IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Déa Marques Santos, nascida em 29 de fevereiro de 1936, em Porto Alegre, e radicada no Rio de Janeiro há 40 anos. FAMÍLIA / PAIS Meus pais são Francisco Januário Marques e Ereci Bandeira Marques. Ele paraibano e ela gaúcha. Eles se conheceram no Rio Grande do Sul, quando ele foi a trabalho. Ele disse que, conhecendo aquela friagem toda, realmente não era fácil e que jamais voltaria àquele local. Mas voltou e constituiu a família, eu e os meus irmãos somos todos gaúchos, somos cinco. Só quando a minha mãe faleceu foi que ele retornou à terra. Ele trabalhava em um escritório de importação e exportação, na parte de comércio. FAMÍLIA / IRMÃOS Nós éramos cinco, dois já falecidos, o mais velho e a irmã mais moça. Uma irmã mora em São Paulo é doutora em Biologia, e o irmão é engenheiro, morando na Paraíba. Este meu irmão acompanhou o meu pai quando ele foi para lá, quando ele retornou. INFÂNCIA Eu fui muito traquinas, fui muito avançada para a época, porque gostava de brincar, soltar pipa, coisas que as meninas não faziam, para o espanto da minha mãe. Mas, felizmente, correu tudo bem, não fui das alunas mais brilhantes, mas estudava, gostava, fazia pesquisa dos assuntos que me interessavam, e fui concluindo as etapas: o primário, o ginásio, escola normal no Instituto de Educação de Porto Alegre e, depois, fiz faculdade. Fiz vestibular para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e entrei no curso de jornalismo. Nós morávamos em um bairro chamado Moinhos de Vento, onde nasci. Depois nós mudamos para outro bairro, o Menino Deus. E lá as casas eram mais espaçadas, havia muito espaço para brincar na rua. Naquela época não havia perigo algum. Soltávamos pipa com os irmãos, andávamos de bicicleta, jogávamos caçador e todas aquelas brincadeiras. Normalmente, as meninas estavam brincando com boneca. Além das bonecas, sempre gostei muito de ler, eu e...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Déa Marques Santos, nascida em 29 de fevereiro de 1936, em Porto Alegre, e radicada no Rio de Janeiro há 40 anos. FAMÍLIA / PAIS Meus pais são Francisco Januário Marques e Ereci Bandeira Marques. Ele paraibano e ela gaúcha. Eles se conheceram no Rio Grande do Sul, quando ele foi a trabalho. Ele disse que, conhecendo aquela friagem toda, realmente não era fácil e que jamais voltaria àquele local. Mas voltou e constituiu a família, eu e os meus irmãos somos todos gaúchos, somos cinco. Só quando a minha mãe faleceu foi que ele retornou à terra. Ele trabalhava em um escritório de importação e exportação, na parte de comércio. FAMÍLIA / IRMÃOS Nós éramos cinco, dois já falecidos, o mais velho e a irmã mais moça. Uma irmã mora em São Paulo é doutora em Biologia, e o irmão é engenheiro, morando na Paraíba. Este meu irmão acompanhou o meu pai quando ele foi para lá, quando ele retornou. INFÂNCIA Eu fui muito traquinas, fui muito avançada para a época, porque gostava de brincar, soltar pipa, coisas que as meninas não faziam, para o espanto da minha mãe. Mas, felizmente, correu tudo bem, não fui das alunas mais brilhantes, mas estudava, gostava, fazia pesquisa dos assuntos que me interessavam, e fui concluindo as etapas: o primário, o ginásio, escola normal no Instituto de Educação de Porto Alegre e, depois, fiz faculdade. Fiz vestibular para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e entrei no curso de jornalismo. Nós morávamos em um bairro chamado Moinhos de Vento, onde nasci. Depois nós mudamos para outro bairro, o Menino Deus. E lá as casas eram mais espaçadas, havia muito espaço para brincar na rua. Naquela época não havia perigo algum. Soltávamos pipa com os irmãos, andávamos de bicicleta, jogávamos caçador e todas aquelas brincadeiras. Normalmente, as meninas estavam brincando com boneca. Além das bonecas, sempre gostei muito de ler, eu e meus irmãos gostávamos muito de ler. LEITURAS Incentivados pelos pais, principalmente pela minha mãe, porque quando tinha livro nós não dávamos trabalho algum, ficava todo mundo quieto lendo. Então, ela fazia questão de incentivar o nosso gosto pela leitura. Teve um livro que me causou espécie e nunca mais encontrei, chamado Anne Shirley, de uma escritora canadense, era a história de uma menina adotada. Eu achei a história muito bonita, nos marcou bastante, mas nunca mais encontrei, nem em sebos e nem referências a esse livro. FAMÍLIA / IRMÃOS Não era muito grande a nossa diferença de idade. Do meu irmão mais velho para minha irmã eram três anos, da minha irmã mais velha para mim, quatro anos, da minha idade para a Jussara, que era depois de mim, eram cinco anos, e entre o Jairo e a Jussara dois anos. Eu sou a filha do meio, que dizem que geralmente é problema. Eu acho que fui [problema] para minha mãe, pelas brincadeiras que eu exercia que não eram comuns. BRINCADEIRAS DE INFÃNCIA O caçador era um jogo de bola em que ficavam dois grupos e a bola que acertasse em alguém, que caísse no chão, matava aquela pessoa. Então, vencia quem ficava com o maior número, quem ficasse com mais sobreviventes. FAMÍLIA / PAIS Sobre a autoridade familiar, era bem engraçado, esses dias eu até comentei com a minha irmã, porque se nós queríamos alguma coisa, a minha mãe dizia: “Vai perguntar para o seu pai.” A gente falava com o pai: “Não, a sua mãe é que decide.” Então, a gente ficava entre dois fogos, o que um dizia, o outro dizia amém. Mas eu acho que o pai realmente era a figura maior. RELIGIÃO Fomos todos criados na Igreja Católica. A minha mãe era católica. Depois anos mais tarde nós descobrimos que o nosso pai era espírita, mas só depois de adultos, porque a minha mãe nunca falou disso, ou comentou. Depois que ficamos sabendo. Porque adulto já é diferente e não se permitia criança em conversa de adulto. Bastava só um olhar para a gente ficar quieto. EDUCAÇÃO Nós fomos criados, inicialmente, em escolas religiosas. Freqüentávamos escolas de freiras. Depois, quando os meus pais tiveram revés na vida, nós mudamos até de bairro, nós fomos para a escola pública. Eu estranhei porque, na escola das irmãs, quando entrava um professor, a gente tinha que levantar em sinal de cumprimento, e na escola pública a professora disse: “Não precisa fazer isso, Déa, porque não é habito aqui.” Depois eu saí daquele grupo escolar, no quinto ano primário. Então, eu fiz o admissão, que hoje eu comparo a um vestibular, para entrar no Instituto de Educação, no ginásio. E dali segui a minha carreira, fiz o ginásio e depois escola normal, fui lecionar alguns anos magistério no Rio Grande do Sul, fui diretora de escola, depois trabalhei na Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul. Tinha uma professora de geografia, no ginásio, que nós adorávamos porque ela dava aula contando as viagens dela. Era uma pessoa super para frente, o que era uma coisa fora do comum, então nós tínhamos adoração. Em contrapartida, nós tínhamos uma professora de francês que era muito, muito rigorosa mesmo. Nós tínhamos dois livros de francês e tinha dia em que ela pedia: “Coloquem os livros na classe.” E se alguém não trouxesse um dos livros, ganhava zero. Então, as nossas notas eram todas um horror, todo mundo chorando com medo de