhar com outras mulheres, se você tinha ou tem referências femininas, de mulheres na sua área e se esse mercado acolhe, recebe mulheres? Ou um pouco tem esse distanciamento, assim?
R — Em 2009, quando eu abri a empresa, era muito masculino, mesmo. Só tinha eu, que eu lembro, de mulher, então eu ia muito pras reuniões da Abinee e das associações de energia, tem a Absolar hoje, que é a Associação de Energia Solar e era sempre assim: a mesa cheia de executivos e tinha só eu de mulher e também uma pessoa de Minas, que é uma professora, Antônia Sônia, que eu lembro que ela também é dessa época, da Siemens e tudo, que era mulher, mas a gente contava nos dedos. Não tinha. Hoje em dia, de 2016 pra cá, que veio a resolução, que você pode gerar sua própria energia e a energia solar está muito mais, agora, nas cidades, começou a ter uma entrada maior de mulheres. Então, a gente tem até um grupo de mulheres no solar e aí tem professoras, você vê que tem muita mulher engenheira, aumentou muito a quantidade. Então, hoje o mercado já está muito mais receptivo. Hoje eu vejo mais a participação de mulheres, tenho várias referências, na Schneider Electric, onde a vice-presidente é uma mulher. Então, aí foram aparecendo mais referências, mas em 2009 era quase nada. A gente nem tinha muita voz, sabe? Quer dizer: a gente sempre teve voz, mas (risos) dificilmente você levantava a mão pra falar numa associação, alguém já cortava. Então, é meio cultural, pouco a pouco eu acho que as mulheres têm mudado isso, em todas as áreas, não só na área de energia, mas isso vem mudando bastante. Em 2019, também, eu acho que dos três, quatro últimos anos pra cá, as mulheres têm se ajudado mais e acho que a gente tem conseguido unir forças, quando a gente se reúne e estamos juntas, sabe? Então, esse grupo de mulheres no solar ajuda bastante. E também em 2019 eu concorri a um processo de seleção da EY, da Ernst & Young, do Programa Winning Women. Eu tentei duas vezes, em 2018, não passei. Aí, em 2019 de novo eu fui e aí consegui participar desse programa, que também foi muito bacana, é onde as mulheres se ajudam, mesmo. Tem um networking ali forte e com mulheres super referências também no Brasil, como Luiza Helena Trajano, Sônia Hess, a Chieko. Então, isso também serviu bastante de inspiração pra nós, assim, quando você vê as mulheres mais poderosas chegando onde chegaram e que estão puxando, também, outras mulheres. Então, eu acho que esses grupos acabam deixando a gente mais confiante, em saber que a gente está trilhando um caminho importante e fazendo acontecer. A gente, aqui na minha empresa, tem vários projetos feitos, então não precisa ter medo, a gente sabe como faz, sabe fazer, tanto quanto um homem.
P/1 — Quando você passava por alguma situação como essa, assim, de ter um corte, interromper a fala ou não sei, qualquer outro tipo, como era pra você? Você acabou mudando a sua postura, com o tempo? Como é isso?
R — Sim. No começo, me deixava um pouco com vergonha, falava: “Será que eu estou falando alguma besteira, por isso que está me cortando?” Então, eu sempre achava que o problema estava em mim, que eu não estava falando algo certo e por isso que tinha esse corte. Depois, participando desses grupos e falando com mais mulheres, eu percebi que elas tinham uma atitude diferente. Então, elas mesmas, às vezes, eu cheguei a ver algumas mulheres, a Ana Fontes, mesmo, eu já a vi falando dessa forma: “Posso terminar de falar? Você me dá licença, um pouquinho? Deixa só concluir meu pensamento”. Então, essa atitude que eu comecei a observar nessas mulheres e vi que eu acho que seria o melhor caminho, até porque não é culpa deles, acho que é a cultura mesmo, não é por maldade, mas talvez, se a gente se posicionar diferente, a gente consiga mais espaço. Então, eu comecei a também observar e fazer dessa forma: “Deixa eu concluir, só, o que eu estava falando?” E não deixar mais essa Síndrome de Impostora, que: “Não, eu falei coisa errada, por isso que ele está me cortando”.
P/1 — E, pra você, qual é a importância de trabalhar com sustentabilidade, com inovação e o que representa ser pioneira no mercado de energia renovável? Assim, como você se sente?
