P/1 – Senhor Inácio, me conta um pouquinho sobre a sua época na Associação do Morro dos Prazeres.
R – Na época que eu morava lá, eu fiz parte da Associação e também ele, o José Bernardo. Eu fiz parte da Associação sem querer , quem me trouxe pra Associação foi Ulisses Bernardino da Silva, que é o pai do Flávio. Na época eu cheguei pra morar aqui, tinha uma chapa, aí me colocaram como secretário, ainda falei pra eles: “Vocês querem? Aliás, sou bem rapaz, se você me colocar como tesoureiro dá bem mais certo'', porque lá em Campina Grande eu fazia parte de um clube, onde eu era tesoureiro, então eu já tinha mais ou menos noção. “Não, mas o senhor tem que ficar como secretário”, tudo bem fiquei. Também na época era tudo à caneta, quando não era caneta era datilografado, e eu era muito ruinzinho, mas consegui chegar lá, daí então, depois dos meus 2 anos de mandato, veio a chapa de José Bernardo, eu consegui! Me colocaram lá como tesoureiro. E nesse período eu atuei como tesoureiro, secretário, presidente, porque José Bernardo viajava muito, então eu ficava responsável por tudo. Depois a Arlete entrou, também Lauriano, falecido Aquiles, aí me incentivaram pra me colocar na chapa, justamente coloquei uma chapa como presidente e fui bem sucedido.
Na época aqui nós éramos carentes de tudo, primeira coisa que eu fiz por essa comunidade foi botar telefone, que não existia. Eu fui na Telerj [Telecomunicações do Rio de Janeiro] na época, e fiz a inscrição. Até o cara ficou rindo da minha cara “Vai botar telefone lá, pra quem telefonar? Lá vai vender 500 fichas”. Eu disse: “Se não vender 1000 eu mando o senhor arrancar o telefone no outro dia”. Então nós fizemos a briga, era como conseguir chegar esse fio aqui. Era particular, tinha um tal de Vantuir que tomava conta, isso aqui fazia parte desse casarão aqui...
P/1 – Do antigo casarão?
R - Toda aqui,...
Continuar leituraP/1 – Senhor Inácio, me conta um pouquinho sobre a sua época na Associação do Morro dos Prazeres.
R – Na época que eu morava lá, eu fiz parte da Associação e também ele, o José Bernardo. Eu fiz parte da Associação sem querer , quem me trouxe pra Associação foi Ulisses Bernardino da Silva, que é o pai do Flávio. Na época eu cheguei pra morar aqui, tinha uma chapa, aí me colocaram como secretário, ainda falei pra eles: “Vocês querem? Aliás, sou bem rapaz, se você me colocar como tesoureiro dá bem mais certo'', porque lá em Campina Grande eu fazia parte de um clube, onde eu era tesoureiro, então eu já tinha mais ou menos noção. “Não, mas o senhor tem que ficar como secretário”, tudo bem fiquei. Também na época era tudo à caneta, quando não era caneta era datilografado, e eu era muito ruinzinho, mas consegui chegar lá, daí então, depois dos meus 2 anos de mandato, veio a chapa de José Bernardo, eu consegui! Me colocaram lá como tesoureiro. E nesse período eu atuei como tesoureiro, secretário, presidente, porque José Bernardo viajava muito, então eu ficava responsável por tudo. Depois a Arlete entrou, também Lauriano, falecido Aquiles, aí me incentivaram pra me colocar na chapa, justamente coloquei uma chapa como presidente e fui bem sucedido.
Na época aqui nós éramos carentes de tudo, primeira coisa que eu fiz por essa comunidade foi botar telefone, que não existia. Eu fui na Telerj [Telecomunicações do Rio de Janeiro] na época, e fiz a inscrição. Até o cara ficou rindo da minha cara “Vai botar telefone lá, pra quem telefonar? Lá vai vender 500 fichas”. Eu disse: “Se não vender 1000 eu mando o senhor arrancar o telefone no outro dia”. Então nós fizemos a briga, era como conseguir chegar esse fio aqui. Era particular, tinha um tal de Vantuir que tomava conta, isso aqui fazia parte desse casarão aqui...
P/1 – Do antigo casarão?
R - Toda aqui, daquela casa lá até a pista descendo por onde é a Associação, até onde é do Jesus ali... tudo pertencia a isso aqui.
P/1 – Ao casarão?