ser reprovado, mas dava para passar. A minha irmã adorava porque, graças à professora Ida Godinho, ela aprendeu francês muito bem. E até hoje o que eu sei de francês aprendi com ela. Eu gostava de estudar matemática, estatística e português. Não tem nada a ver, português junto com matemática e estatística. Talvez tenha sido influência das professoras, eu acho que isso pesa muito, a forma como a professora leva a matéria até você. JUVENTUDE Havia variações entre os meus amigos e os dos meus irmãos. Por exemplo, eu gostava de esporte, havia um clube que eu freqüentava. Nosso pai não nos deixava ir a baile: “Só quando vocês estiverem já na faculdade.” Daí quando eu cheguei à faculdade: “Agora eu vou a todos os bailes que eu não fui.” Eu joguei vôlei, mas amadoristicamente, e ensaiei um pouco no basquete, talvez pela altura, mas não deu resultado. O meu clube no sul é o Internacional, mas vou fazer uma confissão terrível: eu fiz tanto vôlei quanto basquete no Grêmio. Mas sou Internacional até hoje. MODA A nossa moda, eu falo em termos de adolescência, eram aqueles vestidos engomados, com anágua, a gente andava de luvas de crochê. Andávamos produzidas, dentro, é claro, das limitações financeiras que as nossas famílias tinham. Mas eu acho que era uma coisa muito poética. Nós usávamos, achávamos bonito, a gente ia para o cinema e via aqueles modelos das artistas, ficávamos entusiasmadas, Elisabeth Taylor, que era da nossa faixa etária, essas coisas que o cinema sempre cria, aquela imagem da ilusão. Eu sempre saí com os irmãos, a gente só era liberada para baile se o nosso irmão mais velho fosse junto. NAMORO Não sei se parece, não sei se eu passo essa impressão, mas eu era muito tímida, e ainda sou. Vocês aqui que me deixaram à vontade, eu acho que por isso que estou falando tanto. Mas eu namorei, gostava de namoro. Eu achava muito bom, muito gostoso. Então, era aquela coisa, em Porto Alegre existia a Rua da Praia – você procura a praia, não tem nenhuma, porque ela já foi aterrada há mil anos. Mas ali se fazia o footing, o que era o footing? Como era rua de trânsito, os rapazes ficavam no meio da rua e as moças iam para o correio, para alguma loja, e naquela passada a gente fotografava tudo também, era muito engraçado. Já registrava, já marcava. Naquela época, beijar era perigosíssimo, podia se engravidar com um beijo. Coisas engraçadas, não é? Nós somos de uma geração que eu chamo sempre de sanduíche, porque nós viemos de um rigor terrível e hoje estamos vendo uma abertura muito grande, que eu acho, às vezes, nem sempre benéfica. Não aquele rigor nosso, ver coisas dessa natureza não se justifica, mas eu sempre digo o quanto a gente perdia de beijar. É a questão do romantismo. Eu acho que, de certa forma, hoje a mocidade, o adolescente perdeu esse romantismo. Então, ficou uma coisa muito crua, sexo pelo sexo, não tem mais aquela coisa da conquista, do olhar, de vir falar. Eu acho que isso fazia parte da poesia, do romance das pessoas, eu acho que isso faz falta. FORMAÇÃO / FACULDADE DE COMUNICAÇAO Fui para o jornalismo. Tinha o meu padrinho, que me incentivou muito que eu fizesse jornalismo. Estava passando aquela lei que todos os jornais tinham que ter jornalistas, então eu me entusiasmei porque também gosto muito de pesquisa, de descobrir as coisas e de saber o que está acontecendo. Então, eu optei pelo jornalismo. Eu fiz na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O vestibular realmente era assustador, como foi na época a admissão para o ginásio. Nós tínhamos os conhecimentos, português, língua estrangeira, tinha uma série de provas e a gente estudava, tinha aquele objetivo, a gente queria passar. Então, a gente se esforçava e vencia essa etapa. EDUCAÇÃO / ENSINO MÉDIO A prova para admissão no ginásio era dificílima. Acabando o primário e indo para o ginásio, nós tínhamos que passar por uma prova, em qualquer escola que fosse. E [a prova] do Instituto de Educação era muito procurada, era muito difícil, tanto que eu nunca esqueci que caiu uma questão sobre quintal métrico e eu não sabia o que era quintal métrico. Eu fiquei apavorada, mas mesmo tendo errado a questão consegui aprovação. Quintal métrico é uma medida de não sei quantos metros, relativa à agrimensura, eu acho. É um negócio que me causou espécie, nunca esqueci o quintal métrico. Eu fiz uma parte do primário em escola de irmãs, em escola religiosa, católica. No quinto ano primário, em função da mudança financeira que houve na vida dos meus pais, eu fui para uma escola pública que se chamava Grupo Escolar. Então, eu fiz o quinto ano primário no Grupo Escolar. Aí, desse Grupo Escolar eu fiz o admissão para o Instituto de Educação, que também era uma escola pública. O ensino público era excelente. Nós não tínhamos só professores, nós tínhamos educadores, professores educadores. Até a forma de subir a escada, a forma de se sentar, elas corrigiam tudo. Hoje eu vejo que os alunos nem respeitam mais o professor, se duvidar batem no professor. EDUCAÇÃO / FACULDADE DE COMUNICAÇÃO Os nossos professores eram profissionais do Correio do Povo, do Diário de Noticias, e davam aula na universidade. Então, isso ajudou muito em termos de aprendizado profissional, a gente aprendia fazendo. Eles nos levavam para as redações e a gente fazia os trabalhos, fazia o jornal. Foi bastante interessante, muito bom, muito proveitoso. O professor de técnica de jornal, na primeira aula, disse: “Você vai fazer uma reportagem sobre Jesus Cristo.” Aí eu disse: “A favor ou contra?” Isso nos marcou, eu acho que marcou a todo o grupo. Desde então a gente vê que a questão de ética jornalística tem que ser muito rígida. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Terminada a faculdade, eu não fui trabalhar. Eu já trabalhava durante a faculdade. O nosso curso era pela manhã e, à tarde, eu lecionava. Então, eu já tinha o meu trabalho. Eu lecionava em escola pública no Rio Grande do Sul, também por concurso. A escola não tinha nome, era a Escola Pública do Passo Feijó, que era o nome da localidade onde ela ficava. Hoje se chama a Grande Porto Alegre. Depois, eu vim para a Escola de Canoas, aí eu vim para a Emílio Massot, uma escola dentro de Porto Alegre. Eu fui diretora no bairro Teresópolis, depois que eu saí da Emilio Massot, depois fui trabalhar na Secretaria de Educação, na área de assistência à saúde do educando. O ingresso no magistério lá é por títulos, então, como eu havia lecionado para adolescentes e adultos à noite, na ocasião em que eu estava cursando a escola normal, aquilo contou pontos para a minha carreira. Quando eu fui nomeada, aqueles pontos valeram tanto que eu fiquei na frente da menina que tirou o primeiro lugar no Instituto de Educação. Eu podia escolher a escola em que eu quisesse trabalhar. Só que aí teve um episódio interessante, eu fui nomeada para uma escola que não existia. Eu fui me apresentar na delegacia de ensino e todo mundo ficou apavorado, porque não existia a escola, criaram, mas não havia a existência física. Eu fiquei prestando serviços na delegacia até que, por questões políticas, eu fui para o interior e aí que eu não fazia jus, eu fazia jus a uma escola perto de Porto Alegre. Mas, para fazer