IDENTIFICAÇÃO Eliane Sarmento Costa, nasci no dia primeiro de outubro de 1953, Rio de Janeiro. FAMÍLIA Meu pai é Amauri Costa, é advogado. Foi advogado do Banco do Brasil. É aposentado e entrou por concurso no primeiro nível do Banco do Brasil, foi arrimo de família e tudo. Dentro dessa categoria, ele se aposentou como Chefe do Serviço Jurídico do Banco do Brasil. Eu só sei que ele teve uma carreira muito batalhada no Banco do Brasil. Minha mãe, Elizabeth Sarmento Costa, foi dona de casa. Depois, quando a gente já tinha saído de casa – eu e meus irmãos –, ela fez faculdade e mestrado em filosofia; a tese dela foi publicada em livro e, recentemente, publicou um outro livro. Então, são pessoas que têm 20 anos a mais do que eu – eu tenho 51, minha mãe tem 71, meu pai tem 76 – e são bastante ativas, com gosto pelas coisas e que, de certa forma, continuam na ativa. Conheci os meus avós maternos, fui muito próxima a eles, mas morreram quando eu tinha entre 20 e 30 anos. E a minha avó paterna morreu há quatro meses, com 102 anos. Eu era super ligada a ela. Aprendi a ler com ela. Quando eu era criança, ela morou com meus pais, então tinha uma relação forte. Depois me afastei, porque ela foi morar com a filha de uma irmã dela na Usina, quando essa irmã morreu. E, com aquela vida mais corrida, acabei perdendo muito o contato. Aí, quando essa sobrinha com quem ela morava ficou muito doente, não estava mais podendo cuidar dela, meu pai a trouxe para morar em Ipanema, perto deles, num apartamento pequenininho, com uma senhora. Aí, eu comecei a ficar muito próxima a ela e passei a ser a pessoa que cuidava dela, que ia lá todo dia. Uma correria danada, mas em alguma hora do dia eu passava lá para vê-la, para conversar, mandava flores toda semana, porque ela adorava. E ela era super ativa, com 102 anos. Ela passeava todo dia em volta do quarteirão, fazia crochê. Mas, numa sexta-feira, ela teve...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Eliane Sarmento Costa, nasci no dia primeiro de outubro de 1953, Rio de Janeiro. FAMÍLIA Meu pai é Amauri Costa, é advogado. Foi advogado do Banco do Brasil. É aposentado e entrou por concurso no primeiro nível do Banco do Brasil, foi arrimo de família e tudo. Dentro dessa categoria, ele se aposentou como Chefe do Serviço Jurídico do Banco do Brasil. Eu só sei que ele teve uma carreira muito batalhada no Banco do Brasil. Minha mãe, Elizabeth Sarmento Costa, foi dona de casa. Depois, quando a gente já tinha saído de casa – eu e meus irmãos –, ela fez faculdade e mestrado em filosofia; a tese dela foi publicada em livro e, recentemente, publicou um outro livro. Então, são pessoas que têm 20 anos a mais do que eu – eu tenho 51, minha mãe tem 71, meu pai tem 76 – e são bastante ativas, com gosto pelas coisas e que, de certa forma, continuam na ativa. Conheci os meus avós maternos, fui muito próxima a eles, mas morreram quando eu tinha entre 20 e 30 anos. E a minha avó paterna morreu há quatro meses, com 102 anos. Eu era super ligada a ela. Aprendi a ler com ela. Quando eu era criança, ela morou com meus pais, então tinha uma relação forte. Depois me afastei, porque ela foi morar com a filha de uma irmã dela na Usina, quando essa irmã morreu. E, com aquela vida mais corrida, acabei perdendo muito o contato. Aí, quando essa sobrinha com quem ela morava ficou muito doente, não estava mais podendo cuidar dela, meu pai a trouxe para morar em Ipanema, perto deles, num apartamento pequenininho, com uma senhora. Aí, eu comecei a ficar muito próxima a ela e passei a ser a pessoa que cuidava dela, que ia lá todo dia. Uma correria danada, mas em alguma hora do dia eu passava lá para vê-la, para conversar, mandava flores toda semana, porque ela adorava. E ela era super ativa, com 102 anos. Ela passeava todo dia em volta do quarteirão, fazia crochê. Mas, numa sexta-feira, ela teve uma isquemia, foi internada e ficou inconsciente durante um mês no CTI. Ela não teve uma fase de decadência. Ela morreu há uns três meses, talvez um pouquinho mais. Mas foi uma pessoa muito interessante, e eu fui muito próxima dela na minha infância e nos seus últimos anos de vida. E o meu avô por parte de pai, marido dessa minha avó, morreu quando eu tinha acabado de nascer. Ele morreu de tuberculose, naquela época braba da tuberculose, né? Por conta disso é que meu pai foi arrimo de família. A minha avó ficou sozinha – como falei antes. Então, esse meu avô eu só conheci bebê, não tive contato. Mas avô e avó é muito bom, né? Eu tenho dois irmãos. Eu tenho 51 anos, tenho um irmão de 48 e um de 45: o Paulo Amauri, o do meio, e o Ricardo, o mais moço. INFÂNCIA Eu nasci no Leme, depois fui morar na Figueiredo Magalhães, em Copacabana. Uma época em que a Figueiredo Magalhães era uma rua super tranqüila. Agora eu passo e penso: a gente morava no primeiro andar, morar naquele apartamento hoje deve ser um caos. Depois, quando a gente saiu de lá, meu pai foi transferido pelo Banco do Brasil para Londrina, no Paraná. Foi lá que nasceu o meu irmão mais novo, que é seis anos mais novo do que eu. Fui para Londrina com uns seis anos e ele nasceu lá. Ficamos morando um ano e meio – eu acho – e voltamos para o Rio, fomos morar em Botafogo e depois na Lagoa. Da Lagoa, eu já saí para morar com o meu primeiro marido, que é o pai dos meus filhos mais velhos. Meus irmãos saíram também de casa e meus pais ficaram no apartamento grande na Lagoa. O apartamento era muito legal, havia sido comprado na época em que a Lagoa não tinha o tchan de hoje. Foi um dos primeiros edifícios, do lado esquerdo da Lagoa, perto da Fonte da Saudade. Depois que a gente saiu, os meus pais foram morar num apart hotel para fazer uma reforma nesse apartamento, mas não voltaram, nunca mais quiseram voltar. Aí, esse apartamento ficou vazio e, como tenho quatro filhos, até relutei em ir para lá, porque eu morava num lugar que gostava muito. Mas, com quatro filhos, um apartamento grande diminui todos os conflitos e o espaço é uma coisa maravilhosa. Então, já tem uns 12 ou 13 anos que eu voltei a morar nesse mesmo apartamento da Lagoa, onde morei até os meus 20 anos – acho que morei dos 14 aos 20 anos. Quando voltei do Paraná, eu ainda fui para a Figueiredo Magalhães de novo e depois para Botafogo. Do Paraná, eu tenho algumas lembranças pontuais. Por exemplo: todas as galinhas e os cachorros eram vermelhos, porque não era asfaltado. As ruas tinham aquele barro muito vermelho. Aquilo me impressionava muito, porque todas as galinhas eram vermelhas, todos os cachorros eram vermelhos, todos os brinquedos ficavam vermelhos. Tudo ficava vermelho por causa da terra. As casas eram vermelhas. De Londrina, eu me lembro muito pouco, lembro da minha avó, porque ela foi com a gente. Nessa época, eu aprendi a ler com essa avó. Mas o lugar que mais me lembro da infância é a Figueiredo Magalhães mesmo, porque meus avós maternos moravam na esquina. Era uma coisa que eu gostava muito. Uma vez por semana, eu dormia na casa dos meus avós maternos, sempre tive uma relação muito próxima a eles. E era um lugar que eu podia ir sozinha, porque era só uma banda de quarteirão. Aí, me lembro bem da minha infância. Eu voltei para lá depois de Londrina, porque quando tinha 10 ou 11 anos, tive uma doença que foi muito marcante na minha vida. Eu não tinha nada e, um dia, o meu pai olhou pra mim: “Ué, você está mancando” E meu pai é meio científico, quando encasqueta com uma coisa. Eu falei: “Não, não estou mancando.” Uns dias depois, ele falou de novo: “Você está mancando.” “Não, não estou mancando.” Uns 10 dias depois: “Você está mancando” Aí, ele resolveu fazer uma medição na parede e viu que realmente eu estava um pouco torta e me levou ao médico. Uma perna estava mais curta que a outra. Só que isso progrediu muito rápido e eu cheguei a ficar com uma perna três centímetros mais curta do que a outra. Não que ela encurtasse, mas uma crescia e a outra não, ficando três centímetros menor. Então, eu fiquei muito manca, muito manca mesmo. Quase aleijada. E ninguém sabia o que era aquilo. Eu fui a todos os médicos do Banco do Brasil e eles não sabiam o que era aquilo. Quando falavam, usavam palavras que eu não entendesse, como poliomielite, em vez de paralisia infantil, tuberculose óssea. Mas eu não era nenhuma idiota, chegava em casa e olhava no dicionário. Eu comecei fazer um estudo paralelo, quando voltava para casa, para tentar entender o que eles falavam. E ninguém sabia o que era. Por isso, é que eu me lembro que voltei para a Figueiredo Magalhães, porque me lembro que no dia do Golpe Militar, em 1964, eu tinha 11 anos e estava deitada no meu quarto. Eu não podia levantar e fiquei vendo na televisão aquela cena. Meus pais sempre tiveram uma proximidade grande da militância política e ficaram muito mobilizados com aquilo que estava acontecendo. E eu, naquela situação, aleijada na cama, porque os médicos, como não sabiam o que era, sugeriram que ficasse de repouso. Eu fui a muitos médicos. Isso durou uns oito meses. Eles me mandaram sair da escola, fazia exame de sangue toda semana, radiografia toda semana, e não se sabia o que era aquilo. Então, eles chegaram à conclusão de que eu tinha que ir para os Estados Unidos fazer uma biópsia e engessar a minha perna – coisa que, se eu tivesse feito, certamente seria uma pessoa completamente aleijada hoje, visto o que se passou em seguida. Aí, meus pais e eu estávamos muito tristes. Eu comecei um processo de emagrecimento e fiquei magérrima. Até que um dia, o meu pai, que era super perseverante nessa pesquisa – minha mãe também, mas é um traço mais do meu pai –, descobriu, finalmente, um médico do Banco do Brasil que a gente ainda não tinha ido. Fomos a esse médico, era um senhor velhinho, daquele hospital em frente ao Rio Sul. E esse senhor, na primeira vez que me atendeu: “Mas isso aqui é só um problema de crescimento, não tem nada de mais. Eu já tive um caso assim. E, muito pelo contrário, essa menina tem que voltar para a escola, tem que fazer muito exercício, tem que sair desse repouso, tem que fazer superalimentação e fazer natação duas vezes por dia, fazer massagem e muita ginástica. E, principalmente, parar de fazer todos esses exames, porque ela vai morrer é disso.” Aí, meu pai e minha mãe, nessa situação, diante de 30 opiniões de um lado, mas que demonstravam que não sabiam, e de uma que foi super contundente, totalmente para o outro lado, felizmente optaram por esse senhor, me botaram de novo na escola e me deram alta. Eu comecei a fazer uma superalimentação braba, de acordar de hora em hora durante a madrugada para comer – eu me lembro até hoje do cheiro do cálcio – e fazendo ginástica de manhã, de noite, natação, massagem e um monte de coisas. Com tudo isso, a minha perna voltou a ficar exatamente igual. Anos e anos depois, eu me dei ao trabalho de medir as minhas pernas, centímetro a centímetro, para ver se estavam iguais. E estão iguais. Eu me lembro bem que morava na Figueiredo Magalhães, muito por conta também desse momento da minha vida. Lembro de mim ali, dentro daquele quarto, sem poder levantar, o que era um saco, e eu com 11 anos. Então, foi uma situação muito marcante na minha infância para adolescência. Na época, na ABBR - que tem até hoje – tinham os médicos que vinham de fora; então, eu virei caso clínico da ABBR. Aí, toda hora tinha que ir para lá. Imagina: eu, com 11 anos, nua, os médicos sentados, tinha que ficar andando de um lado pro outro. Eu era “troncha”, uma perna mais fina que a outra. Então, imagina isso: você com 11 anos E de repente chega uma pessoa que diz que não é nada daquilo, que é outra coisa e que você vai ficar boa. Meus pais terem apostado nisso, e eu também, para mim foi tudo, né? Realmente, essa aposta foi fundamental. Eu fico imaginando, hoje eu poderia ser uma pessoa muito comprometida, porque numa situação desse tipo que ainda imobiliza, né? Então, essa talvez seja a situação mais marcante que eu lembro da minha infância para a adolescência. Embora lembre de coisas muito legais também, mas essa talvez seja a mais contundente. Há uns dois ou três anos, eu tentei descobrir quem era esse médico. Eu falei: “Eu vou mandar uma carta para esse cara ou então vou lá Porque esse cara tem que saber que ele me deu essa possibilidade de vida.” Aí, comecei a tentar e descobri que ele já estava muito velhinho, que tinha se aposentado e acabei não correndo atrás. Mas é uma dívida que tenho comigo mesma, de tentar dar um retorno para essa pessoa. Eu acho que pro médico também deve ser uma coisa muito legal. Ver que você não faz só aquele lero-lero do consultório da região, mas pode modificar uma existência. Não pude ainda fazer isso. Foi bom me lembrar disso, porque vou retomar essa pesquisa. A partir daí, quando voltei realmente a ficar boa, eu acho que – numa interpretação talvez um pouco simplista da minha parte – passei a viver com um sentido de urgência muito maior, por ter vivido a possibilidade de um futuro um pouco complicado. Talvez isso explique que, desde então, eu sempre fiz muitas coisas ao mesmo tempo. Tem amigos meus que falam: “Nossa, Eliane, tudo você tem que fazer dobrado, parece que está condenada, que tem poucos meses de vida pela frente” E, como isso já vem há muitos anos, eu realmente incorporei essa maneira de viver. ENSINO MÉDIO Eu sempre fiz muitas coisas ao mesmo tempo, sempre gostei de coisas diferentes simultaneamente. Por exemplo, nessa época, eu estava fazendo ginásio, quando voltei para a escola. Tinha que escolher entre normal, científico e clássico. Eu escolhi normal e científico. Fiz normal e científico. É uma coisa louca, porque eu fazia normal de sete ao meio-dia – que era com aquela sainha plissada e blusa de manga comprida – no Horto e, de meio-dia e meia às seis, o científico em Copacabana. Eu sempre estudei em escola pública. Então, era uma loucura: duas escolas Minha mãe