R — Ah, eu sou muito feliz, eu tenho muito orgulho de falar o que eu faço, de mostrar os projetos. Às vezes, eu até sou um pouco mais técnica do que comercial, de tanto que eu gosto do que eu estou fazendo, de entender essa transformação que a energia pode trazer numa população ribeirinha, por exemplo. Eu sei que na cidade a gente tem uma escala de crescimento gigantesca, que eu sei que esse mercado vai crescer cada vez mais, ainda mais com ESG, que está sendo falado bastante agora, nas grandes corporações. A gente, mesmo depois da pandemia, olhar mais pra questão da sustentabilidade, do meio ambiente, da governança disso, de como fazer isso acontecer de fato. Então, eu sei que isso tem bastante escala, mas meus olhos brilham quando eu vejo essas comunidades que estão mais isoladas, como as ribeirinhas, quando a gente chega com a energia nesses locais. Porque você consegue transformar a vida dessas pessoas, conectar o nosso mundo aqui com elas. Porque muitas vezes elas nem têm acesso a televisão. Elas nem sabem o que existe. Então, isso, pra mim, é fantástico, assim, sabe? Eu adoro, mesmo, fazer isso. Então, você fez mais uma pergunta, eu acho.
P/1 — Eu acho que é isso, mesmo: como você se sente.
R — Sim. E aí, falando até dessa questão das comunidades ribeirinhas, a gente fez um trabalho de acompanhar o que a energia, quando chegou, transformou naquela comunidade. E é impressionante quando a gente percebe que traz um aumento na renda dessas pessoas, quando a energia chega. Porque um exemplo que eu tenho de uma das comunidades, que é de pescadores, eles pescam e vendem aquilo que pescaram naquele dia e o que sobrava, eles jogavam fora. Então, tinha muito desperdício. E aí, quando a energia chegou, eles começaram a pescar, armazenarem isso num congelador, freezer e aí não tinha desperdício. E eles conseguiam também fazer vendas no dia seguinte e isso aumentar ainda mais a renda daquela comunidade. Então, a gente conseguiu perceber, por esses números, como a transformação chega, quando chega a energia.
P/1 — E você participa dessas viagens, assim? Você lembra de alguma ou de alguma pessoa que você tenha conhecido, alguma história marcante?
R — Eu participo de todas. Eu sempre vou no começo do projeto e no final. No começo, pra apresentar, me apresentar, pra ver. Principalmente nessas comunidades você tem que chegar e mostrar que você está trazendo um benefício para elas, porque muitas vezes elas te recebem e não gostam muito: “O que essa empresa está vindo agora, aqui, mexer na minha cidade?” Então, tem o líder da comunidade, você tem que ir lá e se apresentar e mostrar que você está indo trazer um benefício, porque muitos desses projetos são pagos parte pela concessionária de energia do local e parte pelo Programa Luz para Todos, do governo federal, de levar energia nesses locais. Então, eu sempre vou no começo e no final e me apresento e aí tem várias situações, de crianças, de meninas. Tem uma imagem de uma menina na Ilha do Marajó, que chegou pra mim, se apresentou, bem pequenininha e falou: “Você é muito linda!” E aquilo ficou comigo, marcado até hoje, né? Porque ela entendeu que a gente estava ali trazendo algum benefício e ela estava me admirando ali. Então, foi muito bacana, assim, de ver. Eu tenho até a foto dessa menininha, depois eu vou mandar pra vocês, pra mostrar.
P/1 — E quais foram os maiores aprendizados que você experienciou nessa sua trajetória?
R — Nossa! Teve muito aprendizado! (risos) Ai, teve bastante aprendizado. Assim, dentro da empresa eu sempre fui de fazer as coisas, mas eu não me importava muito quando eu ia receber o dinheiro, se eu ia receber, sabe essas coisas assim? (risos) E eu tive que aprender bastante, na marra, a questão de fluxo de caixa da empresa, de olhar todos os dias, de entender como funciona essa parte financeira também, porque eu não gostava muito de ficar olhando e não entendia muito. Eu tive que entender bastante, aprender bastante isso, a parte tributária, enfim, coisas assim que eu não entendia, mas depois de acontecer muita coisa errada, aí a gente começa a olhar, entender o processo, quanto é importante. Para uma pessoa que nem eu, que pega e vai fazendo. Desde os doze anos vai fazendo, vai fazendo. Sem muito processo, sem muito entender, embora tenha estudado. Aprendi bastante coisa, assim, na marra, na trajetória toda.