atendimento de pedido de político, eu fui para o interior de Ozório. Foi muito bom, eu encontrei pessoas maravilhosas, eu morava na casa do senhor que era o agente ferroviário, porque só se chegava ali de trem. Eu fiquei de setembro a dezembro naquela escola, depois fui para Porto Alegre. COTIDIANO DE TRABALHO O Brizola tinha feito escolas públicas em todo o Estado, mas fazia de madeira, eram pavilhões de madeira. Teresópolis é uma região pobre de Porto Alegre. Hoje não mais, mas na ocasião era. Aí nós tínhamos aquele problema da merenda, nós ganhávamos apenas o leite, para a merenda das crianças. A gente não ia dar o leite puro, então nós fazíamos festinhas no fim de semana com as professoras, cada uma contribuindo, fazia tipo uma quermesse, e arranjávamos verba para comprar chocolate e açúcar. Aí que eu digo como é a situação, eu vi coisas piores ainda quando estava na Petrobras. Um aluno tomando a canequinha dele de merenda, eu disse: “O que meu filho, você não está gostando?” “Não, estou sim, senhora.” “Mas por que você não está...” “É que eu quero levar para os meus irmãos em casa.” Aí eu chamei a servente e falei: “A senhora me faz um favor, dona Camila, no final a senhora pega uma garrafa de coca-cola, sem ninguém ver, porque senão depois começa... A senhora dê para ele levar. A senhora vai até a casa dele e leve.” O menino era todo defeituoso, fisicamente. Então, você pode imaginar em que situação não deveria viver aquela família. Na Petrobras, quando eu fiz o programa Gasoduto do Nordeste, nós entramos por cidades do interior, eu vi coisas que nos arrasaram. Depois, eu trabalhei na Secretaria, na área de saúde, na assistência aos alunos, fazendo aquele preventivo de tuberculose, uma série de coisas que a gente fazia em todas as escolas de Porto Alegre, foi muito bom o trabalho. CASAMENTO Quando eu fui para Canoas, conheci o meu marido. Ele era da Aeronáutica e eu o conheci em uma visita da nossa escola naquela região militar da FAB, que tinha em Canoas. E aí nós casamos. Entre conhecimento, noivado, e namoro, foram seis meses. Foi rápido, mas já estamos há 50 anos um agüentando o outro. Agüentando muito bem, graças a Deus. O nome do meu marido é Eliezer Augusto Santos. Ele é da Aeronáutica, é mecânico de avião. Ele já me conheceu trabalhando. Eu sempre achei que nunca ia me casar, porque sempre fui muito independente. Mesmo com todo o rigor com que fui criada pelos meus pais, eu nunca pedi: “Mãe, posso ir nesse lugar?” Eu dizia: “Mãe, eu vou nesse lugar.” Quer dizer, isso já era uma forma diferenciada dos meus irmãos que pediam para ir, eu já dizia que “vou lá a tal lugar”. Eu não teria me dado bem com um machista. Meu pai, embora fosse do século XIX, tinha outra visão de mundo, ele tinha participado da Primeira Guerra Mundial, tinha andado pela Europa. Tanto que eu via umas primas mal-casadas, e disse para ele: “O senhor não pense que, se um dia eu me casar e me casar com uma pessoa desse tipo, que eu vou ficar casada por causa de família. Eu vou-me embora, eu o mando embora.” E ele disse: “A porta da casa dos seus pais vai estar sempre aberta para vocês.” Quer dizer, aquilo era uma coisa rara, porque a filha dava um mau passo, não queriam nem saber mais da filha. Eram umas coisas que a gente ouvia contar dos círculos de vizinhos, amigos. Ele tinha essa cabeça e nunca bateu em ninguém, sempre conversou muito, sempre nos explicou tudo. Separação era, sim, complicado. Eu tinha colegas, amigas que diziam que a mãe tinha morrido. Não tinha nada, era só separada do pai. INGRESSO PETROBRAS Meu marido foi transferido para o Rio, aí parou a minha ligação profissional, porque era estadual. Eu vim para o Rio, fiz concurso e ingressei na Petrobras. A partir daí, comecei uma nova vida. Eu fiz o concurso em 1966 e fui chamada em 1967. Fiquei na Petrobras até me aposentar. Inicialmente, eu fui trabalhar no Serviço de Pessoal. Trabalhei um ano e depois a Petrobras abriu concurso para a área de Comunicação. Concurso interno e externo. Eu fui aprovada em primeiro lugar e tive que esperar que todos os internos fossem reclassificados, porque eu era de fora. Eu acho justo, porque era norma da empresa. Aí, quando eu era interna, o que aconteceu? Eu também fiquei em primeiro lugar e aí eles queriam botar os de fora primeiro. Eu digo: “Puxa, vai dar azar assim lá longe.” Mas, de qualquer forma, o senhor Darci Siqueira, que era o chefe do serviço de pessoal, falou: “Não. A norma da empresa é essa, ela vai ser seguida.” Eu estudei para isso. Foram as duas únicas vezes em que eu estudei mesmo, porque precisava. Primeiro, eu precisava de um emprego no Rio e, depois, eu precisava mudar de categoria, porque a diferença salarial era significativa. Aí eu fui para a área de Comunicação, na Revista Petrobras, que era editada no antigo Serviço de Relações Públicas, o Serpub. COMUNICAÇÃO / SERPUB No Serpub, além da revista, nós editávamos todas as publicações da Petrobras e de todas as subsidiárias, relatórios, inclusive. Tínhamos grandes atividades na área publicitária, por exemplo, participávamos daqueles salões de automóveis, feiras no país, tinha um departamento especializado nisso. Havia um setor na área internacional que já era bastante atuante. O Serpub tinha um número representativo de funcionários, talvez em torno de 70 funcionários. Quando eu fui para o Serpub, que eu saí do Serviço Pessoal, eu fui para a Avenida Rio Branco 109. Depois ele se mudou para a Rua Bueno Aires 40. E de lá nós mudamos para o Edifício Sede. O nosso chefe era o Doutor Adolfo Cabral Barroso. Era ele quem dirigia o Serpub e o adjunto era o General D’Ávila. PUBLICAÇÕES Publicávamos, por exemplo, a legislação do petróleo, o relatório da Petrobras, a Revista da Petrobras, depois foi instituída a Revista Gente, e folhetos explicativos para pessoas que não conheciam a Petrobras. O setor editorial, que era o nome do setor ao qual eu pertencia, fazia todas as atividades, às vezes era redação, às vezes revisão, acompanhamento gráfico, tanto que tenho um curso de artes gráficas que fiz no Senai em função do trabalho que executava lá. Todo mundo fazia tudo. Quer dizer, nem todos, mas a revisão principalmente era nossa. A redação e a revisão eram nossas. Depois a gente acompanhava, porque, por exemplo, tinha a equipe de arte que fazia a paginação. E nós acompanhávamos, fazíamos as modificações, sugestões. Escolhíamos as fotos. Havia uma firma que fazia a parte de artes. Era o Paulo de Oliveira que fazia na ocasião. Foi uma das firmas que fez, a que eu lembro. Depois, tinha autônomos que trabalharam para lá, que faziam essa atividade. REVISTA PETROBRAS A gente se reunia e dávamos sugestões, trocávamos idéias. A gente via os artigos do momento, as realizações que a Petrobras estava realizando, e assuntos também da parte de cultura brasileira. Era para o público interno e o externo. Nós tínhamos assinantes em todo o país e fora do país também. Como eu cheguei a registrar, uma vez recebemos uma carta de um professor de Oxford que dizia que usava a revista Petrobras para dar a aula dele sobre assuntos da América Latina. Fazíamos matérias sobre a questão de energia de uma forma geral. Teve também outro depoimento, que é o