passava, me pegava no Horto, eu trocava de roupa na avenida Atlântica – que era onde o trânsito corria mais –, minha mãe levava uma marmita, eu comia e ia para o científico. Fiz todo o primeiro ano assim. No segundo, já comecei a usar mais a cabeça, pedi isenção no normal das matérias que eram muito mais difíceis – a matemática e tal – no científico. E comecei a entrar em todas as equipes de vôlei, de ginástica solo, que dava também isenção de várias coisas no normal. Entrei para o grêmio, era do cine-clube, fazia mil coisas na Escola Normal, principalmente, ligadas aos esportes – ao vôlei e ginástica –, participava de campeonato. Tudo o que podia. E, de tarde, tinha o científico. Aí, eu estudava. Pro científico, eu estudava. E o que eu estudava para o científico, dava de sobra para o normal, que era muito mais fraco. No terceiro ano, eu tinha que fazer vestibular e aí já não dava. Eu tranquei a minha matrícula no normal e nunca mais voltei. Fiz vestibular, fiz faculdade, nessa época, fiz movimento estudantil e, ao mesmo tempo, dava aula. Fazia milhões de coisas ao mesmo tempo. Continuei com a ginástica e dava aula no Artigo 99 para operários e empregadas domésticas na Igreja de Nossa Senhora da Salete do Catumbi. Na época, tinham muitas ações desse tipo, trabalhos de alfabetização para operários, para empregadas. Eu era comprometida com isso, era do diretório, que reabrimos em 71, com o movimento estudantil. O diretório da Física estava fechado desde 66, 67. Então, eu fazia Física, mas também tinha várias outras atividades. DITADURA MILITAR Meu pai é advogado. A gente sempre foi muito atenta a essas questões mais humanistas. Meu pai foi uma pessoa muito politizada. Minha mãe, um pouco menos, mas sempre a par do que estava acontecendo. Meu pai era sócio do Lysâneas Maciel – não sei se vocês conhecem –, que é meu padrinho de Batismo. Ele já morreu e foi sócio do meu pai a vida inteira. O Lysâneas tinha uma atuação política muito vigorosa, foi exilado e tudo. Meu pai e ele foram advogados de presos políticos, de várias pessoas, e muitos deles se esconderam na nossa casa, nessa época. Em 1968, eu tinha 15 anos. Acompanhava muito. Eu tive um amigo que estava na passeata e foi baleado. Depois, foi para Alemanha, onde mora até hoje. Saiu do hospital direto para o avião, senão seria preso. Meu pai e o Lysâneas conseguiram isso. Eu mesma tive um processo na faculdade, por causa do diretório. Esse processo foi arquivado, como vários, mas toda a equipe do diretório foi intimada e prestei depoimento. Enfim, depois, o processo foi arquivado, mas naquele momento qualquer brincadeira desse tipo resultava em inquérito, mesmo que fosse só depoimento. Era um estresse tremendo, muito complicado. Nunca vivi nada, pessoalmente, só mais pelo lado moral, como o próprio depoimento, o delegado, aquela coisa na Praça Quinze ali sozinha, não podia entrar ninguém. O meu pai e o Lysâneas me acompanharam, mas não puderam entrar. Era mais uma pressão psicológica. O que aconteceu comigo estava acontecendo com muitas outras pessoas. Então, eu sempre tive uma coisa muito próxima e meus irmãos também, que eram mais jovens que eu. A gente escondeu algumas pessoas lá em casa, amigos que estavam sendo perseguidos. Vários amigos do meu pai e do Lysâneas foram exilados. Alguns voluntariamente, outros acabaram tendo que optar por isso, porque chegaram a ser presos, foram soltos e, para não serem presos de novo, preferiram sair do Brasil. É um lado forte para mim. A perda do Lysâneas foi muito impactante. Ele era um ícone dessa luta, desse momento. Ele morreu dizimado pelo câncer. Para mim, foi muito chocante, conhecer uma pessoa que representou tanta coragem como ele e ter um fim muito triste. Então, eu tenho esse lado político muito forte. Dentro da própria Petrobras, em 1991, eu era gerente de uma área muito grande e perdi a gerência por causa de uma greve. Foram 17 gerentes, no Brasil inteiro, que fizeram greve. Foi uma greve muito contundente dentro da Petrobras e eu fui a única pessoa do Edise, do Edifício Sede, a única mulher a aderir. Então, virei a musa do Sindicato. Mas muito por conta disso, quer dizer, eu até estava numa gerência em que as pessoas me pediram para não descer, porque já tinham perdido um chefe antes, numa outra greve. Eu até fiquei nos primeiros dias, mas chegou num ponto que eu não agüentava mais. Para mim, era muita incoerência comigo mesma, e aí eu desci lá pelo sexto dia. Foi a greve de mais impasse dentro da Petrobras. Houve muita demissão e muita pressão. Acho que foi ainda no governo Collor. Os gerentes tinham que fazer listas das pessoas que estavam lá embaixo, eu não queria fazer a lista e resolvi descer. Então, quer dizer, esse lado político, de certa forma, me acompanha. Hoje eu não sou uma ativista do Sindicato, mas já fui da diretoria da AEPET, da Associação dos Engenheiros da Petrobras, que é uma associação que tem um papel político importante dentro da Petrobras. E, por conta dessa greve, fiquei meio que no limbo alguns anos. No ano passado, passei a ser Gerente de Patrocínio, já no Governo Lula. Mas fiquei um bom tempo no limbo por conta dessa greve. Mas faz parte. ENSINO SUPERIOR Só Deus sabe dizer o porquê de ter escolhido a Faculdade de Física. Eu nunca trabalhei com Física. Eu gostava e gosto muito de matemática. Gosto muito da matemática do 2º Grau. Adoro pegar essas provas de vestibular que saem no jornal, gosto de fazer as provas. Mas a matemática e a física da faculdade são muito abstratas, e eu já não gostava tanto. Mas, naquele momento, eu achava que era aquilo que queria fazer e continuei fazendo. Não me passou pela cabeça, enquanto estava na faculdade, que eu pudesse fazer alguma outra coisa. Quando me formei na PUC, em 1974, no final do ano, a Petrobras ia às universidades. Também tinha essa coisa do movimento estudantil, que me prendia muito na faculdade também. Eu gostava do que fazia ali, o diretório da física era muito atuante. INGRESSO NA PETROBRAS Quando eu me formei, já namorava o meu primeiro marido, que era da faculdade e tinha se formado em engenharia. A gente estava andando na faculdade e tinha umas mesinhas da Petrobras. Na época, a Petrobras ia às boas universidades chamar as pessoas para fazer o concurso. Ele se inscreveu, eu me inscrevi também. Eu estava me formando, ele já estava formado e trabalhava em outro lugar. Fizemos o concurso e fomos fazer uma viagem para o Nordeste. Era tanta gente concorrendo, no Maracanã, que toda a minha galeria se chamava Eliane. Eu nunca tinha vivido uma experiência assim, de olhar em volta e só ter Elianes Não é uma coisa exótica? Olhava e todo mundo era Eliane, Eliane, Eliane. Depois, eu vi o filme do John Malkovich e falei: “Eu já vivi essa experiência que todo mundo era John Malkovich.” Eu vivi uma situação em que todas as pessoas a minha volta eram Eliane. Nessa minha idade, tem muita Eliane. Minha mãe disse que é por causa de uma cantora que tinha na época ou de uma artista de cinema. Então, tinha muitas Elianes mesmo. A prova era de matemática, inglês e redação. Eu escrevo bem, sou muito boa em matemática e tinha acabado de fazer a Cultura Inglesa e tal. Mas tinha também muitas questões de lógica e umas coisas de informática. E eu só podia fazer para informática. Não havia nenhuma carreira dentro da Petrobras ligada à Física. Fiz para informática e saí da prova achando que não tinha a menor chance. Só com a quantidade de Elianes a minha volta, eu vi que era muito difícil. E o Marco, meu ex-marido, achou que tinha feito bem, mas que não daria para passar. A gente tinha uma viagem marcada para o Norte-Nordeste. Fomos para o Nordeste num fusca que a gente tinha. Em Manaus, a gente ligou para a minha mãe e ela falou: “Vocês dois passaram para a Petrobras, já tinham que ter começado há quatro dias.” A gente voltou correndo pela Belém-Brasília, no fusquinha. Ele dirigindo de noite e eu dirigindo de dia. E, aí, eu entrei para a Petrobras. Entrar para a Petrobras, para mim, tinha muito a ver com essa coisa política. Era entrar para o que ela representava, uma empresa criada em cima de uma luta da própria sociedade brasileira. Então, até hoje, eu tenho um orgulho muito grande de trabalhar na Petrobras. Visto muito a camisa da Empresa. Quando eu entrei, na mesma hora, eu tive certeza de que não ia mais fazer mestrado em Física e fui fazer o curso. Tinha um curso, aqui no Rio, de 10 meses que a Petrobras faz para quem acaba de entrar. O meu ex-marido também entrou. E a gente tinha que estudar muito, porque no final do curso as pessoas eram remetidas para as várias unidades do Brasil. A gente não era casado no civil. Então, os dois tinham que estar muito bem para escolherem o mesmo lugar. Nesse ínterim, a gente começou a morar junto. Aí, tinha essa coisa. Então, a gente estudava muito e acabamos os dois passando muito bem e ficando no Rio. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Fui trabalhar na Informática, que hoje se chama ATI, mas na época se chamava Informática. Fui trabalhar na área de desenvolvimento de sistemas para computador de grande porte, na época eram de grande porte mesmo, era um andar inteiro de computador. Trabalhava nos sistemas financeiros: ordem de pagamento bancário, sistema de faturamento e cobrança. Eram todos os sistemas que estavam se estruturando na Companhia. Acho que foi um grande barato. Hoje, as pessoas não têm noção do que é o interior da informática. Toda programação de objeto e tal, você pega o mouse, joga pra cá e joga pra lá. Na época, não tinha isso. Você tinha que, realmente, programar tarefa a tarefa, comando a comando. Você tinha as caixas de cartão perfurado. Quando você estava com muita pressa, saía com aquela caixa e, inevitavelmente, caía no chão e saía tudo da ordem. Eram outros os problemas que a gente tinha. E era assim: você era parte do processamento, então você tinha que pegar aquela caixa, levar no CPD, pedir para o operador botar na leitora de cartão ou você mesma colocava na leitora. Aí, você ia para as unidades de fita, que eram aqueles armários enormes, e esperava aquilo sair. Saía a listagem, via o código e voltava para reprocessar a parte do ponto que tinha dado erro. Era uma coisa muito mais artesanal e muito mais de cabeça, de você ter que ser um pouco inteligente. Não bastava sacar da informática, das ferramentas, tinha que ser bom de lógica. Hoje, muitas rotinas já são pré-programadas. Claro que quem faz os aplicativos tem que ser muito bom de lógica também. Mas na programação comercial hoje, dentro da Petrobras, muitas coisas são rotinas pré-prontas que a gente estava naquele momento preparando. Então, é uma época da informática que eu tenho o maior orgulho de ter vivido, o maior prazer mesmo de ter vivido esses primórdios. Quando eu vejo os meus filhos, que já são adultos, mexendo no computador com a maior intimidade, penso no que isso já foi e os trabalhos que envolveu, acho que é um privilégio ter participado. Aliás, eu me sinto uma pessoa muito privilegiada. Eu vivi grandes momentos, acho que estava dentro de grandes momentos da minha geração, como esse momento da informática, essa questão da política, a própria liberação dos costumes, a própria música dos anos 70. Então, eu acho que vivi os melhores anos. Eu falo para os meus filhos: “Pôxa, que pena que vocês não nasceram naquela época Era tão bom” MÚSICA Quando era adolescente, já nessa minha fase febril de fazer milhões de coisas, eu comecei a ter aula de violão, fazia flauta doce também e cantava em coral. Fiz as três coisas. Cantei em coral durante muito tempo. Depois, bem mais tarde, há uns 20 anos, voltei a cantar em coral na Pró-Arte. Aí, cantei uns três anos e parei. Os meus pais não são muito de música, não. Engraçado essa coisa da música, eu acho que veio de fora, de algum amigo ou da própria cultura que era muito efervescente nesse lado. Sempre gostei muito de música popular brasileira. Na minha casa, os meus pais ouviam uma música mais internacional, Nat King Cole, Frank Sinatra, mas gostavam de um samba-canção, uma coisa mais assim. Mas não eram fanáticos. Meus pais nunca foram de chegar em casa e ligar um som, mas gostavam, apreciavam. A gente tinha vários discos, eu e meus irmãos tínhamos de crianças. Mas não era o lado mais forte deles. Eles sempre leram mais do que ouviram disco. O coral foi também nessa época de vestibular. Era um coral chamado Nei Brasil, em que o próprio Nei Brasil era o regente. Era um coral pequeno, mas que foi muito legal, até por ser pequeno, tinha três pessoas em cada voz. Era bom, era gostoso. Durou uns dois anos. No repertório, tinha de tudo, desde música brasileira para coral até músicas – agora não me ocorre nenhuma –, mas folclore, tinha Bach também, além de música de coral mais moderna, com arranjos mais contemporâneos. Depois, o Nei foi para a Argentina, ele fazia canto e foi cuidar da formação dele. Aí, eu entrei para a Pró-Arte, onde fiquei por um bom tempo. Isso aí a gente está falando de 70, 71, 72, eu já estava na faculdade. Eu sou soprano, meio soprano. Depois disso, eu saí do coral, mas sempre gostei muito de samba. Na década de 70, eu ainda era casada com meu ex-marido, não tinha os meus filhos, ia muito na roda-de-samba do Teatro Opinião, que tinha Cartola, Nelson Cavaquinho ao vivo. Por isso é que digo que eu sou uma privilegiada Não é um privilégio? E eu ia todas as segundas-feiras. O meu ex-marido é belga e ele não vibra como eu vibrava e vibro até hoje. Então, eu ia todas as segundas-feiras, sozinha, para a roda-de-samba do Opinião, como ia todos os domingos de manhã para o Sovaco de Cobra, na Penha. Pegava o 497, saltava em frente ao Sovaco de Cobra, que era uma mercearia onde os grandes caras do choro – Copinha, Zé da Velha, Altamiro Carrilho, enfim, todos esses grandes nomes estavam vivos e o Rafael Rabello era um menino – se encontravam, domingo de