P/1 — E esses grupos assim como o Winning Women te ajudaram, de alguma forma, a aprender, assim, desde contato com mulheres, saber como dar um basta, assim, para alguns homens, até reestruturar a empresa? A gente viu que você está passando por um processo de mudança de nome. Como foi esse período de mudança e de ter participado do Winning Women, tem alguma relação?
R — Tem bastante relação porque, no Programa Winning Women, a gente teve duas mentoras, sendo que uma é executiva e uma outra que é empreendedora, então foi um ganho gigantesco pra mim, porque eu tinha a visão de uma executiva, assim, de empresa, que sabe o processo e a outra, que é empreendedora, que já ficou sem dormir, que nem eu. Assim, (risos) então eu acho que foi um ganho super válido, de olhar pra dentro da nossa marca e até por isso que a gente teve essa mudança, nasceu disso, desse programa, de olhar qual que é seu segmento, dar foco no que você está fazendo, porque muitas vezes, quando você é empreendedor pequeno, eu já me vi muitas vezes numa situação de sobrevivência, então tudo que tem pra fazer, eu vou fazer. Só que, pra você crescer, você precisa ter foco, mesmo. Você precisa olhar pro seu mercado e saber onde estão seus pontos fortes, onde você precisa trabalhar mais, quais são as oportunidades, o que vai te trazer mais impulso nesse crescimento. Eu precisava disso, de um impulso. Eu estava fazendo, mas não estava crescendo. Estava me mantendo no mercado. E aí, um mercado cheio de oportunidades, esse programa me ajudou muito a olhar pra isso e ver pra onde que eu queria ir, onde eu precisava ter esse foco, né? E aí, disso nasceu a revisão também, revisitando a marca, modernizando mais, porque era um logo já mais antigo e agora a gente está num momento de inovação, tecnologia, rede social, marketing digital. Então, eu precisava olhar pra tudo isso. E o programa me deu muito mais essa visão, de olhar pra dentro, ver onde estavam as minhas forças, onde precisava desenvolver mais, inclusive a Cátia também, como líder, o que eu precisava melhorar e aí ficou muito claro que eu precisava melhorar também a questão da liderança, de lidar com pessoas, porque eu estava só mais focada na parte mais técnica. Não das pessoas, de como motivar, engajar as pessoas. Então, assim, foi um aprendizado. Nesses dois últimos anos eu aprendi muito e com o programa, mesmo. Foi sensacional. Eu super recomendo, quem é empreendedor, a participar desse programa, porque vale muito a pena.
P/1 — E, Cátia, você falou que você casou com o Tiago. Como vocês se conheceram? Como foi o momento do casamento?
R — Eu conheci o Tiago em 2007 e foi através de um amigo em comum, que é o Rodolfo, que tinha uma turma de amigos na Serra da Cantareira e ele trabalhava comigo. Então, eu não estava namorando, estava sozinha nessa época e o Rodolfo me chamou pra conhecer a turma dele, que eles faziam muito esporte. Eles faziam muito enduro a pé, não sei se você conhece. É uma prova de regularidade, que você tem lá um caminho e é um trabalho muito em equipe e é uma corrida de regularidade, só que é sempre no meio do mato, de alguns locais como Ilhabela, Itu, na mata. Então, vai um que vai mapeando por onde tem que ir, mas tem que chegar - é de regularidade – no tempo certo. Não pode chegar nem antes, nem depois, né? E ele me convidou pra participar de uma prova, eu me interessei: “Nossa, que bacana, vamos fazer isso, sim” “E aí, antes de fazer, de se inscrever na prova, eu vou te apresentar os meus amigos”. E aí