inverso do professor de Oxford, de uma assinante que morava em uma cidadezinha no interior de Santa Catarina e ela disse que reunia um grupo à noite e lia a revista para eles. Ela dizia que aquele lampião que estava iluminando a sala deles, o querosene era fabricado pela Petrobras. Só ela sabia ler naquela cidade. Você vê que coisa incrível Lia a revista e ia explicando, inclusive, dando aula sobre os derivados do petróleo. Nós fizemos coisas muito interessantes. Eu fiz uma matéria sobre a origem do samba que teve uma repercussão muito grande. A Petrobras, inclusive, foi homenageada pela Portela, em função dessa matéria. Depois, eu tive a oportunidade, isso foi um dos ganhos da profissão, de ter entrevistado o Câmara Cascudo. São pessoas que te acrescentam muito, muito mesmo. Traz um enriquecimento profissional muito grande. Não havia nada que fosse determinado: “Oh, tem que fazer isso.” Não, a partir dali a gente fazia a pauta, submetia à chefia, e tocávamos o barco. E tinha sempre também matérias da Petrobras. Vamos dizer que a matéria da Petrobras era a principal. Nós fazíamos toda a cobertura, não só na questão das refinarias, como na parte de exploração e produção. Nós também íamos a campo para aprender como era, inclusive para poder traduzir aqueles termos técnicos para uma linguagem que o grande público pudesse entender. E os colegas, os geólogos, eram excelentes, nos davam explicações minuciosas. Hoje nós temos os satélites fazendo cobertura, mas na época eles iam aos locais para verificar as regiões que fossem bacias sedimentares, para determinar onde deveriam ser feitos os furos. Então, com o avanço da tecnologia, isso já é passado remoto. Nós fomos para um lugar e, pelo meio do caminho, no meio do mato, os jipes atolaram, eles usavam umas botas por causa de cobra. Eu tinha um pavor de cobra. Aí nós descemos, tivemos que sentar em um lugar para esperar que viesse aquele buggy grande para tirar o jipe do atoleiro. Eu sentada o tempo todo, só olhava, não querendo passar vexame. Olhando com medo, eu ouvia um estalo qualquer, eu olhava para ver se não era um bicho, louca de medo se fosse um bicho. Isso foi no interior da Bahia. Outra experiência também interessante foi a nossa ida a uma plataforma. Nós íamos de barco até a plataforma em alto mar, lá descia uma cestinha e nós tínhamos que entrar. Não se entrava na cestinha. A gente agarrava na corda e eles te içavam para depois te botar lá na plataforma. Aquele marzão embaixo te esperando, é uma sensação bem angustiante, mas valeu como experiência de vida. Isso foi em Sergipe. Na Bacia de Campos teve um outro episódio. Minto, foi no Rio Grande do Norte. Nós fomos visitar várias plataformas e, depois, quando nós chegamos à última, que nós íamos retornar para a terra, não havia mais autorização para viajar de helicóptero. E eu tive que dormir em plataforma, quando mulher nenhuma dormia em plataforma, foi muito engraçado. Daí eu fiquei no apartamento do pusher, que era o chefe de lá: “A senhora sabe que, quando eu chegar aqui, eu bato assim, quando a senhora ouvir essa batida sou eu.” Eu tive que dormir do jeito que eu estava, de calça jeans e tudo, porque não tinha jeito. Aí todo mundo: “Ah dormiu na plataforma.” Eu disse: “Gente, é tudo colega.” O que se vai fazer, não era praxe. Hoje as mulheres estão em todos os postos, mas na época causou espécie. Foi uma experiência interessante. TRABALHO FEMININO Tinha bastante mulher, mas geralmente na área administrativa. Eu tenho uma amiga que é engenheira de petróleo, ela é da Bahia, é mais antiga que eu. Mas era essa especialidade assim, atividade-fim da empresa ou, então, na área administrativa. COMUNICAÇÃO / SERCOM A mudança para Sercom aconteceu quando a legislação começou ficar rigorosa com o profissional de relações públicas, nem todos eram relações públicas. Tinha publicitários, já havia aquela especialização dentro da universidade, e tinha os jornalistas. O Governo Federal lançou Comunicação Social e, a partir dessa atitude, a Petrobras também partiu para esse sistema de Comunicação Social. Então, ficou Serviço de Comunicação Social, que abrangia todas as especialidades dentro da área: os publicitários, relações públicas e jornalistas. Eu acho que mudou quando fomos para a Rua Buenos Aires, 40. Nessa época, a Petrobras não divulgava muito os fatos, o que ela realizava. Ela se limitava a usar os canais que possuía, mas não era agressiva como é hoje em termos de propaganda, que a todo o momento você tem uma informação sobre o que ela está realizando, o que ela está investindo no país. Até então, a gente fazia palestras em escolas, para deputados, senadores, para a área política, para a área educacional, divulgando os trabalhos que a Petrobras realizava, mas isso ficava muito restrito. Eu acho que a partir daí é que começou a implementar a área de publicidade. IMAGEM PETROBRAS A imagem que queríamos passar era de uma empresa nacional que investia no país, isso era o fundamental e relatávamos os fatos que ela fazia. O caso do xisto, por exemplo. O xisto tinha uma exploração em Tremembé, depois eles descobriram as minas em São Mateus do Sul, que era mineração a céu aberto, então a Petrobras, lógico, optou por lá, mas não existia nada, então ela construiu hospital, escola, estradas, tudo. Criou um ambiente de modo atrativo para os empregados se fixarem na cidade. E assim ela fazia em todos os lugares. As estradas de acesso à Refinaria de Mataripe ela construiu e é ela que mantém. Não sei hoje, acredito que continue assim. Então, ela investe muito no país, é uma empresa realmente preocupada com o país, mas lógico que tem preocupação com os seus lucros. Hoje ela é uma empresa internacional, mas naquela época estava começando essa área. Começou a Interbrás, a Braspetro; as subsidiárias começaram a aparecer em função das atividades que ela começou a desenvolver. Nós tínhamos a noção de que estávamos construindo a imagem da empresa e nos preocupávamos muito por não sermos mais agressivos. Nós achávamos que a Petrobras tinha que ser mais, porque ela era o “Judas”, ela apanhava, apanhava, e ficava quieta. E nós ficávamos revoltados porque não podia ficar quieto, tinha que contar para o povo brasileiro o que ela estava fazendo. A gente queria que ela mostrasse o que realmente fazia, porque ela sempre foi muito de investir no país, na área de educação. Por exemplo, teve um projeto comunitário que nós desenvolvemos que se chamava Descubra o Petróleo. Nós íamos para os interiores das cidades, dos locais onde a Petrobras tinha unidade, e levávamos cadernos, porque as crianças não tinham nada, nem bandeira do Brasil, não sabiam nada, então a Petrobras oferecia tudo. Isso tudo ficava só no âmbito daquele núcleo que nós estávamos atendendo, a população brasileira não ficava sabendo o que a Petrobras fazia. PROJETOS SOCIAIS No projeto do Gasoduto do Nordeste, passávamos por aquelas cidades que não são turísticas do Nordeste, aquelas cidades do interior do interior, e víamos aquela miséria, aquelas crianças na escola escrevendo em papel de pão, com aquelas típicas doenças de fome. A gente levava tudo para eles: lápis, borracha, caderno, mapa do Brasil, bandeira brasileira. O Gasoduto foi