manhã, e tocavam choro. Eu ia todo domingo para lá e toda segunda-feira à noite para o Teatro Opinião, para a roda de samba. Comecei a freqüentar muito roda de samba. Gostava de cantar, conheço muitas letras de samba. Então, comecei a cantar em roda de samba e comecei a freqüentar o Cantinho da Fofoca, em Botafogo. Muita gente de samba, hoje, cita esse lugar quando fala o que freqüentava na juventude. Esses caras bons de samba falam do Cantinho da Fofoca, que era um lugar muito exótico. Era uma casa de um cara em Botafogo, numa rua transversal à rua da Passagem. Você entrava, tinha uma sala onde os filhos estavam vendo televisão e tinha uma área com uma mesa comprida de madeira – eles serviam uma sopa lá – em que ficavam ótimas pessoas tocando, como Rafael Rabello, ainda garoto, Luciana Rabello, que era irmã dele, vários compositores que começavam a ser conhecidos. Volta e meia aparecia o Cartola, o Xangô da Mangueira estava sempre. Eu comecei a ir para lá cantar, não tocava nada. Tocava flauta doce e violão, mas nem me atrevia. Flauta doce, não tinha nem clima, e violão eu tocava para estar ali naquele grupo. Nisso, o meu casamento também começou a dançar, porque passei a ter uma carreira solo no samba. Comprei um cavaquinho e falei: “Vou aprender a tocar cavaquinho.” Me separei do Marco, a gente ficou uns meses separados, e depois a gente resolveu voltar. O samba ficou um pouco identificado como fator da separação e, de alguma forma, eu dei um tempo. Hoje, eu faço essa reflexão, infelizmente um dia eu esqueci do samba, não sei por que, acho que teve esse histórico. Eu tinha acabado de comprar esse cavaquinho, nunca tinha aprendido. Guardei o cavaquinho em cima de um armário da minha casa, onde eu morava antes de voltar para a Lagoa. FAMÍLIA Voltei com o Marco e a gente teve dois filhos: o Miguel, que hoje tem 25 anos e é advogado, e o João, de 22, que é jornalista. E esqueci o cavaquinho. Não deu tempo para aprender, porque eu não sabia muito bem ainda o que ia fazer, se era choro, se era samba. Nisso, aconteceram essas coisas e eu guardei o meu cavaquinho. Aí, tive meus filhos e entrei em outra praia. Quando o meu filho mais velho tinha cinco anos e meio e o mais novo tinha dois anos e pouco – já em 83, mais ou menos –, eu resolvi dar uma virada geral na minha vida. Me separei do Marco, pedi demissão da Petrobras e fui fazer formação em psicanálise. Ou seja, dei uma virada total. Não foi uma coisa de momento, não foi em cinco minutos. Na minha relação com o Marco, eu já estava vivendo essa vontade, mas ele não. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu tinha ido, uma época, para a área de ensino, que eu gosto muito. Mas estava no ensino da informática, ligado às minhas atividades. Estava meio de saco cheio daquilo. Tinha pedido para a Petrobras me financiar um mestrado em informática. Estava fazendo mestrado, mais para ter uma forma de sair dali de dentro, para ver se eu gostava mais daquilo, mas comecei a ficar muito mobilizada com essa idéia de fazer formação em psicanálise. Eu já tinha feito psicanálise, mas não tinha formação. Fiz análise durante uns seis anos. O meu analista me dava muita força para seguir esse caminho. Ele até tentou me levar para as sociedades mais tradicionais. Mas foi impossível porque eu não era formada nem em Psicologia nem em Medicina. Aí, encontrei uma sociedade alternativa chamada Terra, em que eu entrei. Mas, aí, eu já pulei o pedaço da demissão, vou voltar um pouquinho. Então, resolvi realmente me separar do Marco e pedir demissão da Petrobras. Primeiro, eu pedi uma licença sem vencimentos. Fiquei seis meses de licença. Depois, não era possível renovar e resolvi mesmo pedir demissão. TRAJETÓRIA DE VIDA Nesse momento, já estava todo mundo achando que eu tinha pirado de vez, porque o meu casamento era super legal: um marido super bonito, a gente tinha um barco à vela, ele era velejador, alpinista, as crianças lindas, a gente muito bem humorada, eu tocando, gostando, todo mundo muito animado. Mas eu, particularmente, estava achando que faltava alguma coisa. Os meus pais levaram um susto, mas não me impediram de forma nenhuma. O estilo dos meus pais é assim, de tentar entender e, se não der, apoiar. Desde garotos, a gente sempre teve um apoio muito grande deles, mesmo quando eles não concordavam. Todos os meus amigos, inclusive os meus pais, ficaram muito surpresos com esse final de casamento. E mais ainda quando resolvi me separar da Petrobras e da própria profissão. Não era só do emprego, era também da Informática. Mas não dava para me separar da profissão, já que eu estava no mestrado, que me dava uma bolsa e eu precisava daquilo. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Estava começando a chegar no Brasil a microinformática. E, por ser da Informática, a microinformática pra mim era uma brincadeira, muito fácil, muito rápido de aprender. Comecei, então, a prestar serviço para empresas, fazendo uma consultoria em microinformática, implantando sistemas básicos em escritórios de advocacia de amigos de meu pai. Então, eu tinha um dinheirinho daí, tinha o mestrado que me dava essa bolsa, mas a formação em psicanálise era caríssima. Eu tinha dois filhos pequenos, como é que você faz mestrado em engenharia de sistemas, formação em psicanálise e consultoria em microinformática? E, além do mais, eu estava solteira, recém-separada de um casamento de 10 anos. Eu tinha muitas coisas para fazer. Ficou complicado administrar aquilo. E, ao mesmo tempo, tinha a minha relação com a formação em psicanálise. Foi legal ter tomado essa iniciativa e ter ido realmente investir nela, mas não me satisfez da maneira como eu imaginei. FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE Fiz 10 meses da formação na sociedade chamada Terra. Mas que eu não achava muito séria. É o tipo da coisa que você não pode fazer não tendo certeza de que é séria, porque isso vai direto dentro do que você está fazendo. Não é fazer uma faculdade de matemática e achar que podia ser melhor, mas que poderia estudar matemática fora. Eu estava me filiando a uma sociedade. Aí, tentei a alternativa de fazer a faculdade de psicologia para poder depois ir para uma sociedade mais consistente, mas era impossível. Não deu mesmo e eu resolvi que a psicanálise é uma coisa que não se esgota. Se, algum dia, eu resolver, depois de aposentar, voltar a fazer, eu posso fazer, porque a idade não vai me atrapalhar, muito pelo contrário. Naquele momento, o movimento que eu precisava fazer eu tinha feito e as experiências que eu queria fazer na psicanálise consegui minimamente perceber para onde iam me levar naquele caminho. RETORNO A PETROBRAS Resolvi, então, voltar para a Petrobras. Voltei com gosto, porque eu acho que se tivesse ficado, jamais teria recuperado o meu lugar e, na época, não tinha esse problema do mercado de trabalho. Hoje, seria inviável pedir demissão e voltar dois anos depois. Eu pedi readmissão, fui readmitida e voltei. Mas voltei já com outro apego à própria profissão. E também muito disposta, muito mais aberta a perceber que, dentro da minha profissão e dentro da Petrobras – que é uma empresa que permite isso por ser imensa, com todas as suas áreas –, eu podia seguir um outro caminho que se juntasse com esse da minha profissão, sem jogar para o alto o que eu já tinha. Então, comecei a investir mais na atividade de ensino, a trabalhar mais com a área de apoio ao usuário de informática, onde o relacionamento com as pessoas era mais importante do que a técnica em si. E eu conhecia a técnica, então, isso me permitia fazer o relacionamento com o cliente – agora se chama cliente, mas antigamente se chamava usuário de informática – e trabalhar com apoio ao usuário. Então, eu comecei a gostar da informática, mas pegando por um outro lado. Era no grande departamento de informática que tinha um setor de apoio ao usuário. Eu voltei para a Petrobras em março de 1986. Assumi primeiro uma chefia no apoio ao usuário, mas numa área diferente, na área de informática da Exploração & Produção. Depois, fui de novo para Área Corporativa de Informática – de onde eu tinha pedido demissão. E lá, eu percebi que o meu barato era esse. A minha questão podia ser na informática, desde que fosse no relacionamento com pessoas. Aí nesse trabalho, percebi que estava caminhando numa direção boa para mim e para a Empresa também. Eu achava que eu podia contribuir dessa forma – comecei a trabalhar com apoio ao usuário e virei chefe da Área de Apoio ao Usuário, que era uma área muito grande, envolvia ações no Brasil inteiro. Fui muito bem nessa área. Mas na greve de 1991, eu perdi a chefia. Algumas dessas datas que eu estou falando pode ser que não sejam bem precisas, mas a da minha volta foi com certeza em 1986 e a greve também, em 1991. Eu pedi demissão em dezembro de 1982. Quer dizer, eu fiquei fora de janeiro de 1983 a dezembro de 1985. Foram três anos, exatamente. Foi um bom tempo. MÚSICA E DANÇA Nesse período que me afastei da Petrobras e me separei, eu retomei a musica. Mas o cavaquinho ainda não. Olha só que coisa interessante. Eu retomei a minha disponibilidade para estar nesses lugares. Então, voltei a cantar nas rodas de samba, voltei a freqüentar muitos espaços de samba e comecei a fazer dança de salão, mas na minha casa. Aprendia com o filho da Antonieta, que é uma grande mestra da dança de salão aqui no Rio. Reuni um grupo de amigos e o Artur, que é o filho da Antonieta, ia à minha casa dar aula de dança, de samba. A aula era de samba, de samba de gafieira e tal. Então, tinha a música nas rodas de samba, cantando, e tinha a dança. Aí, uma vez, o Artur levou um amigo. De vez em quando, ele levava uns amigos adiantados, porque as damas dessa aula não agüentavam aqueles colegas de dança, porque além de aprender a dançar, tinha que aprender a conduzir e eles não conseguiam fazer aquilo. Aí, as mulheres se rebelavam com aqueles homens e era impossível progredir na dança. Então, o Artur levava umas pessoas mais adiantadas, uns amigos para dançar, para distrair um pouco a gente na aula, em vez de só fazer os exercícios com os rapazes. E, um dia, ele levou o Pedro, que é o meu marido já há 20 anos. É uma pessoa que dançava muito e dança muito até hoje. Ele tinha sido aluno da Antonieta. E aí, eu e o Pedro começamos a namorar. O Pedro toca pandeiro. Já fazia uns dois anos que eu estava separada, mas estava muito voltada para essa coisa das rodas de samba e aí comecei a namorar o Pedro “pandeirista”. Eu falei: “Agora eu vou pegar o meu cavaquinho, né?” Mas onde estava o meu cavaquinho? Eu nem me lembrava que tinha um cavaquinho. Fiquei horrorizada porque, quando abri o meu armário, o cavaquinho estava com o braço empenado. Eu levei para o luthier. É um cavaquinho muito bom e é o que eu toco até hoje. Peguei, então, o cavaquinho e comecei a ter aulas. E comecei também a namorar o Pedro. A gente continua com a dança até hoje, sem aula. Toda semana a gente dança, gostamos muito de gafieira, de samba, e estamos sempre em roda de samba, não necessariamente tocando, mas também assistindo. Hoje temos os “Escravos da Mauá”, onde tem essa roda de samba mensal. Então, eu retomei o cavaquinho nessa época, já estando junto com o Pedro. O Pedro tocando pandeiro, eu tocando cavaquinho. Ele gostando de dança de salão, de samba, e eu também. É um casamento muito diferente do meu primeiro, que era muito legal, tinha todas as coisas que davam certo. Eu e o Marco éramos muito parecidos em algumas coisas, para o lado externo, principalmente, mas entre nós mesmos não era uma coisa assim. E o Pedro é o contrário. A gente é muito diferente, pensa diferente. Eu brinco sempre que, quando a gente se perde, dificilmente a gente se encontra, porque eu penso de uma maneira e ele pensa de outra. Aí, ele vai me buscar em lugar e eu vou buscar ele em outro. Mas, ao mesmo tempo, nas coisas mais estruturais, mais conceituais – está me faltando a palavra –, mais essenciais, a gente tem uma afinidade enorme, inclusive nos grandes prazeres. Então, é essa afinidade que é o grande barato. Você ter uma pessoa que gosta muito e, além do mais, as coisas que ele gosta muito são as coisas que você também gosta. Então, fazemos juntos com o maior prazer. Isso é muito bom, muito legal. E eu tive uma outra filha com ele também. ESCRAVOS DA MAUÁ Eu comecei a namorar o Pedro em fevereiro de 1995. Nos conhecemos na aula de dança lá em casa, em 1994. O bloco foi formado em 1993 pelo meu irmão mais novo, o Ricardo, que foi até bem pouco tempo do Instituto Nacional de Tecnologia, na Praça Mauá. Um grupo de funcionário do INT – Instituto de Tecnologia – estava com vontade de fazer alguma coisa que não fosse só trabalhar e tomar chope no final do dia e meu irmão propôs que se formasse um bloco. Um bloco que falasse daquela região, que tem uma história muito rica. É uma região onde havia os mercados de escravos nos séculos XVIII e XIX. Foi chamada de Pequena África no Rio de Janeiro, por ter sido para onde os escravos recém-libertos, tanto os de fora como os do Rio, migraram porque era a área do porto, o único lugar onde se encontrava emprego e moradia na beira dos morros. Foi onde se formou a primeira favela, a da Providência, que, na época, se chamava Favela. Tem toda uma história naquela região, não só desse lado mais sombrio da cultura negra, da época da escravatura, como também do surgimento da música de origem negra. Ali surgiram os primeiros ranchos, o carnaval popular, as origens do samba, antes de ir para a Praça Onze, para as casas das Tias, né, Tia Ciata. É a região da Rádio Nacional, da Rádio Mayrinck Veiga, da época de ouro do rádio. É também região de movimentos sociais urbanos interessantíssimos, como a Revolta da Vacina, Revolta da Chibata – do Mestre-Sala dos Mares. É uma região riquíssima do Rio que os cariocas não conhecem. Então, o meu irmão sugeriu que, em vez de fazer uma outra atividade, se criasse um bloco com a proposta de que os sambas sempre falassem de forma positiva daquele lugar, que foi considerado a porta dos fundos do Rio de Janeiro – o Porto –, e que os sambas trabalhassem a história desse lugar, dos personagens – João da Bahiana, Pixinguinha, Donga – que se encontravam, trabalhavam ou moravam ali. Eu não fui no primeiro desfile de 1993, mas a partir de 1994, eu já entrei. Primeiro, foi uma coisa mais do meu irmão e seus amigos do INT. E, logo que entrei, eu me apaixonei por aquela história. O que antes era um bloco formado por 15 pessoas e que no desfile reunia 250 – porque ali é um lugar de passagem, qualquer bloco que você faça vai gente atrás –, hoje é uma coisa imensa. A gente tem que fazer um bloco clandestino. Às sete da manhã, eu mando um e-mail dizendo: é hoje. Você chega lá às 10 e meia da noite e tem mil e quinhentas pessoas na rua. É uma coisa louca É a contramão de tudo o que você pode imaginar. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Tem um outro lado que eu acabei não contando. Assim que eu entrei para a Petrobras, como não podia ficar só na informática, em 1975, eu comecei também a fazer pesquisa free-lance de história do samba para a Funarte. Nos anos 70, a Funarte tinha uma produção enorme de monografias e livros de música popular brasileira. Grandes autores, como o Sérgio Cabral, Marília Barbosa, escreviam as biografias e precisavam de pessoas que trabalhassem na pesquisa. Eu fiz uma pesquisa sobre a Chiquinha Gonzaga, em jornais de época. Trabalhei muito com essa história do samba e, quando meu irmão fez esse bloco, anos depois, ele falou: “Poxa, Eliane, você precisa me ajudar, porque eu estou fazendo os sambas e você pode fazer a história do berço do samba, do choro.” Eu já conhecia um pouco dessa história, porque tinha lido muito numa época anterior, mas passei a ler mais. E, tanto ele como eu, nos apaixonamos perdidamente por aquela região. O Pedro, meu marido, também entrou nessa história, porque ele é super por dentro desse movimento. Em 1997, eu estava muito envolvida com o bloco do meu irmão, mas trabalhando na Petrobras. Foi depois da greve, na época que eu fiquei no limbo, meio encostada porque nitidamente tinha peitado uma situação e gerente da Petrobras não faz greve. Então, fiquei meio encostada e sobrou mais tempo, o que gostei bastante porque fui fazer outras coisas que gostava também, além de trabalhar na Petrobras. Não que não me dessem trabalho, eu tinha trabalho e buscava mais trabalho ainda, mas tinha muito mais tempo do que tenho hoje, por exemplo. Aí, comecei a pensar em fazer um projeto sobre a região portuária. Inscrevi um projeto na Lei Municipal de Cultura – exatamente o outro lado do que eu faço hoje, como Gerente de Patrocínio –, mas de forma muito pessoal mesmo. O projeto foi aprovado na Lei Municipal de Cultura. Era um projeto de um cd-rom sobre a região portuária. Ele foi aprovado com louvor e comecei a procurar patrocinadores. Consegui direto um patrocinador integral, uma coisa fabulosa, o que é difícil. Consegui o patrocínio da Multiterminais Alfandegados, a maior empresa da área do Porto. E comecei a fazer esse Cd-rom. Foi um trabalho muito profissional, de cento e cinqüenta mil reais. Cd-ROM - CIRCUITO MAUÁ Em 1997, inscrevi esse projeto na Lei Municipal, consegui o patrocinador, montei uma equipe legal, 20 e tantas pessoas. Convidei o Sérgio Lamarão para escrever sobre a história do Porto, porque ele é uma pessoa com mestrado e doutorado sobre esse tema; a Lia Calabre, para escrever sobre a Rádio Nacional, ela estuda a parte das rádios e trabalha com o Saroldi com a história do rádio; o Roberto Moura, para escrever sobre a cultura negra, sobre a Pequena África no Rio de Janeiro; a Nina Rabha, para escrever sobre o Patrimônio Urbano edificado, sobre o casario do século XIX que ainda tem por lá, ela é uma urbanista que foi administradora da região; e ainda o Carlos Addor, para escrever sobre os movimentos sociais urbanos na região. Só convidei pessoas que tivessem livros e trabalhos publicados. Negociei a trilha sonora de O Mestre-Sala dos Mares, de João Bosco e Aldir Blanc. Foi um trabalho muito profissional. Lancei o cd-rom em 1998, com essa equipe toda. Havia sido um trabalho de 18 meses bem puxados. No cd-rom, eu não fiz nada de informática, fiz a direção de produção e o roteiro, que era o que realmente gostava de fazer. E aí lançamos esse cd-rom em junho de 1998. Ficou um trabalho muito bonito. Tem 600 imagens históricas do Rio de Janeiro, depoimentos de pessoas do Morro da Conceição, que é essa região bem acima da minha roda de samba. É um morro onde moram muitos velhinhos e eu entrevistei esses velhinhos. Tem depoimentos muito legais. Para minha surpresa e satisfação, e também porque tinham pessoas muito boas na equipe, esse cd-rom ganhou o prêmio América Latina de Multimídia. Eu fui apresentá-lo na França, em francês, em setembro de 1998. Assim que lancei o cd-rom, eu li no jornal sobre um concurso de multimídia, o Prix Mobius, um prêmio internacional anual, e me inscrevi. Eu sempre fui assim. Tinha acabado de lançar o cd, vi no jornal e o inscrevi. Eu fui apresentar na etapa Brasil, sabendo que ia concorrer com outras pessoas de universidades, pessoas com trabalhos em 3D, digital. Realmente, o cd-rom é muito legal, é apaixonante, tem algo ali da região que o torna muito emocionante. Sem contar com a belíssima trilha sonora que, dentro daquele contexto, é ainda mais emocionante. Realmente, foi incrível Eu tirei o primeiro lugar no Brasil e fui para a etapa América Latina. Era na França e tinha que apresentar em francês. Preparei uma palestra em francês e apresentei. Para você ver, com o francês da minha escola pública, do científico Olha que loucura Vê se hoje você tem uma coisa dessas Aí, eu peguei esse embalo, por conta dessa ressonância e, em seguida, comecei a ganhar vários prêmios. Ganhei o Prêmio dos Arquitetos do Brasil, o Prêmio Urbanidade 2000, pelo conjunto da obra: pelo cd-rom, pelo meu trabalho nas rodas de samba e pelo bloco Escravos da Mauá na região portuária. ESCRAVOS DA MAUÁ – CIRCUITO MAUÁ O meu irmão tinha formado o bloco Escravos da Mauá. O bloco só tinha ensaios pré-carnavalescos, de dezembro a fevereiro ou março. Em 1998, quando eu lancei o cd-rom – a essa altura, eu já tocava cavaquinho nas rodas de samba e no carro de som do bloco –, foi um ano em que o carnaval de bloco ressurgiu e eu usei para filmar muitas coisas para o cd-rom. Então, eu convidei as manifestações culturais para se apresentarem nos ensaios do nosso bloco: Afoxé Filhos de Gandhi – que existe aqui no Rio e ninguém conhece, é um afoxé com os mesmos preceitos do da Bahia, só que aqui no Rio pode entrar mulher e na Bahia não –, a Escola de Samba Vizinha Faladeira e o jongo, ambos da região portuária. Mobilizei todas as manifestações do lugar para dentro dos ensaios. E isso fez com que os ensaios desse bloco, ao qual iam 330 pessoas, ganhassem uma visibilidade grande. Porque foram lá para serem filmados, mas ao mesmo tempo acabavam aparecendo nos jornais, era uma grande manifestação. Então acabou tendo uma forte repercussão. E o próprio Bloco Escravos da Mauá entrou no cd-rom, no item carnaval, porque ali era uma região muito rica, onde teve a origem do carnaval popular. A partir de 1998 - eu já tocava cavaquinho e a gente tinha uma articulação grande com a comunidade, desenvolvida por causa do Cd-rom, para as entrevistas, para depoimentos, para as fotografias –, a gente começou a fazer rodas de samba mensais. Sempre com samba de raiz, samba tradicional. Quando chega novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, aí também tem a bateria e se ensaia o samba do bloco. Então, isso cresceu muito, e as rodas de samba são muito legais, muito animadas. Não tem nenhum virtuose no meu grupo, nenhum profissional. Somos 13 pessoas, nenhum de nós é profissional, mas todos somos apaixonadíssimos pelo que fazemos. O meu irmão não, mas o meu filho de 22 anos toca violão. O Pedro, meu marido, toca pandeiro, eu toco cavaquinho, a Cláudia canta, e tem todas as outras percussões. Tem várias pessoas da Petrobras. Somos cinco petroleiros dentro do grupo, levados por mim. Essas pessoas entraram logo depois que entrei e quando a gente começou a fazer as rodas de samba mensais, eles vieram para tocar realmente. Eram pessoas que gostavam e tocavam também. Então, começou a ficar uma coisa só, porque eu tinha o cd-rom, que estava muito articulado com aquela estrutura ali, o bloco, que já existia desde 1993, e as rodas de samba que passaram a ser mensais a partir de 1998. Essa coisa começou a formar um conjunto. Hoje, as iniciativas da Prefeitura para o Porto, quando o César Maia faz aqueles seminários do negócio do Guggenheim, eu sou convidada não como Petrobras, Gerente de Patrocínio, sou convidada como integrante do Escravos da Mauá. O Escravos da Mauá talvez seja, hoje, na área portuária, a entidade mais organizada. Porque nessa área não tem uma organização assim, tem várias associações de moradores que não se falam muito. E o Escravos da Mauá, bem ou mal, é uma comunidade de formadores de opinião. A maioria das pessoas ali é de fora da região, são profissionais liberais de várias áreas e é uma multidão. É uma multidão, uma coisa incontrolável. Um dia, vocês vão lá para verem o que eu estou falando. Em 1998, a gente começou com essas rodas. Nenhum de nós é profissional, mas todos adoramos o que fazemos e começamos a bancar aquilo, e toca a gastar dinheiro A brincadeira é que a gente toca para gastar dinheiro. Primeiro, começou só o grupo a tocar para gastar dinheiro. Depois, começou a ir muita gente e o nosso som não era suficiente, passamos a ter que alugar um som. Aí, era ter que gastar muito dinheiro para tocar. Então, montamos um grupo de 60 amigos – entre 60 e 80 – que bancam a roda de samba da Mauá mensalmente, dando 10 reais. Só isso já é uma coisa legal. É um samba solidário. É um samba em que ninguém está ali para ganhar dinheiro. Só quem ganha dinheiro são os vendedores. A gente não ganha dinheiro, ao contrário, a gente gasta dinheiro. É uma misturada. É muito legal. Tem gente do morro – o morro tem muitos velhinhos, é uma idade média bem alta no Morro da Conceição –, mas eles descem, as velhinhas e os velhinhos, porque, como a gente toca um samba muito tradicional, eles adoram. A gente toca “Amélia”, “Atire a primeira pedra”, “Emília”, “Se acaso você chegasse”, sambas que essas pessoas não ouvem no rádio e gostam muito, são muito bem recebidos pela gente. A gente tem uma relação muita boa. No Dia Internacional da Mulher, as velhinhas sempre me chamam para tomar um chá com elas, lá em cima do Morro. Então, tem uma relação boa, né? A grande maioria são amigos e amigos de amigos, de amigos, de amigos, de amigos. Nunca tivemos uma briga. Não temos um segurança, o que é uma coisa grave porque, para a Prefeitura, eu sou responsável, eu que assino tudo. E, na verdade, para você fazer um evento público você tem que ter x banheiros químicos, x seguranças. Mas a gente pressiona para que a Prefeitura coloque os banheiros públicos. É um evento super positivo para o Rio de Janeiro, está muito identificado com uma visão positiva do Rio de Janeiro. E a Prefeitura não faz nada, não dá um banheiro químico – que para a Prefeitura é uma coisa muito tranqüila. O que a gente tem é assim: os moradores cedem os banheiro das casas mediante 50 centavos, mas é super incômodo. Mesmo assim, as pessoas vão. É uma coisa impressionante. Todos os incômodos não são suficientes. As pessoas vão. E acho que vão muito por conta dessa coisa amorosa, tem uma coisa muito amorosa. Todas as pessoas são amigas, a gente fala de uma forma muito legal com todo mundo. Tem a coisa do pessoal do morro, tem as crianças do morro que vão e, na época do carnaval, se vestem de clóvis. É um morro muito especial. É um morro que, inclusive, não tem o tráfico instalado, porque tem o serviço cartográfico do Exército. Quer dizer, não tem oficialmente. Reza a lenda que tem bocas embaixo do morro, mas nunca tivemos nenhum problema. E nunca tivemos nenhuma briga nos Escravos da Mauá, o que é uma coisa fantástica. Qualquer reunião, hoje em dia, com mais de 10 pessoas, com muita cerveja ainda por cima, dá uma briga. Lá tem um ambiente assim, as poucas vezes em que surge alguma coisa, tem um controle social: “Que isso? Mas aqui? Não tem a menor condição de ter briga aqui” Acaba. Nunca tivemos nada. Mas é sempre uma coisa que a gente fica tenso, porque vai muita gente. A gente fazia nas últimas sextas de cada mês. Chegou um mês que, segundo as pessoas que sabem fazer essas contas, porque eu não sei, tinha duas mil pessoas na praça. E aí, duas mil pessoas no Rio de Janeiro não dá para a gente fazer nada, sem nenhuma infra-estrutura. A gente começou a fazer isso clandestinamente. A gente tem uma mala direta, que na verdade não é tão clandestina, porque tem 500 e tantas pessoas, que a gente manda na quinta-feira – hoje, eu mandei de manhã porque estava viajando até ontem à noite – avisando: “É hoje o Samba da Mauá.” E as pessoas vão. É uma coisa engraçada que a gente até brinca, teve aquela moda do flash mob da internet, que as pessoas rapidamente se mobilizavam via internet num encontro: “Todo mundo na Rio Branco fazendo assim.” Teve uma coisa dessas, eu li no jornal, de repente, várias pessoas se encontravam. Acaba sendo assim, porque a gente anuncia que vai tocar: “Vamos tocar domingo, no asfalto de Ipanema, no Posto Nove, antes de abrir para o trânsito.” Avisa no sábado ou na sexta. Aí, a gente vai e, daqui a pouco, tem um monte de gente amiga. Dificilmente tocamos em outros lugares, mas, às vezes, a gente faz isso. Já fizemos. E é muito engraçado isso porque a gente diz que vai lá para tocar, chega, começa a tocar e todo mundo acha que