R - Ao casarão. Aí eu consegui uma madeira pra botar poste aqui, não tinha luz, não tinha poste, não tinha nada, então eu consegui uns postes. Mandei colocar, arrumei uma pessoa , quando eu cheguei de noite tinha um recado que o Vantuir tinha embargado, eu disse: “Ele não pode embargar, isso é um trabalho comunitário, não é pra minha casa”. Aí eu voltei na Telerj, aí disseram: “Amanhã mesmo irão puxar os fios lá, se alguém mexer - Vantuir, o dono do terreno -, aí não vai ser mais com você, vai ser com a gente”. Então eu botei o telefone, que era ali na Associação mesmo, com pouco tempo esse telefone só dava recado, ele não recebia. Aí eu fui na Telerj de novo pra ver se conseguia um comunitário. O que é comunitário? É aquele que recebe e faz ligação. Aí foi aceito com poucos dias, eles vieram e trocaram. Naquele dia foi um dia de festividade, naquele mesmo dia nós inauguramos. Daqui nós saímos pra inaugurar o do fogueteiro, porque lá não tinha telefone também...
P/1 – No morro do fogueteiro?
R – Não tinha, nem neste sítio não tinha. Daí nós saímos pra Bonsucesso, pra inaugurar outro lá, nesse mesmo dia. O gostoso é que todos lugares que a gente chegava, tinha uma cerveja, tinha um churrasco pra gente curtir ali, e a mora mestre de tudo isso era Inácio. Eu que inaugurava, eu que ia lá e botava a fita, eu que dava início a celebridade, nessa época que eu saí da Associação e ficou pra ele. Uma outra coisa que fizemos aqui, inclusive com o José Bernardo, nós criamos uma comissão de luz...
P/1 – O senhor José Bernardo também estava em todas?
R – Eu, José Bernardo e mais duas mulheres no meio. Joaquina da escadaria não fazia parte, mas contribuía muito com o trabalho. Penha também fazia parte e aí nós conseguimos registrar uma comissão de luz, o problema foi pra gente conseguir um dinheiro para fazer um levantamento de gastos, quanto podia ser, e na época era o padre Vitório que consagrava a missa. Ele era uma pessoa maravilhosa, dava atenção a todo mundo, quantas vezes ele subia pra casa do José Bernardo comer uma carne; ele não bebia, mas tomava refrigerante, e a gente tomava cerveja, aí nós ficamos na dependência de arrumar um engenheiro, e ele conseguiu.
P/1 – Ele era o que?
R – Ele era padre Dom Afonso ________, inclusive eu fui na consagração dele. Fui muito bem recebido, porque ali eu já tinha mais um conhecimento. Ele arrumou um engenheiro, fez um levantamento quantos transformadores seria necessário pra botar na comunidade. Eu sei que nós ficamos na dependência financeira, quanto é que seriam esses transformadores, na afiação, em tudo. Aí no dia que a gente fez entrada na Light [Light Serviços de Eletricidade S.A] com essa condição de luz, isso foi na época que o Leonel Brizola fez um projeto de edificações nas áreas carentes. Aí não precisou mais desse engenheiro vir mais com esses transformadores nem com nada, ele já entrou com esse projeto e foi feito. Quando eu cheguei, o Presidente da Light, não sei se você se lembra, ainda mora na Rua Dr. Júlio Antônio, aqui em Santa Tereza na descida. Eu cheguei lá tinha um calhamaço de Associações , de nomes de Associações que seriam eletrificadas daquele projeto. Quando eu cheguei a falar com ele, já tinha 30 na nossa frente, então eu disse: “Vai ficar difícil, tenho que falar com ele”. Fui na casa dele pra conversar, depois eu voltei, marcou comigo pra gente ir lá na Telerj. Eu sei que lá nós fizemos uma “enrolada” na Light, eu sei lá o jogo dele? A gente tava lá na 30 e botou na terceira, aí ele disse: “Vai pra casa sossegado, quando terminar unidade de fulano e sicrano já iniciaram, vai ser a sua”. Só que tinha um detalhe, ele tava se candidatando aí “pra um deputado”, só sei que nós chegamos, então começou aquilo sempre todos os dias. Ele vinha aqui, dava uma assistência fora de série, o problema dele não era ver a luz instalada, era torcer, porque ele tava na pré candidatura para deputado.
P/1 – Foi em que época isso senhor Inácio? Foi em que época?