na década de 70. Eu lembro que, em uma das cidades – para se ter uma idéia do nível da população –, falando com as professoras locais, eu disse: “Qualquer duvida que vocês tenham, por favor, me interrompam que eu explico para não haver depois dificuldade de entendimento no restante. Nós vamos conversar sobre o Gasoduto do Nordeste.” Aí uma levantou a mão timidamente, lá no fundo, e disse: “O que é Gasoduto?” Aí eu disse assim comigo: eu vou ter que botar o nível lá em baixo. Aí eu expliquei: “Sabe como é um tubo de água que leva água para dentro de casa? Esse é um tubo que leva gás. Ele está trazendo gás lá do norte, lá do mar, para botar nas indústrias da região, para que elas não utilizem madeira.” Aí contei a história, tive que fazer um outro tipo de palestra. Porque você não pode querer que uma pessoa que não tem certos conhecimentos entenda de craqueamento catalítico ou coisa semelhante, não tem jeito. Então, você tem que baixar o nível da sua linguagem para que ela possa entender. Aí foi tranqüilo, mas eu a elogiei: “Excelente pergunta.” Para que as demais não ficassem intimidadas e depois não quisessem perguntar, porque a pior coisa é isso. GASODUTO DO NORDESTE O caso é o seguinte, há um tremendo desmatamento ali, inclusive a própria seca é um resultado desse desmatamento que houve no Nordeste, e a Petrobras tinha o interesse que eles usassem o gás. A Petrobras tinha interesse em que eles deixassem de usar a lenha, que causava o desmatamento, e passassem a usar o gás que ela estava trazendo do Rio Grande do Norte, inclusive ela colocou equipes para transformar as fábricas, as indústrias, transformar todo o equipamento deles para operar com gás. Então, nós tínhamos que conscientizar a comunidade e falar para eles porque aquilo era importante, para que, quando eles vissem as pessoas trabalhando, eles soubessem o que era aquilo também, porque são pessoas que não têm informação nenhuma. Não sei hoje, não acredito que tenha mudado muito, pois eu acho que há um interesse em deixar eles não sabendo muito das coisas para melhor manipular. Foi uma iniciativa conjunta com a diretoria da empresa, porque havia um interesse da Petrobras para que o gás fosse utilizado. RELAÇÕES COM AS COMUNIDADES Nós tivemos também outros programas, além desse do gás, em função dos interesses da empresa. Havia outros programas, o próprio Conheça o Petróleo foi um trabalho muito bom porque nós levávamos algumas coisas a mais para eles, inclusive passávamos uns filmes sobre como era a exploração, para eles entenderem as modificações. Nós levávamos todo o equipamento conosco, máquina de passar filme, tela, tudo ia com a gente, a nossa tralha era enorme. A gente ia e fazia esse trabalho de uma cidade para outra. Em todas as vezes que nós tínhamos programas com as comunidades, levávamos um certo tipo de material para ser projetado de acordo com o plano estabelecido, o que ia se falar com eles, o que ia ser feito com aquela comunidade. Esses projetos foram crescendo. Nós começamos com um projeto em Macaé, que se chamava Escola Planta e Colhe, para desenvolver as hortas comunitárias e as hortas particulares, para fazer com que as pessoas se conscientizassem da importância da alimentação que eles mesmos poderiam produzir. Havia esse programa junto com a Secretaria de Educação, com as áreas locais de Governo que estivessem envolvidas. Depois, teve um projeto de energia no campo, como as pessoas poderiam fazer, publicávamos, fizemos jornais explicando como era. Fizemos também um programa junto às rádios de divulgação do que a Petrobras estava realizando. Quer dizer, foram crescendo à medida que fomos fazendo. Depois também tivemos um trabalho ainda em Macaé, junto com a Febem, para a questão dos menores abandonados. Havia algumas sugestões da área da Comunicação. Por exemplo, a Escolha Profissional foi um dos projetos que desenvolvemos junto com as Secretarias de Educação de todo país. O projeto Escola Planta e Colhe e a questão da Febem eram projetos da área de Comunicação, que sempre contaram com o apoio e com a aquiescência da empresa, da Petrobras, da diretoria. COMUNICAÇÃO / SERCOM Nós éramos uma equipe. Tínhamos também algumas pessoas contratadas na área educacional que prestavam uma assessoria para o projeto. No próprio Sercom, havia a equipe que fazia as palestras para a escola, para os estudantes especificamente sobre petróleo, outras que eram para o Gasoduto do Nordeste, que abrangia não só as entidades ligadas à área de educação, como também aos parlamentares. Nós fazíamos, às vezes, até na Paraíba. Na época, o presidente da Petrobras, o General Araken, fez a palestra para os parlamentares. Era um trabalho do Sercom junto com a presidência. Não eram só jornalistas. Havia pessoas da área de publicidade, de relações públicas e muitos que eram de nível médio, não tinham especialização, em termos de Petrobras. Podiam até já ter a universidade, mas não eram, perante a Petrobras, considerados como profissionais, não tinham sido classificados como profissionais. PETROBRAS / CRESCIMENTO Eu acho que foi crescendo quando já estávamos no Edise, fazendo esse tipo de trabalho. Na década de 80, começou realmente a eclodir vários projetos. A própria Petrobras foi sofrendo modificações. Começou a admitir pessoas, as mulheres começaram a entrar em áreas que eram fechadas para homens, no caso da plataforma. Quer dizer, ela mesma começou a se modificar, a própria empresa começou a se modificar. E o crescimento dela começou, em cadeia a afetar o crescimento de todas as áreas. IMAGEM PETROBRAS Esses projetos que citei foram os primeiros feitos pela Petrobras nas comunidades. O primeiro foi o Descubra o Petróleo. A partir desse projeto, fomos verificando as necessidades que existiam fora do Rio de Janeiro, começamos a ampliar com outros projetos. O principal problema era a pobreza geral do país, a falta de informação. A Petrobras sempre teve essa preocupação com o Brasil. Ela é uma empresa voltada para o nosso país. Posso dizer, com sinceridade, e acho que isso vale para todas as pessoas, porque todos os ex-petroleiros têm uma doença: o petróleo que corre nas suas veias. Porque a gente gosta e ama muito a empresa, mas nós temos também algumas críticas. A Petrobras precisa ser bem divulgada, ela não é só patrocínio ao Flamengo, não é só patrocínio ao Canecão, ela tem algo muito maior, que é a preocupação com o povo brasileiro. Isso é importante, o foco maior deve ser voltado para que o povo brasileiro saiba disso, que ela é uma empresa nacional voltada para o povo brasileiro. Porque, onde ele precisa, ela está lá. RELAÇÕES COM A COMUNIDADE Teve um momento em que se criou uma área somente para as comunidades: o setor da área comunitária. Fui para o setor de Relações com a Comunidade, era esse o nome na década de 80. Foi quando participei, não mais produzindo as peças, mas participei interagindo com os públicos aos quais eram dirigidos esses programas. A preocupação da Petrobras era muito grande, em levar as condições mínimas ao povo brasileiro. O que a Petrobras tem a ver com horta? Havia a Petrofértil. Mas não era nem esse o caso, era o caso de hortas comunitárias. Era a conscientização das pessoas sobre a