são umas pessoas solitárias que resolveram tocar na rua. De repente, forma-se uma multidão de pessoas que canta com a gente. Quer dizer, as mesmas pessoas que gostam, que acompanham muito. Então, tem um ambiente muito legal. Por mais cansada que esteja, às vezes eu saio da Petrobras estourada e vou para lá. Por isso é que eu fico muito zangada de chegar lá e alguém querer me enfiar um projeto. Eu falo que são duas coisas que eu respeito muito, cada uma no seu escopo, mas eu acho que eu respeito igualmente, cada uma no seu viés. Eu faço questão que uma coisa não interfira na outra, eu tenho o maior cuidado. Muitas vezes, a gente tem oferta de patrocínio para o nosso samba e a gente não quer a divulgação. Em geral, o patrocínio quer a divulgação. E muito também porque eu não quero nenhum viés que se aproxime do que eu faço, que alguém possa falar ou interpretar que é por conta da Gerência do Patrocínio. Então, eu preservo tanto isso e aí chega alguém para me entregar um projeto, em plena Praça Mauá? Ah, francamente, né? CD-ROM CIRCUITO COPACABANA Depois eu fiz um outro Cd-rom sobre Copacabana, que também ganhou um prêmio, o mesmo Prix Mobius . Nesse ano, fui apresentar em Atenas, na Grécia. O de Copacabana foi muito em continuação ao Cd-rom da Mauá. Eu não tinha nenhuma ligação especial com Copacabana, como tenho com a Mauá. Copacabana foi mais um contraponto. Como eu peguei o Rio antigo, os primeiros movimentos de criação da cidade passam pelo Porto do Rio de Janeiro e aí quis pegar o contraponto do Rio moderno, o Rio mais metrópole. Copacabana foi o momento em que o Rio ganhou esse viés de metrópole, de modernidade, a praia, o biquíni, o maiô de duas peças, o primeiro fast food, o primeiro supermercado 24 horas, tudo foi em Copacabana. Muito inspirado por essa idéia de que Copacabana era o Rio moderno. Então, como contraponto, eu escolhi Copacabana para fazer o segundo volume dos circuitos do Rio. Também ficou muito legal. Foi uma outra linguagem, mas também todos os redatores tinham trabalhos já sedimentados sobre Copacabana, depoimentos dos grandes caras da bossa nova – Roberto Menescal, Miéle, Braguinha –, só gente fera dando depoimentos sobre a bossa nova, porque Copacabana tem esse foco no Beco das Garrafas. Tem o Clóvis Bornay – também peguei a rua Prado Junior. E muita entrevista com meninos de rua. Ficou muito legal. Tem muito sobre os anônimos de Copacabana: o guarda de trânsito, o banhista, o menino de rua, a prostituta, o porteiro de boate, o garçom. Aí, ganhei de novo esse mesmo prêmio, o Prix Mobius 2000. A etapa final foi em Atenas. Só que nessa não fui apresentar, porque eu não tinha grana, estava muito dura e o meu irmão – esse meu irmão da Mauá – estava perto de Atenas por causa da mulher dele, a Teresa, cujo pai mora na Itália. E aí, eles estavam lá e a Teresa apresentou para mim. Depois eu parei, porque fui trabalhar na Gerência de Patrocínio. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL / ÁREA DE PATROCÍNIO Eu encerrei, quer dizer, dei um tempo nessa minha atividade de produtora cultural, quando fui trabalhar na Gerência de Patrocínio. Eu ainda não era gerente, não. Eu fui trabalhar primeiro como peão, tendo a Lorena como Gerente. Mas, nos dois últimos anos, antes de ser gerente, eu tinha trabalhado na área internacional – coordenando uma área de comunicação – e estava fazendo MBA em Comunicação. Eu já estava muito atolada de trabalho e priorizando esse caminho da comunicação. ÁREA INTERNACIONAL Eu estava na Informática e, acredito que em 1999, mais ou menos, fui convidada por um amigo que estava como gerente na área de negócios internacionais da Petrobras para coordenar um núcleo de comunicação. Eu achei super interessante, porque era nessa linha que eu vinha tocando dentro da Petrobras, antes com apoio ao usuário, depois relacionamento com cliente. Eu achei que era um caminho muito legal. Aí, eu fui e fiquei um ano. Eu fiz MBA em Comunicação por conta desse trabalho na Área Internacional, por conta desse convite. E foi nesse momento também que eu estava lançando o cd-rom Copacabana – fora da Petrobras. Foi uma época de muito trabalho. Já foi um outro pique de trabalho, mesmo porque tinha muito trabalho na Internacional, eu fazia o MBA e fazia o cd também. Eu estava na Comunicação da Área Internacional. E escolhi a parte de patrocínio cultural como tema do meu trabalho de final de curso. Depois, até tive que mudar esse tema, mas grande parte do tempo em que pensei na minha monografia foi focando isso. Depois, tive que mudar porque o orientador achou que não estava pegando alguns aspectos que tinham que ser abordados e acabei fazendo sobre a gasolina podium – não tinha nada a ver com a minha intenção. Para estudar o patrocínio cultural, que era uma coisa que eu já admirava muito na Petrobras, mas nunca tinha entrado em contato, fui entrevistar a Lorena, que era gerente antes de mim. Gostei muito da maneira como ela apresentou o patrocínio cultural e tive que estudar um pouco da mecânica do patrocínio para poder fazer a monografia, que acabei não fazendo. Enfim, acabei mudando de tema e apresentei a monografia. ÁREA DE PATROCÍNIO Um dia, eu fui assistir a um espetáculo do Ivaldo Bertazzo – não estava ainda no Patrocínio e muito menos na Comunicação Institucional, estava na Comunicação da área Internacional – e achei tão fantástico, foi a “Dança das Marés”. E eu sou muito assim, visto a camisa da Petrobras em todas as coisas mesmo. Eu achei o espetáculo incrível – não sei se vocês conheceram esse espetáculo com as crianças da Favela da Maré. O Ivaldo Bertazzo é um coreógrafo que trabalha a questão da educação do movimento, da concentração e tudo. Esse trabalho contou com 60 jovens da Maré, com toda a dificuldade de concentração que eles devem ter, e um espetáculo em que tudo era concentração. Eles faziam compassos com a mão e com o pé, dançando e cantando. Uma coisa que a maioria das pessoas que eu conheço não conseguiria fazer, com toda a concentração e o investimento em concentração ao longo da vida. Eu fiquei encantada com o espetáculo Quando acabou o espetáculo, eu estava com o Pedro e a minha filha Luiza – minha filha com o Pedro, de 17 anos – e a gente saiu muito mobilizado. Na hora em que eu estava batendo palmas para o Ivaldo, me ocorreu que queria estar de crachá, porque fiquei tão emocionada de estar ali Eu fico emocionada até de falar. Porque se você fala isso num determinado contexto – eu já contei essa história uma vez e a pessoa ficou me olhando: “Nossa, Eliane Você é tão estranha Você não é boa da cabeça, não. Que coisa esquisita, ficar emocionada.” Mas eu senti exatamente isso, estar ali como empregada da Petrobras que estava patrocinando aquele espetáculo. Aí, eu fiquei muito mobilizada com aquilo, com esse sentimento que tive na hora. Foi uma imagem forte. Até nos 50 anos da Petrobras, me chamaram para fazer uma das vinhetas. Em uma das que foram gravadas, mas não foi usada, eu contei essa história, não foi uma coisa que eu preparei. Eu realmente senti e falei na hora isso do crachá. No dia seguinte, mandei um e-mail para a Lorena: “Lorena, eu fui ver o Ivaldo Bertazzo...” E coincidiu que, no dia seguinte, fui ver “O samba é minha nobreza”, na hora do almoço, no Teatro Odeon, que a Petrobras também estava patrocinando. É um espetáculo maravilhoso, com roteiro do Hermínio Belo de Carvalho, com a Cristina Buarque e vários músicos jovens tocando samba, com uma pesquisa primorosa de samba. Na véspera, tinha visto o Ivaldo Bertazzo e, no dia seguinte, vi esse outro espetáculo também da Petrobras. Eu cheguei na Petrobras e mandei um e-mail falando assim: “Lorena, meus parabéns Eu senti tanto orgulho que queria estar de crachá batendo palmas ali. Agora, vim do “Samba é minha nobreza”, é um super parabéns e tal.” A Lorena ficou muito impressionada com aquela manifestação – depois, ela comentou comigo, quando pegou mais intimidade –, impactada com aquele texto que eu mandei, muito over, né? Eu acho que, na época, falei: “Eu acho que é isso que eu queria fazer. Quero contribuir para isso, de alguma forma. Tenho quase 30 anos de Petrobras e isso seria muito especial para mim.” Isso era o mínimo da minha mensagem. O que eu queria era transbordar o que tinha sentido. Uns 15 dias depois, a Lorena me ligou. Na verdade, quem ligou foi a pessoa que ficava acima da Lorena, a Dulce – que eu nem conhecia, só conheci nesse dia –, me perguntando se eu queria ir para lá, porque tinha uma vaga na Gerência de Patrocínio. Estavam precisando de pessoas que tivessem um perfil ligado à cultura fora da Petrobras. Eu falei, na hora, que queira. Só que eu estava dentro da Área Internacional, estava muito bem, tinha acabado de fazer MBA, a área Internacional tinha investido naquilo e ia ser criada uma Gerência Setorial de Comunicação. Eu cheguei e falei para o meu chefe, esse amigo que me chamou: “Ricardo, eu não tenho como ficar aqui. Pintou uma possibilidade na Gerência de Patrocínio Cultural da Petrobras. Você me conhece há anos e sabe o que isso representa para mim.” E ele falou: “Realmente, não tem a menor chance. Vamos falar com o gerente executivo, porque não tem chance. Contra isso, a gerência não tem nada.” E ele ainda falou: “Bom, mas a tua gerência vai sair.” Eu falei: “Tudo bem, vou ser peão na Área de Patrocínio Cultural.” Quando cheguei para trabalhar no Patrocínio, a Lorena falou que tinha ficado muito impressionada com a minha manifestação e também por eu ter largado uma possível gerência para ir para o Patrocínio Cultural. Não me arrependi de ter ido para lá mesmo sem ser gerente. Claro que ser gerente é muito mais legal, nem tanto pelo dinheiro, porque eu já sou a última letra dentro da Petrobras, por causa do tempo que tenho de casa, então me acrescenta pouca coisa. Para outras pessoas, que têm menos tempo dentro da Petrobras, realmente, uma gerência desse porte é um acréscimo muito grande. No plano de cargos e salários, não tem outra letra acima, pelo tempo que eu tenho de Empresa. Então, a gerência não me acrescenta. A gerência chama remuneração global. Você tem um valor que, independente do que você ganhe, você passa a ganhar aquele extra. A diferença para o meu salário não é muita coisa. Para o da Lorena, por exemplo, era muita coisa, porque ela tinha seis anos. Eu vou fazer 30. Faz uma diferença muito grande. Então, não foi pelo dinheiro. A Gerência Setorial que eu ia ganhar na área Internacional seria mais ou menos a mesma coisa e era uma gerência muito mais baixa. Mas a possibilidade de planejar essa questão da cultura, interagir com os interlocutores que eu tenho hoje, traçar uma política cultural da Empresa, ser responsável por isso, para mim é o máximo. Em termos pessoais, foi muito legal porque é como se eu tivesse sempre tido uma vida assim, que fosse abrindo milhões de galhos. Às vezes, a minha mãe falava: “Eliane, em alguma hora você terá que convergir, porque você quer fazer tudo.” E, na verdade, quando eu fui para a Gerência de Patrocínio – e também com o trabalho dos cd`s, eu já estava sacando isso – , de alguma forma a minha vida estava convergindo. Eu estava trabalhando com comunicação, com informática, com gente. Até a formação em psicanálise me ajudava também nessa relação com as pessoas, com a equipe. Eu adoro, gosto muito de liderar equipes, as equipes se relacionam muito bem comigo e parece que gostam também da minha liderança, pelo que me passam e me trazem de volta. E, de alguma forma, com os cd`s, eu falei: “Caramba, as coisas estão se fechando.” Quer dizer, todos os movimentos que eu fiz parecem que estão se fechando. E, ao mesmo tempo, eu estava fazendo 50 anos, próxima disso – hoje eu tenho 51. Estar na Gerência de Patrocínio Cultural na Petrobras é diferente de ser gerente de patrocínio cultural fora da Petrobras – porque todo o meu movimento foi fora da Petrobras. Poder conciliar toda a minha carreira dentro da Petrobras com o que eu busquei do lado de fora é o máximo. É um privilégio que nunca pensei em ter. GERÊNCIA DE PATROCÌNIO A minha experiência anterior só me acrescenta. Às vezes, estou negociando algum projeto e sou capaz de tirar algumas dúvidas até da própria Lei Rouanet, por ter sido produtora. Agora, tenho dito nas apresentações que sou produtora – antigamente, eu não falava, hoje acho que é até legal porque digo que já fui, mas no momento não sou. É um lado positivo que eu achava que podia não ser entendido. O produtor cultural sente também que está falando com alguém que tem uma sensibilidade e sabe o que é precisar antecipar uma parcela, ter que atrasar uma coisa porque não foi possível, e que tem um gosto pela cultura. Acho que isso também é muito legal. Ser Gerente de Patrocínio Cultural e não gostar de cultura, não gostar de gente, não gostar do Brasil, não pode, né? Eu acho que essa é a diferença que eu posso fazer. Não é o conhecimento da técnica do patrocínio cultural, isso é o de menos. Onde posso fazer a diferença é nesse gosto, nessa identificação com a Petrobras, com a cultura, com a cultura popular, principalmente, que eu adoro, com o Brasil. ÁREA DE PATROCÍNIO Eu conhecia o Bertazzo só de ouvir falar, mas nunca tinha assistido a um espetáculo dele. Dos patrocínios, eu conheci alguns sim, especialmente, as exposições de artes plásticas, que eram as que tinham mais visibilidade para os empregados. É até um ponto em que tenho investido bastante, como gerente: trabalhar a questão do patrocínio na Comunicação Interna, porque acho que o empregado sabia pouco do que se fazia – agora sabe um pouco mais. A gente comemorou pela primeira vez o Dia da Cultura, no dia cinco de novembro, com a presença do Gilberto Gil lançando o edital. Nunca tinha havido isso. A Petrobras é a maior patrocinadora de cultura brasileira e os empregados não têm essa noção. Podem até ter ouvido falar na propaganda dos 50 Anos da Petrobras, mas