eu fui para um jantar, num barzinho mesmo, lá na Serra da Cantareira, no Velhão (risos) e aí eu conheci o Tiago lá. E a gente ficou um sentado do lado do outro, conversando e brincando também. Tinha uma outra moça na frente, que estava a fim dele, ela estava paquerando-o, mas eu estava super bem, estava conhecendo, toda a turma do Rodolfo e aí a gente marcou de fazer essa prova e eu achava o Tiago um pouco metido ambém, sabe? Eu conversava com ele, brincava com ele, mas o achava um pouco metido. Falava: “Nossa, que menino estranho!” (risos) Mal sabia o que estava reservado. (risos) E aí a gente virou amigo, essa turminha, a gente começou a fazer mais provas, mais provas. Foi super bacana, é uma turma bem saudável, assim, de esporte e de cozinhar em casa e eu sou muito mais tranquila nesse sentido, eu não gostava muito de sair à noite e balada. Então, eu meio que me encontrei ali, sabe? Eu falei: “Olha que legal! Uma turma bem bacana de fazer amizade”. E aí foi ali que começou, nessa turminha um começou a namorar com o outro e a gente ficou por último, sabe? E aí, num dia, eu acho que ele já estava a fim de mim, ele me convidou pra ir pruma pizzaria e aí eu falei: “Não dá pra eu ir, porque eu estou aqui...” - eu estava o interior de São Paulo, na casa de uma amiga – “... em Jundiaí”. Não era tão longe. Aí ele falou: “Não, mas eu vou aí te buscar”. Eu falei assim: “Não tem como eu sair daqui agora, porque acabei de chegar”. E ele falou: “Não, mas eu vou até aí”. Aí eu falei: “Tá bom”. E ele foi e pra me buscar, mesmo, só que eu estava num sítio, de biquini, super na piscina e ele todo arrumadinho, chegou lá no sítio da minha amiga de camisa, calça, estava todo arrumadinho, queria ir na tal da pizzaria. Aí eu falei: “Não, mas eu não vou. Eu falei pra você que eu não ia. Você não quer entrar, ficar aqui com a gente?” Ele: “Não, então eu vou embora”. Ele foi até lá, me viu e foi embora. (risos) Aí, no dia seguinte, os meus amigos que estavam lá na pizzaria, tiraram um sarro dele, né? Que ele foi até lá e voltou sem me trazer e aí até me ligaram e falaram: “Você é louca! Ele está a fim de você”. Aí que eu me toquei que ele estava a fim de mim. Olha que devagar, a pessoa. Ele vai até lá e eu demorei pra entender. E aí eu comecei, depois, no dia seguinte, falei: “Nossa, mas eu também gosto dele”. Eu comecei a perceber que eu também estava a fim dele. E aí eu liguei pra ele no dia seguinte, perguntando se ele queria fazer alguma coisa à noite e daí ele me deu um fora, né? Óbvio. (risos) Mas até que isso foi acontecendo e aí, depois de uma semana, mais ou menos, a gente conseguiu marcar de jantar, ele foi me buscar em casa e foi muito bonitinho, com uma rosa colombiana ainda. Foi me buscar e me deu uma rosa, bem assim, todo low profile. (risos) Me deu uma rosa, a gente saiu pra jantar e nesse jantar eu comecei a perceber que eu tinha muito mais a ver com ele do que eu pensava, assim, porque a gente sempre estava em turma, então era sempre risada, brincadeira e não falava sobre família, histórias e tudo. E aí um dia a gente começou a conversar sobre as nossas histórias, ele também começou a trabalhar cedo, embora a família dele também sempre teve empresa, mas ele começou também com quatorze anos. Enfim, a gente começou a conversar sobre a vida e a gente viu que tinha muito mais a ver do que realmente a gente pensava, né? E aí foi quando começou, nesse dia, a namorar. (risos)
P/1 — E como foi se tornar mãe? O que a maternidade representa para você?