importância de uma horta, que aquilo era uma coisa que eles poderiam fazer. A Petrobras tinha essa preocupação. Depois a questão do próprio ensino, ela queria divulgar a Petrobras, mas levava material para as crianças terem a oportunidade de ter um ensino de acordo, com o material escolar de acordo. No caso do projeto Escolha a sua Profissão, o pessoal logo vinha: “Ah, eu quero ser engenheiro.” Em uma palestra que fiz, eu disse: “Em uma refinaria, nós temos dois mil funcionários, nós temos 22 em nível superior, o resto tudo é nível médio, então é no nível médio que temos que concentrar.” Porque, às vezes, a pessoa tem aquela ingenuidade de acreditar que o diploma universitário vai abrir portas para ele e, às vezes, não abre. Ao passo que um operador da Petrobras de nível médio, um operador de processamento em uma refinaria ganha muito bem e é nível médio. Tem uma série de profissões que são de nível médio e que eles podem ser direcionados para lá. Quer dizer, elas tinham essa preocupação de fazer com que eles vissem que há outras opções além do diploma de universidade. Principalmente para aqueles que não têm condições de pagar uma universidade. Hoje em dia, a maioria é universidade paga. Acho excelente esse aspecto da Petrobras. O chefe da divisão era o Antonio César Cabral e a gente trocava idéias, sugeria, e a partir disso se instituía o programa. O grupo discutia como ia fazer, quais eram os elementos que iríamos utilizar, quais as atividades que seriam desenvolvidas naquele projeto, em que áreas nós iríamos atuar. E aí cada um pegava a sua fatia, quer dizer, um ficava com o Rio Grande do Norte, outro ficava com Sergipe, outro com a Bahia; como a Bahia era muito grande, era dividida entre dois ou três, e assim por diante. Nós nos dedicávamos a desenvolver os projetos dentro de cada uma dessas comunidades. Nossa preocupação era atender as diversas regiões. Nós até fizemos, uma vez, na Revista Petrobras, as cidades do petróleo, onde a Petrobras estava, o que ela tinha feito naquela região desde que ela tinha se instalado ali. Isso nós fizemos na década de 70. Em cada uma das unidades da Petrobras havia uma área de Comunicação. O nosso acesso sempre foi através deles. Por exemplo, tinha a refinaria da Replan, a RPBC em Cubatão, a Refap de Porto Alegre, a Regap em Minas, todas elas tinham, e nos escritórios da área de exploração e produção também. Nós tínhamos essa região de produção da Bahia, região de produção do Nordeste, e nós tínhamos também o apoio dos superintendentes que sabiam do nosso trabalho. A gente se apresentava a eles, dizíamos o tipo de trabalho que nós íamos realizar, e nós mantínhamos esse contato, eles nós davam todo o apoio que nós precisávamos na área em que estávamos atuando. Nós fazíamos todo o projeto, depois fazíamos a avaliação dos resultados e, a partir dessas avaliações de resultado, a proposta para o projeto seguinte, para o Brasil todo. Determinado tipo de atividade, o próprio regional resolvia, mas esses projetos maiores a equipe ia, lógico que sempre com o apoio e a presença do colega da região. A gente nunca estabeleceu essa diferença da Sede, isso não. Pelo menos da minha parte eu nunca fiz isso. Mas a tônica do grupo, da equipe toda da Sede, era trabalhar em conjunto com o pessoal que estivesse lá atuando na área de Comunicação. Nós fazíamos um planejamento anual e mandava para eles, e eles faziam de certa forma, uma adaptação à realidade deles. Lógico, sempre trocando. Havia a reunião anual dos representantes, a gente conversava, discutíamos, e eles depois reformatavam o projeto de acordo com as necessidades das áreas. MUDANÇAS NA COMUNICAÇÃO Eu acho que a mudança para a área de Comunicação Social foi interessante. Foi com o General Barros Nunes. Aliás, embora general, ele foi o melhor chefe de Comunicação Social que eu vi na minha trajetória. Ele era uma pessoa que delegava, em primeiro lugar. Delegava com responsabilidade, certo? Se ele te entregasse uma tarefa e tu chegasses e explanasses para ele, ele te dava total apoio à tua atuação. Ele gostava, como todo mundo, que jogasse limpo com ele. Não vem querendo engambelar porque não era por aí. Porque nós temos uma visão, e não é só visão, há casos reais bastante desagradáveis daquele período, mas justiça seja feita: ele nunca foi atrás do que fosse soprado no ouvido dele. Ele conversava com a pessoa e verificava se realmente procedia, aquelas coisas que sabemos da realidade. Então, ele foi muito “gente”, não só em termos profissionais, como ele dava plena autoridade e plena liberdade de ação se você realizasse as propostas. Como ele também auxiliava vários colegas, às vezes até com problemas sérios de alcoolismo e tudo, ele ajudava particularmente e ninguém ficava sabendo. Foi ele que fez essa reformulação. Começou na gestão do Adolfo Cabral Barroso, mas se concretizou com o General Barros Nunes, que ficou muitos anos ali conosco. Depois do Barros Nunes, veio o Carlos Alberto Rabaça, que ficou muito pouco tempo. REVISTA GENTE Essa revista teve uma história interessante. Na ocasião, eu saí do Serviço Pessoal para o Serviço de Comunicação, Serpub, que era relações públicas. Eu ainda não sabia, mas o chefe da divisão tinha ido fazer um curso na Sorbonne. O chefe de setor era o Vânio Coelho. E no lugar dele estava a Lucia Saldanha, com quem eu trabalhei durante alguns anos. Quando retornou, ele achou – isso é uma opinião minha – que iria retomar o antigo local, o lugar dele de trabalho, mas ela não foi afastada, ela permaneceu. Então, se criou uma divisão da comunicação entre comunicação externa e comunicação interna. E aí o Vânio criou a Revista Gente. Por muitos anos ele ficou com a Revista Gente, depois ele foi ser chefe de divisão. O setor editorial voltou a ser responsável por todas as publicações e a Revista Gente voltou para nós. Nós a editamos durante algum tempo, até que entrou o Rabaça e acabou com as duas revistas, a Gente e a Revista Petrobras. A Gente era para o público interno. Na ocasião em que a revista passou a ser atividade nossa, nós dizíamos aos nossos colegas como eram feitos, por exemplo, um tal de cálculo para fazer recebimento da PL, que era a participação nos lucros, aquilo era um tabu e nós colocamos na revista como era feito esse cálculo. Causou espécie, revolucionou um pouco, mas tudo bem. Procurávamos assuntos que eram do interesse do empregado, nós colocávamos como era feito, como o cálculo era, se era assim, se era assado, com detalhes. Aquela parte que já estava consagrada, que eram os retratinhos dos filhos e tal, a gente deixou, mas procuramos dar essa outra orientação para a revista também, não só aquelas reportagens mais genéricas, mas mais objetivas, porque a outra revista que o empregado recebia, a revista Petrobras, falava das realizações da empresa. Então, não tinha porque repetir na revista Gente. O Rabaça acabou com a revista, mas até hoje eu não entendi o porquê. Dinheiro nunca foi o problema para a Petrobras, inclusive não havia o dispêndio com a publicidade, então as publicações tinham uma boa verba. Tínhamos mais de 100 mil, 130 mil assinantes da revista Petrobras em todo o país e no exterior também. E houve muita solicitação para que ela