não têm o gosto de dizer isso. É uma coisa que eu invisto. É um público formador de opinião fortíssimo para a Petrobras. Então, como empregada, também conheci alguns patrocínios, mas eu não tinha o conhecimento do que a Petrobras patrocinava. Sabia que a Petrobras patrocinava muita coisa. Sabia do cinema, por exemplo, que praticamente toda a retomada do cinema brasileiro foi com o patrocínio da BR, da Petrobras, mas não tinha uma noção exata. Eu sou ligada nisso, imagino que outras pessoas não tenham essa noção. ÁREA DE PATROCÍNIOS A Petrobras patrocina a cultura desde os anos 80, mas eram patrocínios pontuais: a Mostra Monet, Rodin, algumas mostras de artes plásticas, principalmente. Nos anos 90, começou a se configurar uma política de patrocínio, um esboço de política de patrocínio ainda bem rudimentar. Em 2000, inclusive, houve algumas consultorias. Houve uma consultoria do Yakoff Sarkovas, que é um consultor importante nessa área – eu não estava ainda na comunicação –, e ele ajudou a formular os programas de seleção pública da Petrobras lançados no ano 2000. PROGRAMAS PETROBRAS DE PATROCÍNIOS Então, em 2000, começou a acontecer o Programa Petrobras de Artes Visuais, o Programa Petrobras de Artes Cênicas, o Petrobras de Cinema e o Petrobras de Música. O de música já aconteceu em 2002. De 2000 a 2002, foram sendo lançados esses programas. Quando eu fui trabalhar com a Lorena, ela me deu a coordenação do Programa de Música em 2002, que, para mim, foi uma coisa muito legal. PROGRAMA PETROBRAS CULTURAL Em 2003, a gente integrou todos esses programas segmentados num programa só, o Programa Petrobras Cultural. Integrou também a ação de patrocínio da BR e da holding e passou a lançar, uma vez por ano, um edital só para todas as áreas. Então, isso potencializa a comunicação, tem uma verba muito vultuosa – ano passado foram 60 milhões, esse ano 61 milhões, 75% disso são seleções públicas de projetos em âmbito nacional. Então, a gente potencializa muito mais a comunicação e, nesse governo especificamente, isso tem sido uma coisa importante até para associar com a política cultural do próprio Governo Federal. Esse Programa Petrobras Cultural é muito mais articulado com a política pública para cultura. O Ministério da Cultura participa do Conselho Petrobras Cultural, bem como a SECOM – Secretaria de Comunicação. Então, o Programa mudou de formato. Mas isso é um trabalho que vem sendo feito há algum tempo, é um processo, não houve a descoberta da pólvora em 2003. Foi uma evolução e acho que é um programa que, a cada ano, tem tido uma evolução. Uma grande evolução ocorrida nesse ano é a caravana de divulgação regional. CARAVANA PETROBRAS DE CULTURA - DIVULGAÇÃO REGIONAL Estou indo a 15 capitais e tem sido uma experiência interessantíssima. Foi quando eu comecei a dizer que sou produtora cultural, que fui produtora cultural. A gente faz uma divulgação, de certa forma, arrogante, manda e-mails. No ano passado, a gente trouxe – já foi uma novidade – jornalistas do Brasil inteiro. Mas é muito diferente você trazer jornalistas do Brasil inteiro e você, Gerente de Patrocínio, ir até lá. Então, eu fui ontem a Manaus, anteontem a Belém, terça e quarta que vem vou estar em Campo Grande, Cuiabá e Goiânia. Fui a Fortaleza, Recife, Salvador, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre, São Paulo e, finalmente, vai ser no Rio. É assim: eu vou para fazer a palestra, mas têm as regionais de comunicação que montam a infra-estrutura, fazem a relação de assessoria de imprensa, convocam jornalistas. Por exemplo, em Belém, tinha os jornalistas de Belém e de São Luís. Elas fazem esse meio de campo. Eu já chego para fazer a apresentação. Levo um laptop, apresento o edital e me coloco ali para incentivar as pessoas a participarem, porque é uma seleção pública, dando um aval de credibilidade para o edital, levando dados de projetos daquela região que ganharam em seleção pública no ano passado. Muitas vezes, é legal porque até o produtor cultural que ganhou está na platéia e diz: “Ah, sou eu” Então, é um processo transparente. Dificilmente essa pessoa teria acesso ao patrocínio cultural se não fosse através de uma seleção pública. As pessoas falam: “Nossa, eu nunca vi isso Eu nunca vi isso da Petrobras vir até a gente.” O Ministério da Cultura também tem feito algumas ações desse tipo. E ontem, em Belém-Manaus, eu levei comigo o Hermano Vianna, que é consultor convidado para estruturar uma ação de difusão da cultura, dentro do escopo do Programa Petrobras Cultural. O Hermano também ficou impressionadíssimo. Ele é muito bom. E a presença dele na mesa, junto comigo, foi muito mais legal. Foi um debate que cresceu muito e colocou alternativas concretas para aquele povo de produtores, porque o trabalho dele no Programa é, justamente, criar uma ferramenta, uma ação que dê escoamento a essa produção cultural que se faz no Brasil inteiro e em focos. Quer dizer, a minha ida é muito no sentido de trazer projetos de todas as regiões de forma que, realmente, os projetos selecionados contemplem essa diversidade regional, étnica da cultura brasileira. PREOCUPAÇÃO COM A REGIONALIZAÇÃO Não trabalhamos com cotas para regiões. Essa é a pergunta que sempre se faz nessas apresentações. A gente não trabalha com cota. A gente discutiu isso com o Ministério da Cultura e achamos que não é o papel da Petrobras estabelecer essas cotas por regiões. Quer dizer, se alguém tiver que estabelecer isso será o Ministério da Cultura. Eu entendo que nesse cenário existem os agentes e seus respectivos papéis. O papel do Ministério da Cultura é estabelecer essa cultura e o da Petrobras é dar suporte a essa política pública de cultura. Se esses agentes trabalharem em sintonia, já é um grande caminho andado, porque a gente vai na mesma direção. Então, eu entendo que temos que trabalhar de acordo com essa orientação, se houver, de cotas do MINC. O MINC estuda uma alteração na Lei Rouanet, não sei em que pé está, mas já tive informação de que eles estão estudando a atribuição de determinados percentuais de incentivo para as empresas patrocinadoras, diferenciados de acordo com a região do projeto. Se isso acontecer, nós, como patrocinadores, vamos estar também entrando nessa mesma linha. No momento, não tem uma política de cota. O que temos é uma preocupação, dentro do programa, com essa questão da regionalização. Então, o que a gente faz? A gente procura montar cada comissão, de cada área de seleção pública, com o olhar mais plural possível, buscando pessoas do eixo Rio-São Paulo e de fora, de diferentes tendências dentro daquele segmento cultural. Então, a comissão de seleção que vai julgar os projetos de cinema é composta por especialistas, pessoas do cinema que o Conselho Cultural convida – Conselho esse do qual fazem parte o Ministério da Cultura, a SECOM, a Petrobras e os consultores do programa. A gente procura montar essa comissão da forma mais plural possível de modo que possa ter sensibilidade para a diversidade brasileira. Se só tem gente do eixo Rio-São Paulo, o olhar é todo comprometido, né? Outra coisa: a gente procura abrir seleções públicas a cada ano, para que não sejam concentradoras. Por exemplo, a gente tem a seleção pública do longa-metragem, do cinema, que é muito concentrada na região sudeste, porque a indústria cinematográfica está baseada aqui. Não tem jeito. Não vai ter gente do Amapá inscrevendo um longa, não vai ter como ele fazer isso. Por outro lado, a gente tem a seleção pública de patrimônio imaterial, que trabalha toda essa questão das tradições que são passadas de geração para geração, recriadas coletivamente, e essa contribuição fora dos eixos urbanos é até muito maior. Então, é uma seleção que a gente investe para trazer projetos de todos esses lugares. Temos a seleção de bandas e orquestras jovens em todo o país. É uma outra seleção também não concentradora. Temos a seleção, na edição desse ano, de gravação, registro e difusão de música produzida hoje, tanto de intérpretes quanto de compositores, grupos ou solo, de qualquer formato ou gênero. É uma novidade dessa edição. Lançamos no dia cinco de novembro de 2004. O programa sempre lança um novo edital com x seleções públicas, que variam a cada ano. Então, a gente tem, no formato de cada edição, essa preocupação da regionalização tanto na oferta das seleções públicas que vão ser abertas – ter seleções públicas que não sejam concentradoras – como através de outras ações: a divulgação regional, que é essa caravana que eu estou fazendo, a montagem das comissões tendo essa preocupação com a composição, com o olhar plural para essa variedade incrível que a cultura brasileira tem. Existe uma preocupação macro do Programa, por meio de ações e não por meio de regras, que seriam as cotas e seriam mais fáceis de implementar, mas a gente optou por não adotar. ÁREA DE PATROCÍNIO Hoje eu sou gerente da área de patrocínio cultural. Embora a minha gerência se chame Gerência de Patrocínio, que até dá a entender uma coisa mais ampla do que é, eu cuido do patrocínio cultural. A Petrobras tem ainda o patrocínio social, ambiental e esportivo, além do cultural; são gerências separadas. Existe a Gerência Ambiental e Social; o patrocínio social e ambiental está dentro da gerência chamada Comunicação Nacional - gerenciada pelo Luís Fernando Néri. E embora, formalmente, o patrocínio esportivo esteja ligado à minha Gerência de Patrocínios, na verdade, é uma ação com a qual eu não me relaciono diretamente; é coordenado por um consultor, empregado da Empresa, porém um consultor técnico, chamado Cláudio Thompson - consultor de negócios. Então, o Cláudio cuida da parte do patrocínio esportivo, tanto no sentido do patrocínio mais pela linha da responsabilidade social, quanto do patrocínio esportivo ligado ao negócio da Empresa; a questão do esporte motor, tem o patrocínio da Fórmula 1, a Williams, com a questão da nossa gasolina podium, e aí já é mais pela área de negócio, realmente. E eu fico com a parte da cultura, que já é enorme. São vários segmentos dentro da gerência. PATROCÍNIO CULTURAL Na verdade, a Petrobras trabalha no patrocínio cultural desde os anos 80, mas eram patrocínios pontuais. O primeiro foi a restauração da tela do Victor Meirelles, lá no Museu Histórico Nacional, e esse primeiro patrocínio foi o que marcou, realmente, a ação da Petrobras nessa linha. A partir daí começaram a ocorrer outros, mais adiante, a própria Orquestra Petrobras de Música. Na década de 90, começou a se estruturar uma política de patrocínio, ainda bem embrionária, mas funcionava muito numa postura de um balcão de patrocínio: você recebia projetos - eu não era dessa área ainda - e patrocinava ou não. No ano 2000, começou a se estruturar a área e os editais de seleção pública de projetos, com o objetivo de realmente abrir de uma forma mais democrática essa ação de patrocínio cultural da Empresa para produtores culturais de todo país, que não necessariamente tivessem acesso direto aos escritórios da Companhia. Então, desde 2000, começaram a se estruturar programas específicos: o Programa Petrobras de Artes Visuais, o Programa Petrobras de Cinema, o Programa Petrobras Artes Cênicas e o Programa Petrobras Música. Esses programas eram dotados de instrumentos de editais públicos para seleção de projetos, se constituíam comissões externas a Petrobras, formadas por especialistas, para selecionar os projetos. Em 2003, já no novo governo, se criou o chamado Programa Petrobras Cultural, que veio a consolidar todos esses programas pontuais existentes até então - o de música, o de artes cênicas, o de artes visuais e de cinema -, e incorporou áreas novas, inclusive novas em qualquer empresa - não existe nenhuma empresa que faça uma seleção pública para, por exemplo, patrimônio imaterial, que é um conceito novo colocado pela Unesco e que representa toda essa tradição, esse acervo de hábitos, de rituais, de espaços, de festas, de práticas que você vai passando de pai pra filho sem um registro escrito, necessariamente, e que constitui tudo o que a gente chama hoje de patrimônio imaterial da cultura brasileira. PATRIMÔNIO IMATERIAL Então, por exemplo, projetos do Boi de Reis, do Rio Grande do Norte, do Carimbó, das Festas do Divino, as Festas de Largo, a Cavalhada, em Goiás, uma série de manifestações culturais que acabam tendo o valor de acervo pela sua representatividade, pela sua ligação com a questão, com a história cultural brasileira, e que, pela própria natureza, precisam ser registradas para que passem a constituir, realmente, um acervo a ser pesquisado, a ser mantido, a ser perpetuado e a ser pesquisado pelas futuras gerações. Em 2003, foi criado o Programa Petrobras Cultural, juntando os programas já existentes e incorporando também essa área de patrimônio imaterial, e se abriu seleção pública para todas essas áreas. Nesse programa, embora não tenha uma definição de cotas por região, desde a primeira etapa, que é a etapa de concepção do programa, definição de que áreas vão receber editais de seleção pública de projetos, a gente procura estar ligado nessa questão da regionalização. A gente procura ter seleções públicas que não sejam concentradoras ou, pelo menos, contrabalançar isso na globalidade do programa. A gente tem, por exemplo, a seleção pública de produção de longa-metragem; essa é uma seleção extremamente concentradora no eixo Rio-São Paulo, porque é onde estão todos os meios de produção do cinema, que é uma indústria, né? Embora a gente já tenha um foco de produção no Rio Grande do Sul, Brasília, no Nordeste, mas ainda é muito concentradora. No entanto, a seleção de patrimônio imaterial, por exemplo, é uma seleção que pode caracterizar essa dispersão regional que se pretende. De fato, a gente recebe projetos de todas as regiões do Brasil. Outro aspecto do programa em que a gente se preocupa com a questão regional, também