R – Não me recordo qual foi o ano, só sei que foi na época do governo do Leonel Brizola. Aí ele se candidatou, a Light veio e instalou luz, tava tudo pronto, tava tudo bom. Dali ia fazendo a rede, o poste com relógio; no final do mês já veio a conta, aí foi que ele se danou comigo, porque ele veio inaugurar a luz: “Porque vai inaugurar uma luz dessa, tem algum sentido?”. “Por que não tem sentido? Não tem sentido por quê?. “Eu mesmo já paguei três contas e, tem outros que já pagaram até mais, tem umas que não, porque não foi feita a instalação na casa deles”. “ Qual o motivo? O dono não tinha a fiação competente para receber a energia?”. Aí ele disse: “Não vai dar certo, se o senhor quisesse fazer um trabalho comigo, o senhor mandava eletrificar tudo e marcava assim na inauguração”.
P/1 – Ele fez ao contrário, ele primeiro…
R – Eletrificou, e depois de muita gente, já tinha até pago contas. Ele queria inaugurar a luz.
P/1 – Aqui todo mundo já tinha luz?
R – A maioria já tinha luz. Eu deixei ele inaugurar, porque ele queria aglomeração de gente. No dia da inauguração, trouxe reportagem, trouxe tudo, eu falei pra ele: “Não é possível trazer esses moradores hoje, porque eu estou aqui, eu sou o presidente, vai ter muitos que não virão, já têm luz na casa dele. Vai descer pra ver a inauguração de quê? Se tá tudo eletrificado?”. Ele marcou horário, você sabe que não apareceu ninguém...
P/1 – Na inauguração?
R – Não apareceu ninguém. Primeiro eu cortei logo a dele, não tinha condição de fazer uma inauguração desse tipo, mas mesmo assim, ficamos lá aguardando se descia alguém, não desceu ninguém. Depois ele saiu e disse: “Não desceu gente porque você não comunicou”. Aí eu disse: “Foi divulgado mais do que tudo, eu tô aqui porque eu sou presidente e tenho que estar, mas os moradores que já tem luz na casa, não desce, se descer vai ser um otário!”. Já falei direto com ele, aí ficou mais um pouquinho. A respeito da inauguração; aí juntou os paninhos dele botou no carro e foi embora.
P/1 - O senhor chegou aqui em que época?
R – 1969.
P/1 – O senhor já conhecia aqui o morro?
R – Não, eu vim pra cá por intermédio do Padre Chaves.
P/1 – O padre é o Presidente da Associação do Morro dos Prazeres?
R – Eu morava em Laranjeiras, ai ele cismou que eu tinha que morar aqui, eu disse: “Por que que eu tenho que morar lá no morro? Não sou cabrito”. Terminei e vim morar, e até hoje estou me arrastando por aí. E graças a Deus, o que eu tentei fazer se não foi melhor, é que não houve possibilidade. Hoje o Flávio tá como diz a história, com a faca e o queijo na mão. Hoje tem uma facilidade pra certas coisas, na nossa época nós não tínhamos recurso de lugar nenhum. O recurso daqui era só dos associados, a gente tinha que pagar dois “manobreiros”, carteira assinada pela Associação; a luz que gastava lá na bomba pra jogar água, a gente que pagava, e quando essa bomba queimava, era um Deus nos acuda pra arrumar dinheiro pra mandar consertar. Aí passava quatro, cinco dias, e isso aqui sem água. Só sei que veio uma candidatura aí, Fernando de Carvalho, foi na mesma época do Brizola. Eu lembro que o Brizola queria saber quais as necessidades preferenciais da comunidade, eu disse assim: “Se for falar qual é o primeiro, é tudo”. Ele disse: “Qual é a prioridade?”. “A prioridade minha hoje é uma bomba nova e um material pra gente fazer esse segundo andar.
P/1 – Segundo andar da Associação?
R – Da Associação. Ele disse assim: “Eu vou levar o seu nome, o nome da Associação, eu tô aqui fazendo um trabalho pro Brizola, mas poderá ser feito esse trabalho depois das eleições”. “Se não tiver condições dessa bomba agora, encerramos a conversa aqui mesmo. Se eu tô precisando hoje e se o Leonel não ganhar e você não me mandar essa bomba, eu vou anunciar aos moradores que vocês prometeram a bomba e não chegou. Aí não pode trazer o material, não pode, tá? A bomba ou então não tem papo”. Então apareceu aqui no Cosme Velho, para fazer um trabalho para o Fernando de Carvalho, ele veio aqui conversou: “Olha, qual é a prioridade?”. Eu disse: “Olha, a prioridade eu já falei, em princípio uma bomba de 25 HP”.