voltasse a circular, mas não voltou. Agora temos outra revista Petrobras. Quando ela retornou, eu já não estava mais lá, me aposentei em 1987. PROJETOS COMUNITÁRIOS De 1984 até 1987, eu trabalhei nos projetos comunitários. Eu deixei a área de publicação para entrar na área de projetos comunitários. E gostei muito, porque te dá uma visão de Brasil que você não tem. Quando você vai para o Nordeste, normalmente vai a uma praia, a uma cidade litorânea, a uma cidade turística, então você não vê o que é o nosso Nordeste, o que precisa ainda ser feito para que o nosso país realmente cresça. É muito triste a miséria em que eles são mantidos. Não sei hoje, porque não tenho ido para lá, não corri mais a linha do gasoduto, mas na ocasião me deixou bastante traumatizada ver o estado daquelas crianças, era muito triste. Dos projetos que participei o que mais gostei foi Descubra o Petróleo. Nós tínhamos cartazes com toda a indústria petrolífera, bem explicadinho, com o bê-á-bá. E tínhamos os folhetos para os professores, e a gente ia lá, explicava para eles, mostrava como era, para eles entenderem tudo sobre petróleo. Eles não sabiam como ficava o petróleo embaixo da terra. Eu fui e disse: ”Vocês já viram uma esponja? É uma esponja. A esponja não fica cheia de água? Quando você espreme sai. O petróleo fica assim, no meio da rocha porosa, ele fica ali. Não é um lago que está lá embaixo.” E por aí a gente ia explicando detalhadamente para eles, as crianças iam se interessando e até os próprios professores que, às vezes, não tinham muita noção. Às vezes, me perguntavam se eu era geóloga. “Eu aprendi com os geólogos, mas não sou geóloga.” Trazíamos aquela informação para eles, mas adicionando a isso vinha aquele contato, talvez pela minha formação inicial de professora, com as crianças. Ver a criança descobrindo as coisas é muito interessante. Foi um projeto muito bom, porque ele divulgava a Petrobras, o que a Petrobras fazia. A Petrobras era algo muito abstrato e ali eles tinham uma noção do que realmente a Petrobras fazia. Até a construção de escolas, hospitais, estradas, tudo aquilo a gente mostrava para eles, o que a empresa fazia quando ela chegava aos locais. Não dava para visitar todo o Brasil. Nós fazíamos assim, por exemplo, eu vou citar o Gasoduto do Nordeste porque ele passava por Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e ia à Bahia. Um colega ficou com o Rio Grande do Norte, eu fiquei com a Paraíba, que são as minhas origens, um outro colega ficou com Pernambuco, e o outro com a Bahia. Nós tínhamos uma linha de ação com todo o trabalho bem detalhado. Seguíamos aquele roteiro e fazíamos o nosso trabalho. Depois a gente chegava ao Rio e trocava aquilo tudo em miúdos. Fazíamos o nosso relatório, indicávamos os pontos que precisavam ser fortalecidos, os pontos que podiam ser retirados porque não havia necessidade daquilo, e as coisas novas que precisavam acrescentar, que faziam falta no projeto e que, de alguma forma, já tínhamos iniciado de forma insípida, já tinha iniciado algo nesse sentido. Depois de um tempo, nós focamos em Macaé, porque aí começou a grande atividade, e em Campos também. Em Macaé, nós desenvolvemos vários projetos, inclusive praças públicas, com entretenimento para idosos, fazendo aqueles joguinhos. Tudo isso foi feito. A Petrobras tinha essa preocupação. Ela tem preocupação com detalhes em relação à comunidade, a questão do menor abandonado também, a questão das hortas escolares, e hortas que também foram implantadas em Cubatão. O projeto inicial era em Macaé, mas depois dali passava para as demais regiões. E nós contávamos com os nossos colegas das refinarias, da exploração e produção, aí eles desenvolviam um trabalho lá. Macaé foi o piloto para esses outros projetos, inclusive para a Escolha Profissional, quando íamos para as escolas e fazíamos testes com os adolescentes e tudo mais. Eu me aposentei mais ou menos dentro da área de educação. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Eu entrevistei o José Lutzenberger, sobre a questão da energia solar, o que foi extremamente enriquecedor. Mas acho que o ponto alto das entrevistas foi o Câmara Cascudo, foi fabuloso ter essa possibilidade de observar aquela cultura toda que ele tinha, uma pessoa maravilhosa. Ele fez, inclusive, eu botar o meu nome na parede: “A senhora ponha o seu nome aqui na parede, porque essa casa vai ficar tombada, aí a senhora vai vir aqui um dia, e vai ver o seu nome ali.” Era uma pessoa maravilhosa. Ele morava no Rio Grande do Norte, em Natal. Teve uma passagem cômica. Em uma dessas cidades que nós fomos, o meu colega Zezinho – era o nome carinhoso que dávamos a ele – era a pessoa que projetava os filmes e tudo e, às vezes, dava algum enguiço na máquina, ele puxava o pente dele e metia na máquina. Consertava e continuava a projetar o filme. Mas, nessa cidade no interior da Paraíba, foi onde a professora fez a pergunta: “o que era o gasoduto?”, choveu tanto e nós não tivemos condições de pegar a estrada federal. Tivemos que pernoitar na cidade e não havia hotel. Eu dormi na casa do prefeito e ele dormiu em uma pousada, uma pensão. No outro dia, ele contou: “Dona Déa, eu acordei cheio daqueles bichos em cima de mim.” Eu teria morrido se acontecesse isso comigo. Então, foi uma coisa assim, dormindo em um lugar que não tinha nada, mas nada, nada, nada. A casa do prefeito era bem simples, mas o lugar em que ele ficou foi pior ainda. Eram os guaiamuns. Mas eu imaginei, porque já tinha visto vários presos nas gaiolinhas, e aí ele veio me contar no dia seguinte que tinha acontecido isso. ALMOÇO DO MÊS Até hoje nos encontramos no Clube Militar para almoçar, a turma toda do Sercom. Nós almoçamos toda a primeira terça ou quarta-feira do mês. A gente se reúne para almoçar, mas não vão todos, sempre tem um ou outro que aparece. E, no fim do ano, tem a geral, aí aparece mais gente. A esposa do Zezinho vai. Nós todos gostávamos muito dele. Fizemos não sei quantas mil viagens para Macaé e, quando ele se aposentou, em uma viagem de volta de Macaé para cá, faleceu em um desastre de avião. A pessoa que estava dirigindo não morreu, mas ele sim. Que coisa incrível, mas é a vida. Em nossa equipe tinha muita gente, tinha o Edson, que era uma pessoa maravilhosa, também fazia as palestras, o Edson, eu e o Zezinho. A Elaine também nos acompanhava, mas estava iniciando. A gente fazia esse trabalho e o chefe era o Antonio César Cabral. FAMÍLIA / FILHOS Tenho dois homens e uma moça: Eliédio Francisco, Maurício Augusto e Sandra Helena. Enfrentei alguns problemas ao conciliar o trabalho na Petrobras e cuidar dos filhos, porque vim morar no Rio e não tinha ninguém da minha família, nem do meu marido, porque ele é paulista. Então, havia dias em que eu tinha que levá-los para a Petrobras. Aí começava o problema, porque meu marido não podia levar porque trabalhava com aviões. E eu dizia para os meus filhos: “Vocês não podem levantar da cadeira, tem que ficar lá. Só quando quiser ir ao banheiro. Senão a mamãe perde o emprego.” Eu tenho uma grande amiga minha que chegava e dizia: ”Vocês não tem nada que olhar para a mãe de vocês. Venham aqui mexer.” Naquela época, havia máquina elétrica, era o