não sendo por questão da cota, é a montagem das comissões de seleção pra cada área, porque a gente considera que o perfil dessa comissão, quer dizer, o perfil global dessa comissão, é que vai fazer com que esses projetos selecionados realmente reflitam a diversidade que a gente recebe de projetos e a própria diversidade étnica, regional, social, da cultura brasileira. Então a gente procura, no programa, embora não trabalhando com cotas, e nas várias etapas, a gente tá preocupado com essa questão; desde a formatação dos editais, que áreas vão receber seleções públicas, até a própria montagem dessas comissões, pra que essas comissões acabem contendo olhares bem diversos, tenha pessoas do eixo Rio-São Paulo e de fora desse eixo. São convidados por nós. Na verdade, esse “nós” que eu falo não é só a Petrobras; existe um Conselho Petrobras Cultural, que é formado pela Petrobras, no caso eu, como Gerente de Patrocínio, e o Wilson Santarosa, que fica acima de mim, que é o Gerente Executivo de Comunicação da Petrobras, aí essa mesma dupla na BR, que é a Ana Dulce, como Gerente de Patrocínio da BR, e o Gico, o Sérgio Bandeira de Mello, que é o Gerente de Comunicação. Então nós quatro, dois pela Petrobras, dois pela BR, os três consultores convidados do programa, que são o José Miguel Wisnik pra música, José Carlos Avelar pra cinema e a Jurema Machado, da Unesco, pra patrimônio, e mais o Ministério da Cultura e a Secom, Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Isso faz com que o programa, desde o seu lançamento em 2003, seja uma ação bastante articulada com a política pública pra cultura, no sentido da Petrobras ter um papel de patrocinadora, não de gestora, da política pública da cultura - porque pra isso existe o Ministério da Cultura. O nosso objetivo é dar suporte à política pública pra cultura e andar em articulação com a política pública pra cultura, e nesse sentido a presença do MINC e da Secom no próprio Conselho Petrobras Cultural garante isso. Outra coisa importante: além desse alinhamento com a política cultural do Governo Federal, a gente tem um alinhamento com o próprio planejamento estratégico da Companhia. A Petrobras tem, no planejamento estratégico, o binômio rentabilidade e responsabilidade social, então o patrocínio entra muito nesse binômio;quer dizer, a gente procura, evidentemente, trabalhar em cima de projetos que agreguem valor à marca da Petrobras, e isso também tem a ver com a questão da rentabilidade, porque hoje o valor da marca é um valor muito importante pras empresas, mas ao mesmo tempo focando na questão da responsabilidade social. PATROCÍNIO / ESTRUTURA Funciona assim: primeiro, nessa questão do planejamento estratégico, é o planejamento estratégico da companhia, independente dessa questão do Ministério da Cultura e da Secom. Eu coloquei como duas inspirações, vamos dizer: a política pública pra cultura, aí representada pela presença do Minc e da Secom no nosso Conselho Petrobras Cultural, e o planejamento estratégico da Empresa, que se estabelece, realmente, em cima dessas duas expressões, da rentabilidade e da responsabilidade social. Então, o que a gente procura? A gente procura trabalhar no acesso democrático ao patrocínio, que é uma questão de responsabilidade social importante; essa questão da tentativa de não concentração do investimento em patrocínio em uma área regional limitada do Brasil. A gente procura trabalhar com a construção permanente da memória cultural brasileira, porque se entende que isso é um processo do dia-a-dia - acabei de citar essa questão, por exemplo, dessas manifestações culturais todas, tradicionais, que têm o valor de acervo, mas que não são acervo físico, material. Então, o fato de registrar isso, você está contribuindo, está trabalhando com a questão do acervo, que é o registro do passado, mas com uma visão de futuro na cultura, e isso é uma forma de trabalhar na questão da responsabilidade social. Eu acho que essa preocupação com a responsabilidade social, quer dizer, esse norte da responsabilidade social, faz com que a Petrobras, por exemplo, possa investir em projetos em que não haja, como principal valor, a visibilidade do projeto. A gente investe, por exemplo, em projetos ligados ao registro de tradições indígenas, do canto de comunidades timbira, comunidades que eram cantadoras e que, com o contato com o homem branco, foram perdendo o hábito de cantar. Então, nós recebemos por seleção pública um projeto que fazia uma coleta nas tribos timbira - primeiro através de monitores indígenas –, uma identificação dos velhos cantadores e registrava isso em gravador. Depois ficamos com várias fitas gravadas e esse material foi digitalizado. Foi criada uma base entre as aldeias, monitorada por pessoas das aldeias, por jovens das aldeias, e os índios vão a esse lugar e ouvem os seus antepassados ou pessoas da mesma geração, de outras comunidades da mesma tribo, e essa tribo está voltando a cantar. Isso é uma ação que tipicamente não interessa a uma empresa que só está preocupada com a questão da rentabilidade ou da visibilidade da marca. Não é um caso típico, muito pelo contrário, de exposição da marca Petrobras, né? Então a Petrobras pode trabalhar muito mais nessa infra-estrutura da cultura, trabalhar nos acervos, que é uma coisa importantíssima pra cultura brasileira. Hoje a gente tem acervos fundamentais pra cultura que estão se deteriorando muito e a Petrobras vem investindo e priorizando esses acervos que estão em situação de risco - isso é procurando trabalhar na infra-estrutura. Voltando à questão das contrapartidas: em cada projeto patrocinado, a gente procura atuar com criatividade em o que aquele projeto pode dar de retorno pra sociedade. A gente nem gosta de usar a expressão “contrapartida social”, porque no começo do governo Lula houve toda uma grita nos jornais sobre a questão da contrapartida social, alguns produtores culturais questionaram essa proposta. E eu acho que esse assunto, na época, foi muito tendenciosamente conduzido. Na verdade, o que a gente vem observando é que o que a gente chamava de contrapartida social, e que continuou praticando sem esse nome, nada mais é do que uma tentativa de retribuição do projeto à sociedade dentro do seu escopo; quer dizer, não há, de forma nenhuma – como em algumas vezes foi colocado na época daquela discussão – uma interferência no conteúdo do projeto. Eu não conheço nenhuma outra patrocinadora estatal que entre no mérito do filme, diga: “Não, esse personagem... Isso aqui tem que se passar em tal lugar, tem que ter tal olhar.” Isso não existe. A contrapartida não era no sentido do conteúdo do projeto, a contrapartida é, por exemplo, de que forma aquele projeto, ao invés de se apresentar somente na sala Cecília Meirelles, pode ter uma apresentação num local não convencional, como a estação de barcos, o terminal das barcas intermunicipal de Niterói, que é um lugar que tem um fluxo de pessoas imenso, pessoas que, inclusive, não costumam freqüentar salas de espetáculo; mesmo que a sala Cecília Meirelles fosse gratuita, essas pessoas não iriam, porque hoje a gente tem uma situação em que até o transporte é complicado, é oneroso. Então, o que a gente negocia com os produtores: “É um espetáculo? Então, ao invés de apresentar só na sala Cecília Meirelles, vamos apresentar num espaço alternativo?” Vamos fazer récitas desse espetáculo voltados para deficientes físicos, enfim, deficientes de todas as formas, vamos abrir sessões para os nossos projetos sociais. Hoje todo projeto que a gente faz tem sessões voltadas pros nossos projetos, que a gente apóia no patrocínio social, e até mesmo pra projetos que a gente não patrocina, mas que a gente convida esses jovens pra virem assistir. Então a gente tem Débora Colker, uma récita somente pra crianças e jovens de escolas públicas e dos nossos projetos sociais. Isso é uma coisa que não tinha e isso não onera o projeto, não interfere na qualidade nem no conteúdo do espetáculo, muito pelo contrário; a própria Débora nos deu um retorno de que ficou emocionadíssima com essa oportunidade de estar fazendo um espetáculo inteiro, com a casa totalmente lotada, só pra jovens, interessadíssimos - há vários projetos que usam a dança como inclusão social e essas crianças estão também tendo uma oportunidade de ver um espetáculo top de linha no Brasil. A gente busca, com criatividade, obter essas contrapartidas em cada projeto. REGISTRO SONORO BOI DOS REIS / FELIPE CAMARÃO O registro sonoro é da mesma proponente, mas foram dois projetos. O primeiro projeto entrou em seleção pública, que foi o registro em áudio, registro em CD, dos cantos do Boi de Reis, com o mestre Manoel Marinheiro. Inclusive, uma semana depois, o mestre Manoel Marinheiro faleceu e a gente conseguiu preservar aquela tradição que já vem desde o avô dele, pro pai, pra ele. O seu maior sonho era registrar aquilo, tanto que ele morreu uma semana depois. O segundo projeto do Felipe Camarão já foi um projeto convidado pela Petrobras, porque no Programa Petrobras Cultural a gente tem uma verba de 61 milhões, em que 75% da verba é voltada pra seleção pública de projetos e 25% são projetos convidados pelo Conselho Petrobras Cultural, que é aquele conselho que eu falei que tem o Ministério da Cultura, Secom, Petrobras BR e consultores. Então, o conselho convidou o projeto, a Conexão Felipe Camarão, pra desenvolver um projeto pra dar continuidade àquilo, porque eu fui visitar o projeto e realmente é um projeto que trouxe um impacto visibilíssimo na comunidade; uma comunidade paupérrima, com um índice de criminalidade altíssimo, índice de gravidez quase que infantil altíssimo, e é uma comunidade que tinha o mestre Manoel Marinheiro, tem ainda o mestre Chico Daniel, que é o mestre que faz os bonecos, e tem o mestre da rabeca, todos morando nessa comunidade mínima e paupérrima. E a Vera, com aquele jeito dela lá, consegue mobilizar, realmente, se envolver com aquilo e botar o projeto pra rodar o Brasil; ela tem uma energia, uma ligação com o projeto muito grande. E aí nós convidamos a Conexão Felipe Camarão, pra esse ano entrar como convidada do programa desenvolvendo uma oficina do Luthier, de rabeca, uma oficina de adereços pra Boi de Reis, e uma oficina de dança do próprio Boi de Reis, dos cantos e das danças, com as crianças lá, pra formar o que ela chama - tem um nome - os brincantes do Boi de Reis. Então nesse caso o projeto já praticamente é uma contrapartida social. CONTRAPARTIDA SOCIAL Essa questão da contrapartida social é interessante, porque hoje os produtores culturais são os primeiros a já trazer os projetos com idéias de contrapartidas sociais, porque acaba sendo muito bom pra todos: para a sociedade, para nós da Petrobras, para o produtor e para as pessoas que conseguem fazer parte dessas contrapartidas. Quando é um show, você pensa nessa récita; mas quando é um trabalho de digitalização de acervo, a gente pensa na incorporação de estagiários de baixa renda que trabalhem com informática, por exemplo, ou no cruzamento de projetos patrocinados, por exemplo: a gente patrocina um monte de longa metragem e patrocina o Nós do Morro - nem é através do patrocínio cultural, é através do patrocínio social -, que tem uma mão-de-obra ali, pro cinema, artistas - até no Cidade de Deus se lançaram mundialmente, internacionalmente -; então, a gente procura casar esses projetos. E até mesmo nos projetos de restauração de patrimônio edificado, que seria uma área, vamos dizer, mais fria, mais difícil de se pensar uma contrapartida social, a gente consegue coisas interessantíssimas, por exemplo: a igreja de Piranópolis, em Goiás - que pegou fogo há uns anos e a gente está patrocinando o restauro -, era uma igreja de taipa crua e, com o incêndio, criou-se uma situação inusitada, porque a taipa crua ficou cozida. Isso abriu uma possibilidade de estudo enorme para as universidades de engenharia e arquitetura de Goiás, de Brasília, daquela região toda de Goiânia. E aí uma das contrapartidas do projeto é essa interface, então todo processo está sendo registrado em Cd, em vídeo, e trocado com a universidade. A universidade, por sua vez, tem vários estudantes mestres e doutores fazendo teses sobre esse restauro. Esse projeto, além disso, criou um sub-projeto chamado Tocando o Restauro. Como é uma igreja muito emblemática pro imaginário local e muito antiga – já pegou fogo duas vezes –, então a presença da igreja para a região é fortíssima. Eles criaram lá um projeto chamado Tocando o Restauro. Uma parte, que ficou pronta logo no começo, passou a sediar o projeto. O que é isso? Uma vez por mês ou uma vez de 15 em 15 dias, um grupo de música da região se apresenta ali dentro, e nas paredes eles têm a história da igreja e o andamento da obra. A cidade, Piranópolis, recebe uma quantidade enorme de turistas e tem uma população local grande, também muito ligada à igreja. Então, eles formaram um grupo de guias mirins, fizeram uma visita guiada ao canteiro da obra, tudo com pessoal local. Fizeram esse projeto Tocando o Restauro, quer dizer, músicos da região se apresentam dentro da obra; então, à medida que a obra vai andando, as pessoas que estão chegando todo fim de semana como turistas vão acompanhando a obra e aquela história da igreja e da região. Então, quer dizer, você até com um projeto de restauração, que aparentemente é uma coisa super fria, você pode ter criatividade pra negociar contrapartidas, as chamadas contrapartidas sociais. Eu acho que antigamente a gente tinha muito a contrapartida de imagem pra empresa, só se pensava na questão da aplicação da marca. A Petrobras é uma empresa que não pode se preocupar só com isso, pela própria natureza dela. Então o que aconteceu em 2003 foi que essa coisa ficou como uma exigência do governo federal, da Secom, na época, essa contrapartida social, que nada mais é