R — Nossa, a maternidade foi outra fase, uma fase super forte. Contei pra você que, no início da minha história, minha mãe ficou grávida quando meu irmão tinha três meses, né? E eu acho que a maternidade me trouxe um entendimento muito maior que eu tinha com relação a minha mãe. Hoje eu me dou super bem com ela. Então, a maternidade, pra mim, foi um divisor de águas na minha história toda, porque ela ficou grávida quando ele tinha três meses, a família rejeitou, ela também, por dentro, ela me contou isso depois, que tinha pensado até em tirar, graças a Deus ela não fez isso, (risos) então eu sou muito grata a ela, por ela não ter feito isso e aí, até os meus quinze anos, ela sempre falava, porque aconteceu alguma coisa no meu nascimento, que ela quase morreu, então toda vez que eu fazia alguma coisa errada, ela falava pra mim assim: “Eu quase morri por sua culpa” e eu ouvi isso até os quinze anos. E eu não entendia, até que um dia eu falei: “Mãe, para de falar isso. Ninguém morreu. Por que toda vez você tem que falar isso?” E aí foi, acho, um dia que eu falei muito sério com ela disso e ela nunca mais falou, mesmo. Então, foi só mais ou menos até os quinze anos. E aí, no nascimento da minha filha, eu escolhi que eu queria fazer um parto natural, que eu queria que fosse com uma equipe humanizada, aí eu fui atrás disso, pra entender como funcionava. Foi na maternidade, mas eu queria que fosse o mais natural possível. Não a qualquer custo, mas eu queria um processo mais natural. E aí, no nascimento da minha filha, eu lembro que eu fiquei dezoito horas em trabalho de parto e a obstetra que estava comigo tinha em experiência em parto natural e, na hora, ela falou pra mim: “Cátia, me conta como foi o seu parto” e aí eu desabei a chorar, porque eu comecei a contar e lembrar tudo isso da minha mãe e aí a obstetra falou assim: “Bom, eu vou sair agora” – eu estava na banheira – “e você vai contar pra Marrie que a sua história vai ser diferente da sua com ela”. E aí eu falei: “Tá bom”. Comecei a chorar e falei: “Marrie, nossa história vai ser diferente, não sei o quê” e fui conversando e depois que aconteceu isso, ela nasceu. Muito rápido. Então, o nascimento da Marrie, foi um divisor pra mim, com relação ao relacionamento que eu tinha com a minha mãe e, quando ela estava com três meses, eu entendi o que minha mãe sentiu, sabe, de ficar grávida tendo um bebê de três meses. Pra ela não deve ter sido nada fácil. Então, acho que o nascimento da Marrie marca muito essa questão da maternidade, de entender a minha história. E aí, depois disso, meu relacionamento com a minha mãe virou outro hoje em dia, assim, depois da chegada dela. Eu acho que foi um novo nascimento, né? Que foi isso que representou, mesmo.
P/1 — Uau! E, Cátia, como é o seu dia a dia hoje?
R — O meu dia a dia hoje é bom, nessa pandemia eu estou trabalhando mais home office. Então, eu me dedico bastante à empresa, durante o meu dia. Então, a minha equipe também tem muitas reuniões virtuais, nós temos equipe comercial aqui em São Paulo e uma equipe também em Belo Horizonte e também em Campinas. Então, hoje em dia é mais remoto, mesmo, que a gente faz os nossos encontros e a gente tem, uma ou duas vezes por semana, aqui na empresa, no escritório mesmo. Minha filha está na escola meio período, agora está de férias, tem uma pessoa em casa que me ajuda também, com ela, enquanto eu estou no dia a dia do trabalho e é isso. Acho que minha vida resume bastante: meu marido, a gente também tem as nossas atividades juntos, em casa; o trabalho; e a Marrie. (risos)
P/1 — E é isso, assim: como o coronavírus, essa pandemia que chegou tão rapidamente, o que transformou, assim, na sua vida, como afetou, desde os seus negócios, até você, individualmente, assim, a sua rotina, tudo?