máximo, eles ficavam doidos para mexer. Eu só olhava para eles, eles ficavam quietos. “Não tem nada que olhar para a sua mãe, não. Vem para cá que a máquina é minha, vocês podem mexer na máquina o tanto que vocês quiserem.” Aí eu deixava um pouquinho, mas era um problema. Depois, graças a Deus, chegou uma pessoa na minha vida que ficou comigo 32 anos, hoje ela está aposentada, ela me ajudou muito com as crianças, com a casa, com tudo. Ela é paraibana, eu acho que eu tenho alguma ligação com a Paraíba. Ela ficou comigo 32 anos e todo sábado ela me liga para saber como estou, coisa e tal. Uma pessoa maravilhosa. Foi como eu solucionei. Nós não tínhamos essa facilidade de creches, não existia. As escolas públicas só pegavam do primeiro ano em diante. Eles estudaram em escola pública, mas sobreviveram, como eu digo hoje para eles: ”Eu olho para vocês e fico muito feliz com o que estou vendo.” Meu filho mais velho é coronel do Exército, o outro é coronel da Aeronáutica e a minha filha é analista de sistemas. Só faltou ela entrar para a Marinha. FAMÍLIA / NETOS Tenho cinco netos homens. O mais velho tem 18 anos, o segundo tem 15, está bem mais alto do que eu, o pequenininho tem 10, depois, do outro filho, eu tenho um com nove e outro com sete. APOSENTADORIA Naquele inicio, é aquele prazer das férias remuneradas, mas depois elas começam a ficar longas demais, você começa a olhar as paredes. Eu trabalho desde os 15 anos, então não tinha condições mesmo. Não sou chegada, mas faço, honro meus compromissos aos serviços caseiros. Aí eu recebi o convite do presidente da Ambep, do Ramiro Tostes, para fazer o jornal da associação. Aí eu fui e lá estou até hoje. Ambep é a Associação de Mantenedores Beneficiários da Petrobras, ela reúne aposentados, pensionistas, o pessoal da ativa e da área das empresas de petróleo. Nós temos representações de Manaus a Porto Alegre, contamos com mais de 36 mil sócios. A nossa próxima meta é um plano de saúde para os beneficiários que não são assistidos pela assistência médica da Petrobras. Estamos trabalhando nisso. Mas temos um credenciamento médico, para aquelas pessoas que são beneficiarias. Nossos sócios que não têm a Petrobras pagam o mesmo preço da Petrobras nas consultas, exames laboratoriais, e têm um certo atendimento nos hospitais, mas isso já é diferente da forma como a Petrobras nos assiste. Eles pagam diretamente o serviço que utilizarem; nós não, nós assinamos o papel e a Petrobras desconta do nosso salário depois. Em 2003, eu fui convidada para fazer parte do grupo que se candidatava à presidência, o doutor Ivan Barreto de Carvalho. Ele me convidou para ser da área social, aí eu fui, nós vencemos a eleição, depois fomos reeleitos em 2007. O fim do meu período é em 2009. Hoje sou diretora social e de benefício da Ambep. Ultimamente, ando pensando que uma direção não deve ficar muito tempo, eu acho que precisa de gente nova para renovar e trazer novas idéias. E tem muitas pessoas que ficam paradas no tempo. Eu estou sempre querendo algo mais, saber novidades, saber coisas novas que estão acontecendo. Dentro dessa minha linha, acho que deve ser mudada a direção, deve ser feita uma nova eleição, não sei como será feita. Mas eu pretendo me dedicar a um projeto, a minha tese, que como eu falei tem relação com essa área de comunicação, publicação empresarial. Ela já está servindo de base para muitos trabalhos na área de Comunicação. Então, eu quero aprimorar, atualizar e transformar em livro. É um dos meus objetivos pós-Ambep. MESTRADO EM COMUNICAÇÃO Em 1987, eu fechei a minha tese em Jornalismo empresarial. Fiz o mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em Comunicação Social. Sou mestre em Comunicação, só que não exerci o magistério na Comunicação, mas não faz mal. O título da tese é: “Jornalismo Empresarial Trabalho na Petrobras: A Presença da Petrobras nas Comunidades.” MEMÓRIA PETROBRAS Eu acho que foi bastante abrangente e que é muito válida essa preocupação da Petrobras em deixar a memória gravada, porque os depoimentos dos antigos registram as dificuldades que nós tínhamos na época, porque hoje está tudo mais facilitado. Inclusive, na área de geologia, nós temos satélites aí fazendo misérias, né? E nós também, na nossa atividade, não tínhamos grandes recursos, embora a Petrobras nos facilitasse em tudo e desse um apoio sensacional em todas as atividades. Eu acho que foi um trabalho pioneiro e foi uma sementezinha lançada pela Petrobras, que a equipe regou e ela se transformou no que hoje é uma beleza. Eu acho que a Petrobras tem que fazer isso, divulgar o que ela faz pelo país. DESAFIOS Lidar com pessoas. Tem pessoas muito difíceis, mas a gente supera. Quando existe uma certa compreensão de vida, já tendo vivido alguns problemas, eu acho que a gente consegue contornar uma série de coisas. Eu acho que a vida é muito boa para se gastar com pouco. IMAGEM PETROBRAS Foi tanta coisa boa. Eu acho que a Petrobras deu, a todo o meu grupo, muita coisa boa. A Petrobras nós deu possibilidades enormes. Quando ela atingiu um milhão de barris foi muito bom. Foi bom mostrar, porque os americanos diziam que não tinha petróleo nessa terra. Nossos técnicos mostraram a que vieram. Isso é algo muito bom para nós, a tecnologia em mar profundo é nossa. Então, isso tudo é motivo de orgulho para nós, petroleiros, porque, como disse, não se deixa de ser petroleiro. Eu me sinto uma petroleira, apesar de todas as birras que, às vezes, temos com a empresa. Mas a gente adora a empresa. Eu acho que qualquer aposentado tem umas mágoas. Por exemplo, quando ela fez 50 anos, ela não se lembrou dos aposentados e eles ficaram magoados. Eles ficaram muito magoados por não terem sido lembrados, por não falarem pelo menos: “Hoje nós estamos aqui, porque houve um pessoal que começou, no tempo que tinha que ir a pé lá ao mato descobrir onde era região sedimentar, coisa e tal.” Em todos os níveis, eu estou citando a parte de Geologia porque é uma parte que você pode fazer o antes e o depois, hoje com os satélites. Mas eles ficaram magoados: “Poxa, nem se lembraram da gente.” Mas não no sentido de ser chamado para a festa, não é isso. Ser citado pelo menos. A gente está aqui hoje com tudo isso, mas teve um pessoal antigo, anterior a mim, que veio do Conselho Nacional do Petróleo, quando ela foi criada – a lei é de1953, mas ela começou a operar em 1954 – não tinha técnico, então veio o pessoal do Conselho Nacional do Petróleo. E é gente que vibra com a empresa até hoje, vibra mesmo, com todos os “senões”. Mas isso faz parte da vida. MEMÓRIA PETROBRAS Eu gostei, mas acho que saturei vocês com tanta falação. Quando eu começo a falar de Petrobras, realmente fico empolgada. Foi uma época muito boa. A empresa me deu oportunidades fantásticas, eu também me doei à empresa. E acho que muitos fizeram isso, não só eu, mas a maioria. Então, gostamos de ver a empresa despontando agora no mundo todo. Isso é bom. Eu agradeço essa oportunidade e fico muito feliz de poder contar o que foi o trabalho inicial da turma, eu acho que outros já deram o seu depoimento aí também e, se precisar de mim para alguma coisa, estou sempre às ordens.
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