do que uma obrigação, acho até, da empresa, zelar por isso, por esse compromisso dos projetos com a sociedade, porque, afinal de contas, são projetos desenvolvidos com recursos incentivados pela Lei Rouanet, portanto renúncia fiscal do imposto de renda, e com orçamento da Petrobras, em que o acionista majoritário é o governo federal. Então, quer dizer, o mínimo de compromisso com a sociedade esse projeto tem que ter. Eu acho que desde o momento da incorporação, no início de 2003, até agora, a gente amadureceu muito isso e os próprios produtores culturais também. Então, o que naquele primeiro momento parecia uma imposição, hoje é uma coisa absolutamente natural, quando não vem já pró-ativamente do próprio produtor. Isso é uma coisa muito legal, eu acho que foi um enriquecimento muito grande pra Petrobras e pros projetos culturais. E como a gente tem projetos no Brasil inteiro, de naturezas diversas, a gente consegue ter essa ação também espalhada pelo Brasil. Acho que isso é bem importante. METAS A gente tem o objetivo de trabalhar com projetos de interesse público com diretrizes balizadas por especialistas na área; a gente tem esses três consultores de que eu falei, o Wisnik, o José Carlos Avellar e a Jurema Machado, são pessoas muito fortes nas áreas deles e eles têm condição de traçar pra gente um panorama de prioridades, de urgências, em que a gente procura se basear, isso é um objetivo da gente. Ao mesmo tempo, a gente ter essa articulação grande, a melhor possível, com o Ministério da Cultura e com a Secom, no sentido de realmente convergir com a política pública de cultura. Eu acho que tudo isso são metas e são desafios também. Tem a questão do acesso democrático ao patrocínio cultural. É claro que essa área sofre muita pressão, eu, como gerente dessa área, recebo muitas pressões, e eu acho que o grande desafio é realmente zelar pela pureza, pela idoneidade dos processos de seleção pública. É claro que a Petrobras não tem só o Programa Petrobras Cultural; a gente tem 61 milhões para os projetos oriundos do Programa Petrobras Cultural, que tem 75% dessa verba de seleções públicas e 25% de convidados no âmbito do programa. Então, na verdade são quatro frentes: uma frente é o Programa Petrobras Cultural. O Programa Petrobras Cultural tem, nessa verba de 61 milhões, que foi a verba desse ano, 75% são seleções públicas e 25% são convites pelo Conselho Petrobras Cultural. Então isso é o que representa mesmo o cerne da política cultural da Empresa. Ainda dentro desse cerne, a gente tem a segunda parte, que são os projetos de continuidade, que são Grupo Corpo, Grupo Galpão, Orquestra Petrobras pra música, Festival Anima Mundi, Projeto Pixinguinha. São grandes projetos em que a Petrobras trabalha com continuidade pra poder trabalhar a associação de marca; também faz parte da política cultural da Empresa fortemente. Depois a gente tem os projetos em andamento, porque quando você tem uma seleção em 2002, não quer dizer que esse projeto se encerre em 2002; esse projeto pode durar um ano, um ano e meio, então você tem que também estar considerando todo um legado das seleções anteriores. Então, tudo isso são três itens de orçamento. E o quarto item do orçamento são os projetos que a gente chama de projetos de relacionamento institucional da companhia; são projetos que a companhia decide chamar, decide convidar, ou acatar, se se recebe esse projeto, e eles não são, necessariamente, alinhados totalmente com a política cultural da empresa, eles podem representar um interesse de relacionamento da companhia, por exemplo, com uma comunidade, onde aquela comunidade, por exemplo, vai passar ali um gasoduto, um duto da empresa, vai ser instalada ali uma unidade; a Petrobras é uma indústria de risco, então ela tem que compor com aquela comunidade ali em diversas frentes, né? Então se usa, nesse caso, várias ferramentas, dentre elas o patrocínio cultural, esportivo, ambiental, social, e outras ações da Petrobras ali. Então, eventualmente, a gente tem, também, projetos - e a gente tem uma verba pra isso - que são projetos de convite da companhia - ou que tenham sido apresentados ali, pro proponente dali -, mas que eles não... a gente chama esses projetos de projetos de relacionamento institucional da companhia, né? Esses projetos, eles podem acontecer ao longo do ano inteiro, eles não estão associados especificamente ao edital do Programa Petrobras Cultural. Hoje a gente tem um orçamento, pegando todas essas coisas, a gente tem um orçamento anual, uma previsão orçamentária anual pra patrocínio cultural, de 120 milhões de reais; é a maior, disparadamente, a maior verba de cultura de qualquer companhia brasileira, a Petrobras é a maior patrocinadora da cultura brasileira há muitos anos. E a diferença, assim, do primeiro lugar pro segundo, é muito grande, então é realmente... O desafio é se manter nesse patamar com qualidade, com acesso democrático a essa verba, acho que esse é o grande desafio. DIVISÃO DO ORÇAMENTO Vamos dizer assim: a gente tem cerca de 30% do nosso orçamento no cinema, porque são projetos muito mais caros. Você tem um projeto de cinema em que a Petrobras entra com um milhão e o filme custa quatro milhões, e você tem projetos de patrocínio de patrimônio imaterial, que são de 50 mil reais, é uma distância muito grande. Então, o orçamento, muito grosso modo, seria 30% pra cinema, mais ou menos, 20 e pouquinhos por cento pra artes cênicas, 20 e pouquinhos por cento pra artes visuais, publicações e patrimônio imaterial. Uns 25% pra música e uns 5% pra outros projetos. Não, faltou aí o patrocínio edificado. Eu acho que seria assim: 25 pra cinema, 25 pra patrimônio edificado, 20 pra artes cênicas, 20 pra... É mais ou menos proporcional, mas um pouco mais para cinema. Depois artes cênicas e música, depois patrimônio edificado, depois patrimônio imaterial e artes visuais. E um valorzinho aí menor pra outros projetos, que são multidisciplinares, multimídias, ou que são mais voltados pra sociedade - por exemplo, Centro Barbosa Lima Sobrinho, um DVD Barbosa Lima Sobrinho -, coisas que não estão tão especificamente ligadas a um segmento cultural, mas que estariam nesse “outros”. PROJETO ESPECIAIS Eu tenho alguns projetos do coração. Por exemplo, Projeto Pixinguinha eu acho um projeto do meu coração, porque é um projeto que existiu nos anos 70 e 80, foi interrompido ainda no governo Collor, e foi responsável pelo surgimento de vários talentos novos e, uma coisa que me toca mais, pelo ressurgimento de vários talentos que estavam esquecidos. Então, poder retomar o Projeto Pixinguinha na minha gestão no Patrocínio foi uma coisa fantástica, acho que até para o governo Lula e para Petrobras. É um projeto do meu coração, esse é um projeto do meu coração. Só complementando essa coisa do coração: eu escolhi um, mas na verdade, na hora em que estava falando do Pixinguinha, eu me lembrei de vários outros, porque a gente tem uma coleção de projetos belíssimos. Por exemplo, das músicas dos índios timbira, alguns projetos de restauro que são maravilhosos, Igreja da Barroquinha, em Salvador, projetos de artes cênicas lindos, como o do Ivaldo Bertazzo, trabalhando com a garotada da Maré e depois trabalhando lá em São Paulo, o pessoal da Central Única das Favelas, que tem uma oficina de vídeo que foi um projeto convidado, também, pra realizar um curta-metragem, o pessoal do Hutus, que também é de periferia, um grupo de hip-hop, são oficinas de hip-hop. São projetos com que eu, particularmente, tenho uma ligação muito forte, porque acho que através da questão da cultura você consegue realmente interferir na vida daquelas pessoas. Eu também sou louca pelo projeto da Vera, em Natal, acho fantástico. Tem um projeto muito bonito das crianças, de choro e de samba na Baixada Fluminense, a Associação de Músicos e Compositores da Baixada Fluminense. São projetos que não dão necessariamente uma visibilidade pra marca da Petrobras num primeiro momento, mas valorizam, agregam muito valor a essa marca. PROJETOS FUTUROS Eu tenho 30 anos de Petrobras. Um projeto pessoal é me preparar para, daqui a alguns anos, me aposentar e conseguir fazer coisas que não tenho tempo de fazer trabalhando. Essa questão cultural eu sempre fiz fora da Petrobras, como falei na primeira parte da entrevista, sempre fui muito ligada à questão cultural e consigo hoje estar ligada a esse assunto, dentro da Petrobras; isso era o meu maior sonho, maior projeto pessoal, que eu até nem colocava como projeto, porque não imaginava que pudesse existir essa possibilidade. Esse primeiro grande projeto existe hoje na prática, então hoje não vivo a angústia que eu vivia antes de estar trabalhando na área de cultura da Petrobras, porque eu tinha que fazer aquilo tudo de noite, ou fim de semana, porque trabalhava o dia inteiro. Mas um projeto é, mesmo me aposentando, continuar trabalhando na área de cultura; não sei de que forma, acho que o tempo é que vai dizer isso. Não pretendo me aposentar imediatamente, apesar de ter esses 30 anos de Petrobras. Enquanto eu gostar como gosto do que estou fazendo, quero continuar. MÚSICA O meu projeto é esse: quando me aposentar, procurar, de alguma forma, continuar trabalhando na área de cultura e investir mais no meu cavaquinho, que eu não tenho tempo de estudar. Então, quero investir mais no cavaquinho, talvez voltar a fazer coisas que fazia, como cantar em coral ou fazer alguma coisa mais de canto. No nosso conjunto, que se chama “Fabuloso Grupo”, eu faço a segunda voz. Eu canto samba, mas é uma fábula, porque ninguém é músico, ninguém tem tempo. A gente faz uma roda de samba que, inicialmente, era pra 30 amigos, mas hoje vão duas mil pessoas. São rodas de samba mensais lá no São Francisco da Prainha. Então, talvez o projeto seja esse: ter mais tempo. Sempre foi meu grande sonho essa questão do tempo. E eu até consigo, pela necessidade, aprendi muito a administrar e a fazer coisas; muita gente fala que não consegue imaginar como é que eu consigo fazer tanta coisa com o tempo que tenho. Mas quanto mais coisa eu tive pra fazer, melhor eu me organizei pra conseguir fazer. Então, eu acho que, quando me aposentar, vou ter oportunidade de lidar com esse tempo de uma forma totalmente diferente. FAMÍLIA / FILHOS Eu estou casada há 20 anos com o Pedro Müller. Ele trabalha na área de música da Funarte, e é também uma pessoa muito vibradora com a cultura. É o meu segundo casamento. Eu tenho dois filhos do meu primeiro casamento – que é um petroleiro, também, aposentado, o Marco – que são o Miguel e o João; o Miguel tem 26 e o João tem 23. Eu tenho uma filha do meu segundo casamento, com o Pedro, que chama Luísa e tem 18 anos. E tenho uma enteada que mora comigo e é praticamente como uma filha, que se chama Maria e tem 25 anos – que é filha do primeiro casamento do Pedro, com a Ângela. Então é Miguel, Maria, João e Luísa, em ordem de idade. O Miguel é advogado, o João e a Maria são jornalistas e a Luísa está fazendo vestibular, quer fazer direito ou psicologia, está estudando o caso. O Miguel está indo morar sozinho, acabou de fazer 26 anos, a Maria – de 25 anos – está casando, vai morar com o namorado, que é a filha do Pedro, e o João, que vai fazer 23 anos agora, está buscando fazer um mestrado na França ou na Espanha de relações internacionais. Ele é jornalista da Globo News, quer dizer, pediu demissão pra ir, não sei se volta pra Globo News, porque pro Brasil ele volta, a idéia dele não é ficar lá, é fazer o curso e voltar. Então, o João já foi, o Miguel e a Maria devem estar saindo mês que vem: a Maria pra morar com o namorado e o Miguel pra morar sozinho. Então, vamos ficar eu, o Pedro e a Luísa, que é a filha de nós dois e que vai ganhar o status de filha única depois de ser quarta filha. É engraçado. É um outro momento de vida, mas um momento super interessante. Muitas vezes, eu vejo amigas minhas falando desse momento com melancolia, mas acho esse momento super rico. Eu fui mãe, durante muitos anos, de filho pequeno, por causa desses dois casamentos, acho muito legal ter de novo a possibilidade de contar com um tempo meu; eu já conto hoje, mesmo com eles em casa, mas já me vejo pensando, quer dizer, isso junto com a coisa do meu tempo de casa na Petrobras, de começar a pensar em daqui a alguns anos me aposentar. Então, começa a se colocar realmente uma nova etapa de vida. E é muito engraçado como que, de repente, quando você começa a pensar nisso de forma concreta, é que isso ganha, realmente, dentro da sua vida, um caráter de uma nova fase, de uma nova etapa. E eu acho uma etapa riquíssima, porque vou ter tempo, que é o que eu mais busquei, e vou ter tempo tendo tido filhos e estando os filhos legais e tal. E estou louca pra ter um neto, tô louca pra dar um banho num neto. Talvez esse seja um projeto. PROJETO MEMÓRIA PETROBRAS Eu adorei, achei um barato. Acho muito legal o Projeto Memória como um todo, não só essas de histórias de vida, mas é um privilégio ter ficado com esse filé mignon - que eu considero - de poder estar revendo e ao mesmo tempo de estar contribuindo com esse espaço todo no projeto. Mas mesmo os outros depoimentos e tal, eu acho super importante. Acho que a Petrobras tem, pela natureza dela, o registro dessa história em todas essas vertentes que vocês estão fazendo, não só do patrocínio, mas de tudo o que representa a Petrobras. E achei muito interessante também essa coisa de não pegar só a visão de dentro da Petrobras, mas das pessoas que se relacionam com a Petrobras através das diversas frentes que vocês estão buscando. E achei muito bem conduzido o processo todo, muito profissional, e ao mesmo tempo muito sensível, quer dizer, porque o profissional é ótimo, mas não pode prescindir da sensibilidade na condução do profissional; eu achei esse aspecto, também, muito forte.
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