P/1 – Uma bomba d'água, para levar água pro Morro?
R – É, porque a gente só tinha uma, quando queimava aquela, não tinha nenhuma pra substituir. Aí fui, quando marquei uma reunião com Fernando de Carvalho, fui lá e conversei com ele e na mesma semana ele veio aqui. Então eu o levei até onde era a bomba, ele disse: “Realmente aqui tá necessitando, só tem essa bombinha”. “Eu vou doar essa bomba” e mandou uma pessoa dele procurar na cidade a bomba, mas não encontrou. Vinha uma...quando ele chegava eu falava: “Nem instala, que isso aí não vai levar água pra cima”. “Não, mas é...”. “Não instala”. Eu sei que eu fiz um trabalho hoje, em véspera de eleição ele veio aqui, disse: “Olha, não encontramos a bomba aqui, eu vou mandar vir de São Paulo, perdendo ou ganhando a sua bomba vem”. Ele ganhou, depois das eleições, em 18 dias a bomba chegou.
P/1 – Esse quem ganhou foi o Brizola?
R – Brizola ganhou também.
P/1 – Ele que disse pro senhor que perdendo ou ganhando mandaria a bomba?
R – Mandaria a bomba. Foi o Fernando de Carvalho, Deputado Federal. Eu perdi até o contato com ele, na época ele era Presidente da Bolsa de Valores do estado do Rio de Janeiro, eu perdi o contato com ele, não sei nem se ele é ainda Deputado, se ele existe. Daí pra frente fomos lutando, tentando arrumar melhor possível essa Associação. Aliás tive um convite: “Bota a sua chapa aí”. Eu disse: “Não quero”. Agora mesmo quando o Flávio veio aqui, eu disse: “Flávio, eu acho que eu vou fazer uma chapa aí pra competir contigo”. Ele disse: “Aí é covardia, você pode não ganhar, mas vai me dar um balanço grande”. Eu falei: “Muito bom, por que você não se une comigo?”.
P/1 – O senhor me diz o seu nome todo?
R – Inácio Alves de Souza.
P/1 – Seu endereço.
R – Travessa ____________
P/1 – Aqui em Santa Teresa?
R – Aqui no Morro dos Prazeres.
P/1 – Data do seu nascimento, por favor.
R – 27 de abril de 1941.
P/1 – O senhor nasceu onde?
R – Na Paraíba.
P/1 – O senhor me disse que é viúvo, né? Qual é o nome da sua falecida esposa?
R – Inácia Felix de Souza.
P/1 – Seus filhos nasceram aqui?
R – Tem dois, três que nasceram aqui, chama-se Divanilce, Delcreciane e Eudenice.
P/1 – Me fala alguma coisa do Morro dos Prazeres, na época que o senhor chegou aqui, como era o casarão?
R – Na época era bom, aqui funcionava uma igreja, depois foi acabando. Eu morava aqui numa quadra, também morava um senhor e o Ventuir morava aqui em cima, e foi se acabando, depois que veio essa obra, e fez tudo do meu... Isso aqui tinha missa todos domingos, havia batizado, casamento e tudo. Isso aqui não era casarão, era casa dos padres, porque aqui moravam os padres mesmo, então era conhecido como casa dos padres, ainda hoje não se fala casarão; vamos na casa dos padres, não esqueceram.
P/1 – Então seu Inácio muito obrigada pela sua entrevista e a gente espera outra oportunidade. E o senhor está convidado para exposição do Museu da Pessoa da memória do Morro dos Prazeres.
R – Inclusive esse cara tem foto minha, da época que tava fazendo o segundo andar.
P/2 – Foi muito importante o senhor tá aqui fazendo essa entrevista, mais uma vez lembrando da nossa memória do Morro dos Prazeres, fazendo parte do projeto de memória que é muito importante, vai ficar gravado aí. Só queria que você assinasse também um termo de responsabilidade conosco, autorizando a exposição da sua memória aqui no nosso trabalho. Muito obrigado e parabéns.
(Fim da fita B0 – A 22 min)
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