R — No começo da pandemia eu fiquei com bastante medo do que ia ser, de quanto tempo isso ia durar. A gente estava numa fase na empresa, de ter alguns projetos que estavam já para serem assinados e esses projetos foram postergados, até hoje tem alguns que nem saíram do papel mesmo. Então, foi um momento que deu bastante medo mas, ao mesmo tempo, eu pensava que eu tinha que estar com a cabeça boa, então minha rotina mudou bastante: hoje eu acordo mais cedo, faço caminhada, faço algum exercício, até pra ter a cabeça um pouco melhor, porque acho que todo mundo deve ter passado por isso no início da pandemia, de medo, de não saber o que ia acontecer, quanto tempo ia durar, preocupado com a família também, com cada um que está na sua casa, então acho que isso mudou bastante. Teve o lado bom também, que eu fiquei mais perto da minha filha. Eu pude, nesse um ano e meio, ficar muito mais próxima dela e está muito bacana, ela entende quando eu estou em reunião, quando eu estou fazendo algum trabalho que eu preciso de silêncio e aí ela brinca do meu lado. Então, eu acho que esse foi um ganho muito grande, assim, que talvez naquela loucura que a gente estava, de vir pro escritório, passar o dia inteiro, chegar à noite, eu só a via na hora de dormir, talvez isso não teria acontecido tão rápido. Então, foi muito bom por esse lado. Eu sempre, quando dá seis horas da tarde, eu tento ficar mais com ela, fazer a rotina dela de jantar, banho e pôr pra dormir, ela dorme muito cedo, oito e meia. Então, se tem alguma coisa do trabalho que eu preciso entregar, eu paro esse horário e depois eu volto, umas oito e meia. Então, acho que também ficou um pouco mais flexível nesse sentido de horário, de fazer mais coisas. Às vezes, eu fico até mais cansada, mas eu vi que teve essa melhora na rotina. E com relação a empresa, entrou também um segmento que eu não tinha aqui, nessa fase da pandemia, que foi o residencial. Como as empresas começaram a postergar os projetos e o nosso negócio estava mais voltado pro B2B, eu não tinha olhado tanto para o residencial. Só que nesse um ano e meio, as pessoas começaram a ficar mais em casa, consumir mais energia, as tarifas começaram a aumentar e aí começou a haver mais interesse do residencial e a gente: “Não, a gente está com a equipe aqui, então vamos começar a olhar pro residencial também”. Então, nasceu mais um segmento que a gente não atuava e que está indo muito bem, que eu não esperava, assim. Tinha um pouco de receio de fazer projeto residencial porque, sempre na casa da pessoa, sei lá, você pode colocar energia solar no telhado e ter um vazamento, aí tem questão de garantias, que você tem que ver tudo isso e eu tinha esse cuidado, de pensar em tudo isso e, pra minha surpresa, são projetos muito rápidos, residencial você instala em três dias e a gente conseguiu fechar algumas residências aí do meio do ano passado para agora. E aí nasceu mais um segmento, então são coisas que a gente não estava olhando, antes da pandemia e começou a ter uma visão diferente também.
P/1 — E, Cátia, pra você, o que é ser uma mulher pioneira, mãe, empreendedora?
R — Eu sinto muito orgulho da minha história toda, sabe? Então, eu sou muito feliz. Eu estou onde eu gostaria de estar, mesmo. Eu tenho muito orgulho de falar que eu sou pioneira, que minha história se mistura com a história da energia solar no Brasil, porque começou junto, então eu sou muito feliz mesmo e muito grata a tudo. Sozinha a gente não faz nada. Eu acho que eu sou muito grata às pessoas que vêm aparecendo nesse caminho, na trajetória toda, desses anos. Como esse grupo de mulheres também da EY [Ernst & Young], sou muito grata mesmo, por estar no meio delas. É difícil falar como é. (risos)
P/1 — E o que a Stoyan, a sua empresa, representa na sua história e também na história da energia renovável do país?
R — Ela, pra mim, é como se fosse o meu segundo filho, ou meu primeiro, né, porque, na verdade, veio antes da Marrie. Então, a Stoyan, pra mim, é como se fosse o meu filho, que eu tenho muito carinho e que ele nasceu, ela nasceu para levar energia nos quatro cantos do país, de mudar esse pensamento do nosso dia a dia, de olhar a energia solar como um recurso disponível e gratuito, tentar usar, mudar essa mentalidade de usar um recurso que já está mais disponível e ela representa pioneirismo, mesmo, no nosso país. Como a gente tem esse segmento em áreas isoladas, é onde a gente tem menos concorrentes, então as empresas que são concorrentes vêem a Stoyan como uma empresa especializada em áreas remotas. Então, às vezes, eu recebo muita indicação até. Então, ela é vista como pioneira e também especialista nesse segmento de locais isolados.
P/1 — E quais são seus maiores sonhos para o futuro?
R — O meu sonho é ver a minha empresa crescendo cada vez mais, prosperando e contribuindo pro nosso país. Eu acho que o Brasil tem total condição de ser líder nessa parte de energias renováveis, que já é um dos líderes e tem condição de ser visto dessa forma lá fora e é isso que eu quero contribuir. É um sonho: contribuir para que nosso país seja visto - continue crescendo na parte de energias renováveis - como um líder, mesmo, nessa causa de usar menos recursos, de não só tirar da natureza, mas devolver, sabe? Acho que o Brasil pode ser líder nisso e ser muito bem-visto lá fora, nisso. Acho que tem muita condição.
P/1 — E sonhos individuais? Mais pessoais, acho que é melhor.
R — Pessoais. (risos) Ah, meu sonho, eu tenho vários. Eu tenho um vision board, sabe, na minha casa, onde eu coloco todas as minhas metas e sonhos, que é onde eu quero chegar, né? E dentre elas, tem várias viagens: eu quero ver a aurora boreal, então eu tenho um plano de ir pra Noruega, para Finlândia, tem algumas viagens que eu quero realizar. Vixe, tem muita coisa que eu quero fazer pessoalmente, conquistar mesmo junto com meu marido, com a minha filha, sempre tem os dois na minha lista de objetivos pessoais.
P/1 — E você gostaria de acrescentar alguma coisa ou contar alguma coisa que eu não tenha instigado? Ou deixar alguma mensagem?
R — Eu falo mal, né? Às vezes, eu fico pensando quais palavras que eu tenho que falar. (risos) Não sei. Se tiver mais alguma pergunta, assim...
P/1 — Então, eu vou fazer uma outra e aí você vai pensando, qualquer coisa, fique à vontade.
R — Tá.
P/1 — O que você acha de mulheres empreendedoras serem convidadas para contarem suas histórias de vida através de um projeto de memória?
R — Nossa, eu acho fantástica essa possibilidade, sabe, de ter várias mulheres empreendedoras contando sua história e isso virar uma memória, porque isso pode relembrar às próximas que vão vir no futuro, a lembrar que tudo é possível, que existem referências. Preciso buscar uma referência de uma empreendedora no setor de energia solar, vou lá: “Nossa, tem, eu posso também”, sabe? Então, eu acho fantástico, mesmo. Eu fico até emocionada de pensar no que a gente vai ter, sabe, nesse trabalho todo. Quanta coisa legal que vai servir de inspiração. E memória, mesmo.
P/1 — E o que você achou de ter participado dessa entrevista, de ter contado a sua história?
R — Eu fiquei bastante feliz, um pouco tímida de contar tudo, mas eu vim com a cabeça de que cada um tem a sua história e cada história é importante e válida e pode servir para uma outra pessoa e eu acho que a gente está aqui nesse mundo pra contribuir e, às vezes, contribuir é contar sua história, né? Contar a história pode contribuir com uma outra pessoa e porque não ser transparente, porque não falar o que você é de verdade e o que aconteceu nesse mundo todo. Eu gostei bastante, estou gostando bastante da experiência. (risos)
P/1 — Cátia, eu quero te agradecer demais, pela sua disponibilidade, por ter dividido com a gente, a gente sabe que não é fácil, às vezes, mas foi muito gostoso ouvir sua história. Um pouquinho, né? Sempre é uma parte, um trecho, não dá pra saber de tudo, mas eu tenho certeza que muitas mulheres vão se inspirar e seguir seu exemplo, né? Acaba sendo um exemplo. Então, eu te agradeço demais, eu e toda a equipe do Museu e, quando sua história estiver pronta, no site, a gente te manda, pra você ter uma cópia e vai ser muito bonito, tenho certeza.
R — Obrigada! Eu que agradeço bastante a escuta de vocês essas horinhas aqui, a história, com bastante paciência e ativa, mesmo, uma escuta ativa. (risos) Obrigada, mesmo! Obrigada pelo convite, também. Estou muito feliz.
P/1 — Bru, quer falar algo?
P/2 — Ai, eu quero. (risos) Eu quero agradecer muito por você ter aceitado o convite, pra gente é muito importante mesmo contar a história dessas mulheres, contar a sua história e a sua história estar no Museu é uma coisa que eu acho que é gratificante pra você, de contar sua história, mas pra gente, de ouvir, em vários momentos eu fiquei super emocionada, é bem bonito, mesmo. É um prazer ter a sua história com a gente, muito obrigada! (risos)
R — Obrigada, vocês!
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